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Teoria da Literatura II
Ana Santana Souza
Ilane Ferreira Cavalcante
Aula 03
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
RIO GRANDE DO NORTE
Campus EaD
Ficha Catalográfica
Aula 03
Ficção e não ficção
Tradição e ruptura
Apresentação
Apresentação e
e Objetivos
Objetivos
Olá, nas aulas anteriores, você estudou que uma narrativa pode se apresentar em
diferentes modalidades, em verso (epopeia, cordel) e prosa (romance e conto). De uma
forma ou de outra, esses são exemplos de ficção. Nesta Aula, veremos as rupturas que
sofreu o gênero narrativo na sua forma tradicional, ocasionando gêneros híbridos, em
muitos casos, não ficcionais. Ao final, esperamos que você possa
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Para Começar
Faroeste caboclo
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Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez
Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou
(...)
No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir
(...)
E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu
(...)
E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor.
(...)
(Renato Russo)
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Assim é
FORMALISMO
NARRATIVA NEW CRITICISM NARRATOLOGIA
RUSSO
O Formalismo Russo e o New Criticism são correntes críticas que você estudou
em Teoria da literatura I. Sobre Narratologia, veja o quadro abaixo. Todas diferenciam a
história narrada da história construída. Uma diz respeito aos acontecimentos e a outra
se refere ao modo como esses acontecimentos são narrados. Cada autor pode contar
a mesma história (fábula, história ou diegese) de modo diferente. O modo como ele
narra é uma construção (trama, enredo ou narração).
Narratologia
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o que as narrativas têm de comum e também o que as distingue. Para
saber mais sobre narratologia, consulte o E-dicionário de termos literários de
Carlos Ceia, disponível em <http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_
mtree&task=viewlink&link_id=69&Itemid=2>.
Como se vê, o termo enredo está associado ao modo como a história está
construída. O enredo é estruturado em função de um conflito, que pode ser de vários
tipos: morais, religiosos, econômicos e psicológicos.
O enredo nem sempre segue essa sequência linear. Às vezes, ele começa pelo
desfecho, como é o caso, por exemplo, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis. O autor, já no século XIX, inverte a ordem tradicional do enredo e
começa sua narrativa pela morte do personagem principal, que também é o narrador.
Este, depois de morto, é que narrará sua vida. Também nas narrativas policiais, a
morte pode acontecer ainda na introdução e o conflito vai se desenvolver em torno da
revelação sobre o assassino.
Aliás, mesmo na poesia épica greco-latina, era comum a narrativa iniciar in media
res, isto é, começar por um acontecimento do meio da história e depois passava-se à
apresentação dos fatos ocorridos antes.
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Como você pode ver, a narrativa não tem um modelo fixo. Cada vez mais, novas
formas de narrar vão surgindo. Na modernidade e na pós-modernidade, as formas
narrativas se multiplicam ocasionando uma grande ruptura do modelo clássico.
Mãos à obra
Com base no que você estudou até agora, pesquise o início de dois
contos: um tradicional e outro in media res. Demonstre, em um parágrafo,
a diferença entre ambos.
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Fig. 02 - Vanguardas artísticas europeias.
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Outra obra que merece destaque no que se refere à ruptura da
tradição romanesca é O Jogo da Amarelinha (Rayuela), do escritor
argentino Julio Cortázar (1914-1984). Nessa obra, a leitura pode ser
feita de modo linear, seguindo a ordem dos capítulos ou de modo
não linear, como num labirinto de leitura, um jogo com muitos
encadeamentos possíveis.
Fig. 03 - Capa do
livro O jogo da
amarelinha.
Mãos à obra
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seu capacete branco pobre diabo meio assado e as moças espanholas
rindo com seus xales e seus pentes enormes e os pregões na manhã
os gregos judeus árabes e não sei que dia […]
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É importante perceber que o gênero narrativo pode ser ficcional ou não ficcional
e, ainda, um e outro. Em O Guesa, do brasileiro Sousândrade, o autor mistura elementos
míticos, históricos e autobiográficos, escrevendo tanto em versos como em gênero
dramático, isto é, sem intervenção do narrador.
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Capote, que publicou, em 1966, a reportagem em série intitulada A sangue frio, um
romance de não ficção, sobre o assassinato de uma família por uma dupla de forasteiros.
O período em que fez as reportagens que viraram o livro é retratado no filme Capote,
de 2005.
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Pela leitura, você pode perceber que uma das características do ensaio é a
persuasão. Assim, a argumentação é um dos seus elementos principais, mas, como o
autor não dispõe de provas, pois não tem a pretensão de cientificidade, a manipulação
da linguagem é sua principal arma.
O ensaio, justamente porque não tem pretensões científicas, foi, durante muito
tempo, relegado a segundo plano. Mas Theodor Adorno, na obra O ensaio como forma,
escrita na década de 1950, defende justamente o ensaio por esse gênero que não
tem a pretensão de definição exata das coisas. Para o autor alemão, o ensaio permite
o exercício da confluência entre pensamento e linguagem e desafia a certeza livre de
dúvidas pretendida pela ciência positivista (ADORNO, 2003).
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Quando a crônica tem personagens, esses não são apresentados com uma
densidade psicológica profunda. Antes são caracterizados por traços genéricos e às
vezes nem são nomeados ou recebem nomes comuns: a moça, o menino, dona Maria,
seu José.
A crônica gira em torno de um único núcleo e tem como objetivo sensi-
bilizar o leitor, principalmente pela emoção. Entretanto essa é uma carac-
terística própria da crônica brasileira, não é comum em crônicas de escri-
tores estrangeiros Por isso, muitos autores consideram a crônica um gênero
brasileiro, pensando nessa concepção e característica. De acordo com José
Marques de Melo (apud TUZINO, 2009, p. 9),
Já sei!
Nesta Aula, você estudou que a literatura também se faz de textos não ficcionais
que têm muita identificação com o jornal, o qual lhe dá os fatos para a reflexão sobre
eles, através de uma linguagem literária. Essa linguagem pode ser uma elaboração
nos moldes da tradição ou de forma a romper com ela. A ruptura na obra literária
pode acontecer em vários aspectos, mas, nesta Aula, vimos o modo como o enredo
se estrutura na tradição (que é de forma linear) e na modernidade (de forma não
linear) e os gêneros híbridos, reconhecendo características fundamentais do ensaio, de
natureza subjetiva, e da crônica, que focaliza o cotidiano.
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Autoavaliação
Leitura complementar
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Referências
MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1972.
RUSSO, Renato. Faroeste caboclo. In: Que país é este? EMI-Odeon, out. 1987.
SILVA, Lindinei Rocha; SILVA, Andrea Targino. A inscrição do ensaio nos gêneros
literários. In: Cadernos da FaEL, Nova Iguaçu, v. 3, n. 8, p. 1-10, maio/ago. 2010.
Disponível em: <http://www.unig.br/cadernosdafael/ARTIGO%20CADERNOS%208%20
LINDINEI.pdf>. Acesso em: 15. jan. 2013.
Fig. 02 - http://www.mundoeducacao.com.br/literatura/vanguardas-europeias.htm
Fig. 03 - http://3.bp.blogspot.com/-o9zfXZI5CWA/UDqUY8NB7hI/AAAAAAAAAHw/Pjl01nIKmdo/s1600/amarelinha.jpg
Fig. 04 - http://2.bp.blogspot.com/_TrPvhIWz2yg/TK97MvqZE5I/AAAAAAAAAA4/L0vMB1OmMok/s1600/os-sertoes.jpg
Fig. 05 - http://antoniofarinaci.blogosfera.uol.com.br/files/2011/03/Montaigne.jpg
Fig. 06 - http://www.tower.com/meditaciones-del-quijote-jos-1883-1955-ortega-paperback/wapi/118220955
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