You are on page 1of 31

UMA DITADURA REPUBLICANA:

RAÍZES IDEOLÓGICAS DO PRESIDENCIALISMO BRASILEIRO

Projeto de Doutorado apresentado por Vinícius Batelli de Souza


Balestra, sob orientação da Professora Dra. Karine Salgado, junto à
Linha 4 – Estado, Razão e História, do Programa de Pós-
Graduação em Direito da UFMG, para fins de realização de Exame
de Qualificação.
Sumário

 Justificativa e Revisão de Bibliografia, p.

 Objetivos, p.

 Metodologia, p.

 Sumário Provisório do Texto Final, p.

 Referências, p.
Justificativa e Revisão de Bibliografia

No pensamento constitucional conservador que dominou o


Ocidente, há estrutura binária: Madison contra Mussolini. Ou
abraçamos a política institucional fria, com baixo nível de
mobilização, ou nos aventuramos à política extrainstitucional ou
anti-institucional quente, com alto grau de mobilização. É oposição
falsa e escolha inaceitável. Faz parte da mitologia do pensamento
conservador.
Roberto Mangabeira Unger, “A Constituição do Experimentalismo
Democrático”.

Sabemos que a figura do Presidente da República como Chefe de Estado e Chefe


de Governo foi inserida em nosso país na Constituição de 1891, e que o Presidente da
República já exercia o poder de fato durante o Governo Provisório entre novembro de
1889 e o advento do primeiro texto constitucional republicano. De fato, o Presidente da
República exerceu a Chefia do Governo Provisório e, por esse meio, outorgou a
Constituição dos Estados Unidos do Brazil, texto que foi entregue à Assembleia
Constituinte, instalada em 15 de novembro de 1890. Em outras palavras, o Presidente da
nascente República gozou de amplos e desprotegidos poderes, inclusive para impor um
texto constitucional à Assembleia Constituinte, texto este que a Assembleia se viu premida
a votar logo, sem muitas alterações.1

Desse ponto de vista, aliás, é possível dizer que, nos primeiros anos da República
Velha, vigorou no Brasil uma Ditadura Soberana, a considerarmos a nomenclatura de Carl
Schmitt: em outras palavras, uma ditadura que, exercendo o poder soberano (o poder,
portanto, de decidir no Estado de Exceção), visa instaurar uma nova ordem, uma nova
constituição, um novo corpo político.2

1 BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História Constitucional do

Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1991, p. 201-220.


2 SCHMITT, Carl. La Dictadura. Madrid: Alianza Editorial, 1985, p. 182-183
Consolidou-se, no Brasil, nesses primeiros anos republicanos, um modelo
presidencial autoritário. O modo autoritário com que a Presidência da República foi
exercida tem lastro não apenas nas normas constitucionais da época - que de fato atribuíam
ao Poder Executivo amplos poderes – mas também na própria cultura política e ideológica
formativa da República. Tanto é assim que, com poucos meses de vigência da nova
Constituição, após os primeiros anos de Governo Provisório, o Presidente da República
(Marechal Deodoro) a violou para exercer poderes autocráticos e fechar o Congresso
Nacional. 3

Segundo José Murilo de Carvalho, em “A Formação das Almas: o imaginário de


República no Brasil”, foram três as ideologias que disputaram a formação da ideologia
republicana no Brasil: o positivismo sociocrático, o liberalismo clássico e o jacobinismo.4

Diz José Murilo de Carvalho:

A elaboração de um imaginário é parte integrante da legitimação de qualquer


regime político. É por meio do imaginário que se podem atingir não só a cabeça
mas, de modo especial, o coração, isto é, as aspirações, os medos e as esperanças
de um povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetivos,
definem seus inimigos, organizam seu passado, presente e futuro. O imaginário
social é constituído e se expressa por ideologias e utopias, sem dúvidas, mas
também - e é o que aqui me interessa - por símbolos, alegorias, rituais, mitos.
Símbolos e mitos podem, por seu caráter difuso, por sua leitura menos
codificada, tornar-se elementos poderosos de projeção de interesses, aspirações
e medos coletivos. Na medida em que tenham êxito em atingir o imaginário,
podem também plasmar visões de mundo e modelar condutas. 5

O positivismo, que larga e visivelmente foi a ideologia vitoriosa no estabelecimento


do mito de origem da República nascente, enraizou-se mais especialmente entre os militares
que, de formação técnica, se viram seduzidos pelos ideais científicos e progressistas do
positivismo; um de seus líderes, do ponto de vista ideológico, foi Benjamin Constant.6

O liberalismo republicano, por sua vez, era ideologia que encontrou guarida
especialmente entre as elites rurais, em especial a elite rural paulista. Em São Paulo, aliás,

3
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1991, p. 254.
4
CARVALHO, José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da república no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 9-10
5
CARVALHO, José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da república no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 10-11;
6 CARVALHO, José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da república

no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 40


existia um partido republicano desde 1873. Defendiam um modelo de república à
americana, contratualista e federalista. Um dos nomes intelectuais do grupo era o de
Alberto Sales, e sua principal referência era Quintino Bocaiúva.7

Por fim, um grupo formado por profissionais liberais, estudantes e outros grupos
sociais da classe média urbana, especialmente presente na capital federal, se viu seduzida
por uma ideologia republicana radicalizada, o jacobinismo. Se os liberais brasileiros tinham
como modelo a Terceira República francesa, os jacobinos viam com bons olhos a Primeira
República francesa.8

É preciso dissecar o modo com que essas ideologias republicanas,


progressivamente, tomaram corpo político para saber como foram capazes de moldar não
apenas a institucionalidade brasileira, mas também o imaginário político que deu
sustentação a essa institucionalidade. Mais do que isso, é parte do nosso entendimento que
se produziu, nos estertores do Império, um ideário político e intelectual formador da
posterior institucionalidade republicana. A esse momento de efervescência intelectual e
política, localizado especialmente na década de 1870, Ângela Alonso chama de “movimento
reformista”9. Se dizemos, com José Murilo de Carvalho, que há um embate ideológico logo
no início da República Velha que disputará sua paternidade e sua simbologia, para além do
funcionamento das instituições, é preciso entender de que modo essas ideias políticas se
movimentaram e se articularam para assumir o poder nos anteriores à proclamação da
república.

Nossa hipótese é que essas ideologias formadoras da república, que efervesceram


nas décadas finais do Império, formaram um sistema de governo presidencialista
marcadamente autoritário, e de traços ditatoriais. No texto final que pretendemos produzir, Commented [ks1]: A redação da hipótese precisa ser
revista. Está muito simples, não permitindo ao leitor
é nosso intento que a recuperação histórica e a reflexão filosófica corroborem a hipótese vislumbrar a complexidade que a tese quer ostentar. Da
forma como está, não há originalidade. Traga para a
apresentada. hipótese um pouco das causas desse autoritarismo que
nascem da confluência de forças antagônicas em torno de
uma crítica comum. Isso da solidez para a sua tese. Ela não é
a constatação do traço ditatorial da primeira república,
notório e de amplo conhecimento, massim a forma como
posições políticas diversas conformaram este modelo.
7 CARVALHO, José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da república
no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 48
8
CARVALHO, José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da república no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 26
9 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002..


Não se encontrará, em nosso esforço, a pretensão de elaborar um estudo de
História, per si; é preciso, no entanto, em um trabalho que pretende explicar a formação de
um certo sistema de governo no Estado brasileiro, que se recorra a uma ferramentaria que
só a História pode proporcionar.

A tomar, por exemplo, a diferença proposta por Nelson Nogueira Saldanha, o que
ocorre em 15 de novembro de 1889 é uma mudança de forma de governo10, acompanhada da
mudança também de um regime de governo: o parlamentarismo do Império dará lugar ao
presidencialismo da República. Essa profunda mudança11 indica o estabelecimento de uma
instituição - a Presidência da República - que ainda perdura em nossos dias, e sobre a qual
há, ainda, muitos trabalhos e investigações, em sede de ciência política, filosofia, etc.

Parte-se, assim, do pressuposto de que a história pode oferecer lições para que se
entenda o tempo presente, sem que se resvale para um exercício anacrônico e que se valha
de preconcepções, a sombrear uma investigação mais precisa sobre certo período histórico.
Essa lição tiramos de Pierre Rosanvallon, historiador que, ao propor uma “história
filosófica do político”, pretende “promover um entendimento acerca do modo por que são
projetados e se desenvolvem os sistemas representativos, que permitem aos indivíduos ou
grupos sociais conceber a vida comunitária.”12 Em outras palavras, o intuito de entender,
com mais precisão, o sistema presidencialista no Brasil, é que motiva o presente projeto a
propor um estudo sobre o surgimento deste sistema (ou, nos termos de Saldanha, deste
regime) de governo no Brasil.

Nossa abordagem, no entanto, pretende se desvencilhar do que se convencionou


chamar, entre historiadores, de “história velha” da política. Em texto intitulado “A
Política”13, Jacques Julliard define essa “história velha” da política como psicológica, a
ignorar condicionamentos, além de biográfica e elitista, a esconder as massas que compõem

10 SALDANHA, Nelson Nogueira. As Formas de Governo e o Ponto de Vista Histórico.

Belo Horizonte: Edições da Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1960, p. 37


11 “Há épocas que duram muito, em que duram os estilos culturais e as visões do mundo, e em

que as estruturas políticas essenciais pouco mudam; outras em que as variações são rápidas mesmo
quando fundas”. SALDANHA, As Formas de Governo e o Ponto de Vista Histórico... cit., p. 39
12 ROSANVALLON, Pierre. Por uma história filosófica do político. In: ROSANVALLON,

Pierre. Por uma história do político. São Paulo: Alameda, 2010. p. 44.
13 JULLIARD, Jacques. A Política. In: GOFF, Jacques Le; NORA, Pierre. História: novas

abordagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. p. 180-196.


as sociedades; uma história ideológica que não tem “consciência de sê-lo”14. A velha
história política era parcial sem o saber, ignorava o longo prazo e trabalhava com um ciclo
de causalidade excessivamente simplista, que atribuía as mudanças políticas aos agentes
mais altamente colocados na hierarquia institucional.15

A velha história política16, pré-Annales, é “pré-crítica”, “não merece o nome de


ciência, mesmo enfeitada com o epíteto de ‘humana’, e sobretudo não merece o nome de
ciência social.”17

A história política, tendo perecido “vítima de suas amizades”18 durante um longo


período do século XX19, fez um retorno ainda com a terceira geração da Escola dos
Annales, “contra Braudel e contra outras formas de determinismo (especialmente o
‘economismo’ marxista).”20 Mas esse não é um mero retorno acrítico, a adotar os mesmos
métodos e concepções teóricas anteriores à revolução dos Annales.

A velha história política privou-se das comparações no espaço e no tempo,


interditou as generalizações e sínteses, e seu pressuposto era o das narrativas lineares,
cronológicas; anedótica, individualista21, esse modo de se fazer história logo se viu
escanteado, quando chegou o tempo de “passar da história dos tronos e das dominações

14 JULLIARD, A Política... cit., p. 180


15 JULLIARD, A Política... cit., p. 180-181.
16 “A história se consolidou como disciplina autônoma no século XIX, sendo, contudo, entendida

como uma modalidade específica de história política, 5 cujo representante maior foi o historiador alemão
Leopold von Ranke. Entre as principais características do paradigma da história política tradicional,
destaca-se: 1) a centralidade do Estado-nação, de revoluções e eventos militares, tais como guerras e
batalhas localizadas; 2) o foco nos atos dos “grandes homens”, ou seja, em estadistas e líderes militares
quando não em personagens eclesiásticos; 6 3) a aspiração a ser objetiva, científica, buscando-se narrar o
passado humano com a maior fidedignidade possível aos fatos, através de seu encadeamento e
organização, do levantamento e da crítica sistemática dos documentos; 4) a primazia dos documentos
oficiais como critério para se produzir uma história científica7 – daí a tendência a privilegiar os relatos das
autoridades, bem como seus interesses particulares; e 5) como corolário da busca pela objetividade, um
desprezo pela história do tempo presente ou contemporânea” - MEDEIROS, Fabrício Ferreira. A Nova
Historia Política. Temporalidades, Belo Horizonte, v. 9, n. 3, p.290, dez. 2017
17 JULLIARD, A Política... cit., p. 181.
18 JULLIARD, A Política... cit., p. 181.
19 Nas palavras de Rémond: “Era pois provavelmente inevitável que o desenvolvimento da

história econômica ou social se fizesse às custas do declínio da história dos fatos políticos, daí em diante
lançada num descrédito aparentemente definitivo.” Cf. RÉMOND, René. Uma história presente. In:
RÉMOND, René. Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2005. p. 13.
20 BURKE, Peter. A Escola dos Annales - 1929-1989: A revolução francesa da historiografia.

São Paulo: Unesp, 2010, p. 116.


21 RÉMOND, René. Uma história presente. In: RÉMOND, René. Por uma história política.

Rio de Janeiro: FGV, 2005. p. 17


para a dos povos e das sociedades”22. No entanto, ao desprezar esse velho método, a Escola
dos Annales também deixou de lado o estudo da política. O retorno da história política,
observado já na terceira geração, ocorre mediante o aprendizado com os novos métodos e
técnicas oferecidos pela revolução historiográfica operada pelos franceses.

Em primeiro lugar, porque não se ganharia nada em continuar a confundir as


insuficiências de um método com os objetos a que se aplica. Ou bem existe, com
efeito, uma natureza própria dos fenômenos políticos, que os limita a categoria
dos fatos -; ou bem ao contrário, o político, como o econômico, o social, o
cultural, o religioso, acomoda-se aos métodos os mais diversos, inclusive os mais
modernos, e, nesse caso, é tempo de aplicá-los ao político.23

Desse modo, é de grande proveito para a história política “recuperar o seu atraso, e
refazer o caminho já percorrido por outros”24. Isto porque a política, como objeto de
estudo, conserva seu interesse, mantém-se como campo próprio. A mudança de enfoque,
no entanto, é fruto mesmo do aprendizado com as críticas. A história política deixa de ser,
apenas, história do Estado e de personalidades: passa a ser também história da cultura
política, das ideologias políticas, enfim, da relação das massas25 com o campo da política26.

Na nova abordagem do político pela história, algumas novas orientações apontam


para uma transformação no quadro geral do estudo do político, conforme registra Ângela
de Castro Gomes27. Nesse retorno, a história política não é redutível a um reflexo de uma
superestrutura: é tomada como um campo com dignidade própria. Não pode mais ser
pensada como imutável, mas como um campo que se altera conforme o tempo e espaço,
que está fortemente marcada pelas circunstâncias que a rondam.28

22 RÉMOND, René. Uma história presente. In: RÉMOND, René. Por uma história política.

Rio de Janeiro: FGV, 2005. p. 18.


23 JULLIARD, A Política... cit., p. 181.
24 JULLIARD, A Política... cit., p. 186.
25 “(...)a noção do político transbordou a dimensão institucional do Estado e passou a incluir o

comportamento das massas, as associações civis, a participação e a cidadania, os meios de comunicação,


os padrões culturais, as mentalidades, o imaginário, enfim, o poder definido principalmente em suas bases
sociais e culturais” Cf. NÉSPOLI, José Henrique. Cultura Política, História Política e Historiografia.
História e Cultura, Franca, v. 4, n. 1, p.365, mar. 2015.
26 NÉSPOLI, José Henrique. Cultura Política, História Política e Historiografia. História e

Cultura, Franca, v. 4, n. 1, p.365, mar. 2015.


27 GOMES, Ângela de Castro. Política: história, ciência, cultura e etc.. Historiografia, Rio de

Janeiro, v. 9, n. 17, p.66, dez. 1996.


28 GOMES, Ângela de Castro. Política: história, ciência, cultura e etc.. Historiografia, Rio de

Janeiro, v. 9, n. 17, p.67, dez. 1996.


Nesse passo, a história política tem, de modo constitutivo, limites porosos com
outros ramos das ciências sociais, em especial com questões culturais: nessa nova atitude
com o político, a cultura toma lugar de destaque, pronta a explicar os fenômenos políticos
para além da conjuntura, responsável pelas explicações de maior alcance e perenidade. O
acontecimento político, por si só, não pode mais ser superestimado, como na velha história
de matriz rankeana, e tampouco pode banalizado. O acontecimento político tem valor
próprio, e deve ser tomado em consideração com a cultura política em que está/estava
inserido.29

Propõe-se, assim, que o político não seja visto como uma esfera absolutamente
apartada das outras – o religioso, o econômico, o social, o cultural, o jurídico, etc. - mas
que seja visto, antes, como fundador da ordem social. Rosanvallon propõe, nesse sentido,
que o político seja entendido como um “conjunto de procedimentos a partir dos quais
desabrocha a ordem social”30, de tal modo que o político e o social passam a ser vistos
como “indissolúveis”31.

De fato, se é verdade que uma “nova história do político” pode se servir das
ferramentarias de outras ciências sociais (o político é, afinal, um campo de fronteiras fluídas
com outras esferas da vida humana), em especial da ciência política, será salutar, para os
efeitos dessa pesquisa, que sigamos com Chantal Mouffe e façamos uma definição do
político, da política e da sua relação com o social.

Para a autora:

Mais precisamente, é assim que diferencio o político da política: entende por “o


político” a dimensão do antagonismo que considero constitutiva das sociedades
humanas, enquanto entendo por “política” o conjunto de práticas e instituições
por meio das quais uma ordem é criada, organizando a coexistência humana no
contexto conflituoso produzido pelo político.32

E, prossegue, em outro momento de definições:

Toda ordem é a articulação temporária e precária de práticas contingentes. A


fronteira entre o social e o político é essencialmente instável, exigindo constantes
deslocamentos e renegociações entre os agentes sociais. (...) Para fazer uma
síntese desse tema: toda ordem é política e se baseia em alguma forma de

29 GOMES, Ângela de Castro. Política: história, ciência, cultura e etc.. Historiografia, Rio de

Janeiro, v. 9, n. 17, p. 66, dez. 1996.


30 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 41.
31 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 41.
32 MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. São Paulo: Martins Fontes, 2015, p. 8
exclusão. Sempre existem outras possibilidades, que foram reprimidas e podem
ser reativadas. As práticas de articulação por meio das quais se estabelece uma
determinada ordem e se determina o significado das instituições sociais são
“práticas hegemônicas”. Toda ordem hegemônica é passível de ser desafiada por
práticas anti-hegemônicas, isto é, práticas que tentarão desarticular a ordem
existente para instalar outra forma de hegemonia. 33

Com isso, é possível propor uma renovação do estudo da “história política”,


direcionando-o para uma “história do político”, como proposto por Rosanvallon. Uma
história que, a despeito de não descurar o estudo das instituições, se volta também para
outros aspectos da vida política: o debate de ideias, as culturas políticas, as ideologias, as
representações da política, dentre outros temas. Uma história que, a levar a sério a
concepção de Mouffe, volta-se não apenas para a política, mas para o político. Uma
“história filosófica do político”, como proposta por Rosanvallon, se direciona às ideias não
para comentar os grandes textos e grandes autores apenas34; ela se interessa pelos debates
nos jornais e panfletos, pelas petições direcionadas às instituições, pelos satíricos, pelas
práticas políticas de organizações cívicas não-estatais35, enfim, por uma diversidade de
produções e materiais que indicam a porosidade entre as instituições e a cultura política de
um tempo.

Por isso mesmo, Rosanvallon define sua “história filosófica do político” como uma
história interativa: ela analisa “o modo pelo qual uma cultura política, suas instituições e
eventos interagem para estabelecer formas políticas mais ou menos estáveis.”36 Sua
proposição se coaduna com a concepção de Mouffe: a política, por um lado, “tem a ver
com diferentes práticas da política convencional”37, enquanto o político refere-se “à forma
com que a sociedade é fundada”38.

Na história filosófica do político, práticas institucionais e normas estabelecidas são


estudadas na sua interação com aspectos mais profundos da cultura política: os
antagonismos que a constituem, as ideologias que a formam, os debates que a alimentam.

33 MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. São Paulo: Martins Fontes, 2015, p. 17.
34 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 45.
35 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 45-46.
36 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 48.
37 MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. São Paulo: Martins Fontes, 2015, p. 8.
38 MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. São Paulo: Martins Fontes, 2015, p. 8.
Ao procurar entender o presente por meio de uma história filosófica do político -
ou, ainda, “história conceitual do político”, como Rosanvallon intitulará em outros textos
-, Rosanvallon não pretende estudar o passado tomando o presente “como ponto fixo de
referência”39. Ou, para usar uma definição de António Manuel Hespanha, não se pretende
entender a história de um ponto de vista progressista, isto é, em que o presente é sacralizado
como “único horizonte possível da evolução humana”40. Trata-se, isto sim, de “entender o
passado e investigar o presente”41 como parte de um “mesmo processo intelectual”42.

Diante da tarefa presente de investigar um sistema de governo que ainda tem


vitalidade na organização do poder brasileiro – o presidencialismo -, o presente trabalho se
propõe, assim, a entender o seu passado. O estudo, no entanto, não se limitará a uma
história de golpes palacianos e vontades individuais de personagens históricas de destaque;
tampouco será um trabalho de enumeração de normas constitucionais e de direito político,
ou mesmo a recuperação de algum debate mais notório. Tampouco se fará “mero
comparatismo textual”43. Para compreender esse passado do presidencialismo, isto é, o
momento em que foi implementado na ordem jurídico-política brasileira, será preciso
entender o movimento que, ao se voltar contra a ordem saquarema do Império, mudou
não apenas uma forma de governo, mas todo o regime. Será preciso estudar o movimento
de ideias reformistas, dissonantes entre si, que tiveram como objetivo comum a derrubada
do Império. Ao estudaras representações, as ideologias, os discursos, o pensamento e a
cultura política da época, poderemos entender melhor como se formou a ideia de
presidencialismo nos alvorecer republicano do país.

Ângela Alonso nos aponta que a geração de reformistas que surge em 1870 procura
dar resposta aos “dilemas estruturais da sociedade imperial”, em especial “a organização
política e o regime de trabalho”44. Assim:

39 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 53.


40 HESPANHA, António Manuel. A Cultura Jurídica Européia: Síntese de um milênio.
Coimbra: Almedina, 2010, p. 20.
41 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 54.
42 ROSANVALLON, Por uma história filosófica do político... cit., p. 54.
43 ROSANVALLON, Pierre. Por uma história conceitual do político (notas de trabalho). Revista

Brasileira de História, São Paulo, v. 15, n. 30, p. 14, dez. 1995.


44 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 246.


O ponto de vista das geração 1870 se conformara no contato com as grandes
temáticas do fim do século XIX: a experimentação de novas formas de
organização político-administrativas, a crise da economia agrária, a ampliação da
cidadania. A perspectiva comparada, os esquemas explicativos da política
científica e a reinterpretação da própria tradição nacional confluíram para uma
reelaboração do dilema imperial como opção entre modalidades de reforma
imediatas.45

Há uma série de reformas propostas pelos grupos que Alonso chama de reformistas,
presentes em livros de doutrinas, mas também em “circulares eleitorais e manifestos
políticos”46, lançados em meados dos anos 1880. Em outras palavras, havia um franco e
vigoroso debate de ideias apartado da vida parlamentar e oficial do Império, propiciado
pela expansão das comunicações e a reforma do ensino superior, a dar formação superior
a jovens que não faziam parte da elite imperial. Criou-se um “espaço público” por meio do
qual “descontentes de longa data podiam se expressar”47.

Esses grupos contestadores tinham como objetivo, por exemplo, uma reforma do
Estado, voltada à “expansão do liberalismo econômico”48 bem como a descentralização
político-administrativa. Tinham ideias a respeito da secularização das instituições, como a
introdução dos registros civis de óbito, nascimento e casamento, bem como a liberdade de
exercício de cultos. Favoreciam a universalização de direitos civis e a ampliação de direitos
políticos.49

Havia, também, a proposta de reforma das instituições políticas. Neste ponto,


possivelmente a demanda pelo federalismo fosse a mais notória. A proposta de uma federação
“exprimia o antagonismo comum com a centralização saquarema”50; esses grupos entendiam
(à exceção de um deles, que Alonso chama de “novos liberais”, mais fiéis à Coroa) que a
federação, bem como as outras mudanças almejadas, só se fariam com a república.

45 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 246.


46 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 246.


47 ALONSO, Ângela. Apropriações de Ideias no Segundo Reinado. Keila Grinberg; Ricardo

Salles. (Org.). O Brasil Império - Vol. III (1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 89.
48 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 247.


49 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 248.


50 ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São

Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 248.


A ordem imperial era marcada, em especial, pela centralização, na figura do Imperador.
O poder do Imperador, para os partidários da Coroa, deveria ser tal que tivesse um “olhar
vigilante, dominador e dirigente”51. Na fórmula saquarema, a continuidade do Império era a
garantia da continuidade de um poder forte, centralizador e que produziria, por sua ação
política, o bem comum. O poder fraco, por outro lado, estava relacionado com a
descentralização (programa dos luzias e, posteriormente, dos reformistas)52.

Os Saquaremas aborreciam um poder fraco. A prevalência das paixões


partidárias, o predomínio das influências locais e a persistência das lutas entre as
famílias - ‘o verdadeiro cancro de nossas localidades’, no entender de um deles
– eram vistos como as razões de um poder fraco, e nele se nutriam. 53

Essa ordem política saquarema, cuja representação simbólica se fazia na figura do


Imperador e da própria Monarquia, se via progressivamente acossada, agora se via cercada, do
ponto de vista externo, por repúblicas. Tanto é assim que o Manifesto Republicano de 1870
“não fazia diferença entre república e democracia”54.

De modo geral, apesar das divergências internas, o movimento era marcado pelo
diagnóstico de crise do status quo imperial, acompanhado de críticas (de diferentes modalidades)
das práticas políticas constituídas e hegemônicas. Afastados do centro de poder da Corte, os
grupos reformistas colocaram programas ambiciosos e, alguns, pregavam mesmo que o
radicalismo fosse o instrumento de ação, como foi o caso de Assis Brasil, positivista que, em
discurso proferido em 1880, prega mesmo o caminho da revolta e da tomada drástica de poder:

Cidadãos, à vista destes fatos irrecusáveis, à vista desta demonstração talvez


fastidiosa, (não apoiados) mas certamente muito exata, argumentação que não
deixa rombo por onde possa penetrar o inimigo, me parece que a triste verdade,
que a tristíssima conseqüência é que os meios brandos, que a vontade
mansamente manifestada do povo, que é o único soberano legítimo, – não são
capazes de fazer nada digno da liberdade, neste pobre país. 55

Entre estudantes, intelectuais, profissionais liberais e funcionários públicos, o que


marcava os reformistas, de modo geral, das diversas matrizes ideológicas, era o afastamento
que sofriam do poder central. O Império havia organizado uma máquina política

51 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 2004, p. 222.
52 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 2004, p. 206-207.
53 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 2004, p. 208.
54 CARVALHO, José Murilo de. República, democracia e federalismo: Brasil 1870-1891. Varia

História, Belo Horizonte, v. 27, n. 45, p.145., dez. 2011.


55 BRASIL, Assis. O Oportunismo e a Revolução. Disponível em:
<http://revistaestudospoliticos.com/o-oportunismo-e-a-revolucao/>. Acesso em: 05 dez. 2018.
administrativa própria, que passava em especial pelo Senado e pelo Conselho de Estado56,
do ponto de vista da representação, e pelos níveis mais baixos do funcionalismo, na
administração, que por sua vez era usado para a cooptação política. Do ponto de vista
cultural, havia uma geração de pensadores e escritores ligados à Coroa, seja como
empregados diretos do Estado, ou como intelectuais57 lotados junto ao Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro58. Os reformistas eram, com algumas exceções, alijados desse
maquinário de lealdade política ao Imperador.

A ilustrar esse novo conjunto de representações e símbolos, de novos conceitos,


líderes e ideias que o campo republicano procurava formar, Salvador de Mendonça (1841-
1913), membro do grupo liberal republicano, mais radicalizado, escreve, em sua
reminiscência autobiográfica provocativa intitulada “Acerto de Contas”:

Quando em 1859 e 1860 comecei. em S. Paulo a escrever para as folhas públicas


artigos de política, e redigi com Theophilo Ottoni Filho o periódico acadêmico
A Legenda, nosso credo era o do partido liberal alumiado pelas crenças da
juventude. Os nossos ídolos não eram os doutrinários do parlamento e os
portadores de pasta do regimen imperial: eram os martyres da Inconfidência, os
revolucionários de Pernambuco de 1817 e 1848, os fundadores da República de
Piratinin e os vencidos de Santa Luzia.59

Havia, portanto, um conjunto novo não apenas de idéias políticas, mas de


referências. Havia novos autores, novos espaços de socialização e meios de circulação do
debate. Nesse contexto novo, debate-se a necessidade de uma educação pública; a
separação entre Igreja e Estado; a necessidade um Estado federal; e se discute a necessidade
de derrubada do parlamentarismo.60

56 SALLES, Ricardo. Nostalgia Imperial: A Formação da Identidade Nacional no Brasil do

Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 67


57 Sobre o papel da geração de românticos associados à coroa, Lília Schwarcz: “O IHGB, por sua

vez, daria à monarquia brasileira uma nova história, uma iconografia original e uma literatura épica. Nesse
local, enquanto o passado era relembrado de forma enaltecedora, a partir de uma natureza grandiosa e de
indígenas envoltos em cenários românticos; já a realeza surgia como um governo acima de qualquer
instituição, e a escravidão era, literalmente, esquecida.” Cf. SCHWARCZ, Lília. Romantismo Tropical: A
estetização da política e da cidadania numa instituição imperial brasileira. Penélope, São Paulo, v. 23, n. 1,
p.110, dez. 2000.
58 SALLES, Ricardo. Nostalgia Imperial: A Formação da Identidade Nacional no Brasil do

Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 67.


59 MENDONÇA, Salvador de. Acerto de Contas. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1899,

p. 13.
60 CARVALHO, José Murilo de. República, democracia e federalismo: Brasil 1870-1891. Varia

História, Belo Horizonte, v. 27, n. 45, p.144, dez. 2011.


Vê-se, mesmo entre os liberais, sobre os quais talvez o parlamentarismo pudesse
exercer certa influência, alguma antipatia a esse sistema de governo; possivelmente já
desgastados do parlamentarismo de tipo monárquico, estavam dispostos a aceitar uma
república de tipo presidencialista, aos moldes norte-americanos. É o caso de Christiano
Ottoni, mineiro de inspiração liberal, que havia participado do Clube Radical e de diversos
grupos de agitação republicana liberal, que, surpreendentemente, elogia o Marechal
Deodoro, presidente que, “assumindo a dictadura”, “exhibiu logo duas demonstrações de
seu bom senso, são patriotismo e vistas elevadas. Honra lhe seja.”61 Para Ottoni, um liberal,
o governo de tipo parlamentar, em que o chefe de governo compunha um gabinete de
comum acordo com o Congresso Nacional, não permitiriam um “governo forte”62, vez
que estaria sujeito a “filigranas de parlamentarismo da monarchia constitucional”63. Assim:

Seja o chefe electivo, responsável, temporário, inelegível em isperíodos


consecutivos, e a liberdade está garantida. Os ministros são seus agentes: o
ministério é um conselho que o chefe escolhe entre as illustrações do paiz. Não
é commissão do parlamento, nem uma maioria de Câmara deve poder derrubá-
lo

Frequentemente, assim, o parlamentarismo, mesmo entre os liberais republicanos64,


é associado a certa anarquia, a um parlatório opinativo pouco producente, a um sistema de
governo desencaixada de uma nova ordem. Rui Barbosa teria se rendido ao
presidencialismo, por “rigidez doutrinária”, mesmo sendo entusiasta histórico do sistema
parlamentarista, esperançoso de que, futuramente, o Judiciário viesse a coibir as “derivas
autoritárias” dos presidentes.65 Paulo Brossard documenta, aliás, que, diante dos abusos do
poder presidencial presenciados na República Velha, Rui Barbosa teria então retornado a

61 OTTONI, Christiano. O Advento da República no Brazil. Rio de Janeiro: Tipografia

Perseverança, 1890, p. 116.


62 OTTONI, Christiano. O Advento da República no Brazil. Rio de Janeiro: Tipografia

Perseverança, 1890, p. 118.


63 OTTONI, Christiano. O Advento da República no Brazil. Rio de Janeiro: Tipografia

Perseverança, 1890, p. 117.


64 “Daí que o discurso republicano da aristocracia paulista acabasse tomando, na prática, contornos

de um liberalismo muito mais autoritário que o do Império. À sombra da mesma ideologia liberal
democrática do republicanismo urbano, surgiu um republicanismo militante do campo, amparado
ideologicamente no darwinismo social, oligárquico e hierárquico, autoritário e racista, que sedutoramente
acenava a toda a aristocracia rural como a solução definitiva de seus problemas políticos.” LYNCH,
Christian Edward Cyril; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. O constitucionalismo da inefetividade: a
Constituição de 1891 no cativeiro do estado de sítio. Quaestio Juris, Rio de Janeiro, v. 2, n. 5, p. 94., dez.
2010.
65 LYNCH, Christian Edward Cyril. Da Monarquia à Oligarquia: História Institucional e

Pensamento Político Brasileiro. Rio de Janeiro: Alameda, 2014, p. 224.


sua original posição, passando a fazer, então, propaganda parlamentarista.66 A posição de
Rui, nesse debate, deverá merecer concentrada atenção no futuro trabalho, bem como a
correspondência com Sylvio Romero a respeito do debate entre parlamentarismo e
presidencialismo.67

Campos Sales, um paulista que não fazia parte dos grupos positivistas, mas
tampouco era liberal, ele mesmo um futuro Presidente da República, tinha como modelo
a presidência dos Estados Unidos; para Sales, o presidente deveria ser um diretor, a decidir
tudo sozinho, se a mediação parlamentar.68 Os novos tempos, que Campos Sales observa
em uma viagem à Europa, pediam por novas formas políticas, e o parlamentarismo estaria
“incompatibilizado com a atual situação dos espíritos”.69

Em sua Sciencia Politica, o irmão de Campos Sales, Alberto Salles (1857-1904), do


grupo federalista de São Paulo, não escondeu pavor do funcionamento de um regime
parlamentar fica mais evidente. Os parlamentos estariam cheios de “novatos, meninos
saídos de fresco dos colégios”, “moços ricos e influentes em suas províncias”70, que teriam
sido eleitos unicamente porque o público, em geral, se impressionaria facilmente com a
“rhetorica estompante”71; para Sales, o parlamentarismo acaba por produzir um sistema
“irracional”, pois o povo não exige conhecimentos adequados de seus representantes. E
conclui, em tom de crítica: no parlamentarismo, é o demos que “governa, dirige e prescreve
hygiene social”72.

Já entre os positivistas, é mais farta a documentação de sua inclinação ditadorial.


Miguel Lemos, diretor do Centro Positivista do Brasil (1854-1917), publica no dia 21 de
novembro de 1889, dias depois da Proclamação da República, linhas gerais “Ao Povo e ao
Governo da República” para a instalação do novo regime. Para ele, as indicações mais

66 PINTO, Paulo Brossard de Souza. Presidencialismo e Parlamentarismo na Ideologia de Ruy

Barbosa. Revista da Faculdade de Direito de Porto Alegre, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p.186-227, dez.
1949.
67 ROMERO, Sylvio. Parlamentarismo e Presidencialismo na República Brazileira: Cartas

ao Conselheiro Ruy Barbosa. Rio de Janeiro: Companhia Impressora, 1893.


68 CARVALHO, José Murilo de. República, democracia e federalismo: Brasil 1870-1891. Varia

História, Belo Horizonte, v. 27, n. 45, p.156, dez. 2011.


69 SALLES, Campos. Cartas da Europa. Rio de Janeiro: Tipografia Leuzinger, 1894, p. 180.
70 SALLES, Alberto. Sciencia Politica. São Paulo: Teixeira e Irmão, 1891, p. 295.
71 SALLES, Alberto. Sciencia Politica. São Paulo: Teixeira e Irmão, 1891, p. 295
72 SALLES, Alberto. Sciencia Politica. São Paulo: Teixeira e Irmão, 1891, p. 296
urgentes à república deveriam ser a da vigência de uma “ditadura republicana”, “em caráter
definitivo”73; seguido dessa instalação de uma ditadura, diz Lemos, deveria vir a abolição
do regime parlamentar. A escrita da nova constituição deveria ser feita por um grupo de
“pessoas competentes”74.

O mesmo Miguel Lemos, em conjunto com Teixeira Mendes, outro influente


positivista do período, irá escrever Bazes de uma Constituição Política Ditatorial Federativa para
a República Brazileira.

Neste livro, os autores positivistas desenvolvem um modelo texto constitucional,


que, em seu artigo 10º, previa: “O Governo dos Estados Unidos do Brazil é republicano
ditatorial federativo”75. O ditador não seria escolhido, mas aquele que os acontecimentos
“fizessem espontaneamente surgir”76 (art. 15), e poderia permanecer no cargo até que
quisesse renunciar, ou até os cinquenta e seis anos, ocasião em que indicaria seu sucessor.77
O parlamento (assembleia) teria poderes apenas para auxiliar na confecção da peça
orçamentária.78

Antônio da Silva Jardim (1860-1891), outro positivista, por sua vez, em sua Carta
Política ao Paiz e ao Partido Republicano, coloca ênfase no fato de que, na República que
imaginava para o Brasil, deveriam ser “limitadas as forças anarchicas do
parlamentarismo”79. Ao enumerar os muitos vícios da Monarquia, em seu discurso
intitulado Salvação da Pátria, o agitador positivista enumera a escravidão, as províncias mal
representadas e mal administradas, a desproteção do proletariado e das massas e também
um “parlamentarismo vão”80. Em seu livro dedicado ao elogio da figura de Tiradentes,

73 LEMOS, Miguel. Ao Povo e ao Governo da República. Rio de Janeiro: Centro Positivista do

Brasil, 1889.
74 LEMOS, Miguel. Ao Povo e ao Governo da República. Rio de Janeiro: Centro Positivista do

Brasil, 1889.
75 LEMOS, Miguel; MENDES, Teixeira. Bazes de uma Constituição Política Ditatorial

Federativa para o Brazil. Rio de Janeiro: Igreja do Apostolado Positivista do Brasil, 1890, p. 4.
76 LEMOS, Miguel; MENDES, Teixeira. Bazes de uma Constituição Política Ditatorial

Federativa para o Brazil. Rio de Janeiro: Igreja do Apostolado Positivista do Brasil, 1890, p. 5.
77 LEMOS, Miguel; MENDES, Teixeira. Bazes de uma Constituição Política Ditatorial

Federativa para o Brazil. Rio de Janeiro: Igreja do Apostolado Positivista do Brasil, 1890, p. 5.
78 LEMOS, Miguel; MENDES, Teixeira. Bazes de uma Constituição Política Ditatorial

Federativa para o Brazil. Rio de Janeiro: Igreja do Apostolado Positivista do Brasil, 1890, p. 4
79 JARDIM, Antônio da Silva. Carta Política ao Paiz e ao Partido Republicano. Rio de

Janeiro: Impresa Montalverne, 1889, p. 28.


80 JARDIM, Antônio da Silva. Salvação da Pátria. Santos: Diário de Santos, 1888, p. 12.
atribui um legado de ideias a Joaquim José da Silva Xavier que inclui, dentre outras coisas,
a abolição da escravatura, a liberdade de pensamento e imprensa e (novamente) a limitação
das “forças anarchicas do parlamentarismo”81.

Em sua conceituação sobre o político, Chantal Mouffe também registra que o


político é constituído, fundamentalmente, pelo antagonismo. Há sempre um conflito
primordial, entre grupos de práticas anti-hegemônicas, a tentar desestabilizar as
hegemonias e ordens estabelecidas. O que se observa nas décadas finais do Segundo
Reinado é a instalação de um conflito que já não pode mais ser reduzido às sucessões de
gabinetes entre Luzias e Saquaremas do Parlamento Imperial. Surgem culturas políticas
apartadas da aparelhagem institucional do Império, que não estão abarcadas pelas suas
relações de clientela política nem são alimentadas pelo seu mecenato intelectual. Liberais e
positivistas, federalistas e cientificistas, radicais e conservadores, surgem diferentes grupos
com novas linguagens políticas, novos meios de circulação de ideias, novas proposições
sociais e institucionais. Dentre os muitos debates a respeito da futura institucionalidade
republicana, percebe-se que há o germinar de uma consciência de que o futuro governo
deveria ser exercido de modo mais firme, inclusive para realizar as necessárias reformas
sociais imaginadas pela cultura republicana – a reforma da educação, a instalação da
laicidade, a incorporação dos negros à sociedade, dentre outros. Percebe-se uma
progressiva construção, no imaginário político, de que era necessária uma figura forte, a
quem não poderia se incomodar com a anarquia associada ao parlamento, para levar a cabo
o ideário dos novos tempos. O trabalho que ora propomos será dedicado, assim, a
reconstruir esses debates, de modo a investigar não apenas a discussão binária entre
parlamentaristas e presidencialistas, mas o modo mesmo com que os republicanos
pretendiam desenhar o conjunto de (amplos) poderes de sua futura Presidência da
República.

81 JARDIM, Antônio da Silva. Tiradentes: discurso lido por Silva Jardim. Rio de Janeiro:

Tipografia Leuzinger e Filhos, 1890, p. 41.


Objetivos

O presente trabalho, como se salientou anteriormente, se apresenta calcado na


hipótese de que o presidencialismo brasileiro, como sistema de governo, se formou a partir
de culturas políticas autoritárias, legando uma institucionalidade e uma concepção de
governo, na primeira república, de ação marcadamente ditatorial. Afim de se comprovar a
hipótese, que se apresenta como o objetivo principal da tese, a que se percorrer um
itinerário que se baseia em objetivos intermediários, a saber: Commented [ks2]: específicos

 Primeiro objetivo intermediário: apresentar a concepção de história a auxiliar a


concepção da tese, inserida, ela mesma, no campo da Filosofia do Estado; nesta
primeira etapa, há que se percorrer um caminho que apresente uma concepção de
história política coerente com o aprendizado pós-Annales.
 Segundo objetivo intermediário: apresentar o momento hegemônico do Império n
qual as ideologias formadoras da república irão efervescer; se é verdade que o
positivismo e o liberalismo, bem como os grupos republicanos federalistas, de
modo geral, vão se opor ao status quo imperial, será necessário, nessa etapa, detalhar
de que modo se apresenta esse status quo, que ideologias e práticas políticas o
sustentam. A sustentação do regime pela escravidão, o fomento ideológico do
romantismo pelo Império, a atuação política da ordem saquarema, o
parlamentarismo praticado no Segundo Reinado, estes serão alguns dos temas a
serem listados, afim de que entenda a oposição liberal dos positivistas e liberais.
 Terceiro Objetivo Intermediário: Apresentação da ideologia liberal construída no
final do Segundo Império. Será importante remontar, ainda que de modo breve, o
histórico do movimento liberal no Brasil, e o modo com que os liberais se
comportaram em relação à Corte. Será importante apresentar os diversos grupos
liberais, desde os mais próximos do parlamento e das instituições, até os mais
radicalizados. Demonstrar que ideais de república apregoavam os liberais, seja a de
tipo madisoniana, seja o modelo da Terceira República francesa.
 Quarto Objetivo Intermediário: apresentação da ideologia e pensamento
positivistas no Brasil. Reconstruir o modo com que os grupos positivistas no Brasil
absorveram os ensinamentos de Augusto Comte, e os diversos subgrupos que se
desenvolveram. Será importante apresentar o modo com que se desenvolveu um
pensamento político positivista próprio, eminentemente ditatorial, disposto a
reformar as instituições sociais pela via autoritária.
 Quinto Objetivo Intermediário: No decorrer das reconstituições anteriores, será
necessário recolher, tanto dos liberais quanto dos positivistas, de que modo o
presidencialismo é apresentado, em especial em oposição ao parlamentarismo. O
presidencialismo será, se estiver correta a hipótese geral da tese, apresentado como
o caminho institucional para catalisar as reformas desejadas pelos grupos
republicanos.
 Sexto Objetivo Intermediário: Apresentar o modo com que se construiu a
governança presidencial na República Velha, em especial nos anos do governo
provisório de Deodoro da Fonseca, à luz da reconstituição do pensamento
republicanos das décadas de 1870 e 1880, como modo de corroborar a hipótese de
que, no Brasil, construiu-se um presidencialismo de molde ditatorial.
Plano de Trabalho

Primeira fase (do 1º ao 12º mês)

Levantamentos bibliográficos e cumprimento de créditos obrigatórios, inclusive nos


Seminários Metodológicos, de cumprimento obrigatório.

Segunda fase (do 13º ao 24º mês)

Ampliação da pesquisa bibliográfica, com formação complementar, em disciplinas


ministradas não apenas no PPGD, mas também em outros programas de pós-graduação
da UFMG. Término dos créditos obrigatórios.

Terceira fase (do 24º ao 36º mês)

Organização e ampliação da bibliografia coletada. Continuidade na participação de


seminários e disciplinas afeitos à pesquisa do doutorando. Início da redação da tese, após
a qualificação do projeto.

Quarta fase (do 36º ao 46º mês)

Será elaborada a tese, sob a constante supervisão do Orientador.

Quinta fase (47º mês)

Após apreciação e debates com o Professor Orientador, o trabalho será revisado e


adequado às normas técnicas, após o que, com a anuência deste, o texto final será
depositado na Secretaria do Programa
Metodologia

Salientamos, no curso deste projeto, que o trabalho se apoiará fortemente na


história, vez que se trata de uma reflexão que mergulha nas décadas finais do Império e nos
anos iniciais da República Velha para demonstrar o alvorecer de um modo de governar
ditatorial, espelhado num presidencialismo que, na norma jurídica e na ação política,
mostrou-se autoritário. Desse modo, pretende-se fazer uma história de uma instituição
política, afim de entendê-la, mesmo, no presente, sem, no entanto, fazer uma mera história
linear de normas jurídicas ou de acontecimentos relevantes, mas é nosso objetivo, isto sim,
mergulhar no nascer de uma cultura política republicana para demonstrar o modo com que
ela foi capaz de moldar as instituições. Com isso, parece adequado que o trabalho esteja
acompanhado de tendências recentes da história política, como a “história conceitual do
político”, de Pierre Rosanvallon, bem como da tendência de estudo das culturas políticas,
que no Brasil se acompanham de um autor como Rodrigo Patto Sá Motta.

No entanto, o trabalho não se apresenta apenas como um esforço histórico, mas


sim, está inserido num contexto mais amplo de reflexão de Filosofia do Estado e, em nosso
caso, numa reflexão sobre o Estado Brasileiro. Neste caso, a História é um momento
necessário, pois se é verdade que o Direito (e o Estado) “é essencialmente histórico, e a
história, processo de revelação da razão”82, então é preciso que o Filósofo do Direito e do
Estado tenha satisfatório contato com a História. No entanto, nosso objetivo não é a mera
reconstituição da história: é demonstrar, mesmo, a concepção ditatorial na qual se calcou a
arte de governar republicana brasileira. Nossa reflexão, portanto, de cunho filosófico,
procura não apenas o resgatar episódico da instituição, ,as procura demonstrar, ainda que
de modo sugestivo e não peremptório, as permanências ditatoriais nas instituições
brasileiras. Neste caso, para além da reconstrução da história do fim do Segundo Reinado
e dos primeiros anos da República, o trabalho terá reflexão filosófica sobre o pensamento
político brasileiro desses anos, para que se entenda de que modo a cultura e o pensamento

SALGADO, Karine. História e Estado de Direito. Revista do Tribunal de Contas de


82

Minas Ferais: Belo Horizonte, v. 71, n. 2, p. 102-113, jun. 2009.


político da época foram capazes de configurar as instituições; ação política e produção
intelectual, neste caso, são duas pontas do trabalho que não se dissociam.
Sumário Provisório do Texto Final

“Uma Ditadura Republicana”: raízes ideológicas do presidencialismo brasileiro

1. Perspectiva Histórica da Tese

1.1 A Velha História Política e a Crítica dos Annales


1.2 Uma nova história do político? Por um retorno do político nas ciências humanas

2. Crítica e crise no Império Brasileiro


2.1 Entre luzias e saquaremas: breve retrato das décadas finais do Império Brasileiro
2.1.1 Os intelectuais do Império: o romantismo e o IHGB
2.2 Marginalização e radicalização: o surgimento das forças ideológicas republicanas
2.2.1 A radicalização liberal
2.2.2 A ortodoxia positivista
2.2.2.1 Nas franjas do positivismo, os radicais republicanos

3. O Liberalismo Republicano no Fim do Império Commented [ks3]: V


Commented [ks4R3]: Inicius, em nossas conversas, e de
3.1 Quem são os liberais republicanos? modo mais sutil no projeto, você sugere três forças,
positivistas, liberais e jacobinos (que se disitinguiriam – os
3.1.1 Os liberais republicanos dois últimos – pelo modelo de república francesa). A
estrutura final não reflete isto. É preciso ajustar o texto e a
3.1.2 Os “novos liberais” e a proximidade com a Côrte estrutura, num ou noutro sentido.

3.1.3 Espelhos e inspirações dos liberais brasileiros: a Terceira República


francesa e a Constituição dos Estados Unidos da América
3.2 A comunidade liberal: produção intelectual e política dos liberais nas décadas de
1870 e 1880
3.2.1 A produção intelectual dos liberais
3.2.2 Agitação e discurso: os jornais e panfletos liberais
3.3 Estratégias políticas e proposições do liberalismo brasileiro: entre o establishment
e a radicalização
3.3.1 Presidencialismo ou Parlamentarismo? A opção liberal no sistema de
governo
4. A Ortodoxia Positivista Republicana no Fim do Império
4.1 Quem são os positivistas brasileiros?
4.1.1 Os positivistas da Escola Militar
4.1.2 O positivismo da Escola do Recife
4.1.3 A aliança entre os positivistas gaúchos e paulistas
4.1.4 Espelhos e inspirações dos positivistas brasileiros: o positivismo
comteano
4.2 A comunidade positivista: produção intelectual e política dos positivistas nas
décadas de 1870 e 1880
4.2.1 A produção intelectual dos positivistas
4.2.2 Uma estratégia radical: os panfletos e jornais positivistas
4.3 Estratégias políticas e proposições do positivismo brasileiro: pela derrubada do
universo imperial
4.3.1 O modelo presidencial dos positivistas
4.4 Republicanismo Radical: o nascimento do jacobinismo republicano brasileiro

5. O Presidencialismo na República Velha


5.1 O Poder Constituinte na República Velha
5.1.1 O Poder Constituinte do Governo Provisório (1889-1891)
5.1.2 Contribuições e limites do Congresso Nacional Constituinte
5.2 Os Poderes do Presidente: legislação e governo nos primeiros anos da
República
5.2.1 Os embates ideológicos em torno dos poderes do Presidente:
entre parlamentarismo e presidencialismo
5.2.2 O governo provisório de Deodoro: uma ditadura soberana
5.2.3 Deodoro e Floriano: o eclodir de um presidencialismo ditatorial
5.2.4 Florianismo, jacobinismo e os poderes do presidente
Commented [ks5]: Acho que a estrutura é condizente
com a proposta, mas ela privilegia um roteiro histórico em
detrimento da reflexão filosófica. Não sugiro diretamente
6. Considerações Finais uma mudança na estrutura, mas acho que você deve refletir
sobre ela, pois no formato atual, a reflexão fica subserviente
à história. Talvez uma inversão fizesse o trabalho mais
interessante.
Referências
ALONSO, Ângela. Apropriações de Ideias no Segundo Reinado. Keila Grinberg;
Ricardo Salles. (Org.). O Brasil Império - Vol. III(1870-1889). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009, p. 83-118
ALONSO, Ângela. Associativismo avant la lettre: as sociedades pela abolição no
Brasil oitocentista. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, nº28, 2011.
ALONSO, Ângela. De positivismo e de positivistas: correntes positivistas
brasileiras e o caso Pereira Barreto. Anais do XIX Encontro Anual da ANPOCS. São
Paulo-USP, 1995.
ALONSO, Ângela. Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro
(1868-1888). São Paulo: Cia das Letras, 2015.
ALONSO, Ângela. Idéias em Movimento: A geração 1870 na crise do Brasil-
Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ALVES, Cleber Francisco. A influência do pensamento liberal de Benjamin
Constant na formação do Estado imperial brasileiro. Revista de Informação Legislativa,
Brasília, p. 62-75, out./dez. 2008.
BARBOSA, Rui, Obras seletas. Tribuna Parlamentar República. Rio de Janeiro.
Casa de Rui Barbosa, 1956.
BARBOSA, Rui. A questão social e política no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Casa
de Rui Barbosa, 1998.
BARBOSA, Rui. Cartas da Inglaterra. São Paulo: Saraiva & C. editores, 1929.
BARBOSA, Rui. O processo do Capitão Dreyfus. São Paulo: Editora Giordano,
1994.
BARBOSA, Rui. Pensamento e ação de Rui Barbosa. Brasília: Senado Federal
Fundação Casa de Rui Barbosa, 1999.
BARBOSA, Rui. República: teoria e prática. Petrópolis: Editora Vozes / Câmara
dos deputados, 1978.
BARBOSA, Rui. Teoria Política. Seleção, coordenação e prefácio de Homero Pires.
Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre: M. Jackson, 1950.
BRASIL, Assis. Ditadura, parlamentarismo e democracia. Porto Alegre: Tipografia
da Livraria do Globo, 1908.
BRASIL, Assis. Idéias políticas de Assis Brasil. Org. de Paulo Brossard. Brasília:
Conselho Editorial do Senado Federal: Rio de Janeiro: FundaçãoCasadeRuiBarbosa, 1989;
BRASIL, Assis. O Oportunismo e a Revolução. Disponível em:
<http://revistaestudospoliticos.com/o-oportunismo-e-a-revolucao/>. Acesso em: 05
dez. 2018.
BRASIL, Assis.A República Federal. Rio de Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1881
BURKE, Peter. A Escola dos Annales - 1929-1989: A revolução francesa da
historiografia. São Paulo: Unesp, 2010.
CARVALHO, José Murilo de. 1980. A Construção da Ordem. A Elite Política
Imperial.
CARVALHO, José Murilo de. 1989. A Ortodoxia Positivista no Brasil. Um
Bolchevismo de Classe Média. Revista Brasileira: Ano 4, no. 8.
CARVALHO, José Murilo de. Formação das Almas: o imaginário da república no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. República, democracia e federalismo: Brasil 1870-
1891. Varia História, Belo Horizonte, v. 27, n. 45, p.141-157, dez. 2011.
CHACON, Vamireh. Parlamento e parlamentarismo: o Congresso Nacional na
história do Brasil. Brasília: Câmara dos Deputados, 1982.
CRUZ COSTA, João. Contribuição à História das Ideias no Brasil. Rio de Janeiro:
J. Olímpio, 1956.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 1991
FCRB – Fundação Casa de Rui Barbosa. Rui Barbosa e a Constituição de 1891. Rio
de Janeiro, FCRB, 1985.
FCRB. Contra o militarismo: campanha eleitoral. Rio de Janeiro: Ed. FCRB, 1910.
FCRB. Rui Barbosa: cronologia da vida e obra. Rio de Janeiro, FCRB, 1995.
FRANCO, Afonso Arinos de Melo; PILA, Raul. Presidencialismo ou
parlamentarismo? Brasília: Senado Federal, 1999.
Ferraz de Carvalho, O., 2012 [1933]. Sistema parlamentar: história constitucional e
política. São Paulo: Editora Piratininga.
GOMES, Ângela de Castro. Política: história, ciência, cultura e etc.. Historiografia,
Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p.59-84, dez. 1996.
Graham, Richard, Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX. Rio de Janeiro:
Editora da UFRJ, 1997.
HESPANHA, António Manuel. A Cultura Jurídica Européia: Síntese de um
milênio. Coimbra: Almedina, 2010, p. 20
HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil Monárquico - Do Império à República.
História Geral da Civilização Brasileira, São Paulo: Bertrand Brasil, 1985.
Iglésias, Francisco. Vida política, 1848-1868. In S. Buarque de Holanda, ed. História
geral da civilização brasileira. V. 5: O Brasil Monárquico: reações e transações. São Paulo:
Difel, 2004.
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Sociedade e política na Primeira República.
São Paulo: Atual, 1999.
JARDIM, Antônio Silva. Salvação da Pátria. Santos: Diário de Santos, 1888.
JARDIM, Antônio Silva. Tiradentes: discurso lido por Silva Jardim. Rio de Janeiro:
Tipografia Leuzinger e Filhos, 1890.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ômega, 1975.
LEMOS, Miguel. 1882. Resumo histórico do Movimento Positivista no Brasil. Ano
93 1882
LEMOS, Miguel. Ao Povo e ao Governo da República. Rio de Janeiro: Centro
Positivista do Brasil, 1889.
LEMOS, Miguel. Primeira Circular Anual (1881), R.J., Apostolado Positivista no
Brasil, 1990.
LESSA, Renato. A invenção republicana. São Paulo: Vértice, 1987.
LYNCH, Christian Edward Cyril. Da Monarquia à Oligarquia: História Institucional
e Pensamento Político Brasileiro. Rio de Janeiro: Alameda, 2014.
LYNCH, Christian Edward Cyril; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. O
constitucionalismo da inefetividade: a Constituição de 1891 no cativeiro do estado de sítio.
Quaestio Juris, Rio de Janeiro, v. 2, n. 5, p.85-136, dez. 2010.
MACIEL, Adhemar Ferreira. Observações sobre o constitucionalismo brasileiro
antes do advento da república. Revista de Informação Legislativa, Brasília, p. 13-24,
out./dez. 2002
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 2004.
MEDEIROS, Fabrício Ferreira. A Nova Historia Política. Temporalidades, Belo
Horizonte, v. 9, n. 3, p.290, dez. 2017
MENDES, Teixeira. Ainda a verdade histórica acerca da instituição da liberdade
espiritual no Brasil, bem como do conjunto da organização republicana federal. A
propósito das afirmações do Senador Rui Barbosa, a esse respeito, no discurso proferido,
no Senado Federal, a 20 de novembro de 1912. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil,
1913
MENDES, Teixeira. Benjamin Constant. Esboço de uma apreciação sintética da
vida e da obra do fundador da República Brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Igreja Positivista
do Brasil, 1936 [1892]
MENDES, Teixeira. O Positivismo e a questão social. A propósito da questão
anarquista. Série da Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1915. (Série da Igreja
Positivista do Brasil, n. 383).
MENDES, Teixeira. O império brasileiro e a república brasileira perante a
regeneração social. A propósito do “Manifesto de S. A. I. o Sr. d. Luiz de Bragança”,
publicado no Diário do Congresso Nacional, de quarta-feira, 27 de agosto de 1913. Rio de
Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1913.
MENDES, Teixeira. Discurso comemorativo do tricentenário de morte de Luís de
Camões. 2. ed. Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1980 [1977]
MENDONÇA, Salvador de. Acerto de Contas. Rio de Janeiro: Jornal do
Commercio, 1899.
MENDONÇA, Sonia Regina de. Estado e sociedade: a consolidação da república
oligárquica. In: LINHARES, Maria Yeda (Org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro:
Campus, 2000.
MONTEIRO, Duglas Teixeira. Um confronto entre Juazeiro, Canudos e
Contestado. In: FAUSTO, Boris (Org.). História geral da civilização brasileira: sociedade e
instituições (1889-1930). 3. ed. São Paulo: Difel, 2006. v. 9. p. 46-103.
MONTEIRO, Tobias. O Presidente Campos Sales. Rio de Janeiro: Briguet, 1920
MONTEIRO, Tobias. O Presidente Campos Sales na Europa. Brasília: Senado
Federal, 2005.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Desafios e possibilidades na apropriação de cultura
política pela historiografia. In: MOTTA, Rodrigo P.S. (Orgs.). Culturas políticas na história:
novos estudos. Belo Horizonte: Argvumentvm, 2009
MOUFFE, Chantal. Sobre o Político. São Paulo: Martins Fontes, 2015
NABUCO, Joaquim. A Campanha Abolicionista no Recife. Brasília: Senado
Federal, 2005
NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. Brasília: Senado Federal, 2003
NÉSPOLI, José Henrique. Cultura Política, História Política e Historiografia.
História e Cultura, Franca, v. 4, n. 1, p.361-376, mar. 2015.
OLIVEIRA VIANNA, Francisco José, 1929. O ocaso do Império. São Paulo:
Editora Melhoramentos.
OTTONI, Christiano. O Advento da República no Brazil. Rio de Janeiro:
Tipografia Perseverança, 1890.
PAIM, Antônio (organizador). Dicionário bibliográfico de autores brasileiros-
Filosofia, Pensamento Político, Sociologia, Antropologia. Salvador: Centro de
Documentação do Pensamento Brasileiro; Brasília: Senado Federal, 1999.
PAIM, Antônio. História das ideias filosóficas no Brasil. 3ª edição revista e
ampliada. São Paulo: Convívio; Brasília: Instituto Nacional do Livro / Fundação Nacional
Pró-Memória, 1984.
PENNA, Lincoln Abreu. O Progresso da Ordem: O Florianismo e a Construção
da República. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997.
PENNA, Lincoln Abreu. República brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1999.
PENNA, Lincoln Abreu. Uma História da República. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1989
PINTO, Paulo Brossard de Souza. Presidencialismo e Parlamentarismo na
Ideologia de Ruy Barbosa. Revista da Faculdade de Direito de Porto Alegre, Porto Alegre,
v. 1, n. 1, p.186-227, dez. 1949.
PRADO JÚNIOR, Caio. A república burguesa (1989-1930). In: SANTOS,
Raimundo (Org.). Dissertações sobre a revolução brasileira. São Paulo: Brasiliense, 2007.
RESENDE, Maria Efigênia Lage de. O processo político na Primeira República e
o liberalismo oligárquico. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves
(Org.). O Brasil republicano: o tempo do liberalismo excludente - da proclamação da
República à Revolução de 1930. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 89-
120.
ROMERO, Sylvio. Parlamentarismo e Presidencialismo na República Brazileira:
Cartas ao Conselheiro Ruy Barbosa. Rio de Janeiro: Companhia Impressora, 1893.
ROSANVALLON, Pierre. Por uma história conceitual do político (notas de
trabalho). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 15, n. 30, p.9-22, dez. 1995.
ROSANVALLON, Pierre. Por uma história filosófica do político. In:
ROSANVALLON, Pierre. Por uma história do político. São Paulo: Alameda, 2010. p. 37-
64.
RÉMOND, René. Uma história presente. In: RÉMOND, René. Por uma história
política. Rio de Janeiro: FGV, 2005. p. 13-36.
SALDANHA, Nelson Nogueira. As Formas de Governo e o Ponto de Vista
Histórico. Belo Horizonte: Edições da Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1960, p. 37
SALGADO, Karine. História e Estado de Direito. Revista do Tribunal de Contas
de Minas Ferais: Belo Horizonte, v. 71, n. 2, p. 102-113, jun. 2009.
SALLES, Alberto. Ensaio sobre a moderna concepção do Direito. São Paulo:
Tipografia de A Província, 1885
SALLES, Alberto. Sciencia Politica. São Paulo: Teixeira e Irmão, 1891.
SALLES, Campos. Cartas da Europa. Rio de Janeiro: Tipografia Leuzinger, 1894.
SANTOS, Wanderley Guilherme, O sistema oligárquico representativo da Primeira
República. Dados, v. 56, n. 1, p.9-37, 2013.
SCHMITT, Carl. La Dictadura. Madrid: Alianza Editorial, 1985,
SCHWARCZ, Lília. Romantismo Tropical: A estetização da política e da cidadania
numa instituição imperial brasileira. Penélope, São Paulo, v. 23, n. 1, p.109-127, dez. 2000.

You might also like