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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

CAMPUS – PROF. ARISTON DIAS LIMA


LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
Disciplina: História das Ideias Políticas E Sociais
Docente: Weslley Sousa

Alonso Alves da Silva Neto

ANÁLISE DO FILME “A ONDA”

São Raimundo Nonato – Piauí, janeiro 2018


CONTEXTUALIZAÇÃO – O QUE É AUTOCRACIA?
Reservo este espaço para contextualizar a autocracia, apresentando seus conceitos:
Autocracia tem o sentido, a partir da análise dos radicais gregos autos (por si próprio) e
kratos (poder), de poder por si próprio (Gasparetto, 2013). É uma forma de governo na qual
há um único detentor do poder político-estatal, isto é o poder está concentrado em um único
governante, podendo ser este um líder, um comitê, um partido, uma assembleia, etc. O
governante tem controle absoluto em todos os níveis do Estado. O termo autocracia tem
funcionalidade apenas para descrever a concentração ou a distribuição do controle do poder
estatal, não servindo para avaliar a presença ou ausência de legitimidade democrática de um
governo (Loewenstein, 1976, p. 33). Há, com efeito, a possibilidade de um governo
autocrático ascender ao poder via eleições democráticas e mesmo realizar eleições
periodicamente (Loewenstein, 1976, p. 33).

ANÁLISE – A ONDA (DIE WELLE), ALEMANHA, 2008


A Onda (Die Welle) é um filme alemão dirigido por Dennis Gansel inspirado no livro de
mesmo nome de autoria de Todd Strasser lançado em 1981 e no experimento “A Terceira Onda”
realizado pelo professor de história norte-americano Ron Jones em 1967 na escola Cubberley High
School em Palo Alto, Califórnia.
O filme trata de um professor de postura bem liberal que, ao saber que no projeto semanal, o
tema anarquia seria dado a outro professor e com ele o tema autocracia, demonstra sua insatisfação
e, sem saber muito como proceder, resolve fazer um experimento pedagógico e demonstrar como o
pensamento fascista e autocrático pode florescer até mesmo em uma sociedade que os nega.
O filme começa bem descontraído, com o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel)
descontraidamente indo para mais um dia de aula ouvindo Ramones em seu carro, com alguns
quadros ambientando a cidade, logo pós, ele chega à escola, onde somos apresentados à sua esposa
Anke Wenger (Christiane Paul) que lhe diz que a diretora quer falar com ele. Ao chegar na sala da
direção, a diretora Kohlhage (Maren Kroymann) lhe comunica que o tema do seu projeto semanal é
autocracia, o que visivelmente o chateia, pois gostaria de ficar com anarquia. Então, ao perguntar
com quem havia ficado com o tema anarquia, ela o informa que o professor Dieter Wieland (Hubert
Mulzer) havia ficado com anarquia. Aqui somos apresentados a um professor com ares de
conservador, arrogante e antipático, o qual claramente não tem muita simpatia por Wenger e não
aceita trocar as disciplinas. Após isso, somos apresentados a alguns personagens chave da trama (os
alunos), cada qual com suas próprias personalidades, motivações, embora alguns não se
aprofundem tão bem quanto outros, para um filme curto, a desenvoltura das personalidades de cada
um se dá bem fluida e algumas nuances começam a ser percebidas.
Um dos pontos principais para entendimento da trama e como a temática se desenvolve e se
apresenta no filme, é justamente nessa primeira interação entre a turma e o professor, onde os
alunos mostram um descontentamento em discutir o Terceiro Reich, afirmando que é um tema
enfadonho e que os alemães já superaram aquilo, então não poderia se repetir, há também uma certa
evasão a respeito dos neonazistas, onde outro aluno afirma que não poderiam ser culpados pela
ignorância alheia. Wenger tenta imprimir algumas folhas, mas os alunos mais uma vez estão
saturados, então, Wenger pensa bem e resolve mostrar na prática como se surge uma autocracia,
motivando os alunos primeiro com exercícios e dizendo o propósito saudável deles.
A partir daí o filme vai aos poucos acrescentando os conceitos do curso na prática: “força
pela disciplina, força pela comunidade, força pela ação, força pelo orgulho”, e Wenger, ao ver os
alunos motivados, achava que os estava estimulando a um aprendizado, mas, cada um deles tinha
seus próprios interesses e suas próprias motivações então, o grupo, independente do líder, começou
a fazer suas próprias regras e suas próprias leis. A presença da autocracia no filme está no fato de
que o movimento criou sua própria ideologia e começou a promulgar regras estabelecidas por eles
mesmos aos outros que nem mesmo faziam parte do grupo, aos poucos excluindo quem não fazia
parte e elegendo inimigos (no caso do filme, os anarquistas), o fascismo se apresentava na
padronização das vestimentas, saudação orgulhosa a fim de identificar simpatizantes (força pela
comunidade, força pelo orgulho). O filme demonstra magistralmente que um regime autocrata e
fascista pode surgir até mesmo dentro de outra forma de governo – democracia, por exemplo – e
não necessariamente pode surgir à força, o grupo ou líder idealizador pode ser eleito por voto
público e, uma vez no poder, pode usar os mesmos artifícios para iniciar uma autocracia fascista.
Essas reflexões são bem importantes, especialmente no atual cenário político do nosso país,
onde ideias fascistas cada vez se tornam mais atraentes, e muitas pessoas não refletem sobre como
isso pode afetar a plano geral. Outro exemplo demonstrado no filme, embora não comentado nem
evidenciado, mas foi perceptível por este que redige esta análise, foi como o paradoxo da tolerância
foi extremamente bem demonstrado no decorrer das ações do filme. Segue abaixo o conceito:
Menos conhecido é o paradoxo da tolerância: tolerância ilimitada leva ao desaparecimento
da tolerância. Se estendermos tolerância ilimitada até mesmo para aqueles que são
intolerantes, se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante contra a
investida dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância junto destes.
(Popper, The Open Society and its Enemies, vol. 1, 1945)

Logo, ao decorrer do filme, os personagens dão diversos exemplos de como seu movimento é bom,
como os faz sentir bem, como deve ser compreendido e, quanto mais espaço e liberdade ganhavam,
mais restrições aos outros eles impunham. Outro ponto a ser considerado, é a tentativa de seus
seguidores tentarem apontar os motivos benéficos por trás do movimento, tentando justificar seu
comportamento ao se depararem com a verdade de que haviam se tornado um movimento autocrata
e fascista “Sim, mas nem tudo na Onda é ruim! ”, o que demonstra que o poder da ideologia é capaz
de tornar até o mais pacato em um ditador sem escrúpulos, tudo para defender sua ideologia,
enquanto que para outros, a ideologia significava o sentido de sua vida.

REFERÊNCIAS
GANSEL, dennis. A Onda. Alemanha, 2008.
Ficha técnica do filme: http://www.imdb.com/title/tt1063669/?ref_=fn_al_tt_1

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