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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

CURSO DE PSICOLOGIA

Ana Augusta R. S. L. Da Fonseca


Bianca Teófilo Silva
Leandro Lima Silva
Wellington Wulf
Yasmin Martim Albert

PSICOLOGIA E A PESQUISA COM HUMANOS

São Paulo
2018
Ana Augusta R. S. L. Da Fonseca
Bianca Teófilo Silva
Leandro Lima Silva
Wellington Wulf
Yasmin Martim Albert

PSICOLOGIA E A PESQUISA COM HUMANOS

Trabalho apresentado ao 1º semestre do


curso de Psicologia na Universidade Paulista –
Unip como parte da avaliação semestral da
matéria de Ética.

Orientador: NOME DA PROFE

São Paulo
2018
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 2
2. A ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS ....................................... 4
3. A PESQUISA COM SERES HUMANOS NA PSICOLOGIA .............................. 6
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 9
1 INTRODUÇÃO

O forte desenvolvimento científico proveniente dos avanços tecnológicos dos


últimos séculos resultou em inúmeras melhorias à nossa vida em sociedade, porém, segundo
Kottow (2008), nem sempre houve uma reflexão ética sobre os possíveis impactos positivos e
negativos das pesquisas científicas sobre a qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos.
Durante a Segunda Guerra Mundial foram realizados experimentos como irradiação testicular
e injeção de células tumorais vivas entre outras práticas desumanas que demonstravam uma
completa falta de ética e preocupação com a integridade do ser humano. No entanto, após a
criação e implementação do Código de Nuremberg, experimentos científicos com humanos
devem seguir os princípios de Autonomia, Não-Maleficência, Beneficência e Justiça, o que
serve de base para o desenvolvimento e atualização dos códigos de ética para pesquisa no
mundo todo até hoje.
No Brasil, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) regulamenta a pesquisa com seres
humanos através de diversas resoluções baseadas nos preceitos da bioética e em documentos
como o Código de Nuremberg e também a Declaração dos Direitos do Homem, Declaração de
Helsinque e o Acordo Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. A primeira resolução foi
aprovada em 1988 (Resolução 001), contudo, além de ser defasada em relação às legislações
éticas internacionais, ela não abrangia de forma clara pesquisas em Antropologia, Psicologia,
Sociologia e outras Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas (COSTA; LANDIM;
BORSA, 2017). Desde então foram publicadas outras resoluções e, em conjunto com seus
próprios código de ética, as Ciências Humanas buscam adaptar as regulamentações às suas
realidades.
O desenvolvimento científico da Psicologia necessita do estudo direto do
comportamento e processos mentais dos seres humanos para existir e este é um desafio
constante na vida de pesquisadores dessa área pois, como o investigador e o objeto de estudo
são seres-humanos, a relação estabelecida no contexto da pesquisa conta com um aparato
complexo e subjetivo que não existe nas Ciências Exatas (COSTA; LANDIM; BORSA, 2017)
e, por isso, o diálogo sobre a importância da ética nas pesquisas em Psicologia é estritamente
necessário e importante para estudantes e profissionais da área.
O intuito desse trabalho acadêmico é relacionar a resolução vigente sobre pesquisa
com humanos do Conselho Nacional de Saúde com o Código de Ética Profissional do
Psicólogo, visando uma maior compreensão sobre como as normas estabelecidas pelo CNS
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podem ser aplicadas no nosso dia-a-dia como profissionais e pesquisadores na área da
Psicologia.

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2 A ÉTICA EM PESQUISA COM SERES HUMANOS

A Segunda Guerra Mundial foi marcada como um período sombrio quando se trata de
ética e respeito ao bem-estar humano. Os nazistas realizaram experimentos atrozes com os
judeus nos campos de concentração sob o argumento de que suas pesquisas visavam o
desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos, terapias comportamentais e a descoberta de
novos remédios para o bem da humanidade (ZANOTTI, 2016). Ao fim da guerra, os médicos
responsáveis por esses experimentos foram condenados pelo Tribunal de Nuremberg e, as
argumentações de defesa dos transgressores deram origem ao Código de Nuremberg que,
basicamente, impõe princípios básicos de respeito à integridade física e mental do sujeito da
pesquisa, a necessidade da autodeterminação do participante expressa no consentimento
informado, exposição dos riscos envolvidos na pesquisa, cuidados especiais destinados à
proteção do sujeito da pesquisa e a qualificação do pesquisador (ALBUQUERQUE, 2013) – ou
seja, devem respeitar os princípios da Autonomia, Não-Maleficência, Beneficência e Justiça
(COSTA; LANDIM; BORSA, 2017).
No Brasil, a primeira regulamentação que normatizou as pesquisas com humanos foi a
Resolução 001/1988 do CNS que foi substituída em menos de dez anos pela Resolução
196/1996, considerada, de fato, o primeiro instrumento efetivo de regulamentação dos
princípios éticos em pesquisa com seres humanos no Brasil (Novoa, 2014). Com base nessa
resolução, foram criados a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e os Comitês de
Ética em Pesquisa (CEPs) que implementam normas e diretrizes sobre pesquisas com humanos
no Brasil e também revisam esses protocolos, certificando que os preceitos éticos dos
voluntários sejam respeitados.
Em 2012, o CNS em conjunto com o CONEP e os CEPs identificaram a necessidade de
uma nova resolução que revisasse os princípios da Resolução 196/1996 e então foi promulgada
a Resolução 466/2012, com o objetivo principal de contemplar a ética também em pesquisas
sobre o genoma humano e pesquisas genéticas (COSTA; LANDIM; BORSA, 2017). No
entanto, essa resolução ainda não abrangia as Ciências Sociais e Humanas (CSH) contemplando
majoritariamente as necessidades de pesquisa das áreas biomédicas. O cenário para as CSH era
ruim pois elas teriam que ser submetidas a uma análise que não abarcaria seus arcabouços
teóricos e metodológicos (GUERREIRO; MINAYO, 2013).
Somente quatro anos depois com a Resolução 510/2016 que as CSH foram
contempladas com uma direção normativa às suas pesquisas com humanos. No entanto, a

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Psicologia encara desafios particulares de sua essência, como a relação sujeito/objeto e
sujeito/observador que possuem características comuns e uma relação subjetiva (BORSA;
NUNES, 2008) que devem ser levados em consideração ao realizar pesquisas com humanos.

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3 A PESQUISA COM SERES HUMANOS NA PSICOLOGIA

Conforme o Código de Ética Profissional do Psicólogo, é um princípio


fundamental da profissão contribuir para a universalização do acesso da população ao
conhecimento da ciência psicológica, além da necessidade do psicólogo sempre pautar sua
atividade no conhecimento técnico, teórico e metodológico e também manter o conhecimento
atualizado e oferecer um serviço embasado cientificamente (CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2005).
No entanto, sendo a Psicologia a ciência que estuda o comportamento e os processos
mentais dos seres humanos (COSTA; LANDIM; BARBOSA, 2017), é inevitável a participação
humana no desenvolvimento de pesquisas na área.
A consolidação da Psicologia como ciência data de 1879, quando Wundt fundou o
primeiro laboratório de Psicologia Experimental. Desde então, a pesquisa em Psicologia tomou
diversos rumos baseados no estudo acadêmico ou na investigação no ambiente terapêutico.
Apesar das diferenças empíricas de cada modalidade de pesquisa, todas elas tem algo em
comum: pesquisadores e objetos de pesquisa são seres humanos e, por sermos indivíduos
subjetivos, não é possível prever uma neutralidade nas pesquisas (BORSA; NUNES, 2008).
Além disso, entende-se que o propósito das pesquisas em Psicologia é compreender os
comportamentos dos seres humanos nos diferentes cenários da vida, assim como tratar funções
mentais, emocionais e sociais que apresentem comprometimento em seu desenvolvimento,
trazendo, muitas vezes, algum nível de vulnerabilidade (KANTOWITZ; ROEDIGER; ELMES,
2015) e esse conceito de vulnerabilidade e a forma com que indivíduos nesse estado são tratados
no ambiente de pesquisa é normatizado e regulamentado pela Resolução 510/2016 que rege as
pesquisas com humanos no Brasil atualmente.

Vulnerabilidade é a situação na qual pessoa ou grupo de pessoas tenha reduzida a


capacidade de tomar decisões e opor resistência na situação de pesquisa, em
decorrência de fatores individuais, psicológicos, econômicos, culturais, sociais e
políticos. (CNS, 2016)

A definição de vulnerabilidade contida na Resolução 510/2016 condiz com o que a


bioética sugere quanto ao respeito às decisões do indivíduo e com os preceitos teóricos da
Psicologia. Além disso, essa resolução considera que a vulnerabilidade é resultado de diversos
fatores que são estritamente necessários quando consideramos um país historicamente marcado
pela desigualdade social, como o Brasil (COSTA; LANDIM; BORSA, 2017).

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A Resolução 466/2012 considerava que as pesquisas com seres humanos deveriam
ser desenvolvidas preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. No entanto, quando
consideramos que, para o avanço do campo da pesquisa científica em Psicologia é necessário
realizar pesquisas com grupos em condições de vulnerabilidade (principalmente psicológica),
a Resolução 510/2016 deu mais espaço aos psicólogos ao dar importância à participação de
indivíduos vulneráveis não apenas na ausência de indivíduos com autonomia plena – desde que
a situação de vulnerabilidade não seja ampliada com a pesquisa.
Art. 3º:
IX – Compromisso de todos os envolvidos na pesquisa de não criar, manter ou ampliar
as situações de risco ou vulnerabilidade para indivíduos e coletividades, nem acentuar
o estigma, o preconceito ou a discriminação. (CNS, 2016)

Além disso, a resolução vigente propõe que “o pesquisador deverá adotar todas as
medidas cabíveis para proteger o participando quando criança, adolescente ou qualquer pessoa
cuja autonomia esteja reduzida (...)” (CNS, 2016) e, levando em consideração o primeiro
princípio fundamental do psicólogo que diz que é obrigação do profissional basear seu trabalho
no respeito, na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser
humano (CFP, 2005), é necessário sempre buscar formas de minimizar o sofrimento do
indivíduo ou grupo estudado, fornecendo, por exemplo, tratamento terapêutico após a pesquisa
ou alguma outra forma de não prejudicar esses indivíduos, prolongando seu sofrimento
(COSTA; LANDIM; BORSA, 2017).
Deve-se também levar em consideração que a Resolução 510/2016 diz que grupos
vulneráveis não devem ser participantes de pesquisa a menos que a investigação possa trazer
benefícios aos indivíduos desse grupo (CNS, 2016) e, assim como o Código de Ética
Profissional do Psicólogo diz que o psicólogo deve trabalhar visando promover a saúde e a
qualidade de vida das pessoas e das coletividades (CFP, 2005), é de extrema importância que o
pesquisador não desenvolva pesquisas que não vão agregar para a Psicologia como ciência e
também que qualquer pesquisa desenvolvida traga benefícios para a qualidade de vida e o bem-
estar da saúde mental das pessoas.
A Resolução 510/2016 também considera o sigilo como um princípio ético da
pesquisa com humanos quando ressalta a garantia da confidencialidade das informações, da
privacidade dos participantes e da proteção de sua identidade (CNS, 2016). O Código de Ética
Profissional do Psicólogo prevê o sigilo como princípio ético profissional em seu Artigo 9º:

É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da


confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha
acesso no exercício profissional. (CFP, 2005)
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Considerando que ambos documentos – Resolução 510/2016 e o Código de Ética
Profissional do Psicólogo – foram baseados na Declaração dos Direitos do Homem, é clara a
semelhança e é possível a comparação direta de seus conteúdos.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo discutiu os aspectos éticos das pesquisas em Psicologia,


considerando a Resolução 510/2016 e, relacionando-a ao Código de Ética Profissional do
Psicólogo.
Entende-se que a pesquisa em Psicologia possui particularidades que não
existem nas pesquisas em Ciências Exatas pois, ao estudar o comportamento e os processos
mentais humanos, é imprescindível que a pesquisa seja feita com seres humanos – muitas
vezes em situação de vulnerabilidade. Além disso, deve-se considerar que o pesquisador é
humano, assim como o objeto de estudo e isso abre espaço para uma subjetividade no
ambiente de pesquisa.
A pesquisa é de suma importância para o profissional da Psicologia que tem
como um de seus princípios declarados no Código de Ética manter o conhecimento da
ciência psicológica atualizado e, uma resolução que impedisse a pesquisa com humanos
estagnaria o desenvolvimento da Psicologia como ciência. Resoluções anteriores à
510/2016 não contemplavam as Ciências Sociais e Humanas em suas normas, no entanto, a
vigente resolução pode ser associada aos princípios éticos do psicólogo, dando espaço para
pesquisadores trabalharem com indivíduos em situação de vulnerabilidade, por exemplo,
desde que sejam mantidos os princípios de Não-Maleficência, Beneficência e Justiça,
presentes em todas as regulamentações internacionais de pesquisas com humanos desde o
Código de Nuremberg.
A pesquisa com humanos em Psicologia, se realizada com base na resolução
vigente em conjunto com o Código de Ética Profissional, tende a trazer muitos benefícios
para o bem-estar dos indivíduos envolvidos, assim como para a sociedade no geral. É
necessário ressaltar que a resolução, bem como o Código de Ética, são guias de orientação
e de reflexão, no entanto, como profissionais que lidam com seres humanos, devemos
sempre ter em mente o que Jung disse: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas,
mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. “.

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REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Aline. Para uma ética em pesquisa fundada nos Direitos


Humanos. Rev. Bioét. [online]. 2013, vol.21, n.3, pp.412-42. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/bioet/v21n3/a05v21n3.pdf.> Acesso em 01 nov. 2018.
BORSA, Juliane Callegaro; NUNES, Maria Lúcia. O Sujeito/Pesquisador
na Pesquisa em Psicologia Científica. Psicologia Argumento, [S.l.], v. 26, n. 52, p. 47-
54, set. 2008.
KOTTOW, Miguel. História da ética em pesquisa com seres
humanos. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Saúde, Rio de Janeiro, v.
2, n. 1, p. 7-18, dez. 2008. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/17570/2/2.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional
dos Psicólogos.Brasília, 2008.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução 466/2012. Brasília,
2012.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução 510/2016. Brasília,
2016.

COSTA, Vitor Hugo Loureiro Bruno; LANDIM, Ilana Camurça; BORSA,


Juliane Callegaro. Aspectos éticos das pesquisas em psicologia: vulnerabilidade versus
proteção. Rev. SPAGESP, Ribeirão Preto , v. 18, n. 2, p. 16-26, 2017 . Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
29702017000200003&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 03 nov. 2018.
ÉTICA na Pesquisa em Psicologia. In: KANTOWITZ, Barry H.; ROEDIGER,
Henry L.; ELMES, David G. Psicologia Experimental: Psicologia para compreender a pesquisa
em Psicologia. 8. ed. Estados Unidos: Cengage, 2015. cap. 4, p. 89-92.
GUERRIERO, Iara Coelho Zito; MINAYO, Maria Cecília de Souza. O
desafio de revisar aspectos éticos das pesquisas em ciências sociais e humanas: a
necessidade de diretrizes específicas. Physis, Rio de Janeiro , v. 23, n. 3, p. 763-
782, Set. 2013 . Disponível em

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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
73312013000300006&lng=en&nrm=iso>.acesos em 03 Nov. 2018.
NOVOA, Patricia Correia Rodrigues. O que muda na Ética em Pesquisa no
Brasil: resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Einstein (São Paulo), São
Paulo , v. 12, n. 1, p. vii-vix, Mar. 2014 . Disponíve em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
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