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O que é o suicídio:
- Começou a ser colonizada a partir de 1861 por imigrantes da Pomerânia, uma região
da Alemanha perto da Polônia. Esses imigrantes desbravaram o Vale do Itajaí, inclusive
a região que é agora conhecido como município de Pomerode. Em 1870 a primeira
escola alemã foi fundada. (site da Prefeitura de Pomerode Prefeitura de Pomerode,
2018).
- Ocupa a 39ª posição em município com melhor IDH dentre 5570 municípios brasileiros
(IBGE, 2010 apud site da Prefeitura de Pomerode Prefeitura de Pomerode, 2018).
- Ppopulação estimada em 2017 de 32.334 pessoas. A pirâmide etária de 2010 mostra
que há um maior número de pessoas entre a faixa etária de 25 a 29 anos tanto entre os
homens quanto entre as mulheres. Até a faixa etária de 55 a 59 anos há uma maior
predominância de homens, apesar de não haver uma diferença grande entre os
gêneros (IBGE, 2010).
- Grande parte da população pertence a uma religião (94,39%). A mortalidade infantil
é baixa, com 13,23 óbitos por mil nascidos vivos, mesmo assim dentre os 5570
municípios brasileiros, Pomerode ficou apenas no lugar 2440º em termos de
mortalidade infantil. Em termos de escolarização ficou em 982º lugar (IBGE, 2010)
2.4 Vivências de descendentes alemães no Brasil no período da
Segunda Guerra Mundial
Médias: 13,35 suicídios por 100 mil habitantes em Pomerode, 8,22 de suicídios por 100
mil habitantes na Região Sul do Brasil e 5,02 suicídios por 100 mil habitantes no Brasil.
A taxa suicídio de Pomerode é maior do que a taxa da Região Sul (1,62 vezes maior) e
maior ainda do que a taxa do Brasil (2,66 vezes maior). A taxa de suicídios da Região Sul é
considerada a mais alta do Brasil e Pomerode ainda se enquadra acima da média da
Região Sul. Pomerode também fica com uma taxa de suicídio acima da média mundial
(média de 13,35 por 100 mil habitantes contra 11,4). Assim, podemos constatar que
Pomerode tem uma taxa de suicídio alta comparada ao resto do Brasil.
Análise do levantamento bibliográfico
- O estudo mostrado por Gonçalves, Gonçalves e Júnior (2011) que indicava que
quanto maior a idade média da população maior é o risco de suicídio não
se aplicou em Pomerode, pois a pirâmide etária do IBGE mostrou que a faixa
etária com o maior número de pessoas é entre 25 a 29 anos. Porém esse dado vai
de acordo com os dados brasileiros levantados por Lovisi et al. (2009) que diz que
a maioria dos suicídios foram cometidos por homens entre 20 a 29 anos
- O fato dos homens cometerem mais suicídios também foi mostrado por Durkheim
(1897). Assim essas informações estão em consenso com o dado do censo que
mostra que até a faixa etária de 55 a 59 anos há uma maior predominância de
homens. O maior número de homens no município do que mulheres não pode ser
relacionado diretamente ao suicídio, mas é um fator que influencia na sua
ocorrência.
- Lovisi et al. (2009) também aponta que pessoas com pouca educação formal
são mais propensos ao suicídio. Pomerode se encontra relativamente numa
classificação considerável em termos de escolarização (982º de 5530), então esse
dado acaba não sendo a realidade do município.
- Um fator que não se aplicou em Pomerode é a religião, pois segundo a OMS (2014) a
religião é um fator de proteção e, mesmo a maioria tendo uma religião (94,39%), ainda
sim o índice de suicídio do município foi alto.
- Considerando que a mortalidade infantil é um índice para avaliação da qualidade de
saúde da região e considerando também que o índice de mortalidade infantil em
Pomerode é relativamente baixa (13,23 óbitos por mil nascidos vivos), podemos supor que
a população tem acesso ao sistema de saúde, então não estaria exposto a esse fator de
risco. Assim a questão do acesso à saúde apontado pela OMS e por Middleton et al.
(apud GONÇALVES, GONÇALVES e JÚNIOR, 2011)pode ser descartada. Porém outras
regiões do Brasil parecem ter mais proteção por esse fator, pois Pomerode ficou apenas
em 2440º termos de mortalidade infantil nas regiões brasileiras.
- Retomando Chesnais (1981) que acreditava que o suicídio é de natureza histórica,
cultural e individual (apud MIYANO, 1998) e Durkheim (1897) que acreditava que o
suicídio tinha uma tendência social podemos tentar entender a população de Pomerode
pelo documentário Sem Palavras (2009). O documentário mostra claramente que os
descendentes de alemães passaram pelos fatores de risco citados pela OMS (2014):
guerras, estresse de aculturação, discriminação, isolamento, abuso e violência.
- A guerra pode ser vista nesses dois relatos: “Prima, o vizinho Hoffmann foi
listado para ir ao front. Já não basta o estado de guerra e agora nossas famílias
e também as italianas convivem com a ideia de ter os filhos recrutados pela
Força Expedicionária Brasileira. Já pensou em lutar contra nossos próprios
parentes? Tenho medo de estar na lista.”; “Meu diário, faz tempo que as cartas
não chegam. Nada sei da família na Alemanha desde que meu tio foi
convocado como soldado de Hitler, ele deve estar e batalha. Sintonizamos o
rádio na madrugada, mas só ouço bombas.”
- O estresse de aculturação aparece nos seguintes relatos: “De hoje para a
manhã a aula passou a ser em português que para mim, para nos todos, era
grego.”; “Meus pais não falavam português e eu naturalmente também não.
Então a gente via, a gente sentia essa insegurança. Medo, sabe?” - Rovenia
Heise – Blumenau
A discriminação, abuso e violência apareceram bastante no documentário, sempre juntos,
principalmente devido a Campanha de Nacionalização de Getúlio Vargas: “A gente tinha
medo. Medo de andar na rua. Lembro também um dia quando voltávamos do colégio,
minha irmã mais velha chama a mais nova... nisso passa um policial. Nos pegou pelo braço e
nos ameaçou em botar na cadeia. Imagina nós crianças. O medo.”; “Eu era professora em
Brusque. Tinha espiões lá, aí falaram que eu falei alemão. Perdi meu emprego. Era pesado
porque era perseguição.” - Gisela Grempel – Pomerode; “Eu era a única que tinha um nome
alemão na minha aula. Eu vinha sozinha para casa. E as minhas amigas, as colegas vinham
atrás de mim, me rodeavam e queriam me esbofetar, e xingavam, então eu
ficava sozinha choram naturalmente.”. “A gente não podia andar assim na calçada, tinha
que andar no meio da rua porque a ente levava cuspidelas das janelas e isso foi muito
marcado para mim.” - Helga Springman – Florianópolis; “Elisabeth, espero que este bilhete
chegue em suas mãos. Fomos trazidos para Florianópolis e os pastores ficaram presos no
porão da Escola Alemã, transformada em delegacia. E os outros estamos em Trindade. A
intenção é nos calar. Sabemos que aluns tem envolvimento com o partido, mas muitos não.
Vamos sobreviver trabalhando pesado para não enlouquecer. Alguns ajudam na reforma da
Penitenciária do Estado... Já perdi a noção do que é certo e de quem é quem nessa
perseguição. Que Deus proteja vocês.”; “Querido diário, o clima de desconfiança está
insuportável, com xingamentos e pedradas misteriosas na janela. Nas portas, deixam
recados: cuidado, estamos de olho em vocês.”
- Contudo, podemos observar que não houve uma boa integração dos
descendentes de alemães no Brasil. Isso vai de encontro com a afirmação de
que o suicídio varia na razão inversa do grau de integração do grupo que o
indivíduo faz parte. (DURKHEIM, 1897)
- Mesmo que isso tudo ocorreu em uma época anterior a atual, a história faz
parte da geração atual e isso também está muito carregado na cultura alemã
do Brasil. Pomerode é conhecida popularmente por ser a cidade mais alemã do
Brasil e até os relatos do documentário Sem Palavras (2009) apresentam relatos
de pessoas de Pomerode. Assim podemos ver que os cidadãos de Pomerode
carregam um passado sofrido, o que pode levar a transtornos mentais e ao
suicídio. Como um relato diz: “Muito medo, muito medo. Tudo era medo. Aquele
ambiente hostil, sabe? Aquele ambiente de medo. O clima, como deixa a gente.
Isso fica gravado na gente, daí a gente fica impressionada.” - Ingebur Marzall
Berner – Blumenau; “Tudo o que é ligado a uma emoção a gente não esquece,
seja uma emoção positiva ou negativa, a gente nunca esquece.“ - Ria Ehel
Schlosser – Balneário Camboriú; “ ...os traços ficam, né, e não só da última
geração, tem mais gerações dentro da gente né?”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
- DURKHEIM, É. O suicídio: Estudo de Sociologia. 1º edição. São Paulo: Martins Fontes. 2000.
- GONÇALVES, L. R. C.; GONÇALVES, E.; JÚNIOR, L. B. O. Determinantes espaciais e
socioeconômicos do suicídio no Brasil: uma abordagem regional. Nova Economia. Belo
Horizonte, 21 (2): 281-316, mai-ago. 2011
- LOVISI, G. M. et al. Análise epistemológica d suicídio no Brasil entre 1980 e 2006. Revista
Brasileira de Psiquiatria. Rio de Janeiro, 31(Supl II): S86-93. 2009
- MINAYO, M. C. S. A autoviolência, objetivo da sociologia e problema de saúde pública.
Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 14(2): 421-428, abr-jun. 1998
- VIDAL, C. E. L.; GONJITO, E. C. D. M.; LIMA, L. A. Tentativas de suicídio: fatores pronósticos e
estimativa do excesso de mortalidade. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 29(1): 175-187,
jan. 2013
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Preventing suicide: a global imperative. World Health
Organization. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data. 2014
- Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS). Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10sc.def>. Acesso em: 06 fev.
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- ______. Disponível em:
<http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=060701http://www2.datasus.gov.br/DATASU
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- Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Disponível em:
<https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2015/estimativa_dou.shtm >.
Acesso em: 07 fev. 2018.
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catarina|pomerode>. Acesso em: 07 fev. 2018. - ______. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/pomerode/panorama>. Acesso em: 07 fev. 2018.
- PREFEITURA MUNICIPAL DE POMERODE. Seja bem vindo ao portal de Pomerode. Disponínel em:
< http://www.pomerode.sc.gov.br/Sobre.asp>. Acesso em: 22 fev. 2018.
- SEM Palavras. Direção: Kátia Klock. Produção: Maurício Venturi. Contraponto. 2009. HDV (53'19").
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global Health Observary (GHO) data. Disponível em:
<http://www.who.int/gho/mental_health/suicide_rates/en >. Acesso em: 22 fev. 2018.