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31/12/2018 Arte e vida social - A distribuição desigual do sucesso em arte contemporânea entre as nações: uma análise sociológica da lista d…

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Arte e vida social | Alain Quemin, Glaucia Villas Bôas

A distribuição
desigual do
sucesso em arte
contemporânea
entre as nações:
uma análise
sociológica da

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lista dos ‘maiores’


artistas do mundo
Alain Quemin
Traduction de Germana Henriques Pereira

Résumé
Embora a globalização tenha começado a atrair fortemente a atenção das
ciências sociais na década de 1990 (Bartelson, 2000; Therborn, 2000),
esse tema foi, durante bastante tempo, pouco estudado no âmbito da
sociologia da arte. Por outro lado, os estudos empíricos permaneceram
limitados por muitos anos antes de conhecer um desenvolvimento muito
importante (Bellavance, 2000; Quemin, 2001, 2002a, 2006, 2013b,
2013c; Van Hest, 2012; Velthuis, 2013). Neste texto, pretende-se estudar
o impacto do fator territorial, no que concerne a nacionalidade dos
artistas e o seu país de residência, com relação ao seu acesso à fama
(Bowness, 1989) e ao processo de consagração, a partir de dados
empíricos. Isso nos permitirá mostrar que, mesmo numa época em que a
globalização deve ser a regra no mundo da arte, ainda há uma forte
hierarquia entre os países. Vamos nos concentrar aqui em apenas dois
rankings principais – o KunstKompass e o Capital Kunstmarkt
Kompass –, para ilustrar a distribuição extremamente desigual de
sucesso entre os países com relação ao campo da arte contemporânea.
Nossa análise vai se contrapor de modo constante à crença
profundamente enraizada no mundo da arte que afirma o
desaparecimento total das fronteiras geográficas e o apagamento dos
fluxos comerciais culturais fortemente orientados.

Note de l’éditeur
Traduzido do francês por Germana Henriques Pereira.

Texte intégral

Objetivar a visibilidade ou o talento através


da classificação dos artistas de sucesso
1 O surgimento do que agora é comumente referido como
“arte contemporânea” pode ser datado (Quemin, 2002a) por
ocasião da exposição histórica e seminal When Attitudes
Becomes Form, organizada pelo “curador”
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Harald Szeemann, no Kunsthalle de Berna, Suíça, em 1969.


Esse surgimento é simultâneo àquele das listas
fundamentadas numa base hierárquica – de rankings ou
classificações – no mundo da arte contemporânea, que tão
logo começou a objetivar as posições ocupadas pelos
“melhores” artistas.
2 A partir de 1970, a primeira lista de classificação publicada
numa base quase anual foi criada pelo jornalista alemão da
área econômica Willy Bongard na revista Capital1. De 1970 a
2008, esse indicador chamado KunstKompass – a bússola
da arte – iria ser publicado quase todos os anos na mesma
revista, revelando a seus leitores uma lista dos 100 “artistas
top”, ou seja, dos 100 melhores artistas do mundo. Com a
morte de Willy Bongard em 1985, sua viúva, Linde Rohr-
Bongard, continuou a publicar os resultados do
KunstKompass ano após ano, o que ilustra a forte demanda
social por tal indicador, apesar de, como veremos, o
KunstKompass ter sido muitas vezes criticado por sua
pressuposta incontestabilidade. Quando a sua colaboração
com a revista Capital chegou ao fim em 2008, a classificação
do KunstKompass passou a ser publicada numa revista de
negócios alemã concorrente, a Manager Magazin. Os
editores de Capital começaram, então, a desenvolver uma
parceria com uma nova equipe, a empresa chamada Artfacts,
com o objetivo de publicar uma outra classificação anual –
concorrente – dos 100 artistas internacionais mais visíveis
ou que estivessem experimentando o maior sucesso,
intitulada “Capital KunstmarktKompass”. Esse gesto
demonstrou, mais uma vez, a forte demanda social por esse
tipo de indicador.
3 Ao estudarmos aqui as duas principais classificações de
artistas contemporâneos, vamos mostrar que operam, tanto
uma quanto outra, uma distribuição bastante desigual do
sucesso (Bowness, 1989), considerando-se as nações
representadas2.

O Kunstkompass e a classificação da
Artfacts (“Capital Kunstmartkt Kompass”):

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breve apresentação dos dois indicadores e


de sua metodologia
4 Em todos os tipos de indicadores, o resultado depende
diretamente da metodologia utilizada, o que, por sua vez,
resulta de uma certa perspectiva focada no objeto. É
necessário, pois, aqui apresentar brevemente a metodologia
utilizada pelos dois principais sistemas de classificação, cujo
intuito é listar os 100 principais artistas visuais no mundo, a
cada ano.
5 Desde a sua criação em 1970, o KunstKompass é baseado
num sistema de pontos atribuídos às várias formas de
visibilidade dos artistas. O sistema evoluiu ligeiramente ao
longo do tempo, porém não é perfeitamente transparente,
uma vez que é publicado apenas em certos anos.3 No
entanto, o cálculo utilizado pode ser apresentado
brevemente da seguinte forma. Os artistas ganham pontos
em três ocasiões:

Exposições individuais (“solo shows”) em museus ou


centros de arte contemporânea. Quanto mais a
instituição é prestigiada maior será o número de pontos
atribuídos. Por exemplo, uma exposição individual no
MoMA, em Nova York, na Tate Modern de Londres, ou
no Centro Georges Pompidou – o Museu Nacional de
Arte Moderna, em Paris –, receberá um número muito
elevado de pontos, enquanto exposições monográficas
em instituições importantes, mas menos centrais ou
prestigiosas, receberão menos pontos.
Exposições coletivas em bienais, museus e centros de
arte contemporânea. Mais uma vez, a mais prestigiada
instituição obterá o mais elevado número de pontos
para o evento. Por exemplo, a participação nas bienais
de maior prestígio, como a de Veneza, na Itália, e a
Documenta, de Kassel, na Alemanha, receberá um
número elevado de pontos, enquanto outras,
organizadas em cidades menos reconhecidas, serão
igualmente consideradas como qualificantes, mas
obterão relativamente um menor número de pontos. Na
medida em que uma exposição individual confere maior

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visibilidade aos artistas e desempenha um papel mais


importante no processo de consagração, a participação
nas exposições coletivas mais prestigiadas pesa menos
do que as exposições monográficas nos lugares mais
reconhecidos da arte contemporânea.
Artigos em revistas de arte contemporânea as mais
influentes internacionalmente, tais como Flash Art, Art
in America e Art Forum.

6 Ao final de cada ano, o conjunto dos pontos obtidos dessa


forma é acrescentado, o que permite à equipe do
KunstKompass divulgar sua classificação anual dos 100
principais artistas contemporâneos (em vida) no mundo.
7 Vale mencionar que, praticamente desde o seu início, o
KunstKompass tem sido criticado devido a um viés pró-
germânico muito pronunciado, por excesso de representação
das instituições alemãs entre as instâncias de qualificação e
pela atribuição de coeficientes considerados
demasiadamente elevados em relação ao seu peso real na
cena contemporânea internacional. Isso se estende, em
menor medida, aos países vizinhos que pertencem à sua
zona de influência cultural, como a Áustria. No entanto, o
KunstKompass existe há mais de 40 anos, conseguindo até
agora manter as principais características de sua
metodologia.
8 Qual seria a metodologia utilizada pela Artfacts para
produzir seu indicador concorrente do KunstKompass, o
Capital Kunstmarkt Kompass? Ao contrário da equipe que
produz o KunstKompass, a Artfacts utiliza uma gama muito
maior de instâncias qualificadoras: galerias de arte
contemporânea, instituições públicas (que possuam ou não a
sua própria coleção, sejam museus ou centros de arte),
bienais e trienais, outros espaços de exposições temporárias,
feiras de arte contemporânea, leilões, art hôtels, revistas,
jornais e magazines de arte, livros de arte, escolas de arte,
festivais, organizações sem fins lucrativos, instituições de
gestão artística ou coleções particulares. Embora a coleta de
informações não possa ser absolutamente exaustiva, sua
extrema amplitude limita bastante o risco de desvios.

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9 Enquanto algumas instâncias são cruciais no processo de


consagração, outras parecem mais secundárias ou até
mesmo marginais. Por essa razão, é primordial que isso se
reflita nos coeficientes atribuídos para cada uma dessas
instâncias. Para esse fim, a Artfacts criou um algoritmo que
determina o peso de cada instância com base na reputação
dos artistas a elas associados. Fundamentalmente, “pontos
de rede” são concedidos: todos os artistas cujas obras são
colecionadas por museus e que são representados por
galerias obtêm os tais pontos. Estes são, então, concedidos
às instituições que colecionam ou que representam os
artistas. Esses “pontos de rede” refletem a reputação da
instituição em causa. Um artista recebe pontuação para cada
exibição num museu ou numa galeria. Embora, de um ponto
de vista lógico, possa parecer surpreendente que o peso dos
artistas e o das instituições influencie uns aos outros – e,
portanto, que ambos pesem na posição que os artistas
ocupam no ranking –, a análise sociológica mostra que no
mundo da arte contemporânea tanto os artistas como as
galerias (ou os galeristas) e as instituições influenciam-se
mutuamente nas recíprocas reputações (Moulin, 1992a;
Moulin; Quemin, 1993). Essa é precisamente uma das
principais vantagens do método desenvolvido pela Artfacts,
qual seja, a de tentar refletir essa característica do mundo da
arte contemporânea. Ao contrário de outras metodologias,
como a da KunstKompass, na Artfacts, os coeficientes são
atualizados quase que continuamente (na verdade, todas as
semanas) pelo algoritmo, levando em conta o poder de
certificação das instituições com base na reputação dos
artistas com os quais elas estão associadas. Além disso, a
extensão da base de dados constitui um quesito essencial,
pois possuía nada menos que 70.263 artistas referenciados e
classificados no mundo em junho de 2012! Um bom exemplo
da expansão da base de dados pode ser fornecido a partir da
seguinte indicação: em agosto de 2014, 100 mil artistas em
todo o mundo foram classificados, e 336.500 outros foram
referenciados na base de dados da Artfacts sem serem
classificados. Naquele momento, nove funcionários da
empresa reuniram e trataram a informação, afetando cerca

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de 30.000 exposições organizadas em 188 países em todo o


mundo.
10 Sendo uma empresa privada, a Artfacts não publica ou
transmite o modo de construção de seu algoritmo, que é
protegido por segredo comercial. Isso é frustrante para o
sociólogo que queira julgar o rigor do método. No entanto,
uma reconstituição indireta de determinados coeficientes foi
efetuada, mostrando-se relevantes com relação ao nosso
conhecimento do mercado e de seus atores.
11 Embora a classificação principal tenha sido estabelecida com
base no número de pontos que foram acumulados desde que
o indicador foi criado em 1999, a classificação obtida dessa
forma não era radicalmente diferente da que seria obtida em
se considerando apenas os pontos acumulados ao longo dos
últimos 12 meses: na arte contemporânea, assim como em
vários campos, o sucesso leva geralmente ao sucesso, o que
constitui uma boa ilustração do “efeito Matthew”, destacado
por Robert Merton (1968).

O impacto da nacionalidade dos artistas


sobre a notoriedade e a consagração
12 Como evocamos anteriormente, decidimos focar em
primeiro lugar na nacionalidade dos artistas na medida em
que os dois rankings precedentes mencionam esse dado.
Pareceu-nos pertinente explorar a possibilidade de um
fenômeno de concentração desigual dos artistas mais
reconhecidos do mundo (Quemin, 2001, 2002a, 2002b,
2006, 2013b; Van Hest, 2012; Velthuis, 2013). No entanto,
para pegar o exemplo de um dos dois indicadores analisados
aqui, o KunstKompass também menciona para cada artista
outras informações, como sua idade ou ano de nascimento, a
forma preferida de expressão artística (pintura, escultura,
instalação, vídeo ou fotografia), ou ainda o nome de sua
principal galeria – tudo isso dentre outras características
que podem ser objeto de uma análise sociológica e que
podem se mostrar bastante reveladoras dos traços ou redes
capazes de promover o sucesso dos artistas (Quemin, 2013c).
Tanto o KunstKompass quanto a classificação da Artfacts
mencionam igualmente o número de pontos obtidos por
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cada artista, o que, então, determina a sua posição no


ranking.
13 Para simplificar a apresentação e a leitura das tabelas, não
reproduzimos essa informação aqui, mas vamos analisar
neste texto o que pode nos ensinar o fato de adicionar o
número de pontos obtidos por cada país em ambas as
classificações e de calcular as percentagens correspondentes.
14 Tanto no caso do KunstKompass quanto no ranking da
Artfacts, decidimos reproduzir a informação relativa à
nacionalidade (é precisamente a informação que aparece nas
listas publicadas) para ilustrar a ligação que tem com a
visibilidade artística e a consagração.
Tabela 1. Classificação da KunstKompass em 2011
Posição Nome completo Nacionalidade
K1 Gerhard Richter Alemã
K2 Bruce Nauman Norte-americana
K3 Georg Baselitz Alemã
K4 Cindy Sherman Norte-americana
K5 Anselm Kiefer Alemã
K6 Rosemarie Trockel Alemã
K7 Richard Serra Norte-americana
K8 Olafur Eliasson Dinamarquesa
K9 Mike Kelley Norte-americana
K10 William Kentridge Sul-africana
K11 Andreas Gursky Alemã
K12 Franz Oeste Austríaca
K13 Cy Twombly Norte-americana
K14 Jeff Koons Norte-americana
K15 John Baldessari Norte-americana
K16 Christian Boltanski Francesa
K17 Pipilotti Rist Suíça
K18 Thomas Ruff Alemã
K19 Jasper Johns Norte-americana
K20 Christo e Jeanne-Claude Norte-americana
K21 Claes Oldenburg Norte-americana
K22 Matthew Barney Norte-americana
K23 Bill Viola Norte-americana
K24 Thomas Schütte Alemã
K25 Damien Hirst Britânica
K26 Maurizio Cattelan Italiana
K27 Imi Knoebel Alemã
K28 Thomas Struth Alemã
K29 Peter Fischli e David Weiss Suíça
K30 Jenny Holzer Norte-americana
K31 Gilbert & George Britânica
K32 Gordon Douglas Britânica
K33 Thomas Demand Alemã
K34 Paul McCarthy Norte-americana
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K35 Francis Alÿs Belga


K36 Ed Ruscha Norte-americana
K37 Jeff Wall Canadense
K38 Ilya e Emilia Kabakov Russa
K39 Günther Förg Alemã
K40 Lawrence Weiner Norte-americana
K41 Shirin Neshat Iraniana
K42 Dan Graham Norte-americana
K43 Mona Hatoum Britânica
K44 Arnulf Rainer Austríaca
K45 Gabriel Orozco Mexicana
K46 Carsten Höller Alemã
K47 Monica Bonvicini Italiana
K48 Tobias Rehberger Alemã
K49 Tacita Dean Britânica
K50 Sophie Calle Francesa
K51 Richard Prince Norte-americana
K52 Luc Tuymans Belga
K53 Pïerre Huyghe Francesa
K54 Daniel Buren Francesa
K55 Marlene Dumas Holandesa
K56 Isa Genzken Alemã
K57 Günther Uecker Alemã
K58 Bernd e Hilla Becher Alemã
K59 Neo Rauch Alemã
K60 Markus Lüpertz Alemã
K61 Raymond Pettibon Norte-americana
K62 Jonathan Meese Alemã
K63 Rebecca Corno Alemã
K64 Marina Abramovic Sérvia
K65 Kara Walker Norte-americana
K66 Rachel Whiteread Britânica
K67 Frank Stella Norte-americana
K68 Ellsworth Kelly Norte-americana
K69 Jannis Kounellis Grega
K70 Liam Gillick Britânica
K71 A. R. Penck Alemã
K72 Anish Kapoor Indiana
K73 Rodney Graham Canadense
K74 Thomas Hirschhorn Suíça
K75 Wolfgang Tillmans Alemã
K76 Tony Cragg Britânica
K77 Gregor Schneider Alemã
K78 Robert Gober Norte-americana
K79 Hans-Peter Feldmann Alemã
K80 Rirkrit Tiravanija Tailandesa
K81 Per Kirkeby Dinamarquesa
K82 David Hockney Britânica
K83 Katharina Fritsch Alemã
K84 Richard Long Britânica
K85 Roni Corno Norte-americana
K86 Dan Perjovschi Romena
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K87 Erwin Wurm Austríaca


K88 John Bock Alemã
K89 Peter Doig Britânica
K90 Signer Roman Suíça
K91 Richard Hamilton Britânica
K92 Hiroshi Sugimoto Japonesa
K93 Kiki Smith Norte-americana
K94 Martha Rosler Norte-americana
K95 Tony Oursler Norte-americana
K96 Daniel Spoerri Suíça
K97 Louise Lawler Norte-americana
K98 Franz Ackermann Alemã
K99 Rineke Dijkstra Holandesa
K100 Harun Farocki Tcheca

Tabela 2. Ranking Artfacts em junho de 2012:


Posição dos artistas, nacionalidade e país de
residência
Posição Nome completo Nacionalidade País de residência
1 Bruce Nauman Norte-americana Estados Unidos
2 Gerhard Richter Alemã Alemanha
3 Cindy Sherman Norte-americana Estados Unidos
4 Ed Ruscha Norte-americana Estados Unidos
5 John Baldessari Norte-americana Estados Unidos
6 Georg Baselitz Alemã Alemanha
7 Lawrence Weiner Norte-americana Estados Unidos
8 Thomas Ruff Alemã Alemanha
9 William Kentridge Sul-africana África do Sul
10 Olafur Eliasson Dinamarquesa Dinamarca
11 Jasper Johns Norte-americana Estados Unidos
12 Peter Fischli e David Suíça Suíça
Weiss
13 Dan Graham Norte-americana Estados Unidos
14 Gordon Douglas Britânica Reino Unido
15 Franz Oeste Austríaca Áustria
16 Paul McCarthy Norte-americana Estados Unidos
17 Andreas Gursky Alemã Alemanha
18 Rosemarie Trockel Alemã Alemanha
19 Richard Serra Norte-americana Estados Unidos
20 Francis Alÿs Belga Bélgica
21 Wolfgang Tillmans Alemã Alemanha
22 Pipilotti Rist Suíça Suíça
23 Mona Hatoum Libanesa Reino Unido
24 Anselm Kiefer Alemã França
25 Damien Hirst Britânica Reino Unido
26 Marina Abramovic Sérvia Estados Unidos
27 Tony Oursler Norte-americana Estados Unidos
28 Thomas Struth Alemã Alemanha
29 Claes Oldenburg Norte-americana e Estados Unidos
sueca
30 Ellsworth Kelly Norte-americana Estados Unidos
31 Arnulf Rainer Austríaca Áustria

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32 Bill Viola Norte-americana Estados Unidos


33 Nan Goldin Norte-americana Estados Unidos
34 Rodney Graham Canadense Canadá
35 Jeff Koons Norte-americana Estados Unidos
36 Valie Export Austríaca Áustria
37 Erwin Wurm Austríaca Áustria
38 Christian Boltanski Francesa França
39 Carl Andre Norte-americana Estados Unidos
40 Vito Acconci Norte-americana Estados Unidos
41 Jenny Holzer Norte-americana Estados Unidos
42 Gabriel Orozco Mexicana México
43 Jeff Wall Canadense Canadá
44 Kiki Smith Norte-americana Estados Unidos
45 Günther Förg Alemã Alemanha
46 Frank Stella Norte-americana Estados Unidos
47 Richard Prince Norte-americana Estados Unidos
48 Raymond Pettibon Norte-americana Estados Unidos
49 Tony Cragg Britânica Reino Unido
50 Maurizio Cattelan Italiana Estados Unidos
51 Pïerre Huyghe Francesa Estados Unidos
52 David Hockney Britânica Reino Unido
53 Hiroshi Sugimoto Japonesa Japão e Estados
Unidos
54 Yayoi Kusama Japonesa Japão
55 Christian Marclay Norte-americana e Estados Unidos e
suíça Reino Unido
56 Tacita Dean Britânica Reino Unido
57 Liam Gillick Britânica Reino Unido
58 Daniel Buren Francesa França
59 Alex Katz Norte-americana Estados Unidos
60 Ilya e Emilia Kabakov Russa Estados Unidos
61 Richard Long Britânica Reino Unido
62 Bernd e Hilla Becher Alemã Alemanha
63 Jonathan Monk Britânica Alemanha
64 Jim Dine Norte-americana Estados Unidos
65 Yoko Ono Japonesa Estados Unidos
66 Shirin Neshat Iraniana Estados Unidos
67 Thomas Hirschhorn Suíça França
68 Thomas Schütte Alemã Alemanha
69 Matthew Barney Norte-americana Estados Unidos
70 Vik Muniz Brasileira Estados Unidos
71 John M. Armleder Suíça Suíça
72 Rirkrit Tiravanija Tailandesa Estados Unidos e
Alemanha
73 Sophie Calle Francesa França
74 Luc Tuymans Belga Bélgica
75 Michelangelo Pistoletto Italiana Itália
76 Anri Sala Albanesa França e Alemanha
77 Sylvie Fleury Suíça Suíça
78 Candida Höfer Alemã Alemanha
79 Marlene Dumas Sul-africana e Holanda
holandesa
80 Hans-Peter Feldmann Alemã Alemanha

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81 Thomas Demand Alemã Alemanha


82 Chuck Close Norte-americana Estados Unidos
83 Kara Walker Norte-americana Estados Unidos
84 François Morellet Francesa França
85 Jannis Kounellis Greco-italiana Itália
86 Heimo Zobernig Austríaca Áustria
87 A. R. Penck Alemã Alemanha
88 Roni Corno Alemã Alemanha
89 Carsten Höller Belga Suécia
90 Albert Oehlen Alemã Alemanha
91 Richard Artschwager Norte-americana Estados Unidos
92 Imi Knoebel Alemã Alemanha
93 Martha Rosler Norte-americana Estados Unidos
94 Rineke Dijkstra Holandesa Holanda
95 Robert Gober Norte-americana Estados Unidos
96 Robert Morris Norte-americana Estados Unidos
97 On Kawara Japonesa Estados Unidos
98 Richard Tuttle Norte-americana Estados Unidos
99 Tracey Moffatt Australiana Estados Unidos
100 Joseph Kosuth Norte-americana Estados Unidos

Quando a nacionalidade e o país de residência diferem, o


país figura em negrito quando “corrigido”. O ponto relativo
ao país de residência será comentado mais adiante.
15 Antes de discutir a questão da nacionalidade nos dois
principais rankings de artistas contemporâneos, revela-se
necessário fazer algumas observações sobre a comparação
dessas classificações.
16 Na maioria das vezes (e de modo bastante exaustivo), os dois
rankings fornecem a mesma informação sobre a
nacionalidade dos artistas, mas em alguns casos raros eles
divergem. Nesses poucos casos, ou a nacionalidade pode,
excepcionalmente, ser diferente, ou um dos rankings pode
indicar duas, enquanto o outro menciona apenas uma. Três
quartos dos artistas aparecem em ambas as listas, uma
percentagem muito elevada se considerarmos que as
metodologias utilizadas para produzir as duas classificações
são muito diferentes. Isso sugere que, em um nível muito
alto de visibilidade, o impacto da metodologia utilizada para
evidenciá-la, bem como os seus potenciais desvios, ficam
muito limitados. Além disso, ambos os instrumentos
revelam um fenômeno de concentração muito pronunciado
da distribuição do sucesso artístico entre os países.
17 Se calcularmos o percentual para cada país no
KunstKompass, somando-se o número de pontos de todos os
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artistas da mesma nacionalidade e dividindo cada um desses


resultados pela totalidade dos pontos da classificação, o
resultado obtido será: os Estados Unidos (30,4%) e a
Alemanha (30,0%) ficam muito à frente de todos os outros
países; o Reino Unido fica colocado na terceira posição com
apenas 10,4% dos pontos, mas significativamente à frente da
Suíça (4,5%) e da França (3,9%). A concentração do sucesso
artístico é extrema com relação a um número muito pequeno
de países, todos ocidentais, quer se trate dos Estados Unidos
ou de qualquer país europeu. Acrescentemos que, mesmo
dentro desse espaço, apenas alguns países desempenham
um papel significativo quando se trata de quantificar a
participação dos seus artistas no segmento mais visível da
cena internacional da arte contemporânea.
18 Cinco países respondem sozinhos por quase 80% do peso
dos artistas mais visíveis em nível internacional, dentre
aqueles que conhecem o maior sucesso. Em especial, os
Estados Unidos e a Alemanha formam uma espécie de
duopólio na cena internacional da arte, muito à frente de
todas as outras nações.
19 No entanto, parece-nos que os dados produzidos pela
Artfacts oferecem uma visão mais precisa das posições
ocupadas pelos diversos países no cenário internacional da
arte contemporânea, na medida em que eles não parecem
afetados pelo viés pró-alemão que muitas vezes assinalamos
no caso do KunstKompass. Como feito anteriormente com
relação ao KunstKompass, o cálculo correspondente à
participação de cada país no total de pontos acumulados
pelos primeiros 100 artistas da classificação da Artfacts
sintetiza a informação tanto no que concerne o número de
artistas por país quanto com relação ao seu lugar no ranking.
A classificação é a seguinte: os Estados Unidos encabeçam a
lista (37,1%), claramente à frente da Alemanha (18,2%), e
esta se posiciona também de modo nítido diante do Reino
Unido (7,63%), seguido pela Áustria (5,0%) e a Suíça (4,9%);
a França fica logo atrás (4,4%). A Itália, que, no entanto,
ocupava uma posição significativa no cenário mundial na
década de 1970, lugar reforçado pelo vigor da
Transvanguarda na década de 1980 (Quemin, 2013c), exerce
atualmente uma influência limitada, com apenas 1,7% dos
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pontos em 2012. Se considerarmos o indicador Artfacts dos


100 primeiros artistas plásticos contemporâneos, os países
da Europa Ocidental e da América do Norte concentram
nada menos do que 87,3% do indicador!
20 Enquanto que há quase duas décadas a ideologia da
globalização, da suposta mescla de culturas e de uma
hipotética indefinição das fronteiras fica muito popular no
mundo da arte contemporânea, e isso embora a maioria dos
agentes prefiram acreditar que a nacionalidade, o país ou o
local de residência não exerçam qualquer influência
relativamente à trajetória dos artistas para o sucesso, a nossa
análise revela uma realidade bem diferente. O mundo da
arte contemporânea internacional continua a ser altamente
territorializado e hierarquizado no que diz respeito aos
países, segundo configurações que podem ser encontradas
em diferentes níveis e segmentos. Por exemplo, há vários
anos, os artistas chineses vêm alcançando um forte sucesso
no mercado, especialmente no segmento de leilões. De fato,
concorrem, assim, com a posição tradicionalmente forte de
artistas britânicos, alemães e mais ainda de artistas norte-
americanos, em relação à sua presença nas principais
instituições de arte, tais como os principais museus e centros
de arte, bem como as principais bienais organizadas em
países ocidentais. Embora essa situação aconteça, a presença
da China, no entanto, geralmente muito notada e
comentada, permanece muito limitada, e os artistas chineses
praticamente ausentes das listas de artistas mais visíveis no
mundo. Em termos de consagração artística, a autoridade de
certificação ainda está concentrada nas mãos de um pequeno
número de instituições e de agentes que são quase todos
ocidentais e que elegem sempre outros artistas ocidentais
antes de escolher aqueles pertencentes a outras partes do
globo.

País de residência: a influência crucial do


território
21 O fenômeno da concentração geográfica, que já é muito
pronunciado com relação à nacionalidade dos artistas, fica
ainda mais acentuado se considerarmos agora o país de
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residência, visto que os artistas pertencentes à “periferia” do


mundo da arte contemporânea internacional (Quemin,
2002b) tendem a migrar para os países mais centrais em
busca da consagração.
22 Para investigar isso, decidimos “corrigir” os dados
publicados pela Artfacts não mais levando em conta a
nacionalidade, mas considerando apenas o país de
residência e de criação.
23 Resulta desse novo cálculo que, mesmo num momento de
suposta globalização, a grande maioria dos artistas mais
consagrados no mundo – precisamente aqueles que parecem
mais propensos a viajar e deixar seu país de origem –
continuam a viver e a criar no país onde nasceram, ou seja,
80% deles4. A errância artística permanente surge, então,
como um mito, e nenhum artista, dentre os mais
importantes, vive em mais de dois países a longo prazo.
Ainda hoje, o ato criativo continua integrado a um
determinado território (Quemin, 2006). Mesmo quando os
artistas viajam para o exterior, eles continuam a manter um
domicílio regular, geralmente situado no país em que
nasceram. Entre os 100 artistas mais visíveis do mundo,
nada menos do que 96 vivem e criam permanentemente
num único país... e apenas quatro ficam entre dois países!
24 Além disso, através da análise do país de residência, em vez
daquela dos passaportes, foi observada uma diferença de
informação em apenas 19 casos. Tal número está longe de
ser desprezível, mas o fenômeno só diz respeito a uma
minoria. Mesmo quando os artistas se deslocam para
participar de um importante centro de criação e de
consagração internacionais, eles continuam a viver e a criar,
em parte, em seu país de origem. Na verdade, os artistas cuja
presença nas listas de classificação é muito improvável em
virtude da sua nacionalidade, que pode aparecer aí como
muito “exótica”, estão muitas vezes morando já por vários
anos no “coração” do mundo da arte contemporânea
internacional, ou seja, nos Estados Unidos e em Nova York,
em particular, e contribuem para a vitalidade da cena
criativa americana enquanto aumentam suas chances de
sucesso nesse meio.

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25 Visto que 21 países diferentes aparecem na lista quando o


passaporte e a nacionalidade são considerados pelo ranking
da Artfacts, a concentração torna-se ainda mais pronunciada
quando são considerados os países de residência, uma vez
que os países nos quais vivem os artistas mais consagrados
do mundo ficam limitados a apenas 15 nações. Notamos, em
particular, que os países não ocidentais tendem a
desaparecer quase que por completo.
26 Se, novamente, tomarmos a decisão de considerar a
participação de cada país no total de pontos acumulados
pelos 100 artistas que figuram nos primeiros lugares da lista
da Artfacts, obteremos os seguintes resultados: 46,2% para
os Estados Unidos (ou seja, cerca de 10 pontos a mais do que
quando apenas a nacionalidade era levada em conta), que
ficam muito à frente do seu adversário habitual, a Alemanha
(18,0%). Esta mais uma vez se distancia confortavelmente do
Reino Unido (8,3%), seguido pela França (5,8%), Áustria
(5,0%), Suíça (4,0%), Bélgica (1,9%), Holanda e Itália (1,6%
cada), Dinamarca (1,3%), Suécia (0,8%), Canadá (2,0%),
México (1,0%), Japão (1,3%) e África do Sul (1,4%). Mais
uma vez, torna-se necessário enfatizar que os países da
Europa Ocidental (na verdade, um número muito reduzido
deles) e a América do Norte respondem juntos pela quase
totalidade do indicador (96,5%!), ou seja, eles tendem a
concentrar praticamente toda a criação contemporânea ao
seu mais alto nível de visibilidade e sucesso.
27 A nossa abordagem, com foco na dimensão territorial e
considerando a influência dos países, mostra que os efeitos
dessa concentração são extremamente elevados. Parecem
existir países criativos do mesmo modo que há cidades
criativas (Florida, 2002), especialmente quando a existência
de países criativos é limitada, muitas vezes, à presença de
apenas uma cidade criativa, como Berlim, Londres, Paris e,
mais ainda, Nova York. Decidimos levar em conta a
nacionalidade dos artistas, na medida em que essa é quase
sempre a informação fornecida nas listas de classificação,
que não mencionam o país e muito menos a cidade em que
vivem os artistas. No entanto, a escala das cidades é
particularmente relevante e, quando os Estados Unidos, o
Reino Unido ou a França são mencionados, trata-se, na
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realidade, de menção às cidades: Nova York, Londres ou


Paris. Na Alemanha, a situação é um pouco mais complexa,
uma vez que a cena artística tende a se concentrar menos em
Berlim, mesmo que esta cidade tenha consideravelmente
reforçado a sua posição de liderança no cenário alemão, já
há 15 ou 20 anos. Contudo, não devemos nos esquecer de
que cada uma dessas metrópoles, por mais que esteja tão
central no cenário nacional e ligada diretamente ao cenário
internacional, faz parte de um determinado território e,
portanto, permanece diretamente submetida à sua
influência, por exemplo, através de uma jurisdição. Embora
Nova York seja às vezes descrita como uma “cidade mundial”
(global city) (Sassen, 1991), cujos limites se estendem para
muito além do território norte-americano, quando se trata
de acolher artistas estrangeiros, as leis que se aplicam a estes
continuam sendo nada mais do que leis norte-americanas.
Nesse sentido, é importante perceber que todas essas
cidades, por mais fortemente internacionais e amplamente
abertas ao mundo que sejam, constituem-se igual e
fundamentalmente como partes do território nacional, como
também entidades altamente significativas que sempre
formarão os países.
28 Não podemos esquecer também que os fluxos migratórios
internacionais são muito orientados e fortemente
determinados pelas posições ocupadas pelos diversos países
no mundo da arte. Na verdade, nenhuma globalização
realmente existe se compreendermos por meio desse termo
que todas as partes do mundo estão em causa e que os fluxos
comerciais são simétricos e não são afetados por efeitos de
dominação. O contexto nacional continua a ser
particularmente significativo, visto que a maioria dos
artistas, em cada cidade, continua a ser de origem nacional,
seja porque nasceu naquele local, seja porque veio de outro
lugar do país para viver na capital artística nacional a fim de
aumentar suas chances de ter acesso ao reconhecimento.

Conclusão
29 Os rankings que acabamos de analisar, com vistas a reduzir
a incerteza inerente à objetivação das posições relativas dos

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agentes envolvidos no cenário da arte contemporânea,


despertam um interesse geral no mundo da arte, que se
estende para além das figuras dos artistas, mesmo que estes
sejam os mais afetados por essa tentativa. Não só existem
hoje dois grandes sistemas de classificação, o KunstKompass
e a classificação da Artfacts, que acabamos de analisar, mas
outros também têm surgido, visando objetivar as posições
geralmente ocupadas por diferentes agentes do mundo da
arte (Quemin, 2013c). O mais famoso desses indicadores é o
Power 100, publicado anualmente pela revista britânica
ArtReview há mais de 10 anos. Esse ranking pretende
identificar e classificar as 100 personalidades mais
poderosas do mundo da arte contemporânea internacional,
quer se trate de artistas, de “curadores”, de diretores de
museus, colecionadores, galeristas, líderes de casas de leilão,
críticos de arte, entre outros. A existência desses outros
indicadores assinala ainda uma forte demanda social,
possivelmente crescente, por classificações dos artistas e
também dos demais agentes que atuam no mundo da arte
contemporânea e que vão muito além dos próprios
criadores, como formulou muito bem Pïerre Bourdieu, ao
tentar identificar “qui a créé les créateurs” [“quem criou os
criadores”] (Bourdieu, 1993).
30 Neste texto, centramos o foco sobre as artes visuais
contemporâneas e os “rankings autóctones”, a fim de
explorar e objetivar a visibilidade dos artistas. Poderíamos
ter escolhido outras áreas artísticas, tais como a
gastronomia, que parece ter tido uma evolução semelhante à
vivida pelas artes visuais no início do decênio de 1970. Por
exemplo, o Guia Michelin foi criado em 1900 como um guia
de viagens, turístico e gastronômico, e, em seguida,
inúmeros guias de restaurantes surgiram, e,
particularmente, o guia Gault Millau, que compete com o
Guia Michelin e sua posição como número 1 na década de
1970. No entanto, foi apenas recentemente que surgiram as
classificações dos melhores restaurantes e dos melhores
chefs do mundo e que muito se desenvolveram, como é o
caso da lista anual da revista Restaurant, que existe desde
2002. Porém, já se atribuía, de longa data, notas a
restaurantes com o intuito de distinguir os grupos de
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qualidade comparável e que aparecem nas listas dos


melhores estabelecimentos (por exemplo, os 100 melhores).
Ainda que esses rankings sejam frequentemente criticados,
não devemos subestimar a legitimidade que lhes é acordada
hoje em dia. Vale, sobretudo, salientar que o simples fato de
que são regularmente compilados e publicados evidencia
uma demanda social real. Finalmente, como no caso das
artes visuais contemporâneas, esses outros rankings de nível
de reputação mostram os fortes efeitos de concentração no
que diz respeito à nação e ao território.

Notes
1. “En réalité, on peut trouver dès 1955 un préalable aux classements
réguliers des artistes contemporains dans le magazine Connaissance des
Arts (créé en 1952). Toutefois, la méthodologie était assez sommaire,
beaucoup plus que celle du KunstKompass, et les classements n’ont été
publiés qu’à cinq reprises, tous les cinq ans environ” (Verger, 1987). [“De
fato, podemos encontrar desde 1955 uma prévia desse tipo de
classificação regular de artistas contemporâneos na revista Connaissance
des Arts (criada em 1952). Contudo, a metodologia era bastante sumária,
bem mais do que essa do KunstKompass, e as classificações só foram
publicadas cinco vezes, a cada cinco anos, mais ou menos”] [Nossa
tradução]

2. “Nous aurions tout aussi bien pu adopter d’autres angles d’analyse tels
que l’impact du genre des artistes ou de leur âge sur leur succès et leur
consécration” (Quemin, 2013b). [“Poderíamos ter adotado outros tipos
de análise, como o impacto do gênero dos artistas ou de sua idade
relativamente ao sucesso e à consagração que alcançaram”]. [Nossa
tradução]

3. Ainda que seja teoricamente possível se dirigir ao jornal que publica o


KunstKompass para solicitar a metodologia detalhada sobre a qual se
baseia, nossos pedidos repetidos foram geralmente ignorados.

4. Dois artistas se dividem entre seu país de origem e um outro país.

Auteur

Alain Quemin
Professeur en sociologie à
l’université Paris-8
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Chercheur au Labtop-CRESPPA
Membre honoraire de l’Institut
universitaire de France
Germana Henriques Pereira
(Traducteur)
© OpenEdition Press, 2016

Creative Commons - Attribution - Pas d’Utilisation Commerciale - Pas de


Modification 3.0 non transposé - CC BY-NC-ND 3.0

Référence électronique du chapitre


QUEMIN, Alain. A distribuição desigual do sucesso em arte
contemporânea entre as nações: uma análise sociológica da lista dos
‘maiores’ artistas do mundo In : Arte e vida social : Pesquisas recentes
no Brasil e na França [en ligne]. Marseille : OpenEdition Press, 2016
(généré le 31 décembre 2018). Disponible sur Internet :
<http://books.openedition.org/oep/1474>. ISBN : 9782821855892.

Référence électronique du livre


QUEMIN, Alain (dir.) ; VILLAS BÔAS, Glaucia (dir.). Arte e vida social :
Pesquisas recentes no Brasil e na França. Nouvelle édition [en ligne].
Marseille : OpenEdition Press, 2016 (généré le 31 décembre 2018).
Disponible sur Internet : <http://books.openedition.org/oep/482>.
ISBN : 9782821855892. DOI : 10.4000/books.oep.482.
Compatible avec Zotero

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