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Curso de Extensão a Distância

Drenagem Urbana
Sustentável
Módulo III
Medidas Não Estruturais de
Drenagem Urbana Sustentável
Arquiteta e Urbanista Roseli Valle
MÓDULO III
MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS DE DRENAGEM
URBANA SUSTENTÁVEL

APRESENTAÇÃO ......................................................................................... 3
1.OBJETIVO .................................................................................................. 4
2. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 5
3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS6
3.1 LEIS FEDERAIS................................................................................. 7
3.2 LEIS MUNICIPAIS.............................................................................. 9
3.2.1 Plano Diretor ........................................................................... 9
3.2.2 Leis Municipais ..................................................................... 10
3.2.3 Medidas não estruturais complementares à legislação .... 14
4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU ........... 19
4.1.ETAPAS DE UM PDDU ................................................................... 20
4.2. FUNDAMENTOS DO PDDU ........................................................... 24
4.3. DESENVOLVIMENTO DO PDDU ................................................... 25
4.4. PRODUTOS .................................................................................... 26
4.5. PROGRAMAS ................................................................................. 26
4.6. PLANOS DIRETORES DE DRENAGEM URBANA NO BRASIL .... 27
5. AULA 3: CIDADES QUE IMPLANTARAM MEDIDAS NÃO
ESTRUTURAIS ............................................................................................ 28
5.1. IPTU HIDROLÓGICO ...................................................................... 28
5.2. COBRANÇA PELO USO DO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA29
5.3. PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA................................ 29
5.4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................... 30
5.5. SISTEMA DE ALERTA .................................................................... 30
6. CONCLUSÃO .......................................................................................... 31
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 31
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 31
8. CURRÍCULO RESUMIDO DA AUTORA ................................................. 31
APRESENTAÇÃO

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná – CREA/PR


e a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Maringá - AEAM têm a satisfação
de apresentar a apostila do Curso de Extensão a Distância “Drenagem Urbana
Sustentável” Módulo III – Medidas não estruturais de drenagem urbana.

Esta apostila é composta por três aulas, na qual será abordado na Aula 1:
“Leis municipais”. Nessa aula será feita a apresentação da legislação municipal de
zoneamento, de uso e ocupação do solo urbano e o plano diretor, bem como demais
leis pertinentes, inclusive Leis Federais.

Na aula 2: “Plano Diretor de Drenagem Urbana: PDDU” serão


apresentados definições, objetivos, etapas, fundamentos, estrutura básica e
desenvolvimento de PDDU entre outros.

Na aula 3: “Exemplos de cidades que implementaram medidas não


estruturais de Drenagem Urbana Sustentável” serão apresentadas cidades nacionais
que se utilizaram destes sistemas.

Bons estudos!

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1.OBJETIVO

O módulo tem por objetivo proporcionar à comunidade técnica, o


conhecimento de leis municipais e federais que agem como ferramenta acerca de
medidas não estruturais de drenagem urbana sustentável.

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2. INTRODUÇÃO

Na evolução histórica das cidades, podemos verificar as diversas etapas


e modelos de drenagem urbana que já foram utilizados. Com isto, chegou-se a
conclusão de que, o modelo tradicional apenas objetivava retirar, o mais rápido
possível, as águas das áreas urbanas conduzindo aos corpos hídricos. Porém, sem
a preocupação com as consequências a jusante e ao meio ambiente.

Estudos posteriores averiguaram a necessidade de adoção de novos


sistemas que gerassem menos prejuízos, inclusive para a própria população que
vem sofrendo com inundações. Surgem então, as técnicas compensatórias e os
métodos estruturais com a implantação de obras hidráulicas visando o
amortecimento das cheias por meio de detenção, retenção e infiltração.

Porém, para mitigar e prevenir problemas de drenagem, o método


estrutural pode ser acompanhado do método não estrutural, que abrange a gestão
das águas urbanas por meio de ações administrativas e participativas junto à
população. Considerando, que há melhor resultado, quando ambos são associados.

Portanto, neste estudo veremos legislações federais e municipais


pertinentes, e como podem influenciar no sistema de drenagem mitigando
consequências ambientais. Veremos também, como pode ser um Plano Diretor de
Drenagem Urbana entendendo a importância de adotá-lo nos municípios. E ainda,
cidades que já se utilizam de medidas não estruturais.

Com isto, esperamos poder contribuir com seu aprendizado,


principalmente em relação à importância de um projeto de drenagem urbana bem
planejado, e projetado para atender as necessidades locais.

E agora, vamos iniciar nossos estudos?

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Reforçando o que já foi mencionado, o próprio processo de urbanização


causa diversos impactos ao meio ambiente, principalmente aqueles oriundos do uso
e ocupação do solo: a impermeabilização da bacia hidrográfica por meio de
substituição das áreas verdes ou naturais, por espaços construídos e pavimentados;
compactação do solo; ocupações inadequadas de Áreas de Preservação Ambiental,
inclusive fundos de vales; obras hidráulicas nos cursos d’água produzindo
conseqüências a jusante; assoreamento devido o aumento do escoamento
superficial e outros. Sabemos, no entanto, que estes fatores produzem alterações
significativas na bacia hidrográfica e, consequentemente, no ciclo hidrológico.

Entre esses inúmeros fatores, encontramos as Medidas Não Estruturais


como um dos artifícios possíveis de serem adotados para mitigar problemas
decorrentes das ações antrópicas. Estas, por sua vez, não exigem a execução de
estruturas urbanas, mas possuem cunho administrativo e financeiro por meio de
ações que visem prevenir e reduzir tais impactos. Desta forma, podem ser
alcançados pela introdução de normas, legislações e programas que regulamentem
o uso e ocupação do solo, bem como, de conscientização da população e educação
ambiental. Como exemplo destas medidas, podemos citar:

Zoneamento de áreas de inundação;


Regulamentação do uso e ocupação do solo;
Regulamentação de novos loteamento e código de construção;
Políticas de desenvolvimento;
Incentivos fiscais;
Seguro de inundação;
Instalação de alertas em áreas de inundação;
Manutenção dos dispositivos de drenagem.

As medidas não estruturais de controle de drenagem urbana são


iniciativas que podem ser tomadas por indivíduos, associações e entidades privadas,
em parceria com a administração pública ou gestores municipais, pois estas
dependem menos de recursos financeiros e muito mais, de empenho da sociedade,

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

da população e da gestão pública. Neste contexto, é fundamental a participação da


comunidade por meio de informações e educação ambiental, para que os mesmos
possam conhecer as alternativas e avaliar os resultados.

De uma forma geral, as medidas não estruturais tendem a ser mais


adequadas para novas áreas, ou seja, áreas em expansão que estejam em
processo de urbanização, e as medidas estruturais são mais eficazes para áreas já
urbanizadas. Porém, ambas aplicadas em conjunto podem minimizar,
significantemente, os prejuízos causados. As duas medidas adotadas e funcionando
em paralelo, tendem a atenuar situações indesejáveis, de modo a proporcionar
melhores condições de vida e salubridade aos moradores das regiões afetadas por
enchentes, e ainda, com menores custos.

3.1 LEIS FEDERAIS

Ao se tratar de legislação, temos as Leis Federais que proporcionam


respaldos para a implementação de recursos básicos de saneamento, salubridade e
melhores condições de vida. Neste contexto, a Constituição Federal, de 1988,
institui, em seu Art. 21, que é de competência da União “instituir diretrizes para o
desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos”. Na sequencia, é intitulado que, também é de competência do Estado,
Distrito Federal e Municípios, promoverem programas que proporcionem melhores
condições habitacionais e de saneamento.

Seguindo estas premissas, que também se fazem presentes no Estatuto


da Cidade – Lei Federal nº 10.257 de 2001, podemos notar, no Art 2º do Estatuto,
que a política urbana deve ordenar o desenvolvimento de vários parâmetros, e,
dentre eles, a “garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à
terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao
transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e
futuras gerações”, assim como, melhores condições de saneamento básico.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Sendo assim, podemos verificar na Lei Federal 11.445 de 2007 que


estabelece diretrizes de saneamento básico, que, o saneamento básico é um
conjunto de sistemas, infraestrutura e de instalações operacionais, em seu Art. 3º. E,
junto a outros componentes, especifica que a drenagem urbana faz parte do
saneamento básico:

“Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: conjunto de atividades,


infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de
transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias,
tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas”.

Complementando, no Art. 2º, dispõe que os serviços públicos devem


favorecer, entre outros, “disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de
drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à
segurança da vida e do patrimônio público e privado”.

A partir destas colocações, podemos notar todo um aparato legal para a


implantação de sistemas e programas que favoreçam melhores condições e
eficiência para a drenagem urbana, de modo a proporcionar melhores condições de
vida e salubridade, reforçando o comprometimento do Estado e Município
concomitante a participação dos munícipes.

No Estatuto da Cidade, é possível verificar a imposição de Instrumentos


da Política Pública que abrangem planos nacionais, estaduais e regionais, assim
como o planejamento municipal, o qual abrange os seguintes recursos:

Plano Diretor;
Disciplina do parcelamento, uso e ocupação do solo;
Zoneamento ambiental;
Planos de desenvolvimento econômico e social;
E outros.

A Constituição Federal, em seu texto, resguarda a todos, o direito a um


ambiente equilibrado, de uso comum e adequado à qualidade de vida da população.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Para isso, o poder Público, juntamente com a coletividade, deve defender e


preservar o meio natural, por meio de medidas administrativas, de forma a favorecer
as gerações presentes bem como as gerações futuras. Esse direito “deve ser objeto
de políticas públicas” em diferentes segmentos, a fim de proporcionar um ambiente
digno com o bem estar de todos.

A Lei Federal n. 6.938/81, trata da Política Nacional do Meio Ambiente, e


considerou que a educação ambiental deveria estar presente em todos os níveis de
ensino, inclusive na educação da comunidade, objetivando capacitá-la para
participar ativamente na defesa do meio ambiente.

A Política Nacional de Educação Ambiental, Lei Federal n. 9.795/99, em


seu artigo 1º, define educação ambiental como um conjunto de processos por meio
da qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à ótima qualidade de vida e sua
sustentabilidade.

3.2 LEIS MUNICIPAIS

3.2.1 Plano Diretor

De acordo com a Constituição Federal em seu Art. 182, a política de


desenvolvimento urbano, deve ser executada pelo poder público municipal
objetivando ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e promover o
bem estar da população. Desta forma, o município utiliza como instrumento básico
para a política de desenvolvimento e expansão urbana, o Plano Diretor Municipal, o
qual deve ser aprovado pela Câmara Municipal, sendo obrigatório para municípios
com mais de 20 mil habitantes, e facultativo para os demais.

Sendo assim, o Plano Diretor Municipal deve ser fundamentado e


embasado pela Constituição Federal, Lei Federal nº 10.257/2001 – Estatuto da
Cidade, Legislações pertinentes e Leis Municipais.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Sua principal finalidade é orientar a atuação do poder público e da


iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural na oferta dos serviços
públicos essenciais, visando assegurar melhores condições de vida para a
população.

O que se pretende com o Plano Diretor é que aponte rumos para um


desenvolvimento local economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente
equilibrado. Ao mesmo tempo, se espera soluções para a melhoria da qualidade da
gestão pública local, tornando-a mais apta a utilizar os recursos públicos e a prestar
melhores serviços à população; que apresente diretrizes e instrumentos para que os
investimentos em saneamento e demais infraestrutura urbana, sejam
adequadamente distribuídos e beneficiem toda a população, propondo-se diretrizes
para proteger o meio ambiente, os mananciais e as áreas verdes entre outros.

O Plano Diretor se apresenta como um manual de comportamento


urbano, normalizando as ações individuais e coletivas junto a procedimentos
consensuais que produziriam uma forma e uma disposição de sistema urbano
conforme desejado.

Entendemos, portanto, que o Plano Diretor Municipal é o instrumento


estratégico de desenvolvimento e expansão urbana, assim como, de orientação para
os agentes públicos e privados que atuam na gestão da cidade. Por outro lado,
legislações municipais pertinentes a critérios do Plano Diretor devem ser regidas e
obedecer às disposições nele contido.

3.2.2 Leis Municipais

As Leis Municipais, como mencionado anteriormente, são embasadas


pelo Plano Diretor. Desta forma, é por meio destes artifícios que se podem implantar
regulamentações que regem a cidade, inclusive o que tange o saneamento básico, e
em específico, a drenagem urbana. É por meio de Leis de Parcelamento, Uso e
Ocupação do Solo, incluindo zoneamento, que se torna possível implementar

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

medidas de controle e de prevenção, que atenuem ou suprimam as enchentes


conseqüentes do processo de urbanização.

A Lei de Parcelamento do solo regula o parcelamento do solo no


Município seguindo normas federais e estaduais relativas à matéria, assim como o
Plano Diretor de Maringá. Orienta e disciplina projeto e execução de qualquer
serviço ou obra de parcelamento do solo no Município e previne assentamentos
irregulares entre outros.

A Lei de uso e ocupação do solo regula suas funções de acordo com


disposições de leis federais, e estaduais bem como do plano diretor municipal.
Promove a função social da cidade e propriedade, assegura a sustentabilidade na
ocupação do solo e ordena o espaço construído entre outros.

Regulamentação do uso e ocupação do solo:

Por meio da legislação, é possível planejar as áreas a serem


desenvolvidas, incluindo áreas que podem ou não serem ocupadas, áreas de risco e
mesmo de preservação. Controlar as áreas loteadas ou urbanizadas, assim como
aquelas que serão parceladas criando novos bairros, evitando a ocupação sem
prevenção e previsão.

Incentivos fiscais – IPTU Hidrológico:

Tributos Verdes são denominações atribuídas aos mecanismos tributários


que visam à preservação do meio ambiente, em busca de soluções e decisões
políticas e econômicas mais viáveis e ecologicamente corretas.

Mecanismos deste tipo evitam e previnem danos ao meio ambiente e


atuam como incentivo a ações ambientalmente sustentáveis, promovendo uma
“sansão premial” a aqueles que se utilizam de recursos sustentáveis. Desta forma,
podemos inserir o IPTU – Imposto Predial Territorial Urbano como um mecanismo de

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

incentivo, sob o conceito de IPTU Hidrológico, favorecendo uma redução do tributo


de acordo com os quesitos sustentáveis implantados em sua edificação visando à
amortização de volumes d’água superficial e, consequentemente, de cheias.

A proposta do IPTU Hidrológico melhora a gestão dos recursos hídricos.


E para cálculo do tributo, deduzindo seu valor, consideram-se critérios ambientais
que visem variáveis hidráulicas e hidrológicas, considerando também, a área
construída e a área impermeabilizada.

O desconto concedido na cobrança do IPTU pode variar de acordo com a


pontuação atingida em relação a critérios estabelecidos, incentivando a utilização de
recursos do tipo aproveitamento de água de chuva; pavimento permeável; retardo ou
infiltração de águas pluviais; aumento da área permeável em relação ao mínimo
estabelecido em lei e implantação de telhado verde entre outros.

A este recurso, atribui-se incentivar a permeabilidade em lotes urbanos


associados ao conceito de infiltração, diminuindo o escoamento superficial, alem de
desenvolver educação e cultura ambiental, ou seja, sustentáveis.

Incentivos fiscais – Cobrança pelo uso do sistema de Drenagem Urbana:

A adoção de cobrança pelo uso do sistema de drenagem urbana é um


recurso passível de ser usado como meio de mitigar os problemas gerados pelo
processo de urbanização, com respaldo jurídico para a cobrança pelo serviço. No
entanto, é importante salientar que não se trata diretamente da cobrança pelo uso
da água e sim, a cobrança pelo serviço da drenagem prestado pelo município. A Lei
Federal nº 11.445/2007, que estabelece diretrizes para o saneamento básico
nacional, prevê cobranças pelos serviços de drenagem urbana: por meio de imposto
ou tarifa – taxa. A tarifa é aplicada em um serviço que possibilita a alternativa de ser
usado ou não, e a taxa é voltada para os serviços públicos de uso obrigatório,
mesmo que seu uso não seja efetivo, porém, sem caráter de punição. Sendo assim,
a cobrança por este serviço se caracteriza como sendo uma taxa, pois o seu uso é
obrigatório quando ocorre um evento chuvoso.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Neste caso, quem deve pagar a taxa pela drenagem são os usuários do
sistema de drenagem municipal, ou seja, os proprietários dos imóveis. O município
deve administrar estes recursos a fim de aplicá-los para os serviços específicos
deste sistema. A taxa sobre o sistema de drenagem, além de gerar fundos para sua
manutenção, pode instigar a mudança de comportamento do usuário em relação ao
ambiente, induzindo a sustentabilidade na forma de planejar o seu sistema de
drenagem. Sendo assim, faz a conexão entre oferta do serviço e demanda ou
consumo. E esta cobrança deve ser respaldada em legislação municipal.

O usuário individual é identificado e assim, passível de se estimar o


volume de escoamento que ele lança na rede de drenagem proveniente de cada
imóvel, ou seja, de cada terreno. Com estes dois fatores complementados com a
verificação e quantificação da área impermeável e área construída de cada imóvel,
torna-se mais justa a inserção de custos sobre a drenagem urbana. As avaliações
de áreas impermeáveis podem ser feitas via imagens de satélite com verificação por
amostragem, e com visita in loco.

Zoneamento:

Um mecanismo de implementação do controle do uso do solo é a


elaboração de um conjunto de medidas que abrangem vários aspectos da
urbanização, incluindo o zoneamento urbano, o parcelamento e uso do solo, código
sanitário e código de obras entre outros. Essas medidas podem definir a taxa de
impermeabilização requeridas nos loteamentos e a obrigatoriedade de manterem-se
após a urbanização da área, com vazões semelhantes àquelas anteriores a
urbanização.

Zoneamento, portanto, é a divisão e delimitação de áreas e sua


respectiva regulamentação sobre o uso e ocupação do solo; tamanho dos lotes e
densidade de uso entre outros. O zoneamento difere de município para município,
estabelecendo padrões especiais para o uso do solo, especialmente em áreas de
inundação.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Por meio do zoneamento referente à hidráulica municipal, definem-se as


áreas de risco e aquelas com capacidade de interferir nas cotas de cheia, a
montante e a jusante. O zoneamento das áreas de inundações considera as
seguintes etapas:

Determinação do risco das enchentes: questões associadas ao tempo de


retorno – TR;
Mapeamento das áreas sujeitas à inundação;
Levantamento da ocupação da população na área de risco;
Definição da ocupação ou zoneamento das áreas de risco.

O zoneamento propriamente dito é a definição das regras para a


ocupação das áreas consideradas de risco de inundação, permitindo o
desenvolvimento racional das áreas ribeirinhas nas cidades.

3.2.3 Medidas não estruturais complementares à legislação

Além das medidas inseridas na legislação municipal, como anteriormente


explanado, outras medidas podem ser implantadas, principalmente como prevenção
de inundações. E neste caso, podem ser respaldadas por leis ou programas
municipais na gestão dos recursos hídricos.

Mapeamento:

Por meio do zoneamento referente à hidráulica municipal, definem-se as


áreas de risco e aquelas com capacidade de interferir nas cotas de cheia, a
montante e a jusante. O mapeamento das áreas de inundação deve considerar a
cheia de 100 anos ou a maior registrada. A regulamentação das áreas deve ser feita
a partir das características do escoamento, da topografia e do tipo de ocupação da
área, incluindo áreas impermeabilizadas.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

O mapeamento áreas de risco de inundação é uma ferramenta auxiliar no


controle e prevenção de inundações. Os mapas de inundação estão associados com
o grau de risco da inundação e dos prejuízos que podem ser causados. Estes
mapas não são apenas necessários para uma avaliação de riscos de cheias, mas
podem também facultar informações valiosas para o planejamento de toda uma
gama de atividades incluindo as reações de emergência a uma cheia catastrófica,
até pontos de alagamento que podem ser sanados antes que aumente a proporção
do problema.

Políticas de desenvolvimento:

Um dos primeiros pontos que requer atenção é a necessidade de integrar


os instrumentos de licenciamento e outorga já existente, pois muitas ações de
significativo impacto à permeabilidade do solo se realizam sem o devido
conhecimento dos empreendedores quanto aos efeitos e quanto aos procedimentos
necessários para implantar seus empreendimentos.

É necessário, que anteriormente ao projeto de qualquer obra que interfira


na permeabilidade da bacia, o empreendedor consulte obrigatoriamente as
instâncias de planejamento urbano - prefeituras municipais, o departamento de
Águas e Energia Elétrica, e os órgãos que compõem a Secretaria de Estado do Meio
Ambiente. Porém, os procedimentos de licenciamento ambiental, de uso do solo e
de outorga na bacia ainda são realizados de maneira independente e não integrada,
desestimulando os empreendedores a cumprir esse conjunto de exigências em
função da demora ao atendimento e pouca praticidade na proposição de
recomendações.

A proteção de mananciais também deve receber atenção especial por


meio de políticas públicas, que devem estabelecer critérios de preservação destas
áreas e mesmo punição para o não cumprimento dos critérios estipulados. Estes
podem ser inseridos em leis de parcelamento, uso e ocupação do solo, bem como
em legislação específica ou mesmo decretos, inclusive com respaldo em legislações
federais.

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Outro fator de suma importância é a implantação de programas de


educação ambiental e de participação pública na gestão de recursos hídricos. Desta
forma, as comunidades afetadas diretamente pelas inundações participam do
processo de discussão acerca das melhorias que podem ser implantadas e, mesmo
dos atributos que possam ser aplicados para mitigar estes e outros problemas
decorrentes. Assim, passam a compreender a situação e contribuir para tais
melhorias, incluindo a preservação do meio natural. O Poder Público pode atuar com
a implantação de medidas de preservação ambiental, conceitos básicos de
disposições adequadas de resíduos no meio ambiente e conscientização da
população, evitando a interferência no funcionamento do sistema de drenagem
urbano

Seguro contra enchente:

A proteção contra inundações faz parte de um conjunto de medidas para


reduzir as perdas dos prédios localizados em áreas de risco. E o seguro contra
enchente, permite aos indivíduos ou empresas a obtenção de uma proteção
econômica.

Seguradoras podem trazer, para as áreas zoneadas como áreas de risco,


a iniciativa privada com a oferta do “seguro inundação”. Assim, os proprietários e
locatários dos imóveis com eventual risco de inundação são informados sobre a
necessidade e importância em se contratar um seguro, pois este tem a finalidade de
cobrir danos financeiros causados por inundações.

Sistema de previsão e alerta:

São sistemas utilizados para prevenir a população com antecedência de


curto prazo, no caso de eventos raros com o objetivo de evitar o pânico e grandes
perdas. Assim, antecipa às ocorrências de inundação, buscando avisar a população

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

da região e tomar medidas que sejam necessárias para reduzir os prejuízos que
possam resultar da inundação.

O sistema de alerta e uma maior conscientização da comunidade são


determinantes na adoção de medidas preventivas. O conhecimento desses sistemas
pela população é fundamental, uma vez que pode reduzir significativamente os
prejuízos inerentes aos efeitos causados pelas enchentes.

Os sistemas são elaborados de tal forma que possam coletar e transmitir


informações; processar as informações; prever vazões e níveis; oferecer
procedimentos para acompanhamento e transferência de informações para defesa
civil e comunidade; proporcionar planejamento das situações de emergência através
da defesa civil. Podem ser enquadrados em três níveis: de acompanhamento; de
alerta; de emergência.

O sistema deve contemplar a participação da Defesa Civil, a qual, atuará


com programas de prevenção, educação, mapa de alerta, locais críticos, alerta aos
sistemas públicos: escolas, hospitais, infraestrutura; alerta a população de risco,
remoção e proteção à população atingida durante a emergência ou nas inundações.
Este sistema possui três fases distintas que são: prevenção, alerta e mitigação,
conforme apresentado no Quadro abaixo.

Quadro 1: Atividades preventivas, de alerta e mitigação

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3. AULA 1: MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS - LEGISLAÇÃO E SISTEMAS

Manutenção do sistema de drenagem:

Os sistemas de drenagem, por mais simples que sejam, exigem um


programa de manutenção e inspeção para que seu funcionamento seja de acordo
com o previsto e planejado. E, sem a manutenção, o sistema pode operar de forma
não satisfatória ou mesmo causar danos. No quadro a seguir, é possível verificar
algumas atividades de manutenção e inspeção e seus objetivos.

Quadro 2: Atividades de Inspeção e manutenção

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

Para atenuar os problemas de inundações é necessário que se faça um


planejamento do sistema de drenagem urbana. Um instrumento utilizado para
realizar este planejamento é o Plano Diretor de Drenagem Urbana – PDDU. Este por
sua vez, é o conjunto de diretrizes que determinam a gestão do sistema de
drenagem, de modo a minimizar o impacto ambiental decorrente do escoamento das
águas pluviais.

O PDDU é um instrumento de planejamento dinâmico, articulado com as


políticas de desenvolvimento regional e que objetiva planejar e propor, em seu
âmbito espacial, prioridades de ações espaciais e temporais escalonadas, com
custos devidamente avaliados, a fim de compor o modelo de gerenciamento
integrado destes recursos da bacia hidrográfica sob a visão do desenvolvimento
sustentável. Tem caráter vinculante para o setor público envolvido, indicativo para o
setor privado e deve ter caráter participativo nas distintas fases do processo.

O Plano Diretor de Drenagem Urbana, portanto, faz parte das ferramentas


de gestão de águas dentro do contexto urbano, abrangendo águas pluviais e os
corpos hídricos. Sua implantação é importante para que se possam diagnosticar os
problemas relacionados à drenagem urbana, a fim de propor soluções para melhorar
a qualidade de vida da população. Este planejamento visa evitar perdas
econômicas, melhoria das condições de saúde e do meio ambiente, buscando
atender princípios econômicos, sociais e ambientais.

Cada município deve elaborar seu PDDU de acordo com suas


necessidades e características específicas, utilizando-se de princípios que tratam do
controle do escoamento urbano, de modo que sejam eficientes para a bacia
hidrográfica em questão.

As propostas de intervenção devem contemplar medidas pautadas em


estudos específicos, com a integração entre meio ambiente e desenvolvimento dos
planos políticos, de planejamento, manejo, preservação dos recursos naturais,
utilização de tecnologias sustentáveis e inserção social na definição dos critérios
para tomada de decisão.

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

O PDDU compõe-se de três partes: diagnóstico, Plano Diretor e proposta


de um modelo de gerenciamento integrado. O diagnóstico constitui a base para a
elaboração do plano diretor, devendo ser elaborado segundo metodologia
interdisciplinar. O plano diretor definirá em seu âmbito espacial a bacia hidrográfica,
no âmbito setorial está relacionado a usos e usuários de diversos segmentos, e no
âmbito temporal - 5, 10, 20 anos. Além disso, definirá a sua caracterização
institucional, os seus aspectos políticos, e nas suas metas propostas como: ações
de desenvolvimento, ações de apoio e ações de implementação.

O principal objetivo de um Plano Diretor de Drenagem Urbana é a


planificação das ações preventivas para onde for possível, e ações corretivas nos
casos onde o problema já esteja estabelecido.

De maneira conceitual, as premissas básicas a serem consideradas na


formulação do Plano Diretor de Drenagem, levam em conta que:

A drenagem é um fenômeno regional – a unidade de gerenciamento é a


bacia hidrográfica;
Drenagem é uma questão de alocação de espaços – a supressão de
áreas de inundações naturais ou não, implicará na sua realocação a
jusante;
Drenagem é parte integrante da infraestrutura urbana – o seu
planejamento deve ser multidisciplinar e harmonizado com os demais
planos e projetos do município;
Drenagem deve ser sustentável – no seu gerenciamento deve-se garantir
sua sustentabilidade: institucional, ambiental e econômica.

4.1.ETAPAS DE UM PDDU

O PDDU é constituído por cinco etapas:

A Etapa 1 – Informações Básicas: contemplará a coleta e análise de todas as


informações disponíveis aos estudos de drenagem urbana. Estas informações serão

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

processadas e organizadas em um banco de dados que fará parte do Sistema de


Informações de Drenagem Urbana.

A Etapa 2 – Diagnóstico da Situação Atual: se refere ao processamento inicial das


informações obtidas, sendo efetuada a modelagem hidráulico-hidrológica da
situação atual e a análise das obras de drenagem em curso, que subsidiarão as
atividades da Etapa 3.

Etapa 3 – Recomendações de Intervenções Imediatas: objetivam identificar as áreas


a serem protegidas ou reservadas; recomendar eventuais adaptações ou correções
nas obras ou projetos em curso; definir medidas de ordem operacional e de
manutenção necessárias, em um horizonte de curto prazo de acordo com o caso.

Etapa 4 – Ações Prioritárias nas Sub-Bacias: visa, a partir de estudos de alternativas


e análise da viabilidade técnica, econômica e ambiental, definir as vazões e propor,
de forma hierarquizada, as medidas estruturais e não estruturais a serem
implementadas no sistema de macrodrenagem; definir em um período mais longo do
planejamento, do que aquele previsto na Etapa 3, porém, de forma geral, não
superando cinco anos.

Etapa 5 – Ações Sistemáticas: abrangem a elaboração de Manual de Diretrizes


Básicas, que visam à uniformização dos critérios de planejamento e projeto de obras
de drenagem urbana. Também está previsto a elaboração do Programa de Controle
de Poluição Difusa, já que a questão do controle da qualidade das águas drenadas é
de extrema importância para a recuperação dos nossos rios e córregos; o Programa
de Medida de Fiscalização e Controle e do Sistema de Acompanhamento, bem
como a Revisão do Plano.

Para se atingir todas as etapas do PDDU são essenciais que estejam


disponíveis dados e informações. Entre eles, as que se destacam:

Um inventário da infra-estrutura do sistema de drenagem urbana


existente;
Adequada caracterização do uso do solo;
Dados hidrológicos;

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

Caracterização da estrutura institucional dos serviços de drenagem.

Com os dados obtidos, conforme mencionado anteriormente elabora-se a


estrutura básica do PDDU, sendo que esta é composta por cinco fases:

Informações: O conjunto de informações que abordam a área de


drenagem, sendo esta, a base de dados sobre as quais será
fundamentado o plano.
Fundamentos: São elementos definidores do plano; são constituídos por
princípios, objetivos, estratégias, cenários e riscos.
Desenvolvimento: O planejamento das medidas se baseia em medidas
não-estruturais e medidas estruturais; avaliação econômica; obras de
controle, operação e manutenção.
Produtos:
 Legislação e/ou regulamentação: compõem as medidas não
estruturais;
 Plano de ação: é o conjunto de medidas escalonadas no tempo de
acordo com a viabilidade financeira;
 Manual de drenagem: deve dar base para os elementos necessários ao
preparo dos projetos na cidade.
Programas: são estudos complementares de médio e longo prazo
recomendados no plano para melhorar as deficiências encontradas na
elaboração do Plano desenvolvido.

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

Quadro 3: Fases da estrutura básica do PDDU

Complementando as fases do PDDU, podemos incluir: estudos


preliminares e coleta de dado; diagnóstico e ações para o aperfeiçoamento
institucional; diagnóstico de um plano diretor preliminar; campanha de
monitoramento; diagnóstico do sistema de drenagem e definição das ações das
obras necessárias.

Porém, é fundamental salientar os tipos de informações que se deve


observar em relação à drenagem urbana. Algumas delas são:

Cadastro da rede pluvial, bacias hidrográfica, uso e tipo do solo das


bacias, entre outros dados físicos.
Dados Hidrológicos: precipitação, vazão, sedimentos e qualidade da água
do sistema de drenagem.

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

Aspectos institucionais: legislação municipal relacionada com o plano


diretor urbano e meio ambiente; legislação estadual de recursos hídricos;
legislação federal; gestão de meio ambiente dentro do município.
Planos que apresentam interface importante com a drenagem urbana.
Plano de desenvolvimento urbano da cidade, plano de saneamento ou
esgotamento sanitário, plano de controle dos resíduos sólidos e planos
viários.

A base de dados do PDDU deve respaldar-se nos seguintes critérios:


hidráulicos - declividade, vazões, sedimentação, topografia; ambientais – áreas
verdes, sistema viário, uso do solo; códigos, leis e regulamentos sobre edificações,
zoneamento, parcelamento do solo e códigos sanitários.

4.2. FUNDAMENTOS DO PDDU

Os fundamentos são os elementos definidores do PDDU, como os


princípios, os objetivos, as estratégias e os cenários. Além desses, também são
considerados fundamentos do Plano a subdivisão da cidade em sub-bacias e sua
compatibilização com o sistema de administração da mesma para a gestão da
drenagem e um diagnóstico do conjunto da drenagem urbana da cidade e suas
interfaces.

Os princípios visam minimizar os impactos decorrentes da urbanização,


sendo essenciais para o bom desenvolvimento de um programa consistente de
drenagem urbana. O objetivo do PDDU é de criar os mecanismos de gestão da
infraestrutura urbana relacionado com o escoamento das águas pluviais e dos rios
na área urbana da cidade. Esse planejamento visa evitar perdas econômicas,
melhoria das condições de saúde e meio ambiente da cidade. As estratégias
dividem-se em duas partes:

a) Para as áreas não-ocupadas - adoção de medidas não-estruturais


relacionadas com a regulamentação da drenagem urbana e ocupação dos espaços
de riscos, visando conter os impactos de futuros desenvolvimentos.

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

b) Para as áreas que estão ocupadas - o Plano desenvolve estudos


específicos por macrobacias urbanas visando planejar as medidas necessárias para
o controle dos impactos dentro destas bacias, sem que as mesmas transfiram para
jusante os impactos já existentes. Nesse planejamento são priorizados os usos de
armazenamento temporário através de detenções.

Já os cenários, variam em função dos seguintes componentes:

a) Condição Atual: permite identificar a situação existente de ocupação.


Caso forem obedecidas as medidas não-estruturais, passaria a ser o cenário de
projeto.
b) PDDU: o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano em vigor na cidade
estabelece diferentes condicionantes de ocupação urbana para a cidade.
c) Tendencial: identifica o cenário urbano para o horizonte de projeto com
base nas tendências existentes. Nos cenários anteriores não é definido o horizonte
de projeto – a data para o qual o Plano foi realizado.
d) Ocupação Máxima: envolve a ocupação máxima de acordo com o que
vem sendo observado em diferentes partes da cidade que se encontram neste
estágio. Esse cenário representa a situação que ocorrerá se o PDDU não for
obedecido e as medidas não-estruturais não forem implementadas.

O primeiro cenário representa o estágio próximo do atual, o segundo é o


cenário previsto pelo PDDU da cidade. O terceiro cenário representa a situação mais
realista, pois aceita o desenvolvimento realizado fora do Plano Diretor e para o
restante das áreas ainda em desenvolvimento.

4.3. DESENVOLVIMENTO DO PDDU

O desenvolvimento do Plano Diretor de Drenagem Urbana inclui medidas


estruturais e não-estruturais. As principais medidas não-estruturais envolvem
legislação e regulamentação sobre o aumento da vazão devido à urbanização e a
ocupação da área de risco de áreas ribeirinhas, além da gestão dos serviços
urbanos relacionados com as águas pluviais. As medidas estruturais envolvem a
determinação dos locais onde a drenagem não tem capacidade de escoamento e

25
4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

produz inundações para o cenário e risco escolhido. O Plano deve apresentar


solução para evitar que eventos deste tipo ocorram. As etapas usuais são as
seguintes:
Avaliação da capacidade de drenagem existente;
A identificação dos locais críticos, onde ocorrem inundações para o
cenário e riscos definidos;
o estudo de alternativas para controle destas inundações;
Avaliação econômica;
Avaliação ambiental.

4.4. PRODUTOS

Os produtos do Plano são os seguintes:

Legislação e/ou Regulamentação que compõem as medidas não-


estruturais.
Proposta de gestão da drenagem urbana dentro da estrutura municipal de
administração.
Mecanismo financeiro e econômico para viabilizar as diferentes medidas;
Plano de controle das bacias hidrográficas urbanas: os estudos
necessários de controle estrutural de cada sub-bacia da cidade.
O Plano de Ações, que se constitui no conjunto de medidas escalonadas
no tempo de acordo com a viabilidade financeira.
Manual de Drenagem: o manual de drenagem deve fornecer as bases do
Plano e todos os elementos necessários ao preparo dos projetos na
cidade.

4.5. PROGRAMAS

Os programas são os estudos complementares recomendados no Plano,


visando melhorar as deficiências encontradas na elaboração do Plano desenvolvido.

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4. AULA 2: PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA - PDDU

Os mesmos dentro do PDDU são previstos como atividades de médio e longo prazo
necessárias para a melhoria do planejamento da drenagem urbana de cada cidade.

4.6. PLANOS DIRETORES DE DRENAGEM URBANA NO BRASIL

Os Planos Diretores de Drenagem Urbana são norteados pelos princípios


de que, novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão de pico das
condições de pré-urbanização de novos loteamentos; de planejar o conjunto da
bacia para controle do volume e de evitar a transferência dos impactos para jusante.
Com isso, se busca a implementação de técnicas compensatórias, que recuperem
as condições existentes antes da urbanização, reduzindo os impactos da
urbanização, agindo de forma integrada ao espaço como um todo.

Podemos perceber que, no Brasil, ainda são utilizadas técnicas de


drenagem tradicional, e são poucas as cidades que possuem PDDU. Porém, já
temos cidades que já implantaram o plano, melhorando as condições do sistema de
drenagem, evitando ou mitigando alagamentos e, possibilitando melhores condições
de vida da população com menos impactos ambientais. Como exemplo disso pode
citar Curitiba, Porto Alegre, Caxias do Sul e São Paulo entre outras.

27
5. AULA 3: CIDADES QUE IMPLANTARAM MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS

No Brasil, o que se observa, é que existe uma grande resistência para


utilizar estruturas compensatórias com inserção de medidas não estruturais,
principalmente por falta de informação, tanto na formação dos técnicos quanto dos
tomadores de decisão e da população em geral. É fundamental programar um
processo de educação que atinja todos os setores envolvidos no planejamento, na
implementação e na manutenção de sistemas de drenagem urbana.

Belo Horizonte foi precursora neste processo e no seu Plano de


Desenvolvimento Urbano de 1996 previu que toda a área passível de ser permeável
poderia ser impermeabilizada, desde que compensada por uma detenção de 30 L/m²
de área impermeabilizada, desde que houvesse parecer de um engenheiro.

5.1. IPTU HIDROLÓGICO

Em Salvador (BA), incentivos tributários têm sido implantados por meio do


IPTU Verde, pautado em Decreto, cujo objetivo é de conceder descontos a
proprietários de imóveis residenciais e não residenciais que adotem medidas de
preservação, recuperação e proteção do meio ambiente. Estas medidas incluem
gestão de águas, eficiência energética e projeto sustentável entre outros, e são
monitorados por agentes fiscais quando da regularidade do imóvel. O não
cumprimento destas acarreta no cancelamento do benefício.

Em Curitiba - PR, a adoção do IPTU Verde ocorreu devido à falta de


áreas permeáveis, e como incentivo para a implantação e conservação destas
áreas. A redução do IPTU é aplicada quando constatado práticas benéficas ao meio
ambiente, favorecendo isenção ou redução sobre o IPTU para terrenos integrantes
do Setor Especial de Áreas Verdes.

Com relação ao IPTU Hidrológico, podemos citar outros municípios que já


concedem benefícios tributários às iniciativas sustentáveis, como Guarulhos-SP,
Petrópolis e Niterói-RJ, Porto Alegre-RS, Uberlândia-MG, São Bernardo do Campo,
Santa Fé do Sul, Ribeirão Pires, Americana, São Paulo-SP e Recife-PE entre outros.

28
5. AULA 3: CIDADES QUE IMPLANTARAM MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS

5.2. COBRANÇA PELO USO DO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

O município de Santo André - SP é pioneiro na cobrança pelo uso do


sistema de drenagem urbana, efetuando a cobrança desde 1998. A Lei Municipal
7.606/97 definiu que a taxa é decorrente da operação e manutenção do sistema
público de drenagem, e que o custo pela prestação destes serviços será dividido
proporcionalmente pelos usuários, de acordo com a contribuição volumétrica que o
imóvel lança no sistema urbano.

5.3. PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA

A prefeitura municipal de São Paulo – SP, em busca de técnicas que


atendam quesitos sustentáveis em relação ao manejo das águas pluviais e à
vulnerabilidade do município em relação às chuvas intensas, vem desenvolvendo o
Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais de São Paulo (PMAPSP),
desde 2010. O projeto é desenvolvido e liderado pela Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Urbano – SMDU conjuntamente com outras secretarias, além de
que, a gestão envolve a administração pública em parceria com a população.

Em Porto Alegre – RS, o Plano Diretor incluiu o desenvolvimento urbano,


uso do solo e Ambiental e foi denominado de Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano e Ambiental – PDDUA, e se tornou lei no início de 2000. Esse Plano
introduziu artigos relativos à drenagem urbana. O Plano especifica a necessidade de
redução da vazão devido à urbanização para as áreas críticas através de detenção e
remete a regulamentação ao Departamento de Esgotos Pluviais. Todos os projetos
de novos empreendimentos – loteamentos são obrigados, a manter as vazões pré-
existentes.

Ainda em Porto Alegre – RS, podemos ressaltar que, a busca mitigar os


problemas municipais decorrentes de enchentes, fez com que, a partir de 1999, o
município iniciasse a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana – PDDrU. O
Plano foi desenvolvido por meio de convênio firmado durante os anos de 1999 e
2005, entre a Prefeitura Municipal por meio do Departamento de Esgotos Pluviais –
DEP, e o Instituto de Pesquisas Hidráulicas do Rio Grande do Sul - IPH/UFRGS.

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5. AULA 3: CIDADES QUE IMPLANTARAM MEDIDAS NÃO ESTRUTURAIS

Logo na primeira etapa do desenvolvimento do PDDrU, foi elaborado um “Manual de


Drenagem”, contendo diretrizes, parâmetros e metodologias a serem empregados
nos projetos de drenagem urbana no município de Porto Alegre.

A implementação desses planos também se fazem presentes em outras


cidades brasileiras, ainda em fase de formulação ou já colocadas em prática.
Podemos citar cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre, Guarulhos, Curitiba e
Caxias do Sul.

5.4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O município de São Paulo – SP, por meio da administração pública,


desenvolve o Programa de Educação Ambiental e Comunicação Social que são
programas voltados às águas urbanas e melhoria dos sistemas de drenagem. É
realizado com a integração entre os munícipes, representantes do governo local,
como das Subprefeituras, da Secretarias Municipais e da operadora dos serviços de
água urbana no que se refere à gestão das bacias hidrográficas.

5.5. SISTEMA DE ALERTA

No PDDrU de Porto Alegre é previsto um programa de defesa civil e


sistema de alerta para situações em que possa existir risco de morte humana.
Também ressaltam a necessidade de simulação e alertas para situações de
enchentes.

No Plano Diretor do município de São Paulo podemos verificar a inserção


de ações prioritárias para o sistema de drenagem urbana, o qual pontua a
elaboração de PDDU, de mapeamento e aprimoramento dos sistemas de alerta e de
emergência, entre outros.

30
6. CONCLUSÃO

O conteúdo estudado aborda critérios de drenagem urbana sustentável


por meio de ações preventivas, denominadas de medidas não estruturais.

Sendo assim, pudemos entender um pouco mais sobre manejo e gestão


das águas pluviais e a importância da participação da comunidade integrada com a
administração pública.

Notamos também, que a regulamentação de algumas medidas por meio


de legislações é de fundamental importância para que as mesmas sejam colocadas
em prática. E ainda, podendo amortizar tributos ou mesmo cobrar pelo serviço
público de drenagem, em uma ação de compensação e punição.

A elaboração de um PDDU exige estudos e aprofundamento em


pesquisas e levantamento de dados para que sejam definidas estratégias e
diretrizes que devem ser seguidas, considerando sempre, critérios sustentáveis.

Esperamos que essas informações tenham servido para ajudá-lo no


exercício da sua profissão e que você sinta-se estimulado a conhecer os diferentes
tipos de legislação que regulam o uso do solo e, em especial, as águas urbanas,
bem como medidas que podem ser adotadas com cunho preventivo.

Esperamos ainda nos encontrarmos em cursos posteriores, promovidos


pela Associação de Engenheiros e Arquitetos de Maringá - AEAM.

Boa sorte!

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7. REFERÊNCIAS

1. Águas Pluviais: planejamento setorial de drenagem urbana: guia do


profissional em treinamento: nível 2 / Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental (org). – Salvador: ReCESA, 2008. 95p.

2. BAPTISTA, Márcio Benedito. NASCIMENTO, Nilo de Oliveira. Aspectos


Institucionais e de Financiamento dos Sistemas de Drenagem Urbana.
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 7 n.1 Jan/Mar 2002,
29-49.

3. BARTH, R. T. Planos Diretores em drenagem urbana: proposição e medidas


para sua implementação. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da USP –
São Paulo, 1997.

4. CANHOLI, A.P. O Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê –


Arquitetura Geral e Principais Recomendações. XV Simpósio Brasileiro de
Recursos Hídricos. Curitiba, Paraná, 2003.

5. CANÇADO, Vanessa. NASCIMENTO, Nilo de Oliveira. CABRAL, José


Roberto. Cobrança pela Drenagem Urbana de Águas Pluviais: Bases
Conceituais e Princípios Microeconômicos. RBRH – Revista Brasileira de
Recursos Hídricos Volume 11 n.2 Abr/Jun 2006, 15-25

6. FORGIARINI, Francisco Rossarolla. Incentivos econômicos à


sustentabilidade da drenagem urbana: o caso de Porto Alegre - RS. Tese
submetida ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Instituto de Pesquisas Hidráulicas. Porto Alegre, 2010.

7. GOMES, Carlos Alberto B. de Medeiros. BAPTISTA, Márcio Benedito.


NASCIMENTO, Nilo Oliveira. Financiamento da Drenagem Urbana: Uma
Reflexão. RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 13 n.3
Jul/Set 2008, 93-104.

8. KAWATOKO, Ivie Emi Sakuma. Estabelecimento de cenários de medidas


estruturais e não estruturais para gestão das águas urbanas em escala
de lote. Dissertação de Mestrado em Engenharia Hidráulica. Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. São Carlos, 2012.

9. LENGLER, Cristina. MENDES, Carlos André B. O financiamento da


manutenção e operação do sistema de drenagem urbana de águas
pluviais no Brasil: taxa de drenagem. Revista Brasileira de Estudos
Urbanos e Regionais v.15, n.1, maio/2013.

32
7. REFERÊNCIAS

10. MELO, Marcos José V. de. Medidas estruturais e não estruturais de


controle de escoamento superficial aplicáveis na Bacia do Rio Fragoso
na cidade de Olinda. Recife: 2007. Tese de Doutorado – Universidade
Federal de Pernambuco.

11. PORTO ALEGRE, Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Plano Diretor de


Drenagem Urbana – Manual de Drenagem Urbana. Volume VI. Instituto de
Pesquisas Hidráulicas - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Departamento de Esgotos Pluviais. Setembro: 2005.

12. SÃO PAULO, Prefeitura de São Paulo. Secretaria Municipal de


Desenvolvimento Urbano. Manual de drenagem e manejo de águas
pluviais: gerenciamento do sistema de drenagem urbana. FCTH -
Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica. Volume I. São Paulo: SMDU,
2012.

13. SILVEIRA, Geraldo Lopes. FORGIARINI, Francisco R. GOLDENFUM, Joel


Avruch. Taxa não é Cobrança: Uma Proposta para a Efetiva Aplicação do
Instrumento de Gestão dos Recursos Hídricos para a Drenagem Urbana.
Revista Brasileira de Recursos Hídricos - RBRH, v.14, n.4, p. 71-80. Porto
Alegre, 2009.

14. TUCCI, C.E.M.; BERTONI, J. C. (Org.) (2003). Inundações urbanas na


América do Sul. ABRH, Porto Alegre - RS, 150 p.

15. TUCCI, C. E.M. et al. Drenagem Urbana. Caxias do Sul: ABRH/Editora da


Universidade UFRGS, 1995.

16. TUCCI, C. E.M. et al. Plano Diretor de drenagem urbana. Caxias do Sul,
2001.

17. TUCCI, C. E.M. Gerenciamento da Drenagem Urbana, RBRH vol. 7 p.5-27,


Jan/Mar, 2002.

18. TUCCI, C.E.M.; BERTONI, J. C. (Org.) (2003). Inundações urbanas na


América do Sul. ABRH, Porto Alegre - RS, 150 p.

19. WALESH, Stuart G. Urban Surface Water Management. J. Willey & Sons.
Valparaiso, Indiana – EUA, 1989.

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8. CURRÍCULO RESUMIDO DA AUTORA

ROSELI AP. DO VALLE

Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela


Unicesumar - Maringá-PR (2009). É Mestre em
Engenharia Urbana pela Universidade Estadual de
Maringá-PR (2016). Têm experiência em Projetos
Arquitetônicos, Projeto Urbanístico de Loteamentos,
Elaboração e Revisão de Legislação Municipal
referentes a Plano Diretor, ao parcelamento, uso e
ocupação do solo urbano, relatório de impacto a
vizinhança – RIV. Atualmente, professora da Faculdade
de Engenharia e Inovação Técnico Profissional –
FEITEP - Maringá-PR, nos cursos de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo ministrando disciplinas de
Projeto Arquitetônico, Planejamento e Projeto Urbano
entre outros, e atuando em diversos projetos da
instituição junto aos alunos como revitalização de áreas
urbanas, evolução histórica de Maringá-PR, projeto afro-
indígena entre outros.

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