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THOMAS KUHN E
GASTON BACHELARD
Cuiabá , 2009
Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET)
Av. Fernando Correa da Costa, s/nº
Campus Universitário
Cuiabá, MT - CEP.: 78060-900
Tel.: (65) 3615-8737
www.fisica.ufmt.br/ead
Fundamentos Epistemológicos da
Contemporaneidade:
Autores
Corpo Editorial
• D e n i s e Va r g a s
• C a r l o s R i n a l d i
• I r a m a i a J o r g e C a b r a l d e Pa u l o
• M a r i a L u c i a C a va l l i N e d e r
P r o j e t o G r á f i c o : Pau L o H . Z . A rru d a
R e v i s ã o : D enise V ar g as
S e c r e ta r i a : N euza M aria J o r g e C abral
C a p a : G a s t o n B a c h e l a r d e T h o m a s K u h n , e s t i l o A n d y Wa r h o l .
FICHA CATALOGRÁFICA
Inclui bibliografia.
CDU - 165
ISBN: 978-85-61819-35-4
Sumário
Convite à R efle x ão
Fonte: http://www.enciclopedia.com
V ocê já parou para pensar para que serve a
filosofia da ciência? Qual a sua importân-
cia para a Ciência Moderna/Pós-Moder-
na? Por que será que algumas pessoas acham a filosofia da
ciência uma coisa totalmente irrelevante?
Afinal, o que é filosofia da Ciência?
Qual a relação entre a filosofia da ciência e a ciência
cotidiana?
Quem escreve ou pensa sobre isso? São pessoas da
ciência ou da filosofia?
Começando a Te c e r . . .
Como sabemos, há muito tempo o homem procura entender o que vem a ser o conhecimento. Mas,
o que teria levado o homem a investigar sobre a natureza do seu próprio conhecimento? Certamente, a
necessidade de compreender as coisas que o rodeavam, o mundo onde vivia, os problemas que lhe sur-
giam, o levou a procurar entender de onde vinha esse conhecimento e o que significava. Visto dessa forma,
podemos então supor que a origem e natureza do conhecimento estão vinculadas à origem e natureza do
próprio homem. Talvez seja por isso que Aristóteles tenha dito que “o homem é um animal racional”, ou
seja, é pela razão que estamos separados dos animais. É, mas não podemos esquecer que a valorização da
razão, como faculdade específica ao homem, esteve associada a um preconceito em relação à ação, como
Gaston Bachelard
Thomas S. Ku
hn
Antes de prosseguir...
Leia o livro:
Alves, Rubens. Filosofia da Ciência. Introdução ao jogo e suas regras. Editora
Brasiliense, 1985.
At i v i d a d e de Pesquisa
“(...) é preciso saber pôr problemas. E, seja o que for que se diga, na
vida científica os problemas não se põem por si mesmos. É precisamente
esse sentido do problema que constitui a marca do verdadeiro espírito cien-
tífico. Para um espírito científico, todo o conhecimento é uma resposta a uma
interrogação, a uma questão. Não havendo interrogação, não pode haver conheci-
mento científico. Em ciência, nada acontece por si, nada nos é dado, tudo é construído. De
resto, mesmo um conhecimento adquirido através de um esforço científico pode declinar. A
interrogação abstrata e franca desgasta-se, enquanto a resposta concreta permanece: quando
isso sucede, a atividade intelectual inverte-se e bloqueia-se. (...) Hábitos intelectuais que
foram úteis e salutares acabam por se transformar em entraves à investigação. “O nosso
espírito”, disse justamente Bergson, “tem uma irresistível tendência para considerar como
mais clara a ideia que mais frequentemente lhe serve”. A ideia adquire assim uma clareza
intrínseca abusiva (...). Chega enfim um momento em que o espírito gosta mais do que con-
firma o seu saber que do que o contradiz, um momento em que tem mais apego às respostas
que às questões. Então, o instinto conservativo domina e o crescimento espiritual cessa”.
O s O b s tá c u l o s E p i s t e m o l ó g i c o s
O que foi a Te o r i a do É t e r?
Pesquise e responda!
Assim, podemos nos perguntar: caberia, então, ao professor do ensino médio, pro-
mover uma visão não-clássica de toda a ciência? O que seria uma tarefa relativamente
difícil de ser obtida, se não considerarmos relevante o estudo de tópicos da ciência
moderna e contemporânea, na formação desses profissionais. Não bastaria, pois, para
Bachelard, a simples introdução de novos tópicos pertinentes às fases mais recentes
do conhecimento científico, no ensino médio, mas a modificação de toda uma pos-
tura e percepção de mundo.
Bachelard distingue diversas formas pelas quais o espírito pré-científico (ou seja,
para aqueles que ainda não desenvolveram uma noção adequada de ciência) tem di-
ficuldade de pensar a ciência. Nesta seção será feita uma descrição desses obstáculos
epistemológicos, bem como uma discussão sobre como eles podem ser empregados.
Procurou-se identificar e caracterizar cada obstáculo epistemológico, contudo, como
adverte o próprio autor na introdução da sua obra (Bachelard, 1996), tal caracterização
não é tão simples porque eles não são completamente distintos. Há pontos em comum
entre alguns obstáculos, como por exemplo, o obstáculo da libido que possui uma
componente substancialista e outra animista. Assim, a identificação de oito obstáculos
epistemológicos na obra de Bachelard, conforme descrito a seguir, pode não corres-
ponder à única classificação possível, já que, propositadamente, na própria obra, o autor
não se utilizou de uma redação que proporcionasse uma classificação rígida. Contudo,
para minimizar possíveis vieses, optou-se por apresentar diversos trechos “do próprio
punho” de Bachelard.
O O b s tá c u l o da Experiência Primeira:
O primeiro obstáculo apontado por Bachelard (e, talvez, o mais difícil de ser re-
movido) é o da experiência primeira, ou seja, a primeira informação coerente aprendida
sobre um determinado tópico. Por algum motivo, o ser humano se apega a essa primei-
ra informação e tem dificuldade de lidar com ideias ou fatos que lhe são contrários. Um
exemplo comum é o do leigo que acredita que a Terra seja plana, apenas por observar
isso olhando a sua volta. Outro exemplo importante, é a teoria de força e movimento
de Aristóteles, que acreditava que todos os corpos na Terra se movem em linha reta,
enquanto os corpos celestes se movem em trajetórias circulares (Piaget e Garcia, 1987).
Tudo o que está no céu é perfeito, sendo o círculo a trajetória perfeita; enquanto que o
que é mundano é imperfeito. Os corpos terrestres, sendo constituídos de ar, terra, água
e fogo, se moveriam em trajetórias retilíneas, pois esses elementos se movem em linhas
retas, em diferentes direções e sentidos: O fogo para cima, a água e a terra para baixo
e o ar em todas as direções. Assim, era natural para Aristóteles, que uma pedra, por
exemplo, continuasse a se mover, mesmo após não estar mais em contato físico com a
mão que deu início ao movimento, empurrada pelo ar. Tal teoria se baseava em algu-
mas observações acríticas imediatas (que os corpos celestes aparentemente se movem
em trajetórias circulares ao redor da Terra, que o fogo se move “para cima” e os corpos
sólidos e líquidos se movem “para baixo” quando abandonados, que o vento empurra
os barcos na horizontal, etc.) e em ideias prévias (que todos os corpos terrestres eram
constituídos de ar, água, fogo e terra).
Ou seja, o cientista deve estar disposto a colocar suas convicções à prova, nunca
acreditando fielmente nas impressões que são formadas através de seus órgãos de senti-
do ou de seus instrumentos de medida. O cientista deve lutar contra a tendência geral
de apego à primeira impressão, apego este que tem um fundo irracional:
... o que existe de mais imediato na experiência primeira somos nós mesmos,
nossas surdas paixões, nossos desejos inconscientes...(Ibid, p.57).
Nesse caso, o “perigo” também tem uma componente psicológica, que também se
manifesta como um apego a ideias simplórias:
Mas uma espécie de “preguiça mental” faz com que o cientista (ou aprendiz) não
perceba facilmente as limitações da ideia pré-concebida, que, em muitos casos, não
passa de uma mera definição:
...a inércia do pensamento que se satisfaz com o acordo verbal das definições.
(Ibid, p.71).
Diversas crenças humanas têm essa característica. Por exemplo, na Idade Média
acreditava-se que as doenças eram devidas à presença do mal no corpo das pessoas.
Daí a lógica de que a sangria seria um tratamento eficaz, pois seria um método de se
extrair o mal do organismo. Como exemplo do processo da generalização das ideias,
Bachelard cita o exemplo (Ibid, p.74) de que, no final do séc. XVIII, época em que a
teoria eletromagnética era uma das áreas de ponta da ciência, utilizava-se o “fluído elé-
trico” para explicar os mais diversos fenômenos, como a tentativa de Abbé Bertholon
de associar as épocas do ano em que supostamente John Milton era mais “genial” com
a quantidade de eletricidade presente na atmosfera.
Pensando nos dois primeiros obstáculos epistemológicos, Bachelard adverte que
deve-se precaver de ser levado a quaisquer um dos dois extremos: O do pensamento
O caminho para se precaver desses dois extremos seria uma espécie de “caminho
do meio” no qual
O O b s tá c u l o V e r b a l :
Como exemplo desse obstáculo, Bachelard apresenta a palavra “esponja”, que foi
utilizada indevidamente em diversas ocasiões na história da ciência. Uma dessas ocasi-
ões corresponde ao ano de 1731, quando Réaumur propõe que o ar é como uma esponja
(Ibid, p.92), e, então, a umidade do ar pode ser explicada porque o ar pode “sugar” a
água. É claro que esse tipo de modelo incorre numa incoerência fundamental: a água,
no ar, não está em estado líquido. Segundo Bachelard, tal obstáculo acontece devido a
um apego a palavras específicas. Assim, analogias são estabelecidas além de qualquer
limite. Tudo fica facilmente explicado: o ar é uma esponja, o pulmão é uma esponja,
assim como a pele, a terra, etc., evitando, desta forma, o penoso processo de reflexão
crítica.
O problema da verbalização ou da linguagem, tanto na compreensão como no
DqDp ≥
2
onde é a constante de Planck, h , dividida por 2 π . Esta é, portanto, uma ma-
neira frequente de se expor a relação entre a precisão da medida de posição e de veloci-
dade ou momento cinético. Entretanto, é possível, por analogia, estender esta relação
de incerteza para outras variáveis, tais como, tempo e energia, ou ainda, a outras, num
aspecto todo matemático em que os parâmetros conceituais perderam já a intuitivida-
de.
Parece-nos então que o princípio de incerteza constitui-se em um novo método,
oferecendo um caminho para pensar o fenômeno microfísico em seus aspectos duais:
corpuscular e ondulatório. Trata-se, portanto, da junção de concepções conceituais an-
tagônicas e temos aí um problema de conceitualização onde, a partir do real, deve-se
descrever o imaginário. Fenômenos microfísicos são descritos a partir de observações
de seus “sinais” e não da observação experimental direta.
Mesmo que o princípio de incerteza parta da concepção de que não se deva utili-
zar grandezas que não são efetivamente mensuráveis, sabemos que os aspectos ondu-
latórios e corpusculares não podem ser medidos simultaneamente. Para “realizar” ou
tornar real o conceito de dualidade, não basta um traço de junção ou o acréscimo da
preposição “e” entre os dois adjetivos, formando o termo “onda-partícula” ou “onda e
partícula”. Instaura-se, aqui, um problema de conceitualização na Física Quântica, que
até nos dias atuais não está resolvido. Não há consenso sobre qual é o melhor termo
para descrever ou caracterizar a entidade quântica. Ou seja, empregamos palavras que
definem o mundo macroscópico num âmbito microscópico.
Os conceitos de onda e de partícula têm caráter universal distinto para descrever
o mundo clássico, fenômenos aos quais estamos acostumados a observar no mundo real
que temos contato direto, de onde tiramos informações, interagimos e conceitualiza-
mos.
Entretanto, a partir de Heisenberg e seu princípio, temos uma proposta de trans-
por o real – o palpável para o “real-imaginário” – e sentimos por isso as limitações das
atribuições realistas da linguagem.
Bachelard nos aponta que, de certa forma, devemos reagir aos “arrebatamentos
do pensamento falado” (Bachelard, 1985, p. 112).
A própria utilidade fornece uma espécie de indução muito especial que pode-
ria ser chamada de indução utilitária. (...) Todo pragmatismo, pelo simples
fato de ser um pensamento mutilado, acaba exagerando. O homem não sabe
limitar o útil. O útil, por sua valorização, se capitaliza sem medida. (Ibid,
p.114).
Logo, o verdadeiro deve ser acompanhado do útil. O verdadeiro sem função
é um verdadeiro mutilado. E, quando se descobre a utilidade, encontra-se a
função real do verdadeiro. Esse modo de ver utilitário é, porém, uma aber-
ração.(Ibid, p.117).
O O b s tá c u l o S u b s ta n c i a l i s ta :
(...) a noção psicológica do “vira-se do avesso como uma luva” está muito
arraigada no inconsciente. Deu origem, como se vê, a um falso conceito de
substância. (Ibid, p.125).
O O b s tá c u l o A n i m i s ta :
Justamente por se tratar de uma explicação fácil para uma larga gama de fe-
nômenos (embora quase sempre não sendo verdadeira) é que o espírito “preguiçoso”
em refletir criticamente se apega ao animismo. A complexidade, a regularidade e a
capacidade de organização do vivo são tão atraentes e fascinantes para o espírito pré-
científico, que servem como uma explicação eficiente até para os fenômenos físicos:
O O b s tá c u l o da Libido:
A síntese dos contrários era tida, pelos alquimistas, como o processo fundamen-
tal por meio do qual os fenômenos acontecem. Nos tratados alquímicos, são comuns os
desenhos retratando o rei e a rainha deitados no leito, representando os princípios ativo
e passivo da natureza, de cujo ato sexual resulta diversos acontecimentos (Jung, 1991).
Daí decorre, de acordo com Bachelard, um certo maniqueísmo, que, inclusive, pode
levar à conclusão que a manifestação de um atributo de uma substância é prova de que
a sua real natureza é oposta a esse atributo:
Os remédios que têm mau gosto e mau cheiro são vistos como os melhores. O
que amarga na boca é bom para o corpo. Pode-se afirmar que todo o pensa-
mento pré-científico desenvolve-se na dialética fundamental do maniqueís-
mo. (Ibid, p.246).
Uma análise superficial dos obstáculos apresentados até aqui, poderia sugerir
que o cerne do problema relacionado com eles, é o seu grau de subjetividade e o fato
deles todos serem de natureza qualitativa, ou, em outras palavras, que a matemática
e o conhecimento quantitativo poderia “salvar” o espírito científico dos meandros dos
obstáculos epistemológicos. Contudo, Bachelard adverte que esse tipo de pensamento,
tão comum nas academias científicas, se constitui propriamente num outro tipo de
obstáculo: o obstáculo quantitativo.
O M at e r i a l i s m o T é c n i c o
O r a c i o n a l i s m o p r át i c o i m p l i c a u m a i n t e r p r e ta ç ã o
teoria/técnica
Não podemos esquecer que as contribuições das obras de Bachelard são muito
amplas e certamente esse fascículo não conseguiu dar conta de tudo. Por isso, precisa-
mos continuar estudando esse importante epistemólogo da Ciência, que ao recorrer a
psicanálise para explicar os obstáculos à produção do conhecimento científico e desva-
lorizando outras dimensões desses mesmos obstáculos, assim como pela importância
que atribui a uma razão despsicologizada, nos orienta para um psicologismo do conheci-
mento científico.
A filosofia do novo espírito científico, constituindo-se em uma pedagogia da
produção científica e da história da ciência, nos alerta para uma consciência aberta, crí-
tica e do diálogo, capaz de compreender o passado mediante a modernidade. Por outro
lado, o racionalismo aplicado, reflete o compromisso necessário, ciência e filosofia, faz
da razão uma razão constituinte, aberta, polêmica, que rompe com os modelos formais
e absolutos da razão constituída, sistemática e fechada.
A t i v i d a d e
Construa um t e x t o a pa r t i r d a s e g u i n t e a f i r m a ç ã o d e Gaston
Bachel ar d:
A t i v i d a d e
S u g e s tã o de Leitura
A t i v i d a d e
S u g e s tã o de Leitura
Na página http://catatau.blogsome.com/2006/08/06/ebookslivros-de-
gaston-bachelard-para-download/ você consegue a cópia de vários textos
de Gaston Bachelard de domínio público, mas em francês. Vai encarar?!?!
O Século XX ficou marcado na história por um elevado nível de desenvolvimento da ciência. Por
outro lado, esse século também foi marcado pelas muitas reflexões e debates/embates sobre as
implicações dessa mesma ciência que tanto se desenvolveu. Esses debates aumentaram a partir da Segunda
Guerra Mundial. O argumento para que isso ocorresse foi que essa ciência contribuía para levar o mundo
à destruição. Sobre isso Camus (1946) escreveu: ‘ (...) o século XVII foi o século das matemáticas, o XVIII, o
das ciências físicas, e o XIX, o da biologia. Nosso século XX é o século do medo.’
Surgiu a partir dessa época uma intensa preocupação com o tema, o que levou a UNESCO, nos
anos 50, a publicar sobre o impacto da ciência e a sociedade. Uma década depois, com o aprofundamento
e continuidade desse debate, eis que foi publicado o livro A Estrutura das Revoluções Científicas, tra-
zendo uma proposta de mudança na nossa concepção de ciência, a partir de um conceito que emergisse da
história da própria atividade científica.
Quem escreveu esse livro tão importante foi Thomas Kuhn. Vamos conhecer um pouco sobre ele?
Leia o texto: Uma breve biografia de Thomas Kuhn.
Outras obras de Th o m a s K u h n :
Ne-
A revolução Coperni- Teoria do Cor po A Tenção Superficial
O Caminho desde a Es-
dade
cana - 1957; gro e Descontinui - 1989;
trut ura - 2006;
Quântica - 1979;
Fi q u e at e n t o , p o i s i s s o é m u i t o i m p o r ta n t e ! ! !
Paradigma tem sido um termo usado frequentemente para designar pontos de vis-
ta, ou maneiras de ver o mundo, contudo, não é bem assim. O conceito de paradigma
deve ser empregado para designar um conjunto de compromissos de pesquisas de
uma comunidade científica ou de um grupo de pesquisadores, que engloba crenças,
valores, técnicas partilhadas. Há, portanto, um conjunto de conceitos, técnicas expe-
rimentais e teóricas, generalizações simbólicas, modelos e valores por meio dos quais o
mundo é percebido, significado e problemas fundamentais são resolvidos. Quando uma
comunidade científica assume um paradigma, adquire também
A t i v i d a d e
critérios para a escolha de problemas que, podem ser considera-
dos como dotados de uma solução possível. Os problemas, tipo
Faça uma pesquisa e apre-
quebra-cabeça, são os únicos que a comunidade científica ad-
sente os principais paradigmas da
mitirá como científicos ou encorajará seus membros a resolver
MATEMÁTICA e da
(Kuhn apud Ostermann, 1996).
BIOLOGIA.
Principais paradigmas na F ísica
Teoria do Caos
1970 F ísica Quântica
1920
Relatividade
1910
F ísica Newtoniana
1700/ 1800
http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc20/v20a06.pdf
Ciência Normal
Crises e Anomalias
Para Kuhn (p.105), o significado das crises consiste exatamente no fato de que
indicam que é chegada a ocasião de renovar os instrumentos.
No processo de desenvolvimento de qualquer ciência, o primeiro paradigma ex-
plica com sucesso, boa parte das observações e experimentos no que se refere ao mesmo
e a continuidade sempre requer o desenvolvimento de equipamentos, vocabulário, téc-
nicas e refinamento conceitual que se distancia do senso comum. Por outro lado, nesse
processo de profissionalização a favor do paradigma vigente, proporciona uma visão
restrita da ciência e consequentemente resistência a mudanças paradigmáticas, ou seja,
os adeptos entram na zona de conforto de um conhecimento estável, que dá conta de
uma série de problemas tradicionais e refinamento de técnicas. Como já foi dito, esse é
um período estável em que a ciência normal é praticada. Contudo, se começa a fracas-
sar em produzir resultados esperados, os problemas antes encarados como quebra-ca-
beças, passam a ser considerados como anomalias, gerando um estado de crise na área
de pesquisa. Essas anomalias só são possíveis de serem identificadas, pela rigidez da
ciência normal, que nos informa de maneira detalhada, o que deveríamos esperar entre
a integração da teoria com as observações realizadas, uma anomalia caracteriza-se por
uma espécie de recusa de enquadramento ou assimilação pelo paradigma existente.
Kuhn nos explica que são episódios de desenvolvimento da ciência, não acumu-
lativos, nos quais um paradigma que caracteriza um período de ciência normal, é par-
cial ou completamente substituído por um novo e incompatível com seu antecessor. A
princípio parece-nos natural que seja uma revolução e não uma simples substituição,
uma vez que a incapacidade de resolver novos problemas se torna evidente demais e
incômoda para uma certa comunidade de cientistas, ocorre um sentimento crescente
de que o paradigma atual, deixou de funcionar a contento na exploração de aspectos da
natureza. Esse sentimento sim é acumulativo, provoca uma crise pré-paradigmática,
pré- requisito para uma dissidência ou se preferir uma revolução. Não é dado ao espírito
científico, simplesmente abandonar, mas buscar falhas e novas soluções mais satisfató-
rias para suas indagações.
Em princípio, um novo paradigma pode emergir, sem reflexos destrutivos a algu-
ma prática científica mais antiga, sem entrar em conflito com suas predecessoras, por
tratar de fenômenos antes desconhecidos, como é o caso da Mecânica Quântica (MQ )
que trata de descrever fenômenos relacionados ao mundo atômico, desconhecidos até
meados do século XX, neste caso, ainda hoje se discute se a MQ não seria uma teoria
que engloba a mecânica Newtoniana, portanto, estaria em um nível acima desta.
Como vimos, muitas anomalias geram um estado de crise e deixa-se de fazer
ciência normal para se fazer, o que Kuhn chama de ciência extraordinária. Emergem
nova teorias, modificações nos problemas e técnicas, surgem novos valores, novos con-
ceitos e, é um período marcado pela insegurança profissional. Exemplos marcantes
na história da ciência podem ser enumerados: ao final do Séc. XVI o fracasso do pa-
radigma ptolomaico e surgimento do paradigma copernicano; no início do Séc. XX,
fracasso do paradigma newtoniano e surgimento do paradigma relativístico (Teoria da
Relatividade).
Resumindo, a transição de um paradigma para outro é chamada de Revolução
Científica e durante o período de transição o antigo e o novo paradigma competem
pela preferência dos membros da comunidade científica. Os paradigmas rivais são
maneiras diferentes de ver o mundo, diferentes concepções que não são compatí-
veis.
Kuhn emprega a expressão incomensurabilidade de paradigmas, para explicar
padrões científicos e definições diferentes que preveem coisas distintas ao final.
Para Kuhn, a Ciência tem um caráter revolucionário que pode ser assim repre-
sentado:
A t i v i d a d e s
Após mais de uma década da publicação das Estruturas das Revoluções Cientí-
ficas, Thomas Kuhn participou de uma conferência que tinha como tema “Objetivida-
de, juízo de valor e escolha teórica” e coloca a seguinte questão:
Pense e responda!
Bachelard, G. (1934) - O Novo Espírito Científico - Edições Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, Ed. 1985.
Bachelard, G. (1938) - A Formação do Espírito Científico - Editora Contraponto, Rio de Janeiro, Ed. 1996.
Japiassu, H. A revolução científica moderna. São Paulo: Letras e Letras, 1997.
Lopes, A.R.C. (1993). Contribuições de Gaston Bachelard ao ensino de ciências. Enseñanza de las ciencias,
11(3), 324-330.
BACHELARD, Gaston. O direito de sonhar. Rio de Janeiro: Difel, 1986.
____________________. A poética do espaço. In: Bachelard. São Paulo:Nova Cultural (Col. “Os Pensa-
dores”), 1988.
____________________. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
____________________. Fragments d’une poétique du feu. Paris: PUF, 1988.
____________________. A chama de uma vela. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
____________________. A água e os sonhos.São Paulo: Martins Fontes, 1989.
____________________. O ar e os sonhos. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
____________________. A terra e os devaneios do repouso. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
A Epistemologia de Th o m a s K u h n
Chalmers, A.F. (1999). O que é ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense. 225p. Tradução do original
What is this thing called science?, 1976.
Kuhn, Thomas A. (2001). (6ª ed.). A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 257.
Tradução do original The structure of scientific revolutions, 1962, The University of Chicago Press.
Kuhn, T. S. A Revolução Copérnica. Tradução Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1990.
________. A tensão superficial. Tradução Rui Pacheco. Lisboa: Edições 70, 1989. Tradução da edição ameri-
cana de 1987.
Ostermann, F. (1996). A epistemologia de Kuhn. Caderno Catarinense de Ensino de Física, Florianópolis,
13(3): 184-196.