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Sistematização:
Domingos Armani
Rubén Pecchio
Rafael dos Santos
Apoio: Oxfam GB
Apresentação 11
Artigos e Apresentações 17
• Panorama socioeconômico Brasileiro e do Nordeste: 19
Tendências e desafios pós-crise global. Tania Bacelar de Araujo
• Parcerias com empresas e doação de recursos por pessoas físicas: a experiência 103
do Movimento de Organização Comunitária (MOC)
Klaus Minihuber/ Naidison Baptista
Anexos 141
Anexo 1: Carta do Recife 143
Anexo 2: Proposta de Marco Legal (Abong) 151
Anexo 3: Organizações participantes do seminário 167
8
Valeria Landim de Carvalho (CHAPADA - Araripina - PE)
Ivan Moraes Filho (CCLF - Olinda - PE)
Márcia Larangeira (Consultora - Recife - PE)
Reginaldo Alves (CAATINGA - Ouricuri - PE)
Ted-Lago (ICE-MA São Luis do Maranhão - MA)
10
APRESENTAÇÃO
Esta publicação é um convite para a reflexão sobre a sustentabilidade das organizações
que lutam por direitos e por democracia no Brasil.
A oportunidade desta iniciativa está ligada à convicção de que sem organizações sociais
fortes, autônomas, qualificadas e com capacidade de mobilizar a sociedade civil na defesa e
promoção dos Direitos Humanos e na luta contra as desigualdades, não se poderá ampliar os
limites socioeconômicos e políticos de nossa democracia.
Esta convicção não nasceu agora. Ela já tem uma trajetória longa e diversificada em
diferentes campos de ação social no Brasil.
Muitas instituições e redes sociais brasileiras, organizações internacionais e institutos e
fundações empresariais tem debatido o tema e desenvolvido iniciativas neste sentido nos últi-
mos anos.
Entretanto, o cenário atual está a exigir mais de todas elas.
Observa-se que as condições de sustentabilidade institucional do campo das organiza-
ções da sociedade civil comprometidas com a perspectiva dos direitos têm se tornado progres-
sivamente mais difíceis. Isto tem feito com que algumas organizações fechem suas portas, que
muitas tenham sua capacidade de ação reduzida, e que o futuro seja cada vez mais nebuloso
para elas.
Várias organizações internacionais importantes têm deixado o Brasil. Outras tantas, e
não são poucas, têm reduzido o escopo e abrangência de sua atuação no país.
A ação de empresas, institutos e fundações empresariais tem crescido no país, mas ainda
são limitadas a interlocução e a sinergia interinstitucional em torno do tema da sustentabilidade
institucional das organizações da sociedade civil.
Não se tem no Brasil um marco legal integrado e adequado para regular de forma ágil
e transparente as relações de apoio público a organizações da sociedade civil.
Tudo isso tem contribuído para criar uma situação de crescente dificuldade e instabilida-
de nos esforços para tornar mais sustentável a luta por direitos e democracia na sociedade civil.
12
O capital social representado pelo campo ético-político das organizações de defesa
de direitos está em processo de deterioração no Brasil. E isto representa uma perda poten-
cialmente irreparável para as chances de futuro da nossa democracia.
Acreditamos que parte da resposta a este desafio está no apoio aos esforços das
organizações para mobilizar recursos locais. O que implica desenvolver comunicação
institucional que interpele setores sociais relevantes, incidindo no processo de formação
de opinião e realizando educação cívica-cidadã. Implica, ainda, mobilizar grupos de pes-
soas para o apoio a ações sociais e políticas e, também, para se tornarem apoiadores e
colaboradores das organizações. E implica, ainda, o desafio de preparar as organizações
mesmas para este contato mais próximo, denso e orgânico com a sociedade, o que exige
“casa aberta” e “café no bule”.
Outra parte da resposta está no diálogo, na convergência e na construção conjunta
de estratégias de ação focadas neste desafio por parte de organizações sociais brasileiras,
agências internacionais e institutos e fundações empresariais.
Foi com base nessas preocupações que um conjunto de organizações internacio-
nais, institutos e fundações empresariais com presença no Nordeste decidiu tomar a ini-
ciativa de realizar o Seminário “Sustentabilidade e Mobilização de Recursos para Orga-
nizações Sociais do Nordeste - Uma Visão Política Estratégica” em setembro de 2009, no
Recife/PE, com o apoio da Oxfam GB, Fundação Konrad Adenauer e da Universidade
Católica de Pernambuco.
O processo teve origem ainda em 2008, quando um conjunto de organizações 1 Formavam parte:
Serviço Alemão de Coopera-
internacionais com escritórios no Nordeste formou um coletivo institucional para debater ção DED, a Kinder Not Hilfe
questões comuns, denominado Diálogo Cooperação Internacional1. Uma das questões –KNH, o Serviço Internacional
na agenda do Diálogo era a da saída iminente de algumas delas do Brasil e a preocupa- IS Brasil e a UNICEF/ Recife
2 Instituição formada
ção com qualidade e responsabilidade do processo de saída. pela Fundação Avina, o Inst.
C&A, o Inst. Arcor Brasil, o
Esta preocupação ensejou, no início de 2009, que se agregasse ao grupo a Aliança
Serviço Internacional IS Brasil
Interage2, colegiado institucional formado por organizações internacionais e por institutos e a Save the Children UK.
3 As organizações
que assinam esta apresen-
tação conformaram a partir
do processo do seminário A
Articulação D3 – Diálogo,
Direitos e Democracia, e vem
se reunindo periodicamente
para definir ações estra-
tégicas sobre o tema aqui
exposto.
14
Novos desafios à luta por direitos e democracia no Brasil 15
ARTIGOS
pergunta 1
Como sua
instituição está
vivendo as
implicações da
saída das Agências
de Cooperação
Internacional
do Brasil?
Tania Bacelar de Araujo
Panorama socioeconômico Brasileiro e do Nordeste:
Professora do Programa de
Tendências e desafios pós-crise global1 Pós-Graduação em Geogra-
fia (PPGEO), da Universida-
de Federal de Pernambuco;
Agradeço o convite para estar com vocês na abertura desse seminário e informo Sócia da CEPLAN.
que o meu papel aqui, pelo que me foi pedido pela coordenação, é o de traçar o panora-
ma socioeconômico brasileiro e do Nordeste na qual se inserem as ONGs na atualidade.
É isso que eu vou tentar fazer na minha análise, olhando para as tendências recentes e
para além da crise.
Começo pela trajetória brasileira num contexto de mudanças mundiais importantes
e em seguida coloco o olhar para além da crise financeira mundial, vez que o Brasil já
começou a sair dela. Depois virei para o Nordeste, também destacando mudanças recen-
tes e terminando com uma reflexão sobre perspectivas do ambiente pós-crise, colocando
antigos e novos desafios. É esse o meu roteiro.
Ambiente Brasil
O ambiente macroeconômico brasileiro mudou muito. Se tivéssemos no país na
década de 1990 estaríamos agora discutindo a vulnerabilidade externa do país, o ônus
da divida externa, a crise aguda do setor público. Mas, o Brasil, de fato, nesse começo
do século XXI conseguiu estabelecer um bom equilíbrio no seu ambiente econômico. A
inflação, por exemplo, está sob controle desde meados da década de 1990. Isso é uma
1 Este texto é a
coisa boa porque mantém o poder de compra da população, especialmente beneficiando versão revista da apresen-
os mais pobres, que não têm meios para enfrentar a corrosão do poder de compra pro- tação realizada pela autora
na sessão de abertura do
vocado pela inflação.
seminário “Sustentabilidade
Por sua vez, a crise crônica do setor público está sendo domada. O indicador que e Mobilização de Recursos
para OSCs”, realizado em
os economistas usam para observar o desempenho desse setor é a relação dívida pública/ setembro de 2009 no Recife.
20
primeira resposta
tou sua economia a partir do atendimento ao grande potencial que representa o consumo O Centro Dom Hel-
insatisfeito de amplas camadas de sua população, com destaque para a classe média. der Camara de Estudos e
Ação Social – CENDHEC é
Isso é importante, e por conta dessa dinâmica o país conseguiu enfrentar melhor a crise um Centro de Defesa de
que estourou com a eclosão da “bolha imobiliária americana” que abalou, ainda abala Direitos Humanos, espe-
cializado na defesa dos
e vai abalar por algum tempo o ambiente econômico mundial. Os países que dependiam
direitos de crianças e
muito de exportações (caso do Japão) sentiram mais os impactos da brutal queda do adolescentes e na defe-
comercio mundial que se deu no ambiente da crise recente. O Brasil, ao contrário, tem sa do direito à moradia.
Hoje o CENDHEC passa
mostrado uma razoável capacidade de enfrentar essa adversidade e começa a sair dela,
por um momento de re-
segundo as informações disponíveis. ordenamento no desen-
volvimento de algumas
É importante não desconsiderar esse momento da economia mundial que tem refle- ações, especialmente
xos globais e impacta evidentemente no Brasil. Mas não quero focar nesta crise financeira. aquelas desenvolvidas
Prefiro falar de algumas significativas mudanças que vêm acontecendo no mundo e no diretamente com a po-
pulação. Temos o exem-
Brasil. Tratar de outras mudanças importantes que ajudam a entender a transição pela plo do nosso projeto de
qual passamos e permitem se posicionar melhor frente à conjuntura. São outras “crises” defesa jurídico-social de
(no conceito Gramsciano de crise como momento em que o velho está morrendo, mas o crianças, adolescentes
e suas famílias em situ-
novo ainda não consegue se impor). ações de violências (do-
Vocês das OSCs atuam em especial com problemas estruturais do Brasil, daí a im- méstica, sexual, tortura
e extermínio), no qual o
portância deste olhar menos conjuntural. Então, é preciso observar tendências, como as CENDHEC realiza a defe-
que a seguir destacarei. sa jurídica, ações sociais
com as famílias e acom-
panhamento psicológico
das vítimas.
Mudanças estruturais relevantes (outras “crises”)
Mesmo com o re-
Uma tendência estrutural a ser considerada é a mudança do perfil da população conhecimento que nosso
brasileira, que já está em curso. Está caindo a taxa de natalidade, ao mesmo tempo em trabalho tem, é no cam-
po da defesa dos direi-
que também está ocorrendo uma redução na taxa de mortalidade. Então, o perfil da so- tos humanos de crianças
ciedade brasileira está mudando. Aquele país de jovens que se constituiu até o século XX e adolescentes em que
vai mudar e vamos ser crescentemente uma sociedade com menos jovens e mais pessoas mais se expressa o re-
batimento do reordena-
com mais de 50 anos, o que deverá redefinir demandas da sociedade. Já é possível iden- mento das prioridades
22
Por outro lado, há uma retomada e um redirecionamento do crescimento econô-
mico. E isso é muito importante. O Brasil voltou a crescer sua economia nesta primeira
década do século XXI, como mostram os dados do gráfico a seguir apresentado.
Brasil: Taxas anuais de crescimento do PIB
6,0 5,7 5,7
5,1
5,0 4,0 4,0
4,0 3,2
2,8 2,5
3,0
2,0
1,0
0,0
Média Média 2004 2005 2006 2007 2008 Média
1984-93 1994-03 2009-12*
Fonte: IBGE
0 - 4 SM 833,00 889,00 + 7%
4 - 10 SM 1.830,00 1.874,00 + 2%
10 - 20 SM 4.069,00 4.160,00 + 2%
+ 20 SM 10.815,00 10.904,00 + 1%
2 Prahalad, C.K. A
Fonte: IBGE/PNAD Valores corrigidos pelo IPCA de JUL/08
riqueza na base da pirâmide.
Ed. Bookman.
24
segunda resposta
Se este quadro fosse montado com dados do século XX, seria o oposto: o maior O CAATINGA vem
sentido os impactos da
crescimento se dava nas classes de mais altas rendas. Os dados acima vão até julho de saída das agências inter-
2008, antes de a crise mundial eclodir com força, e são comparados com 2002. Segundo nacionais mais fortemen-
as informações indicadas, a renda dos que percebem de 0 a 2 salários mínimos registrou te nos últimos cinco anos.
Gradativamente, fomos
um crescimento médio anual entre 2002 e 2008 da ordem de 10%. Um crescimento perdendo parceiros im-
“chinês”. Já o extrato de renda de 2 a 4 salários mínimos expandiu-se a 7% a.a.; e quem portantes e estratégicos,
e não conseguimos articu-
ganhava mais de 20 salários mínimos cresceu apenas 1% a.a.. Isso é o oposto do Brasil lar novas parcerias para
do século XX, onde a renda crescia mais no topo da distribuição de renda da população suprir as necessidades
financeiras. As maiores
do que na sua base. Ou seja, a renda passou a se expandir mais na base da pirâmide implicações ocorrem nos
social, a produção voltou-se para atender ao consumo insatisfeito da maioria da socieda- aspectos administrati-
vos e de manutenção da
de brasileira, que passou, consequentemente, a ter uma maior perspectiva de ascensão equipe. De um total de
econômica. Esta foi uma aposta estratégica importante. catorze contratos, temos
apenas três com agências
Nesse novo momento da economia brasileira atrelou-se a melhoria de renda à ex- internacionais, os demais
estão relacionados a re-
pansão do crédito, porque quem conhece os brasileiros sabe que crédito aqui funciona. cursos federais, via minis-
Porque o brasileiro não faz contas de taxa de juros, ele faz conta do tamanho da presta- térios ou órgãos da admi-
ção. A pergunta é simples: cabe no salário do mês? Cabe! Então vamos comprar... Se o nistração direta. Temos,
então, um cenário onde
preço dobra, não importa. os contratos por hora téc-
nica nos levam a estabe-
Então, aumentar a oferta de crédito é importante. Gera no consumidor a expecta- lecer relações que não
tiva de que tem ampliada sua capacidade de compra. Se a taxa de juros é alta, o alon- trazem segurança para
os/as contratados/as nem
gamento do prazo de pagamento resolve a equação. E o crédito no Brasil se ampliou para a instituição. Acredi-
significativamente, passando de 25% do PIB para pouco mais de 40% entre 2002 e 2009. tamos que a flexibiliza-
ção dos convênios, per-
Aumento significativo de programas de transferências de renda (em especial o Bolsa mitindo pagamentos de
salários administrativos,
Família) aliado ao aumento do emprego e ao maior ritmo de expansão real do salário mí- minimize este impacto.
nimo foram elementos impulsionadores do dinamismo da renda nas camadas mais pobres Contudo, ainda teremos
problemas de contrata-
da população. Muita gente passou da classe E para a D e para a C. ções no campo técnico.
O quadro a seguir mostra o rápido aumento do peso das famílias de renda média Outra implicação
que percebemos está re-
(rendimentos de R$ 550,00, a preços de 2008), o que representa quase metade dos do-
lacionada à falta de co-
micílios do país. bertura de custos voltados
26
terceira resposta
O Nordeste dobra sua participação. O Sul, por sua vez, passa de 12% para 20%. A tabela Nem todas as
a seguir mostra esta tendência desconcentradora. agências internacionais
em cooperação com a
Brasil: localização regional da indústria e agropecuária (1970-2005) CESE estão saindo do
Brasil. Temos acompa-
nhado de perto a di-
VALOR DA TRANSFORMAÇÃO VALOR DA PRODUÇÃO versidade de processos
INDUSTRIAL AGROPECUÁRIA vividos por agências de
REGIÕES
cooperação ecumênica:
1970 2005 1970 2005 fusão; descentralização;
redefinição de áreas de
NORTE 0,8 4,8 3,1 7,0 atuação; diminuição de
recursos governamentais
NORDESTE 5,7 9,2 18,3 14,3 e/ou de campanhas jun-
SUDESTE 80,7 61,8 37,3 29,7 to às suas sociedades;
redefinição de priorida-
SUL 12,0 20,5 33,8 28,2 des geográficas etc. O
que enfrentamos direta-
CENTRO-OESTE 0,8 3,7 7,5 20,8 mente é a diminuição do
volume de recursos da
BRASIL 100,0 100,0 100,0 100,0 cooperação para o Bra-
Fonte dos dados básicos: IBG sil motivada por várias
razões, além das impli-
Do ponto de vista da agropecuária, a tendência é a mesma. O Norte Edobra, o cações dos processos de
reorientação já assinala-
Nordeste perde um pouquinho, o Centro-Oeste triplica, o Sul e sudeste perdem peso
dos. Identificamos, entre
relativo. O Nordeste representa um desafio especial porque ele perde participação na eles, a crise mundial e
produção agropecuária, mas mantém o seu peso na população ocupada na agricultura. queda nas arrecadações
das agências na Europa
O Nordeste tem 28% da população total do Brasil e 43% da população economicamente
e América do Norte, de
ativa atuando na agropecuária do país. Quase metade de quem trabalha na agricultura onde vem a maior parte
no Brasil está no Nordeste. Por isso que em todo mapa da pobreza rural o Nordeste está dos recursos da CESE e a
visão que prevalece, no
na frente. Porque 43% da população ocupada só produz 14% da produção nacional. Por-
exterior, sobre o Brasil
tanto, quem estiver achando que o quadro socioeconômico do Nordeste está resolvido, hoje, como um ator-cha-
está muito enganado. ve no cenário político
global e o governo Lula
Outro aspecto que chama atenção é a ocupação do interior do Brasil nas décadas como um governo capaz
mais recentes. Isso pode ser visualizado no mapa abaixo, tirado de estudo do Ministério de implementar políticas
28
inflexão da tendência é muito importante. Ainda é modesta, mas a tendência de reversão feiçoar seu sistema de
está em curso. avaliações, para melhor
aferir efeitos e impactos
É possível identificar, por exemplo, uma diminuição do índice de GINI, indicador de seu trabalho.
muito usado para analisar desigualdade de renda. Segundo dados do IBGE, o índice de
Gini no Brasil caiu de 0,58 em 1997 para 0,52 em 2007.
Para mim, a melhor explicação que se tem para essa inversão da tendência da
redução da desigualdade é o avanço das políticas sociais, desde a redemocratização, em
especial a ação da Constituinte que gerou a Constituição cidadã de 1988.
A sociedade brasileira abandonou falsos debates e assumiu a importância de se
ter boas e amplas políticas sociais. Desde a Constituinte, resolvemos que o País precisa
sim ter políticas sociais competentes, bem estruturadas e de bom tamanho. Os problemas
sociais são muitos e de grandes proporções, logo as políticas têm que ter recursos sig-
nificativos. E acho que o Brasil está aprendendo a fazer isso. Esse é um dos pontos que
vocês têm para refletir no ambiente em que atuam. As instituições não governamentais,
os movimentos sociais, a sociedade civil organizada tem sua parcela de responsabilidade
nessa mudança.
A Constituição de 1988 indicou, por exemplo, que a “população rural tem que
ter previdência”. Parte das elites estrebuchou, achou a Constituinte inviável (ouvia-se de
muitos que “vai estourar com o País”). Não estourou e o País melhorou. E fico pensando
o que é que seria do Recife, de Salvador, de Fortaleza... se a Constituinte não tivesse
decidido isso. Porque na mesma época em que a sociedade tomou esta decisão através
da Constituinte, o algodão acabou no Nordeste Semiárido, e quem conhece o Nordeste
Semiárido sabe que o algodão era a única fonte de renda monetária da maioria da popu-
lação. Pois a única fonte de renda monetária simplesmente desapareceu. Nossas cidades Eliana Rolemberg
teriam estourado. Quem segurou? A previdência social rural. Ainda bem que se teve a Diretora Executiva da CESE
lucidez de levar a previdência rural ao Nordeste rural. Metade dos beneficiários está no Coordenadoria
Semiárido nordestino. Ecumênica de Serviço
www.cese.org.br
30
tos já estava instalada antes da crise financeira. A pressão gerava inflação nos alimentos ras no sentido de refletir
como atingir sustentabi-
(além do componente especulativo sobre algumas commodities). Porque na economia é lidade dos projetos, das
assim: aumentou a demanda e não aumentou a oferta, o preço resolve. Então vai ter uma organizações, das cau-
demanda crescente - a FAO estima um aumento de 50% na demanda de alimentos nas sas de lutas de tantos
anos. Tentamos reverter
próximas três décadas. Esta instituição tem uns estudos muito interessantes que mostram a notícia negativa da
que quando a renda da população melhora, a primeira coisa que as pessoas passam a saída impulsionando as
organizações nacionais a
comer é proteína, e a segunda é fruta. O Brasil é competitivo em proteína e competitivo trabalhar o tema susten-
em fruta. Além disso, o Brasil tem água que vai ser um recurso escasso no século XXI, o tabilidade institucional,
sustentabilidade da cau-
Brasil tem cerca de 100 milhões de hectares de terra fértil. Sem usar a Amazônia a gente sa, projetos sustentáveis
pode praticamente dobrar a capacidade produtiva da agropecuária brasileira. Somos para seus beneficiários...
Apoiando o fortalecimen-
competitivos em grãos, em carne, em açúcar, em café, em fruta e por aí vai. Temos água, to institucional e o de-
terra e tecnologia. Exportamos tecnologia agrícola. E além de alimentos, a nova matriz senvolvimento de Planos
de Sustentabilidade des-
energética que emerge vai valorizar as fontes limpas e renováveis e a energia vinda da sas Organizações. Tema
biomassa sinaliza mais uma vez para o Brasil. que, na realidade, desde
muito deveríamos estar
No campo, se viveu nos anos recentes uma mudança importante: o Brasil está co- vendo mais fortemente
meçando a aprender a fazer uma boa combinação entre agricultura patronal e agricultura como base de trabalhos
institucionais, mobiliza-
familiar. Eu digo que isso é importante porque eu sou de uma geração que quando se fa- ção de recursos e susten-
lava em agricultura familiar não se encontrava respaldo, ao contrário havia muita crítica. tabilidade.
Ouvia-se logo a elite empresarial, elite política e elite acadêmica se colocar contra qual-
quer apoio à produção familiar. A palavra de ordem era: isso é inviável, é coisa de pobre.
Não existe. Nós vamos ter uma agricultura patronal moderna, tecnificada, com 5% da
população ocupada na agricultura e está resolvido. Os movimentos sociais negaram essa
visão das elites. Não foi o governo, foram os movimentos sociais que, na era FHC, – justo
quando se estava desmontando o Estado brasileiro – que se conseguiu criar um Ministério
Márcia Iglesias
do Desenvolvimento Agrário (MDA) para apoiar a agricultura familiar. Na época, se criou
um modesto programa de apoio à agricultura familiar (gastava-se R$ 2 bilhões/ano). Diretora Regional
para América do Sul (BRasil,
Nós não tínhamos nem números para defender outra posição. Agora a FIPE fez uma Bolívia e Peru) de Terre
pesquisa sobre agricultura familiar e o novo Censo Agropecuário (feito em 2006) desagre- des Hommes Holanda,
www.tdh-holanda.org
gou informações importantes, o que gerou uma massa de informações novas. Descobriu-
32
Vamos ter que rever nossos valores se quisermos construir um país aproveitando esta
oportunidade que o cenário mundial nos sinaliza. O mundo da biomassa tem lugar para
o Brasil. O mundo da produção de alimentos tem lugar para o Brasil. Então devemos ter
clareza para olhar adequadamente e construir um País produtor agroindustrial e agroener-
gético socialmente justo. Este é o grande desafio.
E um país ambientalmente responsável. Porque como isso vai vir com muita força
para o Brasil, o debate sobre sustentabilidade ambiental aqui vai ter uma batalha mui-
to importante, mundialmente falando. Uma derrota no Brasil neste aspecto prejudica o
mundo. Aqui vai ser um dos lugares onde a aplicação desse conceito (sustentabilidade)
vai ser muito importante, porque o estrago ainda não está feito. Poderá ser feito, porque
a pressão do mercado para responder rapidamente à demanda que vem de fora vai ser
muito grande. Então, vai ser necessário ter lucidez diante desta oportunidade que é, ao
mesmo tempo, uma ameaça.
Mas o Brasil tem tudo para continuar sendo um país urbano-industrial. A estrutura
que nós construímos no século XX continua importante. O Brasil construiu uma base indus-
trial que chegou a ser a oitava base industrial do mundo, com uma estrutura diversificada.
O País produz de avião até moda, e temos tudo para participar bem do cenário mundial
em termos industriais. Não estou dizendo que vamos voltar a ser um país agrário. O Brasil
vai ser uma sociedade mais complexa e que vai manter esse patrimônio que foi construído
no século passado, e vai poder ampliar este patrimônio para o mundo rural, que é esse
que começa a ser ocupado agora em novas regiões, além das antigas.
A curva do gráfico a seguir, apresentado pelo IPEA com base nos dados da PNAD,
mostra a mesma coisa. A curva verde é o Brasil, a curva vermelha é o Nordeste. A queda
é mais acentuada no Nordeste do que na média do Brasil, e isso reduz o hiato entre a
região e o País.
34
sexta resposta
Brasil e Nordeste: redução da pobreza (*) O Brasil mudou e
hoje é um grande prota-
53,7 gonista no cenário mun-
50,1
48,2 dial, com índices de cres-
46,8 45,1
43,8 cimento impressionantes
39,8 e avanços significativos
35,3
na redução das desigual-
30,3
28,9 28,0 dades. Apesar disso, o
29,8
26,6
24,5 Serviço Internacional não
24,7 24,6
23,7 23,2
17,6
vai sair do Brasil. Enten-
20,5
13,8 13,1
demos, assim como en-
11,5
14,3 tendem nossos parceiros,
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 que ainda não têm sido
alcançadas as condições
Brasil Nordeste para a sustentabilidade
das Organizações da So-
(*) Parcela da população vivendo com menos de ¼ do SM per capita. Em SM, a preços de 2007. ciedade Civil (OSCs) que
lutam pela afirmação dos
No mercado de trabalho, houve crescimento do emprego formal - o Brasil criou 10 direitos. O governo e o
milhões de empregos pela CAGED – Ministério do Trabalho e Emprego de 2003 a 2008 - setor privado, embora
comecem a contribuir
e o Nordeste se beneficiou desta tendência. Quem se lembra dos debates dos anos 1990 com este tipo de organi-
não acredita nisso. Porque nos anos 1990, o Brasil discutiu o seguinte: não tem emprego zação, ainda não consti-
tuem um fator suficiente
para todo mundo. Lembro de muita gente boa dizendo: “quem não tem 2º grau não é em- para a continuidade de
pregável. Contrário a isto, o Brasil retomou a criação de empregos e voltou a formalizar. um trabalho tão impor-
tante para a implemen-
E quem acha que não ter carteira assinada é irrelevante, pergunte a alguém que não tem tação dos direitos e no
carteira assinada o que é que isso significa. Chegar no Magazine Luíza, querer comprar controle social. Muitas
uma roupa e o vendedor perguntar, “você trabalha onde? Cadê a carteira?” ONGs fundamentais na
luta pela democratização
Esta é uma mudança importante, e o Nordeste participou dela. O emprego formal deste pais e que ainda
exercem um papel fun-
no Nordeste cresceu 39% entre 2002 e 2008, segundo a RAIS/CAGED/MTE. Esta taxa damental na sociedade
situa-se acima da média do Brasil (36%). civil estão com o risco de
fechar. E nós não quere-
mos que isso aconteça.
NOVOS EMPREGOS 2003/08 CRESCIMENTO Luca Sinesi
36
VOLUME DE VENDAS EM DEZEMBRO DE 2008 (2003=100) sultado dessa articulação
foi o seminário organi-
160,0 zado em parceria com a
152,7 151,6 Aliança Interage, cujos
145,1
140,2 140,0 resultados estão sendo
140,0
127,9 publicados nesse livro.
120,0
100,0
NORDESTE NORTE CENTRO BRASIL SUDESTE SUL
OESTE
O gráfico acima demonstra que o Nordeste e o Norte é que lideram a dinâmica das
vendas no varejo do País. O atendimento ao consumo dos mais pobres beneficiou essas regiões.
Por outro lado, o crédito não cresceu só no consumo. Os empréstimos dos bancos,
no total, cresceram bastante. Fator relevante, pois não basta aumentar a renda. Como
a nossa renda ainda é baixa, tem que olhar sempre para o crédito. E o crédito cresceu.
O gráfico indica com clareza que o crédito oficial (BNDES e BNB) cresceu bastante nos
últimos anos.
EMPRÉSTIMOS CONTRATADOS PELO BNDES E BNB
VALORES DE OUTUBRO DE 2008 (INFLACIONADOS PELO IPCA)
18.000
BNDES 16.352 15.913
16.000 BNB
14.000 Total
14.754
12.000
10.080 10.766
R$ milhões
38
definidos a partir de pesquisas como os que o País tem condições de disputar mundial-
mente. Em dois desses, o Nordeste tem possibilidade de disputar: fármacos e tecnologia
da informação. E o Nordeste está disputando empreendimentos nesses segmentos indus-
triais de ponta. Pernambuco está sediando o começo de um polo de fármacos. O que está
certo, pois temos plenas chances de sediar um polo desses.
Outra mudança é a expansão da base da C&T do País, o que é muito importante,
bem como a duplicação do número de escolas de ensino médio. O governo federal atual
criou 12 universidades novas, e, dessas, quatro estão no Nordeste (em cidades do interior,
como Mossoró). Também, o governo está com um programa de ampliação das escolas
técnicas em que o Nordeste entrou bem. E o Nordeste está abrigando importantes insti-
tutos nacionais de tecnologia, o que é uma novidade. Os centros nacionais de ciência e
tecnologia no Brasil eram muito concentrados de Belo Horizonte para baixo. Um exemplo
é o Instituto Nacional de Fármacos, liderado pela UFPE, ou o Instituto de Neurociências,
situado no Rio Grande do Norte.
Considerações Finais
Quero chegar ao final da minha fala dizendo o seguinte. Primeiro, quem acha que
todas essas mudanças dispensam política social no Nordeste está muito enganado. Este
é o começo de um processo de mudança, um modesto começo de um processo de mu-
dança.
Em 2007 (data da contagem populacional feita pelo IBGE), o Nordeste tinha 28%
da população e continua com 13% do PIB nacional. O Norte, que tem 8% da população,
responde apenas por 5% do PIB nacional. Na outra ponta, o Sudeste tem 42% da po-
pulação, e 56% do PIB nacional. Então, apenas começamos a desconcentrar... Estamos
melhorando, mas a herança estrutural da desigualdade é muito pesada e não se resolve
numa década. O desafio continua. O tamanho do desafio é muito maior do que a gente
pôde andar nessa década.
40
nona resposta
quadro social, temos condição de avançar daqui para frente, mas ainda temos um desafio Nos últimos cin-
co anos observamos um
muito grande. Por exemplo, o sistema de assistência técnica rural é algo estratégico para o processo de importante
Nordeste. Quem se dedica a isso está no caminho certo. A região tem 46% da população redução dos investimen-
ocupada na agropecuária do País, e responde por apenas 14% da produção agrícola na- tos sociais destinados à
América Latina por gran-
cional. Fica evidente que se tem uma agricultura de baixa produtividade. Torna-se, assim, des fundações privadas
importante melhorar os padrões técnicos dessa agricultura. E se melhora com conheci- internacionais e agências
de Cooperação Interna-
mento, educando as pessoas, transferindo conhecimento tecnológico para essa atividade. cional, agravado mais
Então, pode acabar o sistema de assistência técnica pública no Sudeste? Pode. O setor recentemente em razão
dos efeitos da crise finan-
privado dá conta. Mas aqui não. Aqui tem que haver um sistema de assistência técnica ceira sobre as receitas
ainda muito importante, e público. Não estou dizendo só governamental. dessas organizações.
Outro ponto é o seguinte. No Nordeste que melhorou, parte não avançou com
Bauducco e Nestlé. A melhoria se deu pela ação de pessoas que empreenderam na re-
gião: com pequenas unidades produtoras de castanha de caju, mel de abelha, confecção,
flores tropicais, entre outros. Existe uma grande riqueza de iniciativas na região, algumas
incipientes, começando a nascer, aproveitando esse tipo de ambiente mais favorável,
mas que não está consolidado, de um lado, e que pode ser muito ampliado, do outro. E,
portanto, precisa de apoio das políticas públicas e das agências de fomento e assistência.
Um desafio neste caso é o de articular melhor os investimentos. Recebemos alguns inves-
timentos, mas é muito atomizado. Vocês que trabalham na base devem sentir isso. Tem
tanta gente fazendo coisa parecida ou até atuando uns contra os outros. O Brasil ainda
precisa aprender a articular esse tipo de política.
Finalmente, o Nordeste tem que pensar na América do Sul. O Brasil fez um reposi-
cionamento estratégico à escala mundial, hoje faz parte do G20, sendo uma das nações
que está sendo revisitada neste início de século. É inegável que o Brasil se recolocou no
contexto mundial e um dos reposicionamentos estratégicos importantes é a sua inserção
Neylar Vilar Lins
na América do Sul. Pela primeira vez, o País está olhando para os demais países deste
continente sul-americano. O Brasil só olhava para Europa ou para os Estados Unidos. Representante Brasil da
Fundação Avina
Agora está priorizando as relações sul-sul, em especial a América do Sul. O Nordeste
tem que pensar esse diálogo com a América do Sul. Não sei se vocês conhecem bem a www.avina.net
Se rg ip e 16,8
volvimento institucio- Al agoa s 25,1
nal das organizações da Pe rn am buco 18,5
sociedade civil já é, há Pa ra íb a 23,5
alguns anos, uma preocu- Ri o Gr ande do No rt e 19,6
pação do Instituto C&A, Ce ar á 19,1
mas ainda não se pode
Pi au í 23,4
dizer que esta seja uma
Ma r anhã o 21,4
causa que arregimente
muitos adeptos. No nosso
entendimento, trata-se Tocant in s 14,2
de um trabalho com re- Am ap á 6,7
flexos diretos no desen- Pa rá 11,7
volvimento da sociedade Ro ra im a 10,3
civil brasileira, tornando- Am az ona s 7,9
a mais organizada para Ac re 15,8
resolver seus pleitos, seja Ro ndôni a 9,7
por ação sobre as deman-
02 ,5 57 ,5 10 12,5 15 17,5 20 22 ,5 25 27 ,5
das sociais, seja por meio
de posicionamentos polí- Taxa de analfabetismo
ticos que permitam uma
maior conjugação com o
42
literatura latino-americana. Ler sobre a realidade de países como Bolívia e Colômbia é poder público. E o Insti-
tuto C&A tem todo o in-
como se estivéssemos lendo sobre o Nordeste. Temos grandes afinidades com os povos teresse em compartilhar
sul-americanos. Este é um desafio interessante para o futuro. sua experiência e seus
métodos nessa área, bem
Com relação ao seminário de vocês eu vou terminar fazendo uma reflexão sobre como em sensibilizar
duas palavras. A primeira é recurso. Recurso não é recurso financeiro somente. Apareceu seus pares para investir
no desenvolvimento ins-
na Mesa de Abertura essa idéia e acho que ela merece uma boa reflexão. Saber fazer titucional das organiza-
(know how), por exemplo, também é um recurso. Grande parte do que as organizações ções sociais.
não-governamentais fizeram teve a ver com recurso financeiro, mas também teve a ver
com metodologias, com formas de realização de projetos, com maneiras de dialogar com
a sociedade. Isso é um patrimônio. Nós não podemos deixar que esse patrimônio se perca
por falta de recursos financeiros. No Brasil do século XXI, com o potencial que se tem, não
podemos perder esse patrimônio. Então, se eu fosse vocês, eu explorava bastante essa
palavra “recurso”, porque “recurso financeiro” empobrece o conceito que está por trás.
A segunda noção é política pública. A grande maioria de vocês faz políticas sociais
que são políticas públicas. Uma das coisas que nós estamos aprendendo a duras penas
no Brasil é separar público de governo. Nem tudo que é público é governo. Embora seja
muito importante restaurar o Estado brasileiro, um dos debates que vamos ter no século
XXI vai ser sobre o novo papel do Estado.
Este debate vai voltar à agenda. Não estamos mais na década de 1990, em que
dominava a visão de que o mercado resolvia tudo. A crise recente deixou na defensiva os
apologistas do mercado. E nós não devemos querer, no Brasil, voltar ao Estado autoritá-
rio, desenvolvimentista-conservador que foi o que construímos no século XX. A sociedade
brasileira está mais amadurecida, já fez vários debates e está no caminho do bom debate.
Mas qual é mesmo o papel do Estado? Então esse debate é o debate de vocês,
na minha leitura, porque nem toda política social é política governamental. Pode até ser Paulo Castro
financiada pelo governo, mas não precisa ser toda praticada, concebida, implementada Diretor Presidente do
e financiada pelo governo. Até porque o governo sozinho não dá conta do tamanho e da Instituto C&A
complexidade dos desafios. www.institutocea.org.br
44
Domingos Armani
Organizações da sociedade civil: sustentabilidade e
Sociólogo, Mestre em
democracia1 Ciência Política (UFRGS) e
consultor em desenvolvi-
mento institucional.
Novos desafios à luta por direitos e democracia no Brasil 45
vez menos comuns os casos em que esta é responsável por mais do que 50% das receitas
anuais de uma organização.
Abre-se a partir de então, a oportunidade para um novo ciclo, mais propenso à bus-
ca da sustentabilidade com base no estabelecimento de diversos tipos de parcerias locais.
Este ciclo, por desafiar as organizações a tornarem o contexto nacional mais favorável à
sua presença duradoura, poderá contribuir de forma significativa para o seu fortalecimen-
to como sujeitos políticos autônomos e para a radicalização da nossa democracia.
46
Em levantamento recente no âmbito das organizações do PAD4 indicou-se que (i)
das 256 organizações integrantes da articulação em 1998, praticamente todas com par-
cerias internacionais à época, restaram ativas na rede PAD apenas 140 em 2008, sugerin-
do a perda de contato de boa parte delas com o circuito da cooperação internacional; (ii)
nada menos do que 94% das respondentes afirmava viver problemas na sua sustentação
financeira; e que (iii) a principal medida para enfrentar as dificuldades financeiras era o
“controle do orçamento”, no que figuravam medidas tais como: a redução de pessoal 4 PAD, GT Sus-
tentabilidade Institucional.
administrativo e técnico, a redução de carga horária, mudanças na forma de contratação
Sustentabilidade das ONGs e
do quadro fixo para prestação de serviços e redução de espaço físico. Tudo isso para “re- Movimentos Sociais do cam-
duzir ao máximo possível os gastos com a estrutura da organização, para pagar dívidas po PAD: crise e alternativas.
Novembro 2008. Um total de
e mantê-la em funcionamento com condições mínimas para execução dos seus projetos”.
34 organizações (81% delas
Em outra consulta relativamente recente, esta da Abong em 20065, 17 das 24 res- ONGs) respondeu à consul-
ta.
pondentes, afirmaram ter algum tipo de déficit orçamentário. A pesquisa indicou também 5 PDI Abong. Abong
que as organizações com menor número de fontes de recursos (até duas) sofriam mais mapeia causas da crise fi-
com problemas financeiros. nanceira em ONGs. Pesquisa
realizada pelo PDI da Abong
Dentre as várias implicações das dificuldades financeiras vividas por muitas organi- (Programa de Desenvol-
vimento Institucional) em
zações hoje, destacam-se:
2006, a partir de convite a
• A adoção de medidas de contenção de despesas, as quais tendem a 32 associadas, das quais 24
responderam o questionário
reduzir a capacidade de ação;
enviado.
• A redução do escopo, do âmbito territorial e do número de pessoas desti- 6 A pesquisa da
natárias da atuação institucional; Abong com suas associadas
• A redução da equipe de trabalho, com a perda das pessoas mais experi- em 2004 revelou que entre
2001 e 2004: (i) houve pou-
entes e mais qualificadas, e a maior precarização dos vínculos contratuais6;
ca elevação do gasto com
• Crescente sobrecarga de trabalho e superposição de responsabilidades; pessoal dentre as maiores
• O risco crescente da busca por recursos de qualquer natureza a qualquer organizações; e (ii) redução
custo, como forma de manter a organização ativa; do gasto dentre muitas das
menores. Ver Abong. ONGs
• Tendência à estabilização da remuneração, aumento da rotatividade de
no Brasil – Perfil das Associa-
pessoal e menor capacidade de atração e integração duradoura de profis- das à Abong 2005 (acessível
sionais qualificados; em http://www.abong.org.br).
48
ciativas de caráter mais estratégico. Identifica-se, porém, importantes desafios como o do
apoio ao desenvolvimento institucional das organizações (e não somente a projetos), e o
da articulação de estratégias intersetoriais.
Três fatores parecem ser relevantes para o futuro das relações entre organizações da
sociedade civil e setor empresarial. O primeiro é o grau e o ritmo de avanço das práticas
de responsabilidade social das empresas; o segundo é a superação do desconhecimento
e do preconceito ideológico mútuo entre ambos setores; e o terceiro é a identificação por
parte dos dois setores de que a maior efetividade das ações sociais e a maior sustenta-
bilidade das organizações não governamentais tem muito a ganhar com a aproximação
estratégica entre eles.
Este conjunto de dificuldades indica que a sustentabilidade do campo das organiza-
ções da sociedade civil de defesa de direitos está longe de ser satisfatória, e parece estar
piorando ao invés de melhorar. As dificuldades de ordem financeira são evidentes e gene-
ralizadas; há várias agências internacionais saindo ou reduzindo suas operações no país;
o acesso a recursos públicos é incerto e arriscado; inexiste um marco legal adequado às
necessidades de acesso aos recursos públicos; a simpatia da opinião pública não é mais
gratuita, e o apoio do setor empresarial é ainda limitado diante da demanda potencial e
pouco tematizado em âmbitos interinstitucionais do ponto de vista mais estratégico.
É importante reconhecer que as adversidades do contexto para a maior sustentabilidade
do campo das organizações da sociedade civil não são suficientes para explicar a situação.
Há que considerar também a capacidade de adaptação e inovação das organi-
zações frente às mudanças de contexto, sem o quê, tais dificuldades poderão se tornar 7 Ver, por exemplo,
intransponíveis para muitas delas. os casos inovadores de
mobilização de recursos em:
Infelizmente, os avanços neste sentido têm sido lentos e pontuais. Algumas orga- Armani, Domingos. Mobi-
nizações conseguem instaurar processos de mudança de estratégias e mesmo de cultura lizar para Transformar – a
mobilização de recursos nas
institucional, buscando inovar tanto nas formas de intervenção, como na interlocução e organizações da sociedade
mobilização da sociedade, com vistas a ampliar sua visibilidade, credibilidade e capaci- civil, São Paulo: Peirópolis;
dade para mobilizar recursos7. Recife: Oxfam, 2008.
50
Há informações dando conta da saída de muitas agências internacionais do País e
da redução do âmbito das operações de algumas delas.
Levantamento informal realizado no processo preparatório desta publicação indicou
que dez organizações internacionais de ajuda ao desenvolvimento e outras duas da ajuda
oficial haviam saído recentemente ou já tinham data definida para sair do País10.
10 As dez menciona-
A Fundação Kellogg, dos Estados Unidos, decidiu deixar o país, mas está articulan- das são: CordAid (Holanda),
do a criação de um mecanismo de apoio à equidade racial no Nordeste como forma de Catholic Relief Services-CRS
(Estados Unidos), Intermon
processar uma saída responsável. A Novib (Oxfam Holanda), que também está deixando o
(Espanha), Novib (Holanda),
Brasil, discute no momento a possibilidade de criar um fundo de apoio a projetos no País. Trócaire (Irlanda), TDH (Ho-
landa), Save the Children (Su-
O DED (Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social) deixou a região Nordes- écia), SCIAF (Escócia), Volens
te em 2009 para focar seu trabalho apenas na Amazônia doravante, com escritório em (Bélgica) e Fundação Kellogg
Belém/PA. A Save the Children (Reino Unido) também deixou Recife para se incorporar à (Estados Unidos). Em 2010,
Save the Children Suécia fe-
Fundação Abrinq – Save the Children (novo nome da F. Abrinq), em São Paulo. chará seu escritório no Brasil
e manterá suas ações no
Por outro lado, há notícias também da chegada de novas organizações internacio-
país a partir de seu escritório
nais, seja no campo ambiental, seja no do desenvolvimento. regional, em Lima. E, a partir
de 2011, poderá manter suas
Há vários anos representantes de organizações internacionais tem relatado a cres- ações apoiando à Fundação
cente dificuldade interna para manter os mesmos níveis orçamentários para o Brasil, ou Abrinq - Save the Children. As
mesmo, para manter o País na lista dos que devem ser apoiados. duas agências da coope-
ração oficial que deixam o
O principal argumento para a eventual saída ou redução orçamentária tem sido o país são o DFID/Reino Unido
(só apóia indiretamente,
fato de o País ter deixado para trás a condição de país de baixa renda (Low Income Coun-
por meio de organizações
try), sendo então, comparativamente, não prioritário para a ajuda internacional. internacionais) e a CIDA/
Canadá (2011). Algumas
Como o Brasil é hoje considerado um país de renda média alta pelo Banco Mundial
organizações internacionais
e figura desde 2007 no grupo de países de alto IDH, está fora da lista de países prioritá- reduziram suas operações no
rios a receber ajuda oficial internacional. Com isso, as organizações não governamentais Brasil recentemente (ICCO/
Holanda, Oxfam-GB/Reino
internacionais que recebem aporte financeiro de seus governos não podem utilizar pro-
Unido, Plan International/
porções significativas destes recursos públicos para a ajuda ao Brasil, tendo de fazer uso Inglaterra, PPM/Alemanha,
de outros tipos de recursos para isso11. Solidariedade/Holanda).
52
parceiras. Elas passaram então a se preocupar como nunca antes com a construção de 14 Pão para o Mundo
(PPM) se juntará à EED até
parâmetros que possibilitassem a avaliação e a demonstração de resultados. 2012; ambas aprovaram
documento programático con-
Uma das implicações deste quadro de crescentes dificuldades foi a tendência ao junto 2010-14 em novembro
agrupamento e/ou fortalecimento de redes nacionais e internacionais de organizações. de 2009, no qual se referenda
a continuidade do apoio ao
Isto favoreceu a maior nitidez da identidade e maior coerência nas formas de atuar dos
Brasil.
diversos campos político-institucionais, conferindo-lhes também maior visibilidade e capa- 15 Aprodev foi criada
cidade para mobilizar recursos. em 1990 e articula 17
organizações de cooperação
Na Holanda, por exemplo, seis organizações independentes de cooperação se uni- ligadas ao Conselho Mundial
de Igrejas (www.aprodev.net).
ficaram na “Aliança ICCO”; na Alemanha, outras cinco se unificaram como “EED” (Ser- 16 A aliança interna-
viço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento) em 2001. A elas se cional Cidse foi criada em
1967 e articula 16 organiza-
juntará proximamente a PPM (Pão para o Mundo)14, designação que passará a nomear o ções católicas de cooperação
conjunto delas. na Europa e na América do
Norte (www.cidse.org).
Ao nível internacional, reforçaram-se as articulações por campos identitários, como a 17 Há atualmente 74
organizações na aliança ACT
APRODEV (Association of World Council of Churches related Development Organisations in Development com 39.000
Europe)15 no campo protestante e o CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvi- funcionários trabalhando em
mais de 130 países com um
mento da Solidariedade)16 no campo das organizações de cooperação católicas. O campo orçamento total de cerca de
protestante, incluindo aí o Conselho Mundial de Igrejas, agências de cooperação interna- U$ 2.100.000.000. Em 2010
cional e organizações do movimento ecumênico, criou em 2007 a ACT Development17 (Ac- está prevista a fusão com ACT
International, voltada à ajuda
tion by Churches Together for Development), organismo voltado à erradicação da pobreza, humanitária, totalizando então
da injustiça e do abuso dos direitos humanos. 165 organizações, com o
nome de ACT Alliance.
Outro fenômeno deste período foi a criação ou ampliação de organizações e redes 18 Oxfam International
é composta por 14 organi-
internacionais, como a Oxfam International18, a ActionAid International19, a International zações nacionais. No Brasil,
Save The Children Alliance20, a Solidaridad21 etc. Oxfam-GB (Grã-Bretanha)
está presente desde a década
O novo contexto da cooperação tem exercido pressão sobre as organizações inter- de 60, com escritório em
Recife.
nacionais no sentido de seu conhecimento dos contextos onde atuam e sua presença no 19 ActionAid Interna-
terreno, assim como em relação à qualidade das parcerias estabelecidas. Por conta disso, tional é a rede de ActionAid
nacionais criada em 2003.
muitas organizações decidiram ampliar seus escritórios nacionais ou então fazer uso re- ActionAid existe no Brasil
desde 1998.
54
pactos da ajuda internacional não tem sido acompanhado por convincentes esforços de
demonstração do sentido da ajuda. Esta ainda mostra fôlego quando se trata de situações
de emergências ou no combate à pobreza nas regiões e países mais pobres, mas já não
tanto quando se trata de padrões de desigualdade menos óbvios ou familiares.
Esta conjugação de fatores levou a que as organizações internacionais de ajuda ao
desenvolvimento se tornassem cada vez mais dependentes dos recursos públicos governa-
mentais (bilaterais e multilaterais), o que exerce forte pressão sobre seu campo de escolhas
(países, temáticas, presença no terreno, formas de atuação, exigências de monitoramento
& avaliação, perfil de profissionais etc.).
E aí talvez resida outra dificuldade das organizações internacionais – o apelo por
recursos junto à população nos respectivos países foi, por muitas décadas, mais fácil e
mais produtivo quando baseado em argumentos de pobreza extrema, vividas “ultramar”,
longe, sem relação alguma com o processo de globalização e com a dinâmica geopolítica
e comercial do mundo globalizado.
Não era incomum em organizações internacionais que a mensagem pública de
apelo por recursos junto à população não guardasse nenhuma relação com a complexa
análise sociopolítica realizada por ela do contexto. Este hiato entre o porque do pedido
de ajuda e o tipo de apelo feito não contribuiu para a maior politização das bases sociais
destas organizações25.
Nota-se, no entanto, que no período mais recente, têm sido mais comuns as cam- 25 Ver crítica ao
comportamento das agên-
panhas de mobilização de recursos com um apelo mais político e mobilizador. As organi-
cias diante da tendência de
zações ambientais conseguiram fugir com maior facilidade desta lógica. redução do fluxo de recursos
oficiais à América Latina em
Neste sentido, deve-se reconhecer e valorizar o processo de maior ativismo político das Políticas de las ONGs euro-
organizações internacionais, por meio de ações de lobby e de advocacy, as quais têm contri- peas para América Latina:
buído para a maior politização do contexto da ajuda ao desenvolvimento. Tendencias y perspectivas
recientes, de Kees Biekart.
Outro elemento crítico em relação às organizações da cooperação internacional Instituto de Estudios Sociales
(ISS), La Haya, Países Bajos,
é sua pouca permeabilidade à influência de um de seus stakeholders estratégicos – as
abril 2005.
56
enigma contribuirão como efeito demonstrativo no plano global de que um outro tipo de
desenvolvimento é de fato possível e viável.
Por isso, as organizações da sociedade civil brasileira terão de valorizar mais em
termos internacionais sua condição de ator político e de “laboratório social”, onde são
produzidas experiências e conhecimentos de referência mundial, muitas das quais se tor-
nam políticas públicas, no Brasil e também no exterior.
É isso que pode manter o Brasil como país estratégico para muitas organizações
internacionais por muito mais tempo e mesmo atrair novas organizações para atuarem
no País.
58
relação Estado – Sociedade, da relação entre economia e sociedade, do papel social das
organizações não-governamentais vis-à-vis o Estado, as políticas públicas e a responsabi-
lidade das empresas, enfim, é da própria qualidade da democracia que se trata.
Se, no nível micro de uma organização em particular, a sustentabilidade pode ser
definida como a capacidade de sustentar de forma duradoura o valor social do projeto
institucional, no nível macro, a sustentabilidade pode ser tomada como o grau de corres-
pondência (legitimação social-pública) entre a ação coletiva das organizações sociais e as
concepções, políticas e mecanismos (públicos e privados) de enfrentamento da pobreza e
das desigualdades e de promoção do desenvolvimento.
Esta abordagem da questão da sustentabilidade institucional faz referência e ex-
plicita, assim, o grau de interlocução pública e de aproximação ao que possa ser consi-
derado o “interesse público” quanto ao “lugar” das organizações sociais no tocante ao
enfrentamento da problemática social e à promoção do desenvolvimento e à ampliação
da democracia.
Esta perspectiva indica que a sustentabilidade do campo das organizações da socie-
dade civil requer o desenvolvimento de estratégias de mobilização de recursos capazes de
propiciar maior visibilidade, credibilidade e interlocução com a sociedade.
Mobilizar recursos, neste enfoque, expressa o processo pelo qual uma organização
promove, em um mesmo movimento, educação cidadã, mobilização social e mobilização
de apoio material, técnico e financeiro. Assim, as estratégias de mobilização de recursos são
também mobilizadoras de consciência social democrática e cidadã29.
Cabe às instituições interessadas na luta contra a pobreza e as desigualdades no
Brasil, como as organizações internacionais e as instituições empresariais, dar maior valor
ao desenvolvimento institucional e à sustentabilidade das organizações da sociedade civil
como condição de defesa de direitos, de melhor desenvolvimento e de melhor democracia.
A elas se coloca a oportunidade e a necessidade de contribuir com tarefas urgentes,
tais como: 29 Armani, Domingos,
2008, op. cit.
Este tipo de ação estratégica, porém, só terá sentido e chances de ter efetividade,
se organizações internacionais e instituições empresariais, fazendo uso de sua representa-
tividade, força política e expertise, se articularem com organizações e redes da sociedade
civil brasileira e com gestores públicos federais, para se engajarem em processos articu-
lados de ação estratégica.
Como imaginar maior efetividade por parte de organizações voltadas ao campo
social, assim como avanços duradouros em termos da qualidade do desenvolvimento e
da democracia, sem o concomitante fortalecimento de um campo ético-político de atores
autônomos comprometidos com a luta por direitos?
60
62
CAMINHOS ESTRATÉGICOS
PARA FORTALECER O AMBIENTE
DA SUSTENTABILIDADE
DAS OSCs NO BRASIL
Quais são os
desafios e caminhos
que se tem para
fortalecer as OSCs
no futuro?
Lisandra Arantes
Marco Legal: em busca do aprimoramento da
Assessora jurídica da
regulamentação de ONGs no Brasil. Abong, acompanha a pauta
sobre o Marco Legal das Or-
ganizações Sem Fins Lucra-
A problemática tivos no Congresso Nacional
e junto ao Poder Executivo
Segundo a legislação atual, são duas as formas possíveis de constituir uma organi- e representa a Abong no
Fórum Nacional de Direi-
zação: associações e fundações. É certo ainda que não há qualquer diferenciação entre tos Humanos (FENDH).
organizações constituídas sob a forma de associações e fundações de outras com nature-
zas absolutamente distintas como os estados e municípios.
De acordo com a pesquisa sobre Fundações e Associações Privadas Sem Fins Lu-
crativos no Brasil (FASFIL)1, realizada pela ABONG, IBGE, IPEA e GIFE, o Universo das
organizações sem fins lucrativos alcança 338 mil organizações, de formas, objetivos e
características diversas.
Não bastasse a legislação não estabelecer diferenciação entre as organizações es-
sencialmente diversas, há ainda um verdadeiro arcabouço jurídico no que se refere à
regulamentação dessas. As relações entre Estado e Sociedade vêm sendo pautadas por
incompreensões especialmente no que se refere ao acesso aos recursos públicos, instru-
mentalizando, ou oportunizando a instrumentalização do trabalho das organizações.
Na tentativa de estabelecer uma mudança neste arcabouço jurídico a Abong vem
trabalhando na defesa de uma mudança que avance no fortalecimento da sociedade civil
em uma perspectiva de ampliação de direitos e do controle social das políticas públicas.
66
Internamente, esse processo foi impulsionado pela criação, em 2001, do Programa
de Desenvolvimento Institucional e pelo Programa de Mobilização de Recursos da Oxfam
GB2, que possibilitou a realização de diversas oficinas e seminários sobre o tema nas
regionais da Abong, envolvendo inúmeras ONGs em todo Brasil, estimulando diversas
publicações e artigos sobre o ambiente legal em que as ONGs estão inseridas.
A Abong publicou, no período entre 2001 e 2005, a série Manual de Fundos Públi-
cos , trazendo informações sobre programas, fundos e políticas públicas, gerando dados
3
68
A Abong, além de monitorar e acompanhar todo o andamento da CPI, participou
da sessão realizada pela comissão em 25 de outubro de 2007, representada pela Direto-
ra Executiva Tatiana Dahmer. A participação se deu na qualidade de informante e não de
depoente. A exposição, questionamentos e debate foram sobre o conceito e amplitude do
campo das organizações não governamentais, suas formas de financiamento e acesso a
recursos públicos, especialmente aos recursos públicos federais.
Em 13 de novembro de 2007 o advogado Alexandre Ciconello, na condição de
especialistas no tema Organizações Não Governamentais também participou de sessão
meramente informativa. Alexandre foi coordenador do escritório de Brasília da Abong
desde a sua criação até junho de 2006. O prazo final previsto para o encerramento da
comissão era 21 de fevereiro de 2010.
70
VIII.
Promoção do direito à igualdade étnico-racial e combate às discriminações;
IX. Promoção e defesa de direitos relativos à igualdade de gênero;
X. Participação política cidadã em esferas públicas institucionais;
XI. Desenvolvimento econômico e social e combate às desigualdades;
XII. Experimentação de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alter-
nativos de produção, comércio, emprego e crédito;
XIII. Defesa e promoção de direitos estabelecidos e construção de novos
direitos, inclusive os coletivos, difusos e emergentes;
XIV. Promoção da ética, da paz, da cidadania, da democracia e de outros
valores universais;
XV. Estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produ-
ção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos
e atividades de formação que digam respeito às temáticas mencionadas
neste artigo;
XVI. Assistência e orientação jurídica gratuita;
XVII. Promoção e defesa de direitos de pessoas com deficiência.
Segundo a proposta, o recurso público repassado por meio do Termo de Financia-
mento Público Direto deverá custear todas as despesas que guardem relação com o projeto
apresentado, inclusive equipamentos permanentes, estrutura fixa e despesas trabalhistas,
que atualmente não podem ser custeados com esse recurso.
O repasse deverá ser feito em até 60 dias da assinatura do Termo de Financiamen-
to Público Direto, evitando que o dinheiro não chegue a tempo de executar o projeto e
não será permitida a exigência de contrapartida financeira, que atualmente é exigida para
que seja viável o repasse de recurso.
Por fim, e com o objetivo de não haver divergências na interpretação da nova norma
entre os ministérios, a proposta estabelece o Ministério do Planejamento como responsável
pela uniformização de procedimentos ou regulamentação necessária.
Firmado o Termo de Financiamento Público Direto, repassado o recurso e realiza-
As estratégias:
De proposta em mãos, o desafio a ser enfrentado agora pela Abong e demais or-
ganizações da sociedade é aprofundar o debate, incentivar a participação na tentativa de
colocar o projeto6 em discussão no Congresso Nacional
Neste sentido, as articulações com parlamentares afetos ao tema e a apropriação
dos termos da proposta pelas organizações e sociedade é de suma importância para que
possamos avançar no debate em busca de uma nova regulamentação para o acesso a
recursos públicos por parte das Organizações Não Governamentais.
Independentemente da estratégia que for traçada, o envolvimento dos regionais e
associadas da Abong, bem como de outras organizações, será de suma importância para
que tenhamos força política no debate e alcancemos a aprovação da proposta.
Para isso a mobilização nas bases eleitorais dos/as parlamentares é fundamental
para influenciar nos Estados de origem os/as parlamentares integrantes da Comissão Te-
mática em que a proposta estiver sendo debatida.
Difundir o debate e possibilitar a apropriação desta discussão nas organizações é o
desafio atual e a partir dele influenciar o nosso estado para alcançar uma legislação que
reconheça a diversidade dentre as organizações sem fins lucrativos, bem como a possibi-
6 Ver Proposta de lidade de acesso a recursos públicos de forma simples e transparente, estabelecendo uma
Marco Legal da Abong – nova relação entre Estado e Sociedade Civil organizada.
ANEXO 1 desta publicação
72
segunda resposta
A Abong monitora todos esses processos pela assessoria jurídica em Brasília, que Acreditamos que o
maior desafio é ajustar-se
poderá orientar e prestar mais informações por meio dos contatos disponíveis em sua a esta nova realidade de
pagina eletrônica www.abong.org.br. mobilização de recursos,
bem como a esta relação
governo/sociedade e, ain-
da, a identificação e con-
quista de novos parceiros
internacionais. Estamos
apostando em vários ca-
minhos. Primeiramente,
uma mudança interna
quanto à compreensão
de mobilização de recur-
sos externos e também
quanto à mobilização de
recursos internos, espe-
cialmente a partir da va-
lorização do que se tem.
Acreditamos que a mobi-
lização é algo que deve
estar inserido em toda a
equipe, com envolvimento
tanto na identificação de
fontes de financiamento,
quanto na elaboração de
propostas, nos processos
de comunicação e no zelo
pelo patrimônio institu-
cional. Um outro caminho
que se deve seguir é a or-
ganização entender e se
apropriar dos diversos ins-
trumentos de gestão dos
contratos/convênios com
recursos públicos.
Acreditamos que,
para o futuro, é impor-
tante saber lidar com a
burocracia em torno dos
recursos públicos; ter uma
equipe ciente da necessi-
Reginaldo Alves
Coordenação do
Programa de Des. Regional e
Políticas Pub. do CAATINGA
www.caatinga.org.br
Vivianne Naigeborin
Negócios sociais: como aproximar distâncias
Especialista em negócios
entre setores. sociais e assessora de
estratégias e projetos para
diversas organizações da
Vivemos hoje em uma sociedade cada vez mais integrada e interconectada. Apesar sociedade civil
2 Aqui é importante Esta nova tendência surge simultaneamente entre diferentes atores da sociedade:
destacar que os negócios
a. Empreendedores e lideranças sociais que buscam mais autonomia financeira,
sociais devem educar para o
consumo sustentável e não novas formas de expandir suas ações e/ou novos modelos para intervir no
devem incentivar o endivida- mercado tradicional;
mento para o consumo.
b. Empresas e empreendedores de negócios que buscam modelos que lhes per-
3 Outras nomencla-
turas encontradas são: Sector mitam agregar benefício social ou ambiental, oferecendo produtos e serviços a
2.5, For-benefit organizations, uma população ainda não atendida pelo mercado;
BOP (Bottom of the Pyramid)
c. Fundações, órgãos multilaterais e universidades que fomentam o debate sobre
Enterprises, Social-Business
Ventures, etc. o tema, por meio da produção de conhecimento, pesquisa de casos e inves-
4 É importante enfa- timentos em modelos piloto. Exemplos: Artemisia, Fundação Avina, Banco
tizar que a atividade principal
Interamericano de Desenvolvimento (BID), Programa das Nações Unidas para
(core business) deve ter como
foco gerar impacto social o Desenvolvimento, etc.
positivo. Este é o principal
diferencial entre o negócio
social e um negócio social- Os novos modelos de negócio ganham força especialmente entre a nova geração.
mente responsável. São muitos os exemplos de negócios sociais liderados por jovens empreendedores, que,
5 Fonte: Artemisia –
Modelos de Negócios Sociais insatisfeitos com as limitações dos modelos tradicionais, criam modelos híbridos que inte-
– www.artemisia.org.br gram a geração de lucro com benefício social, rompendo as tradicionais fronteiras entre
6 Para mais informa- os diferentes setores.
ções, ler a matéria comple-
ta; “Tendências: Negócios Uma reportagem recente da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios6 apre-
Sociais – Eles têm menos de
senta sete empreendedores de negócios sociais, todos com menos de 30 anos, compro-
30 anos e estão mudando o
mundo” – Novembro 2009 / vando a força desse fenômeno na nova geração e a origem de sua motivação.
Ed. Globo.
7 Para mais informa-
Um deles é Tiago Dalvi, 23 anos, fundador da Solidarium7, empresa paranaense de
ções: www.solidarium.com.br comércio justo de artigos de decoração e moda, que diz: “Desde os tempos do curso de
76
administração, eu planejava abrir meu próprio negócio. Mas não qualquer negócio. (...).
Buscava algo com impacto social. Desse sonho, surgiu, em 2007, a Solidarium. Nossos
produtos, de bolsas a portas-caneta, são produzidos por estúdios de design e confeccio-
nados por 270 produtores de baixa renda. A maior parte são mulheres organizadas em
associações cooperativas ou grupos de trabalho. Elas recebem até 3,5 vezes mais do que
ganhariam se trabalhassem sozinhas. (...) Estamos prevendo um faturamento de cerca de
R$500 mil para 2010.”
Outro depoimento bastante ilustrativo é o de Omar Haddad, 25 anos, criador do
Sementes da Paz, cooperativa paulista de produtos orgânicos: “Éramos cinco estudantes
de Ciências Sociais e Geografia da USP e tivemos a ideia de inverter a lógica tradicional
do comércio. Em vez de produzir primeiro para vender depois, colocamos no mercado
nossos produtos, só depois de criar a demanda. Reunimos 150 famílias paulistanas que
encomendam frutas e hortaliças orgânicas. Com esse sistema, pequenos agricultores po-
dem planejar o plantio e aumentar seu rendimento em até 100%.”
Os negócios sociais podem ter diferentes estratégias para alcançar impacto social positivo:
1. Promover inclusão social, por meio da oferta de oportunidades de trabalho
para melhorar a renda de pessoas mais pobres - incluídas aqui também pes-
soas com deficiência, de populações marginalizadas ou de comunidades
alternativas.
2. Oferecer produtos e serviços - de qualidade e a preços acessíveis - que direta- 8 Neste caso, os
produtos e serviços contribuem
mente melhoram a qualidade de vida das pessoas mais pobres: para o bem-estar das pessoas
2.1. porque atendem às suas necessidades básicas - habitação, alimentação, de formas diversas: permitem
saúde, água potável, saneamento, energia. acesso à informação (compu-
2.2. ou porque abrem oportunidades de melhoria de sua situação socio- tadores, celulares), reduzem
a vulnerabilidade (seguros de
econômica8 – telefones celulares, computadores, serviços financeiros, jurídicos, vida, serviços jurídicos fundi-
seguros, etc. ários), aumentam a eficiência
3. Oferecer produtos e serviços que melhoram a produtividade dos mais pobres, no uso do tempo e dinheiro
contribuindo indiretamente para o aumento de suas rendas – acesso a crédito (serviços bancários à distância,
serviços de poupança de fácil
produtivo, venda de tecnologias e equipamentos de baixo custo, etc. utilização e baixo custo), etc.
78
didos. Sua visão é converter-se em um modelo exemplar de negócio inclusivo para que
outras indústrias possam criar unidades de negócio, operadas por uma maioria de pesso-
as portadoras de deficiência10.
No que se refere à venda de produtos e serviços que melhoram a qualidade de vida
das pessoas (item 2), um exemplo interessante de negócio social é a ASEMBIS, rede de 8
clínicas de serviços e produtos médicos de baixo custo, atendimento ágil e alta qualidade,
criada há 18 anos pela empreendedora Rebeca Villalobos11, na Costa Rica. Os serviços
médicos oferecidos incluem consultas, exames de diagnóstico por imagens e cirurgias
sofisticadas nas áreas de oftalmologia, otorrinolaringologia e odontologia, entre outros.
Além disso, vende óculos, lentes de contato e aparelhos auditivos a preços até 60% mais
baixos que os do mercado tradicional.
Outro diferencial importante são as campanhas subsidiadas de atendimento a pes-
soas em situação de vulnerabilidade em zonas rurais marginalizadas, centros penitenciá-
rios, casas de idosos e clínicas públicas. Além disso, a ASEMBIS é a única instituição do
país que, mediante convênio com o Ministério de Educação, realiza prevenção e atendi-
mento em escolas da Costa Rica.
Com 170 funcionários e um orçamento anual de mais de seis milhões de dólares,
a instituição dependeu de doações somente nos três primeiros anos de existência. Desde
então, é uma instituição que se mantém com seus próprios recursos e que, hoje, atende,
em média, 360.000 pessoas por ano, mantendo a sua missão original de “ser uma em-
presa social de saúde que brinda serviços médicos a toda a população, através de centros
de atenção com alta tecnologia, preço justo, pessoal atencioso e qualificado.”
Por último, um exemplo de negócio social que, além de melhorar a qualidade de
vida de seus clientes, também contribui indiretamente para o aumento de suas rendas
(item 3) é o IDEAAS. Fundado em 1997 no Rio Grande do Sul, a instituição comercializa, 10 Para mais informa-
na forma de consórcio, placas de energia solar a custo acessível em comunidades rurais. ções: www.productosdeandar.
blogspot.com
O que chama a atenção neste modelo de negócio foi a lógica de precificação utili- 11 Para mais informa-
zada para permitir que pessoas de comunidades pobres pudessem adquirir a placa solar, ções: www.asembiscr.com
80
Outro tema interessante diz respeito ao potencial de crescimento do negócio social
e, consequentemente ao seu potencial de geração de impacto social e de lucro. Nos mo-
delos existentes, ela ocorre de duas formas diferentes: pela expansão do negócio a partir
de uma estrutura própria, ou pela replicação do modelo para outros parceiros, sócios ou
franqueados. A escolha tem muita relação com o perfil do empreendedor e sua capacida-
de/intenção de gerenciar um grande negócio versus seu desejo de consolidar o modelo e
transferi-lo para outros para, muitas vezes, iniciar um novo empreendimento. 16 Michael Chu é
professor da Harvard Business
Os resultados apresentados pela ASEMBIS nos seus 18 anos de existência de- School e sócio-fundador do
monstram que sua empreendedora optou por expandir o negócio, num modelo de ges- Ignia Fund, empresa de capi-
tal de risco de Monterrey, no
tão centralizada. México, que investe em pro-
Já a comercializadora El Arca tem como pressuposto a consolidação de seu modelo jetos rentáveis que atendam
a pessoas de baixa renda
em âmbito local e sua posterior replicação para outras regiões do país, por meio da iden- com necessidades básicas de
tificação e capacitação de outras organizações locais. Neste caso, a escala se dá, como moradia e serviços de saúde,
gosta de dizer seu empreendedor fundador Pablo Ordoñez, “pela soma de vários pequenos entre outras.
17 Para mais informa-
parceiros e não pelo crescimento de uma única instituição”. ções, recomenda-se a leitura
do artigo “A governança nos
Por último, é importante falar da governança nos negócios sociais. É sempre im-
negócios sociais” de Vivianne
portante lembrar que um negócio social não deve apenas servir à baixa renda, mas sim Naigeborin, que apresenta as
buscar trabalhar com ela para promover mudanças no mundo.17 conclusões de debate realiza-
do entre empreendedores de
O campo dos negócios sociais é fértil para o surgimento de novos modelos de negócios sociais da rede Arte-
governança, porque tem como pressuposto a criação de negócios que possam distribuir misia Brasil e Ashoka América
Latina em Outubro de 2009
poder entre mais – e diferentes – pessoas18. Ao mesmo tempo, o negócio social deve evitar -–http://tech.ashoka.org
criar estruturas organizacionais muito complexas que tornem a tomada de decisões lenta 18 Inovações no mo-
e pouco eficiente. delo de governança podem
ocorrer: no acordo de quotis-
tas, no sistema de remunera-
ção e distribuição de lucros,
Principais desafios no campo dos Negócios Sociais nos processos de tomada
de decisão, na relação com
Por tratar-se de um campo novo, são muitas as barreiras e desafios a serem supera- clientes e stakeholders, nas
dos. Entre os principais iremos destacar dois: políticas de transparência, etc.
82
Contudo, a criação destes novos mecanismos ainda requer uma mudança de cultu-
ra de ambos os lados: das instituições e dos financiadores. Hoje, ainda existem diferentes
compreensões e expectativas entre potenciais investidores e lideranças de negócios sociais
quanto a como valorar e calcular o retorno social e econômico do investimento oferecido
e o prazo adequado para que ele ocorra.
Por fim, é importante lembrar que o campo de negócios sociais está em construção,
o que significa que há poucas referências e, por isso mesmo, muito ainda a ser aprendido
e desenvolvido.
A consolidação dos negócios sociais emergentes, a incorporação de novos atores,
a criação de centros de estudos nas universidades e fora dela, certamente contribuirão
para o avanço da compreensão do significado deste novo modelo para o mundo e de sua
capacidade de contribuir para a solução dos graves desafios sociais e ambientais que a
sociedade já enfrenta.
88
Contribuições para o desenvolvimento da CESE acesso a recursos gover-
namentais no Brasil, per-
Foram e são pontos fortes para o desenvolvimento da CESE, desde a sua criação siste o desafio do marco
e ao longo dos seus 36 anos de existência: o fato de ter sido constituída por um grupo legal e, nesse campo, é
fundamental o reforço
de igrejas que se uniram ecumenicamente para afirmar a vida, com base no ideal de
ao processo iniciado pela
Direito, Justiça, Paz e Integridade da Criação; ter definido, desde o início, os princípios e Abong juntamente com
critérios norteadores de sua ação; ter contado com o apoio do CMI - Conselho Mundial alguns movimentos popu-
lares, pela elaboração e
de Igrejas e, por meio deste, ter-se articulado com o movimento ecumênico internacional;
aprovação de um projeto
ter proposto uma mudança na lógica da cooperação ecumênica internacional, sugerindo de lei que simplifique os
que passassem do apoio a grandes projetos localizados nas regiões Sul e Sudeste do Bra- trâmites de acesso e uti-
lização desses recursos.
sil, para pequenos projetos, que pudessem ser idealizados e implementados diretamente
pelos beneficiários, em todo o País, com prioridade para as regiões Norte e Nordeste; ter
implementado e mantido um fundo para pequenos projetos; ter criado mecanismos de
escuta e viabilizado o intercâmbio de experiências entre os grupos apoiados, mediante a
realização de consultas e encontros de agentes de projetos, o que lhe conferiu a capaci-
dade de convocação de diferentes para discussão de problemas comuns; ter colaborado
com as agências ecumênicas nas discussões de suas políticas para o Brasil, especialmente
no âmbito do Programa de Articulação – PAD; ter construído um PMA (planejamento,
monitoramento e avaliação) de Programa; ter construído um sistema integrado de banco
de dados, controle financeiro e contabilidade, garantindo mecanismos de registro, con-
trole e transparência na gestão dos recursos, além de ter contado, desde o princípio, com
auditorias externas.
90
ças e adolescentes, prevê que grupos de mobilização de recursos, em diferentes regiões país para sua responsa-
do País, animados pela CESE, organizarão atividades de mobilização de recursos para bilidade para com estes
problemas sociais? De-
beneficiar projetos de organizações populares de todo o Brasil. Os grupos mobilizadores fesa de direitos? Quais
de recursos são compostos por comunidades de igrejas, profissionais liberais, estudantes, novas metodologias de-
vem adotar as OSCs para
enfim, pessoas que comungam com a CESE os mesmos valores e princípios. A quantia
conquistar e conscienti-
mobilizada por um grupo será dobrada pela CESE, com o apoio da cooperação holande- zar novos apoios às suas
sa, e o total dos recursos será destinado a determinado projeto. causas? Em verdade, são
causas de todos os cida-
dãos brasileiros.. Mas es-
tes estão alheios a elas!
Aplicação de Fundos Eventuais - AFE
Além dos programas – PPP, PAE e PDP, a CESE tem uma modalidade de apoio a pro-
jetos, denominada AFE- Aplicação de Fundos Eventuais, que permite acolher solicitações
não previstas de agências para repasse a projetos por elas definidos, mas que necessitam
de um intermediador de recursos.
92
Assim, podemos dizer que desde 1996 a CESE tem dado passos para construção do hoje como apoio político
Plano de Mobilização de Recursos Nacionais. e não só como apoio fi-
nanceiro. É uma questão
de revisão de conceitos.
94
1. Riscos e oportunidades na mobilização de recursos governamentais e os processos de marco
de autarquias regulatório e articular
parcerias intersetoriais
Do ponto de vista legal a CESE está apta a administrar recursos governamentais. para que as OSCs pos-
sam continuar a exercer
Tem os registros, títulos e qualificações requeridos para esse fim. Quanto aos recursos
seu papel tão importan-
humanos, a CESE precisaria capacitar seu pessoal para a elaboração e a implementação te dentro da sociedade
de projetos. Precisaria, ainda, conhecer melhor os aspectos jurídicos envolvidos nessa brasileira.
modalidade de acesso a recursos, exigindo um profundo conhecimento da legislação
vigente (8666/93 IN 011/97, por exemplo) relacionada. Para tanto, é importante que a
CESE acompanhe de forma pró-ativa as atuais discussões relacionadas ao marco legal
das ONGs, promovidas pela Abong. No atual cenário, com a instalação da CPI das
ONGs e da crescente tentativa de criminalização do movimento popular, isso ganha uma
relevância ainda maior.
Como tem sido discutido no âmbito dos movimentos sociais e organizações não-
governamentais, a relação com governos para acesso a recursos envolve uma série de de-
safios. Desafios no que se refere ao papel sócio-político desses setores, o que exige uma
maior clareza sobre as funções do Estado e das políticas públicas, mas também na gestão
dos convênios com órgãos governamentais. Há um conjunto de exigências em relação
às organizações, sem que haja a obrigatoriedade no cumprimento dos prazos acordados
para repasse de recursos por parte dos governos. A análise das prestações de contas é
feita de maneira fragmentada, nos aspectos técnicos, financeiros e jurídicos. Além disso,
há uma centralidade na execução físico-financeira e nos aspectos legais, em detrimento
dos resultados alcançados.
É preciso ainda avaliar em que medida o acesso a recursos governamentais nas
modalidades vigentes implicará a necessidade de modificações não desejáveis nas atuais
estratégias da CESE: intermediação de recursos, atendimento prioritário à demanda es-
Luca Sinesi
pontânea do movimento popular, apoio a grupos informais e organizações ainda pouco
Diretor do Serviço
estruturadas, definição de prioridades de acordo com as exigências da conjuntura e agi-
Internacional (IS) no Brasil
lidade no apoio.
www.isbrasil.org.br
96
viáveis, socialmente justas, ambientalmente sustentáveis e de profundo respeito à diversi- que apóiem a proposta
dade e valores culturais. Nesse sentido, não há como desconsiderar o papel do Estado e da Carta do Recife. O
DED pode apoiar essas
das políticas públicas – estatais ou não, como condicionalidades essenciais para a con- discussões, principal-
secução de uma sociedade justa e fraterna. Caso contrário, como nos alerta Benoni Belli, mente junto às OSCs no
Norte do País, onde está
prevaleceriam “os interesses privados dos indivíduos, a mercê do livre jogo das forças de
atuando.
mercado, como princípios condutores da vida em comunidade”.2
Desde 2004, a CESE vem aprofundando o debate sobre RSE, tanto internamente
com sua equipe executiva, diretoria e delegados nas assembléias, quanto externamen-
te com algumas organizações parceiras próximas e representantes do setor empresarial.
Além disso, vem participando de eventos importantes sobre o tema promovidos pelos
movimentos sociais e organizações empresariais. A iniciativa mais ousada e consistente
foi realizada em fins de 2006 – O Desafio da Relação entre Movimentos Sociais e Setor
Empresarial, em parceria com o PAD (Processo de Articulação e Dialogo entre as Agências
Ecumênicas Européias e Entidades Parceiras no Brasil), com apoio da Fundação AVINA.
Pretendeu ampliar este debate para um maior número de movimentos sociais e represen-
tações do setor empresarial no Brasil e aprofundar a visão sobre limites e possibilidades da
RSE, que apontem para a construção de critérios e referências para a atuação conjunta, a
serem legitimados por ambos os lados.
Heike Friedhoff
Ao considerar a possibilidade de acessar recursos de empresas, a CESE deve levar
Coordenadora do
em conta que, do ponto de vista da sustentabilidade política, neste campo é ainda mais Programa Fortalecimento
necessário verificar se a parceria é condizente com a missão, os critérios e os princípios da Democracia - DED Brasil
defendidos pela CESE, discutindo caso a caso tais parcerias, os limites e suas implicações www.dedbrasil.org.br
ou riscos de deslegitimação social.
Entretanto, há um reconhecimento de que o comportamento empresarial, tanto na- 2 A RESPONSA-
BILIDADE EMPRESARIAL E
cional como internacional, revela mudanças que apontam para uma nova tendência. Nos O MERCADO DAS BOAS
últimos anos, pode-se constatar que várias empresas aumentaram suas doações para as INTENÇÕES, in Economia
comunidades e diversificam seus programas sociais, mostrando claramente que certas Política Internacional: Análise
Estratégica, n. 6 – jul./set.
áreas são mais atrativas para a “responsabilidade social”. Algumas empresas nacionais 2005, p. 69.
98
têm seus próprios projetos diaconais e contribuem com outras entidades.
Do ponto de vista da sustentabilidade política, este seria o mais relevante apoio para
a CESE, pela natureza de organismo ecumênico. Além disso, pesquisas indicam maior po-
tencial de doação em pessoas que freqüentam uma igreja ou outro culto religioso.
A partir de 2001, a CESE iniciou a execução da Campanha Primavera Para a Vida
com os objetivos gerais de estreitar e ampliar a articulação com as bases das Igrejas; divul-
gar, nacionalmente, a ação da CESE; captar recursos para as atividades da CESE no âmbito
nacional. Esta continua sendo a principal Campanha da CESE junto às bases das igrejas.
100
6. Lições aprendidas
1. Das muitas lições, a primeira, e talvez a mais óbvia, é que mobilizar recursos
é um trabalho caro. É necessário investir muito e ter paciência para esperar
resultados que tardam a chegar;
2. É imprescindível que o conjunto dos dirigentes e funcionários da instituição esteja
convencido da necessidade e disposto a trilhar o duro caminho da construção
de um programa de mobilização de recursos, pois este trabalho só pode ser
bem-sucedido se for bem aceito dentro da instituição;
3. É preciso estar claro que a marca da organização que vai mobilizar deve ser
conhecida e bem reconhecida por qualquer fonte financiadora;
metade dos municípios do Estado (281 de um total de 417) e apresenta baixos indicado-
res sociais. Desse conjunto, aproximadamente 40 municípios estão em situação crítica,
considerando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e o Índice de
Desenvolvimento Infantil (IDI).
Dentro dessa área geográfica, no decorrer da sua história de 42 anos, o MOC fo-
cou sua atuação na Região Sisaleira (compreendida pelos Territórios Rurais do Sisal, com
20 municípios) e na Bacia do Jacuípe (com 13 municípios), compreendidas entre as áreas
mais pobres do Brasil. Nestes territórios, mais da metade das pessoas residem na zona ru-
ral, e dependem em grande escala das atividades de exploração do sisal e das pedreiras,
além da pecuária extensiva e da agricultura familiar. A renda média per capita não chega
a 25% do salário mínimo2.
1 Artigo elaborado
O território está sujeito a longos períodos de seca, agravando os problemas sociais para o Seminário “Susten-
tabilidade e Mobilização de
e econômicos. Estes problemas são ainda aprofundados pela falta de acesso da popula- Recursos para os OSCs. Uma
ção aos serviços básicos como saúde, educação e a inexistência de políticas adequadas à Visão Político-Estratégica
realidade do Semiárido. Diante dessas dificuldades, os territórios se mobilizaram em torno para o Desenvolvimento
do Nordeste”, de 30/09 a
de uma nova proposta de desenvolvimento sustentável em bases territoriais e com forte 02/10/2009.
participação dos movimentos sociais na construção, implantação e controle das políticas 2 Em 2009, o salário
públicas. mínimo era de R$ 510,00.
104
nona resposta
logicamente sustentável da sociedade humana, através de capacitação, assessoria edu- Somos uma funda-
cativa, incentivo e apoio a projetos referenciais, buscando o fortalecimento da cidadania, ção comprometida com
contribuições concretas
a melhoria da qualidade de vida e a erradicação da exclusão. para o desenvolvimento
sustentável da América
O MOC atua, hoje, em toda a região Nordeste do Brasil e mais especificadamente Latina e, portanto, diante
no estado da Bahia, com maior ênfase no Semiárido. Para o MOC, não interessa fazer, deste cenário, queremos
mas apoiar os grupos para que eles efetivamente possam fazer, construindo sua própria contribuir para atenuar
o impacto negativo da
história e autonomia. Isso implica em assessorar, capacitar e apoiar – elaborar materiais, perda destes investimen-
estar presente, discutir, refletir, criticar e ser criticado, propor – mas nunca substituir a ação tos, em especial aqueles
dos próprios grupos. A proposta pedagógica do MOC realiza-se, principalmente, através dirigidos para fortalecer
e garantir a autonomia
de seis programas inter-relacionados: crescente das organiza-
• O Programa da Água e Segurança Alimentar se insere na Convivência com ções da sociedade ci-
vil organizada. Soluções
o Semiárido na sua parte mais sensível e característica, ou seja, a escassez e criativas que possam ser
a insegurança hídrica e alimentar. Água para beber e cozinhar e água para desenhadas e implemen-
produzir são elementos básicos cuidados pelo Programa a fim de garantir a tadas no Brasil para supe-
rar este desafio podem,
convivência das pessoas com o clima da região, com qualidade de vida. Val- se bem sucedidas, servir
endo ressaltar as estratégias de políticas públicas que valorizem este ambiente de referência para a cria-
e fortaleçam as entidades aqui presentes e que trabalham por alternativas de ção de outros mecanis-
mos semelhantes, em ou-
convivência com o Semiárido, assim como o fortalecimento das temáticas que tros países do continente
envolvem especialmente a dimensão de gênero. Este programa mantém uma latinoamericano.
relação especial com a ASA – Articulação no Semiárido Brasileiro -, sendo o
MOC membro da coordenação regional da ASA e entidade regional respon-
sável pela execução e coordenação do Programa 1 Milhão de Cisternas.
• O Programa de Comunicação do MOC atua em três áreas estratégicas: a)
a assessoria e qualificação da imprensa na cobertura de temas relacionados
ao desenvolvimento sustentável do Semiárido, incluindo-se aí a comunicação
Neylar Vilar Lins
institucional da entidade; b) o fortalecimento da comunicação comunitária
nos Territórios Rurais do Sisal e Bacia do Jacuípe através do fortalecimento das Representante Brasil da
Fundação Avina
rádios comunitárias e de jovens comunicadores; e c) a Educomunicação que por
um lado visa possibilitar e qualificar a participação de crianças e adolescentes www.avina.net
106
Bahia) e as APAEBS (Associações dos Pequenos Agricultores dos Municípios de
Valente, Araci, Serrinha, Ichu e Feira de Santana).
• O Programa de Gênero é responsável pela criação e assessoria, na região,
de um Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais. O programa atua em
vinte municípios e há aproximadamente 800 mulheres neste processo, com
destaque para a Rede Feminina de Produtoras.
Há ainda o Projeto Especial de Juventude que busca organizar os jovens na perspectiva
da auto-representação e de busca de políticas especificas para a juventude.
108
ção internamente, através da redução de custos institucionais e operacionais o que, no
entendimento do MOC, também configura uma forma de captação de recursos. Nesse
campo o MOC pretendia, principalmente, ampliar a transparência da gestão administrati-
vo-financeira e a co-responsabilidade dos funcionários na gestão da entidade, na medida
em que se tornassem mais claros e concretos os custos que cada programa tinham para
se operacionalizar.
110
Apesar de ter dado o pontapé inicial nesse evento, todo o trabalho de estruturação
da campanha ainda levou quase dois anos até se consolidar. Foram produzidos materiais
publicitários, um site da campanha e investiu-se na sensibilização inicial da própria equipe
do MOC e de alguns espaços de educação formal em Feira de Santana.
A adesão à proposta da rede de doadores “Amigos do MOC” somente ganhou for-
ça em 2009, quando se partiu para a mobilização maciça de doadores entre os próprios
funcionários e colaboradores do MOC. Isto gerou uma massa crítica e um comprometi-
mento suficiente para levar a campanha a outros públicos. Atualmente, há cerca de 100
doadores cadastrados na rede, com doações que variam de 10 a 150 reais mensais, mas
também doadores que preferem doar semestral ou anualmente.
Adicionalmente se contatou a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Co-
elba), para a possibilidade de uma campanha de pequenas doações a serem debitadas
nas contas de energia elétrica das pessoas que concordarem com esta modalidade de
doação. Avalia-se que esta estrada poderá render um resultado razoável, uma vez que
pode atingir todos os públicos e até o próprio público do MOC pode ser atingido.
Previsto para ter inicio em janeiro de 2010, o processo de captação com a Coelba
ainda não começou, dado que a empresa está em fase de implementação de um software
de controle de contas, cuja fase final se prevê para o final de abril.
112
professores, água, produção de material didático.
• Na mesma perspectiva deu-se o apoio da empresa Pfizer, que há seis anos
apóia o trabalho de fortalecimento da agricultura familiar do MOC, enfatizan-
do-se geração de renda com caprinocultura e quintais produtivos para famílias
do programa de erradicação do trabalho infantil. O conhecimento desta em-
presa nos veio pelo UNICEF.
• Atualmente temos projeto com o ICEP, fundação austríaca que atua com recur-
sos de empresas austríacas e suíças e que nos apóiam no campo da educação
contextualizada.
• Tivemos e de quando em vez ainda temos pequenos apoios pontuais em proc-
essos de construção de cisternas.
• Em se tratando de conseguir recursos com chamadas publicitárias destacamos
a Petrobrás, com a qual já ganhamos duas chamadas nacionais e, tempos
atrás, o concurso Itaú-Unicef.
• Ao mesmo tempo, trabalhamos com recursos da FEBRABAN, captados não
diretamente pelo MOC, mas pela ASA.
Essas novas formas de relacionamento, tanto com o poder público como com o
setor empresarial na perspectiva da mobilização de recursos, trouxe uma série de desafios
à instituição. O primeiro era a questão de manter a autonomia do MOC, garantindo que
parcerias não signifiquem abdicar dos princípios básicos e essenciais da instituição. Esta
não tem sido uma negociação fácil e pode implicar em alguns momentos em negar-se a
continuar a parceria. Tempos atrás renunciamos a uma proposta de uma fundação inter-
nacional, porque queria envolver atividades político partidárias nas ações, com o que nós
não concordávamos.
Outra questão chave é que o MOC adotou como princípio que o apoio dado pelas
empresas nunca será para pessoas de forma individualizada, mas ao processo com um
todo, sempre incluindo elementos de formação, capacitação e organização das comuni-
dades atendidas. Exemplo disso é a construção de cisternas, quando houve parceiros que
114
d. Ter claro como se constroem processos de publicidade e de visibilidade do
apoio da empresa ao projeto.
Quanto aos resultados políticos positivos das investidas do MOC na diversifica-
ção das fontes de recursos destacamos os apoios significativos aos nossos trabalhos,
numa perspectiva estratégica de sua construção; temos apoios de empresas brasileiras,
austríacas, suíças. E conseguimos que este processo se encaixasse muito bem em nosso
planejamento estratégico. Com algumas empresas estamos passando de apoios pontuais
de um ano a apoios processuais de três anos, com elementos inclusive de apoio estrutural
ao MOC.
Lições aprendidas
Entre as lições apreendidas pelo MOC na sua prática de mobilização de recursos
podemos destacar:
a. Os recursos captados das empresas e suas fundações para uma instituição
como o MOC guardam sempre uma dimensão de ambigüidade. Nosso es-
forço vai no sentido de superar estas ambigüidades pela inserção das proposta
e projetos numa perspectiva mais ampla e no planejamento da instituição.
b. As negociações não podem trabalhar em cima de subterfúgios e suposições.
Tudo deve ser muito claro e revestido de transparência. Suposições quase sem-
pre geram problemas futuros.
c. Experimentamos a necessidade de adequar nossa realidade e nosso planeja-
mento a uma linguagem mais adequada às empresas, sem nos descaracterizar,
além de elaborar relatórios em outras dimensões, atendendo às necessidades
de divulgação das ações e resultados por parte das empresas. Também, fez-se
necessário um outro estilo de gerenciamento de recursos.
d. A importância de um relacionamento com clareza com as comunidades trabal-
hadas e “beneficiadas”.
116
José Aldo dos Santos
Articulação no semiárido (ASA): avanços e desafios da
Coordenador de Articulação
relação com o setor privado e com o setor público 1. Política do Centro Sabiá /
Coordenação Executiva da
ASA-Brasil
Nosso trabalho no Semiárido
Não é nuvem passageira.
A água da chuva fica guardada por meses
118
Nova visão do Semiárido
A ASA é uma rede social, fundada em 1999. Vale a pena refletir que naquele
momento tínhamos uma releitura da Declaração do Semiárido expressando qual era o
Semiárido em que as organizações acreditavam para o processo de transformação e mu-
dança socioambiental da região. Inicialmente, a grande discussão sobre a concepção de
um Semiárido era a da necessidade de combate à seca, com as grandes obras, protago-
nizado pelo DNOCS, Departamento Nacional de Obras de Combate à Seca - este era o
símbolo da lógica de pensar o Semiárido. Por outro lado, as organizações da sociedade
civil vinham construindo a idéia de uma visão de Semiárido que assumisse uma percepção
de convivência e não de combate às condições socioambientais da região.
Para fazer jus a essa construção de uma concepção de convivência com o Semiá-
rido é importante destacar de que fonte se bebeu: das experiências desenvolvidas pelos
agricultores familiares da região, que são assessoradas pelo conjunto de organizações
que já vinham trabalhando com essas famílias agricultoras, tendo como base uma polí-
tica de estocagem de água, de semente, de alimento e de forragem. É a idéia de trazer
a dimensão da água como um aspecto de uma necessidade e um direito básico a ser
trabalhado, como segurança alimentar nas políticas públicas, sendo essas experiências
fundamentais para a conjunção de debates na articulação. As organizações locais já
faziam construção de cisternas, a cooperação internacional já apoiava a construção de
cisternas como referencial de planejamento, mas não como política. E as organizações
individualmente não tinham força política para transformar a construção de cisternas num
programa de políticas públicas.
Tal conjunção levou à construção do programa Um Milhão de Cisternas, que foi
estruturado à luz dessa caminhada das famílias agricultoras, das organizações e parceiros
apoiadores. É importante destacar o estudo realizado pelos pesquisadores Philippe Bonnal
e Karina Kato, do CPDA/UFRJ, que, a partir da Análise Comparativa das Políticas Públicas
de Desenvolvimento Territorial, classificou o P1MC como uma das políticas construídas a
partir do processo social que foi assumida como política pública e não perdeu as carac-
terísticas de autonomia e independência da sua execução e gestão.
120
árida, especialmente crianças, mulheres e idosos;
• Fortalecer as organizações da sociedade civil envolvidas na execução do
Programa, visando garantir as condições necessárias ao desempenho eficaz e
eficiente do P1MC;
• Implementar um processo de formação que considere a educação para a con-
vivência com o Semiárido e a participação nas políticas públicas;
• Difundir, no conjunto da sociedade brasileira, uma correta compreensão do
Semiárido brasileiro.
122
internacional, foi o que consideramos uma grande conquista da ASA. Fazer o debate por
dentro e as entidades terem a clareza de que nós não iríamos perder a autonomia da
mobilização social, a autonomia da construção, a autonomia das famílias não foi fácil.
Mas, junto a essa história da FEBRABAN se constrói um outro processo naquele momen-
to também, o da própria negociação com o Governo Federal. E esses caminhos, hoje,
nos mostram um nível interessante de execução do programa, chegando aos seguintes
números: 287.134 cisternas construídas, 294.563 famílias mobilizadas, 285.179 famí-
lias capacitadas em GRH, 5.520 pedreiras/os, 4.560 construtoras/es de bomba, 1.073
municípios com o programa. O P1MC incentiva o controle social em diversos níveis: 769
reuniões e encontros nacionais, estaduais, microrregionais, municipais e comunitários fo-
ram realizados, com 30.397 pessoas que participaram desses momentos.
São dados de todo o processo que envolvem as capacitações de animadores, mul-
tiplicadores, famílias agricultoras e comissões municipais. É bom registrar que todos os
processos contemplaram o desenvolvimento dos Termos de Parceria (TP), seja com a FE-
BRABAN, seja com o MDS ou com qualquer outro parceiro.
No terceiro Termo de Parceira com a FEBRABAN, foi proposta uma avaliação de
impacto socioeconômica dos termos. Concordamos em fazer. Essa avaliação mostrou
uma nova dimensão na implementação do programa que foi revelada pela equipe de
avaliadores num café da manhã para empresários promovido pela FEBRABAN em São
Paulo, com os seguintes dados:
• Revela-se que ao facilitar o acesso à água de qualidade, o P1MC conseguiu
reduzir a incidência de doenças (verminoses 4,2% e asma 3,9%), houve au-
mento da freqüência escolar entre as crianças e jovens (7,5%) e uma maior
mobilização social por parte da comunidade. Os dados de educação quando
cruzados com dados da Pesquisa por amostra de domicílios (PNAD), na
prática, um ano a mais de estudo, representa um incremento de R$ 94,00 na
renda mensal ou de R$ 1.128,00 por ano. Em outras palavras, o P1MC está
colaborando também para a geração de renda a longo prazo.
124
com que as famílias colocaram uma nova visão do Semiárido, com a tranqüilidade dessa
construção. Quem vive e quem sente é quem constrói e tem mais condição de mostrar
do que apenas quem faz o processo de visualização da propaganda. A campanha, para
nossa surpresa, teve uma receptividade pública muito boa, na rede educativa de TV, nas
redes de TV comerciais. Também conseguimos mostrar isso nas TV da Câmara Federal e
do Senado.
Além disso, há outras duas dimensões intercomplementares de comunicação que
têm sido utilizadas:
a. De um lado, a comunicação para dentro, através de peças, panfletos, boletins,
cartilhas, textos, cartazes, documentários, programas de rádio;
b. De outro, a comunicação para fora, denunciando mazelas contra o Semiárido,
pautando os meios de comunicação social, projetando para a sociedade
brasileira a possibilidade de um Semiárido decente e os exemplos concretos do
que já existe.
126
esclarecida de que ela não faz uma captação de recurso com a ASA. Se não trabalharmos
bem essa dimensão, a entidade lá diz o seguinte: “não, meu projeto é com a ASA”. Mas
não é assim, o projeto não é com a ASA, o projeto é com a AP1MC, mas as regras são
de acordo com o financiador, é privado ou é público.
No campo do recurso público estamos numa conjuntura extremamente adversa sobre
o Marco Legal, que já foi posto pela Abong, e que Domingos Armani também aborda, ao
lado de tantos outros. Nós colocamos a questão desde o seguinte ângulo: o P1MC está pa-
rado por conta de um debate sobre os vários entendimentos distintos entre os departamentos
jurídicos dos Ministérios, mesmo que já tenhamos quase 300 mil cisternas construídas, com
mais de 1 Milhão e meio de pessoas atendidas com água de beber. Não existe coerência
na formatação de cada Termo de Parceria, a cada momento de negociação de um novo TP
surgem questões novas com mais engessamento para execução do programa.
Por outro lado, a ASA é cobrada porque em seis anos só construiu 300 mil cis-
ternas e se o projeto era de construção de Um Milhão em cinco anos? Frente a esse
contexto Jurídico-Político, afirmamos o seguinte: numa conta rápida, há um ano a me-
nos, porque o programa parou seis meses por duas vezes. Outra conta é que, a cada
nova negociação, o programa para dois, três ou quatro meses, quando soma, se tiver
muito, e com muito esforço, são três anos de execução do projeto, porque o processo
de descontinuidade dos embates jurídicos infelizmente tem sido permanente.
O que tem chamado atenção é como tem se conseguido manter a rede social viva
nessas paradas, que, de certa forma, são longas. Como o caso em outubro de 2007
quando, num esforço coletivo, fizemos uma mobilização em Feira de Santana com mais
de cinco mil pessoas. O que foi interessante dessa mobilização, não é só o número,
foi a forma como ela aconteceu. Por exemplo, Pernambuco levou dez ônibus, nenhuma
organização utilizou recurso próprio para viabilizar o evento. As famílias agricultoras, as
lideranças sindicais, as associações pagaram para estar presentes no ato, inclusive agri-
cultores e agricultoras que já tinham conquistado sua cisterna. Esta atitude coloca uma
clara percepção sobre as diversas formas que precisam ser valorizadas na construção
128
FEIRA DE IDEIAS
Ao longo do Seminário aconteceram momentos de debate e intercambio de ideias
sobre aspectos diversos na área de mobilização de recursos. As “feiras de ideias” – foram
dedicadas às iniciativas de participantes interessados em compartilhar vivências, propostas
e questionamentos em campos temáticos de:
130
necessita de melhoria e qualificação de ambos os setores. Observam também os participan-
tes desse grupo que ainda há a necessidade de que exista um elemento chave para uma
interlocução que favoreça o entendimento entre os setores.
Outra questão apresentada foi sobre a ausência de ações coordenadas entre as
organizações sociais. O grupo indica como diagnóstico a realização de muitas ações
isoladas entre as OSCs, o que enfraquece o setor.
Os participantes dessa “feira de ideias” afirmaram ainda, que a mobilização de
recursos deve ter foco na sustentabilidade, repensando inclusive o modelo de gestão atual
nas próprias OSCs. Caso contrário, em longo prazo, a discussão sobre mobilização não
será superada.
Indicam também que é preciso dar visibilidade aos trabalhos das Organizações
Sociais. O setor privado e a sociedade de modo geral precisam conhecer o trabalho das
OSCs. Essa necessidade implica também em pensar o sentido dessa visibilização, a forma
e os termos em que deve ser feita.
Outra questão destacada é sobre a visão mútua entre empresa e OSCs. É preciso
desconstruir a imagem e a relação de oposição entre ambas. É necessário enxergar es-
sas instituições como potenciais parceiras, assim como é preciso modificar a imagem de
algumas empresas em relação às organizações sociais, deixando claros os objetivos, a
missão e os resultados dessas organizações. Emerge aqui uma noção de que o diálogo
compreende uma via de mão dupla.
Noutro sentido, o grupo afirma que é preciso diversificar as possibilidades de mo-
bilização de recursos, buscando ações que tragam recursos de indivíduos, da sociedade,
de empresas, de projetos e incentivos governamentais, e inclusive não descartando a
possibilidade de obter apoio da cooperação internacional. O grupo indica que, embora
concordem que os recursos devam ser aplicados de uma forma diferente, não se deve
desconsiderar a possibilidade da cooperação internacional ainda vir a apoiar esses pro-
cessos. Seria um erro estratégico, segundo opinam os participantes, não considerar esse
tipo de recursos.
132
vimento e de toda ação da instituição. É preciso pensar o DI de uma forma permanente.
Nesse contexto, o grupo considera que é preciso realizar planejamentos estratégicos
de médio e longo prazo, mas em diálogo constante com as variações de conjuntura: idéia
de avaliação permanente e recondução de estratégias (ou estratégias adaptáveis).
Outro ponto abordado é sobre a construção e fidelidade aos aspectos legais da or-
ganização como estratégia de transparência e legitimidade diante de apoiadores e finan-
ciadores, bem como elemento facilitador ao acesso a recursos. Segundo o grupo, é pre-
ciso manter atualizadas documentações e certificações (título de utilidade pública federal,
municipal, inscrição em conselhos, etc), que habilitam a instituição a concorrer a editais e
a ser reconhecida pela sua relevância para a sociedade. Esse aspecto da documentação
e das questões legais leva a mais visibilidade, dá mais legitimidade diante da opinião pú-
blica, diante de fontes apoiadoras, sejam elas dos setores empresariais, governamentais
ou de instituições internacionais.
Como resultado da discussão entre os participantes deste grupo, é identificada tam-
bém a carência de se investir permanentemente no fortalecimento da identidade institucio-
nal interna e externamente, através da coerência nas práticas e do foco na missão e nos
valores basilares da organização.
Há também a preocupação de se investir em processos de planejamento, monitoramen-
to, avaliação e sistematização da prática das OSCs, visando o desenvolvimento institucional.
Outra questão observada pelo grupo refere-se à elaboração e implementação de
planos de mobilização de recursos com diversificação de fontes, identificação e mapean-
do de potenciais parceiros e financiadores, e evitando a dependência de fontes únicas.
Segundo indica o grupo, é necessário encontrar um equilíbrio entre as formas de apoio
(não apenas financeiros, mas políticos e materiais, etc.) a fim de favorecer as articulações
e o estabelecimento de estratégias conjuntas, ter flexibilidade e rotatividade no campo da
gestão institucional. Inclusive, aproveitar o know-how das organizações para prestação de
serviços e geração de recursos.
134
Em outro ponto abordado, o grupo conclui que a disputa por recursos públicos é
e será intensa com os outros segmentos da sociedade. Mas há que estar articulado para
enfrentar o desafio no campo político para garantir direitos e acessar recursos públicos
(tanto os federais e estaduais como os municipais).
Foi feito um destaque para a capacidade das OSCs de atuarem de forma diferen-
ciada na utilização dos recursos públicos e obter resultados na ponta, direto na base so-
cial, em diversos casos mais efetivas que ações do próprio poder público. O grupo argu-
menta que a forma como as OSCs obtêm melhores resultados ao implementar ações de
interesse público se fundamenta numa lógica desenhada e executada junto ao cidadão,
numa perspectiva de garantia de direitos ao “mobilizar as pessoas, fazer discussão, fazer
capacitação, fazer formação, dar qualidade à política pública”.
O grupo reforçou a relevância de que se apóie a construção ou o aprimoramento de
um canal informativo e de comunicação sobre recursos públicos para as OSCs – seja a partir
do Portal MOBILIZAR (de Mobilização de Recursos da Aliança Interage) ou outro mecanismo
que possa favorecer a transparência das informações e facilitar o acesso aos recursos públicos
e outros fundos públicos ou privados. Propõe também a criação de um espaço virtual para
compartilhamento e sistematização das ideias, dos problemas e questões referentes ao acesso
e à gestão de recursos públicos pelas OSCs, como estratégia de fortalecimento do setor no
processo de negociação com o poder público. Isto é, um esforço de sistematizar discursos,
tornar argumentos mais consistentes e robustos, a partir do compartilhamento de dificuldades
e situações contraditórias.
Foi apontada também a necessidade de se desenvolver ações em várias frentes,
para além da estratégia política de constituir um marco legal, é estratégico também in-
fluenciar no Legislativo para ajustar outros mecanismos legais que permitam o acesso a
fundos público a OSCs.(eg – propor ou aplicar princípios orçamentários e realizar ajustes
ou mudanças na LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias).
Houve destaques também para a necessária articulação com diversas instâncias
públicas para elaboração de instrumentos orientadores e de controle interno para garantir
136
O grupo indica que o processo de comunicação e de fazer evidente a organização
deve ter foco nas causas que norteiam a própria atuação da OSC. Trabalhar ações comu-
nicativas, mas sempre em consonância com o discurso político da organização (compati-
bilizar forma e conteúdo), tendo sempre em mente a missão institucional.
Para os membros do grupo, a função da comunicação nas OSCs é fazer que o seu
discurso possa, através dos meios de comunicação, alcançar mais pessoas, especialmente
segmentos estratégicos, membros de organizações, potencial público-doador.
A comunicação deve estar a serviço das OSCs para que seu papel seja evidenciado
como instituições que fazem com que as políticas públicas aconteçam de fato, articulando
pessoas e organizações, pensando de maneira conjunta e, com isso, fortalecendo a rede.
O grupo considera que um grande desafio das OSCS é pensar a comunicação e a
mobilização como um processo de fortalecimento interno, primeiramente. É preciso pen-
sar a comunicação como um processo político de fortalecimento institucional, que parte
de dentro e repercute para fora.
Os participantes apontam como um desafio a definição e o alinhamento das pro-
postas das OSCs para área da comunicação como um todo. É preciso discutir e definir
que tipo de comunicação será defendida e afirmada pelo setor.
O grupo finaliza observando a necessidade de se perceber a comunicação em sua
dimensão política, não apenas de maneira instrumentalizada ou técnica, mas enquanto
instrumento para se alcançar o objetivo das OSCs, como um meio e não como um fim.
138
durante o evento, as organizações participantes. A Carta do Recife tem o sentido inicial
de ajudar aos participantes a internalizar esse debate nas suas organizações e promover
elementos de unidade em favor da causa da sustentabilidade das OSCs brasileiras.
O grupo considera que a Carta de Recife, não é apenas voltada para promover re-
flexão e ações por parte das agências internacionais, mas também para promover debate
e reflexão em organizações privadas, fundações, institutos que também tem um compro-
metimento nesse nível.
O QUÊ
As organizações abaixo-assinadas vêm publicamente reconhecer, valorizar a
trajetória e defender a sustentabilidade das Organizações da Sociedade Civil (OSCs)
que, nas últimas décadas, contribuíram significativamente para garantir conquistas sociais
no campo dos direitos, elevando o patamar de consciência cidadã e o grau de democracia
no Brasil.
O que move esta iniciativa é o fato de constatarmos o sério risco de enfraquecimento
do tecido social brasileiro, em parte agravado pela saída ou pela mudança de estratégia
(redução de recursos, mudança de foco geográfico, entre outras) das agências de
cooperação internacional atuantes no Brasil, as quais historicamente deram importante
apoio político, técnico e financeiro a essas organizações e movimentos sociais no país. 1 A proposição
da Carta do Recife foi um
dos acordos emanados do
PORQUÊ Seminário “Sustentabilidade
e Mobilização de Recursos
É de fundamental importância estar alerta para o agravamento desse risco em para as OSCs – Uma visão
decorrência dos seguintes fatores que destacamos a seguir: Político-Estratégica para o
Desenvolvimento do Nordes-
◊ Há redução de fontes externas de apoio a Organizações da Sociedade Civil bra- te”, realizado na cidade do
Recife, no período de 30 Set.
sileiras (OSCs), como efeito colateral dos avanços econômicos do País e do maior
a 02 Out. de 2009, pela
destaque e influência do Brasil no cenário internacional sobre desenvolvimento, Aliança Interage e Diálogo
economia e questões climáticas geopolíticas. da Cooperação Internacional
Nordeste, em parceria com
◊ Apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, ainda é muito elevada a desigual-
Oxfam GB, Fundação Konrad
dade social no Brasil, principalmente se observados indicadores por território. Adenauer e Universidade
Aqui, considerando o território para além da unidade de espaço, ou seja, interre- Católica de Pernambuco.
144
◊ É pouco reconhecido pela sociedade em geral, que conquistas de direitos e avan-
ços sociais são resultado das práticas e da incidência política das organizações
sociais frente aos governos2.
◊ O porte continental do País e o tamanho dos desafios sociais brasileiros exigem uma
sociedade civil fortalecida e com maior poder de voz e de controle social.
◊ As OSCs mais afetadas neste contexto são as das regiões Norte e Nordeste que
atuam com a perspectiva de direitos.
NOSSO COMPROMISSO
Cientes da gravidade do contexto e suas repercussões diretas e indiretas, as
organizações signatárias propõem:
• Iniciar uma Articulação Intersetorial (Agências, Institutos, fundações e outras
instituições de apoio, públicas e privadas)3 pelo Desenvolvimento das OSCs, visando
definir uma estratégia de apoio com os objetivos de:
2 Ex: Aprimora-
a. Promover o fortalecimento institucional das OSC, prioritariamente as que mento de políticas públicas,
criação de Conselhos seto-
tratam com defesa dos direitos;
riais, Estatuto da Criança e
b. Educar agentes nacionais, regionais e locais (públicos e privados), informando- do Adolescente, Código do
os e sensibilizando-os sobre as mudanças no cenário das OSCs com o intuito Consumidor, legislações de
proteção ambiental, meca-
de criar uma maior consciência/prática de apoio a estas organizações e suas
nismos participativos, novas
causas; formas de gestão, Bolsa
c. Promover e disseminar a relevância do tema em fóruns, seminários, debates Escola, Programa 1 milhão
de Cisternas, entre outras.
e outros espaços de participação cidadã e em diferentes esferas setoriais (ex:
3 Estabelecendo
Grupo de Institutos, Fundações e Empresas - GIFE, Esferas governamentais na Secretaria Executiva da
de influência em políticas de desenvolvimento nacional e regional, Encontros Aliança Interage a platafor-
ma de apoio à mobilização,
nacionais de organizações da sociedade civil – Associação Brasileira de ONGs
suporte operacional e es-
- Abong, etc.) tratégico a esta Articulação
d. Influenciar o setor empresarial (incluso seus institutos e fundações) para a Intersetorial.
146
SIGNATÁRIAS
148
• Coletivo Mulher Vida
• Congregação Holística da Paraíba - Escola Viva Olho do Tempo
• Eco Atitude - Ações Ambientais
• Em Cena Arte e Cidadania
• EQUIP - Escola de Formação Quilombo dos Palmares
• Escola Brasil
• EPC - Escola Pernambucana de Circo
• Escoteiros de Pernambuco
• ETAPAS - Equipe Técnica de Assessoria, Pesquisa e Ação Social
• FICAS
• Fundação Grupo Esquel Brasil
• GACC - Grupo de Apoio às Comunidades Carentes
• GDECOM - Grupo de Desenvolvimento Comunitário
• Grupo Retina
• GTP+ - Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo
• Instituto Ação Empresarial pela Cidadania - Pernambuco
• Instituto de Cidadania Empresarial - ICE/MA
• Instituto Ethos
• Instituto Fonte
• Instituto Papai
• Instituto Soma Brasil
• MIEIB - Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil
• MOC - Movimento de Organização Comunitária
• Obra Kolping do Brasil - Coordenação Nordeste
• Pia Sociedade de Pe Nicola Mazza
• Pólo Sindical dos/as Trabalhadores/as Rurais do Submédio - São Francisco PE/
BA
• Projeto Saúde e Alegria – CEAPS
• Rede Mulher e Democracia
• SERC - Serviço de Estimulação e reabilitação da criança
Justificativa
Historicamente, as relações entre o Estado brasileiro e as organizações sem fins
lucrativos, em suas diferentes instâncias, têm sido eivadas de incompreensões e relações
instrumentais de ambas as partes demonstrando incompreensões mútuas quanto aos pa-
péis político-sociais que tais organizações devem desempenhar e visões de mundo sobre
o alcance da ação estatal.
Parte dessa incompreensão é pautada pela histórica e pouco debatida relação de
financiamento público indireto entre Estado e sociedade civil, existente desde os tempos da
República Velha e regulamentado a partir da Constituição Federal de 1934.
As organizações sem fins lucrativos são entidades reguladas pelo direito privado e
ao se qualificarem como sem fins lucrativos, possuem natureza jurídica específica sob a
forma de associação ou fundação, o que as diferencia das entidades de cunho empresa-
rial, das organizações de classe, de sindicatos e outras. Regulamentadas desde o início do
século XX a partir da Constituição Federal de 1934, a qual pela primeira vez reconhece
imunidade tributária para estabeleci mentos particulares de educação, propiciando que
em 1935 seja instituído o título de utilidade pública federal, de caráter honorífico, reco-
152
de 1988. Contraditoriamente, após a aprovação da Constituição Federal de 1988, cujo
eixo central anunciado é a universalidade de direitos, construída através de políticas pú-
blicas em um Estado democratizado, dá-se início à diminuição das estruturas públicas e
seguimento à terceirização de funções públicas, a partir de parcerias com as chamadas
Organizações não governamentais. Em especial, no ano de 1997 foi implementada a
regulação de convênios, através da Instrução Normativa da Secretaria do Tesouro Nacio-
nal nº 1 (IN 1/97) para, em nome da descentralização político-administrativa, viabilizar
o repasse de recursos entre União, Estados e Prefeituras, sendo contempladas por essa
modalidade as organizações sem fins lucrativos que porventura implementem serviços
com recursos públicos, sem nenhum apoio ao custeio de sua estrutura e tratando com
similaridade a administração pública e entidades da sociedade civil.
O paradigma dessa natureza de relação é a construção do Programa Comunidade
Solidária e os resultados derivados das rodadas de interlocução entre o então governo de
Fernando Henrique Cardoso (FHC) e representantes da sociedade civil no ano de 1999.
Um dos principais produtos dessa era foi a regulamentação da qualificação de Termo de
Parceria (Lei 9790/99), que deveria se constituir em um novo marco regulatório para o
setor das chamadas ONGs, colocando-se como alternativa à qualificação de sem fins lu-
crativos. Porém, embora apresentasse inovações no que tange às definições do que seriam
organizações de finalidade pública, em função dos vetos do Presidente e do contexto de
reforma do Estado, limitou-se a ser um instrumento de parceria entre Estado e sociedade
civil para implementação de políticas públicas (Lei nº 9079), convivendo com outras re-
gulações. Em 2003, com a reforma do Código Civil, acresce-se às pessoas jurídicas de
associações e das fundações a de associação religiosa.
A relação entre organizações sem fins lucrativos e o Estado brasileiro, é regulamen-
tada por um amplo arcabouço jurídico, traduzido nas formas de financiamento público
indireto e de repasse direto de recursos. Em relação a esse último ponto, existem atual-
mente mais de 10 tipos de modalidades jurídicas. Não à toa, a mais utilizada tem sido a
de repasse de recursos via convênios, previstos a partir da Instrução Normativa de 1997
(IN nº 1/1997).
154
fundo controle e engessamento dos processos, dificultando e muitas vezes até impedindo
a ação ou continuidade de projetos de interesse público e social. Diante disso uma nova
legislação deverá estabelecer regras especificas para cada tipo de organização, para evi-
tar que esses problemas se mantenham.
Ainda sobre o acesso a recursos públicos deve-se ressaltar a dificuldade de orga-
nizações operarem com os mesmos, em virtude de não cobrirem pendências trabalhistas,
pagamento de salários de pessoal fixo das entidades, dentre outros custos inevitáveis para
a manutenção, sustentabilidade e continuidade do trabalho das organizações. É necessário
também garantir paridade nas condições de acesso a todas organizações, especialmente
àquelas organizações populares de pequeno porte.
Na realidade, pouco se avançou para a regulação de formas que assegurem o
financiamento público da esfera democrática, reconhecendo que a esfera pública é fun-
damental à democracia e não se limita aos governos que dela também fazem parte. Ade-
mais, recursos públicos oriundos de toda sociedade devem voltar-se ao financiamento e
fortalecimento de ações que espelhem a diversidade de interesses e direitos e não apenas
serem utilizados por governos, à revelia ou com frágil controle social.
Como um reflexo positivo do aprofundamento da democracia no Brasil, ressalta-
mos que entre as 338 mil associações e fundações sem fins lucrativos (FASFIL, IBGE/IPEA/
ABONG/GIFE) existentes há objetivos e perspectivas de atuação bastante distintos, às vezes
até opostos o que justifica por si só uma nova lei que reconheça essas diferenças. Empirica-
mente, não existe uma identidade comum entre: organizações comerciais, clubes de futebol,
hospitais e universidades privadas, fundações e institutos empresariais, clubes recreativos e
esportivos, organizações não-governamentais, organizações filantrópicas, creches, asilos,
abrigos, lojas maçônicas, centros de juventude, associações de interesse mútuo.
A partir do reconhecimento da importância e relevância do trabalho das ONGs
para o fortalecimento da democracia Por meio da ampliação da esfera pública e constru-
ção da cidadania em nosso país, deve-se definir melhor a natureza das organizações sem
fins lucrativos bem como sua diferença com relação às entidades privadas de mercado,
156
Por fim, faz-se necessário revogar regulamentações antigas sobre o tema, tal como
a Lei 91 de 1935, extinguindo o título de Utilidade Pública Federal, já que não faz sentido
a existência de dois “títulos” públicos conferidos pelo governo federal (Utilidade Pública
Federal e OSCIP) às associações e fundações, concedidos pelo mesmo órgão público
(Ministério da Justiça), seguindo lógicas, requisitos e critérios diferenciados. Além disso, o
título de utilidade pública não deveria ser um requisito para a concessão do Certificado de
Entidade Beneficente de Assistência Social e para o recebimento de doações incentivadas,
por isso é necessário ainda harmonizar legislações esparsas reguladoras de Cadastros e
qualificações tais como CNAS (Conselho nacional de Assistência Social) e CEBAS (Certifi-
cado de Entidade Beneficente de Assistência Social).
Diante dos argumentos expostos, sugere-se a aprovação do Projeto de Lei, nos
termos apresentados.
Capítulo I
Disposições gerais
Art. 1º - Fica criado o “Termo de Financiamento Público direto”, como mecanismo
de financiamento público (direto) de pessoas jurídicas de direito privado sem finalidade
lucrativa, sob a forma de associações ou fundações, por parte da União, instituindo novo
instrumento jurídico de relação entre Estado e sociedade civil, preservando relações alte-
ras e assegurando transparência e responsabilidade pública na consecução de projetos,
tendo por pressuposto o reconhecimento da relevância das atividades desenvolvidas por
estes entes para o fortalecimento dos direitos humanos e da democracia brasileira.
Art. 2º - Para fins desta Lei considera-se:
I – gestor: agente público responsável pela gestão do projeto de fortalecimento das
esferas públicas e de defesa de direitos, com poderes de controle e de fiscalização da
execução “termo de financiamento público direto”.
158
diante o qual o Poder Público selecionará através de edital público para organizações sem
fins lucrativos, a proposta que melhor atenda ao interesse público e à implementação dos
objetivos anunciados.
VII - Conselhos de políticas setoriais: instâncias públicas não-estatais de caráter mis-
to e representação paritária entre gestores, organizações sociais de usuários ou atuantes
na temática, voltados à co-gestão da política pública, previstos como mecanismos de con-
trole social público da descentralização político-administrativa anunciada na Constituição
Federal de 1988.
IX- Finalidade pública: ações e atividades desenvolvidas com recursos públicos, com
finalidades não limitadas aos limites da exigência de complementaridade em relação às
políticas governamentais, assegurando o desenvolvimento de ações voltadas ao fortaleci-
mento de direitos constitucionais e de novos direitos, mediante acesso a recursos públicos
por concurso de projetos, com vistas à defesa, garantia e aprofundamento dos direitos
humanos e aprimoramento de canais republicanos de participação e controle social em
diferentes temáticas, conforme previstos pela Constituição Federal de 1988.
Capítulo II
Da qualificação do objeto da lei
Art. 3º - Estão sujeitos ao regime dessa Lei as seguintes categorias e qualificações
de organizações:
I – Associações e fundações de direito privado sem finalidade lucrativa (OSFL), inclu-
sive as qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs);
II - Organizações Religiosas;
§ 1º - Não estão sujeitos ao regime desta Lei as seguintes entidades privadas sem
fins lucrativos, ainda que criadas sob forma de associação ou de fundação:
a. Organizações partidárias ou assemelhadas, inclusive suas fundações;
Capítulo III
Dos requisitos
Art. 4º - Para celebração de termo de financiamento público direto de organizações
sem fins lucrativos, será exigido da entidade comprovação de, no mínimo, dois anos de
existência e de funcionamento regular.
Art. 5º - O acesso a recursos públicos através do Termo de Financiamento Público
direto proposto por esta Lei somente será conferido às pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, que objeto social tenha como objetivos construir, promover e/ou for-
talecer direitos humanos constitucionais e ações para o aprofundamento da democracia
nas seguintes áreas / temáticas:
160
I. assistência social;
II. cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III. educação;
IV. saúde;
V. segurança alimentar e nutricional;
VI. direitos sexuais e reprodutivos;
VII. defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
VIII. promoção do direito à igualdade étnico-racial e combate às dis-
criminações;
IX. promoção e defesa de direitos relativos à igualdade de gênero;
X. participação política cidadã em esferas públicas institucionais;
XI. desenvolvimento econômico e social e combate às desigualdades;
XII. experimentação de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alterna-
tivos de produção, comércio, emprego e crédito;
XIII. defesa e promoção de direitos estabelecidos e construção de novos direi-
tos, inclusive os coletivos, difusos e emergentes;
XIV. promoção da ética, da paz, da cidadania, da democracia e de outros
valores universais;
XV. estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produ-
ção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos
e atividades de formação que digam respeito às temáticas mencionadas
neste artigo;
XVI. assistência e orientação jurídica gratuita;
Capítulo IV
Da Habilitação para elegibilidade do Termo de Financiamento Público Direto
162
Art. 7º - Cumpridos os requisitos dos artigos anteriores, a pessoa jurídica de direito
privado sem fins lucrativos, interessada em habilitar-se para participar de concurso de pro-
jetos apoiados através do Termo de Financiamento Público instituído por esta Lei, deverá
formular requerimento de acordo com edital público, em formulário destinado ao Minis-
tério Setorial Correspondente, instruído por cópia autenticada dos seguintes documentos:
I. Estatuto registrado em Cartório, comprovando, no mínimo, dois anos de
existência formal, em acordo com o Artigo 4º desta Lei.
II. Ata de eleição de sua atual diretoria.
III. Relatório anual de atividades, descrição de público beneficiado e objetivos
dos trabalhos desenvolvidos;
IV. Certidões negativas de débito e/ou pendências legais em relação à gestão
de recursos públicos
V. Balanço patrimonial e demonstrativo dos resultados financeiros dos últi-
mos dois exercícios.
VI. Declaração de isenção do Imposto de Renda dos últimos dois exercícios.
VII. Inscrição no Cadastro de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda (CNPJ).
Capítulo V
Da participação no processo seletivo para acesso à recursos via Termo de Financia-
mento Público Direto
Art.8º - O acesso ao Termo de Financiamento Público Direto se realizará por meio
de edital público, publicado 40 dias antes do prazo de encerramento para inscrição em
meios de comunicação nacional e em sítio eletrônico governamental.
Parágrafo Primeiro – Sendo a organização elegível, após habilitação conforme re-
querido no capítulo III, cabe à secretaria executiva do Ministério responsável pelo fundo
Capítulo VI
Do uso e gestão de recursos públicos segundo o Termo de Financiamento Público
Direto
Art. 11º – O recurso público repassado deverá ser utilizado respeitados os critérios
de economicidade, impessoalidade e garantida a lisura de sua aplicação.
Art. 12º – O recurso público repassado por meio do Termo de Financiamento pú-
blico direto, deverá custear todas as despesas que guardem relação com o projeto apre-
sentado, inclusive:
I. aquisição de equipamentos permanentes, necessários à execução do
objeto, podendo este passar a integrar o ativo fixo da organização ao final
do projeto;
II. custeio de estrutura fixa que permita a execução do projeto financiado, in-
clusive pagamento de alugueis, água, luz, condomínio e outras correlatas;
164
III. despesas com pagamento de profissionais ou prestadores/as de servi-
ços que executem atividade ou função relacionada ao projeto, inclusive
direitos garantidos na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) geradas
durante ou ao final do Termo de Financiamento Público Direto, respeita-
dos os valores de mercado.
Art 13º - Não será permitida a exigência de contrapartida financeira em qualquer hipótese.
Art. 14º – As despesas não previstas no projeto deverão ser justificadas oportuna-
mente por ocasião da prestação de contas, respeitando sempre o limite de até 20% do
valor repassado.
Art. 15º - Será permitida a ampliação do objeto ou do prazo acordado no Termo de
Financiamento Publico Direto, desde que devidamente justificado e que não ultrapasse o
limite de 20% do objeto ou prazo inicialmente previsto.
Art. 16º – Será permitida ainda a cessão de uso de equipamentos públicos durante
o período de execução do objeto, devendo esta constar expressamente do Termo de Fi-
nanciamento Público direto.
Parágrafo primeiro: No caso de prorrogação do prazo final de execução do objeto
relacionado ao Termo de Financiamento Público direto e havendo cessão de uso de equi-
pamentos públicos, esta será automaticamente prorrogada por igual período, quantas
vezes for necessário.
Parágrafo segundo: Em havendo a devolução antecipada do equipamento público ce-
dido, esta deverá ser feita formalmente, documentada e anexada ao Termo principal.
Capítulo VII
Da Prestação de Contas
Art. 17º - Ao final do projeto objeto do Termo de financiamento Público direto, de-
verá ser apresentada prestação de contas devidamente comprovada
DISPOSIÇÕES FINAIS
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Organizações participantes do seminário ANEXO 3
168
• Instituto Fonte
• Instituto Iris
• Instituto Papai
• Instituto Recriando
• Instituto SOIS
• Instituto Soma Brasil
• Instituto Sumaúma
• Fundação Konrad Adenauer (KAS)
• Kindernothilfe (KNH Brasil)
• LRA - Saúde em Ação
• Movimento de Organização Comunitária (MOC)
• Núcleo de Iniciativas Comunitárias (NIC)
• Obra Kolping do Brasil
• Observatório Negro
• Orgânica
• Oxfam GB
• Polo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio - São Francisco PE/BA
• Projeto Axé
• Rede Margaridas Pró-Crianças e Adolescentes (REMAR)
• Retome Sua Vida
• Ruas e Praças
• Save the Children - Suécia
• Serviço de Estimulação e Reabilitação da Criança (SERC)
• Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA)
• Serviço Alemão de Cooperação (DED)
• Serviço Internacional (IS Brasil)
• SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia
• TCER
• Terre des Hommes - Holanda
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