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Capítulo 1
Aspectos Bíblicos da Educação
Cristã
Na segunda parte dos anos 1980, houve uma espécie de auge dos
estudos no campo da educação cristã. Três autores em especial se
sobressaíram naqueles dias – Thomas Groome e Lawrence Richards nos EUA
e Daniel Schipani na AL (o primeiro católico, os demais evangélicos). Em seu
trabalho educacional e em seus escritos, as grandes metáforas norteadoras da
educação cristã eram: Reino de Deus, Humanização, Vida e Missão. As Igrejas
Cristãs descreviam sua identidade a partir da missão, do serviço ao Deus que
reina, que dá vida, que humaniza o ser humano à sua imagem. Eram tempos
relativamente otimistas – a transformação individual e social era esperada e
servia como fundamento para o trabalho eclesial, para o envolvimento social e
político, para a renovação da teologia. A educação cristã era vista como
ministério indispensável e relevante para a vida da comunidade local – seja
através da Escola Dominical então em busca de renovação, seja através dos
pequenos grupos, seja através das comunidades eclesiais de base.
Nesta primeira década do século XXI, entretanto, vivemos tempos
radicalmente diferentes. As Igrejas Cristãs não mais estão descrevendo sua
identidade a partir dos referenciais daqueles dias, mas a partir dos desafios
que a sociedade de consumo e a mercantilização da religião cristã lançam às
igrejas e suas lideranças. São tempos de pouca ou nenhuma esperança, a não
ser no sucesso individual, no crescimento numérico das congregações, na
espetacularização dos “ministros” do evangelho. A educação cristã perdeu seu
glamour, tornou-se o patinho feio das atividades eclesiais. Louvor, comunhão,
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êxtase individual se colocaram em seu lugar – reduzindo igualmente a
identidade e a missão das igrejas ao âmbito do auto-crescimento.
A seguir, proponho uma releitura de textos bíblicos baseada nas
metáforas para a educação cristã em voga nos escritos dos anos 1980-1990.
No próximo capítulo, enfocarei novas metáforas mais sintonizadas com a
nossa própria década. Você verá que, ao pensar sobre educação, de fato,
você estará pensando sobre a igreja e sua missão!
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Cristo: amor, misericórdia, justiça, submissão ao Pai, encarnação no
mundo, trabalho ... (v. 14).
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Educar para o Reino de Deus é educar para a submissão e o serviço ao
Rei;
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basicamente, viver de tal forma que eu mesmo me torne mais e mais
humano, semelhante a Cristo;
2. É educar para a criação de uma comunidade (e sociedade) sem
discriminações e preconceitos. Uma comunidade onde Cristo é amado por
todos e cada pessoa tem o direito de ser autêntica em sua justiça e
santidade. É a comunidade da nova humanidade, ou seja, das pessoas
que são refeitas por Deus, conforme a imagem de Cristo. Comunidade de
pessoas que abandonaram os vícios e maus hábitos do "velho homem", ou
seja, do ser des-humanizado pelo pecado.
Capítulo 2
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Aspectos Teológicos da Educação
Cristã
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“Como toda outra forma de vida, vida humana é vida compartilhada,
vida comunicada e comunicante, comunhão em comunicação. Hoje em dia, as
comunidades necessárias que moldam a vida humana são ameaçadas de dois
diferentes lados: de um lado pelo crescente individualismo dos homens e
mulheres modernos, e, de outro, pela mercadorização global de tudo, inclusive
dos relacionamentos.” (MOLTMANN, J. God for a secular society. The Public
relevance of theology, Minneapolis, Fortress Press, 1999, p. 153)
Viver a cidadania é viver responsavelmente a liberdade, pois cidadã é
a pessoa que participa ativa e decisivamente da polis, do seu mundo. Cabe,
portanto, repensar a concepção de liberdade que anima a cidadania.
Liberdade não pode ser apenas a liberdade individual de fazer o que se
deseja, nem a liberdade política da comunidade civil na democracia e no
mercado; “liberdade é a paixão criativa pelo possível. Liberdade não é apenas
voltada para as coisas como elas são, como na dominação. Nem é direcionada
apenas à comunidade de pessoas como elas são, como na solidariedade. Ela
se direciona para o futuro, pois o futuro é o campo desconhecido das
possibilidades, enquanto o presente e o passado representam esferas
familiares de realidades. ... Assim como Martin Luther King, temos visões e
sonhos de outra vida, uma vida curada, justa e boa. Exploramos as
possibilidades do futuro a fim de realizar esses sonhos, visões e projetos.
Todas as inovações culturais e sociais pertencem a esta esfera de liberdade
para o futuro.” (idem, p. 159s.).
“Até agora temos entendido a liberdade ou como um domínio – a
relação de um sujeito a objetos -, ou como comunidade, na relação de sujeito a
sujeito. Mas em relação a projetos, liberdade é um movimento criativo.
Qualquer pessoa que em pensamento, palavra e ação transcende o presente
na direção do futuro é verdadeiramente livre. O futuro é o livre espaço da
liberdade criativa. ... Liberdade, como um transcender em direção às
possibilidades do futuro, é uma função criativa. ... É um acontecer. Somente
temos nossa liberdade criativa no processo de libertação. Nunca somos livres
de uma vez por todas, mas continuamente nos tornamos livres. E somente o
povo que faz uso da liberdade permanece livre. ... Na história, e se nós
seguimos as memórias da Bíblia, encontramos liberdade no contínuo êxodo da
escravidão e letargia, e na longa marcha através do deserto; mas não ainda na
terra prometida, que é o ‘fim da história’. Liberdade é como o maná no deserto.
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Não pode ser armazenada. Somente podemos confiar que o amanhã estará lá
novamente. Assim, temos de usar nossa liberdade a cada dia.” (idem, p. 160s)
Educar para a cidadania precisa nos ajudar a construir um estilo de
vida livre em relação às exigências do mercado que a tudo quer conquistar e
dominar.
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identidades pluralmente criativas e fiéis ao Filho. Construir a identidade cristã
no processo educacional da igreja demanda edificar pessoas que sejam (a)
fiéis a Deus em Seu projeto para a criação; (b) solidárias com as vítimas do
progresso e do desenvolvimento econômico e tecnológico de nossos dias; (c)
capazes de exercer discernimento crítico em relação à sua própria
comunidade e denominação, não se deixando submeter ao ensimesmamento
institucional a que estão entregues.
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nossa esperança pelo mundo, maior a nossa solidariedade com seus clamores
e sofrimentos.” (idem, p. 89)
Conseqüentemente, “a constante disciplina e repressão do corpo que
a moderna sociedade industrial requer de seus membros, e a constante
sujeição e exploração da terra que a sociedade persegue, torna os seres
humanos entorpecidos e a terra infértil. ... O sim pleno e sem reservas para a
vida, e o amor pleno e sem reservas por todos os seres vivos são as primeiras
experiências do Espírito de Deus, que não é chamado de ‘fonte da vida’ à
toa. ... A espiritualidade da vida quebra as barreiras desse entorpecimento
interior, a armadura de nossa indiferença, as fronteiras de nossa
insensitividade à dor. Reabre a ‘fonte da vida’ em nós e entre nós, de modo
que possamos chorar novamente, sorrir novamente e amar novamente.” (idem,
pp. 94.97)
Vitalidade é muito mais do que saúde e culto ao corpo. Educar para a
vitalidade é um convite à renovação dos modos de viver, um chamado a
construir identidades cidadãs, a edificar comunidades criativa e solidariamente
includentes.
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se também o que é invisível não for considerado como criação.” (MOLTMANN,
J. Deus na criação. Doutrina ecológica da criação, Petrópolis, Vozes, 1993
“No moderno mundo da pessoa, foi expandido, através da ciência e da
técnica, cada vez mais, o ‘ter-natureza’. A medicina moderna alcançou seus
sucessos neste campo, que podemos caracterizar como ‘ter-corpo’ da pessoa.
Não obstante, a pessoa é natureza, e o corpo que ela objetivou como sua
propriedade é simultaneamente ela própria em sua existência corpórea.
Localizar novamente o mundo da pessoa na história da natureza e descobrir
de novo a natureza no ser-corpo não é nenhuma fuga da responsabilidade que
cabe ao ser humano moderno através do poder por ele conquistado. Ao
contrário, significa descobrir dimensões da vida que foram reprimidas e
marginalizadas e superar, a partir delas, as desumanidades e as
desnaturalidades do mundo moderno. O ser-natureza da pessoa é a realidade
original. O dominar-natureza e o possuir-natureza são fatos secundários. Estes
permanecem dependentes da realidade original, porque eles constroem em
cima dela e dela vivem.” (idem, p. 83)
Educar para a ecologicidade demanda das comunidades cristãs que se
abram à integralidade do agir recriador de Deus, que ultrapassem as fronteiras
do antropocentrismo moderno e derrubem as fortalezas da morte que se
escondem sob o manto do desenvolvimento e da livre iniciativa.
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Capítulo 3
Aspectos Pedagógicos da
Educação Cristã
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Talvez seja desnecessário falar sobre Paulo Freire – dizer que ele foi um
dos maiores educadores do século XX, reconhecido em todo o mundo, não só
no Brasil; dizer que ele uniu teoria e prática de forma exemplar em sua carreira
como pesquisador, professor e dirigente educacional; dizer que ele jamais
separou sua atividade pedagógica de sua fé cristã, de seu compromisso com o
Reino de Deus transformador da vida individual e social; lembrar que sua
prática e teoria inspiraram vários cristãos em sua atividade pedagógica teórica
e prática.
Como convite à reflexão, a apresentação da proposta de Freire está
estruturada de uma forma muito peculiar: é um conjunto de citações extraídas
do livro Pedagogia da Esperança. Essas citações apontam para algumas das
dimensões da atividade pedagógica, e nos fazem pensar sobre o que fazemos,
porque fazemos, para quê fazemos e como fazemos. Acompanhando as
citações, perguntas para interpretar e aplicar o texto à vida eclesial e
ministerial.
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negar a ela um dos seus aspectos fundamentais ... Enquanto
necessidade ontológica a esperança precisa da prática para tornar-se
concretude histórica.” (pp. 10-11)
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vivido pelo professor ou professora, vai desdobrando-se, da parte dos
educandos, no ato de estes conhecerem o ensinado. Por sua vez, o(a)
professor(a) só ensina em termos verdadeiros na medida em que
conhece o conteúdo que ensina, quer dizer, na medida em que se
apropria dele, em que o aprende. Neste caso, ao ensinar, o professor ou
a professora re-conhece o objeto já conhecido ... Ensinar é assim a forma
que toma o ato de conhecimento que o(a) professor(a) necessariamente
faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos seu ato de
conhecimento também. Por isso, ensinar é um ato criador, um ato crítico
e não mecânico. A curiosidade do(a) professor(a) e dos alunos, em ação,
se encontra na base do ensinar-aprender.” (p. 81)
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aprendem. Estudantes aprendem e ensinam. Isto acontece no diálogo
pedagógico, na troca de saberes entre professoras(es) e alunas(os). Analise a
posição de Paulo Freire sobre este tópico e reflita sobre as perguntas a seguir.
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leva à prática da vida cristã no dia-a-dia. Como disse Jesus: “Nem todo o que
me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7:21) À luz do ensino de Jesus,
reflita sobre estas palavras de Paulo Freire:
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(3) A ação pedagógica vai além de si mesma. Como traduzir as metáforas
da educação cristã em projetos concretos de vida e ação? Como o seu
trabalho pode contribuir para chegar a esses alvos? Como planejar e executar
a ação pedagógica para que o seu encontro educacional seja ponto de partida
da educação e não ponto de chegada?
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Capítulo 4
Aspectos Didáticos da
Educação Cristã
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(3) Diálogo. É, propriamente dito, o estudo do tema bíblico, teológico ou
missiológico da lição (encontro educacional). Neste momento, o conteúdo da
lição vem iluminar a ação presente e a reflexão crítica. "O diálogo é um
encontro de sujeito-a-sujeito (eu-você), no qual duas ou mais pessoas
compartilham e ouvem" (p. 280). Neste momento, não só estudamos um tema,
mas aperfeiçoamos nossa vivência comunitária e fazemos teologia. [Na
prática, "diálogo" não quer dizer que só o método da discussão seja
apropriado para este momento]
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Provavelmente, você já realiza esses passos, mesmo sem dar os mesmos
nomes. É importante, porém, que você se discipline para sempre colocá-los
em prática. (As citações foram extraídas do livro de T. H. Groome, Educação
Religiosa Cristã. Compartilhando nosso Caso e Visão, Edições Paulinas, São
Paulo, capítulos 9 e 10.)
MÉTODOS DE ENSINO
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4 “Um método divergente inventa e cria novos conhecimentos, colocando
em relação elementos que pertencem a diferentes campos do saber e
cujo encontro pode provocar uma novidade.” (Preiswerk, p. 55)
Este é, talvez, o mais rico e mais difícil método a ser usado. Ele se utiliza
de conceitos, saberes, experiências e situações percebidas a partir de
diferentes campos do saber (p. ex.: sociologia, psicologia, teologia, etc.), a fim
de construir novos conceitos e possibilidades de entender e transformar a
realidade. É possível de ser usado na Escola Dominical principalmente porque
nossas alunas e alunos têm formações escolares e experiências de vida
diferentes e podem contribuir para a produção de novos conhecimentos
bíblico-teológicos.
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finalidades. De forma mais concreta, uma técnica como a exposição, por
exemplo, pode servir tanto a um discurso fechado e impositivo, como à
narração de uma parábola que transforma a compreensão que o(a)
educando(a) tem de si mesmo(a) ou de Deus.
A pesquisa pode ser uma busca criativa ou uma perda de tempo, quando
o(a) educando(a) não sabe o quê e nem para quê está pesquisando.
Um audiovisual pode ser o meio mais eficaz para transmitir uma verdade
fechada e alheia à realidade do educando(a), ou um estímulo criativo
para despertar novas dimensões e conhecimentos.” (pp. 56-57)
T ÉCNICAS DE ENSINO
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muita habilidade do professor ou professora, para manter o nível de atenção.
Ao usá-la, procure sempre fazer perguntas para a classe responder, ou misture
a preleção com métodos de grupo, ou outros métodos participativos.
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Eu gosto bastante das dramatizações. Entretanto, é muito difícil usá-las
com adultos, pois, geralmente, nós somos pessoas "fechadas" e
"envergonhadas" (a situação dos jovens é, em geral, diferente, pois eles ainda
não se deixaram dominar pela “sisudez” das responsabilidades da vida adulta
na sociedade capitalista). Para que a dramatização funcione, precisamos nos
abrir para Deus, para o próximo e, especialmente, para nós mesmos.
Devemos, ainda, levar em conta que uma dramatização "didática" não deveria
tomar mais do que metade do tempo da aula (para preparação e execução).
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limites intelectuais, a falta de consciência político-social, a ingenuidade
teológica. Crescer na arte de ler é importante para o desenvolvimento
espiritual. O apóstolo Paulo jamais deixou o estudo e a leitura, mesmo na
prisão (II Timóteo 4:13), pois sabia da necessidade de continuar crescendo na
fé.
Capítulo 5
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Aspectos programáticos da
educação cristã
INTRODUÇÃO
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compromisso com o Deus da Palavra, e envio da igreja à missão no mundo.
Esta lógica é, em si, educadora. Quando o culto se reduz apenas a uma
seqüência de cânticos e um sermão, enina muito pouco – e ensina mal, ensina
que a vida cristã é apenas felicidade, busca de bênçãos e comunhão entre
irmãos. A lógica litúrgica ensina que a vida cristã nasce, cresce e se concretiza
em nossa submissão a Deus, em nossa vida entregue ao Seu Filho, em nossa
dependência do Espírito. A forma do culto pode e deve variar, ser criativa –
mas precisa sempre ser fiel à lógica litúrgica! Quando abandonamos a lógica
litúrgica, o culto dá a impressão de “liebrdade do Espírito” mas, na prática, não
passa de um tradicionalismo repetitivo – não passa de celebração da
mesmice.
* Aliada à lógica litúrgica praticada de forma contextual e criativa, o culto
precisa de conteúdo bíblico e teológico de qualidade. A ‘teologia” do povo de
Deus é, primariamente, a teologia cantada e não a ouvida e lida. Escolher
cuidadosamente as músicas, não em função de ritmo, mas em função da
mensagem bíblica e teológica que ensinam, é fundamental. Neste sentido,
precisamos de uma revolução prática nas igrejas. Dirigentes de louvor,
musicistas, “levitas”, seja como for que chamemos as pessoas que participam
na elaboração e direção dos cultos, precisam conhecer profundamente a
Escritura e a teologia cristã – tanto quanto os pastores e as pastoras! Entregar
a escolha das músicas a serem cantadas no culto a quem não conhece (ou
conhece pouco, ou, pior, conhece mal) Bíblia e teologia provoca deseducação
do povo de Deus. Alguns critérios simples: as letras precisam falar muito mais
de Deus do que de “eu”, de “mim”, de “meu”... As letras precisam valorizar os
alvos da vida eclesial: discernimento, missão, humanização, cidadania, etc. As
letras não podem ser antropocêntricas nem cardiocêntricas (só voltadas para
as emoções). Que desafio! Qunto trabalho a ser feito nesta área”
* É indispensável que o lamento faça parte de nossos cultos. O lamento,
no sentido bíblico, é composto de súplica, confissão e intercessão. Lamentar a
Deus significa que: (1) reconhecemos nossa pecaminosidade; (2)
reconhecemos que Ele responde à oração; e (3) reconhecemos nosso
compromisso missionário e oramos pelo mundo amado por Deus – e não só
por nós mesmos. O lamento é o momento litúrgico do clamor: clamar a Deus
por perdão e crescimento espiritual, clamar a Deus por crescimento e
desenvolvimento da igreja, clamar a Deus pelo mundo sem Cristo. No lamento,
especialmente na intercessão, nos identificamos solidaria e compassivamente
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com a humanidade pecadora e reconhecemos que nossa salvação nos coloca
na condição de missionárias e missionários, de embaixadores e embaixatrizes
de Jesus Cristo no mundo. Releia e reflita cuidadosamente sobre Colossenses
3:14-17 e o papel educacional do culto.
Sem mais detalhes, um destaque: o culto deve sempre orientar o povo de
Deus à ação missionária no mundo. O culto não pode ser egocêntrico, egoísta,
voltado para dentro de nós mesmos. Se for assim, será doentio – acúmulo de
bênção provoca doenças espirituais terríveis. A bênção de Deus deve ser
repartida, ou se transformará em maldição.
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igreja e ministério – podemos ser criativos também na forma como
organizamos os pequenos grupos na igreja. As classes de escola dominical
podem ser “pequenos grupos” fermentadores de renovação e crescimento
espiritual. Seja criativa, sejá criativo! No pequeno grupo, teoria e prática
podem se casar – cabe a nós inventar caminhos e estratégias para o namoro e
o casamento.
* Uma outra forma importante de renovação da educação cristã é a
mentoria (antigamente chamada de discipulado, caso você tenha memória
curta). A diferença fundamental entre mentoria e pequeno grupo é que este é
mais simétrico (todos os membros do grupo servem mutuamente), enquanto a
mentoria é mais assimétrica (uma pessoa mais experiente orienta uma ou mais
pessoas). A mentoria pode ser realizada de várias formas, sua essência,
porém, consiste na formação integral de pessoas, mediante o exemplo de uma
pessoa mais amadurecida. A mentoria é especialmente necessária quando se
precisa e se deseja investir na vida de novas lideranças, quando se precisa
formar novos líderes para a igreja e “passar o bastão” para novas gerações.
Sem formas criativas e comprometidas de mentoria, as novas gerações têm de
reinventar a roda e o legado das gerações anteriores se perde. O grande
modelo de mentor é Jesus Cristo, cujo exemplo foi seguido por Paulo (além de
outros dos primeiros cristãos). A questão pessoal é: dedicaremos parte de
nosso tempo na valorização de irmãs e irmãos que assumirão, futuramente,
nosso lugar?
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através da prática é um excelente e necessário complemento à educação
formal – seja no caso de jovens ministros e ministras, evangelistas,
missionários, seja no caso de musicistas e educadores cristãos com educação
formal técnica ou superior
O ensino através da prática é melhor aparelhado para a capacitação de
pessoas para ministérios que não exijam conhecimentos especializados
adquiridos apenas em cursos formais. É uma boa forma de treinamento, por
exemplo, de líderes de grupos, de professores para classes de escola
dominical, de diáconos e diaconisas, etc. O crucial nesta forma de educação é
a supervisão. Quem supervisiona precisa ter conhecimento e experiência
significativos na área da formação, precisa ter disposição para ensinar e
acompanhar o ritmo da pessoa aprendente, precisa ter paixão pelo ensino, de
modo a motivar o aprendiz a crescer mediante a prática, a leitura e a
supervisão pessoal.
AUTO-APRENDIZADO E MÍDIA
Com o avanço das tecnologias de difusão de conhecimento e
informação, o auto-aprendizado tem se tornado um recurso cada vez mais útil
na educação não-formal (e até na formal). Tendo com vista que os programas
coletivos de educação cristã de uma igreja local normalmente não
conseguirem atender todas as necessidades educacionais de cada um dos
membros da igrejá, o estímulo ao auto-aprendizado é uma forma relevante e
eficaz de educação cristã. Todas as pessoas envolvidas em educação na igreja
podem estimular irmãs e irmãos a desenvolverem seus conhecimentos, valores
e habilidades mediante o auto-aprendizado.
Neste caso, a função de educadores é dupla: (1) motivar e orientar na
busca dos conhecimentos e habilidades necessários – seja através da leitura,
da internet, da TV, da música ou outras mídias; e (2) acompanhar e
supervisionar o processo de auto-aprendizado – o que não precisa ocorrer de
forma rígida – de modo a manter o estímulo o aprendiz, a proporcionar
correções de rumo quando necessário, e a avaliar o progresso realizado. A
igreja local pode apoiar este tipo de estudo criando biblioteca em seu prédio –
não só a tradicional biblioteca com livros e revistas, mas também com recursos
de outras mídias (CDs, DVDs, links da internet, etc.).
Pode parecer banal, mas de um modo geral as pessoas não sabem
assistir TV/cinema, ouvir música, ler obras literárias ou técnicas. É importante
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que a igreja ajude seus membros a desenvolver habilidades críticas (de
discernimento) para assistir programas televisivos, ouvir músicas, ler textos,
sites, etc. Hoje em dia o volume de informação que circula no espaço midiático
é imenso e muito material de péssima qualidade chega às pessoas
constantemente. Em meio a tamanho caos de informação, o discernimento é
uma atitude cristã indispensável para o crescimento espiritual e para o
desenvolvimento da educação em uma igreja.
E A ESCOLA DOMINICAL?
Em certo sentido, a Escola Dominical merece um livro à parte. Faço,
aqui, apenas alguns brevíssimos comentários. O pior problema da escola
dominical é que ela é um tipo ruim de escola - entrega apenas diplomas de
“aluno de escola dominical”, ou seja, não há previsão de término do curso, não
há um perfil da pessoa egressa – a escola virou um fim em si mesma, tornou-
se apenas um programa rotineiro da igreja desenhado para que os membros
tenham o que fazer aos domingos, além do culto. A questão fundamental não é
a da “revista” da escola dominical, do material utilizado para o ensino. O
probleme é, insisto, que a escola dominical tornou-se uma escola de baixa
qualidade. Para renovar a Escola Dominical, é fundamental que ela
desenvolva o seu caráter de escola – toda boa escola precisa de um bom
projeto pedagógico, a partir do qual os currículos sejam confeccionados, os
participantes tenham clareza quanto ao que se espera de cada um, os
professores e professoras recebam adequada formação continuada e métodos
de avaliação possam ser aplicados à vida escolar como um todo.
A maioria das igrejas locais evangélicas possui membros com
experiência em trabalho educacional, formação superior e vontade de
trabalhar. Nada melhor para uma escola dominical do que aproveitar o talento
e a disposição dos próprios membros da igreja para renová-la e reinventá-la.
Quando a direção da igreja local reconhece o talento de pessoas que Deus
deu à igreja e permite que elas façam a revolução educacional de que a
Escola Dominical precisa, formas criativas surgem e transformam
significativamente o processo educacional escolar na igreja. Cabe, portanto, à
direção da igeja, criar os espaços para a mudança e delegar confiantemente a
tarefa para pessoas capacitadas. Não se pode, neste caso, ter medo de errar.
Pior do que tentar acertar e acabar errando, e manter a escola dominical do
jeito que ela está.
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Capítulo 6
Aspectos da Espiritualidade na
Educação Cristã
Tudo o que vimos até agora, porém, não terá qualquer valor se as
pessoas envolvidas na educação cristã não forem cristãs maduras, homens e
mulheres que seguem o exemplo de Jesus e, na força do Espírito, vivem para
a glória de Deus e a edificação do Corpo de Cristo. Por isso, este capítulo final
trata da espiritualidade – de uma espiritualidade cristocêntrica, baseada na
graça de Deus e voltada para a solidariedade cristã – a missão para a glória
de Deus.
Os Evangelhos nos apresentam Jesus como um ativo servo de Deus,
realizando um ministério que levava em conta as múltiplas dimensões da vida
humana: Jesus curava, levando a sério a dimensão corporal das pessoas;
Jesus pregava, levando a sério a dimensão religiosa das pessoas; e Jesus
ensinava, levando a sério a dimensão intelectual das pessoas. Em seu
ministério, Jesus não via os seres humanos apenas como corpo, ou apenas
como mente, ou apenas como espírito. Para Jesus, corpo, mente e espírito são
dimensões inseparáveis da pessoa humana.
Nesta lição iremos refletir sobre a prática educativa de Jesus. Isto quer
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dizer que não iremos nos ocupar da pregação e das curas de Jesus. Não
porque nós possamos separar o que Deus não separou, mas porque nossa
preocupação é com o ministério educativo na Igreja. Esta advertência, porém,
é necessária para que nós, professores e professoras do povo de Deus, não
nos descuidemos das dimensões “corpo” e “espírito” de nossos alunos e
alunas.
Jesus começou a ensinar muito cedo. Lucas narra um episódio da
infância de Jesus, aos seus doze anos, em que ele se perdeu de seus pais na
cidade de Jerusalém. Ao invés de estar nas ruas, brincando, como seria de se
esperar em uma criança de sua idade, Jesus estava “no templo, assentado no
meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam
muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas.” (Lc 2:46-47).
Vemos que a ação pedagógica de Jesus se compunha, não só de ensinar, mas
também de ouvir e perguntar. Em outras palavras, para ensinar é preciso,
primeiro, aprender! Depois, é preciso dialogar!
Do ponto de vista humano, como aquele menino de doze anos era capaz
de dialogar e espantar, com sua inteligência, os mestres da religião? Lucas
mesmo dá a resposta: “crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de
sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.” (Lc 2:40) As duas
características da vida de Jesus que o capacitaram a ser mestre, já nesta
idade tão tenra, foram a sabedoria e a graça de Deus. Essas características
estão à nossa disposição, professores e professoras na Igreja! Como podemos
conseguir e colocar em prática a sabedoria e a graça?
Jesus ensinava nas sinagogas aos sábados (Mc 1:21, etc.); ensinava nos
montes (Mt 5:1, etc.); nas planícies (Lc 6:17, etc.); às margens dos lagos (Lc
5:3, etc.). Em outras palavras: Jesus ensinava em todos os lugares possíveis e
a qualquer momento em que fosse necessário ensinar. No episódio da primeira
multiplicação dos pães (Mc 6:30-44), Jesus levara os discípulos a um lugar
deserto para descansar. Entretanto, ao chegar ao lugar de repouso, “viu Jesus
uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram com ovelhas que
não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas cousas.” (Mc 6:34).
Jesus ensinava aos freqüentadores das sinagogas, aos seus discípulos, às
multidões. Ensinava também a indivíduos, pessoas comuns e também a
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pessoas importantes. Mais de uma vez discutiu pedagogicamente com os
fariseus (Mc 7:1ss, etc.) e com os mestres da Lei (Mc 12:28-34, etc.). Em seu
ministério, Jesus ensinava a quem quer que necessitasse de Seu ensino. De
acordo com a situação e as pessoas envolvidas, a motivação pedagógica de
Jesus era diferente. Compare, por exemplo, os episódios da multiplicação dos
pães e o da discussão de Jesus com fariseus (Mc 7:1ss). Com que motivação
Jesus ensinou as multidões que foram atrapalhar seu repouso? E com que
motivação ensinou os fariseus e alguns escribas que vieram de Jerusalém
para vê-lo? (Veja, por exemplo, Mc 7:6)
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uma nova admiração (v. 27).
Para entendermos como era a autoridade pedagógica de Jesus,
precisamos seguir a pista que Marcos nos dá: ele não ensinava como os
escribas. Os escribas eram os “doutores da lei” em Israel. Eram os mestres da
religião. Vimos, logo acima, que as técnicas de Jesus não eram muito
diferentes das dos escribas. Por que, então, manifestava Jesus uma
autoridade não encontrada nos escribas? Pelo que conhecemos
historicamente, os escribas ensinavam baseando-se nas “tradições” dos
anciãos, ou seja, ensinavam as Escrituras apelando para a autoridade da
tradição de outros mestres, aos quais seguiam fielmente!
Imagine a seguinte situação: uma pessoa se aproxima de um escriba e
lhe pergunta como deve fazer para guardar o sábado. O escriba poderia
responder mais ou menos assim: “Bem, de acordo com o mestre fulano, você
deve fazer... e não pode fazer ... Todavia, o mestre beltrano já pensa de modo
diferente, e diz que você pode fazer ...”. Se a pessoa que fez a pergunta
insistisse: “mas qual é a sua opinião, mestre?” provavelmente ouviria: “não é a
minha opinião que importa, mas a tradição ...”
Nas sinagogas, Jesus não fazia isso. Ele lia o texto bíblico (veja, p. ex.,
Lc 4:16-17) e o explicava, sem apelar para a tradição dos anciãos e para as
disputas de opinião entre os vários mestres-escribas. Por isso as pessoas se
admiravam: Jesus tinha autoridade para ir diretamente ao texto bíblico e
apresentar a sua própria interpretação da Palavra de Deus! Ele fazia isso sem
ter estudado nas escolas dos fariseus (Mt 13:54-56). Jesus vivia aquilo que ele
ensinava, Jesus se compadecia das pessoas a quem ensinava, Jesus se
indignava com algumas pessoas a quem ensinava.
Ou seja, Jesus tinha autoridade pedagógica porque seu ensino nascia da
Palavra de Deus, entrava em sua própria vida, levava a sério a vida e as lutas
das pessoas a quem ensinava, e era relevante para a situação social em que
Ele se encontrava. Seu ensino não era meramente “teórico”, ou “tradicional”.
Era um ensino íntegro e integral: toda a Palavra para toda a pessoa!
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Jesus era o Reino de Deus (p. ex., Mc 1:14-15; Mt 4:12-17). O grande alvo
pedagógico de Jesus era ajudar as pessoas a compreenderem o projeto de
Deus para a humanidade e se comprometerem com Ele. O conteúdo do ensino
de Jesus, podemos dizer, era teológico.
Não era, porém, uma teologia desvinculada da vida cotidiana das
pessoas! Jesus ensinava sobre o projeto de Deus para a Sua criação,
especialmente para a humanidade como parceira nesse projeto, em relação ao
trabalho, à família, aos costumes religiosos, ao lazer, à relação com a
natureza. Tratava de temas polêmicos, como a violência, o adultério, a política,
a crítica aos líderes religiosos judeus. Instruía a respeito dos problemas
sociais e religiosos do povo judeu: o papel da Lei na vida das pessoas,
criticava as idéias religiosas sobre as pessoas portadoras de deficiência (a
religião judaica oficial considerava cegos, coxos, surdos, mudos, e outros
portadores de deficiência como impuros, separados de Deus), não aceitava as
opiniões preconceituosas das pessoas em relação a estrangeiros, a mulheres,
a crianças, a portadores de deficiência, a adúlteras.
O centro, o eixo do ensino de Jesus era, portanto, que as pessoas
percebessem que deviam viver integralmente sob a soberania de Deus. A
presença do Reino de Deus na terra significava, para Jesus, que a melhor
maneira de viver era a submissão ao Deus que reina e transforma a vida de
pecadores e das sociedades humanas. E a forma mais eficaz do ensino de
Jesus sobre o Reino de Deus era a Sua própria vida: Jesus não só falava a
respeito do Reino, Ele vivia como súdito do Reino de Deus! Assim como Jesus
vivia o Reino de Deus, exigia que as pessoas também vivessem o Reino. A
única resposta digna para o ensino de Jesus era a conversão. Não a adesão
religiosa, não o consentimento intelectual, não o prazer emocional! Conversão,
ou seja, mudar de idéia a respeito de quem é o Senhor da vida e da pessoa e,
pela fé no Rei, iniciar um novo estilo de vida: seguir a Jesus.
CRESCENDO EM VITALIDADE
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Cristãos espirituais são as pessoas que vivem segundo o Espírito, por isso são
adultos em Cristo, ou seja, maduros, responsáveis, servos e servas fiéis. Viver
segundo o Espírito significa ser guiado, liderado, conduzido pelo Espírito de
Deus: “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se
pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis. Pois todos
os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” (Rm 8:13-14)
A manifestação “negativa” da vida segundo o Espírito é a mortificação dos
feitos do corpo dirigido pela carne. Aos colossenses Paulo escreveu
detalhando o sentido prático do mortificar os feitos do corpo carnal: “Fazei,
pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva,
desejo maligno, e a avareza, que é idolatria ... despojai-vos, igualmente, de
tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso
falar.” (Cl 3:5-8; veja, também, Gl 5:19-21 que alista as “obras da carne”.)
Já a manifestação “positiva” da vida no Espírito é a prática do fruto.
“Andai no Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne ... Mas o
fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas cousas não há lei” (Gál
5:16,22-23). Estas características da vida no Espírito - o fruto do Espírito - são
exemplificadas na vida de Jesus Cristo. O mestre por excelência, aquele que
viveu o que ensinou.
Professoras e professores que desejam seguir o exemplo do Mestre
Jesus, precisam crescer em vitalidade. Ou seja, precisam manifestar em suas
vidas tanto a forma “negativa” quanto a “positiva” da liderança do Espírito
Santo. Tanto quanto o seu trabalho, propriamente dito, a vida do(a)
professor(a) é parte integrante da ação pedagógica cristã. Do ponto de vista
da avaliação divina, porém, é mais importante a eficácia de vida do que a do
trabalho. Por isso, nesta lição iremos conversar a respeito das possibilidades
que Deus colocou à nossa disposição para o crescimento em espiritualidade.
CRESCER NÃO É DEVER, É DOM DA GRAÇA
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mas facilmente compreensível: nós não devemos crescer espiritualmente; nós
podemos crescer espiritualmente! O dever nos leva à prática de obras da
carne. O poder nos permite, pela fé, frutificar. E podemos crescer
espiritualmente porque o Espírito de Deus habita em nós e dirige as nossas
vidas. Isto é dom da graça de Deus: a habitação e o senhorio do Espírito em
nós.
Para crescer espiritualmente, a atitude fundamental é apenas uma: a fé.
Assim como recebemos a salvação pela fé, crescemos espiritualmente pela fé.
Leia atentamente esta afirmação de Paulo: “Ora, como recebestes a Cristo
Jesus, o Senhor, assim andai nele” (Cl 2:6). Como nós recebemos a Cristo?
Pela fé. Como andaremos nele? Pela fé! É assim que o próprio Paulo explica
sua afirmação: “nele radicados e edificados, e confirmados na fé” (Cl 2:7).
Muitos membros de igreja sentem-se frustrados porque transformam a
graça da espiritualidade em uma lei. Tentam crescer espiritualmente pelo
esforço da vontade, do trabalho. Sem perceber, ao invés de seguir o caminho
do Espírito, seguem o caminho da carne. Sim, por incrível que pareça, muita
gente que quer crescer no Espírito acaba vivendo na carne! Crescer em
espiritualidade não é dever, não é lei; é graça. Lembra-se de Gl 5:23? “contra
estas cousas não há lei”! Muita gente, hoje, passa pelo mesmo problema dos
cristãos gálatas: “sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito,
estejais agora vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3:3)
O caminho da espiritualidade é o caminho aberto pela graça de Deus. É o
caminho trilhado pelas pessoas que andam no Espírito, vivem segundo o
Espírito, são guiadas pelo Espírito de Deus. É o caminho dos que, alcançados
pela graça transformadora de Deus, vivem pela fé. Recebem o crescimento
espiritual assim como receberam a Cristo e sua salvação. Crescem, não
porque devem crescer. Crescem porque podem crescer espiritualmente;
porque podem frutificar no Espírito de Cristo.
A ESTRADA DO CRESCIMENTO: OS MEIOS DA GRAÇA
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ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade.” (Fp 2:12-13)
Os meios para o desenvolvimento da salvação são, na prática, as
diferentes formas da fé atuar. Uma vez que é Deus quem efetua o crescimento,
é pela fé que recebemos a sua atuação (cf. Cl 2:6-7). E é buscando a Deus
que alcançamos o crescimento em espiritualidade:
É pela experiência da fé que reconhecemos a Deus, sua iniciativa de
amor para conosco e o caminho de nossa resposta. E, como dizíamos,
essa fé, feita experiência na esperança e no amor que gera, é o único
caminho possível para a espiritualidade cristã. A busca de Deus é o
caminho da fé. E, pela experiência da fé, esse caminho é o encontro de
Deus. Pela fé encontra-se Deus na medida em que se busca a Deus.”
(Segundo Galiléia, O Caminho da Espiritualidade, p. 58)
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Posfácio
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estejam dispostas a revalorizar a educação cristã diante de tantos desafios
que têm de enfrentar no dia a dia.
Contra a dúvida, porém, teimosamente reaparece a esperança. Não
consigo ver as igrejas cristãs apenas como comunidades de pessoas
conformadas com o mundo, nem mesmo consigo ver as denominações como
instituições tão embrutecidas que não sejam capazes de se deixar arejar pelo
vento novo do Senhor. Meus amigos e minhas amigas nas lideranças de
comunidades e denominações não se cansam de lamentar o tempo em que
vivemos – o conformismo, a competitividade, o desnível competitivo entre
mega-corporações religiosas e pequenas igrejas.
Mas também elas e eles são teimosamente pessoas de esperança. E é a
esperança, enfim, a emoção que supera a dúvida...
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