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Pour citer cet article: Padrão, Maria Helena (2012).

A recepção crítica da obra de Agustina Bessa-Luís


nos anos 50. Intermedia Review 1. Génération de 50: Culture, Littérature, Cinéma. nº1, 1ère série,
novembre 2012, pp. 189-198.

A recepção crítica da obra de Agustina Bessa-Luís nos Anos 50

Maria Helena PADRÃO1

Abstract

Based on Hans Robert Jauss work it is understood that the construction of meaning
unfolds through the author/reader dialogue and in the understanding on how expec-
tation and experience is enhanced, as they are the target of the signification process.
In order to proceed with the analisys, we need to take into account the expectations
of a given society in a given moment in time.
Looking at the Portuguese literature panorama in the 50’s, allows us to oberve the
existence of some regularities. Since the beginning of the 20th century and after the
great revolution powered by Modernism, we witness, in Portugal, the birth of other
trends: the so called «movimento presencista», existencialism and neo-realism.
Augustina Bessa-Luís is usually regarded as a milestone in Portuguese literary evo-
lution. During the 50’s, she publishes Os Super-Homens (1950) and Contos Impopu-
lares (1953). However, these works, aswell as her first novel, Mundos Fechados
(1948), don’t get the attention of critics, the same who, later, in 1954 cheered enthu-
siastically A Sibila.
This study seeks to understand the phenomenon Agustina, the continuities and rup-
tures, tradition and novelty.

Palavras chave: Agustina Bessa-Luís, A Sibila, estética da recepção

1. As letras portuguesas na década de 50

Um olhar pelo panorama da literatura na década de 50 permite-nos


observar a existência de algumas constantes, nomeadamente as seguintes:
- Vive-se um ambiente de pós-guerra e desenha-se o período da Guerra
Fria.
- A literatura começa a interessar-se pelo mundo feminino
configurando a ideia de que a sujeição da mulher ao homem era um

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ISMAI/ CELCC/CEL (uID 707 FCT)
Maria Helena Padrão

fenómeno cultural e não natural. Simone de Beauvoir publica, ainda no


limiar da década, em 1949, O segundo sexo .
- Em Portugal, a partir da segunda metade dos anos 50, uma nova
geração de escritoras problematiza a condição feminina: Maria Judite de
Carvalho (Tanta gente Mariana, 1959); Fernanda Botelho (O ângulo raso,
1957); Natália Nunes (A autobiografia de uma mulher romântica, 1955);
Graça Pina de Morais (A origem, 1958); entre outras.
- Anuncia-se o gosto pelo experimentalismo de que é pioneiro Ruben
A. com o romance O Caranguejo, publicado em 1954, que nessa altura teve
uma recepção pouco expressiva.

2. Agustina Bessa-Luís: um pouco da sua história

Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, Amarante, em 1922, e


estreou-se como romancista em 1948, com a publicação do livro Mundo
Fechado.
Exerceu, ao longo da vida, uma intensa actividade, quer como escritora,
na qual se contam as modalidades de romance, teatro, conto, novela, guiões
para televisão, quer na sua dedicação à res publica, tendo, neste domínio,
sido distinguida, nomeadamente, com a Ordem de Sant'Iago da Espada
(1980), a Medalha de Honra da Cidade do Porto (1988) e o grau de Officier
de l'Ordre des Arts et des Lettres, atribuído pelo governo francês (1989).
Entre 1961-1962 integrou o conselho directivo da Comunitá Europea
degli Scrittori, em Roma; entre 1986 e 1987 foi Directora do diário O
Primeiro de Janeiro (Porto) e de 1990 e 1993 assumiu a direcção do Teatro
Nacional de D. Maria II (Lisboa). Foi ainda membro da Alta Autoridade
para a Comunicação Social e é membro da Academie Européenne des
Sciences, des Arts et des Lettres (Paris), da Academia Brasileira de Letras e
da Academia das Ciências de Lisboa.
A sua obra revela uma grande apetência para a transformação
intermédia e, nesse sentido, vários romances, entre os quais Fanny Owen
(Francisca), Vale Abraão (Vale Abraão), As Terras do Risco (O Convento),
Party (Party), foram adaptados para cinema, por Manoel de Oliveira, ou
para teatro, como foi o caso de As Fúrias (adaptado e encenado por Filipe
La Féria).
Ao logo do tempo, Agustina tem vindo a assistir ao reconhecimento do
valor da sua obra, quer através da adesão do público, bem expressa, quer na

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quantidade de línguas em que está traduzida, quer nos encontros e


congressos em que é tema principal de debate, quer através da atribuição de
vários prémios, tais como:
Prémio Delfim Guimarães, 1953 (A Sibila );
Prémio Eça de Queirós, 1954 (A Sibila );
Prémio da Academia das Ciências de Lisboa, 1966 (Canção Diante de
uma Porta Fechada);
Prémio Nacional de Novelística, 1967 (Homens e Mulheres );
Prémio «Adelaide Ristori» (Centro Cultural Italiano de Roma), 1975;
Prémio da Academia das Ciências de Lisboa, 1977 ( As Fúrias );
Prémio Pen Club Português de ficção, 1980 (O Mosteiro );
Prémio D. Dinis, 1980 (O Mosteiro);
Prémio da Cidade do Porto, 1982;
Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de
Escritores, 1983 (Os Meninos de Ouro);
Prémio RDP - Antena 1, 1988 (Prazer e Glória );
Prémio Seiva de Literatura, 1988;
Prémio da Crítica, 1993 (Ordens Menores).
Para além destes prémios nacionais, recebe ainda prémios internacionais,
nomeadamente:
Prémio União Latina (Itália), 1997 (Um Cão que Sonha);
Prémio Camões, 2004.

Em 2004, com 81 anos, recebe o Prémio Camões. É um prémio


instituído pelo Protocolo Adicional do Acordo Cultural entre o Governo da
República Portuguesa e o Governo da República Federativa do Brasil com
o objectivo de «consagrar anualmente um autor de língua portuguesa que,
pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento
do património literário e cultural da língua.»
Agustina Bessa-luís é normalmente considerada um marco na evolução
das letras portuguesas. Desde o princípio do século vinte, e após a grande
revolução operada pelo Modernismo, assiste-se, em Portugal, ao
aparecimento de correntes de escrita que vão desde o movimento
presencista ao existencialismo ou ao Neo-realismo.
Na década de 50 Agustina publica Os super-homens (1950) e Contos
impopulares (1953), mas estes, bem como o seu romance inaugural
Mundos Fechados (1948), não merecem a atenção da crítica, a mesma que,

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em 1954, recebe o romance A Sibila com o maior entusiasmo, tendo mesmo


sido galardoada com o Prémio Delfim Guimarães.
As razões da recepção bem sucedida desta obra poderão encontrar-se,
quer na ruptura que evidencia face à corrente dominante na época, o Neo-
Realismo, quer nos efeitos intrínsecos que a obra patenteia nos domínios
retórico e romanesco, quer na alteração de paradigma que propõe
relativamente às relações homem/mulher, com a destruição do mito da
superioridade masculina.

3. A recepção crítica de Agustina na década de 50

Na década de 50, Agustina Bessa-luís tem uma vasta publicação. Após o


romance inaugural, ainda na década anterior, mas já no limiar desta,
seguem-se outros a um ritmo alucinante: Os Super-Homens (1950), Contos
Impopulares (1951-1953), A Sibila (1954), Os Incuráveis (1956), A
Muralha (1957) O Susto (1958), e uma peça de teatro O Inseparável
(1958).
A crítica foi pouco entusiasta na recepção das três primeiras obras, no
entanto reagiu de forma muito expressiva e positiva aquando da publicação
de A Sibila.
Ao conceber a personagem Quina, «A Sibila», Agustina não desenha
inocentemente uma lavradeira nortenha. Esta ergue-se como uma
personagem misteriosa e enigmática, aparentemente ignorante, que,
movendo-se no espaço da ambiguidade, deixa margem para um olhar
crítico, ora mítico, ora ingénuo, ora sarcástico, sobre a sociedade
portuguesa e os seus tabus e fragilidades.
Acerca desta obra e da sua autora, pronunciaram-se nomes proeminentes
da crítica literária da década de 50.
Óscar Lopes foi uma das personalidades da crítica portuguesa que, nessa
época, mais se impressionou com Agustina Bessa-Luís, como se de uma
revelação se tratasse. Nos seus escritos jornalísticos afirma a sua convicção
de que se está perante um grande valor das letras portuguesas:

Dá-se, no entanto, o caso de ter sido a minha crítica intuicionista, existencialista ou


psicologística, aquela que primeiro deu merecido relevo à autora de A Sibila, quando
publicou os seus cadernos e Contos Impopulares. Dá-se o caso de o meu interesse
ter crescido precisamente ao ler esta obra (A Sibila), em que a filosofia da Autora se
define melhor. […]

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Eu já notava nos Contos Impopulares que B L incrimina cada uma das suas
personagens (identificando-as às circunstâncias em que as surpreende) com um ódio
como que pessoal. Pressinto agora que esse ódio é o de uma mulher que não
encontra outra forma de afirmar, como artista, uma certa dignidade humana da
mulher, finalmente consciente em circunstâncias portuguesas, senão odiando-as
porque, moldada por elas, se sente incapaz de outras circunstâncias diferentes, a
menos que sejam o avesso místico ou metafísico dessas. O espírito que concebeu A
Sibila odeia, (mas, contraditoriamente, amando-o ainda assim mesmo) o mundo feito
actual dos homens. (Óscar Lopes, O Comércio do Porto, 14 de Dezembro de 1954)

João Pedro de Andrade escreve no Diário Popular, também no


mesmo ano da publicação da obra, afirmando, de forma inequívoca, a
originalidade da obra e da romancista: «A primeira metade do livro, sendo
a menos atraente, é também a que revela uma personalidade original de
romancista e de narradora, que pela sua mesma originalidade obriga a
esforços constantes de penetração e entendimento.»
E assevera ainda:

Decerto que a um livro desta qualidade não se pode pedir submissão completa às leis
da composição literária, que não são imutáveis. Mas afigura-se-nos que, no
abandono dessas leis, a par de alguma determinação, há também um pouco de
improvisação (…) não cremos na campónia somítica e ignorante, ostentosa na sua
caridade, presumindo a posse de dons sobrenaturais sem nunca os ter usado com o
fim de mitigar a dor de alguém, se encontre o melhor exemplo para ilustrar a tese da
ansiedade eterna do homem (…) Esta a reserva fundamental, que não afecta em nada
a magnífica realização literária que este livro representa.(…) Agustina Bessa Luís
tem o dom da originalidade que, segundo um escritor francês (creio que
Chateaubriand), não consiste apena em não imitar, mas em não poder ser imitado.
Assim mesmo o seu romance desvenda novos caminhos ao romance português.”
(João Pedro de Andrade, Diário Popular, 15 de Dezembro de 1954)

Taborda de Vasconcelos em Cidade Nova, em Junho de 1954, considera


Agustina «um caso surpreendente, no acanhado mundo literário da nossa
língua».
Artur Portela, em Diário de Lisboa, de 17 de Fevereiro de 1955, refere-
se a A Sibila como «uma revelação», afirmando ainda que em qualquer
outro país «seria um notável êxito», acrescentando, no mesmo artigo
algumas considerações sobre Agustina:

Seja como for, sugestiona-nos e faz-nos acreditar que a autora, uma vez melhor
disciplinadas as suas extraordinárias qualidades literárias, únicas mesmo,

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Maria Helena Padrão

ultrapassará, se é que já não o conseguiu com este livro, a moderna geração dos
nossos romancistas.

O crítico António Quadros, em Diário de Notícias, a 17 de Março de


1955, após uma análise sobre a incapacidade de os romancistas portugueses
se integrarem no segundo ciclo romanesco que sofreu a Europa, acredita
que a escassa projecção portuguesa não se deve unicamente à dificuldade
da língua, nem à posição periférica de Portugal, mas sobretudo à «fraca
originalidade de pontos de vista do nosso romance, por muito que seja o
valor dos seus cultivadores», referindo que

O romance de Agustina Bessa-Luís, A Sibila, é um acontecimento excepcional na


nossa produção romanesca, precisamente porque, para além do grande talento da
autora, implica um modo inédito e original (as duas palavras não são equivalentes)
de abordar a substância humana, de encarar a situação existencial do homem,
integrando-se em perspectivas que abrem horizontes para a criação de um romance
especificamente português.

Considera ainda, ao referir-se a A Sibila que este é um «livro


extraordinário, na normalidade da nossa produção romanesca», provando-
nos mais uma vez que «seguindo caminhos singulares, em vez de seguir
caminhos alheios, o romance português é capaz de originalidade idêntica à
da nossa poesia e à da nossa filosofia».
Mota Lopes, também à época se pronunciou acerca de Agustina e nas
suas palavras considera que A Sibila «passa a constituir uma agradável
excepção», acrescentando:

Mas adivinha-se que a autora não se prendeu apenas com o estudo do romance
nacional. Procurou acertar o passo pelo dos nomes que citámos (Tolstoi, Proust e
Mann), prestando um grande serviço à literatura portuguesa, cada vez mais,
evidentemente divorciada da direcção do romance moderno. (União, 1 de Junho de
1955)

Manuel Récio, em União, a 1 de Junho de 1955, é arrasador nas


metáforas que usa ao falar da solidez do romance de Agustina, afirmando
que

os críticos não exageraram: A Sibila é, na realidade, um grande romance./… é um


monumento, que se construiu desde a base e subiu, inteiriço, até ao cume. Não há
fios, truques, «puzzle». Não é castelo de areia; não é história da carochinha; não é
telhado sem paredes, ilusoriamente suspenso, nem construção sem caboucos.

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José Régio, em O Comércio do Porto, em 27 de Dezembro de 1955,


assume que se está perante uma obra «excepcional»:

Felizmente, desta vez, a crítica foi quase unânime em louvar como excepcional esta
obra que na verdade o é. Até um prémio a coroou! E eis o que nos deve contentar,
pois assim se congregaram, desta vez dois fenómenos igualmente raros: Um, a
aparição de uma obra de tal qualidade. Outro, o reconhecimento dessa mesma
qualidade pela opinião mais ou menos consciente.

Óscar Lopes, como já se disse, foi o revelador do mérito de Agustina,


em primeira mão. Mais tarde, já em 1955, publicou, a respeito desta autora
o seguinte: «Inesperadamente, (ao menos para alguns), surgiu em Portugal
um romance que, sejam quais forem as reservas que mereça consoante um
conceito clássico de romance, é digno de se impor a qualquer público, -
nacional ou estrangeiro.» Afirma ainda: «Eis que vem A Sibila como um
dos nossos romances simultaneamente mais regionalista, nacionalistas e
universalistas.» (Lusíada, 7 de Outubro de 1955)
Vasco Miranda, já em 1957, após a publicação do livro Os Incuráveis
tece também algumas considerações. Assim, em relação a A Sibila, este
crítico, para além de referir-se à mesma como «a magna obra», é contudo
sobre o último romance publicado que tece os maiores elogios

um dos mais extraordinários romances concebidos e realizados de Eça de Queirós


aos nossos dias e uma das obras mais denunciadoras da invulgarmente rica
personalidade de um escritor, põe à consciência crítica da nossa literatura, em
especial à situação, no plano das responsabilidades, alguns sérios problemas que só
com o tempo por certo virão a ser bem esclarecidos. (Diário Ilustrado, 9 de
Fevereiro de 1957)

Nuno de Sampayo, em Jornal de Notícias, a 24 de Agosto de 1957,


depois de apreciar a problemática do romance português, que, segundo o
autor, enferma de alguma apatia, considera estarmos perante um caso
singular, quando se refere a Agustina.
No ano seguinte, Taborda de Vasconcelos, em Jornal de Notícias, de 18
de Dezembro de 1958, após terem sido publicados os romances Mundo
Fechado, Contos Impopulares, A Sibila, Os Incuráveis, A Muralha, O
Susto, isto é, após o conhecimento de uma vasta obra, afirma, a propósito
de O Susto, que «se trata de um romance, na acepção verdadeira do termo,
e sem prejuízo das qualidades que o tornam um género autónomo».

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Maria Helena Padrão

Considera, ainda, na apreciação que faz à totalidade da obra publicada na


década de 50, que se está perante a arte do romance: «Há, em vista disso,
um sentido estético global a enquadrar a obra já extensa da autora de O
Susto. Daí o poder concluir-se que ela pertence àquela estirpe de escritores
para quem a arte deve ser a expressão viva e autêntica da personalidade».

4. Agustina, a escritora estratega

A imagem literária configura-se na linguagem simbólica e tem uma


função auto-reflexiva e paródica, de modo a formular uma representação do
outro, quer através de estereótipos colectivos, quer através de analogias
inusitadas, reveladoras de sentidos não assumidos, mas latentes.
Agustina assume a imagem literária como uma forma de compreensão e
representação do outro, esse eterno desconhecido, mesmo quando esse
outro é o desdobramento do eu.
Silvina Rodrigues Lopes afirma que no século XX, o romance se
revelou «como forma particularmente apta para pensar e revelar o trágico
da existência», acrescentando que a obra de Agustina, ao situar-se na linha
de Proust ou Virgínia Wolf procura «encontrar formas que captem a
energia vital de todas as metamorfoses, a origem para sempre perdida que
se repete no instante já dividido, e por conseguinte, trágico.» (Lopes, 1999:
351)
Interessa sublinhar o impulso de Agustina para a descoberta de um
passado vivo, oculto sob o peso dos factos, o fascínio pelo indecifrado, ou o
inevitável apelo para ser a desvendadora dos seres.
Para definir Agustina enquanto estratega, recorro às palavras de Silvina
Rodrigues Lopes ao referir-se ao livro O Mosteiro, mas que podem bem
estender-se a toda a obra: «isto é literatura, portanto é jogo, mas também
isto é literatura, portanto talvez não seja apenas jogo» (Lopes, 1999: 357).
Agustina recorre, desde as primeiras obras à ironia como forma de
dissimular as verdades que elege; recorre também ao aforismo, como forma
de se esconder na voz do narrador; recorre ao iconotexto como forma de
duplo desenraizamento do facto real: «l’iconotexte se situerait donc dans
une situation non plus d’ancrage dans le réel, mais de double décrochage,
évoluant au cours du monde de la représentation…» (Louvel,1997:476),
permitindo-lhe ultrapassar os limites da descrição do objecto, recurso de

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A recepção crítica da obra de Agustina Bessa-Luís nos Anos 50

que faz uso em obras como A Ronda da Noite ou O Concerto dos


Flamengos.

A obra de Agustina Bessa-Luís, para além da transformação que faz do real e da


recriação dum contexto que transcende as fronteiras da historicidade, oferece uma
visão da História elaborada do ponto de vista da arte, não se subordinando ao
visível, ao evidente, mas, antes, transgredindo-os. […] Há portanto, no texto
agustiniano, não um compromisso com o real observado, mas uma abertura,
possibilitada pelo fingimento literário, a um espaço de alteridade imaginária, porque
pensado. (Padrão, 2009: 661)

Agustina afirma, ainda na década de 50, em tom profético e a propósito


da sua obra e dos seus leitores:

O público amará os meus livros. Julguei, de princípio, que eu seria destinada ao


silêncio e à estranheza experimentados perante o que Sartre chamou, se me lembro
bem, le crabe. Mas não há nada disso. Sei agora que a transcendente humanidade do
que às vezes escrevo é directamente inteligível a todas as almas fiéis à vida. Até
quando não me interpretam, compreendem-me. Até quando não aderem, aprovam-
me.
(Agustina Bessa-Luís em entrevista a Óscar Lopes, Lusíada, em 7 de Outubro de
1957)

Bibliografia

LOUVEL, L. (1997). La description picturale: pour une poétique de


l’iconotexte. in Poétique. Paris: Seuil, nº 112, pp. 475-490.
Lopes, S. R. (1999). O Estremecimento do Mundo. in Agustina (1948-
1998) Bodas Escritas de Oiro. Porto: Ed. UFP. pp.351-358.
Padrão, M. H. (2009). Mundos Fechados, uma reflexão sobre as pessoas e
os mundos em Agustina Bessa-Luís. in Actas do I Congresso Internacional
Pensamento Luso-Galaico- Brasileiro. 3º vol. Porto: UCP e Imprensa
Nacional Casa da Moeda. pp 661 – 669.

Outras Referências:

Cidade Nova, 6, de 1954


Diário Ilustrado, 9 de Fevereiro de 1957
Diário de Notícias, 17 de Março de 1955

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Maria Helena Padrão

Diário Popular, 15 de Dezembro de 1954


Jornal de Notícias, 18 de Dezembro de 1958,
Lusíada, 7 de Outubro de 1957
O Comércio do Porto, 14 de Dezembro de 1954
União, 1 de Junho de 1955

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