You are on page 1of 33

ESCRIVÃO DE POLÍCIA I

1 PROGRAMA DE DIREITOS HUMANOS

1 - A Constituição Brasileira de 1988.

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS PELA CF/88

 Direitos individuais e coletivos;


 Direitos sociais;
 Nacionalidade;
 Direitos políticos;
 Partidos políticos (direitos relacionados a criação e manutenção de partidos políticos).

→ CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS POR PARTE DA DOUTRINA:

 Direitos de 1ª geração (liberdades clássicas – liberdade civil e política perante o estado);


 Direitos de 2ª geração (direitos sociais, econômicos e culturais);
 Direitos de 3ª geração (direitos coletivos e difusos – interesses que visam à coletividade).

OBS: os direitos são cumulativos.

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]. (Direitos de 1ª geração).

- Princípios, manifestação de pensamento, direito de resposta e religião

Art. 5º [...]
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...]
OBS: Tortura -> Crime inafiançável

- Manifestação de pensamento

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...]

- Direito de resposta

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano


material, moral ou à imagem; [...]

- Religião

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos


cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
[...] (Apesar do comando dado pelo legislador constituinte, leis nesse sentido ainda não foram
elaboradas)
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva; [...] (Já existem leis, anteriores a CF, que regulamentam essa
questão nas forças armadas e nas unidades prisionais – foram recepcionadas pela nova
constituição)
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
cumprir prestação alternativa, fixada em lei; [...]

-Liberdades e inviolabilidades

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença; [...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; [...]
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; [...]
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; [...]
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer; [...]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional; [...]

-Direito de reunião e de associação

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
[...]
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; [...]
(este direito pode ser suspenso em estado de defesa e de sítio)
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; [...]
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; [...]
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; [...]
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; [...]

-Propriedade, direito autoral e herança

XXII - é garantido o direito de propriedade; [...]


XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; [...]
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
os casos previstos nesta Constituição; [...]
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; [...]
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família,
não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; [...] (proteção
apenas para dívidas relacionadas a sua atividade produtiva, do contrário a lei não se aplica)

-Direito autoral

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de


suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; ( DIREITO AUTORAL)
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem
e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; [...]
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de
que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas; [...]
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes
de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País; [...]

-Herança

XXX - é garantido o direito de herança; [...]


XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do "de cujus"; [...]

- Deveres do estado e garantias diante da lei

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; [...]


XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade
e do Estado; [...]
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal; [...]
- Garantias diante da lei

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; [...] (em
caso de lesão ou ameaça por parte da administração, o 6 indivíduo pode recorrer ao poder
judiciário. Entretanto, existem duas situação em que este deverá comprovar que sofreu lesão
ou ameaça antes de ir ao judiciário – ex: habeas data)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; [...]

- Crimes, penas e direitos dos presos

XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; [...]


LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; [...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
(júri popular)
a) a plenitude de defesa; (ampla defesa do contraditório)
b) o sigilo das votações; (busca pela imparcialidade)
c) a soberania dos veredictos; (o juiz não pode impor sua vontade sobre os jurados)
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; (nem todo crime
doloso contra a vida será julgado pelo tribunal do júri) [...]
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; [...]
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; [...]
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei; [...]
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem; [...]
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; [...]

- Penas

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano
e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; [...]
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos; [...]
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) b) de caráter perpétuo;
c) c) de trabalhos forçados;
d) d) de banimento;
e) e) cruéis; [...]
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado; [...]
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 8
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período de amamentação;

DIREITOS SOCIAIS

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a


segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição. [...]
OBS: Apesar dos direitos sociais estarem acessíveis a todos, eles destinam-se principalmente
aos hiposuficientes.

Direitos individuais dos trabalhadores

São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social: [...]
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos
termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço; [...]

Direitos relativos ao salário do trabalhador

IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas


necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e 9 previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; [...]
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; [...]
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; [...]
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável; (comissão dada a vendedores).
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
[...]
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; [...]

Direitos trabalhistas relativos às demais vantagens de natureza salarial

VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos
da lei; [...]
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à
do normal; [...]
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
normal; [...]
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos
termos da lei; [...]
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma
da lei; [...]

Direitos trabalhistas relativos à jornada de trabalho

XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
salvo negociação coletiva;

Repouso semanal remunerado, licenças e aposentadoria

XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; [...]


XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias; [...]
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; (temporariamente fixado em 5 dias, até
que haja a devida regulamentação por lei) [...] XXIV - aposentadoria; [...]

- Proteções trabalhistas especiais

XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos


da lei; [...]
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança; [...]
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei; [...]
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; [...]
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos; [...]

- Direitos trabalhistas vinculados Ao princípio da isonomia

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por


motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; [...]
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do
trabalhador portador de deficiência; [...]
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos; [...]
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso; [...]

- Demais direitos

XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,


excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; [...]
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de
idade em creches e pré-escolas; [...]
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção
do contrato de trabalho; [...]

- Direitos coletivos dos trabalhadores

Art. 8º - É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá
exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa
de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um
Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas; [...]

DA NACIONALIDADE E DIREITOS POLÍTICOS

→ Espécies de nacionalidade:

 Primária (originária); (nacionalidade adquirida de forma involuntária, a partir de critérios


estabelecidos pelo estado)
 Secundária (adquirida); (nacionalidade voluntária, adquirida através de um ato de vontade
por parte do indivíduo)

→ Critérios de atribuição de nacionalidade:

 “Jus solis” (origem territorial); (será nacional quem nasce no território do estado,
independente da nacionalidade dos pais)
 “Jus sanguinis“ (origem sanguínea); (será nacional o filho de nacionais, independente do local
de nascimento)

A CF/88 adotou o critério “jus solis”, mas permite a utilização do critério “jus sanguinis”,
combinados com outros elementos, em determinadas situações.

Brasileiros natos

Art. 12º - São brasileiros:


I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa
do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira; [...]
→ Requisitos para solicitação de nacionalidade por parte de brasileiros nascidos no estrangeiro
(nacionalidade protestativa):

 Nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira;


 Pai brasileiro ou mãe brasileira que não estejam a serviço do Brasil;
 Não ter sido registrado na repartição brasileira competente;
 Vir a qualquer tempo, residir no Brasil;
 Opção, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.

Brasileiros naturalizados

→ Naturalização expressa – ordinária (estrangeiros de países de língua portuguesa):


 Residência no Brasil por 1 ano ininterrupto;
 Idoneidade moral.

Sua solicitação pode ser feita através da comprovação dos requisitos estabelecidos em lei. O
processo é tramitado no Ministério da Justiça, sendo a concessão desta naturalidade
outorgada pelo chefe do poder executivo (presidente).

→ Naturalização expressa – extraordinária (estrangeiros de qualquer país):


 Residência ininterrupta no Brasil há mais de 15 anos;
 Ausência de condenação penal;
 Requerimento por parte do interessado. Atendendo aos requisitos previstos na lei, a
naturalização é concedida ao estrangeiro sem a necessidade de concessão por parte do chefe
do poder executivo (presidente).

Português equiparado

Art. 12º - [...] § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo
os casos previstos nesta Constituição.

→ Requisitos para que portugueses possam gozar dos direitos concedidos aos brasileiros
naturalizados:

 Residência permanente no Brasil;


 Haja reciprocidade (que o ordenamento jurídico português conceda o mesmo direito
requerido a brasileiros).

O português não perderá a sua nacionalidade, apenas receberá a possibilidade de usufruir os


mesmos direitos que os brasileiros possuem.

-Tratamento diferenciado entre brasileiro nato e naturalizado

Art. 12º - [...]


§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa [...]

Perda da nacionalidade

Art. 12º - [...]


§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao
interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício de direitos civis; [...]

DOS DIREITOS POLÍTICOS

Exercício da soberania

Art. 14º - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – plebiscito (consulta popular prévia – convocação do congresso nacional);
II – referendo (consulta popular posterior – é anterior a manifestação do congresso
nacional);
III - iniciativa popular. [...]

Art. 14º - [...]


§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;


II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos

§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço


militar obrigatório, os conscritos.

§ 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;


b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito
c) vinte e um anos e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador. [...]

Inelegibilidades: Reeleição

Art. 14º - [...]


§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para
um único período subseqüente.

Inelegibilidades: Desincompatibilização

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de


Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis
meses antes do pleito

Inelegibilidade reflexa

§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes


consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de
Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e
candidato à reeleição.

Situação do militar

§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:


I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito,
passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. [...]

Lei de inelegibilidades

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua


cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de
mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder 18 econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta.
Impugnação de mandato

§ 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias
contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico,
corrupção ou fraude.

§ 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o


autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. [...]

Perda de direitos políticos

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos
de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do
art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. [...]

Anterioridade da Lei Eleitoral

Art. 16 - A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não
se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Princípios da administração pública

Art. 37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]

- Acesso ao serviço público

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; [...]

- Regra do concurso público

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso


público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo
ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração; [...]

III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por
igual período;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em
concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos
concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; [...]

- Associação sindical e direito de greve

VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical;


VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica; [...]

Remuneração

XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da


administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e
dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória,
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo,
o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo tribunal
Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério
Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; [...]

§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao
Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei
Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal
de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos
subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. [...]

Raridade remuneratória entre os poderes

XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser
superiores aos pagos pelo Poder Executivo; [...]

XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o


efeito de remuneração de pessoal do serviço público; [...]

Proibição de acréscimos sobre acréscimos

XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem
acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores; [...]
Irredutibilidade remuneratória

XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são


irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II,
153, III, e 153, § 2º, I; [...]

1.1 DIREITOS HUMANOS E O DIREITO CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL ( PIOVESAN, Flávia)

A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS


DIREITOS HUMANOS

A Constituição brasileira abarca a dignidade da pessoa humana ao privilegiar os


direitos fundamentais, denominando estes como cláusulas pétreas, além de aumentar o rol de
direitos fundamentais, acrescentando aos civis e políticos, os direitossociais. A CF de 1988 foi a
primeira a incorporar esses direitos.
A Carta Magna de 1988 abrange o direito da liberdade, o da igualdade, sendo esses
inseparáveis, e também os direitos difusos e coletivos.
Essa inserção dos direitos fundamentais se dá, em grande parte, pelos tratados
internacionais que foram ratificados no país. Os tratados internacionais, enquanto acordos
internacionais juridicamente obrigatórios e vinculante (pacta sunt servanda) constituem hoje a
principal fonte de obrigação do direito internacional, papel anteriormente ocupado pelo
costume internacional. Tal como no âmbito interno, em virtude do movimento pós positivista,
cada vez mais os princípios gerais do direito passam a ganhar maior relevância no direito
internacional contemporâneo.
Em alguns casos, eles são criados apenas para codificar regras internacionais preexistentes, e
diante desse grande numero de tratados, surgiu à necessidade de regular esses processos,
como o que aconteceu com a Convenção de Viena, em 1969.
Os tratados internacionais só tem aplicação nos estados que fazem parte do mesmo,
ou seja, os que o ratificam, assim englobam esses tratados a seu ordenamento.

a) Breves Considerações sobre Tratados Internacionais

Os tratados internacionais não necessariamente consagram novas regras de direito


internacional. Há casos em que eles são criados apenas para codificar as regras preexistentes,
consolidando os costumes internacionais ou, ainda, modificando-os. Diante da crescente
utilização dos tratados como norma imperativa nas relações internacionais surgiu a
necessidade de se regular o processo de formação dos tratados internacionais, o que
aconteceu na Convenção de Viena, concluída em 1969.
Enfatize-se que os tratados são, por sua excelência, expressão de consenso. Apenas
pela via do consenso podem os tratados criar obrigações legais, uma vez que Estados
soberanos, ao aceitá-los, compromete-se a respeitá-lo, é o que prevê o art. 52 da Convenção
de Viena. A Convenção de Viena determina, ainda, que “Todo tratado em vigor é obrigatório
em relação às partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé” e que “Uma parte não pode
invocar disposições de seu direito interno como justificativa para o não-cumprimento do
tratado” (art. 27 da Convenção de Viena). Importante ressalta que, para contribuir para a
adesão do maior número de Estados, permite-se que o tratado seja formulado com reservas.
Nos termos da Convenção de Viena, reservas constituem “uma declaração unilateral feita pelo
Estado, quando da assinatura, ratificação, acessão, adesão ou aprovação de um tratado, com o
propósito de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas previsões do tratado, quando se
sua aplicação naquele Estado”. Entretando, são inadmissíveis reservas que se mostrem
incompatíveis com o objeto do tratado, nos termos do art. 19 da Convenção de Viena.

b) O processo de formação dos tratado internacionais

No Brasil, a Constituição de 1988 determina que é de competência exclusiva do


Presidente da República celebrar tratados, convenções e acordos internacionais, competindo
exclusivamente ao Congresso Nacional resolver definitivamente sobre os tratados, acordos e
atos internacionais. Há uma colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo na conclusão
dos tratados internacionais. Logo, os tratados internacionais demandam, para seu
aperfeiçoamento um ato complexo no qual se integram a vontade do Presidente da República,
que os celebra, e a do Congresso Nacional, que os aprova por meio de decreto legislativo. A
colaboração entre os Poderes Executivo e Legislativo é uma tradição na história das
constituições do Brasil.

c) Hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos

A Carta de 1988, ao fim da Declaração de Direitos, consagra que os direitos e garantias


nelas previstos não excluem outros decorrentes do regime de princípios por ela adotado, ou
dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Ao lado do caráter especial dos tratados internacionais de direitos humano, pode-se
acrescentar o
argumento de que os tratados de direitos humanos apresentam caráter mais técnico,
formando um universo de princípios que apresentam especial força obrigatória, denominada
jus cogens.
“Jus cogens é definido como um conjunto de princípios que resguarda os mais
importantes e valiosos interesses da sociedade internacional, como expressão de uma
convicção, aceita em todas as nações, satisfazendo o superior interesse da comunidade
internacional como um todo, como os fundamentos de uma sociedade internacional, sem os
quais a inteira estrutura se romperia. Os direitos humanos mais essenciais são considerados
parte do jus congens”.

D) O impacto jurídico dos tratados internacionais de direitos humanos no direito interno


brasileiro.

Em relação ao impacto jurídico dos tratados internacionais de direitos humanos no direito


brasileiro, levando-se em conta a hierarquia constitucional desses tratados, três são as
hipóteses que podem ocorrer, quais sejam, o direito enunciado no tratado:
a) coincidir com o direito assegurado na Constituição;
b) integrar, complementar e ampliar o universo de direitos constitucionais previstos; ou
c) contrariar preceitos internos.
No caso de coincidir o direito assegurado pelo tratado internacional com o direito
assegurado pela Constituição não apenas reflete o fato de o legislador nacional buscar
inspiração nesse instrumento internacional, como também revela a preocupação do legislador
em equacionar o direito interno, de modo a ajustá-lo, com harmonia e consonância, às
obrigações internacionalmente assumidas pelo Estado brasileiro. Nesse caso, os tratados
internacionais de direitos humanos estarão a reforçar o valor jurídico de direitos
constitucionalmente assegurados, de forma que eventual violação do direito importará em
responsabilização não apenas nacional, mas também internacional.
O segundo impacto jurídico decorrente da incorporação do Direito Internacional dos
Direitos Humanos pelo direito interno resulta do alargamento do universo dos direitos
nacionalmente garantidos. Vários são os casos em que direitos, embora não previstos no
âmbito nacional, encontram-se enumerados nesses tratados, assim, passando a incorporar ao
direito brasileiro. Na medida em que os direitos assegurados pelos tratados não são previstos
no direito interno, eles inovam e ampliam o universo de direitos nacionalmente assegurados.
O Direito Internacional dos Direitos Humanos inova, estende e amplia o universo dos direitos
constitucionalmente assegurados.
Exemplificando os casos de conflitos entre normas internacionais de direitos
humanos e normas de direito interno, coloca-se o caso do Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos, que estabelece o direito de toda pessoa a fundar, com outras, sindicatos e de
filiar-se ao sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente às restrições previstas em lei e
que sejam necessárias para assegurar os interesses de segurança nacional ou da ordem
pública, ou para proteger os direitos e liberdades alheias. Já a Constituição Nacional
consagrou o Princípio da unicidade sindical, que prevê a proibição de mais de uma
organização sindical, em qualquer grau, representativa da categoria profissional ou
econômica, na mesma base territorial.
Um outro caso que merece enfoque refere-se à previsão que consta no art. 11 do
Pacto Internacional de Direito Humanos. Pela norma, “Ninguém poderá ser preso apenas por
não poder cumprir com uma obrigação contratual”. Enunciado semelhante é o do art. 7º da
Convenção Americana, que estabelece que ninguém deve ser detido por dívida, acrescendo
apenas uma exceção, qual seja, a dívida de créditos alimentícios. A Constituição Nacional
consagra o princípio da proibição por dívida, contudo admite não apenas uma exceção, como
na Convenção Americana, mas sim duas: dívida de crédito alimentício e depositário infiel (
inconstitucional o depositário e foi revogado)
Em resumo do presente tópico pode-se afirmar que, considerando a natureza
constitucional dos direitos enunciados nos tratados internacionais de proteção dos direitos
humanos, três hipóteses poderão ocorrer. O direito enunciado no tratado internacional
poderá:
a) reproduzir direitos assegurados na Constituição;
b) inovar o universo dos direitos constitucionalmente previstos e
c) contrariar preceito constitucional.

Na primeira hipótese, os tratados de direitos humanos estarão a reforçar o valor


jurídico de direitos constitucionalmente assegurados. Na segunda, esses tratados estarão a
ampliar e estender o elenco dos direitos constitucionais, complementando e integrando a
declaração constitucional de direitos. Por fim, quanto à terceira hipótese, prevalecerá a norma
mais favorável à proteção da vítima. Vale dizer, os tratados internacionais de direitos humanos
inovam significativamente o universo dos direitos constitucionalmente consagrados, ora
reforçando sua imperatividade, ora adicionando novos direitos, ora suspendendo preceitos
que sejam menos favoráveis à proteção dos direitos humanos. Em todas as três hipóteses, os
direitos internacionais constantes dos tratados internacionais de direitos humanos apenas vêm
aprimorar e fortalecer, nunca restringir ou debilitar o grau de proteção dos direitos
consagrados no plano normativo interno.

Primeiros Precedentes do processo de internacionalização dos direitos humanos – o Direito


Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho.

Os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos humanos foram o


Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho. Foi
necessário uma nova definição do âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania
estatal, a fim de permitir o advento dos direitos humanos como questão de legítimo interesse
internacional. Foi preciso, ainda, a redefinição do status do indivíduo no cenário internacional,
para que se tornasse o verdadeiro sujeito de direito internacional.
Direito Humanitário é o direito que se aplica na hipótese de guerra, a fim de limitar a
atuação do Estado e assegurar a observância de direitos fundamentais. A proteção
humanitária se destina, em casos de guerra, a militares postos fora de combate (feridos,
doentes, náufragos, presioneiros) e à população civil. A Liga das Nações foi criada após a
Primeira Guerra Mundial, possuindo como finalidade promover a cooperação, paz e segurança
internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a
independência política dos seus membros. Era também um meio de reforçar a idéia de
relativizar a soberania dos Estados, incorporando em seu conceito compromissos e obrigações
de alcance internacional no que diz respeito aos direitos humanos. Além do Direito
Humanitário e da Liga das Nações, a Organização Internacional do Trabalho também
contribuiu para a internacionalização dos direitos humanos. Criada após a Primeira Guerra
Mundial, tinha por finalidade promover padrões internacionais de condições de trabalho e
bem-estar.

A internacionalização dos Direitos Humanos – pós-guerra.

A verdadeira consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos surge em


decorrência da Segunda Guerra Mundial. É um movimento extremamente recente que surgiu
como resposta às atrocidades e aos horrores durante o nazismo. A barbárie do totalitarismo
significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da negação do valor da
pessoa humana como valor fonte do direito. Diante dessa ruptura, emerge a necessidade de
reconstruir os direitos humanos, como referencial e paradigma ético que aproxime da moral.
Nesse cenário, o maior direito passa a ser o direito a ter direito, ou seja, o direito a ser sujeito
de direitos. Se a Segunda Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o pósguerra
deveria significar sua reconstrução

A Carta das Nações Unidas de 1945

Após a Segunda Guerra Mundial, relevantes fatores contribuíram para o


fortalecimento da internacionalização do direito internacional dos direitos humanos. Dentre
eles a maciça expansão de organizações internacionais com propósito de cooperação
internacional. Com a vitória do Aliados, surge uma nova ordem com importantes
transformações no Direito Internacional, simbolizada pela Carta das Nações e palas suas
Organizações. A criação das Nações Unidas, com suas agências especializadas, demarca o
surgimento de uma nova ordem internacional, instaurando um novo modelo de condutas nas
relações internacionais, com objetivos como a manutenção da paz e segurança internacionais,
o desenvolvimento de relações amistosas entre os Estados, a adoção da cooperação
internacional no plano econômico, social e cultural, entre outras.
Para a consecução dos objetivos supramencionados, as Nações Unidas foram
organizadas em vários órgãos, em que os principais são: Assembléia Geral, Conselho de
Segurança, Corte Internacional de Justiça, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela e
o Secretariado. Compete à Assembléia Geral discutir e fazer recomendações relativas a
qualquer matéria objeto da Carta. Todos os membros das Nações Unidas são membros da
Assembléia Geral, com direito a um voto. O Conselho de Segurança é o órgão da ONU com a
principal responsabilidade na manutenção da paz e segurança internacionais. É composto por
cinco membros permanentes e dez não permanentes. Os membros permanentes são China,
França, Reino Unido, Estados Unidos e, desde 1992, Rússia, que substituiu a antiga União
Soviética. Os não permanentes são escolhidos pela Assembléia Geral para mandados de dois
anos, considerando a colaboração dos membros para os propósitos das Nações Unidas e a
distribuição geográfica equitativa
A Corte Internacional é o principal órgão judicial das Nações Unidas, composto por
quinze juízes. Seu funcionamento é disciplinado pelo Estatuto da Corte, que foi anexado à
Carta. Dispõe de competência contenciosa e consultiva, porém apenas Estados são partes em
questões pertinentes ela. O Secretariado é chefiado pelo Secretário-Geral, que é o principal
funcionário administrativo da ONU, indicando para mandato de cinco anos pela Assembléia
Geral, a partir da recomendação do Conselho de Segurança. O Conselho Econômico e Social,
composto por vinte e sete membros, tem competência para promover a cooperação em
questões econômicas, sociais e culturais, incluindo os direitos humanos. Cabe ao Conselho
Econômico e Social fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância
dos direitos humanos, bem como elaborar projetos de convenções serem submetidos à
Assembléia Geral. O art. 68 permite que o Conselho Econômico e Social crie comissões
necessárias para o desempenho das suas funções. Sendo assim, foi criada a Comissão de
Direitos Humanos da ONU
Deste modo, a nova agenda internacional passa a conjugar a preocupação na
manutenção da paz e de evitar a guerra com preocupação em promover e proteger os direitos
humanos. A Carta das Nações de 1945 consolida assim o movimento de internacionalização
dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos
a propósito e finalidade das Nações. Em definitivo, a relação entre Estado com seus nacionais
passa a ser uma problemática internacional, objeto de instituições internacionais e do direito
internacional.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada por unanimidade e se


qualquer reserva ou questionamento, o que confere à Declaração o significado de um código e
plataforma comum de ação. A Declaração consolida a afirmação de uma ética universal ao
consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados. A
Declaração Universal de 1948 objetiva delinear uma ordem pública mundial fundada no
respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos universais. Desde seu preâmbulo, é
afirmada a dignidade inerente a toda pessoa humana, titular de direitos iguais e inalienáveis. A
dignidade da pessoa humana como fundamento dos direitos humanos é concepção que,
posteriormente, viria a ser incorporada por todos os tratados e declarações de direito, que
passam a integrar o chamado Direito Internacional de Direitos Humanos.
Além da universalidade dos direitos humanos, a Declaração de 1948 ainda introduz a
indivisibilidade desses direitos ao ineditamente conjugar o catálogo dos direitos civis e
políticos com o dos direitos econômicos, sociais e culturais. Ao definir o significado do que
significa a expressão “direitos humanos e liberdades fundamentais”, a Declaração Universal
estabelece duas categorias:
a) direitos civis e políticos e
b) direitos econômicos, sociais e culturais, combinando o valor da liberdade com o valor da
igualdade.

– A ESTRUTURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS


DIREITOS HUMANOS.

- A Carta da ONU de 1945 estabelece que os Estados-partes devem promover a proteção dos
direitos humanos e liberdades fundamentais;
- Em 1948 a Declaração Universal vem a definir e fixar o elenco dos direitos e liberdades
universais a serem garantidos.
O Pacto de Direitos Civis e Políticos, primeiramente, assegura que os Estados-partes
possuem o dever de assegurar os direitos nele elencados a todos os indivíduos que estejam em
sua jurisdição, adotando medidas necessárias para esse fim. Cabe ao Estado-parte estabelecer
um sistema legal capaz de responder com eficácia às violações dos direitos civis e políticos,
sendo certo que as obrigações dos Estados são tanto de natureza negativa quando positiva. Ao
impor aos Estados a obrigação imediata de respeitar e assegurar os direitos nele previstos,
diversamente do que ocorre com o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos apresenta autoaplicabilidade.
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos apresentou dois mecanismos de
implementação e monitoramento:

a) sistemática peculiar de monitoramento e implementação internacional – uma


special enforcement machinery : o pacto oferece suporte institucional aos preceitos
que consagra, impondo obrigações aos Estados-partes. Ao ratificar o pacto, o Estado
passa a ter a obrigação de encaminhar relatórios periódicos sobre as medidas
legislativas, administrativas e judiciárias adotadas, a fim de ver implementados os
direitos enunciados pelo pacto.
b) a sistemática das comunicações interestatais (inter-state communications): Por esse
mecanismo, um Estado-parte pode alegar haver outro incorrendo em violação dos
direitos humanos enunciados no Pacto. Contudo, o acesso a esse mecanismo é
opcional e está condicionado à elaboração pelo Estado-parte de uma declaração em
separado, reconhecendo a competência do Comitê para receber as comunicações
inter-estatais.

Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial

Em 21 de dezembro de 1965, da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas


as formas de Discriminação Racial. Desde o seu preâmbulo, a Convenção em tela assinala a
intolerância sobre qualquer doutrina que defenda a superioridade baseada na raça. Pala
Convenção, a discriminação significa toda distinção, exclusão, restrição ou preferência que
tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o exercício, em igualdade de condições,
dos direitos humanos ou liberdades fundamentais. Logo a discriminação significa
desigualdade. Ao ratificar esta convenção, o Estado assume a obrigação internacional de,
progressivamente, eliminar a discriminação racial, assegurando a efetiva igualdade.

Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher

Esta Convenção, aprovada pelas Nações Unidas em 1979, teve como impulso a
proclamação do ano de 1975 como o Ano Internacional da Mulher e pela Conferência Mundial
sobre a Mulher, ambos em 1975. Embora seja uma Convenção com ampla adesão dos Estados,
a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher é o
instrumento que recebeu o maior número de reservas formuladas pelos Estados dentre os
tratados internacionais de direitos humanos. Um significado número de reservas está
concentrado na cláusula relativa à igualdade entre homens e mulheres na família. Tais reservas
foram justificadas com base em argumentos de ordem religiosa, cultural ou mesmo legal.
A Convenção se fundamenta na dupla obrigação de eliminar a discriminação e de
assegurar a igualdade. Tal como a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de
Discriminação Racial, esta Convenção prevê a possibilidade de adoção das “ações afirmativas”
como importante medida a ser adotada pelos Estados para acelerar o processo de obtenção da
igualdade. São medidas compensatórias que têm como finalidade remediar as desvantagens
históricas. Desse modo a Convenção não objetiva apenas erradicar todas as formas de
discriminação contra a mulher, como também estimular a estratégia de promoção da
igualdade. Ao ratificar esta convenção, o Estado assume o compromisso de, progressivamente,
eliminar todas as formas de discriminação no que tange ao gênero, assegurando a efetiva
igualdade. Em suma, a Convenção reflete a visão de que as mulheres são titulares de todos os
direitos e oportunidades que os homens podem exercer; adicionalmente, as habilidades e
necessidades que decorrem de diferenças biológicas entre os gêneros devem ser reconhecidas
e ajustadas, mas sem eliminar das mulheres a igualdade de direitos e oportunidades.

Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis Desumanos ou


Degradantes.

No art. 1º da Convenção há a definição de tortura, a qual envolve três elementos


essenciais:
a) inflição deliberada de dor ou sofrimento físicos ou mentais;
b) a finalidade do ato (obtenção de informações ou confissões, aplicação de castigo,
intimidação ou qualquer outro motivo baseado em discriminação de qualquer natureza);
c)a vinculação do agente ou responsável, direta ou indiretamente, com o Estado.

Ao longo da Convenção, são consagrados, dentre os direitos, a proteção contra atos de


tortura e outras formas de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; o direito de não
ser extraditado ou expulso para um país em que a probabilidade de sofrer tortura seja grande;
o direito de que a denúncia de tortura seja examinada imparcialmente e o direito a não ser
torturado para fins de obtenção de prova ilícita. Na Convenção há a previsão em seu art. 2ºde
que “nenhuma circunstância excepcional, seja qual for, pode ser invocada como justificativa
para a tortura”.
Considerando que a tortura é um crime que viola o direito internacional, a Convenção
estabelece a jurisdição compulsória e universal para os indivíduos suspeitos de sua prática.
Compulsória porque obriga os Estados-partes a punir os torturadores, independente do
território onde a violação tenha ocorrido e da nacionalidade do violador e da vítima. Universal
porque o Estado–parte onde se encontre o suspeito deverá processálo ou extraditá-lo para
outro Estado-parte que o solicite e tenha o direito de fazê-lo, independentemente de acordo
prévio bilateral sobre extradição.

Convenção sobre os Direitos da Criança

A Convenção sobre os Direitos das Crianças, adotada pela ONU em 1989 e vigente
desde 1990, destaca-se como o tratado internacional de proteção aos direitos humanos com
maior número de ratificações. Nos termos da Convenção, criança é definida como “todo ser
humano com menos de 18 anos, a não ser que, pela legislação aplicável, a maioridade seja
atingida mais cedo”. Os direitos assegurados pela Convenção contemplam tanto direitos civis e
políticos, (como o direito de deixar qualquer país e de entrar em seu país, o direito de entrar e
sair de qualquer Estado-parte para fins de reunião familiar) quanto direitos econômicos,
sociais e culturais (como direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, o direito a
um nível adequado de vida e segurança social).

O Tribunal Penal Internacional e a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de


Genocídio

Pode-se afirmar que a Convenção para a Prevenção e Repressão do Genocídio foi o


primeiro tratado internacional de direitos humanos aprovado no âmbito da ONU, datado de 9
de dezembro de 1948. A Convenção teve como principal motivador as atrocidades cometidas
durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente os genocídios cometidos contra os judeus.
O art. 2º da Convenção entende por genocídio “qualquer dos seguintes atos, cometidos com a
intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal
como: a) assassinato de membros do grupo; b) dano grave a integridade física ou mental de
membros do grupo; c) submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe
ocasionem a destruição física total ou parcial; d) medidas destinadas a impedir o nascimento
no seio do grupo; e) transferência forçada de crianças de um grupo para outro grupo
crescenta a Convenção que as pessoas que tiverem cometido genocídio serão punidas,
sejam governantes, funcionários ou particulares. Pelo seu art. 6º, desde 1948 era previsto a
competência de uma Corte Internacional para o julgamento dos crimes de genocídio. O
raciocínio era simples: considerando que o genocídio era um crime que, por sua gravidade,
afronta a ordem internacional, e considerando ainda que, em face de seu alcance, as
instituições nacionais poderiam não ser capazes de processar e julgar seus perpetradores, seria
razoável atribuir a uma corte internacional a competência para fazê-lo. Importante notar que a
Convenção para a Prevenção e Repressão ao Genocídio, diferentemente dos demais tratados
internacionais de direitos humanos, não estabeleceu um sistema próprio de monitoramento.

O Brasil e os tratados internacionais de direitos humanos

Desde o processo de democratização do país e, em particular, da Constituição de


1988, o Brasil tem adotado importantes medidas em prol da incorporação de instrumentos
internacionais voltados à proteção dos direitos humanos. O marco inicial do processo de
incorporação do Direitos Internacional dos Direitos Humanos pelo direito brasileiro foi a
ratificação, em 1º de fevereiro de 1984, da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas
de Discriminação contra a Mulher. Depois desse vários outros se seguiram. A partir da
Constituição de 1988, que trouxe importantes inovações jurídicas, principalmente no que
tange ao primado da prevalência dos direitos humanos como princípio orientador das relações
internacionais, a incorporação de tratados internacionais de proteção aos direitos humanos no
Brasil se intensificou. Em 1992 foram ratificados o Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos, bem como o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o que
realça o caráter indivisível e inter-relacionado dos direitos humanos e sua relação com a
democracia e o desenvolvimento.

- Em relação à advocacia dos Direitos Internacional dos Direitos Humanos, embora seja
incipiente no Brasil, tem sido capaz de propor relevantes ações internacionais, invocando a
atenção da comunidade internacional para a fiscalização e o controle de graves casos de
violação de direitos humanos. No momento em que tais violações são submetidas à arena
internacional, elas se tornam mais visíveis, salientes e públicas. Diante da publicidade casos de
violação de direitos humanos e de pressões internacionais, o Estado se vê “compelido” a
prover justificativas, o que tende a implicar alterações na própria prática do Estado em relação
aos direitos humanos, permitindo, por vezes, um sensível avanço na forma pela qual tais
direitos são nacionalmente respeitados e implementados. A ação internacional constitui,
portanto, importante estratégia para o fortalecimento da sistemática de implementação dos
direitos humanos.

PROGRAMA DE NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA

Conceito: Tem enfoque zetético ( ciência do ser, investigar realidade), cujo objetivo é o crime,
criminoso, controle social formal e vítima . Contribuindo para o controle da criminalidade
(finalidade), por meio da prevenção.

Prevenção →Primária cultural, econômica e social. Socialização adequada do indivíduo (políticas


sociais).

→ Secundária reconhecer as circunstâncias criminológicas e tentar atuar sobre elas.


(Fato já ocorrido utiliza controle social formal).

→ Terciária todo aparato jurídico contra a reincidência.

POLÍTICA CRIMINAL CRIMINOLOGIA DIREITO PENAL


MODERNA
Não pode ser considerada Ciência Zetética uso do Ciência Dogmática uso do
uma ciência, pois é uma método empírico, indutivo e Método lógico–dedutivo.
disciplina sem método próprio e interdiciplinar. Interesse em Preocupa-se com o crime em
que esta disseminada pelos saber como é a realidade para quanto fato descrito na norma
diversos poderes da União e explicá-la e compreender o penal, para descobrir sua
pelas diferentes esperas de problema criminal, bem como adequação típica, isto é,
atuação do Estado. Portanto, são transformá-la (contribuindo com interpreta a norma e aplica ao
Conjunto de ações, estratégias a prevenção e controle). caso concreto, a partir de seu
articuladas e planejadas que sistema(punição).
compõe o controle social formal.
Tem o objetivo de adotar Forma base material, no Encarregado em converter em
estratégias dentro do Estado substrato teórico dessas preposições jurídicas, gerais e
para o controle da criminalidade. estratégias. obrigatórias o saber
criminológico discutido pela
política criminal.

DIFERENÇA CRIMINOLOGIA TRADICIONAL X MODERNA

CRIMINOLOGIA TRADICIONAL CRIMINOLOGIA MODERNA


Surgimento Séc.XIX- Fase científica da Séc.XX (anos 60).
criminologia.
Lombroso “O homem deliquente” Contestação da criminologia tradicional.
positivista/determinista.
Casual/explicativa Vertentes/correntes.
Crime é patologia/criminoso nato/individual. Normalidade do homem delinqüente.
Delinquente analisado a partir da expectativa Coletiva/ indivíduo analisado a partir da
biopsicopatológica. perspectiva Psicosocial.
Submissa às definições jurídicas - formais de Crime é uma construção social.Toda sociedade há
delito. crimes( controle da criminalidade).
CONCEITOS
CRIMINALIDADE VIOLÊNCIA
Conjunto de crimes socialmente relevantes Uso intencional da força física ou do poder, real
em ameaça contra si próprio ou contra um
grupo(familiar) e/ou coletividade(sociedade) que
resulte ou tenha grande possibilidade de ocasionar
lesão, morte, dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação.

CRIMINALIZAÇAO →Primária (criação dos tipos penais, norma penal, agências políticas-
parlamentos e executivos)

→Secundária( efetiva atuação repressivo - punitiva das agências estatais)

3.1 Criminologia: conceito, cientificidade, objeto, método, sistema e funções.

Conceito:
Criminologia é uma ciência empírica ( trabalha com a observação dos fatos) e interdisciplinar (
trabalha com resultados de outras ciências, como psicologia e a psicanalise) , que se preocupa
com o estudo do crime, do criminoso, da vitima e do comportamento da sociedade em
relação a criminalidade ( controle social).

 A criminologia não estuda apenas o crime, mas tambem as circunstâncias sociais, a


vítima, o criminoso, o prognóstico delitivo, etc

Subdivisão dos ramos da Criminologia:


- Criminologia Geral: Consiste em sistematização, comparação e classificação dos resultados
obtidos no âmbito das ciências criminais acerca do objeto. *(trabalha com a observação dos
fatos que coleta os resultados e passa para a criminologia clínica)

- Criminologia Clínica ( Microcriminologia): consiste na aplicação dos conhecimentos teóricos


da Criminologia Geral para o tratamento dos criminosos, estudando a pessoa do criminoso em
busca da sua ressocialização.

Métodos
A criminologia, por meio de estudos biológicos e sociológicos, possui os seguintes métodos:

- Empirismo ( Experimental) : extrai conclusões observando a realidade por meio dos sentidos
humanos ( observação sistemática dos fenômenos). Baseia-se em evidencias e fatos.

- Indutivo: Conhece primeiro a realidade para depois explica-la. Informações vêm dos dados
que foi produzido.

- Interdisciplinaridade: a criminologia utiliza-se ( e necessita) do conhecimento de diversas


áreas e ciências.

 A criminologia radical busca esclarecer a relação crime/formação econômico-social,


tendo como conceitos fundamentais relações de produção e as questões de poder
econômico e político. Já a criminologia da reação social È definida como uma
atividade intelectual que estuda os processos de criação das normas penais e das
normas sociais que estão relacionados com o comportamento desviante.

Objetos

A criminologia tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento


delitivo, da vítima e o controle social das condutas criminosas, ou como alguns preferem dizer:
Delito, Delinquente, Vítima e Controle Social.

 Crime ( o delito ); Pode ser entendido como fato típico, antijurídico e culpável. O
agente só pode ser condenado por uma conduta que seja perfeitamente adequada a
um tipo penal. Essa conduta é chamada de típica. Se não houver correspondência
entre o fato praticado e a descrição legal, a conduta será atípica e portanto, não será
considerado crime.

 Criminoso (delinquente); É a pessoa que infringe a norma penal, sem justificação e de


forma reprovável. Aos delinquentes condenados e submetidos a um devido processo
legal, aplica-se uma sanção criminal, uma pena (privativa de liberdade, restritiva de
direitos, multa) que tem como função prevenir e também a repressão do delito.

Tipos de delinquentes mais comuns:

- Ladrão: Aquele que se apropria indevidamente de algo que pertence a outros.


-Assassino: Aquele que tira a vida de outra pessoa, sem estar em situação de legitima defesa.
- Estuprador ou Violador: Aquele que força outra pessoa a manter relação sexual.
- Estelionatário: Aquele que se aproveita da ignorância de uma ou mais pessoas para obter
vantagem para si próprio.
- Sequestrador: Aquele que rapta uma pessoa e exige da família um pagamento em troca da
libertação dessa.
- Falsário: Aquele que produz dinheiro falso.

 Vítima: A criminologia busca descobrir as consequências da pratica do crime em


relação a pessoa da vítima. Vítima é a pessoa que, individual ou coletivamente, tenha
sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda
financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais, como
consequência das ações ou omissões que violem a legislação penal vigente, nos
Estados membros, incluída a que prescreve o abuso de poder. A vitima é entendida
como um sujeito capaz de influir significativamente no fato delituoso, em sua
estrutura, sua dinâmica e prevenção. São apontados algumas variáveis que intervêm
nos processos de vitimização, como por exemplo a cor, raça, sexo, condição social.

 Controle Social; É um conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que


pretendem promover a obediência dos indivíduos aos modelos e regras comunitárias.
Encontra-se dividido em: - controle social formal ; - Controle Social Informal: escola,
família, igreja.

- Um dos aspectos da Criminologia são os distúrbios da personalidade. Dentre os mais


frequentes, podemos citar as neuroses, as psicoses, as personalidades psicopáticas e os
transtornos da sexualidade ou parafilias.
 Neuroses são estados mentais da pessoa humana, que conduzem á ansiedade, a
distúrbios emocionais como: medo, raiva, rancor, sentimentos de culpa. Pode-se
afirmar que as neuroses são afecções muito difundidas, sem base anatômica
conhecida e que , apesar de intimamente ligadas á vida psíquica do paciente, não lhe
alteram a personalidade como as psicoses, e consequentemente se acompanham de
consciência penosa e frequentemente excessiva do estado mórbido.
 Psicoses são conjuntos de doenças caracterizadas por distúrbios emocionais do
indivíduo e sua relação com a realidade social, com o convívio em sociedade.

Embora tanto o direito penal quanto a criminologia se ocupem de estudar o crime, ambos
dedicam enfoques diferentes para o fenômeno criminal.

- O direito penal é uma ciência normativa, visualizando o crime como conduta anormal para a
qual fixa uma punição. A criminologia vê o crime como um problema social, um verdadeiro
fenômeno comunitário, abrangendo quatro elementos constitutivos, a saber:

- Incidência massiva na população: ( não se pode tipificar como crime um fato isolado)
- Incidência aflitiva do fato praticado: ( o crime deve causar dor á vitima e á
comunidade)
- Persistência espaço-temporal do fato delituoso ( é preciso que o delito ocorra
reiteradamente por um período significativo de tempo no mesmo território); e
- Consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção eficazes ( a
criminalização de condutas depende de uma analise minuciosa desses elementos e sua
repercussão na sociedade.

Funções

A criminologia tem como função analisar e compreender a problemática no âmbito criminal,


para que assim possa sugerir métodos de prevenção e interferência no delinquente. Somente
se faz possível a alusiva função com base no estudo do crime, criminoso, vítima e controle
social, ou seja, uma análise completa criminal. Em outras palavras, a função da criminologia é
explicar e prevenir o crime, intervindo na pessoa do delinquente, avaliando os diferentes
modelos de resposta ao ato criminoso.

Finalidades

São finalidades da Criminologia:

- Compreender e prevenir o crime


- Intervir na pessoa do delinquente, conhecendo-o e entendendo sua causa;
- Valorar os diferentes modelos de respostas á criminalidade de vários ramos do
conhecimento.

Criminologia e Política Criminal

A criminologia se ocupa a pesquisas fatores físicos, sociais, psicológicos que inspiram o


delinquente, a evolução do delito, as relações da vítima com o fato delituoso e as instâncias
de controle social, abrangendo diversas disciplinas criminais, como antropologia criminal,
biologia criminal, sociologia criminal, política criminal, etc...
As estatísticas originadas da criminologia servem para orientar as políticas criminais,
quanto à prevenção e à repressão criminal.
Assim, tem-se que enquanto a criminologia cuida do estudo do delito, delinquente,
vítima e controle social, de modo empírico e interdisciplinar, a política criminal, de modo
strictu sensu, consiste no programa de objetivos, métodos de procedimentos e de resultados
pelos quais autoridades fazem a prevenção e a repressão da criminalidade.
Ou seja, a Política criminal estuda as formas de controle da violência, da criminalidade,
como política de lei e ordem, tolerância zero, minimalistas, abolicionistas.

 Criminologia analítica verifica o cumprimento do papel das ciências criminais e política


criminal;
 A Criminologia estuda a origem do crime ( causas ), o Direito Penal a decidibilidade de
conflitos e a Politica Criminal as formas de combate da violência.

A política Criminal é "a crítica das instituições vigentes e preparo de sua reforma,
consoantes os ideais jurídicos que se vão formando à medida que o ambiente histórico-
cultural sofre modificações".

 A diferença entre política criminal e criminologia, é que a primeira é “aquela implica as


estratégias a adotarem-se dentro do Estado no que concerne à criminalidade e a seu
controle; já a criminologia converte-se, em face da política criminal, em uma ciência de
referências, na base material, no substrato teórico dessa estratégia. A política criminal,
pois, não pode ser considerada uma ciência igual à criminologia e ao direito penal. É uma
disciplina que não tem um método próprio e que está disseminada pelos diversos poderes
da União, bem como pelas diferentes esferas de atuação do próprio Estado”.

Direito Penal

O Direito Penal deve ser compreendido como uma ciência normativa, o qual visualiza
a conduta como anormal e fixa uma pena/punição. A conduta, por meio de uma ação ou
omissão, deve ser típica, antijurídica e culpável, levando- -se em consideração os
ensinamentos da corrente causalista.
A criminologia, por sua vez, observa o delito como um problema social, um fenômeno
comunitário, com quatro elementos constitutivos:
a) incidência massiva na população (não se pode tipificar como crime um fato isolado);
b) incidência aflitiva do feto praticado (o crime deve causar dor à vítima e à
comunidade);
c) persistência espaço-temporal do feto delituoso (é preciso que o delito ocorra
reiteradamente por um período significativo de tempo no mesmo território) e
d) consenso inequívoco acerca de sua etiologia e técnicas de intervenção eficazes (a
criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua
repercussão na sociedade).

** Lembre-se, tanto o Direito Penal, quanto a Criminologia estudam o crime, porém com
enfoques diferentes.

- Em sentido amplo, a Criminologia estuda a origem do crime (causas), o Direito Penal a


decidibilidade de conflitos e a Política Criminal as formas de combate da violência.

CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL – ( Alessandro Baratta)

- As Caracteristicas Constantes do “ Modelo” Carcerário nas Sociedades Capitalistas


Contemporâneas

A comunidade carcerária tem, nas sociedades capitalistas contemporâneas,


características constantes, predominantes em relação ás diferenças nacionais, e que
permitiram a construção de um verdadeiro e próprio modelo. As características deste modelo,
do ponto de vista que mais nos interessa, podem ser resumidas no fato de que os institutos de
detenção produzem efeitos contrários á reeducação do condenado, e favoráveis á sua estável
inserção na população criminosa. O cárcere é contrario a todo moderno ideal educativo,
porque este promove a individualidade, o auto-respeito do indivíduo, alimentando pelo
respeito que o educador tem dele. A educação promove o sentimento de liberdade e de
espontaneidade do indivíduo: a vida no cárcere, como universo disciplinar, tem um caráter
repressivo e uniformizante.
Exames clínicos realizados com os clássicos testes de personalidade mostraram os
efeitos negativos do encarceramento sobre a psique dos condenados e a correlação destes
efeitos com a duração daquele. A conclusão a que chegam os estudos deste gênero é que “ a
possibilidade de transformar um delinquente violento em um individuo adaptável , mediante
uma longa pena carcerária, não parece existir” e que o instituto da pena não pode realizar a
sua finalidade como instituto de educação”
A atenção da literatura se volta, particularmente para o processo de socialização ao
qual é submetido o preso. Processo negativo, que nenhuma técnica psicoterapêutica e
pedagógica consegue equilibrar. Este é examinado sob um duplo ponto de vista: antes de
tudo, o da “desculturação”, ou seja, a desadaptação ás condições necessárias para a vida em
liberdade ( diminuição da força de vontade, perda do senso de auto-responsabilidade do
ponto de vista econômico e social), redução do senso da realidade do mundo externo e a
formação de uma imagem ilusória deste, o distanciamento progressivo dos valores e dos
modelos de comportamento próprios da sociedade externa. O segundo ponto de vista, oposto
mas complementar, é o da “ aculturação” ou “prisionalização”. Trata-se da assunção das
atitudes, dos modelos de comportamento, dos valores característicos da subcultura carcerária.
Estes aspectos da subcultura carcerária cuja interiorização é inversamente proporcional ás
chances de reinserção na sociedade livre, têm sido examinados sob aspecto das relações
sociais e de poder, das normas, dos valores, das atitudes que presidem estas relações, como
também sob o ponto de vista das relações entre os detidos e o staff da instituição penal.
Sob esta dupla ordem de relações, o efeito negativo da “prisionalização”, em face de
qualquer tipo de reinserção do condenado, tem sido reconduzido a dois processos
característicos: a educação para ser criminoso e a educação para ser bom preso.
- A Educação para ser Criminoso: influi, particularmente, o dato de que a hierarquia e
a organização informal da comunidade é dominada por uma restrita minoria de criminosos
com forte orientação anti-social, que, pelo poder e, portanto, pelo prestigio de que goza,
assume a função de modelo para os outros, sendo, ao mesmo tempo, uma autoridade com
quem o staff da instituição é constrangido a mediar o próprio poder normativo de fato.
-A Educação para ser um bom preso: ocorre em parte também no âmbito da
comunidade dos detidos, dado que a assunção de um certo grau de ordem, da qual os chefes
dos detidos se fazem garantes frente ao staff ( em troca de privilégios), faz parte dos fins
reconhecidos nesta comunidade. Esta educação ocorre, ademais, através da aceitação das
normas formais da instituição, e das informais postas em ação pelo staff.

- Relação entre Preso e Sociedade

Antes de tudo, esta é uma relação de quem exclui (sociedade) e quem é excluído
(preso). Toda técnica pedagógica de reinserção do detido choca contra a natureza mesma
desta relação de exclusão. Não se pode ao mesmo tempo, excluir e incluir.
Em segundo o cárcere reflete, sobretudo nas características negativas, a sociedade. As
relações sociais e de poder da subcultura carcerária têm uma serie de características que a
distinguem da sociedade externa, e que dependem da particular função do universo
carcerário, mas na sua estrutura mais elementar elas não são mais do que a ampliação, em
forma menos mistificada e “pura”, das características típicas da sociedade capitalista: são
relações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, no interior do qual os indivíduos
mais débeis são constrangidos a papéis de submissão e de exploração.

- As leis de reforma Penitenciaria Italiana e Alemã

Emerge da analise que conduzimos até agora como o sistema penitenciário é contrario , no seu
conjunto, á reinserção do preso, e como a sua real função é de construir e manter uma
determinada forma de marginalização. Na Italia e na Alemanha, as “reformas” carcerárias
aprovadas nos dois países, introduziram dois princípios bastantes novos. O primeiro é de um
trabalho carcerário equiparado – pelo menos em alguns aspectos – ao trabalho desenvolvido
fora do cárcere, pelo assalariado. O segundo é uma abertura, (por ora apenas uma fresta) á
presença ”externa“ no cárcere, a maiores contatos entre os presos e a sociedade externa.
Encontramo-nos na véspera de uma transformação qualitativa e funcional do sistema?
Confiamos a resposta a dois tipos de consideração.
A primeira consideração é que a letra da norma e sua aplicação, a ideologia do
legislador e a eficácia da legislação, são dois momentos distintos, mas não separáveis. A
realidade do direito é dada pela sua unidade. Por isso, a analise do sistema penal e da
marginalização social a ele ligada não pode ser feita, sob o aspecto jurídico, se o trabalho do
jurista se limita ao universo da norma, excluindo-se o conhecimento da eficácia e da aplicação
concreta da norma.
Para julgar a nova legislação carcerária dos dois países ocidentais é necessário,
portanto, não se limitar ao texto da lei, mas examina-lo á luz de uma serie de momentos
sucessivos nos quais ela “vive”.
A segunda consideração é que o método que tradicionalmente tem inspirado os
estudos sobre a marginalização criminal não é satisfatório , no plano teórico. Esse método
permite um levantamento apenas parcial da realidade do qual não se podem surgir senão
propostas de remédios parciais. As pesquisas sobre a marginalização têm levado em conta,
principalmente os mecanismos psicológicos e culturais do fenômeno. O conceito de
marginalidade tem sido baseado, substancialmente, sobre três elementos:
1 – A participação em uma subcultura diferente em relação á dos outros grupos sociais, e
os correspondentes modelos de comportamento, frequentemente desviantes, que dela
derivam.
2 – A definição predominante desta diferença cultural na sociedade e a correspondente
reação social em relação ao grupo respectivo;
3 – A consciência do sujeito da própria posição marginal e a auto-identificação com os
papéis correspondentes. As tentativas de explicação funcional da marginalidade têm se detido,
muito frequentemente, no momento da distribuição da renda e da consequente distribuição
de status.

- As perspectivas de Rusche e Kirchheimer: As Relações entre mercado de trabalho, sistema


punitivo e cárcere.

Para Foucault, o sistema punitivo tem uma função direta e indireta. A função indireta é
a de golpear uma ilegalidade visível para encobrir uma oculta; a função direta é a de alimentar
uma zona de marginalizados criminais, inseridos em um verdadeiro e próprio mecanismo
econômico (“indústria” do crime) e politico ( utilização de criminosos com fins subversivos e
repressivos). Se se pensa como repressão, concentrada principalmente sobre determinados
tipos de delitos, cobre uma mais ampla área da ilegalidade na nossa sociedade, se se pensa no
papel econômico e politico de grandes organizações criminosas ( ciclo econômico de droga,
sequestro, politica econômica do terrorismo fascista).
Deste ponto de vista, a marginalização criminal revela o caráter “impuro” da
acumulação capitalista, que implica necessariamente os mecanismos econômicos e políticos
do parasitismo e da renda. A esperança de socializar , através do trabalho setores de
marginalização criminal, se choca com a logica da acumulação capitalista, que tem necessidade
de manter em pé setores marginais do sistema e mecanismos de renda e parasitismo. Em
suma, é impossível enfrentar o problema da marginalização criminal sem incidir na estrutura
da sociedade capitalista ,que tem necessidade de desempregados, que tem necessidade, por
motivos ideológicos e econômicos , de uma marginalização criminal.

- Os êxitos irreversíveis das Pesquisas de Rusche e Kirchheimer e de Foucault: do “Enfoque


Ideológico” ao “Politico- Econômico”.

Fazendo-se referencia ás teorias clássicas dos juristas, Rusche e Kirchheimer sintetizam


o questionamento do enfoque jurídico, na reconstrução histórica do sistema punitivo, nos
seguintes termos: “ As teorias da pena não chegam a explicar a introdução das formas
especificas de punição, o conjunto da dinâmica social”. Foucault se exprime no mesmo
sentido, quando sustenta a necessidade de “desfazer-se, antes de tudo, da ilusão de que a
pena seja, principalmente ( se não exclusivamente), um modo de repressão de delitos... É
preciso, antes, analisar o concretos sistemas punitivos, estuda-los como fenômenos sociais,
dos quais não se pode dar conta a só armadura jurídica da sociedade, nem as suas escolhas
éticas fundamentais.
Nesta ótica, a indicação epistemológica de Rusche e Kirchheimer assume uma
importância decisiva: “Todo o sistema de produção tem uma tendência de descobrir ( e a
utilizar) sistemas punitivos que correspondem as próprias relações de produção”. A tese de
Rusche e Kirchheimer é que, na sociedade capitalista, o sistema penitenciário depende,
sobretudo, do desenvolvimento do mercado de trabalho: a medida da população carcerária e
o emprego desta como trabalho disponível no mercado, e da sua utilização. Foucault, por seu
lado, insiste principalmente sobre a importância do cárcere na construção do universo
disciplinar que, a partir do panoptismo do cárcere, se desenvolve ate compreender toda a
sociedade.
É neste mais vasto contexto estrutural que se deve examinar a transformação atual e
a crise da instituição carcerária. A pesquisa que ainda resta por fazer refere-se á ligação
funcional que intercorre entre a atual fase de contra-reforma do sistema punitivo e a crise do
mecanismo de acumulação capitalista, que assistimos atualmente. Talvez não seja uma
coincidência fortuita o fato de que se assiste á crise da tradicional ideologia legitimante do
cárcere – o discurso sobre a “reeducação” e a reinserção – no mesmo momento em que a
estratégia conservadora do sistema deixa cair o mito da expansão ilimitada da produtividade e
do pleno emprego. Esta estratégia conduz, de fato, a uma “democracia autoritária”, a uma
sociedade em que se torna sempre mais alta a barreira que divide a população garantida da
zona sempre mais vasta da população marginalizada e excluída da dinâmica do mercado oficial
de trabalho. Neste situação, o “desvio” deixa de ser uma ocasião – difusa em todo o tecido
social – para recrutar uma restrita população criminosa, como indica Foucault, para
transformar-se, ao contrario, no status habitual de pessoas não garantidas, ou seja, daqueles
que não são sujeitos, mas somente objetos do novo “pacto social”. Talvez, em breve, para
disciplinar tais estratos sociais, bastará a criação de grandes guetos controlados por
computador ( na medida em que a disciplina do trabalho e do consumo será suficiente para
satisfazer a necessidade de ordem na população garantida.

A ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA DO DIREITO PENAL E A CRIMINOLOGIA POSITIVISTA – (


Alessandro Baratta)

A criminologia contemporânea, dos anos 30 em diante, se caracteriza pela tendência a


superar as teorias patológicas da criminologia, ou seja, as teorias baseadas sobre as
características biológicas e psicológicas que diferenciam os sujeitos “criminosos” dos
indivíduos “normais”, e sobre a negação do livre arbítrio mediante um rígido determinismo.
Estas teorias eram próprias da criminologia Positivista que, inspirada na filosofia e na
psicologia do positivismo naturalista, predominou entre o final do século passado e princípios
deste.
Tende-se ver nas escolas positivistas o começo da criminologia como uma nova
disciplina, isto é, um universo de discurso autônomo. Este tem por objeto não propriamente o
delito, considerado como conceito jurídico, mas o homem delinquente, considerado como um
individuo diferente e , como tal, clinicamente observável.
Em sua origem, pois a criminologia tem como especifica função cognoscitiva e pratica,
individualizar as causas desta diversidade, os fatores que determinam o comportamento
criminoso, para combate-los com uma serie de praticas que tendem, sobretudo, a modificar o
delinquente. A concepção positivista da ciência como estudo das causas batizou a
criminologia.
A escola liberal clássica não considerava o delinquente como um ser diferente dos
outros, não partia da hipótese de um rígido determinismo, sobre a base do qual a ciência
tivesse por tarefa uma pesquisa etiológica sobre a criminalidade, e se detinha principalmente
sobre o delito, entendido como conceito jurídico, isto é, como violação do direito e, também,
daquele pacto social que estava, segundo a filosofia politica do liberalismo clássico, na base do
Estado e do direito. Como comportamento, o delito surgia da livre vontade do individuo, não
de causas patológicas, e por isso, do ponto de vista da liberdade e da responsabilidade moral
pelas próprias ações, o delinquente não era diferente, segundo a Escola clássica, do individuo
normal. Em consequência, o direito penal e a pena eram considerados pela Escola clássica não
tanto como meio para intervir sobre o sujeito delinquente. Modificando-o, mas sobretudo
como instrumento legal para defender a sociedade do crime, criando, onde fosse necessário,
um dissuasivo ,ou seja, uma contramotivação em face do crime. Os limites da cominação e da
aplicação da sanção penal, assim como as modalidades de exercício do poder punitivo do
Estado, eram assinalados pela necessidade ou utilidade da pena e pelo principio de legalidade.
Neste ultimo aspecto, as escolas liberais clássicas se situavam como uma instancia
critica em face da pratica penal e penitenciaria do ancien régime, e objetivavam substitui-la
por uma politica criminal inspirada em princípios radicalmente diferentes ( principio de
humanidade, principio de legalidade, principio de utilidade). E também neste sentido, como
exemplo de um discurso critico sobre o sistema penal e de uma alternativa radical ante o
mesmo, as tendências criminológicas que, contestando o modelo da criminologia prevista,
deslocaram a sua atenção da criminalidade para o direito penal ,fazendo de ambos o objeto de
uma critica radical do ponto de vista sociológico e politico.
Quando se fala da escola liberal clássica como um antecedente ou como a “época dos
pioneiros” da moderna criminologia, se faz referencia a teorias sobre o crime, sobre o direito
penal e sobre a pena, desenvolvida em diversos países europeus no século XVIII e princípios do
século XIX, no âmbito da politica liberal clássica. Faz-se referência, particularmente, á obra de
Jeremy Benthan na Inglaterra, de Anselm Von Feuerbach na Alemanha, de Cesare Beccaria e
da escola clássica de direito penal na Itália.

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA CRIMINOLOGIA: PRECURSORES, ILUMINISMO


E AS PRIMEIRAS ESCOLAS SOCIOLÓGICAS. MARCOS CIENTÍFICOS DA CRIMINOLOGIA

Para muitos a criminologia conseguiu alcançar status de ciência autônoma com Cesare
Lombroso, em 1876, na obra “O homem delinquente”. Para outros, tornou-se autônoma com o
antropólogo francês Paul Topinard, em 1879, primeira pessoa a utilizar a palavra criminologia.
Não obstante, há defensores que entendem que foi Rafael Garófalo, em 1885, que deu
o primeiro passo para a criminologia se tornar uma ciência autônoma, já que empregou em
seu livro a palavra criminologia como parte do título.
Por fim, há quem diga que num pensamento não biológico, foi o belga Adolphe
Quetelet, integrante da Escola Cartográfica, quem expôs pela primeira fez sobre criminologia,
no seu Ensaio de Física Social em 1835. Nesse trabalho, Quetelet empregou estatísticas sobre a
criminalidade, observando as cifras negas da criminalidade, um dos primeiros estudos sobre
essa temática.
Importante salientar que é quase unânime a ideia de que na criminologia moderna há
forte influência do iluminismo, tanto nos autores da Escola Clássica, quanto nos da Escola
Positiva.

Precursores

Há muito tempo se estuda os crimes e criminosos, podendo-se considerar que há


estudos de criminologia pré-científica, tendo em vista que somente em meados de 1880 a
criminologia começou a ser enxergada como uma ciência autônoma.
Na antiguidade, tem-se o Código de Hamurábi, que dispunha sobre a forma de
julgamento de ricos e pobres, sendo os ricos julgados com maior severidade, tendo em vista
que os mesmos tiveram, em tese, mais condições materiais e culturais para não praticar
crimes.
Nestor Sampaio Penteado Filho coloca também ideias de Homero, Hipócrates,
Protágoras, Diógenes, Confúcio, Platão e Aristóteles como precursores importantes da
antiguidade. Ademais, ressalta-se que teólogos como Jerônimo e Santo Tomás de Aquino
deram suas contribuições para o desenvolvimento da criminologia.
Importante salientar ainda que Filósofos e humanistas como Thomas Morus, Hobbes,
Montesquieu, Rousseau foram também de extrema importância para o avanço do
pensamento criminológico na era pré-científica.
Consta esclarecer que muitas pseudociências surgiram nessa época, como a
oftalmoscopia, que pretendia estudar o caráter do homem pela observação dos olhos; a
metoposcopia, que desejava observar os homens pelas rugas de expressão e a quiromancia
que pretendia ler o futuro, com base no passado, analisando-se as linhas das mãos.
Entretanto, a mais importante pseudociência dessa época foi à fisionomia, que teve
como principais precursores Giovanni Battista Della Porta Vico Equense, conhecido como
Della Porta, e Johan Caspar Lavater. A fisionomia pregava que com base na aparência externa
da pessoa poder-se-ia deduzir os caracteres psíquicos, relacionando-se os aspectos físicos e
morais do ser humano
A fisionomia deu origem a cranioscopia, desenvolvida em meados de 1800 com Franz
Joseph Gall. A cranioscopia pretendia adivinhar a personalidade e o desenvolvimento das
faculdades mentais e morais do homem com a medição externa da sua cabeça.
Posteriormente a cranioscopia se desenvolveu, tornando-se a frenologia, precursora
da neuropsiquiatria e da moderna neurofisiologia. Com esse método se pretendia localizar
cada um dos instintos e inclinações de uma pessoa com base em uma determinada parte do
cérebro, cujo desenvolvimento poderia ser observado com a forma do crânio.

PRIMEIRAS ESCOLAS SOCIOLOGICAS

Antigamente, por volta do final do século XVIII, as escolas penais lutavam para melhor
conceituar sobre o crime e o criminoso. No entanto, foi a partir de estudos científico que o
homem passou a ser o foco dos estudos, principalmente com a Psicologia e a Sociologia, sendo
possível verificar os vários tipos de comportamentos humanos, entre eles o delitivo.
Nesta época que começaram a surgir as Escolas Criminológicas, tendo como objeto de
estudo o criminoso, essas escolas lutavam para encontrar respostas sobre a origem do crime, a
maneira de combatê-lo e de preveni-lo.
As Escolas que eram criadas usaram a interdisciplinariedade, ou seja, com a
cooperação de várias disciplinas para realizarem seus estudos. Contudo, ciências como a
Biologia, Psicologia, Sociologia, Psiquiatria, entre outras, serviram de base de análises
criminológicas, sendo fundamental o auxílio de estatísticas e observações, para definir o
método de pesquisa para cada período.
Foi desta forma, que constatou que o delito em si não poderia ser o principal centro de
questionamentos, e que merecia importância o delinqüente que gerou a conduta delitiva, para
então se concluir que relevante estudo deve ser-lhe aplicado, impedindo com que ele e outros
agentes delitivos de cometerem os mesmo atos.

1 Escola Clássica

A primeira Escola Sociológica do Crime foi a Escola Clássica, onde seu surgimento se
dá através do Iluminismo italiano do século XVIII, que se apoiava em determinados princípios,
entre eles estão: O delito é um ente jurídico; A ciência do Direito Penal é uma ordem de razões
emanadas da lei moral e jurídica; A tutela jurídica é o fundamento legítimo de repressão e seu
fim; A qualidade e quantidade de pena, que é repressiva, devem ser proporcionadas ao dano
que se ocasionou com o delito ou perigo ao direito; A responsabilidade criminal se baseia na
imputabilidade moral, desde que não exista agressão ao direito, livre arbítrio não se discute.
Um dos grandes pensadores desta escola foi Marquês de Beccaria, o qual em 1763
escreveu o livro “Dos Delitos e das Penas” em que criticou o sistema penal vigente a época,
dizia ele que o sistema penal era uma aberração teórica marcada por abusos dos juízes, pois
havia na época a prática de torturas, e os julgamentos eram secretos. Marquês de Beccaria
começou, no entanto a denunciar as torturas, os suplícios, os julgamentos secretos e a
desproporcionalidade das penas, assim dessa forma colaborou para uma futura reforma
daquele sistema.
Marquês de Beccaria, seguindo o contratualismo de Rousseau, “sustentava que o
individuo que comete crime rompe com o pacto social” 21, e com isso passou a defender os
direitos de primeira geração individuais e a intervenção mínima do Estado. Colaborou para a
formação de vários princípios norteadores do Direito, como por exemplo: o princípio da
legalidade, sustentando que “apenas as leis podem indicar as penas de cada delito; o princípio
da igualdade sustentando que as vantagens da sociedade devem ser distribuídas
eqüitativamente entre todos os seus membros; o princípio da proporcionalidade sustentava
que sendo a perda da liberdade uma pena em si, esta apenas deve preceder a condenação na
exata medida em que a necessidade o exige”.

2 Escola Positivista

A segunda escola sociológica do crime foi a Escola Positivista, seus grandes pensadores foi
Lombroso, Ferri e Garófalo. Esses pensadores dentre outros se destacaram através de uma
criminologia positivista, amparada por outras ciências como a Psiquiatria, Psicologia,
Antropologia, Sociologia, e com o auxilio de Estatística, podendo considerar o comportamento
humano, analisando fatores exógenos (externos) ou endógenos (internos) que o causam, e o
meio em que surgiu.
José Frederico Marques sintetiza os princípios básicos da escola positiva: método positivo;
responsabilidade social; o crime, como fenômeno natural e social; a pena como meio social.
Dessa forma, César lombroso, desenvolvia trabalhos como médico penitenciário, nas áreas
de Antropologia e evolução humana com isso, buscaram estabelecer um perfil das pessoas que
poderiam cometer delitos. Assim, escreveu o livro “Luomo Delinqüente” em 1876, e
argumentava que o homem criminoso e nato, com epilepsia e outras doenças e anomalias, é
idêntico ao louco moral. Classificava-o como nato, louco, por paixão ou de ocasião.
Sustentava Lombroso, que era de suma importância, estudar a pessoa do delinqüente e
não o delito sendo que, apesar de dizer que fatores biológicos e antropológicos que
influenciavam nas condutas ilícitas, também admitia a influência social sobre o delinquente
que era considerado uma subespécie do homem.
Através de seus estudos, Garófalo concluiu quatro tipos de delinqüentes, o ladrão, o
assassino criminoso violento. Foi com base em uma filosofia do “Castigo” para Garófalo, a
pena deve estar em função das características concretas de cada delinqüente, sem que sejam
válidos outros critérios convencionais como o da retribuição ou expiação, a correção ou
inclusive a prevenção. Descartou, pois, a idéia de proporção como medida da pena, do mesmo
modo que descartou a idéia de responsabilidade moral e liberdade humana como fundamento
daquela.
O crime, para a Escola Positivista, portanto, origina-se de uma livre opção, um dos fatores
que influenciam é o meio em que vive o seu ator. Portanto, para essa escola o individuo que
comete um crime está em um estado de anormalidade, ainda que temporária, pois a pessoa
normal é aquela que está apto a vida em sociedade.
3 Escola Científica

Com os conflitos que existiam entre as escolas, ao passar do tempo, a Biologia, a Psicologia
e a Sociologia passaram a dar novos caminhos aos estudos criminológicos.
Para diferenciar o homem delinquente do não deliquente, vieram as teorias biológicas,
que buscavam encontrar no organismo do delinquente um motivo que lhe diferencia dos
demais seres humanos um motivo para a motivação na prática de delitos. Mediante
conclusões foram realizados diversos estudos sobre endocrinologia, anatomia, genética,
morfologia e patologia, pois se acreditava ser o criminoso um ser dotado de anomalias.

You might also like