You are on page 1of 10

As consequências da Modernidade – Anthony Guiddens

Guiddens começa a sua obra definindo o que é modernidade:


"modernidade" refere-se a estilo, costume de vida ou organização
social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que
ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua
influência. Isto associa a modernidade a um período de tempo e a
uma localização geográfica inicial, mas por enquanto deixa suas
características principais guardadas em segurança numa caixa
preta. (GUIDDENS, 1991; p.8)

Mas, esse conceito é restrito no tempo e no espaço. No final do século XX,


aponta-se para um novo sistema social no qual os desafios vão para além da
modernidade, a pós-modernidade, que se caracteriza pela pluralidade do
conhecimento, sem a primazia da ciência. No entanto, antes de se criar novos termos,
é prudente fazer uma análise da natureza da modernidade, a qual tem sido pouco
abrangida pelas ciências sociais.

As descontinuidades da modernidade
Giddens aponta em que a ideia de que a história humana é marcada por
certas descontinuidades e não tem uma forma homogênea de desenvolvimento é
obviamente familiar.
Na escola por exemplo a história humana sempre nos foi ensinada e
compreendida como uma cadeia linear de acontecimentos. Ou seja, a ideia
perserverante é de que para se compreender no passado e poder se auto posicionar
no contexto histórico social, é preciso é preciso estar ligado a um processo de
relaticação numérica entre os fatos e acontecimentos.
Mas para o autor deslocar a narrativa evolucionária, ou desconstruir o seu enredo,
não apenas ajuda a tarefa de analisar a modernidade, como também muda o foco de parte
do debate sobre o assim chamado pós-moderno. Guiddens defende que desconstruir o
evolucionismo social significa aceitar que a história não pode ser vista como uma
unidade, ou como refletindo certos princípios unificadores de organização e
transformação.
Para identificar as descontinuidades que separam as instituições sociais
modernas das ordens sociais tradicionais, Guiddens aponta algumas características
envolvidas nesse processo. A primeira é o rítimo de mudança. Este é um movimento
nítido colocado pela modernidade. As civilizações tradicionais podem ter sido
consideravelmente mais dinâmicas do que outros sistemas pré-modernos, mas a
rapidez da mudança em condições da modernidade é extrema. Especialmente
quando falamos da tecnologia, que também permeia as outras esferas. A segunda
característica da descontinuidade é o escopo da mudança. Devido ao rompimento da
relação de fronteiras e na qual diversas áreas do globo são postas em interconexão,
as transformações sociais penetram virtualmente toda a superfície da terra. A
terceira característica diz a respeito à natureza das instituições modernas. Para
Guiddens, algumas formas sociais modernas simplesmente não se encontram em
períodos históricos precedentes. (O sistema político do estado nação, a dependência
por atacado da produçãode fonte de energias inanimadas ou a transformação
completa em mercadoria de produtos e trabalho assalariado.)
Ou seja, o período moderno é marcado por certas descontinuidades; o modo de
vida na modernidade teve transformações na vida intima e pessoais no cotidiano, a
civilização moderna muda extremamente rápido.

Segurança e Perigo, Confiança e Risco


Para Guiddens, a modernidade é um movimemto de dois gumes. O que isso quer dizer?
O desenvolvimento das instituições sociais modernas e sua difusão
em escala mundial criaram oportunidades bem maiores para os
seres humanos gozarem de uma existência segura e gratificante que
qualquer tipo de sistema pré-moderno. Mas a modernidade tem
também um lado sombrio, que se tornou muito aparente no século
atual. (GUIDDENS, 1991; p.13)
Na modernidade as pessoas têm mais segurança do que no pré-modernismo, mais a
modernidade tem um lado sombrio, como o trabalho repetitivo em indústrias, a destruição
em massa do meio ambiente, o uso arbitrário do poder político, o armamento nuclear e o
militarismo.
Dai o autor traz a discussão visões da modernidade de autores clássicos do
socialismo. Para Marx e Durkhein a era moderna é vista como uma era turbulenta. Mas
ambos acreditavam que as possibilidades benéficas abertas pela era moderna superavam
suas características negativas. Marx enxergava a luta de classes como fonte de
dissidências fundamentais na ordem capitalista, mas também vislumbrava a emergência
de um sistema socialista mais humano. Já Durkheins acreditava que a expansão ulterior
do industrialismo estabelecia uma vida social e harmoniosa e gratificante, integrada
através de uma combinação da divisão do trabalho e do individualismo moral. Já Max
Weber, o mais pessimista, ao enxergar o mundo moderno como um mundo paradoxal,
onde o progresso material era obtido apenas à custa de uma expansão da burocracia e
como consequência disso, este processo esmagava a criatividade e a autonomia
individuais.
Outro exemplo é o uso consolidado do poder político, particularmente como
demonstrados em episódios de totalitarismo. O despotismo parecia ser principal
característica de estados pré-modernos, mas no século XX temos exemplos de como a
possibilidade de totalitarismo é contida dentro dos parâmetros da modernidade ao invés
de ser por eles excluídos (Fascismo, holocausto, stalinismo, entre outros). Os governos
totalitários combinam poder político, militar e ideológico de forma mais concentrada do
que jamais foi possível antes da emergência dos estados-nações modernos. O século XX
é o século das guerras, das ameaças de confronto nuclear “Se um conflito militar ainda
que limitado eclodisse, a perda de vidas seria estarrecedora, e um conflito total entre
superpotências pode erradicar completamente a humanidade.
Guiddens conclui que o mundo em que vivemos hoje é um mundo carregado
e perigoso e isto tem servido para fazer mais do que simplesmente enfraquecer ou
nos fazer provar a suposição de que a emergência da modernidade levaria à
formação de uma ordem social mais feliz e segura.

Sociologia e Modernidade
O contexto histórico de surgimento da sociologia enquanto disciplina científica
remete à Modernidade (séc. XIX), como decorrência da necessidade dos homens de
compreenderem os inúmeros problemas sociais que estavam aparecendo, devido à
industrialização iniciada no século XVIII. A dupla revolução que este século testemunha
– a industrial e a francesa– constituía os dois lados de um mesmo processo – a constituição
da sociedade capitalista.
Ao relacionando a Sociologia e Modernidade, Giddens ressalta que a Sociologia
é um campo do saber muito amplo e diverso, e que, portanto, quaisquer inferências
sobre ela são passíveis de questionamento, contudo, é salutar considerar três concepções
que são defendidas de forma ampla e que derivam parcialmente do prolongado impacto
da teoria social crítica na Sociologia.
Tais concepções provocam uma inibição de se analisar com satisfação as
instituições modernas. A primeira concepção, segundo Giddens, é a que concerne ao
diagnóstico institucional da modernidade, a segunda concepção é concernente ao
foco primacial da análise sociológica, qual seja a “sociedade”, a terceira tem em
evidencia o conhecimento sociológico, reconstituindo-se tanto no universo como a
si mesmo como parte integral deste processo.
1- Para autores influenciador por Marx, a força transformadora principal que
modela o mundo moderno é o capitalismo. A ordem social que emerge da
modernidade é capitalista tanto em seu sistema econômico como em suas
outras instituições.
2- O conceito de sociedade ocupa uma posição focal no discurso sociológico.
Guiddens a partir da compreensão de sociedade, como um modo específico
de relações sociais aponta que, as sociedades modernas (estado-nação), sob
alguns aspectos, de qualquer maneira, têm uma limitação claramente
definida. Mas todas essas sociedades são também entrelaçadas com conexões
que perpassam o sistema sociopolítico do estado e a ordem cultural da nação.
3- A sociologia tem sido compreendida como geradora de conhecimento sobre
a vida social moderna, conhecimento este que pode ser usado no interesse da
previsão do controle.
O conhecimento sociológico espirala dentro e fora do universo da vida social, e
constituindo tanto este universo como a si mesmo como uma parte integral deste processo.
Se formos compreender adequadamente a natureza da modernidade, quero argumentar,
temos que romper com as perspectivas sociológicas existentes a respeito de cada um dos
pontos mencionados. Temos que dar conta do extremo dinamismo e do escopo
globalizante das instituições modernas e explicar a natureza de suas descontinuidades em
relação às culturas tradicionais.

Modernidade, Tempo e Espaço


No mundo pré-moderno a relação de tempo-espaço era diferente da qual temos
hoje. O calculo do tempo era constituído de acordo com as ocorrências naturais. Como
por exemplo um camponês que de acordo com as ocorrências naturais do dia e também
da atividade a fim, exercia suas tarefas laborais e também do seu dia a dia de acordo com
uma compreensão básica do tempo-espaço. Porém com a invenção do relógio mecânico
foram de significação de-chave na separação entre o tempo e o espaço.
Para Guidden, essa mudança coincidiu com a expansão da modernidade e não foi
completa até o século XX. Um de seus principais aspectos é a padronização em escala
mundial dos calendários A separação entre tempo e espaço é importante na modernidade
como condição do processo de desencaixe (aumento da distância entre o espaço e o
tempo); por proporcionar engrenagens para o traço distintivo da vida social
moderna, a organização racionalizada; e na formação de uma estrutura histórico-
mundial.

Desencaixe
O desenvolvimento de mecanismos de desencaixe retira a atividade social dos
contextos localizados, reorganizando as relações sociais através de grandes distâncias
tempo-espaciais. Há dois tipos de mecanismos de desencaixe nas instituições sociais
modernas: as fichas simbólicas (p. ex. o dinheiro) e os sistemas peritos.
Para Guiddens, fichas simbólicas são os meios de intercâmbio que podem ser
"circulados" sem ter em vista as características específicas dos indivíduos ou grupos
que lidam com eles em qualquer conjuntura particular. Vários tipos de fichas
simbólicas podem ser distinguidos, tais como os meios de legitimação política; devo me
concentrar aqui na ficha do dinheiro.
Já os sistemas peritos o autor refere-se a sistemas de excelência técnica ou competência
profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos
hoje. Guiddens exemplifica do seguinte modo:
A maioria das pessoas leigas consulta "profissionais" — advogados,
arquitetos, médicos etc., — apenas de modo periódico ou irregular. Mas
os sistemas nos quais está integrado o conhecimento dos peritos
influencia muitos aspectos do que fazemos de uma maneira contínua. Ao
estar simplesmente em casa, estou envolvido num sistema perito, ou
numa série de tais sistemas, nos quais deposito minha confiança.
(Guiddens, 1990; p.30)
Deste modo, os sistemas peritos e as fichas simbólicas são mecanismos de desencaixe
porque, eles removem as relações sociais das imediações do contexto. Ou seja, ambos
pressupõem e embora também promovam, a separação entre tempo e espaço como
condição do distanciamento tempo-espaço que eles realizam.

Confiança
Esses mecanismos dependem da confiança que implica em um estado contínuo da
ação dos indivíduos, sendo um tipo específico de crença. Guiddens aborda a questão da
confiança como uma forma de ’fé’ em pessoas ou sistemas que podem ter suas
expectativas frustradas ou desencorajadas. “Toda confiança é num certo sentido
confiança cega.”

A Reflexidade da Modernidade
A tradição está ligada ao passado, presente e futuro não de uma forma homogenia,
pois cada nova geração ela vai mudar de acordo com as suas heranças culturais. As
práticas sociais são rotineiras e estão em constante transformação com as descobertas.
Para Guiddens, a tradição é um modo de integrar a monitoração da ação com a
organização tempo-espacial da comunidade. A tradição não é inteiramente estática,
porque ela tem que ser reinventada a cada nova geração conforme esta assume sua
herança cultural dos precedentes.
Para compreender a reflexidade da modernidade, Guiddens aponte que as práticas
sociais são examinadas e reformuladas a partir da informação auto-revelada conduzindo
à sua alteração. O conhecimento, em ciências naturais e sociais, não é mais saber, o que
é o certo. A reflexividade abrange as ciências naturais, a economia e a vida social moderna
(estatísticas oficiais).
Ou seja, a reflexividade da modernidade, que está diretamente envolvida com a
contínua geração de autoconhecimento sistemático, não estabiliza a relação entre
conhecimento perito e conhecimento aplicado em ações leigas. O conhecimento
reivindicado por observadores peritos reúne-se a seu objeto, deste modo alterando-o.

AS DIMENSÕES INSTITUCIONAIS DA MODERNIDADE


Sabe-se que a modernidade advém de um período de transição entre o período
Industrial e a Firmação do capitalismo. Porém Guiddens nos faz uma pergunta: As
instituições modernas são capitalistas, ou elas são industriais?
Muitos estudiosos tendem procurar apenas um elo para justificar a sociedade
moderna, ou capitalista ou industrial. Esquecendo-se que deve-se ver o Capitalismo e o
industrialismo linhas paralelas envolvidos no mesmo panorama institucional.
O capitalismo é definido como um sistema onde a produção de mercadorias
proveniente do trabalho assalariado sem posse de propriedade nas instituições privadas
que detém o foco de gerar lucro, esta relação gera os parâmetros de classes social.
Empreendimentos capitalistas define-se através do lucro obtido através da compra, o
mercado, a procura da mercadoria efetuara uma competição que fara com que o
capitalismo se desenvolva.
A principal característica do industrialismo é a transformação da matéria inanimada em
bens por maquinas que efetuaram o papel de produção de operários.
A sociedade capitalista conta com características institucionais específicas:
competitividade, expansionismo, isolamento de outros setores sociais, propriedade
privada dos meios de produção, autonomia do estado que é condicionada pela acumulação
do capital. Mas porque é a sociedade capitalista propriamente uma sociedade? A resposta
é simples, a sociedade capitalista está circunscrita ao estado-nação, que é interpretado
pelo controle que ele consegue sobre territórios delimitados.
Desde a sua origem o capitalismo é uma meta. A sociedade capitalista só se torna
sociedade por ser um estado –nação. Entretanto nenhum estado moderno atingiu o status
de estado-nação. É necessária uma concentração administrativa que depende por sua vez
de um sistema de segurança e vigilância associadas ao capitalismo e ao industrialismo. A
vigilância deve ser aplicada as pessoas que vivem sobre o domos politico- social.
Entretanto sua importância como poder administrativo não se defina nessa esfera.
O controle por meios de violência é a quarta dimensão institucional a ser
distinguida. O poderio militar é um fator de grande influência nas sociedades pré-
modernas. Entretanto, nunca se foi possível a instituição política assegurar-se totalmente
do apoio militar.
O capitalismo envolve a insulação do econômico em relação ao político contra a tela
de fundo do trabalho e mercados de produtos competitivos. A vigilância, por sua
vez, é fundamental a todos os tipos de organização associados à ascensão da
modernidade, em particular o estado-nação, que se entrelaça historicamente com o
capitalismo em seu desenvolvimento mútuo. Da mesma forma, há vínculos
substantivos íntimos entre as operações de vigilância dos estados-nação e a natureza
alterada do poder militar no período moderno.
O capitalismo e o industrialismo são um subtipo um do outro. O capitalismo e um
sistema de produção privada onde a trabalho e assalariado, o industrialismo e onde o
trabalho e realizado por maquinas. Na sociedade capitalista sua economia e baseada no
trabalho assalariado, e uma sociedade estado-nação, a sociedade se torna um ambiente
criado sem contato com a natureza.

A Globalização da Modernidade
Na modernidade a distância ente o tempo e o espaço e maior do que qualquer outro
período, a globalização está ligando as localidades distantes. A modernidade é
inerentemente globalizante, esse processo de alongamento ocorre por conexão entre
diferentes regiões ou contextos sociais se enredaram envolvendo todo planeta. A
globalização promove a transformação local por meio de conexões sociais através do
tempo e do espaço.

As Dimensões da Globalização
Guiddens aponta as quatro dimensões institucionais básicas da modernidade: a
economia capitalista mundial (acumulação do capital no contexto de trabalho e mercados
de produtos competitivos), industrialismo (transformação da natureza), poder militar
(controle dos meios de violência no contexto da industrialização e da guerra) e vigência
(controle da informação e supervisão social).
A força de trabalho constitui um ponto de conexão entre capitalismo,
industrialismo e a natureza do controle dos meios de violência. O capitalismo aliado ao
sistema de estado-nação foram os elementos institucionais promovem a aceleração e a
expansão das instituições modernas.

CAPÍTULO III
Em condições de modernidade, uma quantidade cada vez maior de pessoas vive em
circunstâncias nas quais instituições desencaixadas, ligando práticas locais a relações
sociais globalizadas, organizam os aspectos principais da vida cotidiana.

Confiança e Modernidade
Diante da discussão sobre confiança, Guiddens parte do ponto em que na vida
social moderna muitas pessoas, a maior parte do tempo, interagem com outras pessoas
que lhe são estranhas. A variedade de encontros que compõem a vida cotidiana nos
cenários anônimos da atividade social moderna é mantida em primeira instância pelo que
Goffman chamou de desatenção civil (Encontro de duas pessoas estranhas em uma
calçada).
Outro exemplo que podemos utilizar é que nas comunidades pequenas quando
alguém de fora se muda para a comunidade demora a conseguir a confiança da sociedade
ou nunca consegue, já na sociedade moderna isso não ocorre, pois não interagimos em
comunidade.
Confiança em Sistemas Abstratos
Existem dois tipos de confiança, aquela entre pessoas que se conhecem bem e
sistemas abstratos e o sistema que interagimos diariamente e que não depende de um
conhecimento aprofundado de nossa parte, não tem como deixar o sistema abstrato.
Guiddens aponta que isso se dá devido a natureza das instituições modernas está
profundamente ligada ao mecanismo da confiança em sistemas abstratos. Ou seja, numa
situação em que muitos aspectos da modernidade tornaram-se globalizados, ninguém
pode optar por air completamente dos sistemas abstratos envolvidos nas instituições
modernas.

You might also like