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Internacional
Todas as imagens deste manual, com exceção do logotipo do Creative Commons que
se encontra nesta página, também estão sob a licença CC-BY 4.0.
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer a:
Rodrigo Pereira, usuário de Facebook, que analisou minha fala e corrigiu minhas
transcrições fonéticas, ele também verificou algumas transcrições baseadas no português
europeu.
Daniel Sardinha, usuário de Facebook, que também analisou minha fala e corrigiu
minhas transcrições fonéticas.
Andrés Romero Suárez, usuário de Reddit, que me cedeu exemplos de transcrições
fonéticas do espanhol da Espanha.
Brendan Moore, usuário de Reddit, que me cedeu exemplos de transcrições fonéticas
do inglês dos Estados Unidos da América.
George Corley, Olivier Simon, Ian Joo, Giacomo Frate e Mortaza Yamini que
esclareceram certas dúvidas que eu tive a respeito de questões teóricas.
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................................................1
QUEM SOU EU...............................................................................................................................2
O PÚBLICO ALVO DESTE MANUAL.............................................................................................2
METODOLOGIA DE ENSINO........................................................................................................2
VÁRIOS PORTUGUESES................................................................................................................3
TRANSCRIÇÃO FONÊMICA E FONÉTICA....................................................................................5
CLASSIFICAÇÕES...........................................................................................................................6
ARTICULADORES BUCAIS........................................................................................................7
ARTICULADORES ATIVOS....................................................................................................7
ARTICULADORES PASSIVOS................................................................................................8
MECANISMOS DE FLUXO DE AR.............................................................................................8
CONSOANTES............................................................................................................................9
MODOS DE ARTICULAÇÃO.................................................................................................9
FORMATO DA LÍNGUA.......................................................................................................11
PONTOS DE ARTICULAÇÃO..............................................................................................11
FONAÇÃO.................................................................................................................................13
QUADRO DE CONSOANTES...................................................................................................14
VOGAIS.....................................................................................................................................16
POSIÇÃO VERTICAL DO CORPO DA LÍNGUA..................................................................16
POSIÇÃO HORIZONTAL DO CORPO DA LÍNGUA............................................................16
ARREDONDAMENTO OU NÃO DOS LÁBIOS...................................................................17
VOGAIS NASAIS...................................................................................................................17
GRÁFICO DE VOGAIS..........................................................................................................17
MECANISMO DE FLUXO DE AR.............................................................................................18
VAMOS VER SE VOCÊ ENTENDEU!........................................................................................19
DIACRÍTICOS............................................................................................................................... 20
AFI PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO......................................................................................23
SUPRASSEGMENTOS..................................................................................................................28
EXEMPLOS....................................................................................................................................29
VOGAIS ANTES DE “M” E “N” E PRONÚNCIA DO “L” ISOLADO.............................................32
EXEMPLOS DE PALAVRAS ESTRANGEIRAS...............................................................................33
INGLÊS ESTADUNIDENSE (GENERAL AMERICAN)............................................................33
ESPANHOL PADRÃO DA ESPANHA.......................................................................................36
RUSSO.......................................................................................................................................37
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................. 38
1
INTRODUÇÃO
Línguas diferentes geralmente possuem alguns sons diferentes, até o português
europeu possui sons radicalmente diferentes do português brasileiro e, além disso, até
mesmo dentro do português brasileiro existem variações. Antes de aprender uma nova
língua seria interessante saber um pouco de AFI (Alfabeto Fonético Internacional)1, que é
uma ferramenta muito útil no aprendizado de idiomas, pois facilitará a compreensão da
linguagem falada e, por consequência, ajudará na sua pronúncia. O AFI é um alfabeto cujas
letras representam os sons existentes nas diferentes línguas do mundo, se você quer saber
exatamente como determinada palavra é pronunciada, recomendo que você a procure
transcrita no AFI.
A princípio este manual era um capítulo das minhas gramáticas, mas para evitar ter
de manter o mesmíssimo capítulo em diversas gramáticas, decidi fazer este manual em um
material separado, isso me poupa trabalho, tenho mais liberdade para ensinar mais sobre o
AFI e as pessoas poderão fazer uso deste manual para estudar ou fazer outras coisas.
Se você está lendo este manual apenas para entender como determinada palavra
estrangeira é pronunciada ou como representar os sons da sua própria língua (ou seja, você
não é um(a) estudante de linguística), tenha em mente que você não precisa decorar as
terminologias do AFI ou o que cada diacrítico existente representa, mas você precisa saber
usá-las e pesquisá-las. Eu explico, não é necessário que você saiba de cor qual é a diferença
entre uma consoante sibilante e uma não-sibilante, mas preciso que, quando você
encontrar algo como “sibilante alvéolo-palatal surda”, que é o nome de [ɕ], você saiba como
pesquisar neste manual as características desse som e então descobrir os meios de
pronunciá-lo. Mas, porém, entretanto, todavia, preciso que você decore os sons das letras
do AFI que existem na nossa língua portuguesa e nas línguas que você deseja aprender, isso
é necessário para que você possa ler palavras no AFI, eu preciso que, quando você vir algo
como [ˌka.lʲɐ̃ .ˈma.sʊ], você saiba como falar essa palavra.
Sei que estou sendo repetitivo, mas é só para reforçar: não exijo que você saiba de cor
o que é uma “vogal anterior semiaberta não arredondada”, mas quero que você saiba que
som a letra “ɛ” do AFI – que existe na nossa língua, não pedirei que você decore os sons que
não existem no português e nem nas línguas que você pretende aprender – representa o “e”
1 IPA (International Phonetic Alphabet) em inglês.
2
de “mel”, mas não o “e” de “meu”. Estamos entendidos? Então vamos começar.
QUEM SOU EU
Um curioso que gosta de compartilhar conhecimento, não tenho formação em
linguística ou letras, na verdade, na época em que escrevi este manual, eu estava próximo
do final da minha graduação de agronomia, mas me interesso por muitas áreas, entre elas o
estudo de idiomas.
Se você tiver dúvidas, sugestões ou até mesmo correções, por favor entre em contato
comigo pelo e-mail hmslima1992@gmail.com, qualquer coisa me ajudará muito com este
manual como uma dúvida comum que esqueci de abordar aqui.
A propósito, o público-alvo deste manual são brasileiros, mas se você for de Portugal
ou outro país lusófono, ou até mesmo um falante não nativo que aprendeu a língua
portuguesa, você pode usar o manual, mas saiba que me basearei no português brasileiro.
METODOLOGIA DE ENSINO
A princípio baseei minhas transcrições fonéticas a partir do que era fornecido pela
página Help:IPA for Portuguese2 da Wikipédia. Mas com o tempo fui consultando outras
fontes, conversei com outras pessoas e finalmente fiz meus próprios julgamentos de como
fazer as transcrições. Mas as definições dos sons, diacríticos e outros símbolos do AFI eu
mantive o que encontrei na Wikipédia, mais precisamente da página International Phonetic
Alphabet3 e muitas outras diretamente relacionadas a esta.
Antes de começar a te ensinar de fato sobre o AFI, vou precisar discutir algumas
coisas antes e mostrarei alguns caracteres do AFI, mas não se preocupe com eles, você ainda
não precisa saber a diferença entre um [lʲ] e um [ʎ] ou em que o [ɦ] e o [h] são diferentes,
apenas tente entender o que está sendo realmente explicado no momento.
Já aviso que talvez você ache o início um pouco chatinho porque vou ter que
trabalhar um bocado de conceitos com você, mas você não precisa decorar nenhuma
terminologia, mas até chegar nas transcrições das palavras de fato (o mais legal(!!!), que
começará a nascer no capítulo “AFI PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO”), precisarei expor-lhe
àlguns conceitos, quero evitar a situação de, por exemplo, você vir eu dizer “essa vogal é
nasalizada” e você não souber o que diabos é “nasalizado”, é por isso que trabalhar antes
com os conceitos é muito importante, caso contrário você vai sentir que estou falando grego
contigo. Repito, não é pra decorar nada, quando você vir algo como “essa vogal é
nasalizada”, eu quero que você diga “ei, já vi isso antes, acho que me lembro qual é o
capítulo onde vi isso, deixe me ver… ah, aqui, ‘nasalização’ é…”.
Outra coisa muito importante é que este manual não deve ser lido de forma linear, eu
explico: por exemplo, antes de te mostrar de fato as vogais do nosso português, vou falar
sobre o papel da posição horizontal e vertical da língua na produção da vogal, e então,
depois de alguns capítulos, mostrarei exatamente o som correspondente a cada letra do AFI,
o que inclui as vogais; bom, seria interessante que, depois de você aprender o que cada letra
do AFI representa, você retornasse ao subcapítulo de VOGAIS para analisar como a sua
pronúncia é feita, entendendo como sua fala funciona te ajudará a entender como é a fala
de outros sons não presentes na nossa língua são feitos; o mesmo procedimento você pode
fazer com as consoantes.
VÁRIOS PORTUGUESES
Naturalmente que este manual estará recheado de exemplos e relações das letras do
AFI com os possíveis sons das letras do português brasileiro. O problema é, nos basearemos
em qual português brasileiro?
A língua é uma coisa que varia muito, até mesmo quando o objeto de estudo é uma
única pessoa! Por exemplo: o meu “lh” normalmente é pronunciado como [lʲ], mas pode
ocorrer de sair um [ʎ]; pode depender da palavra ou até mesmo do momento! Como é que
4
eu posso afirmar que determinada letra tem apenas esse ou aquele som e ponto final? Isso
seria muita irresponsabilidade e eu induziria muitas pessoas ao erro! Muitas transcrições
que achei na internet representam o “r” de “raio” de um brasileiro como [ʁ], mas os que
analisaram a minha fala (sim, pedi para algumas pessoas conferirem minha fala e
corrigissem as transcrições que fiz dela) disseram que, além de eu não pronunciar esse som
[ʁ], eles afirmaram que esse som nem sequer existe no português brasileiro! Depois de um
tempo, quando eu entendi um pouco mais do AFI, também concluí que não pronuncio esse
som [ʁ]. O meu “r” de “raio”, “carro” ou “recheio” normalmente é pronunciado com [ɦ], mas
pode ocorrer umas raras ocasiões em que eu pronuncie essa letra como [h], [χ] ou até] ou até
mesmo [ç]. Pode ocorrer de você talvez não se identificar com minhas transcrições do
português brasileiro, o que é normal, a língua é um bicho vivo que varia bastante.
Uma coisa que, em nenhum momento, passou em minha cabeça foi me basear em
um determinado dialeto do Brasil e usá-lo como representante de um país inteiro. Não
pretendo fazer algo desse tipo. Então como trabalharei com você?
O que eu posso fazer é ensinar-lhe como verificar como determinado som é feito de
forma que você possa fazer os seus próprios julgamentos. Os exemplos mostrados neste
manual serão baseados na minha fala, de Henrique Matheus da Silva Lima, um baiano do
interior do estado; e já vou adiantando que boa parte da Bahia não fala com o sotaque do
Pelourinho de Salvador que basicamente só se limita à região metropolitana, onde não
moro.
Você já deve ter percebido que terei que exigir um pouquinho de você, tentarei passar
todo o conhecimento necessário da forma mais didática possível, mas preciso que você
também seja competente em analisar sua própria fala. Por exemplo: espera-se que o seu “i”
de “filha” seja [i], mas vai que você é da cidadezinha de Carumunduçu e você, assim como
as pessoas desse município, na verdade pronunciam esse “i” como [ɨ]; preciso que você
tenha consciência de como as partes da sua boca estão se articulando, onde elas estão se
posicionando e coisas desse tipo, caso contrário você corre o risco de aprender alguma
coisa errada. Felizmente há na internet tabelas com os sons gravados de cada letra do AFI,
assim você pode comparar essas pronúncias gravadas com a sua própria pronúncia;
também, como eu disse, você aprenderá como sua boca articula ao fazer cada som, talvez só
com isso você possa identificar os sons feitos por você.
Para finalizar, logo abaixo há uma fração das várias maneiras de como a palavra
“árdua” poderia aparecer no Brasil (mesmo que apenas esporadicamente na fala de alguém),
a primeira é a como eu geralmente falo. Não tem problema se você não entender as
transcrições abaixo, quando você tiver um bom conhecimento do AFI você pode voltar aqui
5
diferença. A transcrição estreita soluciona esse problema, o nosso “tu” seria [tu] enquanto
“two” do inglês seria [tʰu(ː)].
A propósito, esses parênteses dentro da transcrição indicam que aquela parte é
opcional, ou seja, você pode falar [tʰu(ː)] como [tʰu] ou [tʰuː].
Como você já deve ter percebido, o AFI faz uso de muitos caracteres que não são
facilmente digitados, como “χ] ou até”, “ʰ”, “ʊ”, “ʷ” “ɐ̃ ” e muitos outros. Para facilitar o trabalho de
escrever as transcrições do AFI foram criados diversos sistemas para escrever o AFI em
caracteres ASCII4, como o X-SAMPA e o Kirshenbaum.
Se você quiser saber mais sobre o X-SAMPA, Kirshenbaum e outros sistemas, você
terá que pesquisar, pois não tratarei deles neste manual.
CLASSIFICAÇÕES
Cada letra do AFI recebe uma nomenclatura que descreve como o som é feito, como
o [v], que representa o som da nossa letra “v” de “vaca”, que se chama “fricativa labiodental
sonora”; você entenderá o que significa cada um desses nomes.
Sei que essa parte vai ser chata, mas quando você ler os capítulos “AFI PARA
PORTUGUÊS BRASILEIRO” E “EXEMPLOS” e voltar para cá para uma segunda leitura, este
capítulo ficará mais interessante.
Olha, faça o seguinte: para melhor aproveitamento dos capítulos que vem a seguir, dê
uma lida superficial no capítulo “AFI PARA PORTUGUÊS BRASILEIRO”, que começa na
página 23, só para você saber, por exemplo, que [t] representa o som do “t” de “terra” ou que
[ɛ] representa o “e” de “neto” e não o “e” de “medo”, e depois volte pra cá. Não, não é pra
você saber ainda o que significa uma “oclusiva bilabial sonora”, não se preocupe com isso
agora, só quero que você saiba que [b] representa o som de “b” de “bola”, que [ɔ] representa
o som do “o” de “norte” e não o “o” de “noite”, etc. Faça esse salto de ida e volta, por favor.
ARTICULADORES BUCAIS
Já o trato vocal, ou canal vocal, é o conjunto das cavidades por onde o ar passa acima
da laringe e são utilizadas para realizar a fala, o que inclui as cavidades: bucal, oral, nasal, e
faríngea.
Visão frontal da boca.
ARTICULADORES ATIVOS
Língua
Ponta da língua
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Corpo da língua
Lâmina da língua – um pouco atrás da ponta da língua.
Raiz da língua – parte de baixo da língua, que conecta o corpo da língua à mandíbula.
Lábio inferior
ARTICULADORES PASSIVOS
Lábio superior
Dentes
Úvula – também conhecida como goela, váula, campainha e sininho.
Faringe
Palato duro – o meio do céu da boca
Palato mole, palato macio, palato muscular ou véu palatino – parte de trás do céu da boca
Cume alveolar – parte logo atrás dos dentes superiores da frente.
MECANISMOS DE FLUXO DE AR
É o método de como o ar é criado no trato vocal, as línguas humanas são geradas por
órgãos chamados de iniciadores, são três: diafragma (mecanismos pulmônicos), glote
(mecanismos glotálicos) e língua (mecanismos linguais ou “veláricos”); teoricamente poderia
haver um quarto iniciador, que seria as bochechas (mecanismos bucais), mas nenhuma
língua faz uso disso.
Este subcapítulo de mecanismos de fluxo de ar foi bem teórico, é só para você não
ficar boiando quando eu falar de consoantes pulmonares e consoantes não-pulmonares.
CONSOANTES
MODOS DE ARTICULAÇÃO
Observação: nos exemplos procurarei mostrar somente as consoantes que têm alguma
chance de aparecer no português brasileiro. Por exemplo: quando eu falar das
consoantes sibilantes, só mostrarei como exemplo [s], [z], [ʃ] e [ʒ], mas isso não
significa que só existam esses sons como sibilantes, têm também os sons [ʂ], [ʐ], [ɕ], [ʑ],
mas esses não aparecem na nossa língua, por isso que eu não os coloquei nos exemplos.
Mas posso fazer algumas exceções se eu julgar conveniente, como é o caso de [ʔ] para
consoante plosiva ou [ɺ], [ɽ] e [ⱱ] para consoante vibrante simples.
Consoante nasal – o ar ressoa na cavidade nasal porque a úvula e o véu palatino estão
abaixados, de forma que o ar também escape pela cavidade nasal. Exemplos: [m] e [n]
Consoantes aproximantes – os articuladores se aproximam um do outro, mas sem
estreitamento suficiente dos articuladores bucais para criar um ar turbulento por conta da
falta de articulação precisa. São um meio termo entre fricativas, que produzem um fluxo de
ar turbulento, e vogais, que não produzem fluxo de ar turbulento. Pense nas aproximantes
com uma fricativa que deu um passo além, mas que avançou o suficiente para criar
turbulência, apenas o suficiente para fazer outro som 7. Outra dica para entendê-los é que as
consoantes aproximantes são feitas sem que os articuladores entrem em contato, o que
quase as tornaria vogais (basicamente as aproximantes são vogais foneticamente falando),
mas como o ar que passa entre os articuladores produz um som friccionado, sendo assim,
acusticamente (e fonologicamente falando) se trata de uma consoante e não de uma vogal 89.
Exemplos: [l], [ɹ], [j] e [w].
Consoante vibrante simples – feita por uma vibração específica entre o articulador ativo e o
articulador passivo, há apenas um contato. A forma de articulação é ativa, ou seja, a língua
faz uma ação por si mesma para o alvo. Exemplos: [ɾ], [ɺ], [ɽ] e [ⱱ].
Consoantes líquidas – é um tipo de consoante lateral com uma consoante rótica ([ɾ], [r], [ɹ],
[ɻ], [ʀ], [ʁ], [ɽ], e [ɺ]).
FORMATO DA LÍNGUA
Você pode perceber que o mesmo som pode ser, por exemplo, apical ou laminal;
peguemos o [n], no inglês o contato da língua com o céu da boca é feito com a ponta da
língua, portanto esse [n] é apical, mas nas línguas românicas esse contato
normalmente é feito com a lâmina da língua, portanto é laminal.
PONTOS DE ARTICULAÇÃO
Consoante alveolar
Consoante palatoalveolar
Consoante retroflexa
Consoante alveolo-palatal (intermediário entre consoante coronal e dorsal)
Consoante dorsal – as articulações são feitas com a parte do meio (dorso) da língua. Essa
categoria engloba os tipos de consoantes:
Consoante alveolo-palatal (intermediário entre consoante coronal e dorsal)
Consoante palatal
Consoante velar
Consoante uvular (intermediário entre consoante dorsal e laringeal)
Consoante laringeal – em que a laringe é a principal articuladora. Essa categoria engloba os
tipos de consoantes:
Consoante uvular (intermediário entre consoante dorsal e laringeal)
Consoante faringeal
Consoante epiglotal
Consoante glotal
Sobre os intermediários, quero deixar claro que eles na verdade dizem que
determinados sons podem se comportar como como de um tipo de consoante ou outra,
por exemplo: consoantes alvéolo-palatais e consoantes linguolabiais podem se
comportar às vezes como consoantes dorsais ou labiais.
As subcategorias em detalhes:
Consoante bilabial – feita com ambos os lábios. Exemplos: [m], [b], [p]
Consoante labiodental – feita com o lábio inferior e os dentes superiores. Exemplos: [f], [v].
Consoante linguolabial ou apicolabial – feita com a ponta ou lâmina da língua contra o
lábio superior. Exemplos: [t], [d], [ɾ], [ r], [θ], [ð] e [ n]. Não existem sons desse tipo no
português. Você perceberá que os caracteres desse tipo de consoante rebem os diacríticos
[◌] e [◌̺. Ex: [t], [d], [n], [l], [ɾ], [r], [ʂ], [ʐ]].
Consoante dental – feita com a língua contra o dente superior. Exemplos: [θ]] e [ð]. Não
existem sons desse tipo no português, mas existe no inglês, [θ]] é o “th” de “think” e [ð] é o
“th” de “that”.
Consoante alveolar – feita com a ponta da língua contra ou próxima o cume alveolar.
Exemplos: [n], [d], [t], [s], [z], [t͡s], [ɾ]
Consoante palatoalveolar ou pós-alveolar – feita com a articulação com a língua atrás do
cume alveolar. Exemplo: [ʃ], [ʒ], [t͡ʃ], [d͡ʒ]
Consoante retroflexa – categoria de consoante palatoalveolar, a língua adquire uma
forma chata, côncava ou até mesmo curvada (basicamente a ponta da língua fica
curvada para cima) e é articulada entre o cume alveolar e o palato duro. Exemplos:
[ɳ], [ʐ]. Não existem sons desse tipo no português.
Consoante alveolo-palatal – é um meio termo entre consoante coronal e dorsal ou pode ter
articulação alveolar e palatal ao mesmo tempo. Exemplos: [ɕ], [ʑ]. Não existem sons desse
tipo no português.
Consoante palatal – feita com o corpo da língua levantada contra o palato duro. Exemplos:
[j], [ʎ], [ɲ], [ç].
Consoante velar – feita com a parte de trás da língua contra o palato mole. Exemplos: [k],
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FONAÇÃO
Cuidado para não se confundir com a fonação por causa das vogais, que via de regra
são sempre sonoras. Você pode, por exemplo, pronunciar “ta” e achar que “t” é sonoro
porque sentiu uma vibração, quando na verdade essa vibração veio da vogal “a”. A
minha dica é, durante a pronúncia segure a consoante e no final solte a vogal, assim
“tttttttttta” (ei, não entenda esses múltiplos t’s como a múltipla pronúncia do “t”, mas
sim com uma pronúncia mais demorada).
Tem noção do quanto isso é importante? Consegue me dizer no que diferem os sons
das relações a seguir?
• A diferença entre [t] e [d]
• A diferença entre [f] e [v]
• A diferença entre [k] e [g]
• A diferença entre [s] e [z]
Pois é, é a fonação, porque no resto eles são iguais!!! Se você acha que a única
diferença é numa suposta posição diferente da língua ou lábios, isso é apenas impressão
sua, mesmo que haja uma pequena diferenciação da articulação dos músculos da boca, eles
não serão o suficiente para provocar um som diferente por si só. O que os diferencia é a
fonação, confie em mim!
Você percebe a importância da fonação quando tem que aprender o som de uma
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língua estrangeira? Por exemplo: no meu dialeto de português brasileiro não tem o som [x] e
estou estudando russo que tem [x] e [ɣ], ambos fricativas velares, sendo que o [x] é uma
fricativa velar surda enquanto o [ɣ] é uma fricativa velar sonora. Eu já terei o trabalho de
aprender a fazer uma fricativa velar (os únicos sons velares que temos são o [k] e o [g], que são
oclusivas), também terei o trabalho de saber emitir esse som na forma surda e também
sonora.
É importante que você tenha domínio da fonação para quando você tiver que fazer
um som novo, a fonação não será problema. Faça o seguinte: fique falando “t d” ou “f v” ou
“k g” ou “s z” para que você note a diferença e tente isolar o movimento da fonação, assim,
quando você tiver que pronunciar, por exemplo, o [h] da palavra inglesa “horse”, as coisas
serão mais fáceis para você.
QUADRO DE CONSOANTES
Os quadros a seguir serão muito úteis para saber como é o som de determinada letra
do AFI. Como assim? Peguemos a palavra coreana “ 문 화” ” , que significa “beber”, cuja
transcrição é [munβ'wa̠ ]. Além da vogal com diacrítico, você percebe esse [β], como será
que ele é feito? Procurando no quadro logo a seguir você poderá saber o nome dessa letra e
como ela é pronunciada.
CONSOANTES PULMONARES
Ponto → Labial Coronal Dorsal Laringeal
Nasal m̥ m ɱ n n̥ n ɳ̊ ɳ ɲ̊ ɲ ŋ̊ ŋ ɴ
Oclusiva p b p̪ b̪ t d t d ʈ ɖ c ɟ k ɡ q ɢ ʡ ʔ
Africada
sibilante t͡s d͡z t͡ʃ d͡ʒ ʈ͡ʂ ɖ͡ʐ t͡ɕ d͡ʑ
Fricativa
sibilante s z ʃ ʒ ʂ ʐ ɕ ʑ
Fricativa
não-sibilante ɸ β f v θ ð θ] ð θ]̠ ð̠ ɹ̠̊˔ ɹ̠˔ ɻ˔ ç ʝ x ɣ χ] ou até ʁ ħ ʕ ʢ h ɦ
Aproximante ʋ̥ ʋ ɹ̥ ɹ ɻ̊ ɻ j̊ j ɰ̊ ɰ ʔ̞
Vibrante
simples ⱱ̟ ⱱ ɾ ɾ̥ ɾ ɽ̊ ɽ ɢ̆ ʡ̮
Vibrante
múltipla ʙ̥ ʙ r r̥ r ɽ̊ɽ ̊ ɽɽ ʀ̥ ʀ ʜ ʢ
Fricativa lateral ɬ ɮ ɭ˔̊ ʎ̥ ˔ ʎ̝ ʟ̝̊ ʟ̝
Aproximante
lateral l̥ l ɭ̊ ɭ ʎ̥ ʎ ʟ̥ ʟ ʟ̠
Vibrante lateral ɺ ɺ̢ ʎ̮ ʟ̆
Vamos tentar entender como funciona esses quadros que por si só já são bem
explicativos. Eles já mostram o ponto de articulação, o modo de articulação e também a
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Sobre a fonação, repare que a maioria das células dessas tabelas possuem duas letras,
a da esquerda mostra a que tem fonação surda enquanto a da direita exibe a com fonação
sonora. Observe as fricativas labiodentais, que são [f] e [v], como [f] está a esquerda,
percebemos de cara que esta tem fonação surda enquanto a [v] tem sua fonação sonara
indicada pela posição da letra à direita. Você vai perceber que algumas células possuem
apenas uma única letra, como saber a fonação dessas. Ora, é fácil, mesmo as letras isoladas
estão cuidadosamente posicionadas à direita ou à esquerda de forma que você possa saber
qual é a sua fonação.
Voltemos agora ao nosso [β], pensou que eu tinha esquecido dele? Pois bem, vemos
que ele é uma consoante fricativa não sibilante, é bilabial e tem fonação sonora, logo seu
nome é “fricativa bilabial sonora”. Não precisa dizer “fricativa não-silábica bilabial sonora”
porque, como você pode ver, não há uma “fricativa silábica bilabial sonora”.
Sobre o quadro das consoantes não-pulmonares logo a seguir, é como eu já havia dito
no subcapítulo de “MECANISMOS DE FLUXO DE AR” (página 8), a não ser que você for
estudar uma língua bem “exótica” que vá ter tais consoantes, não faz muito sentido você
perder seu tempo querendo entender os sons desse quadro. Mas é você quem sabe.
CONSOANTES NÃO-PULMONARES
Ponto →
Labio- Palato- Retro-
Bilabial Dental Alveolar Palatal Velar Uvular Epiglotal Glotal
dental alveolar flexa
Modo ↓
Oclusiva pʼ tʼ ʈʼ cʼ kʼ qʼ ʡʼ
Africada t͡θ]ʼ t͡sʼ t͡ʃʼ ʈ͡ʂʼ k͡xʼ q͡χ] ou atéʼ
t͡ɬʼ k͡ʟ̝̊ʼ
Africada
Ejetivas lateral cʎ̝͡ ̥ ʼ
“Tá, mas e essas células vazias?”, você me pergunta. Bom, as células vazias em cor
cinza escuro representam sons que são conhecidos por serem impossíveis de serem feitos,
como “fricativa sibilante labiodental surda/sonora”, “vibrante palatal”, “vibrante velar”,
“nasal faringeal”, etc. Já as células vazias deixadas em branco, são sons que até seriam
possíveis, mas nenhuma língua conhecida faz uso deles, como “aproximante dental”,
“africada sibilante retroflexa”, “vibrante múltipla lábiodetantal”, etc.
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Sobre as células com linhas pela metade (como fricativa linguolabial e fricativa
uvular) ou completamente sem linhas em baixo (como fricativa bilabial), informam que o
elas também podem fazer parte do modo de articulação de baixo, que no caso é
aproximante. Por exemplo, o símbolo da fricativa bilabial surda [β] também é comumente
usada para representar a aproximante bilabial surda, embora a representação mais
adequada devesse ser [β̞].
VOGAIS
Para a formação do som de uma vogal é necessário que o corpo da língua assuma
uma determinada posição (como estar um pouco para trás ou para frente & estar um pouco
levantado ou abaixado) e que os lábios estejam numa determinada forma.
Faça o seguinte teste, vá para a frente de um espelho e fique pronunciando os sons [i]
(como de “irmão”) e [a] (como de “arte”), você perceberá sem problemas que o corpo da
língua é elevado quando você pronuncia o som [i] e é abaixado quando você
pronuncia o som [a]
Se refere a posição horizontal do corpo da língua, se ela está voltada para frente ou
para trás.
Central – [ɐ]
Quase posterior – [ʊ]
Posterior – [u], [o], [a], [ɔ]
Por favor, perceba que a posição isolada não define o som a ser construído, peguemos o
[a] de “arco” como um exemplo, a posição vertical dele é aberta, sua posição horizontal
é posterior e, como você vai ver logo a seguir, você o pronuncia com os lábios relaxados.
É tudo uma questão de combinação de articulações.
Você está sem entender ainda? Vá até um espelho e fale “aaaaa…” ([a]) como em
“marte”, observe como seus lábios ficam abertos, relaxados. Agora fale “uuuuu…” [u] como
em “uva”, você percebe que seus lábios se contraem, os cantos da boca se aproximam mais.
Teste também falar “ooooo…” ([o] ou [o]) como em “louça” ou “horta”, observe que seus
lábios também se contraem, talvez nem tanto quando “u”, mas esses também são vogais de
lábios arredondados.
VOGAIS NASAIS
GRÁFICO DE VOGAIS
Perceba que alguns símbolos possuem alguns diacríticos, você aprenderá mais sobre
eles em um capítulo mais a frente. Outra coisa interessante a ser observado que cada vogal
tem sua contraparte arredondada ou relaxada, para fazer o som [y] basta você pronunciar o
[i] de “ilha” com os lábios arredondados. Para quem estuda francês, por exemplo, já deve ter
visto o(a) professor(a) dizendo que para pronunciar as vogais das palavras francesas “tu”,
‘sûr”, “rue” você tem que falar um “i” fazendo biquinho para que saia o som correto, que por
sinal é [y], esse “biquinho” nada mais é que a configuração arredondada dos lábios. Faça o
teste com o som [i], tente pronunciá-lo com os lábios arredondados (ou em linguagem mais
popular, com “biquinho”), a diferença é marcante.
Dica: para pronunciar vogais que não existem na nossa língua e não são simplesmente
versões arredondas ou relaxadas das vogais que já conhecemos, eu faço da seguinte forma.
Se quero, por exemplo, pronunciar [ɑ] ou [ɒ], eu tento pronunciar um [a] de “lábio” que
venha de mais do fundo da boca, é uma forma de forçar minha língua a ter uma posição
mais posterior.
MECANISMO DE FLUXO DE AR
Ingressivo lingual – o ar na boa é rarefeito por um movimento da língua para baixo. São
consoantes criadas por cliques. Aparecem em palavras ordinárias em 2% dos idiomas da
África.
Retornemos ao nosso [v] de “vaca” que se chama “fricativa labiodental sonora”. Esse
som é um fricativo como [s] e [ʒ], ou seja, o ar passa por um canal estreito. Ele também é
labiodental como [f], ou seja, os dentes tocam os lábios, mais precisamente os dentes
superiores tocam o lábio inferior. E por fim, ela é sonora, o que significa que as suas cordas
vocais terão que vibrar para produzir esse som, caso contrário você pronunciará um [f]!
O som será bem parecido com o “c” de “casa”, cujo som é representado por [k], mas o
“c” de “casa” é uma oclusiva velar surda, em que a parte de trás da língua fica contra o palato
mole, não contra o palato duro. A título de curiosidade, se você tentar pronunciar esse som,
[c], com a fonação sonora, você pronunciará o som [ɟ].
Se você pronunciar esse som com a fonação surda, você pronunciará o som [ɕ].
DIACRÍTICOS
São sinais que indicam que a pronúncia de determinada vogal ou consoante tem algo
de diferente, ou seja, durante a pronúncia da consoante ou vogal você terá que fazer uma
articulação um pouco diferenciada; o símbolo ◌ é só uma referência que pode representar
qualquer vogal ou consoante, por exemplo: “◌ʲ” pode representar “nʲ”, “rʲ”, “kʲ”, etc.
Não é pra decorar os diacríticos abaixo, use-os apenas como consulta. Com o tempo
você acaba por decorar os que você realmente necessita conhecer.
Olha, você nem precisa ler tudo neste capítulo, pelo menos veja a definição de
palatização, nasalização, surdez e labialização porque esses ocorrem na nossa língua, o
resto você deixa para consulta caso esteja estudando alguma outra língua.
◌̃ ou ◌̨ – ou ◌̨ – – Nasalização: o som é produzido com o véu palatino abaixado. Pra você entender,
são nasalizados o “a” de “mão” e “anel”, o “o” de “Camões” e “longe”, o “e” de “tempo” e
“mente”; mas não são nasalizados o “a” “mágico” e “aluguel”, o “o” de “moto” e “logo”, o “e”
de “tédio” e “verde”.
◌̩ ou ◌̍ – ou ◌̍ – – Silábico ou vocálico: diz que a consoante que forma uma sílaba por si mesma sem
a necessidade de uma vogal ou é o núcleo de uma sílaba. Não existe tal consoante na língua
portuguesa, no inglês seria o “m”, “n” e “l” nas palavras “rhythm”, “button” e “bottle”.
menos força do que a outra vogal (ou vogais) próxima. Isso basicamente transforma a vogal
numa semivogal. Por exemplo, o “i” de “pai” é não-silábico, mas o “i” de “pira” é silábico; o
“u” de “aula” é não-silábico, mas o “u” de “uva” é silábico.
◌̥ ou ◌̊ – Surdez: ou ◌̊ – Surdez: – Surdez: simplesmente indica que o som tem fonação surda. Geralmente os sons
surdos já tem seus próprios caracteres, como [p], [t], [k], [f], [s], mas caso não haja uma
representação de um som surdo no AFI, pode-se usar o caractere tipicamente sonoro que
tem exatamente as mesmas características, com exceção da fonação, e fazer uso desse
diacrítico para inverter a fonação.
[d̥ ] é o mesmo que [t] por exemplo, a utilidade de tal diacrítico em consoantes que já tem
versões surdas é para quando a consoante, originalmente sonora, na verdade é
parcialmente surda, por exemplo: [₍d̥₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,d̥ ₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,
[₍d̥₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,d̥ ] significa que a consoante começa surda e termina sonora como é na sua forma original
e [d̥ ₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,] significa que a consoante começa sonora como é na sua forma original mas termina
surda.
◌̬ – Sonoridade: – Sonoridade: simplesmente indica que o som tem fonação sonora. Geralmente os sons
surdos já tem seus próprios caracteres, como [b], [d], [g], [v], [z], mas caso não haja uma
representação de um som sonoro no AFI, pode-se usar o caractere tipicamente surso que
tem exatamente as mesmas características, com exceção da fonação, e fazer uso desse
diacrítico para inverter a fonação.
[t̬] é o mesmo que [d] por exemplo, a utilidade de tal diacrítico em consoantes que já tem
versões sonoras é para quando a consoante, originalmente surda, na verdade é
parcialmente sonora, por exemplo: [₍d̥₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,t̬₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,] significa que no meio da pronúncia há uma
sonoridade, [₍d̥₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,t̬] significa que a consoante começa sonora e termina surda, como é na sua
forma original, e [t̬₎] significa que no meio da pronúncia há uma surdez,] significa que a consoante começa surda, como é na sua forma original,
mas termina sonora.
◌̤ ou ◌ʱ – Voz Murmurada ou Voz Ofegante: ou ◌ʱ – Voz Murmurada ou Voz Ofegante: – Voz Murmurada ou Voz Ofegante: é uma fonação em que as cordas vocais vibram
permitindo que mais ar escape do que ocorre na fala normal.
◌̰ – Voz Crepitante: – Voz Crepitante: é um tipo especial de fonação em que as cartilagens aritenoides da
laringe são tensionadas em conjunto, por consequência as pregas vocais são bastante
comprimidas.
◌˞ – Rotificação – Rotificação11: a frequência da terceira formante12 é abaixada. Pode ser feita uma
articulação retroflexa durante a articulação da vogal ou a parte de trás da língua pode ser
juntada. O trato vocal pode ser constringido na região da epiglote.
◌ⁿ – Liberação nasal: quando, após pronunciar uma consoante oclusiva, o falante aproveita
a posição da língua e pronuncia diretamente uma consoante nasal sem ter que pronunciar
as duas consoantes separadamente (mata dois coelhos com uma cajadada só!). Vejamos as
palavras inglesas “catnip” [ˈkætⁿnɪp] e “sudden” [ˈsʌdⁿn̩ ], tanto no [t] quando no [d] a
posição da língua é a mesma de quando pronunciamos a consoante “n” como em “noite”,
não é preciso gastar energia fazendo uma articulação nova, nos casos citados a gente pega
uma carona no [t]/[d] para chegar no [n].
◌˭ – Não-aspiração: – Não-aspiração: o exato oposto de aspiração, você não precisa se preocupar com esse
porque consoantes não-aspiradas geralmente são deixadas sem marcação, ou seja, [t ˭] = [t].] = [t].
◌̚ – Lançamento não audível: – Lançamento não audível: consoante oclusiva sem explosão, ou seja, não há indicação
da oclusão do som.
◌ˠ, ◌ᵚ, ◌̴ – Velarização: – Velarização: a parte de trás da língua é levantada contra o véu palatino durante
a articulação.
11 Não estou certo se esta é a tradução mais adequada da palavra, o original é “Rhotacized”. Nem o Google
Tradutor ou o Linguee puderam me ajudar a achar uma tradução.
12 “Harmônica de uma nota que é aumentada por uma ressonância”. Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Formant
23
◌̺ – Apical: – Apical: obstrução do ar com a ponta da língua. Esse som contrasta com as consoantes
laminares em que o som é feito pela obstrução com lâmina da língua.
◌̻ – Laminal: – Laminal: obstrução do ar com a lâmina da língua, a lâmina da língua toca no céu da
boca. Contrasta com as consoantes apicais.
◌͈ – Tensionamento – – Tensionamento – no caso de vogais, na hora da pronúncia a boca fica um pouco mais
estreita (geralmente a língua fica levantada e tem menos centralização e maior duração). No
caso de consoantes – que é quando na verdade usamos esse diacrítico – indica que a
consoante é mais tensa, isto é, envolve uma maior tensão na glote.
◌̟ ou ◌˖ – Adiantado: ou ◌˖ – Adiantado: – Adiantado: o som é pronunciado mais a frente do trato vocal em comparação à
referência.
◌̠ ou ◌˗ – Retraído: ou ◌˗ – Retraído: – Retraído: o som é pronunciado mais para trás do trato vocal em comparação à
referência.
◌̝ ou ◌˔ – Elevado: ou ◌˔ – Elevado: – Elevado: o som é pronunciado com a língua ou lábio mais elevado em
comparação à referência.
◌̞ ou ◌˕ – Abaixado: ou ◌˕ – Abaixado: – Abaixado: o som é pronunciado com a língua ou lábio mais abaixado em
comparação à referência.
◌̽ – Centralização média: – Centralização média: indica que a vogal é próxima ao ponto médio do espaço de
pronúncia das vogais em relação ao ponto de referência.
do nosso português eu fiquei bastante surpreso no quanto os sons variam, em especial o “r”,
a depender da região o “r” de “rede” ou “raposa” pode ser [ɦ] (fricativa glotal sonora), /ʁ/
(fricativa uvular sonora), /ɣ/ (fricativa velar sonora), /x/ (fricativa velar surda), [χ] (fricativa] (fricativa
uvular surda) ou [ç] (fricativa palatal surda), isso quando não vira de vez um “r” vibrante
como /ɾ/ (vibrante simples alveolar) ou /r/ (vibrante múltiplo alveolar)
13 Esses outros são apenas versões alternativas do que está em primeiro, ou seja:
[a] = [a̟ ] = [æ̞ ]
[j] = [ʝ̞] = [ʝ˕]
Estamos entendidos?
25
Eu tinha muita dúvida se o meu “r” de “cor” e “mercado” era [ɦ] ou [h], eu percebi que
quando eu forçava meu “r” tentando analisá-lo ele saia como [h], mas com o tempo
percebi que, de forma natural, esse “r” tem o som de [ɦ]. Tenha muito cuidado e atenção
ao analisar o seu “r” nesse caso.
[◌ʷ] – Labialização
Pode ocorrer no “g” de “água”, no “q” de “quanto”, no “n” de “ingênua”, no “d” de “árdua”.
Para mais detalhes vá para o capítulo de diacríticos.
[◌ʲ] – Palatização
Pode ocorrer no “lh” de “ilha” e “joelho” como também pode ocorrer no “l” de “Itália”.
SUPRASSEGMENTOS
Agora entenda como funciona os suprassegmentos do AFI, você os verá em prática
nos próximos exemplos:
ˈ◌ – sinaliza a sílaba tônica, como em [mɐˈkaku] (macaco), onde o sinal ˈ sinaliza que o [ka]
é a sílaba tônica.
ˌ◌ – sinaliza a sílaba tônica secundária, como em [liˌkʷid ͡ʒɪfikaˈdoɦ] (liquidificador); a sílaba
tônica dessa palavra fica no [doɦ], mas perceba que meio que poderíamos dividir essa
palavra em duas (liquidi-ficador) e o [kʷi] seria a sílaba tônica de “liquidi”.
◌. – sinaliza uma quebra de sílaba, como por exemplo a palavra “lago” (la-go), que em AFI
pode ser representada por [ˈlagʊ] ou [ˈla.gʊ].
(◌) – os parênteses sinalizam que a pronúncia do item entre elas é opcional
◌ː – – sinaliza que a duração do som é um pouco mais alongada se comparada a outros sons.
◌ˑ – – sinaliza que a duração do som é um pouco mais alongada se comparada a outros sons,
mas não tanto quanto ◌ː.
◌̆ – – sinaliza que a duração do som é menor, é justamente o contrário de ◌ː. Tenha muito
cuidado para não confundir essa acentuação gráfica com ◌̯/◌̑./◌̑..
ି – o laço, como ocorre com [t͡s], [dʒ] ͡ e [tɕ],
͡ indica uma consoante africada, em que é
combinado o som de uma oclusiva (geralmente [t] ou [d]) com uma fricativa (geralmente [s],
[z] ou uma consoante vibrante) a fim de formar uma consoante. Para essa mesma
representação o laço pode estar embaixo, como em [t͜s], [d͜ʒ] e [t͜ɕ], a consoante fricativa
pode ficar como um sobrescrito, como em [tˢ], [dᶾ] e [t ɕ], ou se pode usar um único caractere
Unicode, como em [ʦ], [ʤ], e [ʨ]. Se não haver nenhuma formatação especial, como em
[ts], [dʒ] e [tɕ], tecnicamente eles serão sons separados, ou seja, tecnicamente [dʒ] ≠ [d ͡ʒ].
Resumindo: [d͡ʒ] = [d͜ʒ] = [dᶾ]= [ʤ]
29
◌‿◌ – indica a ausência de interrupção, basicamente é quando, entre duas palavras, não
há pausa na pronúncia, tudo corre como uma palavra só.
| – unidade prosódica, indica uma pequena pausa por conta de uma inspiração ou
expiração. Pense na pausa entre um verso entre o outro de um poema que está sendo
recitado.
‖ – – unidade prosódica, indica uma pausa um pouco longa por conta de uma inspiração ou
expiração. Ainda usando o exemplo do poema, pense numa pausa ao terminar a recitação
do poema.
EXEMPLOS
Agora você já sabe os sons individuais, veremos algumas palavras do nosso português
para que você entenda como funciona o AFI.
Eu já falei isso, mas é bom repetir. O português brasileiro varia, mesmo dentro de um
mesmo estado e até mesmo numa mesma cidade a forma como as palavras são
pronunciadas podem variar. Um exemplo, eu pronuncio a palavra “flores” como [ˈflo.rɪs],
mas há quem pronuncie como [ˈflo.rɪz] ou [ˈflo.rɪʃ]. Veja só, a depender do momento posso
pronunciar “barco” como ['baɦ.ku], ['bah.ku] ou ['baχ] ou até.ku]. Tenha muita cautela quando
você vir a representação em AFI de uma palavra, como quando alguém afirma que o “rr” do
português é sempre [ɦ], talvez essa transcrição não represente exatamente a maneira como
você fala.
Você deve ter percebido que as palavras terminadas em “a”, “e” e “o” tiveram suas
vogais transcritas respectivamente para [ɐ], [(ɪ)] e [ʊ]. Mas nada impede que você pronuncie
essas vogais, ocasionalmente ou sempre, como [a], [i] e [u]. Faço observação semelhante
para [ʷ] e [ʲ] que podem ser respectivamente [w] e [j] na sua fala.
Pode acontecer na última vogal de uma palavra, em casos nos quais a vogal é o
último som, o som sair com a fonação surda, ou seja, a vogal é pronunciada sem as cordas
vocais vibrarem. Isso acontece com frequência comigo, especialmente com o [ʊ], nos
exemplos abaixo perceba o ◌̥ no ʊ e no ɪ. no ʊ e no ɪ.
Muro – [ˈmu.ɾʊ̥ ]
Idade – [ɪ.ˈda.d͡ʒɪ̥]
Muro – [ˈmu.ɾu]
Idade – [ɪ.ˈda.d͡ʒi] ou [i.ˈda.d͡ʒi]
Pra entender como seria uma vogal surda, pense numa pessoa sussurrando, se você
disser as palavras “muro” e “magro” de forma sussurrada, imagino que você vá pronunciá-
las como [ˈmu̥ .ɾʊ̥ ] e [ˈmḁ.gɾʊ̥ ].
32
Vogais nasalizadas não existem na versão padrão de muitos idiomas, dos idiomas
mais conhecidos pelos brasileiros que oficialmente possuem vogais nasalizadas são o
francês, hindi, polonês (maioria dos dialetos, não todos), urdu e iorubá. É isso mesmo que
você está pensando: muitas variedades do inglês, do espanhol e do russo não possuem sons
nasais e se deve pronunciar o “n” e o “m” (ou “н” e o “м” no caso do russo). Observe os
exemplos abaixo:
Mas as línguas variam muito, pode-se dizer que oficialmente a palavra “campo” do
espanhol é pronunciada como [ˈkampʊ], mas em muitas outras variedades a pronúncia
pode ser [ˈkɐ̃ mpʊ] ou até mesmo [ˈkɐ̃ pʊ].
Mas como pronunciar o “m” e o “n” separadamente, ou seja, quando essas letras não
tiverem uma vogal logo depois deles? Faça o seguinte exercício: fale “ma”, preste atenção nos
movimentos de língua e boca que você faz; fale “ma” de novo, mas demore um pouco para
soltar o “a”, seria algo como “ma”; dessa vez repita o mesmo procedimento, mas não
fale o a, seria algo como “m”. É isso, é assim que é pronunciar o “m” sozinho, mas
não precisa demorar tanto em sua pronúncia, só um “m” serve.
Sobre a pronúncia do “l” (ou “л” no caso do russo), tenha cuidado quando ele estiver
“isolado” (por “isolado” entenda a situação em que não há vogal depois do “l”), em muitas
línguas “l” mantém o seu som de “l” quando isolado, no português europeu é assim.
Espero que você tenha entendido a mensagem que eu quis passar neste capítulo, é
uma coisa básica, mas muita gente se esquece e nasaliza vogais que não deveriam ser
14 Tanto este exemplo, “beldade”, quanto a transcrição da palavra “mal” do português europeu, foram feitas
pelo site https://european-portuguese.info/ipa e depois conferidas por Rodrigo Pereira, um falante de
português europeu conhecedor do AFI.
33
nasalizadas e pronuncia a letra “l” como uma semivogal quando na verdade deveria
pronunciar o [l] de fato.
Antes de cada lista de exemplos eu mostrarei uma lista de sons usados nos exemplos,
que supostamente não existem no português brasileiro (por que supostamente? Não posso
afirmar que, por exemplo, o som [ɑ] não existe no português brasileiro se é possível que numa
região do Brasil haja pessoas que de fato usam essa vogal), mas esteja ciente que as listas de
sons novos a serem apresentas são limitadas, apenas disponibilizei o que os exemplos
exigiram.
Preste atenção que é muito difícil encontrar palavras em transcrição fonética, então
algumas estarão em transcrição fonêmica, você as identificará pelos símbolos, se a palavra
está entre colchetes ou barras.
Man – [mæn]
Men – [mɛn]
Black – [blæk]
Peter – [ˈpʰiːɾɚ]
Flower – [ˈflaʊ̯ɚ]
Hire – [ˈhaɪɚ ̯ ]
Fire – [ˈfaɪɚ̯ ]
Breathe – [bɹiːð]
To – [tʰuː]
Two – [tʰuː]
The – [ðə] ou [ðiː]
Understand – [ˌʌndɚˈstænd]
Water – [ˈwɔːɾɚ]
Letter – [ˈlɛɾɚ]
Turn – [tʰɚn]
Bad – [bæd]
Bed – [bɛd]
Good – [gʊd]
Until – [ənˈtʰɪɫ]
Very – [ˈvɛɹi]
Cheek – [t͡ʃiːk]
Divide – [dɪˈvaɪd ̯ ]
Thief – [θ]iːf]
These – [ðiːz]
Thing – [θ]ɪŋ]
Thin – [θ]ɪn]
North – [nɔːɹθ]]
Father – [ˈfɑːðɚ]
Situation – [ˌsɪt͡ʃuːˈeɪʃ̯ n̩ ]
Have – [hæv]
Battleship – [ˈbæɾɫ̩ ˌʃɪp]
Ring – [ɹɪŋ]
Pleasure – [ˈpl̥ɛʒɚ]
Emotion – [ɪˈmoʊ̯ʃn̩ ]
Shy – [ʃaɪ]̯
Human – [ˈhjuːmən] ou [ˈçuːmən]
China – [ˈt͡ʃaɪn ̯ ə]
Beautiful – [ˈbjuːɾɪfɫ̩ ]
Enough – [ɪˈnʌf]
Kid – [kʰɪd]
Feel – [fiːɫ]
Sang – [sæŋ]
Sink – [sɪŋk]
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͡
Jam – [dʒæm]
Mirror – [ˈmɪɹɚ]
Hurry – [ˈhʌɹi] ou [ˈhɚ.i]
Has – [hæz]
Square – [skwɛɹ]
Shit – [ʃɪt]
Sheet – [ʃiːt]
͡ ə̯ nt]
Giant – [ˈdʒaɪ
Twenty – [ˈtw̥ ɛnti] ou [ˈtw̥ ɛ̃ɾĩ ]
Pure – [pj̥ʊɹ]
City – [ˈsɪɾi]
Blood – [blʌd]
Bloody – ['blʌɾi]
Beige – [beɪʒ̯ ]
Horse – [hɔːɹs]
Milk – [mɪɫk]
Queen – [kw̥ iːn]
Cure – [kj̥ʊɹ]
Girl – [gɚɫ]
When – [wɛn] ou [ʍɛn]
True – [tɹ̥uː]
Yellow – [ˈjɛloʊ̯]
Star – [stɑːɹ]
Thought – [θ]ɔːt]
Choice – [t͡ʃɔɪs̯ ]
Go – [goʊ̯]
Price – [pɹ̥aɪs̯ ]
Lot – [lɑːt]
Red – [ɹɛd]
War – [wɔːɹ]
Mars – [mɑːɹz]
Start – [stɑːɹt]
Bird – [bɝd]
Squirt – [skwɝt]
For – [fɔːɹ]
Word – [wɝd]
World – [wɝɫd]
Purple – [ˈpʰɝpɫ̩ ]
Blur – [blɝ]
Saturday – [ˈsæɾɚˌdeɪ]̯
Murder – [ˈmɝɾɚ]
Can – [kʰæn] ou [kʰe̞ə̯n]
Can't – [kʰænt] ou [kʰe̞ə̯nt]
Heir – [ɛɚ̯]
Weirder – [ˈwɪɚ̯ɾɚ] ou [ˈwiɚ̯ɾɚ]
Practically – [ˈpɹ̥æktɪkli]
Rod – [ɹɑːd]
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Todos os [ɝ] podem ser substituídos por [ɚ] e podem ocorrer nasalizações em vogais,
mas isso não é significante.
Sonámbulo – [s̺oˈnãmbulo]
Melifluo – [meˈliflu̯o]
Nocturno – [noɣ̞'tuɾno]
Soledad – [s̺oleˈð̞að̞]
Luminiscente – [lumĩnis̺'θ]en̪ te]
Aurora – [au̯ˈɾoɾa]
Olvido – [olˈβ̞ið̞o]
Efímero – [eˈfimeɾo]
Arrebol – [areˈβ̞ol]
Inefable – [ĩneˈfaβ̞le]
Perro – ['pero]
Campo – ['kampo]
Niño – [ˈnĩɲo]
Niña – [ˈnĩɲæ]
Colegios – [koˈlexio ̯ s̺]
Caudillo – [Kḁuˈð̞iʎo]
Emblema – [ẽmˈblema]
Gloria – [ˈgloɾia̯ ]
Brazos – [ˈbɾaθ]os̺]
Debajo – [deˈβ̞axo]
Hablar – [aˈβ̞laɾ]
Seguidilha – [s̺eɣ̞iˈð̞iʎæ]
37
Clamor – [klaˈmoɾ]
Sangre – [ˈs̺aŋgɾe]
Guiño – [ˈgiɲo]
RUSSO
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Plínio A; ALBANO, Eleonora. Illustrations of the IPA. Brazilian Portuguese.
Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/site/docentes/plinio/BarbosaAlbano.pdf>.
HERR, Martha; KAYAMA, Adriana; MATTOS, Wladimir. Brazilian Portuguese: Norms for
Lyric Diction. Disponível em:
<http://www.ia.unesp.br/Home/Pesquisa/brazilian_portuguese_article.pdf>.