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História das mentalidades

A chamada história das mentalidades é uma modalidade historiográfica que privilegia os modos
de pensar e de sentir dos indivíduos de uma mesma época. Segundo Michel Vovelle, é o "estudo
das mediações e da relação dialética entre, de um lado, as condições objetivas da vida dos homens
e, de outro, a maneira como eles a narram e mesmo como a vivem"; [1] ou, segundo Robert
Mandrou, uma história centrada nas visões de mundo, ou ainda, segundo Roger Chartier, uma
história do sistema de crenças, de valores e de representações próprios a uma época ou
grupo.[2] Segundo Duby, a designação ajustava-se à necessidade de explicar o que de mais fundo
persiste e dá sentido à vida material das sociedades, ou seja, as ideias que os indivíduos formam
das suas condições de existência que "comandam de forma imperativa a organização e o destino
dos grupos humanos".[3]
Haveria uma "mentalidade coletiva"? Lucien Febvre perguntava-se se existiriam modos de sentir e
de pensar que fossem comuns a Cristovão Colombo e ao mais humilde marinheiro de
suas caravelas. Esta pergunta foi retomada a partir dos anos 1960, e começa a se formar mais
claramente como uma nova orientação da pesquisa histórica a partir de autores como Philippe
Ariès, Robert Mandrou e Michel Vovelle.
Deve-se ainda ter em vista que a história das mentalidades associou-se também ao conceito de
"longa duração" ou "tempo longo", característico da escola dos Annales. Tal como o
compreendia Fernand Braudel, as mentalidades constituiriam um padrão de pensamento ou
de sensibilidade que mudaria muito lentamente, vindo a formar uma estrutura de longa duração.
Objetos típicos da história das mentalidades seriam as sensibilidades do Homem diante
da morte (Philippe Ariès, Michel Vovelle), a história dos grandes medos dos seres humanos nos
diversos períodos (Jean Delumeau), da feitiçaria (Robert Mandrou) e tantas outras que, à época em
que começa a aflorar a História das mentalidades, pareciam constituir temáticas exóticas para
os historiadores que se dedicavam a temas historiográficos mais tradicionais.
Alguns autores postulam que a história das mentalidades apresentou como principais precursores
dois grandes historiadores ligados à escola dos Annales: Marc Bloch, que publicou em 1922 Os
Reis Taumaturgos, uma obra comparativa que examinava a relação entre a crença no poder
curativo dos reis e a autoridade das grandes dinastias francesas e inglesas, e Lucien Febvre, que
publicou O Problema do Ateísmo no Século XVI: a religião de Rabelais, obra na qual já defendia a
tese da História como estudo interdisciplinar.
A partir de meados da década de 1980, na França, muitas das temáticas antes abordadas pela
história das mentalidades começaram a ser abordadas pela história cultural.

História cultural Costumes, sociabilidades, representação, um dos muitos objetos de estudo da


História Cultural. História cultural (do termo alemão Kulturgeschichte ou Kulturhistorik), ao
menos em sua definição comum a partir da década de 1970, frequentemente combina as
abordagens da antropologia e da história para olhar para as tradições da cultura popular e
interpretações culturais da experiência histórica e humana. A história cultural ocupa-se com a
pesquisa e representação de determinada cultura em dado período e lugar. Ela não se dedica
diretamente à história política ou à história oficial de países ou regiões. Na história cultural a
cronologia não é tão relevante quanto na historiografia política.

O conceito de uma "História da Cultura" nos remete ao fim do século XVIII e baseia-se na crença
do Iluminismo de que se deve observar e estudar a contínua e permanente evolução (ou
desenvolvimento) da humanidade, inclusive elementos e comportamentos decorrentes do acaso ou
ainda inconscientes. Fazem parte também da vasta gama de fontes de estudo da história cultural,
portanto, muitos referenciais cotidianos.
São elementos da história cultural: as relações familiares, a língua, as tradições, a religião, a arte e
algumas ciências. Nesse ínterim, analisando a gama heterogênea de subsídios que compõe a
história cultural, afirma-se que a mesma se trata de uma matéria interdisciplinar, ou ainda,
multidisciplinar, visto que abarca várias fontes científicas de estudo, tais como: etnologia, geografia,
antropologia, literatura, economia, entre outras. Por esta razão, vários autores que não são
especificamente historiadores, contribuíram de maneira substancial para o desenvolvimento da
História Cultural, sobretudo em suas duas últimas fases. Pode-se citar como exemplos que
auxiliaram na construção dessa nova teoria cultural os autores Mikhail Bakhtin, Norbert
Elias, Michel Foucault e Pierre Bourdieu.
A história cultural se sobrepõe, em sua abordagem, ao movimento francês da história das
mentalidades e à chamada Nova História. Na França, um dos expoentes mais conhecidos
da História Cultural é Roger Chartier.
A antropologia é uma ciência jovem, porém a compreensão do homem e das obras por ele
produzidas alcançou profundos significados como, por exemplo, a necessidade de perceber as
semelhanças, a grande diversidade de modos de existência do homem.
Os antropólogos culturais estudam as maneiras e descobertas para fazer frente a seus problemas,
tais estudiosos da cultura procuram compreender como determinado modo pode atingir
determinado fim. Tentar determinar como formas estabelecidas de tradição se transformam com o
decorrer do tempo, e com o uso da influência da herança cultural.
Segundo Melville Herskovits, esta preocupação pela cultura acha-se presente em qualquer aspecto
particular da existência humana que possa ser objeto de interesse imediato para um antropólogo.[1]
O homem vive em várias dimensões no espaço, ambiente natural, e exerce uma interminável
influência. É membro de uma sociedade com seus companheiros, cooperando entre eles para a
manutenção de seu grupo, porém o homem não é único. O que distingue o homem dos outros
animais é a cultura, que reúne tudo isso, proporcionando assim ao homem o meio de adaptar-se as
complexidades do mundo em que nasceu.
Há muitas definições de cultura. Entre elas, Herskovits destaca que cultura é a parte do ambiente
feito pelo homem, nela está implícita que a vida do homem transcende em dois cenários: o habitat
natural e seu ambiente social[1]. Para entender a natureza essencial da cultura é preciso entender
que cultura é universal na experiência do homem, que ela é estável e também dinâmica, que está
em constante mudança e que cultura enche e determina amplamente o curso de nossas vidas e
raramente interfere no pensamento consciente.

História cultural como memória social - Levar em conta a história como memória cultural é algo
que não se pode definir com tanta certeza e nem se definir se essa memória é individual ou
coletiva. Fatos históricos fazem parte da nossa memória. Mesmo quando não vivemos o
ocorrido, tomamos para nós como se tivéssemos feito parte daquele fato. A história cultural
é levada conosco por onde vamos, como parte daquilo que representa o nosso passado e
simboliza nossas raízes. Somos levados a isso por meio de informações que recebemos e
vamos agregando às nossas memórias.
Monumentos, datas e manifestações são o que nos fazem lembrar de fatos dos quais não
participamos, mas que fazem parte de nossa vidas. O sete de setembro no Brasil, o quatro de julho
nos EUA , as estátuas erguidas em homenagem aos soldados mortos na guerra, a crença trazida
da África pelos negros, - são muitos os exemplos que nos fazem transcender do campo de
memória coletiva para nossa memória individual, nos tornando parte do fato. Nossa memória
individual é construída por aquilo que historiadores chamam de "Lei dos Avós". Embora essa lei
tenha sido duramente criticada, por se achar que os avós não vivem tempo suficiente para
transmitir aos seus netos a importância de se conservar e disseminar as tradições.
Como existe a chamada memória social, existe também a amnésia social, que consiste na situação
em que nos “forçam” a esquecer o passado, por exemplo quando um governante decide apagar
algo que manche sua administração. Um caso notório na história é o do rei Luís XIV, que mandava
fazer medalhas para comemorar os principais acontecimentos do Reino. Ele mandou fazer uma
medalha pela completa destruição da cidade de Heidelberg em 1693, porém quando foram compilar
essas medalhas a de Heidelberg “sumiu”, por acreditarem que esta manchava o reinado de Luís
XIV.
Nem sempre o que é apagado da história oficial é esquecido pela memória social, que continua a
agregar a certas coisas os mesmos fatos que foram apagados por aquela. Um exemplo disso foi
notado na Bulgária, onde o nome de uma via pública (12 de novembro) foi mudado para 1 de maio,
porém persistiu sendo ainda chamado pelas pessoas pelo seu antigo nome.
A análise de memória social e memória individual é um tanto ilusória quanto fascinante, pois não
pode se analisar uma sem a outra, visto que ambas estão ligadas, formando a história e cultura de
um povo.

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