You are on page 1of 3

Explicação geral da afinação padrão ocidental atual composta de 12 tons

equidistantes

Texto por Igor da Silva Livramento1.


Revisão matemática por Jaasiel Felipe2.

Você sabe como aqui, no ocidente, se você pegar um violão afinado, ou um teclado, é
preciso andar doze "passos" para chegar "ao mesmo lugar" (porém mais agudo ou mais grave),
sim? Se parar para pensar na matemática por trás disso, vai perceber que o que está
acontecendo é bastante simples. Antes de adentramos nisso, porém, precisamos falar de
algumas coisas, algumas palavras-chave: 1) Nota; 2) Afinação (afinado). Vamos a elas?

Nota

— Uma nota é o nome dado a certas frequências, isto é, como dizer quais são maçãs, quais
são laranjas e quais são limões numa cesta de frutas. Curiosamente o ser humano escuta
algumas frequências como "iguais", ou pelo menos "equivalentes". Você que já é músico sabe
que estou falando das famosas ‘oitavas’. Não nos importa agora de onde vem o nome "oitava",
isso fica para uma aula de história da música; o que importa saber é que uma oitava de uma
frequência qualquer é uma progressão geométrica do tipo:

2𝑛 × 𝑓 | 𝑛 ∈ ℤ, 𝑓 ∈ ℝ

A título de exemplo vejamos o conjunto formado pelos elementos de forma:

2𝑛 × 440 (𝐻𝑧) | 𝑛 ∈ ℤ.

A esse conjunto denominamos A (leia-se: lá), o qual contém elementos como: 22,5 Hz, 55 Hz,
110 Hz, 220 Hz, 440 Hz, 880 Hz, 1760 Hz, etc. A todos esses elementos denominamos A, como
se fossem frutas de um mesmo tipo, porém sempre com gostos ligeiramente diferentes, isto é,
estando essas notas apenas em oitavas diferentes elas caracterizam um tom (as frequências de
menor valor são mais graves, as de maior valor são mais agudas).

Afinação

— O que quer dizer afinar um instrumento? Fazer uma afinação significa que se vai relacionar
uma nota com outras, ou seja, a partir de certa frequência fundamental (central para a afinação)
“medir-se-ão” todas as outras, isto é, far-se-á que tenham certas distâncias, ou certas relações,
entre si. Portanto, uma afinação consiste em fazer escolhas, onde quais outras frequências

1 Graduando do curso de Letras-Português na Universidade Federal de Santa Catarina.


2 Graduando do curso de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
(notas) se poderão obter (ou não obter) no instrumento são fruto da afinação feita. A afinação
também fornece as relações entre as frequências (entre as notas), portanto quais acordes (notas
soando simultaneamente) pode-se fazer, como esses acordes se configuram, etc.

Apenas por uma questão de linguagem, defina-se o seguinte:

Tom = o nome da família de notas (conjunto de notas), ou seja, o tom A são todos os
elementos:

2𝑛 × 440 (𝐻𝑧) | 𝑛 ∈ ℤ,

como foi dito anteriormente.

Nota = o nome de uma frequência específica, ou seja, a nota A a uma frequência de 440
Hz, a nota C (leia-se: dó) a uma frequência de 261,626 Hz, etc.

De volta à explicação geral

Agora para a afinação padrão ocidental atual, essa afinação que se pode tocar em
qualquer sintetizador ou teclado simples, ou mesmo um violão, um cavaquinho, etc. Ela consiste
de 12 tons igualmente distribuídos por oitava. Como estamos focados na matemática por trás da
coisa, o que se tem de fazer para obter essa afinação? Bem, precisa-se preencher a distância
de uma fundamental à sua oitava com 12 "passos", 12 "degraus", e esses degraus precisam ter
todos o mesmo tamanho.

A distância de uma oitava, de modo geral, é simplesmente:

[𝑓, 2𝑓],

isto é, um intervalo fechado indo da fundamental até a oitava. Por que intervalo fechado? Porque
queremos incluir os dois extremos, queremos começar e terminar no mesmo tom. Precisa-se
criar 12 "degraus" tais que eles sejam:

𝑓 = 𝑎0 < 𝑎1 < 𝑎2 < 𝑎3 < ⋯ < 𝑎12 = 2𝑓

e ainda precisa-se que a distância entre a1 e a0 seja igual à distância entre a3 e a2 e assim
sucessivamente, o que se pode escrever da seguinte maneira:

𝑎1 − 𝑎0 = 𝑎3 − 𝑎2

Essa relação (equação) pode ser generalizada para:


𝛼 − (𝛼 − 1) = (𝛼 + 1) − 𝛼 | 𝛼 ∈ ℝ

0 = 0, ∀ 𝛼 ∈ ℝ.
Essa segunda equação (generalização da anterior), quando resolvida, mostra-se ser uma
identidade, isso quer dizer que ela é verdadeira para qualquer número real α que se escolha,
portanto sabe-se que é possível fazer a divisão do intervalo proposto em 12 “degraus” igualmente
espaçados. Resta apenas a pergunta: como fazer essa mágica?

Bem, comecemos resumindo o que definimos por tom com o seguinte conjunto:

𝑇 = {𝑎0 , 𝑎1 , … , 𝑎12 | 𝑎𝑖 < 𝑎𝑖+1 , 𝑎𝑖 ∈ [𝑓, 2𝑓], 𝑖 ∈ ℕ, 0 ≤ 𝑖 ≤ 12}.

Relembrando a matemática do ensino médio não é difícil perceber que precisamos fazer apenas
o seguinte:

12
√2𝑥 × 𝑓 = 𝑓 ′ | 𝑓, 𝑓 ′ ∈ ℝ, 𝑥 ∈ {0, 1, 2, … , 12}.

Parece complicado, mas não é. O motivo é simples:

12
√20 × 𝑓 = 12√1 × 𝑓 = 1 × 𝑓 = 𝑓 = 𝑓𝑢𝑛𝑑𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙.

Desse modo garantimos que começamos na frequência fundamental, como queríamos, ou seja,
estamos na nota inicial do tom que usaremos como medida de oitava. Também quando tivermos:

12
√212 × 𝑓 = 2 × 𝑓 = 𝑜𝑖𝑡𝑎𝑣𝑎,

garantimos que terminamos na oitava da nota inicial, ou seja, da frequência fundamental da qual
partimos, portanto terminamos no mesmo tom, como planejado. Como exercício faça a equação
(usando o padrão ocidental A 440 Hz) para todos os outros x, isto é:

12
√2𝑥 × 440 = 𝑓 ′ | 𝑓 ′ ∈ ℝ, 𝑥 ∈ {1, 2, 3, … , 11}.

Ou resolva a seguinte equação pelo menos duas vezes – com valores que a satisfaçam – a fim
de demonstrar minimamente que os intervalos são equidistantes:

12
√2𝑥−1 × 440 − 12√2𝑥 × 440 = 𝑓 ′ | 𝑓 ′ ∈ ℝ, 𝑥 ∈ {1, 2, 3, … , 11}.

You might also like