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Brasília DF, 8-11 de julho de 2007
ÁREA: COMUNICAÇÃO
Sub-área: Memória e história da biblioteconomia e ciência da informação
ABSTRACT:
Seen as a specialized technical process, cataloging is understood within the
context of the documentary cycle as an object of discussion and expectation.
Based on the article Resource Description and Access (RDA), the present
moment is described as one of searching modifications in the current rules. The
purpose of such modifications is to facilitate information access by users, having in
view the new environment of virtual information. FRBR (Functional Requirements
for Bibliographic Records) are presented as a new conceptual tool and as an
innovative alternative for bibliographic description.
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1. INTRODUÇÃO
Dentre as atividades inerentes ao ciclo documentário, inclui-se desde sempre
a catalogação, que juntamente com classificação e indexação, compõe o tripé
característico da etapa conhecida como “análise”. Não é por acaso que a
catalogação é geralmente levada a cabo no chamado “setor de análise” no
contexto de uma biblioteca ou centro de documentação. Com efeito, classificação,
catalogação e indexação constituem diferentes níveis de análise documental, em
contraposição a outras etapas do ciclo, tais como seleção, aquisição,
armazenamento e recuperação.
Torna-se evidente, por outro lado, que em função dos avanços tecnológicos
que vêm afetando a área de informação como um todo, e as bibliotecas em
particular, a catalogação, mais do que outros processos técnicos especializados,
vem sendo objeto de contínua discussão e de expectativa por parte dos
profissionais envolvidos com essa atividade em todo o mundo. Tais discussões
ensejam, por sua vez, uma expressiva produção de textos (artigos, ensaios,
normas, etc.) sobre o assunto, sem que isso resulte necessariamente num
esclarecimento maior sobre o que seriam – ou serão – as práticas ideais da
catalogação no século XXI.
O que se presencia atualmente é uma espécie de indefinição conceitual – há
inclusive aqueles que consideram a catalogação como algo ultrapassado e
desnecessário – caminhando paralelamente à atividade da descrição bibliográfica,
tal como vem sendo exercida nos ambientes de trabalho, e a qual procura a cada
dia incorporar novas tendências e se adaptar aos novos modos de se entender e
organizar a informação. Uma série de fatores tem contribuído a essa dualidade
quanto ao entender e o fazer da catalogação.
Primeiramente, e nunca é demais lembrar, os materiais passíveis de
identificação, análise e recuperação não são mais exclusivamente impressos. A
informação está contida, hoje em dia, nos mais variados suportes, sejam estes
impressos, eletrônicos, virtuais ou outros quaisquer que venham a surgir. Nesse
sentido, o documento passa a ser entendido, inclusive, como objeto ou recurso
informacional. Como conseqüência, por mais que se procure padronizar a
descrição bibliográfica de diferentes tipos de recursos, as características
específicas de cada tipo de documento impõem também a existência de critérios
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e normas específicos. E, na medida em que isso ocorre, multiplicam-se regras e
procedimentos que exigem alto nível de especialização por parte dos
catalogadores. Pelo menos daqueles que lidam com as fontes primárias, já que,
como se sabe, grande parte dessas fontes é descrita de forma centralizada em
locais como a Library of Congress, nos Estados Unidos, ou a Câmara Brasileira
do Livro no caso do Brasil, sendo possível, ainda, cortar e colar os dados a partir
do catálogo em linha da Biblioteca Nacional. Não há dúvida, portanto, de que a
catalogação centralizada representa um enorme avanço, na medida em que
poupa tempo e esforço a catalogadores no mundo inteiro. Trata-se, de fato, da
concretização de um trabalho colaborativo, exigência dos novos tempos, e
resultante da utilização de tecnologia e de aplicação de padrões sobre os quais se
estabelecem acordos e se criam parcerias, também em nível mundial. Não
obstante, há uma parcela desse trabalho que permanece sendo feita localmente,
tal como definição e padronização de entradas, atribuição de palavras-chave o
outros requisitos, que permanecem na alçada de bibliotecas e centros de
informação locais, em função de missões institucionais e clientelas específicas. A
esse respeito, vale observar que, liberado do trabalho mais pesado da descrição,
o bibliotecário encontra na representação condensada da informação um de seus
campos mais específicos e contemporâneos de atuação e o qual, no âmbito da
descrição bibliográfica como um todo, pode fazer toda a diferença em termos do
acesso à informação e dos serviços prestados aos usuários.
Em segundo lugar, conforme bibliotecários e documentalistas sabem na
prática, a catalogação não consiste mais na descrição de um item de uma coleção
para fins de identificação e localização, porém na descrição e inclusão do objeto
informacional em determinado sistema – seja este o catálogo individual de uma
biblioteca, um catálogo cooperativo ou em linha – para fins de utilização e
intercâmbio de informações. Amplia-se assim, e de forma dramática, o escopo e
alcance da catalogação.
Paralelamente, a disponibilização de textos integrais na Internet, a existência
de catálogos abertos (OPACs), de repositórios institucionais, bem como o advento
dos motores de busca que, em princípio encurtam o caminho entre procurar e
encontrar a informação – esteja esta no suporte que for – colocam em xeque a
catalogação, enquanto atividade tradicional de biblioteca, a qual, por mais
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eficiente que seja, não viabiliza automaticamente o acesso, na íntegra, a todos os
documentos procurados, mas sim, às respectivas referências, representações e
indicações de localização e/ou aquisição, conforme o caso.
Por outro lado, considerando-se o cenário da informação virtual de hoje, a
catalogação – entendida como descrição e representação detalhada do objeto
informacional – permite o estabelecimento de conexões formais e semânticas
entre obras, autorias, assuntos, entre outros elementos de descrição, as quais
funcionam não só como instrumento para recuperação de um item específico,
como também – e essa parece ser a grande inovação – para a ampliação do
conhecimento em si, nas mais diversas áreas.
O presente artigo situa a catalogação como objeto de discussão diante
desse cenário, e identifica perspectivas de natureza conceitual, com base na
proposta dos Requisitos Funcionais para Registro Bibliográfico (Functional
Requirements for Bibliographic Records – FRBR).
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Revisão das Regras de Catalogação Anglo-Americanas (Joint Steering Cmmittee
for Revision of the Anglo-American Cataloging Rules – JSC).
Idealizado inicialmente como a terceira edição das AACR, e denominado de
AACR3, o novo padrão acabou sendo renomeado para Resource Description and
Access, numa tentativa de enfatizar a ruptura com o passado. As autoras citam
textualmente os propósitos do JSC quanto ao RDA:
“Alicerçado nos fundamentos estabelecidos pelas Regras de Catalogação
Anglo-Americanas (AACR), o RDA proverá um conjunto abrangente de
diretrizes e instruções referentes a descrição e acesso a recursos, cobrindo
todos os conteúdos e mídias. O novo padrão está sendo desenvolvido para
ser utilizado basicamente em bibliotecas, porém consultas estão sendo
realizadas junto a outras comunidades (arquivos, museus, editoras, etc.)
num esforço para alcançar um efetivo grau de alinhamento entre o RDA e os
padrões de metadados usados nessas comunidades.”
As autoras citadas consideram que tais propósitos expressam de forma
sucinta uma contradição típica do RDA: o desejo de prosseguir com a tradição
das AACR ao mesmo tempo em que reconhece a necessidade de uma mudança
bem mais significativa. Segundo elas, o RDA não terá êxito se não levar em conta
as mudanças fundamentais ocorridas no ambiente informacional, as quais
determinaram que as bibliotecas perdessem importância como provedoras de
informação. Tais mudanças, apontadas no início do artigo, e que incluem o
desenvolvimento dos computadores e a produção de documentos eletrônicos,
acabaram por criar desafios completamente diferentes daqueles com que se
defrontavam as bibliotecas há apenas cinqüenta anos, uma época em que os
recursos e as bibliotecas que os abrigavam estavam ainda fincados na era dos
livros e periódicos impressos, e que o catálogo em fichas constituía o ponto de
entrada para os acervos físicos.
Os desafios de um ambiente de rápidas e profundas mudanças,
característicos dos dias de hoje, talvez sejam, segundo as autoras, maiores do
que os idealizadores do RDA possam dar conta, devido à firmeza de seus
vínculos com as AACR. Ainda de acordo com essas autoras, o RDA está sendo
apresentado pelo JSC como “um novo padrão para descrição e acesso a recursos
projetado para o mundo digital”, o que se torna contraditório em função dos
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condicionamentos apontados. Para elas, atividades como a digitalização em
grande escala de livros, liderada pelo setor de informação comercial, mostram
que se as bibliotecas não se colocarem à altura do desafio de mudança, elas se
tornarão cada vez mais marginalizadas no contexto da próxima era da
informação.
A título de ilustração, o Quadro 1 sumariza dois momentos da evolução
ocorrida nessa área.
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Quadro 2. – Depois da Internet.
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satisfazer apenas as necessidades do profissional envolvido no processo de
catalogação.” (MONTEIRO, 2005, 8).
Com essa mudança de foco, o modelo proposto busca um entendimento do
objeto informacional baseado na identificação de entidades e relacionamentos. De
acordo com TALAVERA IBARRA (2005, 164), as entidades constituem os
objetos-chave que interessam aos usuários dos dados bibliográficos. Dividem-se
em três grupos:
• Grupo 1: inclui os produtos da criação intelectual ou artística descritos nos
registros bibliográficos: obra, expressão, manifestação e item.
• Grupo 2: inclui as entidades responsáveis pelo conteúdo intelectual ou artístico,
a produção e a difusão física ou a guarda dos referidos produtos: pessoas e
entidades corporativas.
• Grupo 3: inclui o conjunto adicional de entidades que serve como assunto de
uma produção intelectual ou artística: conceito, objeto, acontecimento e lugar.
Ainda, segundo TALAVERA IBARRA (2005), como modelo conceitual,os
FRBR não constituem um conjunto de novas regras, mas uma base lógica
destinada a tornar os registros mais coerentes e úteis para os usuários.
É interessante observar que, embora ainda não implementados na prática,
os FRBR têm sido objeto de numerosos estudos e artigos. RIVA (2004), por
exemplo, analisa a integração dos campos de entrada do MARC 21 aos FRBR e
às taxonomias de relacionamentos bibliográficos proposta por TILLET (2003).
Essa autora se refere, por sua vez, ao contínuo acompanhamento da evolução
dos FRBR por parte da IFLA, indicando o correspondente endereço do sítio na
Web, <http:// www.ifla.org/VII/s13/wgfrbr/wgfrbr.htm>, onde há uma lista de
discussão sobre o assunto. MADISON (2006) discute a expansão do ambiente
dos conteúdos eletrônicos e a importância da participação de bibliotecários nas
novas comunidades de pesquisa e ensino, com o objetivo de suprir as
necessidades dos usuários no sentido de achar, identificar, selecionar e obter a
informação e os recursos de que precisam. Para CARLYLE (2006), os FRBR
constituem um modelo conceitual de grande complexidade. Em seu artigo busca
facilitar o entendimento de alguns dos aspectos mais difíceis do modelo, que no
seu entender, são as entidades do Grupo 1 : obra, expressão, manifestação e
item.
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4. CONCLUSÃO
Conforme dito acima, são numerosos os textos que vêm sendo
constantemente publicados sobre os FRBR. As referências citadas são apenas
alguns exemplos dessa produção crescente de estudos que, em última análise,
visam facilitar o acesso à informação por parte do usuário. Por outro lado, em se
tratando ainda de uma proposta, é algo passível de discussão e adaptações, na
medida, inclusive, em que existem paralelamente perspectivas de reformulação
das AACR2. O que se espera é que as decisões a serem tomadas nessa área,
em âmbito internacional, possam compatibilizar da melhor forma possível o
trabalho de organização / arquitetura da informação com as necessidades de
acesso e uso, típicas do mundo globalizado de hoje, um mundo cada vez mais
consciente de que o acesso à informação é o que verdadeiramente importa.
5. REFERÊNCIAS
CARLYLE, Allyson. Understanding FRBR as a conceptual model: FRBR and the
bibliographic universe. Library Resources & Technical Services, Chicago,
v.50, n.4, Oct 2006, p.264-273.
COYLE, Karen; HILLMANN. Diane. Resource Description and Access (RDA):
Cataloging Rules for the 20th Century. D-Lib Magazine, v.13, n.1/2, Jan/Feb
2007. Disponível em: <http://dlib.org/dlib/january07/coyle/01coyle.html>.
Acesso: fevereiro 2007.
TALAVERA IBARRA, Ana Maria. FRBR: Requerimientos funcionales de los
registros bibliográicos. In: Centro Bibliográfico Nacional (org.). Encuentro
Internacional de Catalogadores. Lima, Peru, 2005. Primeiro... Nuevas
Tendências em la Normalización y Sistematización de la Información:
Ponencias y Conclusiones. Lima: Biblioteca Nacional Del Peru, Fondo
Editorial, 2006.
MADISON, Olívia M.A. Utilizing the FRBR framework in designing user-focused
digital content and access systems. Library Resources & Technical
Services, Chicago, v.50, n.1, Jan 2006, p.10-15.
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MORENO, Fernanda Passini. Requisitos funcionais para registros
bibliográficos – FRBR: um estudo no catálogo da rede Bibliodata. Brasília:
Universidade de Brasília, 2006. 199 f. Dissertação (mestrado).
RIVA, Pat, Mapping MARC21 linking entry fields to FRBR and Tillett’s taxonomy of
bibliographic rlationships. Library Resources & Technical Services, Chicago,
v.48, n.2, Apr 2004, p.130-143.
TILLET, Bárbara. FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records).
Technicalities, v.23, n.5, Sep/Oct 2003, p.13-15.
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