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Educação e Cultura

Sinônimos ou sistemas
em interação?
Nelly Aleotti Maia

discussão do significado de educação e

A cultura e de possíveis relações conceituais


entre esses termos pode, a princípio, pa-
recer um ocioso exercício de semântica.
No entanto, nos dias atuais, em que a globalização
nos obriga a buscar, cada vez mais, um entendi-
mento claro entre pessoas e instituições, um exame
de pontos comuns ou divergências ontológicas en- mente, começa o imaginário brasileiro a reconhe-
tre essas duas idéias parece oportuno. cer as relações entre educação e cultura denominando
Os termos educação e cultura oscilam, no o Ministério como da Educação e Cultura. Gover-
entendimento geral, entre a identificação e a radi- nos mais recentes reconhecem a individualidade
cal diferenciação. Nos discursos, principalmente da cultura, criando um ministério próprio, deixan-
nos de caráter político, a educação é identificada do a educação unida ao desporto. Temos, atual-
com a escola ou a escolaridade e a cultura com a mente, o Ministério da Educação e do Desporto.
erudição ou o volume de informação. Não é, porém, objeto deste trabalho, um
A sucessão de encontros e desencontros de histórico das instituições educacionais, mas, os
idéias e conceitos não é nova no Brasil. De fato, exemplos acima ilustram a oscilação das repre-
desde os tempos do Império, em que os assuntos sentações conceituais de educação e cultura.
relativos à educação eram tratados pelo Ministério Que se pensa, hoje, de educação e cultura?
da Justiça ou pelo dos Negócios do Interior, a edu- Serão esses dois termos apenas um binômio den-
cação e seus problemas eram identificados com a tro do extenso campo do conhecimento ou se
escolaridade em seus aspectos formais. Com o ad- pode reconhecer, entre esses dois conceitos, uma
vento da República é criado um Ministério que relação sistêmica?
recebe o curioso nome de Ministério da Instrução Que é, exatamente, educação? Dentre as mui-
(identificação com a escola e a aquisição de infor- tas respostas pertinentes a essa pergunta a mais
mações), Correios e Telégrafos. Bem mais tarde in- simples será, talvez, a mais satisfatória, ao menos,
dividualiza-se a educação, chegando-se, em 1930, a para um confronto com o conceito de cultura.
criar o Ministério da Educação e Saúde. Posterior- Digamos que educação é uma aprendizagem valo-

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rizada. Não nos iluda, no entanto, a concisão da corporifica-se na escola, instituição que surge quan-
frase. Embutidos nela estão os conceitos de apren- do o “volume” da cultura é tal que se torna impos-
dizagem e de valor. sível sua divisão igual por todos os membros do
Expressam esses conceitos o caráter aquisi- grupo. Paralelamente, processa-se outro tipo de edu-
tivo, cumulativo e transformador da educação. O cação, sem elementos individualizados como currí-
primeiro ressalta que a educação requer experiên- culos, programas, horários etc., mas, circundando
cia anterior, integrada e modificadora do com- o indivíduo desde o nascimento, possibilitando-
portamento humano. Isso equivale a dizer que não lhe as formas básicas de comunicação (como, por
há educação sem aprendizagem, afirmação que, exemplo, a linguagem), padrões de comportamen-
por sua vez, equivale a dizer que a educação de- to favorecedores do ajustamento, modelos éticos,
penderá de uma inserção do indivíduo na cultura crenças. Enquanto que a educação formal (escolar)
e de uma transmissão de formas e produtos grupais. é altamente significativa para a aquisição de infor-
O segundo conceito – valor – é o diferencial entre mações indispensáveis à inserção produtiva na socie-
educação e aprendizagem, qualificando esta última dade (principalmente pela formação profissional),
como positiva ou negativa. No primeiro caso – apren- a segunda tem sua importância evidenciada na for-
dizagem positiva – está presente o aspecto cultural, mação moral do homem.
em que padrões e normas se colocam como os O reconhecimento do sentido e da impor-
objetivos ou fins educacionais. Tal relação, porém, tância da educação não-formal agigantou-se nos úl-
não vai a ponto de identificar os dois conceitos. timos anos levando, até, alguns autores adeptos de
Sem elaborar demasiado sob os aspectos uma “pedagogia radical” a propor uma sociedade
antropológico, sociológico ou filosófico, pode-se sem escolas. Dentre estes avultam Ivan Illich com
entender a cultura como tudo o que o homem seu livro Instrumentos para a Convivibilidade 1 e
faz, possui ou aquilo em que acredita. Em outras Everett Reimer com A Escola está morta 2. É claro
palavras: toda transformação que o homem provo- que em grupos altamente desenvolvidos, com for-
ca no meio ou em si mesmo. Assim, cabe, aqui, o mas tecnológicas sofisticadas, será impossível sim-
conceito de educação de Durkheim que a vê como plesmente suprimir a escola substituindo-a por uma
a transmissão da cultura em cada geração e que, forma de aprendizagem participativa ou através do
por isso mesmo, conserva e renova essa mesma exemplo. Ninguém se tornaria um neurocirurgião
cultura. A renovação pode ser feita assistematica- ou um “virtuose” do violino por um processo ape-
mente, pela simples acumulação da experiência e nas participativo. Independentemente dessas opi-
seleção natural das melhores formas, aquelas que niões radicais, o papel da educação não-formal na
mais beneficiem o grupo, ou de maneira sistemá- construção do homem não pode ser minimizado.
tica ou estruturada, institucionalizada. A educação é, sem dúvida, um processo dual
Somos levados, então, a reconhecer que há, ou, se quisermos adotar um modelo comparativo,
sempre, duas formas básicas de educação: a formal recorreremos à idéia de sistema, considerando-a co-
ou sistematizada e a não-formal ou não sistematiza- mo resultante de dois sistemas em constante intera-
da. A primeira, presente nos grupos desenvolvidos, ção. Em que pesem as críticas feitas por alguns

1
Illich, Ivan Tools for Conviviality, Harper & Row, New York, 1973.
2
Reimer, Everett, School is Dead, Doubleday & Company, New York, 1972.

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autores à teoria de sistemas, tomar o modelo para a jornal da manhã já substituiu, registrando sua
explicação simplificada de relações entre fenôme- obsolescência, até os pais, que se defrontam com
nos complexos ainda é um auxílio analítico válido. padrões de comportamento, por vezes chocantes,
Nessa linha de pensamento, fica claro que a na educação de seus filhos, o aspecto gigantesco
educação não pode ser apenas igualada à escola e desse problema está presente.
nem tampouco igualada à cultura, mas, resulta des- A diferença do ritmo e da velocidade em
ta última e, ao mesmo tempo, a realimenta. A cul- que a educação (principalmente a formal) e a co-
tura do grupo fornece os objetivos e molda os pro- municação se verificam é sensível. Enquanto que
cessos grupais na formação educacional do homem. a educação, mais especificamente, a escola necessi-
Este, por sua vez reinjeta na cultura o resultado e os ta absorver e processar a informação antes de trans-
produtos da sua criatividade, complementando a miti-la, a comunicação, mormente, servindo-se dos
idéia durkheimniana de que a educação transmite a meios tecnológicos, é imediata. Isso vale não só
cultura, em cada geração e, assim, a conserva e re- para os processos intragrupais, mas, principalmen-
nova. O conceito de cultura identifica-se com o de te, para processos intergrupais. O fenômeno hoje
herança social, algo que as novas gerações recebem designado por globalização transpõe fronteiras
das que as antecederam. A cultura é, por conseguin- culturais e, de certo modo, desfigura identidades
te, cumulativa. Se não conservada, se destrói; se não de culturas. Estas perdem, por vezes, seus valores,
renovada, desgasta-se em um processo autofágico. recebendo outros, de outras culturas, sem criticá-
Ora, conservar e renovar são idéias antinô- los, simplesmente por sedimentação. Nesse pro-
micas e quase mutuamente excludentes. No en- cesso, pode ocorrer o fenômeno da contracultura,
tanto, cabe à educação harmonizá-las e torná-las caracterizado desde a década de 70 por Vonnegut,
realidade. A educação tem, portanto, papel decisi- autor norte-americano, que alertava para culturas
vo com relação à cultura, pois, ao mesmo tempo desfiguradas e, até mesmo, destruídas por justapo-
em que é responsável pela transmissão dos proces- sição de valores. A educação passa, então, a ter um
sos e dos produtos culturais (desde a linguagem papel de “transportadora” de produtos e formas,
até os conhecimentos científicos e filosóficos e os de valores, enfim, que a sociedade nem examinou,
padrões estéticos expressos na arte) deve, também, nem escolheu, apenas recebeu.
desenvolver a criatividade para renovar esses mes- Cabe, aqui, uma ponderação sobre o proces-
mos processos e produtos. Nas sociedades desen- so geral de mudança social, sua natureza, a veloci-
volvidas e, em nossos dias, essa tarefa é um grande dade em que se efetiva e os processos subjacentes.
desafio. De fato, como conciliar o ritmo frenético A mudança social é um processo de trans-
do avanço tecnológico com os valores de uma cul- formação da cultura, resultante de vários fatores.
tura, por vezes, tradicional e resistente à inovação? O primeiro é a necessidade, para o homem,
Como entregar a um homem psicologicamente de resolver problemas. Da cura de uma doença ao
despreparado para o novo, os últimos instrumen- controle de alterações climáticas; da produção de
tos de uma mudança material totalmente inespe- alimentos à construção de casas; da fabricação de
rada? Se, para o integrante comum da sociedade materiais ao controle do comportamento; tudo,
isso é um desafio, para os educadores é uma tarefa enfim, no meio que o cerca (seja ele físico ou
assustadora. Desde o professor que, em sala de social) é um desafio para o desejo de conhecer,
aula, deve transmitir informações que, não raro, o para a necessidade de agir, mobilizando a sua

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criatividade. No caso dos primitivos, cuja cultura como faces de um mesmo fenômeno a se comple-
ou herança social é limitada, os desafios são ime- mentarem mutuamente. A nortear qualquer ação
diatos e ligados diretamente à sobrevivência e os prática estaria um entendimento dos valores cul-
problemas são resolvidos pela prática (experiência turais próprios de cada sociedade e de seu tem-
direta) e pela observação. Nas sociedades desen- po. E eis, aqui, a constatação, mais uma vez, da
volvidas, há todo um arsenal tecnológico de ins- interação entre educação e cultura.
trumentos e de métodos a levar o homem a uma Decorrente, ainda, dessa constatação seria a
busca ordenada e sistemática das soluções dos di- necessidade óbvia da formulação de uma política
versos problemas. Denomina-se esse processo, ge- educacional que expressasse a relação educação-
nericamente, pesquisa. Esta leva à descoberta e esta, cultura-valor. Isso recairia, naturalmente, no cam-
por sua vez, acarreta a utilização prática, criando po administrativo. Planos, diretrizes, leis relativas
novos desafios. A mudança é, portanto, cíclica. O à educação não deveriam ser produzidos aleatori-
tempo em que essas fases (desafio-pesquisa-desco- amente ou dissociados do caráter cultural da socie-
berta-utilização) se desenrolam não é, porém, uni- dade, de seus valores ou, pior, para aderir a “mo-
forme podendo, por exemplo, levar, entre pesqui- dismos” pedagógicos, muitas vezes importados e,
sa e descoberta ou entre descoberta e utilização simples e ingenuamente, transplantados. Não será
prática, meses, dias ou anos. ocioso ressaltar, sob esse aspecto, a necessidade de
Evidencia-se, mais uma vez, o papel dos coerência entre diretrizes gerais de uma política
processos facilitadores da comunicação na socie- educacional que devem traduzir uma filosofia da
dade que contribuirá para a efetivação da mu- educação e as determinações específicas como leis,
dança. Enquanto que, nas sociedades primitivas, regulamentos, reformas. Não é difícil registrar a
predominam, a comunicação oral, a imitação e incoerência ou, até, a contradição entre letra e es-
a observação direta; nas sociedades desenvolvi- pírito de leis gerais e reformas setoriais. Proclama-
das, há meios tecnológicos e processos específi- se a necessidade de formar o cidadão e se adotam
cos que agilizam a mudança. reformas curriculares representativas de um trei-
Papel de importância especial será reserva- namento estreito, apenas para dar um exemplo.
do à educação. Esta é, a um tempo, produto da Cuida-se de reformas de estrutura escolar, currí-
mudança, de vez que as modificações a atingem culos, programas e se ignora a ação dos meios de
no conteúdo e na forma, e parte do processo, comunicação ou da comunicação social em geral.
pois, é sua função desenvolver a pesquisa, o co- O uso de incorreções de linguagem, de improprie-
nhecimento e os processos comunicadores. dades, a exposição indistinta de crianças e adoles-
E, dentro desse contexto da dinâmica cultu- centes a espetáculos de carência ética ou que cau-
ral, pode-se distinguir, mais uma vez, a coexistên- sam impacto emocional negativo sob a égide de
cia das duas formas de educação – formal e não- um suposto respeito a “direitos à informação” de-
formal – dentro da cultura e envolvendo o homem. monstram a total negligência na consideração da
Conseqüências importantes advêm do reco- educação não-formal.
nhecimento dessa interdependência ao se preten- A reflexão sobre o exposto nos conduz a
der examinar as relações entre cultura e educação. outras constatações como a amplitude ou a abran-
A primeira seria uma filosofia da educação gência da educação na sociedade. De fato, a educa-
holística, em que ambos os aspectos fossem vistos ção transcende, no seu âmbito, a parte abstrata da

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aquisição de conhecimentos ou informações, a da de drogas, violência, eis alguns exemplos. Como
adoção de padrões de comportamento ou a dos trabalhar sem qualificação? A diferenciação da cul-
preceitos morais. A educação se efetiva, também, tura exige especialização. A fome, muitas vezes
na “praxis”, sendo responsável pela manutenção não é não ter o que comer, mas, não saber o que
da saúde, pelo exercício da cidadania, própria de comer. A ignorância do valor nutricional dos ali-
uma consciência social. O entendimento da edu- mentos perpetua a desnutrição. As fugas químicas
cação como algo que vem “depois” da saúde ou (drogas) são, com freqüência, resultado de poucas
da habitação ou da sobrevivência social é tão ab- opções de lazer.3 E não pode ser a violência uma
surdo como se pensar que a circulação do sangue forma de protesto indiscriminado? E por que não
vem “depois” da respiração ou que a nutrição é associar a ausência de educação às condutas
menos importante que a função renal. A socieda- anômicas de um modo geral?
de, como organismo vivo, tem, na educação, o Na discussão proposta das relações entre
atendimento a todos os aspectos de sua dinâmica. educação e cultura, além do aspecto sistêmico já
Mais uma vez, a concepção holística se faz neces- visto, haveria outro, também, bastante significati-
sária para que se veja na educação todos os aspec- vo – o dos limites à educação. É até intuitiva a
tos: o intelectual, o físico e o ético. Nenhuma constatação de que não se pode educar ilimitada-
novidade. Desde Platão (século IV a.C.) que pre- mente; ou seja, não se pode propor fins para a
conizava a educação física aliada à intelectual e à educação desconhecendo alguns fatores que a li-
ética (sendo que na linha socrática as duas últimas mitam como, por exemplo, características genéti-
se uniriam), Juvenal (século II), Locke (século XVII), cas do educando ou seu momento evolutivo. Se-
Herbert Spencer (século XIX) até nossos dias, o riam, esses exemplos, aspectos biológicos e psi-
entrelaçamento das diversas formas de educação é cológicos dos limites à ação educativa. Há, po-
reconhecido como necessário. rém, a se considerar, os limites sociológicos, que
Last, but not least, na linha das conclusões: a seriam representados pela cultura do grupo. É evi-
constatação de um divórcio entre o discurso e a dente que se educação e cultura têm uma interação
ação social no que tange à educação. Esta conti- sistêmica será, também, evidente que uma limita
nua a ser vista como um assunto meramente admi- a outra. Em outras palavras: se cabe à educação
nistrativo, cabendo a políticos, legisladores, even- transmitir os produtos da cultura (materiais ou
tualmente a professores, agir. A sociedade como não-materiais), servindo-se dos processos culturais
um todo não se envolve, talvez pela falta de sensa- de uma determinada sociedade, não irá ela além
cionalismo imediato dos assuntos educacionais. desses limites. Um exemplo simples: uma cultura
No entanto, ao se refletir sobre a problemática de ágrafa não utilizará livros, uma cultura pré-cientí-
nosso tempo e os aspectos mais chocantes das fica não transmitirá conhecimentos sistematizados
graves patologias sociais não será difícil ver a res- de Física ou de Química. Desse modo, indepen-
ponsabilidade do desprezo à educação nesse con- dentemente da carga genética dos indivíduos, sua
junto trágico. Desemprego, fome, alcoolismo, uso aprendizagem estará circunscrita aos elementos que

3
Durante a Revolução Francesa, Condorcet, em seu Informe à Assembléia Legislativa, em 1792, já ponderava que muitos dos
chamados “vícios” das classes desfavorecidas resultavam de não saberem como usar seu lazer e não de defeitos ou perversões, como
se supunha. Propunha, então, programas de entretenimento popular para sanar a situação, sugestão que não perdeu a atualidade.

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a cultura permite. Entretanto, essa ótica se refere Em termos mais simples, ou, até, singelos: ela
primordialmente ao aspecto conservador da edu- determinará o que será melhor para a sociedade e,
cação. Não deverá ser esquecido que, enquanto a obviamente, o que a educação deverá transmitir.
educação transmite produtos e formas culturais Os fenômenos culturais, porém, não se veri-
conservando-os, esse mesmo processo de transmis- ficam, na prática, de maneira simples e harmonio-
são se destina ao homem, ser dinâmico e ativo sa como a análise feita acima. Há ameaças a essa
que não é apenas um receptáculo de informações desejável harmonia. A mais poderosa é a de se dei-
ou um autômato reprodutor de atitudes.4 En- xar, na cultura e na educação, “vazios axiológicos”
quanto recebe o que lhe é transmitido ele reelabo- ou seja, a ausência de valores e ações correlatas,
ra os conhecimentos e as experiências em geral, permitindo que conteúdos exógenos ou endógenos
modificando-os pela criatividade e pelos resulta- contrários ao próprio espírito da cultura ocupem
dos de sua própria experiência. Além da visão de esses vazios. A “contracultura” já mencionada po-
Durkheim (conservação e renovação da cultura), deria ocupar esses espaços ou desajustamento indi-
já mencionada neste trabalho, caberia, aqui, uma vidual e patologia social poderiam ocorrer.
reflexão sobre a concepção dos pragmatistas de Constata-se, então, que educação e cultura
um modo geral, destacando-se Dewey, com sua não são sinônimos, mas, dois fenômenos com
teoria da reconstrução da experiência, consideran- estreita interdependência, coexistindo e interagin-
do os resultados da ação, modificando e direcio- do na sociedade, podendo-se, até, afirmar que guar-
nando as ações subseqüentes. dam entre si uma relação de mútua responsabili-
Mais uma evidência de que educação e cul- dade. Responsabilidade, também, seria a do cida-
tura são dois sistemas interagindo: o fato de a dão, enquanto “animal político”, como o definia
cultura ser um limite à educação e desta última Aristóteles, zelando para que a interação se pro-
alterar as fronteiras desse limite. cesse de forma dinâmica, conservando e renovan-
Na interação desses fenômenos, porém, há do a cultura, sem “vazios axiológicos”.
algo demasiado importante para ser negligencia- Lembremos McLuhan quando diz na na-
do: a tomada de decisões quanto ao que conservar ve espacial Terra não há passageiros; todos são
e ao que renovar; ou seja, que formas e produtos tripulantes.
culturais deverão ser preservados e quais os que
serão abandonados ou substituídos por outros? Nelly Aleotti Maia – Doutora e livre-docente pela Universidade Federal
As decisões serão, inquestionavelmente, resultado do Rio de Janeiro. Pós-doutorado na Universidade de Illinois (EUA). Titulação
especial em Política e Estratégia Brasileiras (Escola Superior de Guerra).
da cultura. Será esta que fornecerá aos membros Professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora
da sociedade que diretamente influenciarão a mu- Emérita da ECEME. Conferencista do CEP.
Vice-Presidente do International Council on Education for Teaching. Tem
dança, os elementos determinantes, em outras pa- 60 trabalhos publicados no Brasil e no exterior, alguns premiados em concurso.
lavras: os valores. É, sem dúvida, a cultura do gru- Recebeu diversas condecorações e honrarias, brasileiras e estrangeiras.
Conferencista convidada para proferir palestras em eventos internacionais (EUA,
po que mantém ou altera os valores – bom – mau;
Singapura, Tailândia, França, Itália, Alemanha, Turquia, Brunei, Jordânia, Omã).
justo – injusto; belo – feio; sagrado – profano etc.

4
Seja lembrado Plutarco (s. I) que dizia “o espírito do aluno não é um vaso que se deve encher, mas, uma lareira que se deve
acender”. Essa afirmação mostra que, ainda em fase pré-científica da Pedagogia, pessoas dotadas de intuição educacional reconheciam
o papel da criatividade.

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