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ÍNDICE

Introdução ...................................................................................................2

1. Evolução do Direito Civil

1.1. Contexto Histórico Europeu ........................................................... 3

1.2. Codificação Civil Portuguesa ......................................................... 4

1.2.1. Código Civil de Seabra ................................................................... 4

1.2.1. Código Civil de 1966 ....................................................................... 5

2. A Parte Geral

2.1. O Conceito de Parte Geral .............................................................. 7

2.2. Análise Crítica ................................................................................ 7

3. As Partes Especiais

3.1. A Relação com a Parte Geral ........................................................ 12

3.2. A Relação entre Família e Sucessões com Obrigações e Reais ... 12

3.3. Direito da Família e Direito das Sucessões .................................. 13

Conclusão ................................................................................................ 15

Bibliografia ............................................................................................. 16
Laura Lucena/Sofia Simões de Almeida
A Parte Geral e as Partes Especiais
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INTRODUÇÃO

Com este trabalho procurámos expor a problemática da Parte Geral do


actual código civil português. Era-nos impossível fazê-lo, sem antes o
contextualizar histórica e juridicamente.
Deste modo, propomo-nos enquadrar, explicitar e compreender o Código
Civil português de 1966. O primeiro passo é tentar descobrir o que é o direito
civil enquanto disciplina e a sua génese. De facto, descobrir as fontes do direito
civil, parece-nos decisivo para o entendimento daquilo que são hoje os nossos
direito e código civis. Sendo esta uma matéria tão vasta e dispersa, foi necessária
uma selecção de conteúdos feita tendo em vista as fontes que estão na origem do
direito civil português.
Igualmente relevante para a compreensão da actual codificação portuguesa
é o Código de Seabra, já que constitui um marco na codificação portuguesa, não
apenas por ter sido o primeiro, mas também por ter desencadeado uma discussão
pública nesta matéria jurídica. O seu contexto, as alterações que sofreu e as
consequências são pontos que pretendemos esclarecer.
Assim, poderemos entender porque e como surge o Código Civil de 1966,
cuja Parte Geral tem sido alvo de debate. Tentaremos perceber o porquê da sua
inclusão e da falta de consenso quanto à sua utilidade. Para tal, apoiar-nos-emos
na opinião dos mais diversos professores de direito. No entanto, tendo presente
que não é possível conhecer o código apenas pela sua Parte Geral, propomo-nos
analisar a sua parte especial e as alterações que tem vindo a sofrer,
nomeadamente aquando da Reforma de 77.
Concluindo, o nosso principal objectivo é compreender as questões que se
levantam no que diz respeito à Parte Geral do Código Civil português de 1966,
no entanto tentaremos percebê-lo como uma codificação integrada na história
jurídica da Europa, não ignorando, por isso, tudo o que está na sua origem.

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1. EVOLUÇÃO DO DIREITO CIVIL

1.1. CONTEXTO HISTÓRICO EUROPEU

O direito civil conheceu, ao longo da história, uma evolução no seu


sentido e significado. A sua origem remonta ao mundo romano e ao seu ius civile,
o sistema jurídico privativo dos cidadãos. Aqui encontramos a origem
etimológica do actual direito civil, ao qual se contrapunham o ius gentium —
direito das gentes —, o ius naturale — direito natural — e, ainda, o ius
praetorium ou honorarium — direito pretório ou honorário —. Este último foi
desenvolvido pelos pretores urbanos e pelos magistrados com poderes
jurisdicionais que tinham como objectivo, não apenas a interpretação, mas
também o melhoramento do ius civile já ultrapassado no seu formalismo,
simbolismo e processos morosos de elaboração face ao progresso da vida social e
económica.
No início do século XII, mais designadamente a partir do século XV e
XVI, assistimos ao renascimento do direito romano, pelo estudo das colectâneas
do Imperador Justiniano, datadas do século VI, época em que o ius praetorium e
o ius gentium se haviam já unificado. Esta colectânea recebeu o nome de Corpus
Iuris Civilis, por contraposição ao Corpus Iuris Canonici, estando dividido em
Institutas, Digesto ou Pandectas, Código ou Codex e Novelas. Consequentemente
verificou-se a recepção do direito romano como direito vigente e até principal
fonte jurídica em vários países europeus. Salienta-se ainda a formação de
diversas Escolas com o intuito de encontrar uma configuração medieval moderna
para o direito romano, tal deveu-se à investigação da ciência jurídica, feita na
Universidade de Bolonha e por legislação do direito canónico das mais diversas
épocas históricas1. Entre estas Escolas, destacam-se a Escola Francesa, que data
do século XVI e XVII, ou a Escola Histórica do Direito, do século XIX, cujo
objecto de estudo era o direito romano na sua essência, presente no Corpus Iuris
Civilis, que viria a revolucionar o direito comum vigente na Alemanha — Usus
Modernus Pandectarum — sendo Savigny um dos seus mais ilustres
representantes. O resultado estudo de ambas as Escolas reflectir-se-ia nos
fundamentos de todas as ordens jurídicas privadas continentais do século XIX e
XX. Entre as quais encontramos a sistematização do Code Civil, orientado pela
divisão das Institutas de Gaio, e o BGB alemão que seguiu a divisão do
Pandectas ou Digesto.
Neste sentido verificou-se uma evolução naquilo que consideramos ser a
classificação germânica, produto da Escola Histórica do Direito. O primeiro
contributo foi do jurista alemão Gustav Hugo que, numa obra de 1789, dividiu o
código civil em seis partes: Introdução, Ius in Rem, Obligatio, Direito da Família,
Direitos que pressupõem uma morte e Processo, não existindo uma Parte Geral.
1
Decretum Gracioni (1150), o Corpus Iuris Canonici (1415) e o fim do concílio do Tridentino e os seus
decretos (1563).

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Por seu turno, Arnold Heise opta igualmente por seis partes, onde inclui uma
Parte Geral e dispensa Processo. Como pontos comuns há a assinalar o relevo
dado à sistematização e a excessiva preocupação com a forma, em detrimento de
uma exposição global clara da matéria. Finalmente, Savigny adopta,
inicialmente, o esquema de Heise, mas mais tarde faz alterações na Parte Geral
que englobava as fontes do direito romano actual, a relação jurídica e o direito de
conflito — actual Direito Internacional Privado. A obra foi alvo de grande
consenso e aceitação geral dada a sua autoridade europeia e o apoio recebido por
outro grande jurisconsulto alemão, Windcheid. Esta classificação foi adoptada
pelos pandectistas do século XIX conhecendo uma certa estabilidade, não sendo,
no entanto, sinónimo de imobilismo; já que apenas com a codificação de 1896 se
fixaria um quadro definitivo.
Tudo isto terá consequências na codificação dos séculos XIX e XX, a que
daremos especial destaque aos códigos civis portugueses.

1.2. CODIFICAÇÃO CIVIL PORTUGUESA

1.2.1. CÓDIGO CIVIL DE SEABRA

O movimento codificador surgiu em Portugal com a divulgação dos


valores jusracionalistas. O país não sofreu a problemática da unificação jurídica.
Porém, outros factores afectaram o país, entre os quais se destacam a
desorganização e multiplicidade das fontes2, que já antes tinham sido motivo de
preocupação levando D. Maria I a uma tentativa de redacção de um “Novo
Código”, que não logrou efeitos, tendo até ponderado a hipótese da vigência do
código de Napoleão. No entanto, só em 1850, ao delegar-se ao Visconde Seabra a
tarefa da preparação do novo código se verificaram resultados, em parte devido à
conjectura propícia, mercê do advento das novas ideias liberais, reagindo ao
feudalismo e ao corporativismo. Dada a promulgação das primeiras leis
constitucionais urgia a sistematização da legislação civil em harmonia com este
novo ambiente.
O código de 1867 responde a estas necessidades com soluções novas e
únicas, ainda assim, assenta na tradição românica, no texto napoleónico, em que
se inspira mas que não segue integralmente, e no pensamento jusracionalista.
Apresenta um estilo único no que respeita às soluções apresentadas e ao rigor
lógico patente. O mesmo podemos dizer quanto à sistematização que não perfilha
na totalidade nenhuma das correntes com forte presença na Europa — francesa e
alemã —, embora tenha inspiração na primeira. No entanto, prima pela
originalidade ao estruturar o código em função de uma perspectiva
antropocêntrica do indivíduo enquanto sujeito activo na relação jurídica.
O Código de Seabra funciona como uma biografia do sujeito de direito
dividida em quatro partes. A Parte I trata da personalidade jurídica e da
capacidade dos sujeitos de direito. A segunda, de forma dinâmica, foca os
diversos modos de aquisição de direitos pelos sujeitos. Importa aqui ressalvar
2
Ordenações Afonsinas, Ordenações Filipinas e Ordenações Manuelinas

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que esta é uma questão central na formulação do Código de 1867, uma vez que a
realização da vida do homem jurídico se consuma na luta pela aquisição e
conservação dos seus direitos subjectivos, nomeadamente a propriedade de que
cuida a Parte III. Por fim, a Parte IV prevê a ofensa dos direitos subjectivos e os
modos de reparação das consequências danosas dessa ofensa — responsabilidade
civil.
Todavia, apontam-se alguns defeitos ao Código de Seabra, sobretudo pelo
esquecimento da natureza de alguns direitos subjectivos, no que toca à sua
integração em institutos como a família; aponta-se também a artificialidade da
estruturação da Parte II; e ainda a dificuldade prática em encontrar o tratamento
legislativo no diploma dos diversos sub-ramos da classificação romana e
germânica.
Quanto a isto Menezes Cordeiro é da opinião que “a qualidade do diploma
leva a que se pense que poderia ter sido mantido até aos nossos dias, podendo até
ter prevenido um certo positivismo exegético a que se regressou em 1966” 3. Já
Cabral Moncada afirma que o plano do Código de Seabra “se apreende
facilmente desde que tenhamos presente que o seu autor tomou como critério
fundamental para a divisão sistemática de toda a obra o elemento activo da
relação jurídica”4.
Com a Implantação da Republica, em 1910, o Código de Seabra sofreu
alterações profundas: em matéria sucessória com o aparecimento da sucessão
legítima e da criação do montante da quota disponível; em matéria matrimonial,
com a Lei do Divórcio, em 1911, que legalizava o divórcio, quer litigioso, quer
por mútuo consentimento; no direito da família estabeleceu-se o casamento civil
como única forma de matrimónio no país, e a perfilhação dos filhos adulterinos;
o registo civil passou a ser obrigatório, em 1911, e foi elaborada a Lei do
Inquilinato, em 1919. A maior parte destas modificações formaram uma
legislação extravagante, despoletando a preparação de um novo diploma.

1.2.2. CÓDIGO CIVIL DE 1966

A recepção da doutrina alemã ou, em termos juscientíficos, do pensamento


da terceira sistemática, a partir de 1900, torna justificável a codificação de 1966.
Isto porque, por um lado, a dimensão sistemática portuguesa era escassa o que
leva a recorrer a material estrangeiro, por outro lado, o pequeno número de
docentes, em funções, facultava alterações doutrinárias. Com efeito, nomes como
Guilherme Moreira, Manuel de Andrade, este em Coimbra, e Gomes da Silva, em
Lisboa, permitiram que a ciência jurídica, evoluída a partir da pandectística,
viesse a ser compartilhada pelos juristas nacionais.
O Código de 1867 foi substituído, em grande parte, pela série de críticas
apontadas: provocara numerosas dúvidas, conhecera variadas alterações por
diplomas extravagantes, perdendo parte do carácter de um verdadeiro código; a

3
In CORDEIRO, Menezes; Teoria Geral do Direito Civl — Volume I
4
In MENDES, Castro; Teoria Geral do Direito Civil

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não regulação de institutos juridicamente relevantes também foi apontada e ainda
apresentava um individualismo extremo.
Porém, há que salientar o mérito do código de 1966: consagrou a nível de
fontes o pensamento da sistemática integrada, agitou a doutrina qualitativamente
e consagrou vários institutos. Por outro lado, não é possível deixar de fazer uma
apreciação crítica: não conseguiu obter uma unidade cabal, nasceu antiquado,
aceitou a classificação germânica, apesar das críticas; mostrou-se pouco sensível
às preocupações do seu tempo, abusou de definições e de tomadas de posição
doutrinárias.
Fica a ideia de que a sistemática integrada permitia ao código civil uma
renovação cujos limites ainda não se conhecem, sendo de salientar a consagração
intensa de conceitos indeterminados que permitem e permitirão a descoberta de
soluções adequadas e razoáveis.
No entanto, apesar de recente, a codificação de 1966 já conheceu diversas
alterações, mercê sobretudo do fim do Estado Novo e das consequentes
condições sociais e económicas. Destacam-se como alterações de fundo, o
alargamento de possibilidade de divórcio, a suspensão da enfiteuse, o regime do
arrendamento rural e urbano. Com a elaboração da nova Constituição previa-se
que as normas de direito anterior fossem adoptadas aos princípios por ela
consignados5 o que justifica as alterações referidas, bem como o
desencadeamento da Reforma de 77, que foi além do exigido, modificando o
início da maioridade para os dezoito anos e, em matéria sucessória, dando ao
cônjuge sobrevivo a posição de herdeiro legitimário.

5
Artigo 293º do Código Civil

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2. A PARTE GERAL

2.1. O CONCEITO DE PARTE GERAL

A Parte Geral dos códigos civis tem sido alvo de polémica quanto à sua
utilidade, Batista Machado explica o papel desta no conjunto da estrutura
codificadora, afirmando que “A existência das partes gerais resulta de uma
exigência de técnica jurídica: pretende evitar repetições, dar resposta a uma série
de questões preliminares cuja solução tem repercussões e se estende a todas as
regulamentações particulares que a lei vai estabelecer. Logo, as partes gerais são
como que competências de pré-decisões, fixadas antes de se tomar posição
perante as diferentes questões particulares, pondo em evidência aquelas
disposições que são comuns às várias matérias a regular. Daí que se possa afirmar
que as partes gerais têm um campo de aplicação particularmente vasto.” 6
Por seu lado, Oliveira Ascensão considera que “O Direito Civil tem
funcionado como depositário dos princípios gerais de direito, aquilo que é
comum a várias disciplinas, levando ao desenvolvimento de uma parte geral. São
aqui analisados os pilares das relações jurídicas, de conteúdo quase generalizável
a todo o direito. Dentro dessa parte geral ainda se deve distinguir dois domínios:
as normas sobre ramos (Título I) e o estudo em geral das relações jurídicas
(Título II).”
Oliveira Ascensão, à semelhança de Baptista Machado, tenta explicar a
razão da existência da Parte Geral e qual a sua função exacta na estrutura de
qualquer código civil. Consideram que a Parte Geral contem em si todas as
disposições generalizáveis aos sub-ramos de direito civil, consagrando os
princípios que presidem ao direito civil. No entanto, ambos se limitam a uma
exposição quanto a este tema, mas muitas são as vozes que se levantam para
comentar esta matéria, mostrando-se tanto a favor, como contra, visto esta ser
uma das questões que, a nível doutrinário, tem sido alvo de acesa discussão.

2.2. ANÁLISE CRÍTICA

A Parte Geral do Código Civil de 1966 não reúne consensos, quanto a esta
matéria encontramos as opiniões mais díspares, todas elas fundamentadas por
diversos argumentos, que são constantemente rebatidos por quem defende tese
oposta.
Para Menezes Cordeiro, a Parte Geral presta-se a críticas variadas, em
primeiro lugar, por dispensar a ciência do Direito, modo (único) de solucionar
casos concretos, tornando-se assim um puro “exercício teorético”. Deste modo, a
descoordenação entre a Parte Geral e as partes especiais é qualitativamente maior
do que a existente no seio destas últimas, havendo uma justaposição de técnicas
diversas.
6
In MACHADO, Baptista; Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador

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Aquele professor de direito considera existirem inconvenientes na Parte
Geral de diversa índole. Uma razão de argumento prende-se com os
inconvenientes científico-metodológicos, já que é uma tarefa da Ciência do
Direito a elaboração de uma verdadeira parte geral, cabendo ao juscientistas
manter uma permanente actividade nesse sentido, mercê da evolução juscientífica
que acompanha um direito em constante mutação.
Apontam-se também inconvenientes regulativos que se prendem com
dificuldades em articular um conjunto de regras gerais relevantes, por igual, para
as diversas partes; resultando assim uma Parte Geral que ou repete o consignado
nas partes especiais ou se remete ao silêncio.
Contam-se igualmente inconvenientes legislativos, que se explicam pelo o
facto de a Parte Geral conter princípios gerais que podem condicionar o
legislador na sua actividade, uma vez que existem inúmeras matérias em que
esses princípios não devem ter aplicação. Acontece, por exemplo, quando o
legislador tenta importar para casos específicos do direito civil, caso do direito da
família, princípios fundamentais consagrados na Parte Geral, mas que não podem
ter expressão no direito da família, induzindo, assim, o legislador a criar regimes
legais ou procedimentos que sejam errados, desde a sua concepção.
Verificam-se ainda inconvenientes didácticos e pedagógicos mercê das
abstracções que levam à necessidade de antecipar matérias “especiais” sob pena
de ininteligibilidade do discurso e a própria necessidade de firmar um
desenvolvimento incompleto, o que a torna pouco acolhedora para o estudo e de
difícil ensino.
Por fim, temos os inconvenientes significativo-ideológicos que derivam da
distorção que a Parte Geral introduz em toda a temática civil, o abstraccionismo
põe em causa o sistema de realização do Direito, sendo as pessoas são remetidas
para segundo plano.
Por sua vez, numa dimensão juscientífica, a Parte Geral é tida como um
domínio conceptualista onde têm lugar o irrealismo metodológico e o
juspositivismo que se materializam em desvios bloqueando a efectiva solução de
casos concretos.
Deste modo, torna-se de difícil compreensão a manutenção de uma Parte
Geral, mesmo depois da elaboração de outros códigos civis, como o suíço ou o
italiano, e até de críticas como a de Zitelmann, ou própria carta de Savigny a
Heise a pôr em causa a sua própria repartição de direito civil.
No entanto, Mota Pinto tem opinião diferente. Segundo este ilustre jurista,
a Parte Geral está divida em dois títulos que genericamente podemos relacionar
com a norma jurídica — dimensão fundamental do Direito que realiza os valores
jurídicos — e com a relação jurídica — critério de exposição e sistematização do
Direito. Esta é a base da estruturação do Código Civil na medida em que a Parte
Geral engloba os temas relativos aos elementos comuns a quatro espécies ou
modalidades de relações jurídicas.
Com efeito, a sistematização germânica tem a relação jurídica como meio
técnico de arrumação ou exposição do direito, uma vez que é um conceito
transparente e adequado para expressar a realidade social regulada pelo direito.
Tal acontece porque o direito não disciplina o homem isolado ou considerado em

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função dos seus objectivos individuais, mas o homem no seu comportamento
convivente. Logo, pressupõe a vida dos homens em relação e visa disciplinar os
interesses que advêm dessa conveniência, sendo reconhecidos poderes e
vinculações que constituem a relação jurídica.
O rigor e clareza da noção de relação jurídica caracterizam a
sistematização germânica como “científica” e “despersonalizadora”. Daí advém o
“veredicto anti-humanista” contra a noção de relação jurídica como base do
direito civil que submerge a pessoa humana na noção formal e abstracta de
sujeito de relação jurídica, remetendo-a para o mesmo nível das pessoas
colectivas que são igualmente sujeitos de relações jurídicas. Por isso se
caracterizam os Códigos de Seabra e o Civil Suíço nas suas disposições iniciais
por um “generoso e nobre humanismo”.
No entanto, apesar da crítica, não se pode negar a possibilidade de se
realizar uma eficaz protecção da personalidade e do seu círculo de direitos
essenciais. Bom exemplo é o actual Código Civil português que dá uma maior
amplitude dos direitos de personalidade do que o Código de Seabra. O que é
pretendido pela crítica não é negar a eficácia do sistema germânico, mas sim
dirigir-se ao modo de arrumação e exposição, mais do que ao conteúdo das
soluções. Logo, a relação jurídica em que assenta o sistema não deve fazer
esquecer que o Direito Civil tutela a personalidade jurídica do indivíduo humano.
Critica-se, ainda, a ausência de limites da teoria geral da relação jurídica,
pois a excessiva generalização da Parte Geral não tem em conta os
particularismos de certos tipos de negócios, verificando-se, assim, um vazio
jurídico.
Já Capelo de Sousa considera que o principal inconveniente a apontar à
Parte Geral é o de que esta não passaria de um simples “exercício teorético”
tornado lei, quando a sua elaboração seria uma tarefa da Ciência do Direito.
Todavia, considera tal argumento pouco convincente, visto que a Parte Geral tem
autonomia própria, não sendo um mero corolário de soluções jurídicas anteriores.
Sendo assim, julga evidente a possibilidade dos artigos da Parte Geral
poderem (e deverem) ser modificados, removidos e introduzidos novos,
acompanhando as alterações socio-económicas e mesmo a evolução juscientífica.
Estas disposições não formam qualquer plenitude lógica com as normas das
partes especiais, dado que há espaço para lacunas jurídicas, na medida em que as
normas gerais não valem para todos os casos, mas apenas para uma generalidade
de situações que caibam na letra e no espírito destes preceitos. Aponta-se ainda à
Parte Geral o facto de esta o não ser verdadeiramente, já que as regras gerais
estariam apenas presentes na secção do negocio jurídico e que, alguns desses
artigos, estariam melhor enquadrados na matéria dos “contratos”. Porém é
possível refutar estas tese, uma vez que os preceitos que regulam a personalidade
jurídica, a capacidade jurídica e as respectivas incapacidades de exercício e de
gozo valem em diversos tipos de relações jurídicas, o que não invalida a
existência de normas especiais e excepcionais ao regime geral.
De qualquer forma, a Parte Geral permite formular algo de comum em
diversas relações, o que nos conduz melhor na interpretação e integração das leis.
Quanto à inserção das disposições relativas ao negócio jurídico, na secção dos

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contratos, há que referir que, segundo Capelo Sousa, essa não é a melhor solução,
visto que esses preceitos valem também para negócios e actos jurídicos
personalísticos7, reais8, familiares9 e sucessórios10. No que diz respeito à crítica
relativamente às abstracções da Parte Geral, importa dizer que uma norma para o
ser verdadeiramente deve ser geral e abstracta, já que tal é uma garante de
igualdade, justiça, segurança e universalidade jurídicas.
Assim, verifica-se que a vários níveis são harmonizadas as normas gerais,
especiais e excepcionais, resultado da modernidade do direito, não apresentando
uma especial complexidade, nem perspectivando a Parte Geral como um
“calvário pedagógico”. É, pelo contrário, o melhor e maior enquadramento
jurídico das relações da vida social ao formular o que há de comum, especial e
excepcional.
Por fim, a Parte Geral tem o mérito de adaptação a várias mutações
constitucionais radicais, o que aconteceu com o BGB face às constituições de
1871, 1919 e de 1949, e com o presente Código de 1966 que se adaptou perante a
Constituição de 1976, visto que a Parte Geral não conheceu alterações com a
Reforma de 77.
Neste sentido é também a opinião de António Pinto Monteiro, que defende
que a Parte Geral reúne os princípios e as regras comuns a todo o direito civil,
sendo o resultado de um trabalho de “alto nível e profundidade”, e exigindo um
rigor técnico assinalável. Assim, facilita o conhecimento e a compreensão da lei,
bem como a sua aplicação prática. A questão polémica da Parte Geral refere-se
tanto às conotações que apresenta com um sistema ligado a correntes
metodológicas, historicamente ultrapassadas, como pela falta de limites a que
está sujeita.
Em defesa da Parte Geral importa dizer que esta tem um efeito de
racionalização, evitando que o legislador tivesse de recorrer a constantes
remissões, ou a inclusão numa das partes especiais, ou, ainda, a autonomização
numa secção particular.
Entre os autores que condenam a Parte Geral há quem lhe reconheça
vantagens científicas, pois a sua construção “pertence às tarefas irrenunciáveis de
uma ciência do direito, desde que esta se entenda como sistemática (…). Só a
Parte Geral garante a coerência intelectual e metodológica de uma ordem jurídica
cientificamente concebida”11. Todavia, a Parte Geral tem como desvantagem o
seu carácter axiomático ao estabelecer princípios aplicáveis a vários institutos,
aspecto esse exacerbado pela pandectística. As grandes críticas têm como
fundamento uma pretensão da Parte Geral em tornar-se um sistema fechado e
auto-suficiente, estritamente “científico e neutral”, não abrindo portas ao
humanismo, reduzindo-se a conceitos gerais e abstractos. Como sistema externo
seria um sistema de exposição de matéria, e como interno espelharia
integralmente a realidade normativa em si mesma. Para além destes, outros
inconvenientes se salientam, a fractura entre um sistema externo fixo e um
7
Artigo 81º do Código Civil
8
Artigo 1316º do Código Civil
9
Artigo 1599º do Código Civil
10
Artigo 2028º do Código Civil
11
VÁRIOS, Comemorações dos 35 anos do Código Civil e 25 anos da Reforma de 77 — Volume II

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sistema interno em “permanente fieri”, sendo de destaque que, mesmo
externamente, o Pandectas prima pela incoerência de critérios, pois mistura um
critério institucional, base do Direito da Família e do Direito das Sucessões, com
um critério estrutural, no Direito das Obrigações e no Direito das Coisas.
De todo o modo, há ainda a dizer que a generalidade e abstracção da Parte
Geral impõe uma reflexão sobre os seus limites através da admissão de
excepções às regras gerais, como também defende Mota Pinto.
Concluindo, importa salientar que a Parte Geral é um mero sistema de
exposição que não pode ser confundido com o direito civil em si mesmo.
Por seu turno, Claus Wilhem Canaris, professor na Faculdade de Direito
da Universidade de Munique, faz, inicialmente, uma comparação entre vários
Códigos Civis, destacando que o sistema de classificação germânica é comum ao
nosso actual Código Civil e ao BGB. Enquanto o Código Civil suíço solucionou
os seus problemas através de uma remissão para o Direito das Obrigações sobre
contratos, sendo que este é um direito autónomo ao Código Civil, e o Codice
Civile e o Código Civil holandês dispensam a Parte Gera, o que é salientar dado
que fazem uma síntese entre os elementos direitos francês e alemão.
Partindo da crítica de Ernst Zitelmann, uma Parte Geral tem três funções;
servir a sistemática científica, transmitir conteúdos jurídicos no ensino e elaborar
leis. Este autor acusa todo o sistema do Pandectas de não se orientar por só
critério, mas por dois distintos, combinados. Assim, o direito da Família e o das
Sucessões faria parte de um mundo natural e social, enquanto que o Direito das
Obrigações e o Direito das Coisas seriam fenómenos do mundo do direito e em
categorias puramente jurídicas. Consequentemente, Família e Sucessões teriam
como base a concessão de hipóteses, enquanto Obrigações e Coisas estariam
relacionadas com consequências jurídicas.
Esta distinção encontra-se também na Parte Geral formada por um duplo
critério. Zitelmann critica, tal como o fez, mais tarde, entre nós, Menezes
Cordeiro, a dificuldade de transmissão na perspectiva didáctica da Parte Geral,
mercê da sua abstracção e falta de plasticidade.
No que toca ao valor da Parte Geral para a legislação, Zitelmann propõe a
sua eliminação com base na diversidade de matérias aí disciplinadas, percorrendo
essas matérias, sugere outros locais no BGB para sua disciplina até só restarem
os negócios jurídicos. Para estes, Zitelmann reconhece a necessidade de um
regime geral, mas considera a designação de Parte Geral demasiada excessiva.
Contudo, esta pode não ser a melhor solução, visto que, apesar da unidade
interna das matérias, as proporções externas dos diversos livros afastar-se-iam
totalmente do seu equilíbrio. Seria melhor renunciar ao negócio jurídico como
parte autónoma do Código Civil e disciplinar os problemas respectivos nas
obrigações, nomeadamente no Título dos contratos.
Concluindo, a inclusão da Parte Geral no Código Civil de 1966, em
particular, e nos restantes códigos civis, em geral, não reúne consenso,
apontando-se inconvenientes de diversa ordem ou, pelo contrário, vendo aí
vantagens. De facto, esta é uma questão polémica, mas não é, por isso, uma
menos valia, na realidade permite um debate de ideias, que só logra resultados
positivos, contribuindo para a evolução juscientífica do direito civil.

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3. AS PARTES ESPECIAIS

3.1. A RELAÇÃO COM A PARTE GERAL

O nosso Código Civil é composto por 2334 artigos ordenados


ponderosamente pelo legislador e cada um deles deve ser entendido
relativamente aos outros, já que para a disciplina completa de uma qualquer
situação concreta, é necessária a união de vários preceitos tanto da Parte Geral
como das Partes Especiais. Como salientou a Comissão elaboradora do actual
Código Civil, há na Parte Geral um amplo e substancial “fundo normativo
comum” às várias Partes Especiais, o que determina geralmente a aplicação das
normas da Parte Geral sempre que nas Especiais não contenham disposições
sobre uma dada situação concreta. Contudo, quando a relação disciplinar um
âmbito comum a ambas as partes há uma predominância das normas especiais
como diz o artigo 7.º, n.º 3 do Código Civil.
Logo, podemos deparar-nos com casos em que a norma geral tem uma
aplicação subsidiária ou outros em que a disposição especial tem um valor
superior e, por isso, é aplicada em detrimento da regra geral. No entanto, atente-
se em diferentes situações. Pode acontecer que a norma especial seja contrária à
correspondente norma geral e então só a primeira valerá para a regulação da
situação; é o que ocorre com o artigo 2187º relativamente ao artigo 236º que
tratam, respectivamente, a interpretação do testamento e a interpretação dos
negócios jurídicos em geral. Por sua vez, a norma especial pode apenas modificar
parcialmente a correlativa norma geral, pelo que se deve proceder à sua
compatibilização, como acontece à falta de declaração de consciência no
casamento que só acarreta anulabilidade conforme o artigo 1635º alínea a),
enquanto nos negócios jurídicos em geral produz inexistência jurídica pelo artigo
246º; neste caso, há uma consagração da hipótese, mas com uma estatuição
diferente. Finalmente, as normas da Parte Especial podem ser tão inovadoras ou
ter o intuito da total regulação de uma determinada matéria da Parte Geral que só
essas normas se aplicam, como presume a parte final do n.º2 do artigo 7º.

3.2. A RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E SUCESSÕES COM OBRIGAÇÕES E


REAIS

As normas dos Direitos das Obrigações e das Coisas são tidas como uma
base normativa intermédia entre a Parte Geral e o Direito da Família e o das
Sucessões, existindo uma razão jurídica para a sequência das diversas partes do
Código Civil.
Com efeito, há normas que, previstas nas Obrigações ou nas Coisas,
regulam obrigações e relações jurídicas reais fruto ou espelho dos Direitos da
Família e das Sucessões, mas que aí carecem de regulação específica ou total,
têm aplicação subsidiária. A título de exemplo, às doações por morte a esposados,

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A Parte Geral e as Partes Especiais
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feitas pelo outro esposado ou por terceiro, e a terceiro, feita por um ou ambos os
esposados, aplicam-se, subsidiariamente, o regime das obrigações em geral, dos
contratos e dos contratos de doação nos âmbitos familiar e sucessório. Por seu
turno, determinados factos jurídicos de incidência familiar e sucessória podem
traduzir-se em factos jurídicos e relações jurídicas obrigacionais e reais “não
autónomas” que, por isso, não são estruturalmente de âmbito familiar nem
sucessória, mas somente pela sua função, são as relações estruturalmente
obrigacionais. Por outro lado, constituem-se nas relações familiares a na sucessão
mortis causa obrigações relativas que serão reguladas, em ausência de disposição
especial, pelo Livro das Obrigações. O mesmo acontece com certos direitos reais
perante normas do Direito da Família e do Direito das Sucessões.
Por fim, verifica-se a existência de situações de oposição12, modificação13
e inovação14 no Direito da Família e no Direito das Sucessões sobre campos
normativos das Obrigações e das coisas semelhantes às que ocorrem com a Parte
Geral em termos de consequências.

3.3. DIREITO DA FAMÍLIA E DIREITO DAS SUCESSÕES

O Direito da Família e o Direito das Sucessões relacionam-se na medida


em que há uma chamada da sucessão a favor dos familiares mais próximos em
vantagem do desenvolvimento e multiplicação do núcleo familiar. É nesta
perspectiva que certos vínculos familiares, bem como a sua constituição,
reconhecimento, invalidade e extinção se reflectem no Direito das Sucessões. Daí
que se procure no Direito da Família diversos pressupostos normativos como é o
caso da preferência sucessória de graus de parentesco — artigo 2134º —,
havendo também diversos factos jurídicos sucessórios incidentes sobre relações
jurídicas familiares pendentes. Deste modo, alguns autores tomam o Direito das
Sucessões como mero Direito Patrimonial da Família 15, disciplinado segundo as
exigências do modelo familiar. Porém, esta teoria não vale para a propriedade dos
não casados e mesmo na constância do casamento o património não parece ser
“mais familiar que pessoal”, pois a propriedade é limitada no regime da
separação de bens16.
Logo, a tese da autonomia do Direito das Sucessões é dominante 17. Há
interesses e valores próprios neste sub-ramo que especificamente garantem a
transmissão das relações jurídicas activas e passivas da pessoa falecida e
12
A proibição de contratos de compra e venda entre os cônjuges (artigo 1714º, n.º2) contrapõe-se à regra
da liberdade contratual (artigo 405º).
13
O artigo 1682º-A, n.º1, alínea a) implica uma modificação mais exigente do regime geral previsto no
artigo 1305º, para garantir os interesses globais e a coesão do agregado familiar.
14
Em particular, a propriedade comum conjugal e a propriedade comum sobre herança indivisa conduzem
a um património comum, de base germanística, e normalmente à partilha. Diferentemente se regula a
compropriedade que pode cessar através da divisão.
15
LEITE DE CAMPOS, Diogo, Direito da Família e das Sucessões — Relatório
16
Mesmo em comunhão de bens, em princípio, o cônjuge tem total propriedade, administração e
disposição dos seus bens, assim como a liberdade para contrair dividas da sua exclusiva responsabilidade.
17
PEREIRA COELHO, Direito das Sucessões; PAMPLONA CORTE-REAL, Direito da Família e das
Sucessões, Relatório.

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A Parte Geral e as Partes Especiais
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solucionam conflitos e consequentes disputas de bens. Como prova destacam-se
algumas hipóteses sucessórias autónomas das relações familiares: a declaração da
herança vaga e a consequente posição do Estado como sucessor legítimo —
artigo 2133º, n.º1, alínea e).
Em suma, o fenómeno sucessório é tido como contínuo, complexo e
autónomo das exigências do modelo familiar, não se justificando qualquer
subordinação ou inferiorização do Direito das Sucessões perante o Direito da
Família.

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CONCLUSÃO

O desafio que nos propusemos com este trabalho prendia-se,


fundamentalmente, em perceber o porquê da inexistência de consenso quanto à
inclusão da Parte Geral no Código Civil de 1966.
No entanto, julgámos inviável qualquer estudo do actual Código Civil,
sem antes descobrir as suas origens. Para isso recuámos à era romana onde
encontrámos as raízes da sistematização codificadora no Corpus Iuris Civilis, que
viria a servir de matriz às primeiras codificações modernas — o Code Civil
francês e o BGB alemão —. Estas que viriam a estar na base das futuras
codificações portuguesas.
O primeiro Código Civil português data de 1867 e tem uma importância
fundamental na compreensão do actual código, uma vez que é a partir dele, dos
estudos críticos sobre ele realizados e da discussão por ele despoletada nos meios
académicos que é possível perceber em que contexto surge a codificação de
1966. No entanto, para a explicar concorrem outros factores de índole histórico-
juridica que não foram ignorados.
Todo este percurso concorria para a compreensão da Parte Geral do
Código Civil de 1966 e da polémica em seu redor. Ficou claro que não existe
apenas uma opinião válida ou mesmo uma corrente de opinião maioritária, mas
sim uma pluralidade de pontos de vista. Apresentando argumentos variados,
como a despersonalização do Código Civil, por um lado, ou, pelo contrário, a
maior eficácia da protecção dos direitos de personalidade, do outro, o importante
a retirar daqui é que as críticas visam mais a forma que o conteúdo e permitem
um debate sobre o direito civil, patrocinando a sua evolução.
Em suma, a inclusão de uma Parte Geral na codificação de 1966 levantou
várias outras questões a que foi necessário responder para um entendimento cabal
do debate que, entretanto, se gerou. Esperamos, assim, ter contribuído para o
esclarecimento deste assunto.

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Laura Lucena/Sofia Simões de Almeida
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BIBLIOGRAFIA

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Editores

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Civil e dos 25 anos da Reforma de 77 – vol II, Coimbra Editores

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