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Realização Autoria
Instituto C&a Ana Oliva Marcilio
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experiências registradas por esses profissionais na Pasta de Registros
Paralapracá foram transformadas nesta nova série de cadernos, possibili-
tando também, a partir de agora, a disseminação desses percursos.
Os caminhos percorridos e registrados revelaram as mudanças ocorri-
das, os resultados e a reflexão sobre as práticas e as concepções de infân-
cia e de Educação Infantil que foram sendo revisitadas, problematizadas e
reconstruídas no percurso. Os registros refletem um caminho trilhado, não
um ponto de chegada. Foi muito importante documentar este processo
para aqueles que dele participaram. Agora, ajuda outros interlocutores a
vislumbrar e a pensar sobre novas possibilidades e novos percursos.
É possível que, ao degustar o material, se identifiquem distâncias entre
o dito e o vivido, o teorizado e a prática, o desejado e o realizado. No pro-
jeto, assumimos que essas distâncias são parte inerente ao processo e as
consideramos provocativas. Nós esperamos que elas fomentem um am-
biente reflexivo, um olhar criterioso e diverso, na busca de práticas mais
coerentes, conscientes e possíveis.
Mesmo apresentando os seis eixos de forma separada, acreditamos
que, na maior parte do tempo, eles se integram de alguma forma, e isso
está explicitado muitas vezes nos registros. Este é um alerta necessário
para manter os profissionais atentos para o enfoque integrado que o cur-
rículo da Educação Infantil deve ter como característica.
Esperamos que, acima de tudo, esta publicação possa apontar cami-
nhos possíveis para outros educadores e que estes possam se inspirar
e conhecer um pouco da trajetória daqueles que escreveram a história
do paralapraCá nessa primeira edição. Ela expressa os valores e o re-
conhecimento do Instituto C&a e da Avante, como instituição formadora,
de todo esse processo de reflexão e transformação pelas quais diversas
redes municipais e seus profissionais passaram no decorrer do projeto.
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Assim se brinca
Parece-me que, do ponto de vista
do desenvolvimento, a brincadeira
não é uma forma predominante de
atividade, mas, em certo sentido, é a
linha principal do desenvolvimento
na idade pré-escolar.
ViGoTsKY, p. 2008
O brincar, forma natural de experiência e ex- sobre o brincar com profissionais de Educação,
pressão da criança, sobretudo da criança pe- a partir de suas observações, reflexões e relatos
quena, é paradoxal e culturalmente adquirido, de práticas. Este foi o primeiro desafio lançado
transmitido e experienciado. Transitar sobre o aos Centros de Educação Infantil pelo Para-
paradoxo do natural e do cultural no universo lapracá, ainda no ano de 2011. Nessa época,
lúdico da infância é fundamental para o pro- a importância do brincar na Educação, e prin-
fissional da Educação Infantil. cipalmente na vida da criança pequena, já fa-
A criança, naturalmente, brinca. Ao brincar, zia parte do discurso de profissionais. Também
culturalmente se expressa: internaliza aspec- já era reconhecida a importância do brincar
tos do mundo que a cerca e põe para fora a sua em marcos legais e regulatórios que norteiam
percepção, os seus pensamentos e sentimentos as políticas públicas para a infância no país —
sobre este mesmo mundo. Portanto, para o pro- a exemplo do Estatuto da Criança e do Ado-
fessor, a brincadeira tanto serve como estratégia lescente (eca), da Lei de Diretrizes e Bases
ou recurso pedagógico que facilita o processo de (ldb), das Diretrizes Curriculares Nacionais
aprendizagem e favorece o desenvolvimento da para Educação Infantil (dcnei) e do Plano Na-
criança, como servirá, também, para conhecer cional pela Primeira Infância (pnpi).
melhor a criança e seu contexto sociocultural. No cotidiano da Educação Infantil, entre-
O mais importante, entretanto, é a com- tanto, essa valorização, percebida tanto no dis-
preensão da brincadeira como intrínseca à in- curso quanto no plano político, não se traduzia
fância. É natural, é cultural e é de direito. Fun- em prática vivenciada em diversas instituições.
damental e fundante do ser criança, o brincar O brincar se fazia, sim, presente e vivo na escola,
infantil, principalmente nos seis primeiros anos porém se via constrangido por barreiras visíveis
de vida, vai transpor qualquer barreira e vai se como tempo, espaço físico e materiais oferecidos,
realizar, mesmo que a única forma que encontre e também pelas barreiras invisíveis ou menos
seja inscrita na própria criança. A brincadeira tangíveis, como currículo, cultura, planejamen-
transborda através do corpo, do movimento, to, avaliação, concepções e práticas pedagógicas.
da imaginação, do ritmo, das palavras, e vai se Lia Raquel G. de Melo, diretora do CMEI Madre
materializar em toda e qualquer criança. Dian- Thereza de Calcutá no Piauí, assim expressa:
te do imperativo do brincar na criança, o Pla-
no Nacional pela Primeira Infância (pnpi)¹ não A chegada do paralapraCá em nosso
só reitera a noção do brincar como direito da Cmei veio preencher uma lacuna exis-
criança, como tem entre seus objetivos: tente. Sabíamos da importância do brin-
car na Educação Infantil, mas encontrá-
Incentivar o lúdico como inesgotável e vamos dificuldades em implementá-lo
fluente conteúdo de aprendizagem da em sala. Com a implantação do Projeto
criança sobre si mesma, sobre a cultu- paralapraCá, conseguimos com que
ra e sobre as formas de relação com os nossas professoras refletissem sobre
outros, sem que sua função subsidiária sua prática pedagógica e a importância
de recurso didático ou procedimento do brincar para o desenvolvimento infan-
para organizar o processo de educa- til e mudassem sua forma de pensar em
ção esvazie o verdadeiro sentido que relação ao brincar. Com o projeto, o que
ele tem para a criança. percebemos foi uma mudança de atitude
rnpi, 2010, p. 74 e comportamento por parte das profes-
soras em relação às brincadeiras e de
O eixo Assim se brinca propõe um diálogo nossas crianças, que estão mais felizes.
1. O Plano Nacional Primeira Infância, ou PNPI, integra hoje o Plano Decenal de Direitos da Criança e do Adoles-
cente, sendo o documento norteador, em nível nacional, de todas as políticas públicas para as crianças de 0 a 6 anos,
até o ano de 2022. O PNPI foi escrito coletivamente por membros da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI).
Para mais informações: ‹www.primeirainfancia.org.br›
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Dialogando
com as práticas
Um olhar apurado
O primeiro grande impacto percebido, a partir do que
nos contam os professores e coordenadores das esco-
las que receberam o paralapraCá, é que as “barreiras
visíveis” que impediam a garantia do direito ao brincar
nas instituições foram rapidamente transpostas. Houve,
de imediato, um aumento significativo no brincar (em
termos de tempo, espaço, diversidade e materiais).
Este fato, por si só, já é motivo de alegria e orgulho
para os que compartilharam essa jornada. A coorde-
nadora Rute Ana Teles, da Escola Municipal Doce Lar
da Criança, relata:
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aCerVo paralapraCá
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ternativas para situações que o difi-
cultam, a exemplo da falta de espa- A sessão Cá entre nós, p. 7 do Caderno de
ços específicos ou da escassez de Orientações Assim se brinca, traz algumas
brinquedos. A professora Simone perguntas que convidam o professor a re-
Siqueira Franklin, por exemplo, tes- fletir sobre como está o direito ao brincar
temunhou a apropriação do parqui- em seu Centro de Educação Infantil.
nho como referência para a criação
de jogos simbólicos, na Escola Je-
sus de Nazaré:
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o critério que deve ser adotado para distinguir a ativi-
dade de brincar dentro do grupo geral de outras for-
mas de atividade da criança. Isso se torna possível em
razão da divergência, que surge na idade pré-escolar,
entre o campo visual e o semântico”. (Vigotski, L. 2008.
p. 26). Neste sentido, para a criança, vale tanto sua
imaginação, pensamento, sentimento, quanto o obje-
to real e palpável. No relato da professora Simone, a
escada, que vira micro-ônibus, ilustra essa linha de ar-
gumentação. A criança sai da realidade do parque e
chega à realidade de seu mundo, seu caminho para a
escola/casa. Neste caso, a criança ainda leva consigo,
em sua viagem semântica para um imaginário-coletivo,
seus colegas, que, compartilhando da mesma realida-
de cotidiana, podem embarcar na mesma realidade
imaginária.
aCerVo paralapraCá
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As mudanças percebidas no tempo e no espaço das
brincadeiras refletem a transformação de atitudes,
valores e comportamentos dos profissionais de edu-
cação acerca do brincar. É o primeiro passo da cami-
nhada para transpor as barreiras invisíveis que afe-
tam o cotidiano da Educação Infantil. Em Campina
Grande · pB, uma professora conta: “Passamos a ver a
brincadeira como um processo, e não apenas como o
resultado de uma atividade. Com o paralapraCá re-
aprendemos a brincar”. Outro passo importante nes-
sa caminhada é o diálogo com a família. A professora
Simone Siqueira Franklin trouxe em sua reflexão que
“a família tem percepções, concepções e sentimentos
acerca do brincar que devem fazer parte das reflexões
e do planejamento das ações da escola”.
No exemplo trazido pela professora, os pais mos-
tram-se preocupados com a segurança das crianças.
O que é um sentimento legítimo! Nesses casos, é
preciso estar atento a essa preocupação e buscar
dar aos pais a segurança necessária para que a es-
cola, a criança e a família fiquem confortáveis com
o brincar. Isso pode ser feito tanto com a oferta de
espaços seguros, de acordo com as normas ou di-
retrizes de segurança, como por meio de conversas
contínuas informais e também formais (em reunião
de pais, por exemplo).
Já em Feira de Santana · Ba, as professoras Dinah
Pinto de Mattos e Ana Patrícia S. de Santana, da Esco-
la Municipal Novo Horizonte, comentam que atualmen-
te elas enxergam o brincar como uma necessidade bá-
sica da criança, assim como comer, beber ou dormir. E
no Piauí, Maria das Graças de S. Abreu fala dos impac-
tos do brincar sobre ela mesma, professora:
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As experiências lúdicas vivenciadas
pelos professores, coordenadores, Reencontrar a infância esquecida ou re-
auxiliares e pelas próprias crianças, cusada é uma jornada fundamental para
bem como a reflexão e o estudo aqueles que querem levar o brincar a sé-
acerca do brincar, levaram os edu- rio. É pensando nisso que o Plano Nacio-
cadores a fazer das brincadeiras nal Primeira Infância indica que é preciso
parte também do planejamento, da possibilitar nos espaços formativos e nos
reflexão, da observação e do pro- diálogos com famílias, cuidadores e edu-
cesso de avaliação na Educação cadores a conversa/estudo sobre o brin-
Infantil. A presença do brincar no car e a vivência da brincadeira pelos pró-
planejamento das atividades implica prios adultos.
uma série de mudanças de atitude, a (pnpi, p. 73)
exemplo de maior intencionalidade
do professor, maior diversificação do brincar e, mesmo,
mudança no papel e na postura do profissional nos mo-
mentos de brincadeiras. Na prática, houve, por exem-
plo, mudança no documento de matrícula da criança na
Creche Marcos Freire com a pergunta “Do que a crian-
ça gosta de brincar?”, incorporando a sugestão de Circe
Andrade no vídeo Assim se brinca.
As transformações ocorridas no cotidiano e na prá-
tica pedagógica e seus impactos na criança são refle-
xos da transformação ocorrida com o próprio professor,
que a partir das atividades formativas do paralapra-
Cá muda de atitude e ação com o brincar, do planeja-
mento à avaliação:
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nejamento, ação e avaliação do brincar. Um aspecto
que deve ser ressaltado é que a atitude do professor
ou coordenador, a vontade de fazer o brincar aconte-
cer, mudou. Hoje se busca transpor as barreiras que
dificultam o brincar cotidiano, criando espaços, diver-
sificando a prática e construindo brinquedos. Essa
atitude de “encarar o desafio”, para fazer a brincadei-
ra acontecer, é fundamental para
que a Educação Infantil se conso- Para saber mais sobre a brincadeira Me-
lide como espaço e tempo do brin- lancia consulte o Estação Paralapra-
car, respeitando características do cá: menu de paisagens culturais, nas Pai-
desenvolvimento infantil. É com sagens Lúdicas. Lá, você vai ver como é
este intuito que provocamos o pro- a brincadeira e, se quiser, pode brincar
fessor, trazendo elementos que com seus alunos também!
possam fortalecer, inspirar e ques- Essa brincadeira também é citada no
tionar suas práticas, possibilitando livro de Adriana Friedmann O brincar
mais reflexão e mais brincadeira no cotidiano da criança (2006). A autora
na escola. categoriza essa brincadeira como Jogos
A conversa sobre a dimensão de Representação. Na apresentação do
cultural da brincadeira costura dois livro, a autora fala sobre a importância
diferentes relatos de experiências do “re-conhecimento desse patrimônio
vividas em diferentes contextos lúdico” e de sua relevância para as ins-
(em Matinha, na Bahia, e a outra tituições de Educação Infantil. Leia! O
no bairro das Malvinas, na Paraí- livro faz parte do Kit Educador!
ba), trazidas por diferentes vozes e
gerações (uma avó e uma criança), contadas por dife-
rentes atores (uma coordenadora e uma professora), a
partir de diferentes propostas de atividades (uma ho-
menagem às avós e uma atividade de brincar a partir
de propostas das crianças), e culmina em uma mesma
brincadeira: a Melancia!
Nas duas propostas, os educadores exploraram a
dimensão cultural da brincadeira e permitiram que a fa-
mília ou o próprio aluno trouxessem, para a instituição,
parte de seu repertório cultural. Interessante notar como
uma mesma brincadeira se faz viva na memória da avó e
na memória da criança, em diferentes Estados.
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aCerVo paralapraCá
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a diferentes eixos do projeto: brincar, contação de his-
tórias e música.
Muitas avós quiseram participar. Foi um momento
muito rico, haja vista que as crianças tiveram acesso a
elementos que hoje não fazem parte do seu universo
infantil, ou seja, conheceram canções, brincadeiras e
histórias que povoam a história da Matinha, mas que
estão na maioria das vezes apenas no imaginário das
pessoas mais velhas. A fim de dar destaque ao eixo
‘brincar’, selecionamos duas brincadeiras lembradas
e ensinadas por uma delas (D. Maria Odília de Jesus)
para compor este registro: ‘boca de forno’ e ‘melancia’.
môniCa B. de a. alVes, Coordenadora da esCola mUniCipal
anízio pereira Bernardes, Feira de sanTana · Ba
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A função mediadora do adulto requer uma ampliação do
conhecimento sobre a importância do brincar no desen-
volvimento infantil e também, em muitos deles, o resgate
da esquecida ou recusada dimensão lúdica de sua infância.
Sendo assim, é preciso incluir nos encontros com as famí-
lias das crianças e nos cursos de formação dos profissionais
da Educação Infantil os meios que possibilitem a esses adul-
tos dialogar sobre o brincar e reviver a brincadeira em si
próprios. O resgate de sua dimensão lúdica torna o adulto
mais sensível aos processos de desenvolvimento da criança.
pnpi, p. 73
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Práticas
comentadas
1 Esses ambientes (educativos e de saú-
de) são espaços de gênero, refletindo o
Brincar sempre fato de que as forças de trabalho que tra-
tam dos primeiros anos da infância são
Karine da CrUz Costa professora predominantemente femininas. Esse
pré-esCola mUniCipal Coriolano ambiente inerentemente feminino é po-
Farias de CarValho, Feira de tencial (e inconscientemente), refletido
sanTana · Ba nos valores, nas atitudes e nos compor-
tamentos que são encorajados e naqueles
Em nossa escola a brincadeira é que são rejeitados quando as crianças se
contemplada no planejamento diá- envolvem em brincadeiras.
rio, com duração de trinta minutos, BroCK, dods, JarVis e olUsoGa, 2011, p. 84
e acontece em espaços variados.
Utilizamos um cantinho na sala
para brincar com a caixa de brin- 2 Essa atitude de diversificação e cuida-
quedo. A área externa nos serve de do com o brincar contrasta com o tem-
grande aliada para brincadeiras de po reduzido. A meia hora diária não po-
roda, pega-pega, entre outras. Há deria ganhar força e tempo na escola e
dois cantinhos entre as salas que, no planejamento?
por diversas vezes, se transformam
em grandes palácios, salões de
beleza 1, que denominamos canti- 3 É importante a escola não se encer-
nho do faz de conta. A brincadeira rar em muros e barreiras e usar a cidade
também acontece na sala da lou- como ambiente educador e como espaço
sa digital e na pracinha em frente de criança! Nesse caso, a professora busca
à escola. Pelo menos uma vez por espaços alternativos para o brincar, utili-
semana 2 a brincadeira é planejada zando inclusive os espaços fora da esco-
para a área externa. 3 la (a praça).
Não temos brinquedos fixos na
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área. Isso faz muita falta, pois não
podemos planejar momentos do 4 Correr, gritar e brincar de luta são
brincar num parquinho. Algumas algumas brincadeiras muito presen-
vezes levamos nossas crianças tes no brincar livre, aquele realmen-
para a área externa para brincarem te livre, onde a criança faz o que real-
livremente — aí elas têm a prefe- mente deseja, sobretudo entre meninos.
rência por correr e gritar, ficam com São brincadeiras que agitam, fazem ba-
uma expressão de felicidade e é di- rulho ou são vistas como violentas, ou
fícil convencê-las de que acabou a “pseudoviolentas” como chama Olugosa
brincadeira. 4
(2011); e por isso, são muitas vezes cor-
Colocamos em cada sala uma tadas ou restringidas no cotidiano es-
caixa com brinquedos diversos, colar. Porém são experiências lúdicas
que ficam ao alcance das crianças. importantes. Você já experimentou ob-
Construímos com elas os combi- servar esses momentos ou mesmo parti-
nados quanto aos momentos de cipar de brincadeiras de luta? Seria in-
utilização dos brinquedos e vemos teressante e, segundo a autora, a falta
que a maioria cumpre com os com- de observação e de tolerância com es-
binados, internalizando mesmo as sas brincadeiras dificulta a compreeen-
regras propostas. Vale ressaltar são do adulto e o manejo dessas expe-
que temos uma grande frustração, riências.
pois não temos disponíveis brin-
quedos novos e de boa qualidade; na maioria das ve-
zes, os brinquedos são comprados pelas professoras
ou doados já bem gastos e alguns quebrados. Sem-
pre que possível, as professoras jogam as sucatas
fora e tentam, na medida do possível, repor os brin-
quedos. Temos o apoio da direção e coordenação
nessa reposição.
Cada uma das professoras, ao planejar as brinca-
deiras, já sabe que o envolvimento delas é impres-
cindível para que as crianças possam desenvolver o
interesse pela brincadeira proposta. Então é comum
vermos as professoras sentadas, brincando junto,
participando ativamente da proposta. Não raramen-
te, observamos a diretora e a coordenadora sentadas
ou ajoelhadas, perto de grupo de crianças, fazendo
boas intervenções no momento do brincar. Gostaria
de registrar dois momentos que observei enquanto
brincávamos:
A diretora da escola passando, viu um conflito entre
meninas do grupo de três anos, ao brincarem de
sala. Foi se aproximando como uma das clientes e
fez uma mediação em que o conflito foi superado
por elas e a brincadeira voltou a acontecer com
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paUlo leiTe
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alegria e participação de todas
as envolvidas. 5 5 A professora marca a importância do
A coordenadora, ao perceber adulto em participar da brincadeira, em
que um grupo de crianças estar junto, como diz Circe Andrade no
brincava no começo do ano de vídeo Assim se brinca. Neste caso, a co-
uma forma agressiva com os ordenadora utilizou-se do momento lú-
bebês, sentou-se perto e co- dico para mediar um conflito. O pa-
meçou seus cuidados com uma pel do professor na hora da brincadeira
boneca. Isso chamou a atenção é variado. O professor pode ser o pro-
das crianças, que tiveram suas ponente de uma forma de brincar. Ele
atitudes modificadas ao longo também pode se engajar em uma ati-
da brincadeira. vidade que uma criança ou um grupo
de crianças realiza, seja por sua própria
A brincadeira do faz de conta é uma vontade ou atribuição, seja pela deman-
das preferidas, mesmo sem espa- da da própria criança. Ele pode e deve
ços e brinquedos apropriados, as brincar só por brincar, mas deve tam-
crianças se envolvem bastante. Esta bém observar as brincadeiras e as crian-
brincadeira possibilita que assu- ças, utilizar o brincar para mediar con-
mam diferentes papéis, é gostoso flitos, fortalecer vínculos, desenvolver
vê-las brincando e reproduzindo o atitudes, comportamentos ou conheci-
mundo em suas falas e ações.6 Re- mentos importantes ou aproveitar para
centemente, uma criança de três conhecer um pouquinho mais da his-
anos estava brincando, em frente tória, cultura e modos de viver de seus
ao espelho, de cantora. Eu estava alunos. Uma das mudanças percebi-
arrumando umas tarefas na mesa, das pelos professores de diversos cmei é
ela estava preocupada se eu a olha- a atitude de perceber a importância da
va, e então cantava, fazia os gestos brincadeira, traduzindo em comporta-
e olhava desconfiada, envergonha- mento fundamental do professor.
da. Eu fiz de conta que não estava
vendo, para ela ficar mais à vontade.
Depois que saiu da frente do espe- 6 Veja, no Kit Educador, o livro O brin-
lho, chamou uma colega para brincar car no cotidiano da criança, de Adriana
também e disse: ‘É bom! Vamos! A Friedmann, que dá algumas ideias para
pró nem olha!’. orientar a observação do professor. Ela
Posso refletir sobre a importân- propõe um “instrumento metodológi-
cia de propor esta brincadeira em co” para observação, análise e registro
espaços apropriados para que elas do professor, superinteressante! A ideia
se sintam livres dos olhares dos é que a observação da atividade lúdi-
adultos. ca pode ajudar a construir um “diagnós-
tico” do comportamento do sujeito e do
grupo e, dessa forma, fundamentar a in-
tervenção do professor.
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Brincadeira da teia
vanilsa diniz soares professora
CreChe VoVó adalGisa,
Campina Grande · pB
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paUlo leiTe
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Caso fosse somente pelos desafios motores, ou so-
mente pelo prazer de brincar, a atividade não teria vali-
do a pena? A presença da brincadeira na Educação In-
fantil vale por si mesma, pelo sorriso no rosto, desafio
transposto, intencional ou não.
lá
FERREIRA, Zenilda. Tempos e espaços para brin-
car: o parque como palco e cenário das culturas
lúdicas. In: ROCHA, Eloisa A.C. e KRAMER, Sonia
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Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento So-
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REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA. Plano Na-
cional Primeira Infância. Brasília-DF, 2010.
25
dados inTernaCionais de CaTaloGação na pUBliCação (Cip)
(Câmara Brasileira do liVro, sp, Brasil)
isBn 978-85-64356-12-2
13-00206 Cdd-372.21