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com/2017/12/01/relacoes-entre-direito-cultura-e-cidadania
30 de novembro de 2017
Direito, cultura e cidadania são categorias que carregam consigo significados diversos. A
polissemia faz parte do processo de conceituação dessas categorias analíticas que, a
depender do contexto que são empregadas, podem assumir conotações e sentidos muito
diferentes.
No entanto, partindo de uma perspectiva holística pode-se dizer que direito, cultura e
cidadania são fenômenos que produzem intersecções no campo social, resultando numa
interação complexa, mas evidente. Não tratam-se de fenômenos incomunicáveis e não
relacionáveis, mas de processos que se retroalimentam no campo social e político.
Possuem, assim, uma profunda relação dialógica – na qual rompem-se com uma mera
proposição dialética – entre si em relação a outros elementos, em que diversos atores e
processos estão envolvidos: instituições políticas e jurídicas, identidades, ética, estética,
moral, subjetividade, cultura política e jurídica, movimentos sociais, organizações sociais
nacionais e internacionais, arte, diversas formas de conhecimento e epistemologia, dentre
outras[1].
Com o vicejar dos novos movimentos sociais ao longo da segunda metade do século XX,
as intersecções passaram a se tornar ainda mais claras e recorrentes, de modo que
estudiosos do direito, da cultura e da cidadania (juristas, antropólogos, sociólogos,
cientistas políticos) tiveram a necessidade de, cada vez mais, aprimorar seus métodos de
análise para uma compreensão mais profícua desses fenômenos.
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as categorias sociais (e também políticas), de modo que mudam-se as representações de
vida coletiva e pessoal[2].
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subjetividade e o desenvolvimento da capacidade reflexiva crítica, impulsionada pelas
artes e pela cultura de modo geral, poderá ser o sustentáculo para a construção dessa
cidadania.
Pode-se dizer, portanto, que o direito à diversidade, entendido de forma ampla, é um dos
aspectos centrais das relações entre direito, cultura e cidadania.
Nesse sentido, observa-se que as relações entre direito, cultura e cidadania estão para
além do direito à cultura – ou seja, o acesso aos bens culturais, a participação nas
decisões político-culturais e a possibilidade de produzir bens culturais –, de modo que uma
série de temas e questionamentos de edificam nesse terreno, se colocando como
contribuições profícuas e instigantes desafios para o século XXI.
[1] Cfe. BURCKHART, Thiago. Direito, cultura e cidadania. Curitiba : Editora Prismas, 2017.
[2] TOURAINE, Alain. Um nouveau paradigme. Pourcomprendrele monde d’aujourd’hui. Paris :Fayard, 2005, p. 9-11.
[3] Faz-se referências à clássica distinção e categorização de Norberto Bobbio entre direitos de primeira, segunda
e terceira geração. Para aprofundamentos, ver: BOBBIO, Norberto. L’età dei diritti. Torino: Einaudi 1990.
[4] Sobre o reconhecimento, ver: HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos
sociais. Trad. de Luiz Repa. São Paulo, Editora 34, 2003. FRASER, Nancy. “Fromredistributiontorecognition?
Dilemmasof justice in a ‘postsocialist’ age”. In: S. Seidman; J. Alexander. (orgs.). 2001. The new social
theoryreader. Londres: Routledge, 2001, pp. 285-293.
[5] Trata-se de uma questão central levantada por Stuart Hall, para aprofundamentos ver: HALL, Stuart. A
identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro : DP&A Editora, 2004.
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