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CONSTITUTIVOS DO ESTADO
1. INTRODUÇÃO
O Estado vem sendo alvo de várias indagações, na medida em
que o mundo vem passando por uma série de transformações nas
esferas da política e da economia. Encontramo-nos em um processo
de mudança nas estruturas de poder estatal, motivando investigações
na esfera do Direito Público.
Os co n ce ito s da Teoria do Estado vêm m erecendo uma
reavaliação frente aos novos fenômenos políticos e econômicos
deslanchados pelo processo em curso denominado globalização, onde
os processos ligados a democracia devem justificar os seus discursos
em novas bases teóricas.
Posições que indicam o fim do Estado-Nação e a relativização
de conceitos como povo, soberania e território devem ser melhor
analisadas para se verificar até que ponto realmente esses conceitos
devem ser relativizados e até aonde tais posições encontram-se
comprometidas com a atual ideologia internacionalmente hegemônica,
capitaneada pelos países economicamente desenvolvidos.
* Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da UFMG. Professor nas
disciplinas Teoria Geral do Estado, Teoria da Constituição e Direito Constitucional. Advogado
e Sociólogo .
** Graduando em Direito pela Faculdade de Direito da UFMG; monitor de Teoria Geral do Estado.
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2. DO PO VO
A utilização da expressão "povo" é recorrente nos mais variados
d iscu rso s. Em Teoria do Estado refe re-se a um dos elem e n to s
constitutivos do Estado, juntam ente com o te rritó rio e o pod e r p o lítico
(soberania). 1 Com preendido com o um dos elem entos m ateriais do
Estado, o conceito de povo sem pre m otivou distorcidos e enganosos
e m p reg o s sem ânticos. Tam bém p o p u la çã o e nação são term os
u tilizados com o sinônim os de povo, quando na verdade cada qual
tem sua definição e sentido próprios.
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uma grande parcela daqueles que com põe o povo, o que torna a
concepção de cidadania um tanto canhestra, na medida em que a
mesma não se efetiva. Ser cidadão não se resume ao comparecimento
às urnas em dia e hora, m arcados pelo poder estatal, para cum prir
uma função que é a de legitim ar o poder político, pelo processo do
sufrágio. Ser cidadão engloba o exercício dos direito s políticos,
a lin h a d o ao s d ir e ito s p ú b lic o s s u b je tiv o s , e n te n d id o s co m o
fundam entais, devendo os mesmos serem garantidos pelo Estado.
Se um Povo é a razão de um Estado, cabe ao Estado incluir o m aior
número possível de indivíduos no conjunto daqueles que form am o
povo. A inclusão se dá pelo processo de cidadania. Pertencer ao
povo de um dado Estado é poder desfrutar plenam ente dos direitos
que se esta b e le ce m com o d ire ito s de cid a d a n ia . Põ em -se em
destaque, nessa perspectiva, mais uma vez, a questão da democracia,
no quadro do paradigma do Estado Constitucional Dem ocrático de
Direito.
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• p o v o c o m o in s t â n c ia g lo b a l de a t r ib u iç ã o d e
legitim idade: significa aqui o elemento povo utilizado na
função de legitim ar e justificar determ inado ordenam ento
democrático, na medida em que é fonte ativa da instituição
de normas, bem como destinatário das prescrições. Trata-
se da to ta lid a d e dos n a c io n a is (povo a tiv o + povo
destinatário das normas).
• p o v o c o m o íc o n e : ta l c o n c e it o é s in ô n im o de
representação, não diz respeito a nenhuma pessoa viva.
Significa a não existência dos elementos "povo ativo" e "povo
de atribuição" no exercício do poder-violência pelo Estado.
Trata-se da utilização icônica do conceito de povo, pois a
sua in vocação é m etafórica no âm bito do d iscurso da
legitimação.
• povo com o destinatário de p restações civilizatórias
do Estado: é a consideração das pessoas que se encontrem
no território de um Estado, juridicam ente, com a qualidade
do ser hum ano, a d ignidade hum ana, a person alidade
jurídica. São pessoas, mesmo que sejam estrangeiras, que
gozem da proteção jurídica do Estado, e também protegidas
pelos direitos humanos que visam a im pedir a ação ilegal
do Estado.
Apresentadas, portanto, as variações conceituais sob as quais
Müller analisa o elem ento povo, passemos à sua opinião pessoal.
Para Müller, povo constitui a "totalidade dos indivíduos realmente
residentes no território do Estado: como uma m ultiplicidade em si
diferenciada, mista, constituída em grupos, mas organizada de forma
igualitária e não-discrim inatória." (MÜLLER, 1998, p. 109)
E justifica-se dizendo:
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3. DA SOBERANIA
Embora o termo SOBERANIA, e sua consolidação em termos
conceituais, tenha surgido a partir do século XVI, juntamente com o
advento do Estado Moderno, podemos identificar na antigüidade e
na Idade Média, através de termos diversos tais como: summa
potestas, summum im perium , m aiestas e ptenitudo potestatis -
supremacia, proeminência e hierarquia - traços do conceito moderno
de soberania.
A significação moderna de Soberania, que chegou até nós
através da formação francesa souveraineté, surge, no final do século
XVI, como um conceito jurídico-político que representa o supremo
poder, ou o poder político de um Estado, que se sobrepõe ou está
acima de qualquer outro poder, não admitindo limitações, exceto
quando dispostas voluntariamente por ele.
O ju ris ta francês JEAN BODIN foi o prim eiro teórico a
sistematizar o conceito de soberania. Bodin conceitua a soberania
como um poder supremo, absoluto, ilimitado e incontrastável exercido
inicialmente pelas monarquias absolutistas.
Para ele a soberania era um imperativo necessário à própria
existência do Estado, que se torna independente na medida em que
tem um Poder Legislativo supremo.
O autor francês faz então, no século XVII, da soberania um
elemento essencial do Estado, delineando suas características. A
soberania é: UNA (seria contraditório que existisse mais de um poder
supremo em um determinado âmbito territorial); INDIVISÍVEL (não
poder ser dividida em sua essência, sob pena de deixar de existir,
mas pode seu exercício ser repartido); IMPRESCRITÍVEL (atos do
Estado originam relações jurídicas que se transferem de geração em
geração; atividades dos governantes vigoram até serem alteradas);
INALIENÁVEL (soberania não pode ser cedida ou transferida).
A idéia de soberania como um poder legislativo supremo de
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Ou s e ja , é um a o r g a n iz a ç ã o in t e r n a c io n a l de c a r á te r
supranacional. No entanto, tal união é essencialm ente guiada por
aspectos econômicos, pois atualm ente a maioria das regras a que os
p a ís e s -m e m b ro s da U n iã o E u ro p é ia se su b m e te m são regras
econôm icas de circulação de mercados, moedas, etc. Acentua-se tal
aspecto pelo fato da União Européia ter sua form ação fundam entada
em tratados que, segundo HEINRICH TRIEPEL (apud. MAGALHÃES,
2000, p. 325), são "meras declarações de intenções". Logo, a princípio,
a União Européia não se fundam enta em uma constituição legitimada
por um corpo de sustentação - o povo a não ser que sejam os
tratados, com o fazem alg u n s autores, co n sid erad o s de caráter
constitucional.
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membros.
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4. DO T E R R IT Ó R IO
O vocábulo te rritó rio provém do verbo latino terreo, te rrito ,
sig nifican do in tim id açã o, causo, m edo, receio. Nessa perspectiva, é
sobre ,uma dada base territorial que o Estado exerce o seu poder e
autoridade.
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ju ríd ica m oderna e que fu ndam enta a afirm ação de que o território é
elem ento co n stitu tiv o do Estado, é a teoria do te rritó rio -e sp aço. Tal
teoria foi sistem atizad a por Cari V ictor Fricker, em sua obra Território
e Soberania Territorial (1901). Para o publicista de Leipzig a soberania
não se podia exercer sobre coisas, mas sobre pessoas e o território
não era um sim ple s prolongam ento do Estado, e sim um m om ento
em sua essência. Nesse sentido m anifesta-se BONAVIDES:
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5. CONCLUSÃO
Ao final desse artigo, pensamos que cumprimos grande parte
de nossa tarefa, qual seja, analisar os elementos constitutivos do
conceito de Estado e delinear qual a posição de cada um desses
elementos {povo, soberania e território) frente ao paradigma do
Estado Democrático de Direito.
Concluímos que povo, soberania e território são elementos
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARACHO, José A. de Oliveira. Teoria Geral da Soberania. Revista
Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, 1987, Separata
dos N.o 63/64.
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política, porNorberto Bobbio, Nicola
Matteucci e Gianfranco Pasquino. Trad. De João Ferreira, Carmen
Varriale e outros. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1986.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10. ed.. São Paulo: Malheiros
Editores, 1997.
________ . Do País Constitucional Ao País Neocolonial. A derrubada
da C o n stitu içã o e a recolon ização pelo golpe de Estado
Institucional. São Paulo: Malheiros, 1999.
BURDEAU, Georges. Traté da Science Politique. U État Liberal et les
Techniques Politiques de Ia Democratie Gouvernée. Paris: Llbrairie
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7. NOTAS
1. Alguns autores indicam a finalidade como elemento essencial
à formação e existência do Estado. ALEXANDRE GROPPALI,
em sua Doutrina do Estado, defendendo essa posição,
afirmando que "não é concebível que uma pluralidade de
pessoas se unam e se organizem, subordinando-se à
vontade de um poder supremo, a não ser para a realização
de um fim comum." (São Paulo: Saraiva, 1968, pág. 110)
Mas, conforme leciona SILVEIRA NETO, o entendimento de
que a finalidade seja um elemento constitutivo do Estado
não pode encontrar respaldo, na medida em que a mesma
fica Implícita no conceito de sociedade, sem a qual não é
possível a existência do Estado. (NETO, Silveira. Teoria do
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8. A B S T R A C T
A naly sis of the constitutive elem ents o f the State - people,
so v e re ig n ty a n d te rrito ry - under the paradigm of the Dem ocratic
S tate o f Law.
Initially, we will w ork the above m entioned elem ents, which
are present in the classical doctrine. On a second m om ent, we will
present a contem porary definition o f such elem ents, proceeding this
w ay to an opposition.
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