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Applause from Alvaro Sena, Allef Jordelly, and 5 others

Leonardo Vaz
Graduado em loso a pela Universidade Federal do Piauí - UFPI, músico e fotógrafo.
Mar 22, 2016 · 4 min read

Cena do clipe da música “Comfortably Numb”, da Banda Pink Floyd

O fetichismo na indústria cultural segundo


T. W. Adorno
. . .

Atualmente em um mundo cada vez mais globalizado e com o avanço


do capitalismo, que contribui para a propagação da cultura de massa,
se torna cada vez mais aparente o fetichismo das mercadorias no nosso
cotidiano. Adorno, com uma visão sagaz, observou esse fenômeno
ocorrendo na cultura e, a partir disso, teceu duras críticas ao que ele
chamou indústria cultural que transforma cultura em mercadoria
“fetichizada”. Nesse texto pretendemos abordar de forma breve e clara
a visão de Adorno sobre esse tema.

Podemos dizer que o termo “fetichismo” surgiu pela primeira vez em


1765 pelo escritor francês Charles Brosses, na obra intitulada Do Culto
dos Deuses Fetiches ou Paralelo da Antiga Religião do Egito com a Religião
Atual da Nigritia. Nessa obra, o termo “fetichismo” é usado para
caracterizar um tipo de pensamento que estava relacionado a cultos de
objetos inanimados, animais e fenômenos irregulares da natureza. Mais
tarde, em 1867, na obra O Capital, Marx também abordou esse mesmo
termo, mas, nessa ocasião, se referindo às mercadorias.

Para Marx, a mercadoria possui um mistério, mistério esse que é o


ocultamento das características sociais do trabalho, oculta, portanto, a
relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho
total. Por haver esse ocultamento da relação social de trabalho na
produção da mercadoria o seu valor de troca não está mais relacionado
com a quantidade de trabalho materializado no produto, dessa forma, é
adquirido uma valor irreal, como se não fosse fruto do trabalho
humano e nem pudesse ser mensurado. Disso nasce uma relação entre
coisas e não mais entre coisa e homem. Sendo assim, se dá a
transformação do produto de trabalho em mercadoria, “coisas” sociais
possuidoras de propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos sentidos.
O produto adquire uma espécie de autonomia, a mercadoria mesma
parece determinar a vontade do produtor e não o contrário. O
produto/mercadoria parece exercer um feitiço em relação ao indivíduo.

A indústria cultural surge como consequência do capitalismo e do


fetichismo da mercadoria. A cultura é industrializada e transformada
em produto, em mercadoria a ser vendida em larga escala e, desse
modo, a arte se torna objeto de comércio de entretenimento e da
propaganda. Nesse processo de industrialização há uma tendência para
o condicionamento da produção estética e, consequentemente, há
também o condicionamento do gosto estético das massas para que haja
o consumo dessas mercadorias culturais. Há uma cristalização do gosto
estético que em certo ponto encontra-se totalmente anulado pelo
hábito da repetição e pela sensação de distração (que coloca o
espectador em posição não re exiva) da arte como entretenimento.
Podemos citar como exemplo a indústria cinematográ ca que atrai
espectadores pelo nível de efeitos pirotécnicos que há no lme, pelo
efeito 3D que o espectador irá desfrutar, pelo ator ou atriz superstar
que todo dia é idolatrado pelos meios de comunicação de massa, ou
pela trilha sonora composta por alguma boy band que faz sucesso
internacional. A arte perde seu caráter kantiano de “conformidade a
Fins Sem Fim”.

Nesse regresso do juízo estético e nulidade da capacidade de escolha


por parte do espectador também põe o artista em condição de escravo
da indústria cultural, tendo seu terreno demarcado pelas possibilidades
de comercialização da sua obra, como único meio de perpetuar sua
sobrevivência econômica como artista. Através das limitações e
padronizações do objeto cultural a ser comercializado o artista vê-se
obrigado à reprodução desses padrões estéticos da indústria. A
alienação do gosto estético já chegou ao ponto de pessoas escolherem
comprar objetos de arte em que as colorações combinassem com as de
móveis da casa.

O “feitiço” das mercadorias pode ser bem exempli cado atualmente


com os smathphones. É lançado um determinado smathphone, as
pessoas fazem las nas portas das lojas para poderem ser as primeiras a
comprar o novo aparelho, mas alguns meses após é lançado outro
smathphone da mesma marca, praticamente o mesmo modelo do
aparelho anterior, com basicamente as mesmas funções, no entanto,
quem tinha a versão anterior sente a necessidade de comprar o novo
lançamento, embora a versão anterior funcione perfeitamente e atenda
todas as suas necessidades. Mas o novo lançamento é carregado por
uma espécie de feitiço que traz, por exemplo, status pra quem usa, o
produto adquire uma certa autonomia em relação aos usuários, os
usuários se mantêm confortavelmente entorpecidos pelos produtos (e
aqui o termo usuário pode ser usado de forma análoga ao de quando
usamos pra nos referir a um usuário de uma droga). De modo similar
ocorre na indústria cultural, os produtos culturais adquirem esse
mesmo “feitiço” nos consumidores.

A cada dia a visão de Karl Marx e T. W. Adorno se torna mais atual, ao


denunciar esses processos alienatórios que se camu am nas entranhas
sociais e pouco são percebidos. Na medida em que esses processos se
tornam mais totalizantes do ser também se faz necessária uma maior
difusão desses modos de pensar como forma de salvar, entre outras
coisas, a potencialidade de comunicabilidade e re exão da arte, a
possibilidade do sentimento de prazer feito por analogias e mediações
que as obras de artes autênticas formalmente possibilitam, mas no
entanto, estão em estado de solidão, que é a irre exão e incompreensão
do público.

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