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Apresentação do Seminário VI

Por Jacques-Alain Miller


Le désir et son interprétation
Allégorie de Vénus et Cupidon de Angelo Bronzino – National Gallery, London – Room # 8

1
1 je viens de me procurer acabo de adquirir [para mim]
Voici un livre qui, dans l’édition que je viens de me procurer 1, compte 2 600
2 compte chega a, contém, conta com
pages et se découpe 3 en 24 chapitres. Cette épaisseur 4 rend difficile de le 3 se découpe se divide, está dividido em
résumer d’autant que 5 tout son prix 6 réside dans des analyses de détails. De 4 épaisseur espessura
plus ce livre, comme d’autres livres du séminaire, n’est pas un traité. Il ne 5 d’autant que tanto mais que
6 prix valor, importância [preço]
constitue pas l’exposé 7 d’une conception achevée 8. Ce n’est pas un texte dont
7 exposé apresentação [palestra]
la fin serait contemporaine 9 du commencement. C’est un texte qui demande à 8achevée acabada
10 être lu en tenant compte 11 de son étoffe temporelle 12 qui est faite d’une 9 contemporaine simultâneo ao, que ocorre no mesmo momento
succession de prises de parole 13 hebdomadaires 14 sur toute une année 10 demande à pede para ser lido, requer que seja lido
11 tenant compte tendo em vista, considerando
universitaire. Il y a donc, d’une leçon à l’autre, des avancées 15, des
12 étoffe temporelle tessitura ao longo do tempo
corrections, des changements de perspective qui demandent à 16 être relevés 17, 13 prises de parole série de palestras
notés, précisés 18 à chaque fois. Et il y a des formules de Lacan parfois 14 hebdomadaires semanais
tranchantes 19 qui paraissent définitives et qui ne seront plus reprises 20 par lui 15 avancées progressos, avanços
16 demandent à pedem para, precisam
ni dans un séminaire ni dans un écrit. Il s’agit donc de savoir, à chaque fois
17 relevés levantadas, expostas, apontadas
pour qui lit 21, si ce qui est lu est une pépite, un terme qu’il vaut de relever 22 18 précisés especificadas, definidas
et de propager, de développer, ou si, au contraire, c’est un àcôté 23, un 19 tranchantes incisivas, taxativas [cortantes]
glissement 24 qui est ensuite corrigé. Et en feuilletant 25 une fois de plus, de 20 reprises revistas, retomadas
21 pour qui lit para quem lê [para aquele que lê]
nouveau, ce séminaire, cette fois-ci 26 sous forme 27 de livre, je me suis aperçu
22 il vaut de relever vale a pena realçar
28 à quel point la question pouvait se poser 29 pour de nombreuses phrases y
23 àcôté adendo, apêndice, acostado
compris 30 pour des mots. Quand Lacan définit ici ou là un terme d’une façon 24 glissement qui est ensuite corrigé digressão, derivação, desvio em seguida corrigida, resvalamento
qui restera unique 31, faut-il l’accentuer dans notre réflexion ? 32 [deslize, deslizamento]
25 feuilletant folheando
26 cette fois-ci desta vez
27 sous forme no formato
28 je me suis aperçu eu me dei conta, me apercebi
29 la question pouvait se poser a pergunta cabível, que cabia
30 y compris inclusive, incluindo
31 qui restera unique que não se repetirá, não será repetida
32faut-il l’accentuer dans notre réflexion? devemos aprofundá-lo em nossas reflexões?
Eis aqui um livro que, na edição que eu acabo de adquirir, contém 600 páginas e está dividido em 24 capítulos. Esta espessura torna difícil resumi-lo tanto mais que todo o seu valor
encontra-se nos detalhes de sua análise. Além disso, este livro como outros livros do seminário não é um tratado. Não é a apresentação de uma concepção acabada. Não é um texto cujo
final é da mesma época do seu começo. É um texto que pede para ser lido à luz do sua tessitura ao longo do tempo que é feita de uma série de palestras semanais registrada
durante todo um ano letivo universitário. Ocorrem, por conseguinte, de uma lição para outra, progressos, correções, mudanças de perspectiva que pedem para ser expostas, registradas,
anotadas, mais especificadas a cada vez. E há fórmulas de Lacan, às vezes incisivas, que parecem definitivas e não serão revistas por ele nem em seminários, nem em escritos. Por
conseguinte, deve-se saber que, para quem lê a cada vez, é uma pepita, um termo que vale a pena identificar e difundir, desenvolver, ou se, pelo contrário, é um adendo, um deslizamento
que é então corrigido. Folheando, mais uma vez, este seminário, desta vez no formato de livro, me dei conta a que ponto a questão podia se apresentar em inúmeras frases inclusive por
palavras. Quando Lacan define aqui e ali um termo de maneira que não será repetida, devemos aprofundá-lo em nossas reflexões?

2
1
Est-ce que cela doit être repris 1 parce que Lacan aurait là dévoilé 2 un aspect doit être repris deveria ser revisto
2
méconnu 3 ou est-ce qu’il s’agit d’un glissement, d’une dérive 4 qui ensuite 3 dévoilé desvendado, revelado, desvelado
méconnu não conhecido, ignorado, desconhecido
est corrigée ? Et l’exercice de lecture d’un séminaire, pour qui le lit, pour qui 4 dérive digressão, derivação, dispersão
le rédige – l’ayant rédigé je suis aussi et encore à le lire - c’est de savoir 5 d’une fois sur l’autre uma ou outra vez, de vez em quando
6
d’une fois sur l’autre 5 que la perspective se transforme, se déplace 6 et que déplace
7 des corrections sont opérées são feitas correções
des corrections 7, le plus souvent tacites 8, sont opérées 7. Alors ici, dans 8 le plus souvent tacites muitas vezes implícitas, em geral subentendidas
cette masse de signifiants 9, je vais tirer un fil 10, un seul. C’est un fil qui, au 9 masse de signifiants massa, monte, montão de significantes
début du séminaire, est très mince 11. Au début du séminaire, ce fil est perdu 10 tirer un fil vou puxar um fio, só um
11 très mince é muito tênue, muito fino
dans un écheveau 12 mais, au fur et à mesure 13 que progresse l’élaboration,
12 écheveau emaranhado, uma meada complicada
ce fil s’épaissit 14 et, finalement, devient une corde qu’on ne peut plus 13 au fur et à mesure à medida que, gradualmente
méconnaître 15. Plus personne ne peut le méconnaître. Ce fil 16 c’est celui du 14 s’épaissit se torna mais espesso, engrossa (grossesse gravidez )
fantasme. 15 méconnaître não podemos ignorar, não podemos desconsiderar
Ce séminaire s’intitule Le désir et son interprétation et c’est en effet dans la 16 Ce fil Esta é a linha de abordagem [Este fio é o do fantasma]
17 c’est en effet dans la question entra de fato na questão
question 17 de l’interprétation du désir qu’il prend son départ 18 et au fur et
18 il prend son départ começa, tem seu início
à mesure 19 que le séminaire progresse, il se révèle autre 20. Il se transforme 19
au fur et à mesure à medida que
de façon continue. Comme on voit dans les figures topologiques, il change 20 il se révèle autre revela outro, se revela com outro
de forme sans se déchirer 21. Et à la fin, il délivre 22 une configuration 21 sans se déchirer sem se desvirtuar, sem se esgarçar
sensiblement différente, très différente même, de ce qu’elle est au début . 22 il délivre fornece, proporciona, oferece
23
23
On ne connaît pas de livre de ce genre. En tout cas pour le moment 24 je n’en 24 est au début no início, inicialmente, primeiramente, primeiro
pour le moment por ora, por enquanto, provisoriamente
vois pas de comparable 25. On en a d’autres comparables dans le séminaire 25
comparables com que possa se comparar
de Lacan, mais ce livre est tout de même une sorte de livre très spécial. Pour 26 Pour aller vite Para encurtar, Para ir direto ao ponto
aller vite 26 je dirais que ce séminaire contient, élabore, la première logique 27 logique du fantasme que Lacan a construite Avec l'auxiliaire 'avoir', le participe passé s'accorde
du fantasme que Lacan a construite 27. Il y aura plus tard le Séminaire XIV normalement avec le complément d'objet direct seulement si celui-ci est placé devant le verbe.
28 28 qui portera que levará, que terá o título
qui portera ce titre de La logique du fantasme.
Será que isso deveria ser revisto porquanto Lacan teria desvendado um aspecto não conhecido ou será uma derivação em seguida corrigida? E o exercício de leitura de um seminário, para quem
lê, para quem redige – tendo-o redigido estou também lendo mais uma vez – sabendo que de vez em quando a perspectiva se transforma, se desloca, são feitas correções, muitas vezes
implicitamente.
Nesta altura então, diante deste novelo de significantes, vou puxar um fio, só um. Trata-se de um fio que no início do seminário é muito tênue. No início do seminário, este fio está perdido
em um emaranhado, mas gradualmente e à medida que se desenvolve e progride, este fio se torna mais espesso e eventualmente vira uma corda que não podemos ignorar.
Ninguém mais pode ignorar. Esta é a linha de abordagem do fantasma.
Este seminário se intitula O desejo e sua interpretação e entra de fato na questão da interpretação do desejo, com o que tem seu ponto de partida e, à medida que o seminário avança, se
revela com outro. Ele se transforma continuamente. Como pode se ver nas figuras topológicas, ele altera a seu formato sem se desvirtuar. E, no final, ele oferece uma configuração
substancialmente diferente, muito diferente mesmo do que era no início. Não se conhece livro deste gênero. Em todo caso, por ora, não vejo nada que se compare. Há outros com que pode-se
comparar no seminário de Lacan, mas este livro ainda é uma espécie de livro muito especial. Para encurtar, eu diria que este seminário contém, desenvolve a primeira lógica do fantasma que
Lacan construiu. Mais tarde haverá o Seminário XIV que será intitulado A lógica do fantasma.

3
1 sera adossée vai ser respaldada (dos costas, dorso, espaldar [de
Cette seconde logique du fantasme, la vraie si on veut, sera adossée 1 à cet article de Lacan qui, je dois le supposer, a
cadeira])
été étudié par beaucoup ici 2 et qui s’appelle « Position de l’inconscient » et que Lacan a commenté dans son 2 par beaucoup ici por muitos aqui
Séminaire XI, Les Quatre concepts fondamentaux à partir du couple de 3 l’aliénation et de la séparation. Dans une 3 couple de dupla
4
note de l’édition des Écrits, Lacan signale que cet écrit « Position de l’inconscient » constitue le complément et 4 signale aponta, indica

presque le redépart 5 de ce qu’il avait ouvert avec son texte inaugural « Fonction et champ de la parole et du langage 5 le redépart dá novo início, recomeça, retoma
6
». Je m’étais jadis 6 interrogé sur la valeur éminente 7 que Lacan donnait à ce texte qui s’est trouvé rédigé au moment 7 Jadis Há tempos, Há algum tempo, Uma vez
sur la valeur éminente notável valor, valor inestimável
où il prononçait son Séminaire XI et qu’il a, dans le cours de ce séminaire, inclus dans ses commentaires. 8 reste dans le fil de prossegue na mesma linha de, continua na
Le Séminaire VI comme première logique du fantasme reste dans le fil de 8 « Fonction et champ de la parole et du linha de
langage » et il se centre progressivement sur la formule que Lacan donne du fantasme $ <> a. Cela s’écrit S 9 progressivement paulatinamente, de modo crescente
majuscule avec une barre, ce que nous appelons le poinçon, c’est un losange, et le petit a qui est un a minuscule en 10 d’emblée de imediato, imediatamente
10 11
italique. Nous pouvons d’emblée compléter le mot de fantasme par un adjectif qui vient à sa place 12 11 compléter complementar
12 qui vient à sa place como adjunto
essentiellement au chapitre XX, page 434, l’adjectif « fondamental ». Et cette expression a déjà, quand Lacan la
13 a figuré tinha aparecido, fez constar
profère dans son chapitre XX, figuré 13 sous sa plume 14 en particulier dans l’écrit qui précède exactement le 14 sous sa plume de sua autoria
séminaire VI à savoir « La direction de la cure ». Mais « La direction de la cure » est un rapport qui a été délivré 15 en 15 a été délivré veio a público, foi publicado, foi divulgado
juillet de l’année 58 et Lacan commence son Séminaire VI en novembre de la même année. Le Séminaire VI 16 prolonge é uma extensão, um prolongamento estende
16
prolonge donc le thème de « La direction de la cure ». 17 en particulier particularmente, em especial
Il prolonge en particulier 17 la conclusion du texte qui porte précisément sur 18 l’interprétation du désir. Donc c’est 18 qui porte précisément sur se refere especificamente
19
dans ce fil 19 que ce Séminaire VI s’inaugure 20. Ce qui est affirmé à la fin de l’écrit est problématisé 21 au début du 20 dans ce fil nesta linha, na sequência disto [ fil meada, linha]
s’inaugure teve início
séminaire VI qui prend la suite 22. Lacan conclut son article et, dans le fil-même, il rouvre 23 la question et 21 est problématisé é problematizado
précisément la déplace 24. Et dans « La direction de la cure » on trouve, deux fois l’expression déjà du fantasme 22qui prend la suite que vem em seguida, que lhe dá sequência
fondamental qui n’a pas encore dans cet écrit-même de précision. On trouve cette précision seulement dans le 23 il rouvre ele reabre
séminaire VI. 24 précisément la déplace desloca de modo preciso, com precisão

Esta segunda lógica do fantasma, a verdadeira se quisermos, vai ser respaldada por Lacan neste artigo que, suponho, foi estudado por muitos e chamado de "A posição do inconsciente" e que
Lacan comentou em seu Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais a partir da dupla alienação e separação. Em uma nota para a edição dos Escritos, Lacan aponta que essa escrita "A
posição do inconsciente" é o complemento e quase recomeço do que ele abriu com seu texto inaugural Função e campo da fala e da linguagem". Há tempos me perguntei o porquê do
notável valor que Lacan deu ao texto que é encontrado escrito quando ele entregou seu Seminário XI e que, no decorrer do seminário, ele incluiu em seus comentários.
O Seminário VI como primeira lógica do fantasma é coerente com a "Função e campo da fala e da linguagem" e paulatinamente centra-se na fórmula que Lacan dá para o fantasma, $ <> a.
Isto se escreve com um S maiúsculo com uma barra, o que nós chamamos o poinçon 1, é um losango, e o pequeno a que é um a minúsculo em itálico. Podemos imediatamente
complementar a palavra fantasma com o adjetivo “fundamental”, como adjunto, especialmente no Capítulo XX, página 434, o adjetivo "fundamental". E esta expressão tem quando Lacan fala
de no Capítulo XX, fez constar de sua autoria em especial por um escrito que precede justamente o seminário VI, a saber "A direção da cura." Mas "A direção da cura" é um relatório que
veio a público em Julho do ano 58 e Lacan começa Seminário VI em novembro do mesmo ano. O Seminário VI estende, assim, o tema "A direção da cura."
Ele é um prolongamento, particularmente da conclusão do texto que se refere especificamente à interpretação do desejo. Por conseguinte, é nesta linha que este Seminário VI teve
início. O que é dito no final da escrita é problematizado no início do seminário VI que vem em seguida. Lacan conclui seu artigo e na mesma sequência reabre a questão e a desloca de
forma precisa. E em "A direção da cura" já é encontrada por duas vezes a expressão fantasma fundamental que, neste mesmo escrito, ainda não é precisado. Esta precisão será encontrada
somente no seminário VI.

1
sovela, soco, punção
4
1 m’a paru mérité me pareceu merecer
L’expression « le fantasme fondamental » m’a paru mérité 1 d’être portée 2 en titre de ce
2 être portée ser posta, constar [ser levada ao]
3
chapitre XX et le fantasme fondamental ne se dit qu’au singulier . Chez Lacan il n’est pas 3 ne se dit qu’au singulier só é mencionada no singular
monnayé 4 sous la forme des fantasmes fondamentaux mais quand il apparaît dans son 4 il n’est pas monnayé não é cunhada
5 6
discours c’est porté au singulier . En quoi est-il fondamental ? C’est une question que jadis 5 c’est porté au singulier é posta no singular
je m’étais posée et que nous nous étions posée 7 dans un certain cercle et nous ne disposions 6 jadis há tempos
7
pas 8 d’un texte à ce moment-là qui nous permettait de trancher sur 9 la valeur à donner à cet 8 nous étions posée nos estávamos em
ne disposions pas não dispúnhamos
adjectif fondamental. En quoi est-il fondamental ? Je crois qu’on peut maintenant apporter 9 trancher sur decidir sobre, determinar, resolver quanto a
cette réponse 10: en ce qu 11’il est minimal 12, c’est-à-dire qu’il s’écrit avec les deux termes de 10apporter cette réponse dar esta resposta
la formule et la relation à double entrée 13 qui lie les deux termes. Cette relation est à double 11 en ce que em virtude de, pelo fato de
entrée puisqu’elle peut se lire dans un sens et dans l’autre. Ces deux termes et la relation à 12 il est minimal de sintetizar, ser uma síntese, ser minimalista
13
double entrée qui les lie sont sensés 14 donner la structure minimale du fantasme.Il me semble 14 à double entrée de dupla entrada
qu’on peut dire que c’est une structure minimale du fantasme au sens où plus tard Lacan sont sensés são tidos como, são considerados capazes [são supostamente
capazes ]
donnera la structure minimale de la chaîne signifiante en écrivant S1-S2. Il est d’autant plus 15 15 d’autant plus tanto mais
justifié de rapprocher ces deux structures minimales que plus tard Lacan les regroupera 16, les 16 les regroupera vai reagrupá-las, reuni-las
articulera dans la formule du discours du maître, point de départ, canevas 17, du quatuor 18 de 17 canevas rascunho, esquema preliminar, esboço
18 quatuor quatro [quarteto]
ces discours. Avant même l’écriture mémorable de ce discours du maître on trouve déjà, dès
19 adjointés unidos, reunidos, agrupados
Le Séminaire XI, adjointés 19 ces deux couples de termes minimes. Dans cette même page 20 hapax hápax, único, expresso uma única vez
434, Lacan présente cette formule minimale comme la forme vraie de la prétendue relation 21 au cours de no decorrer de, durante, ao longo de
d’objet et là, ce n’est pas un hapax 20, ce n’est pas dit une seule fois mais plusieurs fois au
cours de 21 ce séminaire.
A expressão fantasma fundamental me pareceu merecer constar do título desse capítulo XX, e só é mencionada no singular. Em Lacan, ela não é cunhada sob a forma de fantasias
fundamentais. Quando ela aparece, em seu discurso, é posta apenas no singular. Em que ele é fundamental? Esta é uma pergunta que eu me fiz há tempos, e que nos estávamos em
determinado círculo e não dispúnhamos de um texto, naquele momento, que nos permitisse decidir sobre o valor a ser dado ao adjetivo fundamental. No que ele é fundamental? Acho que
agora podemos dar essa resposta: pelo fato de ser uma síntese, ou seja, se escreve com os dois termos da fórmula e como a relação de dupla entrada que liga os dois termos. Essa
relação é de dupla entrada, já que pode ser lida em um sentido e em outro. Esses dois termos e a relação de dupla entrada que os liga são considerados capazes de dar a estrutura sintetizada
do fantasma. Penso que se pode dizer estrutura sintetizada do fantasma no sentido que Lacan dará, mais tarde, à estrutura sintetizada da cadeia significante ao escrever: S1-S2. A aproximação
dessas duas estruturas sintetizadas justifica-se ainda mais pelo fato de Lacan, mais tarde, reagrupá-las, articulá-las na fórmula do discurso do mestre, ponto de partida, esquema preliminar
dos quatro discursos. Antes mesmo da escrita memorável desse discurso do mestre já encontramos unidos, desde o Seminário XI, esses dois pares de termos mínimos.
Nessa mesma página 434, Lacan apresenta essa fórmula sintetizada como a forma verdadeira da pretendida relação de objeto e, ali, não se trata de um hápax, por não ser referido uma única
vez, mas muitas vezes no decorrer desse Seminário.

5
1 se trouve au niveau du fantasme reside no fantasma, se encontra no fantasma
La véritable relation d’objet qui a fait le thème du séminaire IV de Lacan, la véritable relation
2comme venant de soi como evidente por si mesma, como óbvia
d’objet se trouve au niveau du fantasme 1. C’est une assertion qu’on ne devrait pas admettre
3 ne se situe pas au niveau de la pulsion não reside na pulsão, não se encontra
comme venant de soi 2. Elle veut dire, au sens de Lacan, que la relation d’objet ne se situe pas au
4à cette date à época, naquela ocasião
niveau de la pulsion 3. Pourquoi ? Pourquoi, au fond, à cette date 4, n’y a-t-il pas à proprement 5 à proprement parler a bem dizer, para dizer a verdade
parler 5 chez Lacan, me semblet-il, l’objet pulsionnel ? C’est qu’à cette date, dans l’élaboration 6 6 dans l’élaboration , na concepção,no desenvolvimento realizado por Lacan
de Lacan, la pulsion a le statut d’une demande 7 et d’une demande d’autant plus 8 impérative 7 le statut d’une demande tem status de, condição de uma demanda
qu’elle est inconsciente. Comme demande, elle n’est pas attachée à 9 des objets mais à des 8 d’autant plus tanto mais imperativa, impositiva
signifiants. Il y a parfois sur ce point des variations de Lacan mais je crois pouvoir dire que la 9 n’est pas attachée à independe de objetos, não está presa
pulsion dans le séminaire VI comme dans « La direction de la cure », désigne 10 un rapport 10 désigne designa, serve para designar
inconscient au signifiant et non pas à l’objet. Le rapport à l’objet se situe au niveau non pas de la 11 par l’intermédiaire mediante, por intermédio de, por meio de
pulsion mais du désir et ce par l’intermédiaire 11 du fantasme. C’est ainsi que, dans son graphe, 12 tandis que enquanto que, ao passo que
Lacan fait de la pulsion le vocabulaire ou plus précisément le code, c’est le terme qu’il emploie à 13 telle quelle tal e qual, inalterada
14 on ne sort pas não deixamos [de fora] o significante, largamos o significante
l’époque, de la demande inconsciente, écrit $ <> D, tandis que 12 le fantasme s’écrit $ <> a, a
15 par le biais du sob o ponto de vista do, sob o aspecto do
étant l’objet. Autrement dit et curieusement pour ceux qui suivent le cours de l’enseignement de
16 tant que tanto é que, já que, visto que
Lacan et sont parfois entrés dans l’enseignement de Lacan par son dernier enseignement, avec la
17 à proprement parler stritu senso, em sentido estrito, a rigor
pulsion telle quelle 13 est quand on lit le séminaire VI, on ne sort pas 14 du signifiant. C’est 18 La page ne se tourne que A página só é virada, A questão só é superada
seulement avec le désir qu’on a un rapport à l’objet par le biais du 15 fantasme. Et d’une certaine 19laisse de côté põe de lado, abandona
façon je crois que tant que 16 Lacan n’admettra d’objets qu’imaginaires, il n’y aura d’objet à 20 à deux étages com dois planos, dois níveis [dois andares, degraus]
proprement parler 17, que dans le fantasme. 21 suppose que pressupõe, que tem como pressuposto
La page ne se tourne qu 18’à la fin du séminaire VI. En même tant que la page se tourne Lacan 22 Tant que Tanto é que, Tanto que
laisse de côté 19 son graphe à deux étages 20 qui suppose 21 cet écart 22 entre pulsion et fantasme. 23 écart distinção, discrepância, hiato, distanciamento, separação
Tant que 23 Lacan n’admettra d’objets qu’imaginaires, tant qu 24’il n’admettra d’objets que 24 tant que visto que, já que
procédant 25 du stade du miroir, tant qu’il n’admettra d’objets que dérivés de l’image de l’autre 25 procédant que procedam, provenientes
c’est-à-dire de l’image du corps propre, l’objet est celui du fantasme. Donc la difficulté pour ceux 26 alors que quando, no momento em que
27 se mettre en position de lecture et d’étude se ponham a ler
qui liront le séminaire VI alors qu 26’ils sont formés par l’enseignement postérieur de Lacan c’est
28 qui comporte que tendo em vista, compreendendo, que compreende
de se mettre en position de lecture 27 et d’étude qui comporte que 28 ce séminaire s’élabore dans
29 si grand tão grande
l’écart entre pulsion et fantasme et même dans un écart si grand 29 que le fantasme éclipse 30 la
30 éclipse se sobrepõe a [encobre, oculta]
pulsion.
A verdadeira relação de objeto que é o tema do Seminário IV de Lacan, a verdadeira relação se encontra no fantasma. É uma afirmação que não deveria se admitir como evidente em si
mesma. Ela significa quer dizer, no sentido dado por Lacan, que a relação de objeto não está na pulsão. Por quê? Por que, no fundo, à época, a bem dizer não há em Lacan, me parece, o
objeto pulsional? É que, à época, na concepção de Lacan, a pulsão está sob a condição de demanda, e uma demanda tanto mais imperativa pelo fato de ser inconsciente. Enquanto
demanda, ela não está vinculada a objetos, mas a significantes. Sobre esse ponto há, por vezes, variações de Lacan, mas creio poder dizer que a pulsão, no Seminário VI, assim como em “A
direção da cura”, serve para designar uma relação inconsciente com o significante e não com o objeto. A relação com o objeto não está na pulsão, mas no desejo, e isto por meio do
fantasma. Assim é que, em seu gráfico, Lacan faz da pulsão o vocabulário, ou, mais precisamente, o código – termo que emprega na época – da demanda inconsciente, representada
por $ <> D, enquanto que o fantasma é representado por $ <> a, em que a é o objeto. Em outras palavras, e curiosamente para aqueles que acompanham o curso do ensino de Lacan e
entraram nele por seu último ensino, com a pulsão como ela se manifesta ao se ler o Seminário VI, não largamos o significante o significante. Somente com o desejo que se tem uma
relação com o objeto pela perspectiva do fantasma. E, já que de certa forma Lacan só irá admitir objetos imaginários, acredito eu, não haverá objeto stritu senso senão no fantasma.
A página só é virada no final do Seminário VI. Ao mesmo tempo em que a página é virada, Lacan põe de lado seu gráfico do desejo com dois níveis que tem como pressuposto essa
distinção entre pulsão e fantasma. Tanto é que Lacan só vai admitir objetos imaginários, só vai admitir objetos que procedam do estágio do espelho, só vai admitir objetos derivados da
imagem do outro, quer dizer, da imagem do corpo próprio, este objeto é o do fantasma. Daí a dificuldade daqueles que se puserem a ler o Seminário VI, tendo se formado no ensino posterior
de Lacan, que leiam e estudem tendo em vista que esse Seminário foi elaborado para distinguir a pulsão do fantasma, numa distinção suficientemente grande de modo a ver que, inclusive,
o fantasma se sobrepõe à pulsão, eclipsa a pulsão.
6
C’est seulement à la fin que Lacan donne une sorte de coup de barre 1 par un mouvement brusque qui se 1 coup de barre guinada, golpe de direção
produit 2 vers le chapitre 22. Dans le fil 3 on commence à voir la pulsion reprendre ses droits 4 et être 2 qui se produit que acontece, que ocorre
évoqué 5 un statut de l’objet qui soit réel, de l’objet comme réel. Et cela restera si peu assuré 6 que, 3 Dans le fil Nesta linha, Seguindo este raciocínio
encore dans son Séminaire XIV La logique du fantasme ou peut être est-ce L’objet de la psychanalyse, 4 reprendre ses droits recuperar sua vantagem [seus privilégios]
je n’ai pas eu le temps de vérifier, Lacan surprendra son auditoire 7 en disant le statut de l’objet a 5 être évoqué a ser invocado, a ser exigido
c’est un statut de réel et cela figure si l’on veut 8 dans ces quelques lignes 9 du séminaire VI. 6 si peu assuré terá tão poucas garantias disto, ficará tão pouco assegurado
Au fond, ce revirement est tel qu’il n’a pas été enregistré 10 par l’auditoire de Lacan et que lui-même 7 son auditoire seus ouvintes, sua audiência [seu público]
ne l’a pas consolidé tant 11sa conception de l’objet des années durant est restée enracinée 12 dans 8 si l’on veut – se [assim] quiserem –
l’imaginaire et précisément dans la relation spéculaire, dans le stade du miroir, dans la relation du moi dans ces quelques lignes nestas poucas linhas
et du petit autre. Ce qu’on peut noter de ce revirement ne sera donc déployé 13 et sanctionné que des 9 revirement reviravolta, virada, guinada
années plus tard. 10 n’a pas été enregistré não foi gravado
Évidemment, je vous ramène à 14 une autre époque c'est-à-dire au fondement même des discours que 11 ne l’a pas consolidé tant não consolidou tanto, nem firmou tanto
nous tenons. Je ne sais pas si j’exagère en disant que le terme de fantasme, par exemple, dans le 12 est restée enracinée continuou, ficou arraigada
colloque que nous avons tenu, le terme de fantasme, qui aurait pu être appelé 15 par beaucoup des 13 ne sera déployé terá desdobramento
évocations 16 cliniques qui ont été faîtes le terme de fantasme est, au contraire, presque, on aurait pu 14 vous ramène à os remeto, os levo de volta a
le croire, tombé en désuétude 17. C’est dire qu’il ne faut pas lire seulement ce séminaire comme le 15 aurait pu être appelé que poderia ser invocado
témoignage d’une époque passée et qu’il faut peut-être retrouver certains des fondements de notre 16 évocations menções, referências, invocações
propre abord 18 dans ce séminaire. On trouverait à redonner 19 parfois des couleurs ou de la précision 17 en désuétude caducou, em desuso, fora de uso
à nos évocations cliniques d’aujourd’hui. Il est certain que 20, pour ce que j’ai entendu des débats qui 18 notre propre abord nossa própria abordagem
ont eu lieu 21 sur le genre et les aspirations des sujets au changement dont François Ansermet notait à 19 à redonner restaurar
juste titre 22 qu’au fond il y a certitude 23 -en effet il y a, si je puis dire 50 nuances de certitude pour 20 Il est certain que Certamente, Com certeza
reprendre le titre d’un roman -il est certain que pour préciser ces nuances, se référer au fantasme serait 21 ont eu lieu ocorreram, aconteceram, tiveram lugar
de la plus grande utilité pour la précision de nos constructions. C’est par un mouvement inverse que, 22 à juste titre com razão
plus tard, la pulsion retrouvera sa place et s’adjointera 24 au fantasme, que l’objet sera reconnu 23 il y a certitude existe a certeza
comme étant 25 du registre du réel et que dans le dernier enseignement de Lacan fantasme et pulsion 24 s’adjointera irá se juntar
seront confondus dans le sinthome comme mode de jouir. 25 comme étant

Somente no final Lacan deu uma espécie de guinada num movimento abrupto que ocorre por volta do Capítulo 22. Em seguida a este raciocínio começamos a ver a pulsão retomar seu
curso e a ela se referir como uma condição de objeto que seja real, do objeto como real. E isso ficará tão pouco assegurado que, ainda em seu Seminário 14: “A lógica do fantasma”, ou talvez
em “O objeto da psicanálise” – não tive tempo de verificar – Lacan surpreenderá seus ouvintes ao dizer que o objeto a tem status de real, e isso figura – se quiserem – nessas poucas linhas
do Seminário VI. No fundo, essa reviravolta é tão grande que não foi gravada pelos ouvintes de Lacan, ele próprio não o tendo consolidado dada a sua concepção do objeto, durante anos, ter
ficado arraigada no imaginário, precisamente na relação especular, no estágio do espelho, na relação do eu com o pequeno outro. O que se pode notar dessa reviravolta só terá desdobramentos
e será sancionado anos mais tarde.
Evidentemente, eu os remeto a outra época, ou seja, ao próprio fundamento dos discursos de que dispomos. Não sei se estou exagerando ao dizer que o termo fantasma, por exemplo, no
colóquio que fizemos, esse termo que poderia ter sido mencionado em muitas das referências clínicas feitas ao termo fantasma, pelo contrário, acreditem, quase caiu em desuso. Quer dizer
que não se deve ler esse Seminário apenas como testemunho de uma época passada, e que talvez seja necessário reencontrar nele alguns dos fundamentos de nossa própria abordagem. Talvez
arranjássemos um modo de, por vezes, restaurar cores ou dar precisão em nossas referências clínicas de hoje. É certo que, pelo que ouvi dos debates ocorridos sobre o gênero e sobre as
aspirações dos sujeitos à mudança, em relação à qual François Ansermet observava, com toda razão, que no fundo há certeza - de fato há, se assim posso dizer, 50 tons de certeza, para tomar o
título de um romance -, é certo que, para precisar essas nuanças, referir-se ao fantasma seria da maior utilidade para a precisão de nossas construções. É por um movimento inverso que, mais
tarde, a pulsão encontrará seu lugar e se juntará ao fantasma, o objeto será reconhecido como sendo do registro do real e que, no último ensino de Lacan, fantasma e pulsão serão confundidas no
sinthoma como modo de gozar.

7
1
Autrement dit le ballet 1 que j’esquisse 2 entre fantasme et pulsion est de grand avenir 3 dans le ballet as idas e vindas entre, a dança, o bailado Au sens figuré activité faite
l’enseignement de Lacan jusqu’au point où les deux termes vont trouver à 4 se confondre dans 2 d'allées et venues, de mouvements a coreografia, o bailado
j’esquisse que eu esboço, de que faço um esboço
l’usage que Lacan fera du terme de sinthome. Donc quand on s’est introduit à 5 Lacan par son 3 est de grand avenir tem grande futuro
dernier enseignement, il faut un effort pour accommoder la vue 6 sur le séminaire VI et pour 4 vont trouver à vão chegar a, vão acabar
pouvoir être enseigné 7 par la perspective qu’il propose sur l’expérience du désir. 5 s’est introduit à somos introduzidos no
L’expérience du désir c’est un terme que Lacan emploie dans le séminaire. Pour ne pas le 6 accommoder la vue ajustar a visão
laisser dans le vague 8 j’en donnerai un premier exemple. Le premier exemple, ce serait le 7 être enseigné se orientar, ser guiado, orientado
recours que le sujet fait au fantasme quand il a affaire à l’opacité 9 du désir du grand Autre -et 8 le laisser dans le vague não deixar isto ficar vago
que cette opacité, son illisibilité 10 a pour effet l’Hilflosigkeit 11 freudienne, la détresse 12 du 9
opacité falta de clareza, indefinição, difuso Au fig. Caractère d'une chose
sujet. C’est alors que 13 le sujet a recours 14 au fantasme comme à une défense. Ce n’est dit incompréhensible ou impénétrable, par ex., l'opacité d'un texte
qu’une fois dans le séminaire par Lacan mais c’est une fois qu’il faut relever 15. Le sujet a 10 son illisibilité hermetismo Au fig., littér. Caractère d'une chose qui n'est pas
recours au fantasme comme à une défense c'est-à-dire qu’il puise dans 16 les ressources du lisible. Manque de clarté, d'intelligibilité (d'un fait, d'un discours, d'un ouvrage de
stade du miroir qui lui offre toute une gamme de postures, du triomphe à la soumission, et l'esprit, d'une personne). Synon. ambiguïté, hermétisme
c’est alors, dit Lacan page 29, que le sujet se défend avec son moi. 11 Hilflosigkeit desalento, desânimo, sentimento de impotência →
C’est une telle expérience qui permet de parler de l’usage du fantasme que nous avons repris impuissance, faiblesse
par la suite. Il faut voir que cela s’enracine 17 exactement dans ce point : l’usage du fantasme 12 détresse sentimento de impotência
comme une défense en face de l’opacité de l’Autre et cette expérience permet de parler de 13 C’est alors que É nesse momento, É quando
l’usage du fantasme parce qu’il est instrumentalisé à proprement parler 18 afin de parer 19 à 14 a recours il faut relever deve ser realçada
la détresse. Ce que Lacan appelle dans ce séminaire l’expérience du traumatisme reste marqué 15
il faut relever deve ser realçada
du recours au fantasme. 16 il puise dans vai buscar, vai tirar
Christiane Alberti et Marie-Hélène Brousse ont donné dans les documents qu’elles ont
17 s’enracine cria raízes, se enraíza
diffusés pour préparer les prochaines Journées de l’ECF sur le thème du traumatisme, les
références au traumatisme dans le séminaire VI. 18 à proprement parler rigorosamente
19 parer evitar
Em outras palavras, as idas e vindas entre fantasma e pulsão de que faço um esboço vai ter um grande futuro no ensino de Lacan, a ponto de os dois termos acabarem se confundindo no
uso que ele fará do termo sinthoma. Portanto, quando somos introduzidos nos último ensino de Lacan, é preciso um esforço para ajustar a visão sobre o Seminário VI e para se orientar pela
perspectiva que ele propõe sobre a experiência do desejo.
A experiência do desejo é uma expressão que Lacan emprega no Seminário. Para não ficar vago, darei um primeiro exemplo: seria o recurso que o sujeito faz quando recorre ao fantasma ao ter
de lidar com a falta de clareza do desejo do Outro, cuja hermetismo tem como efeito o Hilflosigkeit freudiano, o desalento do sujeito.
É nesse momento que o sujeito recorre ao fantasma como uma defesa. Isso é dito apenas uma vez por Lacan nesse Seminário, mas essa única vez deve ser realçada. O sujeito recorre ao
fantasma como a uma defesa, isto é, ele vai buscar os recursos do estágio do espelho que lhe oferece toda uma gama de posturas, do triunfo à submissão. E é então que o sujeito, diz Lacan na
página 29, se defende com seu eu.
É uma experiência tal que permite falar do uso do fantasma, o que retomamos em seguida. É preciso ver que isso se enraíza exatamente neste ponto: o uso do fantasma como uma defesa diante
do Outro a falta de clareza do Outro. E essa experiência permite falar do recurso ao fantasma, porque ela está rigorosamente instrumentalizada para evitar o sentimento de impotência.
Nesse Seminário, o que Lacan chama de experiência do trauma permanece marcado pelo recurso ao fantasma.
Christiane Alberti e Marie-Hélène Brousse, nos documentos que divulgaram para preparar as próximas Jornadas da ECF sobre o tema do trauma, as referências o trauma no Seminário VI.

8
1 mon ordinateur meu computador
Ayant à ce moment-là ce séminaire sur mon ordinateur 1, tous les chapitres joints 2, je n’ai
2 joints reunidos
eu qu 3’à m’enquérir 4 grâce à l’ordinateur du mot traumatisme ou trauma et j’ai pu leur 3 je n’ai eu que só tive que
communiquer toutes les occurrences. On peut donc compter que dans les Journées, il y a 4 m’enquérir tive apenas que pesquisar, buscar para mim, apurar
assez de temps 5 entre maintenant et les Journées de l’ECF pour que ceux qui y participeront 5 assez de temps bastante tempo
aient le temps 6 de lire le séminaire VI et n’omettent pas7, s’agissant du traumatisme8, de 6 aient le temps tenham o tempo de ler
7 n’omettent pas não se omitam
donner sa place 9 à l’usage du fantasme et, en particulier, à l’usage du fantasme comme
8 s’agissant no que se refere a, em se tratando de
défense. On me dit que les 500 exemplaires qui avaient été en primeur 10 apportés 11 ici, 9 donner sa place dar o devido lugar
puisque pour l’instant 12 aucune librairie en France ne les a encore, ces 500 exemplaires ont 10 en primeur em primeira mão, os primeiros
été vendus. On peut compter que l’intérêt sera maintenu pour les constructions de Lacan des 11 apportés trazidos aqui
époques antérieures parce que, au fond, les nouvelles constructions de Lacan n’annulent pas 12 pour l’instant por enquanto, por ora
les anciennes, elles les prolongent 13. Mais parfois 14 les nouvelles perspectives effacent des 13 les prolongent as estendem
14
reliefs 15 que les anciennes mettaient en évidence 16 et je crois que concernant le fantasme 15 parfois por vezes
reliefs destaques
c’est le cas. Bien que 17 le fantasme ait été relancé 18 par le séminaire XIV qui est La logique 16 mettaient en évidence evidenciavam
du fantasme, c’est un terme, je crois que notre colloque est probant 19 là-dessus, c’est un 17 Bien que Embora, Se bem que
terme qui est un peu tombé en désuétude et qui va retrouver des couleurs après l’étude 18 relancé novamente abordado
20 21
19
de ce séminaire et, en tout cas, après le fil que je propose. Je rapprocherai 22 ce passage de la 20 est probant prova, é prova, é a comprovação
est un peu tombé en désuétude que caiu um pouco em desuso
page 29 d’un autre de la page 108 où Lacan isole 23 ce qu’il appelle le point panique du 21 retrouver des couleurs irá se recuperar, se restabelecer, recobrar os sentidos
sujet. Là le terme de point n’est pas négation 24. Le point signale ce qu’on obtient 22 Je rapprocherai Vou novamente abordar
normalement en coupant deux lignes . Ce point panique du sujet est celui, dit-il, où le sujet 23 isole separa, destaca, retira
25
24
s’efface 26 derrière 27 un signifiant. Il ne faut pas entendre par cet effacement 28 que le sujet 24 n’est pas négation não é [o advérbio de] negação
en coupant deux lignes quando duas linhas se cortam
est identifié mais qu’il est comme gommé 29: c’est le point où il ne peut plus rien dire de lui- 26
s’efface desaparece, se anula, se apaga
même, où il est réduit au silence et c’est alors qu’il se raccroche à 30 l’objet du désir. 27 derrière por trás, por detrás
28 effacement anulação, eliminação, supressão
29 comme gommé nulidade apagado
30 se raccroche à se agarra, se apega
Tendo, neste momento, este seminário em meu computador, todos os capítulos reunidos, tive apenas que buscar, graças a ele, a palavra traumatismo, ou trauma, e assim pude lhes dizer
todas as suas ocorrências. Podemos então contar com o fato de haver bastante tempo entre hoje e as Jornadas da ECF, para que aqueles que dela participarão tenham tempo de ler o
Seminário VI e não se omitam, no que se refere ao trauma, de dar o devido lugar ao recurso ao fantasma, em particular, ao recurso ao fantasma como defesa. Disseram-me que os 500
primeiros exemplares trazidos aqui – pois, por enquanto, nenhuma livraria na França os tem – foram vendidos. Pode-se contar com o fato de que o interesse será mantido para as
construções de Lacan das épocas anteriores, porque as novas construções de Lacan não anulam as antigas, elas as estendem. Mas, por vezes, novas perspectivas apagam destaques que as
antigas evidenciavam e creio que, no que concerne ao fantasma, é este o caso. Embora o fantasma tenha sido novamente abordado pelo Seminário 14 –“A lógica do fantasma” – trata-se
de um termo que eu acho o colóquio irá atestar – que caiu um pouco em desuso e que irá se recuperar depois de estudar esse Seminário, pelo menos depois desse encaminhamento
que proponho. Vou novamente abordar a passagem da página 29 com uma outra na página 108, em que Lacan destaca, separa o que ele chama de ponto pânico (point panique) do sujeito.
Ali, o termo ponto (point) não é uma negação. O ponto indica o que se obtém, normalmente, quando duas linhas se cortam. Esse ponto pânico do sujeito é aquele, diz ele, em que o sujeito
desaparece, se anula por trás de um significante. Não se deve entender, por essa anulação, que o sujeito está identificado, mas, sim, como nulidade: é o ponto em que ele não pode dizer
mais nada de si mesmo, em que é reduzido ao silêncio. É, então, que ele se agarra ao objeto do desejo.

9
C’est la même logique du fantasme qui opère au niveau de l’inconscient 1 où le sujet n’a pas la possibilité de 1 au niveau de l’inconscient no inconsciente
se désigner 2 lui-même, où il est affronté à 3 l’absence de son nom de sujet. C’est alors au fantasme qu’il a 2 se désigner designar-se a si mesmo
recours et c’est dans son rapport à l’objet du désir que réside la vérité de son être. Ce que le séminaire VI 3 est affronté à se vê frente à
explore, c’est un champ peu exploré, qui se trouve au-delà du signifiant et qui est désigné comme celui du 4 mise en évidence
fantasme. Il est articulé dit Lacan à partir d’une conciliation entre le symbolique et l’imaginaire. Cette 5 il est emprunté
conciliation est mise en évidence 4 dans l’écriture même $ <> a. L’objet a vient de l’imaginaire, il est 6 au miroitement
emprunté 5 au stade du miroir, au miroitement 6 de la relation spéculaire tandis que 7 le sujet S barré est le 7 tandis que
sujet du signifiant, le sujet de la parole. Les deux éléments de Lacan donc ici se trouvent conciliés. On sait
8 articulation representação
que Lacan donnera plus tard dans le séminaire IX sur l’identification une articulation 8 topologique de cet
9 cet adjointement junção
adjointement 9 de deux éléments hétérogènes. Mais on peut dire que, par référence à l’enseignement
10 progressivement gradativamente
postérieur de Lacan, ce champ du fantasme fonctionne comme un réel. Ce terme de réel va s’imposer
11 Il en est É o que acontece
progressivement 10 dans la dernière partie du séminaire.
Il en est 11 manifestement 12 ainsi dans la 1ère partie du séminaire essentiellement consacrée à 13 l’analyse du manifestement claramente
12
13 consacrée à dedicada a
rêve fameux du père mort. Je vous rappelle le texte de ce rêve, que Freud a inclus d’abord dans sa «
Formulation sur les deux principes » et qu’il a intégré ensuite à La science des rêves. Le père est encore en 14 en vie vivo, em vida
vie 14, il parle à son fils qui est le rêveur. Le fils a le sentiment douloureux que son père est déjà mort mais 15 y compris inclusive
que le père n’en sait rien. Lacan détaille, y compris 15 sur son graphe, comment Freud traite le rêve par le 16 clausules propósitos, a pertinência
16 17 18
signifiant et l’interprète en restituant les clausules qu’il estime être élidées par le texte du rêve et en 17 être élidées ser eliminado do sonho
19
particulier le fameux « selon son vœu» . Il y a le traitement de ce rêve par Freud que Lacan reprend et le 18texte du rêve contexto do sonho
traitement de ce rêve par Lacan. Lacan traite essentiellement ce rêve par l’objet et non pas par le signifiant et 19selon son vœu conforme seu anseio, seu desejo
traitant le rêve par l’objet, vous le verrez en particulier page 75, il implique le antasme dans le rêve. Il pose la 20
Il pose la question Ele pergunta, faz a pergunta
question 20: cette confrontation du père et du fils, cette scène structurée, ce scénario, qu’est-ce que c’est ?
Est-ce un fantasme ?

É a mesma lógica do fantasma que opera no inconsciente, em que o sujeito não tem a possibilidade de designar-se a si mesmo, em que se vê frente à ausência de seu nome de sujeito. É,
então, ao fantasma que ele recorre e é na sua relação com o objeto do desejo em que reside a verdade de seu ser. O que o Seminário VI explora é um campo, pouco explorado, que se encontra
para além do significante e é designado como o do fantasma. Ele é formulado, diz Lacan, a partir de uma conciliação entre o simbólico e o imaginário. Essa conciliação é evidenciada na própria
fórmula $ <> a. O objeto a provém do imaginário, é tomado do estágio do espelho, do reflexo da relação especular, ao passo que o $ é o sujeito do significante, o sujeito da fala. Assim, os dois
elementos de Lacan encontram-se, aqui, conciliados. Sabemos que Lacan dará, mais tarde, no Seminário 9: “A identificação”, uma formulação topológica dessa junção de dois elementos
heterogêneos. Mas se pode dizer que, por referência ao ensino posterior de Lacan, esse campo do fantasma funciona como real. O termo real se imporá gradativamente na última parte do
Seminário. É o que acontece claramente na primeira parte do Seminário, essencialmente dedicada à análise do famoso sonho do pai morto. Lembro-lhes o texto desse sonho, que Freud
incluiu, inicialmente, em “Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental” e que integrou, em seguida, à “Interpretação dos sonhos”. O pai ainda está vivo e fala a seu filho que é
o sonhador. O filho tem o sentimento doloroso de que seu pai já está morto, mas este não sabe disso. Lacan detalha, inclusive em seu gráfico, como Freud trata o sonho por meio do significante e
o interpreta restituindo-lhe os propósitos, pertinência que ele pensa ter suprimido, eliminado pelo texto do sonho, em particular o famoso “segundo seu anseio, seu desejo”. Há o
tratamento desse sonho dado por Freud, que é retomado por Lacan, e o tratamento desse sonho por Lacan. Lacan o trata essencialmente pelo objeto e não pelo significante e, ao fazê-lo, vocês
verão isto em especial na página 75, implica o fantasma no sonho. Ele [faz a] pergunta: o que é esse confronto entre o pai e o filho, essa cena estruturada, esse cenário? É um fantasma?

10
D’autres questions sont posées 1 mais une réponse vient, dite une fois par Lacan, que c’est effectivement un 1 questions sont posées perguntas são feitas
fantasme. Il énonce ici que nous nous trouvons devant un fantasme de rêve. Lacan est donc amené 2, dans 2 est donc amené á assim levado a
l’interprétation du rêver, non pas à procéder à l’analyse signifiante mais à assumer 3 la représentation 3 assumer assumir
imaginaire qu’offre le rêve et à la qualifier de fantasme, une catégorie de fantasme qui est le fantasme de rêve. 4 Verneinung recusa, denegação [déniant, négation] Negierung, Negation,
Il admet qu’un fantasme est passé dans le rêve. Cela fait sens précisément parce que nous sommes au niveau Verneinung, Leugnung, Verweigerung, Verleugnung
des représentations imaginaires au point que Lacan peut dire que ce fantasme peut garder la même structure et 5
Verwerfung forclusão, prescrição, cassação [suppression, forclusion
la même signification dans un autre contexte qu’il ne soit plus de Verneinung 4 mais de Verwerfung 5, qu’il
[entre déni et psychose] mécanisme de défense spécifique à la psychose
ne soit plus de dénégation mais de forclusion, qu’il ne soit plus de rêve mais de psychose. Autrement dit on a
ici le début d’une gradation, d’un nuancier du fantasme où vous avez le fantasme de rêve mais vous avez 6 [déchéance d'un droit]:
6
aussi le fantasme de psychose. Mutatis mudandis il en donne l’exemple saisissant 7: ce sera dans la psychose nuancier du fantasme matizar o fantasma
7
le sentiment d’être avec quelqu’un qui est mort mais qui ne le sait pas. Autrement dit là, l’unité fantasme peut l’exemple saisissant
se déplacer du rêve à la psychose. Il ajoute même qu’après tout on peut avoir cela aussi dans la vie quotidienne 8 gens momifiés pessoas mumificadas
quand on fréquente des gens momifiés 8 et qu’on a le sentiment qu’ils ne le savent pas mais qu’ils sont déjà à 9ils sont déjà à bout já chegaram ao fim, já estão no fim
bout 9. On peut penser que là il a en tête 10 ceux qui sont alors ses adversaires dans la psychanalyse. La 10 a en tête tem na cabeça
conclusion de l’interprétation freudienne c’est que ce rêve est manifestement un rêve œdipien et que le vœu 11 vœu dernier último desejo
dernier 11 d’un rêve œdipien est en rapport au père, c’est le voeu de la castration du père. Eh bien pas du tout ! 12 réponse dernière última resposta
Cette conclusion-là n’est pas celle de Lacan puisqu’il considère que le fantasme conçu comme la réponse 13 on touche tocamos
dernière 12 au point panique va au-delà du vœu œdipien. On voit que l’Œdipe est encore dans le champ du 14 affrontement à confrontação, enfrentamento com
signifiant et que Lacan pense qu’avec le fantasme on touche 13 au-delà de ce qu’il en est même de l’Œdipe. Il 15
pointe aponta
le dit : le fantasme ici va bien au-delà du vœu œdipien. Vous lisez cela page 118. Plus essentielle, plus 16 indice indício
profonde que la souffrance du fils, il y a son affrontement à 14 l’image du père comme le rival comme fixation 17
imaginaire. pour autant que porquanto
15 18 là je cite Lacan – cito aqui Lacan –
Autrement dit l’interprétation dernière pointe le fantasme, pointe la présence irréductible de l’image. On
19 le signe de o sinal, o indício
peut dire que cette fonction de reste est justement l’indice 16 de réel dont est affectée cette image. Il y a
17 20 son abolition sua erradicação, eliminação, supressão
toujours chez un sujet un point panique, peut-on dire, pour autant qu ’il y a dans le rapport du sujet au
signifiant une impasse essentielle qui fait, là je cite Lacan , qu’il n’y a pas d’autre signe du sujet que le signe 21 il s’accroche à ele se agarra a
18
19 de son abolition 20 de sujet et c’est pourquoi il s’accroche à 21 l’objet imaginaire.

Outras questões são formuladas, mas a resposta, dita uma vez por Lacan, é que se trata efetivamente de um fantasma. Ele enuncia, aqui, que nos encontramos diante de um fantasma de sonho. Lacan é então
levado, na interpretação do sonhar, não a proceder à análise significante, mas a assumir a representação imaginária oferecida pelo sonho e a qualificá-la de fantasma, uma categoria de fantasma que é o
fantasma de sonho. Ele admite que um fantasma aconteceu no sonho. Isso faz sentido precisamente porque estamos no nível das representações imaginárias, a ponto de Lacan poder dizer que esse fantasma
pode manter a mesma estrutura e a mesma significação em outro contexto que não é mais o de Verneinung, mas de Verwerfung, não se trata mais de denegação, mas de forclusão, não se trata mais de
sonho, mas de psicose. Em outras palavras, tem-se, aqui, o começo de uma gradação, de um matizar do fantasma em que se tem o fantasma de sonho, mas também o fantasma da psicose. Mutatis mutandis,
ele dá este exemplo surpreendente: será, na psicose, o sentimento de estar com alguém que já morreu, mas que não sabe disso. Em outras palavras, a unidade fantasma pode se desloca do sonho à
psicose. Ele acrescenta, inclusive, que, afinal, se pode ter isso também na vida cotidiana, quando estamos junto a pessoas mumificadas e temos a impressão de que elas não sabem que já chegaram ao fim.
Podemos pensar, aqui, que Lacan tem em mente aqueles que, na época, eram seus adversários na psicanálise. A conclusão da interpretação freudiana é que esse sonho é manifestamente edipiano e que o
desejo último de um sonho edipiano é em relação com o pai, é o desejo da castração do pai. Pois bem, de modo algum!
Não é essa a conclusão de Lacan, pois ele considera que o fantasma concebido como a resposta última ao ponto pânico vai mais além do desejo edipiano. Vemos que o Édipo ainda está no campo do significante
e que, para Lacan, com o fantasma, tocamos mais além do próprio Édipo. Ele o diz: o fantasma, aqui, vai além do desejo edipiano. Vocês podem ler isso na página 118. Mais essencial, mais profundo que o
sofrimento do filho, há seu confronto com a imagem do pai como o rival, como fixação imaginária. Em outras palavras: a interpretação última aponta o fantasma, aponta a presença irredutível da imagem.
Podemos dizer que essa função de resto é justamente o indício de real com o qual essa imagem é afetada. Pode-se dizer que em um sujeito sempre há um ponto pânico, pois, na relação do sujeito com o
significante, há um impasse essencial que faz com que, cito Lacan: “não haja outro indício do sujeito senão o de sua erradicação de sujeito, razão pela qual ele se agarra ao objeto imaginário”.

11
La seconde partie du séminaire est constituée par la reprise d’un rêve analysé par la psychanalyste anglaise 1 communication relato, relatar
Ella Sharpe. Vous y retrouvez une dialectique entre le rêve et le fantasme. Je rappelle l’épisode qui précède 2a l’habitude tem o hábito, está acostumado a
l’analyse du rêve et la communication 1 du rêve à l’analyste : le sujet a l’habitude 2, depuis quelques temps, de 3 tousser avant tossir antes
tousser avant 3 d’entrer dans le cabinet 4 de l’analyste. Je renvoie aux pages 181-182. Le sujet rapporte un 4 cabinet de l’analyste consultório da analista
fantasme qu’il a eu 5 et Lacan valide 7 en effet que c’est un fantasme. Ce qu’il s’agit d’analyser, dit-il, c’est le 5 il a eu teve
fantasme, et sans le comprendre, c’est-à-dire en y retrouvant la structure qu’il révèle. Dans le chapitre X Lacan 7 valide ratifica, certifica
procède à une consultation 8 méthodique du fantasme et du rêve et il trouve entre fantasme et rêve, pages 211- 8 consultation consulta
212, une structure symétrique et inverse. Cette dialectique du fantasme et du rêve est d’autant plus prégnante 9 d’autant plus prégnante tanto mais significativa, relevante
9 que, page 269, il note qu’on peut distinguer le niveau du fantasme et celui du rêve. « On peut aussi dire qu’il
10 rêve éveillé sonho acordado
y a fantasme des deux côtés, les fantasmes du rêve et ceux du rêve éveillé 10». Autrement dit l’expression
11 décale as distancia, faz com que se afastem [décaler : se
fantasme de rêve se retrouve là pour la seconde fois dans le séminaire et c’est ce que je vous invite à retrouver
dans la lecture. Cette dialectique du rêve et du fantasme fait des analyses de rêve qu’on trouve dans ce deslocar, se afastar]
12 impliquent envolvem, compreendem
séminaire la spécificité qui les décale 11 tout à fait de celles qu’on trouve, par exemple, dans le séminaire V.
13 dès que a partir do momento em que
L’originalité de ces interprétations de rêve est qu’elles impliquent 12 le fantasme et cette catégorie singulière
14 dans la même ligne pelas mesmas razões, por isso mesmo
du fantasme qu’est le fantasme de rêve. On voit ici comme un dynamisme de la catégorie du fantasme : dès qu
13’il y a représentation il y a fantasme et, dans la même ligne 14, on pourrait dire que le rêve est fantasme. 15 n’exploite pas

Lacan ira plus loin encore jusqu’à dire que la réalité est fantasme. Cette catégorie a un grand dynamisme et 16 est ici tout à fait en évidence é extremamente evidente

notre usage n’exploite pas 15 sa vitalité propre, sa vitalité conceptuelle propre, qui est ici tout à fait en 17 porte sur se debruça sobre, focaliza

évidence 16. Notez page 274-275 que le dernier mot de l’interprétation du rêve que Lacan propose porte sur 17 18 surinterprète levou a interpretação para além de seus limites

le rêve du patient d’Ella Sharpe. Ella Sharpe a analysé très complètement ce rêve, et Lacan le surinterprète 18. 19 surinterprétation superinterpretação, interpretação para além

La surinterprétation 19 lacanienne de ce rêve est un fantasme et c’est sur un fantasme que se termine cette
partie, pages 274-275.
A segunda parte do Seminário é constituída pela retomada de um sonho analisado pela psicanalista inglesa Ella Sharpe. Vocês encontrarão ali uma dialética entre o sonho e o fantasma. Lembro-lhes o episódio
que precede a análise do sonho e a comunicação do sonho à analista: o sujeito tem o hábito, há algum tempo, de tossir antes de entrar no consultório da analista. Eu os remeto às páginas 181-182. O
sujeito faz o relato de um fantasma que teve e Lacan confirma tratar-se, realmente, de um fantasma. O que se trata de analisar, diz ele, é o fantasma, e sem compreendê-la, ou seja, encontrando nele a
estrutura que se revela. No capítulo X, Lacan procede a uma consulta metódica do fantasma e do sonho e encontra, entre fantasma e sonho, nas páginas 211-212, uma estrutura simétrica e inversa. Essa
dialética do fantasma e do sonho é tanto mais significativa pelo fato de, na página 269, ele destacar que se pode distinguir o nível do fantasma e o do sonho: “Pode-se também dizer que há fantasmas dos
dois lados, os fantasmas do sonho e os do sonho acordado”. Dito de outro modo, a expressão fantasma de sonho se encontra ali, pela segunda vez nesse Seminário, e eu os convido a reencontrá-la na leitura.
Essa dialética do sonho e do fantasma faz das análises de sonhos que encontramos nesse Seminário a especificidade que faz com que se afastem completamente daquelas encontradas, por exemplo, no
Seminário V. A originalidade dessas interpretações de sonhos é que elas se envolvem com o fantasma e com essa categoria singular que é o fantasma de sonhos. Vemos, aqui, uma espécie de dinâmica da
categoria do fantasma: a partir do momento em que haja representação, haverá fantasma e, pelas mesmas razões, se poderia dizer que o sonho é fantasma.
Lacan irá mais longe ainda e chega a dizer que a realidade é fantasma. Essa categoria tem um grande dinâmica e nosso uso não explora sua vitalidade própria, sua vitalidade conceitual própria que, aqui, é
extremamente evidente. Notem, nas páginas 274-275, que a última palavra da interpretação do sonho proposta por Lacan focaliza o sonho do paciente de Ella Sharpe. Ella Sharpe analisou esse sonho
completamente e Lacan levou a interpreta para além de seus limites. A interpretação para além lacaniana desse sonho é um fantasma e é sobre um fantasma que termina essa parte, nas páginas
274-275.

12
1 reprendre repisar, retomar, abordar [outra vez, de novo]
Hamlet, sept leçons, que je ne vais pas reprendre 1. Il est clair qu’à cette occasion 2 Lacan
2 à cette occasion nessa oportunidade, nessa ocasião
élargit 3 le concept de l’objet a au-delà de l’autre imaginaire, qu’il admet que toute une 3 élargit amplia
chaîne, tout un scénario peut s’inscrire dans le fantasme et il reconnaît en même temps l’objet 4
met en avant destaca
comme étant l’élément structural des perversions ce qui ouvre sur la distinction clinique entre 5hors temps defasado, descadenciado, extemporâneo
le fantasme dans la névrose et dans la perversion, page 373. Le critère que Lacan met en 6 sous-tendu subjacente, em estado latente
4 5
avant , c’est le temps. Le fantasme de la perversion est hors temps , disons en simplifiant, et 7 se chargeant
8 nec plus ultra indispensável, absolutamente indispensável ao
le fantasme de la névrose est, au contraire, sous-tendu 6 par le rapport du sujet au temps,
9
l’objet se chargeant 7 dans ce cas de la signification de l’heure de vérité. C’est ce qui apparaît 10se jouera ocorrerá, vai acontecer
dans le phénomène bien connu de la procrastination d’Hamlet. Dans Hamlet et à travers les 11 effacé anulado, apagado
leçons d’Hamlet, le fantasme est indiqué comme le terme de la question du sujet comme le alors que quando, no momento em que
12 se passionne nos entusiasmamos
lieu où la question du sujet sur son désir trouve sa réponse c’est-à-dire comme le nec plus 13 cerner delimitar, estabelecer os limites
ultra du désir. Et c’est là que Lacan détermine le lieu où pour lui se jouera 9 la fin de 14 oblitérait invalidássemos para efeitos clínicos, excluísse os aspectos clínicos
l’analyse quand il définira la passe. Il y a un certain paradoxe à ce que, dans notre clinique, le 15du côté de la clinique do ponto de vista da clínica, para efeitos clínicos
terme de fantasme se soit trouvé en quelque sorte effacé 10 alors qu 11’on se passionne 12 dans 16 jouer un rôle essentiel ter um papel essencial, desempenhar um papel essencial
17 attendu esperado
le même temps pour identifier et cerner 13 la fin de l’analyse comme si, par un clivage, on 18 oscillation vacilação, mudança de humor
réservait la question du fantasme à la fin de l’analyse et qu’on l’oblitérait 14 du côté de la 19 déchu relegado, decaído, desprezado
clinique15. C’est le lieu où se jouera pour Lacan la fin de l’analyse quand il définira la passe 20 frère irmão
comme la solution à l‘impasse essentielle du sujet dans son rapport au signifiant. Dans 21 accentue acentua, realça
Hamlet vous verrez aussi le fantasme jouer un rôle essentiel . Il y a deux personnages qui 22 ponctue marca, faz a marcação
16
23
viennent jouer le rôle de l’objet a, le personnage attendu 17, Ophélie, objet sublime du désir, 24 ayant sauté tendo pulado
tombe túmulo
qui se trouve ensuite par une oscillation 18 objet déchu 19, mais aussi Laërte, son frère 20. 25 creusée escavado, cavado
Lacan accentue 21, ponctue 22 le moment où ce frère ayant sauté 23 dans la tombe 24 creusée 25 26 est rejoint se encontra com
de sa sœur, est rejoint 26 par Hamlet et qui s’affronte 27 ici comme à son double à ce 27 s’affronte ici e se defronta, se depara
personnage. Lacan accentue, ponctue le moment où ce frère ayant sauté dans la tombe creusée
de sa soeur, est rejoint par Hamlet et qui s’affronte ici comme à son double à ce personnage.
Hamlet,sete lições que não vou reprisar. Fica claro que, nessa ocasião, Lacan amplia o conceito de objeto a para além do outro imaginário; ele admite que toda uma cadeia, todo um cenário pode se
inscrever no fantasma e, ao mesmo tempo, reconhece o objeto como sendo o elemento estrutural das perversões, o que abre para a distinção clínica entre o fantasma na neurose e na perversão (página
373). O critério que Lacan destaca é o tempo. Digamos, para simplificar, que o fantasma da perversão é descadenciado, extemporâneo e o fantasma da neurose está, pelo contrário, subjacente na
relação do sujeito com o tempo, o objeto se encarregando, neste caso, da significação da hora da verdade. É o que aparece no fenômeno da procrastinação de Hamlet. Em Hamlet, e através das lições sobre
ele, o fantasma é indicada como o termo da questão do sujeito, como o lugar onde a questão do sujeito sobre seu desejo encontra sua resposta, ou seja, como o nec plus ultra, condição absolutamente
indispensável ao desejo. E é aqui que Lacan determina o lugar onde, para ele, se dará o fim da análise, quando ele definirá o passe. Há um certo paradoxo no fato de que, em nossa clínica, o termo fantasma
se encontre, de algum modo, apagado, ao passo que, ao mesmo tempo, ficamos ávidos para identificar e delimitar o final da análise como se, por uma clivagem, reservássemos a questão do fantasma para o
final da análise e a enfraquecêssemos pelo lado da clínica. É o lugar onde se dará, para Lacan, o final da análise, quando ele definirá o passe como a solução do impasse essencial do sujeito em sua relação
com o significante. Em Hamlet, vocês verão também o fantasma ter um papel essencial. São dois personagens que desempenham o papel de objeto a, o personagem esperado, Ofélia, objeto sublime do
desejo que, em seguida, em uma reviravolta se torna objeto decaído, mas há também Laerte, seu irmão.
Lacan realça, marca o momento em que esse irmão, tendo pulado no túmulo escavado para sua irmã, se encontra com Hamlet que se depara, aqui, com esse personagem como seu duplo.

13
Autrement dit, il faut relire les sept leçons d’Hamlet qui sont encadrées 1 par ces deux émergences 2 1 encadrées vividos, representados
essentielles du fantasme. 2 émergences aparições, surgimentos
La dernière partie qui comporte huit chapitres nous permet de saisir ce qui a ici mené Lacan. Il 3 comporte contém, tem
3 4 5
explique en effet dans ce chapitre XX qui est le premier de cette dernière partie, celui du fantasme 4 saisir compreender
fondamental, que c’est une limite de l’interprétation telle que lui-même l’avait posée en conclusion 5 a ici mené conduziu, motivou aqui
dans son article sur « La direction de la cure » à savoir – je le cite – « Tout exercice d’interprétation 6 renvoi de vœu en vœu que remete de um desejo para outro, de um anseio para
a un caractère de renvoi de vœu en vœu 6». outro  vœu : desejo, aspiração, anseio désir, exprimé ou non par quelqu'un, d'obtenir
Nous avons une succession de désir et c’est ce qui est resté des analyses, par exemple, sur le rêve de quelque chose pour lui ou un autre, de voir un événement se produire. [aussi voto,
la Belle Bouchère, etc… c’est précisément l’effet de renvoi indéfini 7 du désir. La reprise 8 dans le compromisso, escolha]
séminaire VI, c’est la reprise de la question de savoir comment interpréter le désir si le désir est 7 renvoi indéfini de remeter de modo indefinido, de remissão indefinida
essentiellement métonymique. Or ce qui était posé 9 dans l’écrit de « La direction de la cure », qui 8 reprise retomada
est celui sur lequel Lacan a branché 10 son séminaire, c’est en fait que le désir n’avait pas à 9 était posé foi determinado, definido, estabelecido
11
proprement parler d’objet. Le désir tel qu’il figure dans « La direction de la cure », tel qu’il 10 a branché ligou, estabeleceu a ligação, relacionou
constitue même la cinquième et dernière partie de cet article, ce désir, au fond, est défini et là c’est 11 à proprement parler a rigor, concretamente
une citation, il est défini comme métonymie du manque à être. Avant le séminaire VI le désir était 12 insubstantiel inconsistente,
précisément posé comme absolument insubstantiel 12 mais en tant que la répercussion 13 d’un 13 répercussion resultado, efeito, consequência
manque. C’est pourquoi Lacan avait fixé cette image du Saint-Jean de Léonard souvent 14 14 souvent muitas vezes
15
commentée, le doigt levé vers toujours ailleurs. Ceci nous arrêtait sur une définition de 15 arrêtait sur
16
l’interprétation, qu’interpréter c’est faire signe vers ailleurs et que donc l’allusion est le mode 16 vers ailleurs
énonciatif privilégié de l’interprétation. 17 rebuter fazer reparos, reorientar, redirecionar [fixar novo propósito]
C’est précisément ce que Le Séminaire Le désir et son interprétation est fait pour rebuter et 17 18 C’est même que
contester en posant au contraire que le désir implique un rapport à l’objet par le biais du fantasme et 19 à condition de com a condição de
qu’il est possible dans ce séminaire, d’interpréter le fantasme.C’est même que 18 le fantasme est lui- 20 succession com a sucessão, com a continuidade
même l’interprétation du désir à condition de 19 partir de la diachronie du désir, de la succession 20, 21 tout en ramassant juntando a um só tempo
tout en ramassant 21 dans la synchronie et c’est la valeur de la formule 22 $ <> D. 22 la valeur de la formule $ <> D o valor, a importância,
Em outras palavras, é preciso reler as sete lições sobre Hamlet que são enquadradas por essas duas aparições, surgimentos essenciais do fantasma.
A última parte, que contém oito capítulos, nos permite compreender o que motivou Lacan aqui. Com efeito, ele nos explica, nesse capítulo XX, que é o primeiro dessa última parte, o do fantasma
fundamental, que é um limite da interpretação, tal como ele próprio o havia formulado na conclusão de seu artigo “A direção da cura”, a saber, eu o cito: “Todo exercício de interpretação tem um caráter de
remeter de um desejo para outro”. Temos uma sucessão de desejo. Isso foi o que restou das análises, por exemplo, sobre o sonho da Bela Açougueira, etc. É precisamente o efeito de remeter sem definir
o desejo. A retomada, no Seminário VI, é a retomada da questão de saber como interpretar o desejo, sendo ele essencialmente metonímico. Ora, o que foi determinado, definido estava formulado no
escrito “A direção da cura”, com o que Lacan fez a ligação de seu Seminário, é que o desejo em verdade não tinha concretamente objeto. O desejo, tal como figura em “A direção da cura”, tal como
constitui a quinta e última parte desse artigo, no fundo, esse desejo é definido - e aqui vai uma citação – “como metonímia da falta a ser”. Antes do Seminário VI, o desejo era precisamente formulado como
absolutamente inconsistente, como repercussão de uma falta. Por isso, Lacan havia fixado a imagem do São João, de Leonardo, frequentemente comentada, com o dedo levantado apontando
sempre para outro lugar. Isso nos detinha numa definição de interpretação: interpretar é apontar em outra direção alhures e, portanto, a alusão é o modo enunciativo privilegiado da interpretação.
Era precisamente o que o Seminário “O desejo e sua interpretação” fazia para fazer reparos e contestar isso, formulando, ao contrário, que o desejo implica uma relação com o objeto através do fantasma,
que é possível, nesse Seminário, interpretar o fantasma. Até mesmo que o fantasma é ele próprio a interpretação do desejo com a condição de partir da diacronia do desejo, da sucessão, juntando a um
só tempo, à sincronia. Este é o valor da fórmula: $ ◊ D.

14
Lacan propose ces deux registres, la diachronie et la synchronie. On voit bien qu 1’il a 1
On voit bien que Vemos muito bem, Vemos claramente
2
privilégié l’aspect métonymique du désir mais il le complète de la synchronie qui est 2
il le complète de o complementa com
3 3
articulée dans le rapport du sujet barré et de l’objet a. Et donc, si je vous renvoie à la page vous renvoie à se faço para vocês uma remissão a, os remeto para
4
4
446, vous y trouverez la logique du fantasme telle qu’elle est déployée et articulée dans ce est déployée se desenvolve e se articula, tem desdobramentos
5 5
séminaire. Premièrement, le sujet rencontre dans l’Autre un vide articulé. Ce vide, c’est dément desminta
6 6
celui qui est défini par la négation, il n’y a pas d’Autre de l’Autre, qui dément une vide vazio
7
catégorie qui avait été créée dans le Séminaire V, et laisse le sujet sans repère 7 de sans repère sem referência
nomination . Deuxièmement, le sujet fait alors venir du registre imaginaire – c’est l’usage, nomination denominação
8 8
9
l’instrumentation de l’imaginaire – il fait venir 9 du registre imaginaire une partie de lui- fait venir introduz
10
même engagée dans la relation imaginaire, dans la relation spéculaire au petit autre. C’est alors É então que
Troisièmement, cet objet a une fonction de suppléance par rapport à la carence essentielle 11 doit créer une surprise deve causar surpresa
du signifiant. C’est alors 10 que Lacan s’intéresse à ce qui est proprement la structure du 12
a saisi compreendeu
sujet et la trouve dans l’intervalle de la chaîne signifiante, dans la coupure et la coupure 13
jusqu’alors até então
sera au fond le dernier mot de ce séminaire. Mais ce qui est et qui doit créer une surprise 11 14 ce qu’il en est acontece
à quelqu’un qui a saisi 12 la cohérence de la construction de Lacan jusqu’alors 13, c’est 15
il fait venir ele traz, ele introduz
14
qu’au chapitre XXII, quand Lacan questionne à nouveau ce qu’il en est de l’homme objet tout à fait absent absolutamente ausente
16

qui correspond à un sujet coupure, il fait venir 15 l’objet prégénital qui a été de tout le 17
abandonné à foi relegado como
16 18
séminaire tout à fait absent du registre fantasmatique. L’objet prégénital, dans tout le essentiellement fundamentalmente, basicamente, essencialmente
17 18 19
séminaire, a été abandonné à la pulsion et considéré essentiellement comme un Il se retrouve
19 20
signifiant. Il se retrouve ici impliqué dans le fantasme en tant qu’objet de coupure et
20
impliqué dans associado ao, envolvido com, implicado em, comprometido com
21
21 22
c’est là un coup de barre sensationnel que Lacan donne à l’orientation du séminaire coup de barre guinada
22
comme si de rien n’était . 23 sensationnel sensacional, espetacular, notável
23
comme si de rien n’était como se não fosse nada
Lacan propõe estes dois registros: a diacronia e a sincronia. Vemos muito bem que ele privilegiou o aspecto metonímico do desejo, mas ele o complementa com a sincronia, articulada na
relação do sujeito barrado com o objeto a. Então, se os remeto à página 446, vocês ali encontrarão a lógica do fantasma, como é desenvolvida e articulada nesse Seminário. Em primeiro
lugar, o sujeito encontra no Outro um vazio articulado. Esse vazio é aquele definido pela negação, não há Outro do Outro, que desmente uma categoria criada no Seminário V e deixa o sujeito
sem referência de denominação. Em segundo lugar, o sujeito introduz o registro imaginário – é o uso, a instrumentação do imaginário – uma parte dele mesmo engajada na relação
imaginária, na relação especular com o pequeno outro.
Em terceiro, esse objeto tem uma função de suplência em relação à carência essencial do significante. É então que Lacan se interessa pelo que é propriamente a estrutura do sujeito e a
encontra no intervalo da cadeia significante, no corte, e que, no fundo, será a última palavra desse Seminário.
Mas o que é de admirar, e que deve causar surpresa para quem compreendeu a coerência da construção de Lacan até então, é que, no capítulo XXII, quando questiona novamente o que
acontece com o homem objeto que corresponde a um sujeito-corte, ele traz introduz o objeto pré-genital que esteve, ao longo do Seminário, absolutamente ausente do registro
fantasmático. O objeto pré-genital, em todo o Seminário, foi relegado como pulsão e considerado fundamentalmente um significante. Aqui, ele se encontra implicado no fantasma como
objeto de corte e esta é uma guinada sensacional dada por Lacan na orientação do Seminário, como se não fosse nada.

15
On découvre que cet objet a n’est pas seulement enraciné dans 1 l’imaginaire mais que c’est 1 enraciné dans arraigado, enraizado
aussi bien le sein 2 à partir du sevrage 3 en tant qu’objet de coupure, c’est aussi bien 2
le sein o seio
4 5 3
l’excrément qui est éjecté et coupé du corps et Lacan y ajoute la voix , et spécialement la sevrage desmame
6 4
voix interrompue et tous les objets de structure phallique qui sont impliquées dans la est éjecté
structure de coupure par la mutilation et par la stigmatisation. Et donc de façon surprenante 5 voix voz
7
, avec un effet de coupure 8 pour le coup 9, à la fin, au chapitre XXII, nous voyons revenir le 6 sont impliquées fazem parte da
réel 10 puisque les objets prégénitaux qui sont ici les objets du fantasme, Lacan pose la 7
surprenante surpreendente
11 8
question de savoir que sont ici ces objets prégénitaux qui sont les objets du fantasme si ce coupure corte
n’est des objets réels. Et voilà d’un coup 12 une nouvelle orientation prise 13 et il signale 14 9pour le coup desta vez
que ce sont des objets réels qui sont dans un rapport étroit 15 avec la pulsion vitale du sujet. Il 10 revenir le réel o retorno do real
ne reviendra pas 16 là-dessus 17 mais c’est déjà ici que s’introduit la fonction de la jouissance 11 pose la question põe em questão, faz a pergunta questiona pergunta
qui prépare la fonction dont Lacan rendra compte 18 de la construction de ce séminaire deux 12 d’un coup definitivamente, de uma vez por todas, de repente
ans plus tard quand il posera que le je inconscient est au niveau de la jouissance. A partir de 13 orientation prise orientação adotada
là Lacan étudie, avec une précision clinique qui n’a pas d’équivalent ailleurs19, le fantasme 14 il signale salienta, chama a atenção
pervers dans le passage à l’acte de l’exhibitionniste et du voyeuriste et le compare avec ce qui 15
étroit estreita
est le fantasme dans la névrose. Le dernier mot du séminaire, c’est la coupure qui serait, dit 16
Il ne reviendra pas não voltará a
Lacan, sans doute le mode le plus efficace de l’interprétation à condition qu 20’elle ne soit pas
mécanique. C’est aussi la coupure qui fait le joint 21 entre le symbolique et le réel, comme au là-dessus naquela ocasião, naquele momento
17
18
début du séminaire c’est au fantasme 22 qu’était dévolu de 23 faire le joint entre le rendra compte irá relatar, reportará
19
symbolique et l’imaginaire. qui n’a pas d’équivalent ailleurs sem qualquer paralelo, sem comparação
20
à condition que desde que
21
fait le joint faz a junção, junta
22
c’est au fantasme era ao fantasma
23
était dévolu de que competia, que cabia
Descobre-se que esse objeto a não está apenas enraizado no imaginário, mas é também o seio, a partir do desmame, como objeto de um corte, é também o excremento ejetado e cortado do
corpo. Lacan, aqui, acrescenta a voz, especialmente a voz interrompida, e todos os objetos de estrutura fálica que fazem parte da estrutura de corte pela mutilação e pela estigmatização.
Então, de maneira surpreendente, desta feita com um efeito de corte desta vez, no final do capítulo XXII vemos o retorno do real, uma vez que os objetos pré-genitais, aqui, são os objetos
do fantasma. Lacan, então, questiona o que podem ser neste caso os objetos pré-genitais, que são os objetos do fantasma, se não forem objetos reais. Eis aqui, de uma vez por todas em
definitivo, uma nova orientação adotada e ele salienta que os objetos reais são os que têm uma relação estreita com a pulsão vital do sujeito. Ele não voltará a essa questão naquela
ocasião, mas, aqui, já se introduz a função do gozo que prepara a função por meio da qual Lacan irá relatar a construção desse Seminário, dois anos mais tarde, quando formulará que o
inconsciente está no nível do gozo. A partir daí, Lacan estuda, com uma precisão sem precedente, o fantasma perverso na passagem ao ato de exibicionismo e de voyeur, de voyeurismo,
comparando-a ao que é o fantasma na neurose.
A última palavra do Seminário é o corte que seria, sem dúvida, diz Lacan, o modo mais eficaz da interpretação, desde que ela não seja mecânica. É também o corte que faz a junção entre o
simbólico e o real, tal como, no começo do Seminário, era ao fantasma que competia fazer a junção entre o simbólico e o imaginário.

16
1
C’est pour Lacan renouer 1 avec le début 2de son enseignement, avec le séminaire consacré à « renouer a restabelecer uma ligação, religar, reconectar
2
L’au-delà du principe du plaisir » et à la structure de la chaîne signifiante où déjà il émergeait que avec le début com o início, o começo, com os primórdios
le symbolique trouve son fondement 3 dans la coupure. Simultanément la fin du séminaire du
3
trouve son fondement tem suas fontes no corte, é consequência do corte
4
ouvre sur abre caminho para, dá abertura para, propicia, abre a passagem
désir ouvre sur 4 celui de l’éthique de la psychanalyse qui prendra son départ de l’instant 5du réel. 5
de l’instant ao defrontar-se com, desde o seu momento, seu instante
Ce sera aussi un séminaire qui tiendra pour acquis 6 le joint 7 fait entre fantasme et pulsion, 6
tiendra pour acquis vai considerar como um fato, vai admitir, vai consignar
condition pour que puisse émerger en tant que telle l’instance de la jouissance. Je terminerai en 7
joint junção, concomitância, coincidência, conjunção, justaposição
lisant un passage du dernier chapitre du séminaire du désir qui consonne 8 étrangement 9 avec ce 8 qui consonne condiz com, é coerente, está em sintonia,
9
qui se produit 10 sous nos yeux 11 cette année à savoir le remaniement 12 des conformismes étrangement estranhamente
voire leur éclatement 13. C’est pourquoi il ne m’a pas paru 14 excessif en présentant ce séminaire 11sous nos yeux diante de nossos olhos
10

ce qui se produit com o que se viu, com o que aconteceu, ocorreu


d’écrire que ce séminaire éloigné dans le temps 15 d’un demi siècle néanmoins parlait de nous 12
remaniement reformulação, reconfiguração, recomposição
aujourd’hui. Voilà l’extrait que je vais lire pour conclure cette présentation du séminaire VI dans 13 éclatement eclosão
ce cadre 16 où j’ai pensé parler à des lecteurs de Lacan. Page 569 : « Ces normes sociales, s’il est 14 m’a pas paru não me pareceu, não pareceu para mim um exagero
15
une expérience qui doive nous apprendre 17 combien elles sont problématiques, combien elles éloigné dans le temps distante no tempo, com tempo já distante
doivent être interrogées , combien leur détermination se situe ailleurs que dans leur fonction 17 dans ce cadre no contexto
16
18 19
qui doive nous apprendre que deva nos ensinar
d’adaptation, c’est bien celle de l’analyse 20. Dans cette expérience du sujet logique qui est la 18
doivent être interrogées elas devem ser questionadas
nôtre, une dimension se découvre à nous 21, qui est toujours latente, mais aussi toujours présente, 19 se situe ailleurs que está em lugar distinto de
sous toute relation intersubjective. Cette dimension, celle du désir, se trouve dans un rapport 20
c’est bien celle de l’analyse é exatamente a da análise
d'interaction, d'échange, avec tout ce qui, de là, se cristallise dans la structure sociale. Si nous 21
se découvre à nous se revela para nós
savons en tenir compte 22, nous devons arriver à peu près 23 à la conception suivante. Ce que je 22 en tenir compte nos dar conta disso
désigne par le mot de culture – mot auquel je tiens fort peu 24, et même pas du tout – c'est une
23
à peu près à praticamente, quase,mais ou menos, aproximadamente
certaine histoire du sujet dans son rapport au logos.
24
je tiens fort peu tenho muito pouco apreço
É por Lacan restabelecer uma ligação com os primórdios de seu ensino, como no seminário dedicado ao “Além do princípio do prazer” e à estrutura da cadeia significante em que já
aparecia, que o simbólico tem suas fontes no corte. Da mesma forma, o final do Seminário “O desejo e sua interpretação” abre caminho para o Seminário “A ética da psicanálise”, que terá
seu ponto de partida ao defrontar-se com o real. Este será também um Seminário que vai consignar a concomitância do fantasma e da pulsão, condição para que possa emergir a instância
do gozo propriamente dito. Vou encerrar lendo uma passagem do último capítulo do Seminário VI “O desejo e sua interpretação”, que estranhamente condiz com o que se viu naquele
ano diante dos nossos olhos, a saber, o reformulação das conformidades e até mesmo sua eclosão. É por isso que não me pareceu um exagero, ao apresentar esse Seminário, escrever
que ele, embora já tenha meio século, mesmo assim falava de nós nos dias de hoje. Eis o trecho que vou ler para concluir esta apresentação do Seminário VI, no contexto em que pensei
falar aos leitores de Lacan. Página 569: “Estas normas sociais, se há uma experiência que deva nos ensinar o quanto elas são problemáticas, o quanto elas devem ser questionadas
interrogadas, o quanto sua determinação está em lugar distinto de sua função de adaptação, é exatamente a da análise. Nessa experiência do sujeito lógico, que é a nossa, se revela
para nós uma dimensão que está sempre latente, mas também sempre presente, sob toda relação intersubjetiva. Essa dimensão, a do desejo, se encontra numa relação de interação, de troca,
com tudo o que, dali, se cristaliza na estrutura social. Se soubermos nos dar conta disso, vamos praticamente chegar à concepção seguinte. O que designo com a palavra cultura – palavra
pela qual tenho muito pouco apreço, até mesmo absolutamente nenhum – é uma determinada história do sujeito em sua relação com o logos.

17
Assurément 1, cette instance, le rapport au logos, a pu rester 2 masquée au cours du temps 3, et, à l'époque où 1
Assurément Certamente
nous vivons, il est difficile de ne pas voir quelle béance il représente, à quelle distance il se situe d ’une certaine 2 a pu rester conseguiu permanecer
4
inertie sociale. C’est pour cette raison que le freudisme existe à notre époque. Quelque chose 5 de ce que nous 3 au cours du temps ao longo do tempo
appelons culture passe dans 6 la société. Le rapport entre les deux, nous pouvons provisoirement le définir 4
se situe de se coloca
comme un rapport d'entropie, pour autant que ce qui passe de la culture dans la société inclut toujours quelque 5 Quelque chose Alguma coisa
7
fonction de désagrégation. Ce qui se présente dans la société comme la culture – et qui est donc entré, à des 6
passe dans perpassa
titres divers , dans un certain nombre de conditions stables, elles aussi latentes, qui déterminent les circuits 7 pour autant que uma vez que, na medida em que
8 9
des échanges 10 à l'intérieur du troupeau 11 – y instaure un mouvement, une dialectique, qui y laisse ouverte la 8 à des titres divers por diversas razões
même béance que celle à l'intérieur de laquelle situons 12 la fonction du désir.C'est en ce sens que nous pouvons 9 un certain nombre de algumas
poser que ce qui se produit comme perversion reflète, au niveau du sujet logique, la protestation 13 contre ce 10
circuits des échanges relações de troca
que le sujet subit au niveau de l'identification, en tant que celle-ci est le rapport qui instaure et ordonne les 11 à l'intérieur du troupeau dentro do rebanho
14 15
12
normes de la stabilisation sociale des différentes fonctions […] Nous pourrions dire en somme que quelque situons instalamos
16
chose s'instaure comme un circuit tournant entre, d’une part, le conformisme, ou les formes socialement 13
protestation os protestos
conformes 17, de l’activité dite culturelle – l’expression devient ici excellente pour définir tout ce qui de la 14
subit padece de
culture se monnaie 18 et s’aliène dans la société – et, d’autre part, toute structure semblable à celle de la 15
au niveau de em termos de, no que concerne à
perversion, pour autant qu 19 'elle représente au niveau du 20 sujet logique la protestation qui, au regard de 21 la 16 circuit tournant uma relação que oscila
conformisation 22, s’élève dans la dimension du désir, en tant que le désir est rapport du sujet à son être ». Et 17
socialement conformes aceitas pela sociedade
c’est là que Lacan promet de parler plus tard de la sublimation et ce sera l’éthique de la psychanalyse. Et Lacan 18 se monnaie se monetiza
termine en disant page 571 : « La sublimation se place 23 comme telle au niveau du sujet logique, là où 19
pour autant que
24
s'instaure et se déroule tout ce qui est, à proprement parler, travail créateur dans l'ordre du logos. De là, 20
au niveau du para o
viennent plus ou moins s'insérer dans la société, viennent plus ou moins trouver leur place au niveau social, les 21 au regard de aos olhos de
activités culturelles, avec toutes les incidences et tous les risques qu'elles comportent 25, jusques et y compris 26 22 conformisation conformização, aquiescência, aceitação
le remaniement des conformismes antérieurement instaurés, voire leur éclatement ». Nous sommes aujourd’hui 23 se place se instala no sujeito lógico
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le 26 mai, et Paris est en train, vous le verrez en sortant, de vivre en effet le remaniement des conformismes se déroule se desenvolve
antérieures, leur éclatement et c’est précisément ce que Lacan nous annonçait déjà il y a un demi siècle. Merci. 25 comportent
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jusques et y compris incluindo até mesmo
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remaniement reavaliação, reconsideração, revisão
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éclatement eclosão
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en train de vivre está vivendo
Certamente esta instância, a relação com o logos, conseguiu permanecer mascarada ao longo do tempo e, na época em que vivemos, é difícil não ver qual hiância ela representa, a que distância se coloca de uma
certa inércia social. É por essa razão que o freudismo existe em nossa época. Alguma coisa do que chamamos de cultura perpassa a sociedade. Podemos provisoriamente definir a relação entre as duas como uma
relação de entropia, uma vez que aquilo que passa da cultura para a sociedade inclui sempre alguma função de desagregação. O que se apresenta na sociedade como cultura - e que entrou então, por diversas razões,
em algumas condições estáveis, também elas latentes, que determinam as relações de troca dentro do rebanho – instaura nela um movimento, uma dialética, que deixa aberta a mesma hiância que aquela na
qual instalamos a função do desejo. É nesse sentido que podemos formular que aquilo que ocorre como perversão reflete, no sujeito lógico, o protesto contra o que o sujeito padece no que concerne à
identificação, uma vez que esta é a relação que instaura e ordena as normas da estabilização social das diferentes funções [...]. Em suma, poderíamos dizer que alguma coisa se instaura como uma relação que oscila, por
um lado, entre o conformismo, ou formas socialmente aceitas da atividade chamada de cultural – a expressão se torna aqui excelente para definir tudo o que da cultura se monetiza e se aliena na sociedade – e, por
outro, toda estrutura semelhante à da perversão, porquanto ela representa, para o sujeito lógico, o protesto que, no que diz respeito à conformização, se eleva na dimensão do desejo, uma vez que o desejo é
relação do sujeito com seu ser”. É neste ponto que Lacan promete falar, mais tarde, sobre a sublimação, o que se dará no Seminário: “A ética da psicanálise”. Lacan termina dizendo, na página 571: “A sublimação em si
se instala no sujeito lógico, ali onde se instaura e se desenvolve tudo o que é, a rigor, trabalho criador na ordem do logos. Desde aí, vêm mais ou menos se inserir na sociedade, vêm mais ou menos encontrar seu lugar
no âmbito social, as atividades culturais, com todas as incidências e todos os riscos que elas comportam, incluindo até mesmo a reavaliação da conformização anteriormente instaurada, e até sua eclosão”.
Estamos, hoje, no dia 26 de maio, e Paris está vivendo efetivamente, vocês o verão na saída, a reavaliação da conformização anterior, sua explosão. É exatamente isto que Lacan já nos anunciava há meio século.
Obrigado.

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