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UM ESTUDO SOBRE A TAXA DE SUICÍDIO NO MUNICÍPIO DE

POMERODE: UMA ANÁLISE SOCIAL E EPISTEMOLÓGICA A


PARTIR DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE
MORTALIDADE (SIM)

Cristiane Lumi Nakazawa


Graduada em Psicologia pela UNIFESP e graduanda em Saúde Pública com Ênfase
em Saúde da Família pelo Centro Universitário UNINTER
Orientador: Edna Marcia Grahl Brandalize Slob
Graduada em Enfermagem Obstetrícia e Licenciatura em Enfermagem pela UFPR,
Especialista em Metodologia da Ciência e Magistério Superior Auditora de
qualidade, Professora Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC do
Centro Universitário UNINTER
RESUMO
Este artigo se baseia numa pesquisa mista ou quali-quantitativa e pretende atestar o
alto índice de suicídio do município de Pomerode comparando dados quantitativos e de
suicídio entre 100 mil habitantes do Brasil, da região Sul e do município a partir dos dados
do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Sistema de Informática do Sistema
Único de Saúde (DATASUS) e dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), e
entender o fenômeno do suicídio no município a partir de uma análise, social, histórica e
epistemológica. Para essa análise nos utilizaremos de artigos e do documentário Sem
palavras.
O levantamento pelas estatísticas mostram que o município de Pomerode apresenta
uma média de suicídio entre os anos de 2005 a 2015 maior do que a médio do Brasil.
Enquanto o município de Pomerode tem 13,35 casos por 100 mil habitantes, o Brasil tem
5,02 casos por 100 mil habitantes. Este dado é reflexo da própria cultura e história da
região.

PALAVRAS-CHAVE: Pomerode, suicídio, social, histórica, epistemológica


1 INTRODUÇÃO

É verídica a afirmação de que os índices de suicídios no município de


Pomerode são altas?
- É de conhecimento geral da população do município que o suicídio é um problema
recorrente, mas ainda não há dados estatísticos que embasem esse conhecimento
- Dados levantados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Sistema de
Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) de número de suicídios
- Serão comparados entre si por: município de Pomerode, Região Sul e Brasil
- Cruzados com dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE)

Como entender esse fenômeno pelo ponto de vista social, epistemológico e


histórico?
- Dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) para o cruzamento de informações de
características regionais, culturais, sociais, etc
- Análise social, epistemológica e histórica
- Documentário Sem Palavras (2009)
2 DADOS E INFORMAÇÕES SOBRE O SUICÍDIO EM ÂMBITO INTERNACIONAL E
NACIONAL E INFORMAÇÕES SOBRE O MUNICÍPIO DE POMERODE E SOBRE A
CULTURA ALEMÃ NO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

2.1. Dados e informações sobre o suicídio em âmbito internacional

O que é o suicídio:

- OMS (2014) define suicídio como o ato de deliberadamente se matar e a tentativa


de suicídio como um comportamento suicida não fatal com intensão de
autointoxicação, autolesão e se automultilação que pode ou não ter um intento fatal.
O comportamento suicida é um conjunto de comportamentos que incluem
pensamentos ou ideação sobre o suicídio, planejamento do suicídio, tentativa de
suicídio e o próprio suicídio.
- Durkheim (1897, p. 11) define o suicídio como “...toda morte que resulta mediata ou
imediatamente de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela
sabia que produziria esse resultado. A tentativa é o ato assim definido mas
interrompido antes que dele resulte em morte.”
Impacto do suicídio em âmbito geral

- O suicídio foi responsável em 2012 por 804.000 mortes no mundo,


sendo uma morte por suicídio a cada 40 segundos. A morte por
suicídios representa assim uma média de 11,4 mortes por 100.000
pessoas (15 para homens e 8 para mulheres), e mesmo essas
estatísticas muito provavelmente estão abaixo da realidade (OMS,
2014);
- Mundialmente o suicídio representa 50% das mortes violentas por
homens e 71% por mulheres.
- Entre jovens de 15 a 29 anos o suicídio é globalmente a segunda
maior causa de morte e 75% dessas mortes ocorrem em países
subdesenvolvidos.
Análise do suicídio

- Cada sociedade tem uma posição definida para o suicídio em cada


momento histórico (guerras, mudanças de governo e revoluções
comerciais, etc) (Durkheim, 1897)
- Pesquisas mostram que há fatores biológicos, psicológicos, sociais,
ambientais e culturais nos comportamento suicidas. (OMS, 2014);
- O suicídio é de natureza histórica, cultural e individual, que se
expressa biopsicossocialmente nos indivíduos. Desse modo, esse autor
vê que há fatores externos e internos que se cruzam (Chesnais, 1981,
apud MIYANO, 1998)
Informações em âmbito mundial

- Em alguns países também o suicídio é estigmatizado e até ilegal (OMS,


2014);
- O suicídio tende a ser mais alto entre pessoas de 70 anos ou mais e mais
baixo entre jovem até 15 anos, mas em alguns países o índice de suicídio é
maior em jovens.(OMS, 2014)
- Um estudo na Hungria, dos 853 suicídios ocorridos em um ano em
Budapeste, 66,66% eram pessoas doentes, metade com doenças cronico-
degenerativas, 25% tinham internação psiquiátrica e os outros 25% tinham
perturbações neuróticas ou psicóticas (CHESNAIS, 1981 apud MIYANO,
1998).
- Pessoas com dois transtornos mentais tinham um risco 35 vezes maior de
tentar suicídio do que aqueles sem transtorno. Os transtornos mentais estão
associados a mais de 90% de todos os casos de suicídio (LOVISI et al., 2009)
- Para cada suicídio, há ao menos dez outras tentativas (GONÇALVES,
GONÇALVES e JÚNIOR, 2011)
- Um estudo na Finlândia mostrou que quanto maior a idade média da
população, maior é o risco de suicídio. (MATTI, 1998 apud GONÇALVES,
GONÇALVES e JÚNIOR, 2011).
- A maior parte dos suicídios era cometida por homens
(Durkheim, 1897)
- Os atos suicidas resultam em um significante prejuízo social e
econômico para os sistemas de saúde, pois envolvem tratamentos de
lesões, tratamento psicológico e social e tratamento de debilidades
crônicas provindas das lesões (OMS, 2014).
- Em 1998 custo do suicídio estimado pelos anos de vida ajustados às
limitações representou 1,8% de todo o gasto com doenças no mundo,
sendo o dobro do custo com diabetes e o equivalente ao gasto com
guerras e homicídios.(OMS, 2000 apud GONÇALVES, GONÇALVES e
JÚNIOR, 2011)
Fatores de risco Fatores de proteção
- Meio rural: podem ser explicadas pelo - A taxa de suicídio é inversa ao grau
precário acesso à rede de saúde e serviços de integração do grupo social que o
em geral, pelo declínio econômico e pelo indivíduo faz parte. (Durkheim, 1897)
êxodo rural (MIDDLETON et al., 2003 apud - Políticas sobre a saúde mental,
GONÇALVES, GONÇALVES e JÚNIOR, 2011) políticas sobre o abuso de álcool,
- Incluem dificuldades no acesso ao acesso ao sistema de saúde, mídia
sistema de saúde, guerras e desastres responsável, conscientização sobre os
naturais, estresse de aculturação, transtornos mentais, abuso de
discriminação, isolamento, abuso, substâncias e suicídios, intervenções
violência, conflitos em relacionamentos, degrupos, ajuda em crises, suporte
tentativas anteriores de suicídio, transtornos comunitário, cuidado com
mentais, uso abusivo de álcool, prejuízo comportamentos suicidas, cuidado
financeiro, dor crônica, histórico de suicídio com transtornos mentais e abuso de
na família, má utilização da mídia sobre o substâncias, relacionamentos fortes,
assunto, estigma associado a procura de religião ou crenças espirituais e
ajuda, trauma e abuso, desemprego, estratégias de bem-estar e resiliência
desesperança e fatores genéticos e (OMS, 2014).
biológicos (OMS, 2014).
2.2 Dados de pesquisas sobre o suicídio no Brasil
- O índice de suicídio em 2005 foi de 5,6 mortes por 100.000 habitantes, o que é considerado
baixo. O país ocupa a posição 67 na classificação mundial, mas em números absolutos o país
está entre os 10 primeiros (LOVISI et al., 2009).
- Representa 0,8% das mortes totais e 6,6% das mortes por causas externas. Desse modo o
suicídio fica na 3° posição de mortes por causas externas. Dentre 2000 a 2009 houve um
aumento significativo de 22,5% de casos de suicídio (VIDAL, GONTIJO e LIMA, 2013).
- Entre 1980 a 2006 a taxa de mortalidade por suicídio cresceu 29,5% (de 4,4 para 5,7 mortes por
100.000 habitantes). A maioria dos casos foram: homens (77,3%), idade entre 20 e 29 anos
(34,2%), sem companheiro/a (44,8%) e com pouca educação formal (38,2%). (LOVISI et al.,
2009).
- Souza & Malaquias (1988) mostraram por estudos feitos a partir do Sistema e Informações sobre
mortalidade/MS entre 1979 a 1995, que o suicídio era a 6° maior causa de morte na faixa etária
de 15 a 24 anos em regiões metropolitanas do Brasil (apud MIYANO, 1998).
- A região Sul foi a que teve maior número de suicídios. Ela teve uma média de 9,3 mortes por
100.000 habitantes, seguida pela região Centro-Oeste (6,1 por 100.000 habitantes). Na região
Sul, os homens representam a média de 11,7 suicídios por 100.000 habitantes e as mulheres 3,2
por 100.000 habitantes (LOVISI et al., 2009).
- No ano 2001 o Brasil teve um gasto de R$ 1,3 bilhões em suicídios, o que seria em média um
custo de R$ 163 mil por vítima (OMS, 2000 apud GONÇALVES, GONÇALVES e JÚNIOR, 2011).
2.3 Sobre o município de Pomerode

- Começou a ser colonizada a partir de 1861 por imigrantes da Pomerânia, uma região
da Alemanha perto da Polônia. Esses imigrantes desbravaram o Vale do Itajaí, inclusive
a região que é agora conhecido como município de Pomerode. Em 1870 a primeira
escola alemã foi fundada. (site da Prefeitura de Pomerode Prefeitura de Pomerode,
2018).
- Ocupa a 39ª posição em município com melhor IDH dentre 5570 municípios brasileiros
(IBGE, 2010 apud site da Prefeitura de Pomerode Prefeitura de Pomerode, 2018).
- Ppopulação estimada em 2017 de 32.334 pessoas. A pirâmide etária de 2010 mostra
que há um maior número de pessoas entre a faixa etária de 25 a 29 anos tanto entre os
homens quanto entre as mulheres. Até a faixa etária de 55 a 59 anos há uma maior
predominância de homens, apesar de não haver uma diferença grande entre os
gêneros (IBGE, 2010).
- Grande parte da população pertence a uma religião (94,39%). A mortalidade infantil
é baixa, com 13,23 óbitos por mil nascidos vivos, mesmo assim dentre os 5570
municípios brasileiros, Pomerode ficou apenas no lugar 2440º em termos de
mortalidade infantil. Em termos de escolarização ficou em 982º lugar (IBGE, 2010)
2.4 Vivências de descendentes alemães no Brasil no período da
Segunda Guerra Mundial

Documentário Sem Palavras de 2009


- Santa Catarina teve uma forte colonização alemã e o
documentário mostra relatos de alguns alemães e descendentes
de alemães que moravam no Brasil que ainda vivem na região,
principalmente em Joiville, Blumenau, Florianópolis, Pomerode,
Balneário Camboriú e Brusque.
- Em 1938 Getúlio Vargas iniciou a Campanha de Nacionalização:
“Extinguimos as organizações estrangeiras de caráter político;
proibimos o uso dos seus distintivos e insígnias e, também, a
publicação de jornais em língua estrangeira...”
“As escolas que existiam aqui elas todas foram fundadas por Alemães. Os
professores vinham da Alemanha.” - Brigitte Rosenbrock – Blumenau;
“De hoje para a manhã a aula passou a ser em português que para mim,
para nos todos, era grego.”; “Meus pais não falavam português e eu
naturalmente também não. Então a gente via, a gente sentia essa
insegurança. Medo, sabe?” - Rovenia Heise – Blumenau;
“Em Pomerode não tinha gente que falava em português naquela época.
Todo mundo falava alemão” - Vali Hornburg – Pomerode;
“Logo que me formei com 18 anos fui ser professora em Timbó, e as
crianças lá eram de um meio alemão também. Não sabiam nem o que era
uma borracha, um lápis e o diretor era tão ruim, não deixava falar nem
uma palavra, não queria escutar nem uma palavra em alemão. Então eles
ficavam que nem mudos no recreio e assim, não sabiam falar. Foi horrível
aquele tempo, foi horrível.” - Irene Medved - Florianópolis
Em 1 de setembro de 1939 a Alemanha invadiu a
Polônia e a guerra começou. Isso acabou também
trazendo consequências para os alemães no Brasil.
Segundo o documentário, lojas de estrangeiros
foram depredadas, clubes alemães foram
transformados em cadeias e empresas e bens de
imigrantes foram desapropriados. Alguns perderam
o emprego e outros foram presos.
“A gente tinha medo. Medo de andar na rua. Lembro também um dia quando
voltávamos do colégio, minha irmã mais velha chama a mais nova... nisso passa um
policial. Nos pegou pelo braço e nos ameaçou em botar na cadeia. Imagina nós
crianças. O medo.”; “Eu era professora em Brusque. Tinha espiões lá, aí falaram que eu
falei alemão. Perdi meu emprego. Era pesado porque era perseguição.” - Gisela
Grempel – Pomerode; “O Ramos colocou polícia secreta, sabe? Exatamente para
espionar. Porque era um pecado falar alemão.” - Ria Ethel Chlosser – Balneário
Camboriú; “Aí uma noite eles invadiram a nossa casa. Não sei se eles tinha metralhadora,
porque isso era uma coisa grande lá né? Aí o meu pai alugava livros alemães que
vinham de Florianópolis, queimaram aqueles livros. Depois meu irmão tinha assim
brinquedos que meu pai buscava da Alemanha que não tinha aqui. Eles destruíram tudo.
Eu tinha assim, um jogo de bordado que eu ganhei do padrinho. Arrebentaram tudo,
procurando alguma coisa né? E o que eles puderam quebrar eles quebraram.” - Marta
Kempt – Brusque; “Eu sei que meu pai foi vigiado sim. Porque ele trabalhou lá no
consulado alemão. Então ele foi vigiado e também foi levado para Florianópolis preso...”
- Magrit Hoffman – Pomerode; “Eu era a única que tinha um nome alemão na minha
aula. Eu vinha sozinha para casa. E as minhas amigas, as colegas vinham atrás de mim,
me rodeavam e queriam me esbofetar, e xingavam, então eu ficava sozinha choram
naturalmente.”. “A gente não podia andar assim na
calçada, tinha que andar no meio da rua porque a ente levava cuspidelas das janelas e
isso foi muito marcado para mim.” - Helga Springman – Florianopolis
Em 22 de agosto de 1942 o Brasil se declarou inimigo da Alemanha e entrou na guerra. Juntos
vieram os campos de concentração no Brasil.
“Lembro-me do primeiro Natal em dezembro de 1942. As esposas dos prisioneiros de Blumenau
fretaram os ônibus para visitar os maridos. Partimos de madrugada, pois na época era uma
viagem de algumas horas. Foi a única vez que visitei meu pai. Triste foi a hora de partir, eu
chorei muito. Na rua antes de embarcarmos no ônibus fomos abordados por um grupo de
moleques que apontavam para nós gritando seu quinta colunas. Eu não sabia o significado
disso, mas percebi que era algo ruim e pensei: meus compatriotas.”; “Elisabeth, espero que
este bilhete chegue em suas mãos. Fomos trazidos para Florianópolis e os pastores ficaram
presos no porão da Escola Alemã, transforma em delegacia. E os outros estamos em Trindade.
A intenção é nos calar. Sabemos que alguns tem envolvimento com o partido, mas muitos
não. Vamos sobreviver trabalhando pesado para não enlouquecer. Alguns ajudam na reforma
da Penitenciária do Estado... Já perdi a noção do que é certo e de quem é quem nessa
perseguição. Que Deus proteja vocês.”; “Querido diário, o clima de desconfiança está
insuportável, com xingamentos e pedradas misteriosas na janela. Nas portas, deixam recados:
cuidado, estamos de olho em vocês”; “Prima, o vizinho Hoffmann foi listado para ir ao front. Já
não basta o estado de guerra e agora nossas famílias e também as italianas convivem com a
ideia de ter os filhos recrutados pela Força Expedicionária Brasileira. Já pensou em lutar contra
nossos próprios parentes? Tenho medo de estar na lista.”; “Meu diário, faz tempo que as cartas
não chegam. Nada sei da família na Alemanha desde que meu tio foi convocado como
soldado de Hitler, ele deve estar e batalha. Sintonizamos o rádio na madrugada, mas só ouço
bombas.”
“Muito medo, muito medo. Tudo era medo. Aquele
ambiente hostil, sabe? Aquele ambiente de medo. O clima,
como deixa a gente. Isso fica gravado na gente, daí a
gente fica impressionada. A criança impressiona muito né? E
a gente não esquece isso.” - Ingebur Marzall Berner –
Blumenau; “Tudo o que é ligado a uma emoção a gente
não esquece, seja uma emoção positiva ou negativa, a
gente nunca esquece.“ - Ria Ehel Schlosser – Balneário
Camboriú; “Como a gente aprendeu na infância, depois
disso é difícil de mudar completamente, ficam, os traços
ficam, né, e não só da última geração, tem mais gerações
dentro da gente né?”
3 METODOLOGIA

- Para o levantamento epistemológico nos utilizamos dos dados do censo levantado


pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Grande parte dos dados foram de 2010,
quando o IBGE fez a última coleta de dados mais abrangente no município de
Pomerode.
- Fizemos um levantamento de dados sobre suicídio no município Pomerode a partir do
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), localizado no Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Esse contém dados regulares sobre a
mortalidade no Brasil. Dentro do sistema, para mortes por suicídios, foi feita a procura
por óbitos por causas externas registrados na Classificação Internacional de Doenças-
10 (CID-10) como Lesões autoprovocadas voluntariamente nas categorias X60-X84.
Esses dados foram cruzados com dados sobre a taxa populacional de Pomerode
retirada no IBGE para a formulação do índice de suicídio por 100 mil habitantes.
Gráfico 1 – Suicídio por 100 mil habitantes
Gráfico 2 – Média de suicídio por 100 mil habitantes por território

Médias: 13,35 suicídios por 100 mil habitantes em Pomerode, 8,22 de suicídios por 100
mil habitantes na Região Sul do Brasil e 5,02 suicídios por 100 mil habitantes no Brasil.

Paraa análise qualitativa nos utilizamos do documentário Sem palavras de


2009 pois Pomerode é conhecida por ser a cidade mais alemã do Brasil, assim
carrega muito do passado dos alemães do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
4 ANÁLISE

Índice de suicídio em Pomerode é alto?


Análise do gráfico 2

A taxa suicídio de Pomerode é maior do que a taxa da Região Sul (1,62 vezes maior) e
maior ainda do que a taxa do Brasil (2,66 vezes maior). A taxa de suicídios da Região Sul é
considerada a mais alta do Brasil e Pomerode ainda se enquadra acima da média da
Região Sul. Pomerode também fica com uma taxa de suicídio acima da média mundial
(média de 13,35 por 100 mil habitantes contra 11,4). Assim, podemos constatar que
Pomerode tem uma taxa de suicídio alta comparada ao resto do Brasil.
Análise do levantamento bibliográfico

- O estudo mostrado por Gonçalves, Gonçalves e Júnior (2011) que indicava que
quanto maior a idade média da população maior é o risco de suicídio não
se aplicou em Pomerode, pois a pirâmide etária do IBGE mostrou que a faixa
etária com o maior número de pessoas é entre 25 a 29 anos. Porém esse dado vai
de acordo com os dados brasileiros levantados por Lovisi et al. (2009) que diz que
a maioria dos suicídios foram cometidos por homens entre 20 a 29 anos
- O fato dos homens cometerem mais suicídios também foi mostrado por Durkheim
(1897). Assim essas informações estão em consenso com o dado do censo que
mostra que até a faixa etária de 55 a 59 anos há uma maior predominância de
homens. O maior número de homens no município do que mulheres não pode ser
relacionado diretamente ao suicídio, mas é um fator que influencia na sua
ocorrência.
- Lovisi et al. (2009) também aponta que pessoas com pouca educação formal
são mais propensos ao suicídio. Pomerode se encontra relativamente numa
classificação considerável em termos de escolarização (982º de 5530), então esse
dado acaba não sendo a realidade do município.
- Um fator que não se aplicou em Pomerode é a religião, pois segundo a OMS (2014) a
religião é um fator de proteção e, mesmo a maioria tendo uma religião (94,39%), ainda
sim o índice de suicídio do município foi alto.
- Considerando que a mortalidade infantil é um índice para avaliação da qualidade de
saúde da região e considerando também que o índice de mortalidade infantil em
Pomerode é relativamente baixa (13,23 óbitos por mil nascidos vivos), podemos supor que
a população tem acesso ao sistema de saúde, então não estaria exposto a esse fator de
risco. Assim a questão do acesso à saúde apontado pela OMS e por Middleton et al.
(apud GONÇALVES, GONÇALVES e JÚNIOR, 2011)pode ser descartada. Porém outras
regiões do Brasil parecem ter mais proteção por esse fator, pois Pomerode ficou apenas
em 2440º termos de mortalidade infantil nas regiões brasileiras.
- Retomando Chesnais (1981) que acreditava que o suicídio é de natureza histórica,
cultural e individual (apud MIYANO, 1998) e Durkheim (1897) que acreditava que o
suicídio tinha uma tendência social podemos tentar entender a população de Pomerode
pelo documentário Sem Palavras (2009). O documentário mostra claramente que os
descendentes de alemães passaram pelos fatores de risco citados pela OMS (2014):
guerras, estresse de aculturação, discriminação, isolamento, abuso e violência.
- A guerra pode ser vista nesses dois relatos: “Prima, o vizinho Hoffmann foi
listado para ir ao front. Já não basta o estado de guerra e agora nossas famílias
e também as italianas convivem com a ideia de ter os filhos recrutados pela
Força Expedicionária Brasileira. Já pensou em lutar contra nossos próprios
parentes? Tenho medo de estar na lista.”; “Meu diário, faz tempo que as cartas
não chegam. Nada sei da família na Alemanha desde que meu tio foi
convocado como soldado de Hitler, ele deve estar e batalha. Sintonizamos o
rádio na madrugada, mas só ouço bombas.”
- O estresse de aculturação aparece nos seguintes relatos: “De hoje para a
manhã a aula passou a ser em português que para mim, para nos todos, era
grego.”; “Meus pais não falavam português e eu naturalmente também não.
Então a gente via, a gente sentia essa insegurança. Medo, sabe?” - Rovenia
Heise – Blumenau
A discriminação, abuso e violência apareceram bastante no documentário, sempre juntos,
principalmente devido a Campanha de Nacionalização de Getúlio Vargas: “A gente tinha
medo. Medo de andar na rua. Lembro também um dia quando voltávamos do colégio,
minha irmã mais velha chama a mais nova... nisso passa um policial. Nos pegou pelo braço e
nos ameaçou em botar na cadeia. Imagina nós crianças. O medo.”; “Eu era professora em
Brusque. Tinha espiões lá, aí falaram que eu falei alemão. Perdi meu emprego. Era pesado
porque era perseguição.” - Gisela Grempel – Pomerode; “Eu era a única que tinha um nome
alemão na minha aula. Eu vinha sozinha para casa. E as minhas amigas, as colegas vinham
atrás de mim, me rodeavam e queriam me esbofetar, e xingavam, então eu
ficava sozinha choram naturalmente.”. “A gente não podia andar assim na calçada, tinha
que andar no meio da rua porque a ente levava cuspidelas das janelas e isso foi muito
marcado para mim.” - Helga Springman – Florianópolis; “Elisabeth, espero que este bilhete
chegue em suas mãos. Fomos trazidos para Florianópolis e os pastores ficaram presos no
porão da Escola Alemã, transformada em delegacia. E os outros estamos em Trindade. A
intenção é nos calar. Sabemos que aluns tem envolvimento com o partido, mas muitos não.
Vamos sobreviver trabalhando pesado para não enlouquecer. Alguns ajudam na reforma da
Penitenciária do Estado... Já perdi a noção do que é certo e de quem é quem nessa
perseguição. Que Deus proteja vocês.”; “Querido diário, o clima de desconfiança está
insuportável, com xingamentos e pedradas misteriosas na janela. Nas portas, deixam
recados: cuidado, estamos de olho em vocês.”
- Contudo, podemos observar que não houve uma boa integração dos
descendentes de alemães no Brasil. Isso vai de encontro com a afirmação de
que o suicídio varia na razão inversa do grau de integração do grupo que o
indivíduo faz parte. (DURKHEIM, 1897)
- Mesmo que isso tudo ocorreu em uma época anterior a atual, a história faz
parte da geração atual e isso também está muito carregado na cultura alemã
do Brasil. Pomerode é conhecida popularmente por ser a cidade mais alemã do
Brasil e até os relatos do documentário Sem Palavras (2009) apresentam relatos
de pessoas de Pomerode. Assim podemos ver que os cidadãos de Pomerode
carregam um passado sofrido, o que pode levar a transtornos mentais e ao
suicídio. Como um relato diz: “Muito medo, muito medo. Tudo era medo. Aquele
ambiente hostil, sabe? Aquele ambiente de medo. O clima, como deixa a gente.
Isso fica gravado na gente, daí a gente fica impressionada.” - Ingebur Marzall
Berner – Blumenau; “Tudo o que é ligado a uma emoção a gente não esquece,
seja uma emoção positiva ou negativa, a gente nunca esquece.“ - Ria Ehel
Schlosser – Balneário Camboriú; “ ...os traços ficam, né, e não só da última
geração, tem mais gerações dentro da gente né?”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

- Alguns levantamentos feitos em outros artigos acabaram não se encaixando nas


características do município, mas isso não invalida os outros estudos, pois o suicídio é
um assunto amplo, e não é apenas um fator específico que leva ao suicídio, mas sim
uma gama de fatores. Ademais, outros levantamentos foram compatíveis com o que
ocorre em Pomerode.
- Foram levantados também alguns fatores de risco que afetam a região e alguns
fatores de proteção.
- A tendência do suicídio de Pomerode se mostrou fortemente arraigada na
sociedade e no fator histórico pois os moradores e suas gerações passadas sofreram
vários traumas consequentes da Segunda Guerra Mundial. Seria interessante até um
levantamento histórico mais aprofundado do município para ver como esse fator
pode acarretar num transtorno mental.
- Contudo, esse trabalho conseguiu chegar a conclusão de que Pomerode tem um
alto índice de suicídio pelo levantamento estatístico e comparação de informações
e também conseguiu fazer uma análise social, epistemológica e histórica da
população do município de Pomerode.
REFERÊNCIAS

- DURKHEIM, É. O suicídio: Estudo de Sociologia. 1º edição. São Paulo: Martins Fontes. 2000.
- GONÇALVES, L. R. C.; GONÇALVES, E.; JÚNIOR, L. B. O. Determinantes espaciais e
socioeconômicos do suicídio no Brasil: uma abordagem regional. Nova Economia. Belo
Horizonte, 21 (2): 281-316, mai-ago. 2011
- LOVISI, G. M. et al. Análise epistemológica d suicídio no Brasil entre 1980 e 2006. Revista
Brasileira de Psiquiatria. Rio de Janeiro, 31(Supl II): S86-93. 2009
- MINAYO, M. C. S. A autoviolência, objetivo da sociologia e problema de saúde pública.
Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 14(2): 421-428, abr-jun. 1998
- VIDAL, C. E. L.; GONJITO, E. C. D. M.; LIMA, L. A. Tentativas de suicídio: fatores pronósticos e
estimativa do excesso de mortalidade. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 29(1): 175-187,
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Organization. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data. 2014
- Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS). Disponível em:
<http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10sc.def>. Acesso em: 06 fev.
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