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se articulam numa espécie de trilogia com trata-se de uma imagem que resulta de um
este último, em torno da temporalidade. processo de criação: a imagem é construída
Os tempos da fotografia: o efêmero e o perpé- técnica, cultural, estética e ideologicamente.
tuo mostra os processos de cognição desenca- Temos, então, duas grandes vertentes, visuali-
deados pela fotografia, especialmente os que zadas em excelente quadro (p. 33): a fotografia
envolvem os trânsitos da memória – social e como objeto de pesquisas históricas e teóricas
individual. A primeira parte revisita concei- – e a fotografia como fonte de informações
tos e abordagens metodológicas, numa pers- referentes a diferentes áreas de conhecimento.
pectiva multidisciplinar que revela o pensador Objeto e fonte são desconstruídos e reconstru-
original e também o pesquisador e orienta- ídos em camadas interpretativas, abrindo-se
dor de teses e dissertações. A segunda parte, muitas possibilidades de articulação e análise,
sobre imprensa e história, reúne dois artigos não só para fotos referenciais como para fotos
que levantam contextos políticos – imprensa do mundo da arte.
e censura – durante o governo Vargas. Num, Todos os textos, com exceção do último,
é analisado o trabalho da fotógrafa Hildegard “Castelos de cartas, castelos de areia”, foram
Rosenthal, refugiada do nazismo, que foi uma originalmente apresentados em congressos
das pioneiras do fotojornalismo no Brasil. e reuniões científicas. Revistos e ampliados,
O outro, “Mídia, imagens, ideologia, me- agora estarão mais acessíveis a pesquisadores
mória”, trata das posturas da grande imprensa e aficcionados da fotografia, pois antes sua
desde os anos anteriores à ditadura Vargas. O circulação estava restrita a publicações espe-
livro completa-se com uma parte sobre ima- cializadas e/ou acadêmicas.
ginário e memória, na qual Boris navega num Entre o tempo de criação (instante da gê-
espaço “mais livre em termos de narrativa e nese), primeira realidade e o tempo da repre-
linguagem”, como ele próprio aponta, na in- sentação (registro e memória), segunda rea-
trodução. Mesmo assim, a escritura poética lidade, Boris Kossoy examina as suspensões
realça o cuidado teórico de seu pensamento. e trânsitos dessa figuração técnica e poética
Boris trabalha a relação íntima entre a do imaginário humano. Para ele, a fotografia
máquina fotográfica e o relógio: “A câmara é sempre ambígua, seja ela analógica ou di-
fotográfica incorpora o tempo do relógio gital, seja ela produto da realidade material
para seu funcionamento e se insere, através ou imaterial.
de suas imagens, no Tempo enquanto con- Material, imaterial, ilusão documental,
tingência. Com a fotografia, descobriu-se ambigüidade, vertigem: Boris nos convida a
que, embora ausente, o objeto poderia ser percorrer caminhos de memória e sentido.
(re)apresentado, eternamente. É este o tem-
po da representação, que perpetua a memó- Dulcilia H. Schroeder Buitoni é livre-do-
ria na longa duração” (p.146). cente, professora titular de jornalismo (ECA-
E aponta para as vertentes interdiscipli- USP) e professora de pós-graduação da Facul-
nares da investigação sobre a fotografia, pois dade Cásper Líbero