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APLICAÇÃO DOS ROYALTIES PETROLÍFEROS E SEUS IMPACTOS NO ESTADO DE

SERGIPE: UMA ANÁLISE INSUMO-PRODUTO

Rafaela Nascimento Santos – UFS1


Carolina Câmara Santos – UFS2
Luiz Carlos de Santana Ribeiro – UFS3

RESUMO
A exploração e a produção de petróleo nas localidades proporcionaram o pagamento de valores reais pelos
concessionários, constituindo os royalties do petróleo. Desta forma, a renda petrolífera proporcionou efeitos
na economia dos municípios produtores e afetados. O objetivo do presente trabalho é mensurar os impactos
dos royalties do petróleo no Estado de Sergipe. Com isso, foi utilizada a Matriz de Insumo-Produto
Interregional do Nordeste – Estados (GUILHOTO et al., 2010), ano base 2008. Os principais resultados
mostram que a economia sergipana apresenta fraca integração macrorregional frente ao resto do Brasil.
Palavras-chave: Royalties do petróleo; Saúde; Educação; Sergipe.
ABSTRACT
The exploration and production of oil in the localities provided the payment of real amounts by the
concessionaires, constituting the royalties of oil. Therefore, the oil income has had effects on the economy
of the producing and affected municipalities. This paper aims to measure the impacts of oil royalties in the
State of Sergipe. An inter-regional input-output matrix was used (GUILHOTO et al., 2010), base year 2008.
The main results show that the Sergipe economy presents weak macro-regional integration in relation to
the rest of Brazil.
Keywords: Petroleum royalties,health, education, Sergipe.

ÁREA 3: ECONOMIA REGIONAL E URBANA

JEL-CODES: R15

1
Mestranda pelo NUPEC/UFS e pesquisadora do LEADER.
2
Mestranda pelo NUPEC/UFS e pesquisadora do LEADER.
3
Professor adjunto programa acadêmico de mestrado em economia NUPEC/UFS e coordenador do LEADER.
1. INTRODUÇÃO
A crescente exploração de petróleo e gás natural no Brasil provocou impactos negativos, como
degradação do meio ambiente e perda do bem-estar das localidades, aos municípios produtores ou aqueles
afetados. Em consequência desta situação, o Governo Federal mudou o aparato institucional; os royalties
passaram a ser uma forma de pagamento para municípios e estados exploradores, produtores e afetados.
De acordo com o inciso II do art.45 da Lei 9.478/1997 – conhecida como a Lei do Petróleo, os
royalties constituem uma compensação financeira paga mensalmente pelos concessionários em decorrência
da exploração e produção de petróleo ou gás natural. Deste modo, com a Lei do Petróleo surgiram mudanças
como novos critérios de cálculo e distribuição desta renda para municípios afetados de alguma forma pela
produção de petróleo e gás natural. A nova lei ampliou de 5% para até 10% do Valor Bruto da Produção
(VBP) destinado em forma de royalties. A expansão do setor petrolífero, favorecido pela escalada dos
preços internacionais de matéria prima, favoreceu o aumento da arrecadação de royalties do petróleo e do
gás natural. Este cenário proporcionou aumento das receitas dos municípios beneficiados. Com isso, faz-se
necessário analisar o comportamento deste recurso no bem-estar social das municipalidades.
O objetivo geral do presente trabalho é mensurar os impactos das rendas petrolíferas em Sergipe e
analisar de que forma esses impactos se distribuem na estrutura produtiva do estado.
Assim, o que se buscou foi detectar qual a relação que os royalties do petróleo possuem na economia
do Estado de Sergipe. Dessa maneira, o objetivo específico é examinar por meio da Matriz de Insumo-
Produto Interregional do Nordeste – Estados (GUILHOTO et al., 2010), os tipos de efeitos que os royalties
causam em Sergipe. Para tal, consideraram-se informações dos repasses dos royalties dos 75 municípios
sergipanos nos períodos de 2000, 2005, 2008, 2010 e 2016, de forma exploratória.
O artigo está estruturado em cinco seções incluindo a introdução. A segunda seção é referente à
revisão da literatura, em que se trata do debate dos efeitos da aplicação dos royalties do petróleo no Brasil
e em Sergipe. A terceira seção descreve o modelo de insumo-produto. Na quarta seção exibe-se a análise e
a discussão dos resultados. E, por fim, as considerações finais.

2. O DEBATE SOBRE APLICAÇÃO DOS ROYALTIES PETROLÍFEROS

Esta seção apresenta a discussão sobre os royalties petrolíferos em relação aos diversos impactos
que este recurso proporciona na economia. E, com isso, serão abordados estudos empíricos sobre os efeitos
dos royalties petrolíferos nos municípios brasileiros e, de forma específica, no estado de Sergipe, além de
apresentar estudos com aplicação de matrizes de insumo-produto.

2.1 Aplicação dos Royalties no Brasil

Existe vasta literatura sobre as possíveis aplicações do royalty no desenvolvimento local dos
municípios beneficiados e, consequentemente, os efeitos que este recurso proporciona para economia. Com
isso, o presente trabalho irá abordar temas específicos sobre desenvolvimento, finanças públicas e
indicadores sociais.

2.1.1 Desenvolvimento

Em relação aos impactos dos royalties sobre o desenvolvimento, existem estudos importantes como,
por exemplo, Pacheco (2003), Postali (2007), Caçador e Monte (2013) e Schlindwein et al. (2014).
Com base na importância dos royalties petrolíferos nas receitas dos municípios confrontantes da
Bacia de Campos, no Estado do Rio de Janeiro, observou-se no estudo de Pacheco (2003) a confirmação
de que os royalties e participações especiais estão possibilitando maiores investimentos em infraestrutura
nos municípios contemplados e, da mesma forma, estão sendo utilizados para fornecer, aos governos locais,
os recursos necessários para suprir a demanda excessiva por serviços públicos. Ao mesmo tempo, não se
verificou ações concretas para a promoção de um projeto de sustentabilidade e de diversificação da base
produtiva local, de modo a prevenir o declínio econômico, decorrente da exaustão das reservas de
hidrocarbonetos.
Postali (2007) utilizou a metodologia econométrica de diferenças em diferenças (DD) para comparar
a evolução de indicadores nos municípios afetados e não afetados pela aprovação da nova lei do petróleo
por meio da utilização de dados sobre taxa de crescimento do PIB per capita municipal e do IDH dos
municípios, antes e depois do evento. O autor concluiu que há uma relação negativa entre o volume de
royalties transferido ao município e a taxa de crescimento de seu PIB.
Segundo a estimação do modelo empírico para avaliar se os royalties afetaram os indicadores
municipais de desenvolvimento, Caçador e Monte (2013) obtiveram como resultado que os recursos
petrolíferos não contribuíram significativamente para a melhoria dos indicadores locais de
desenvolvimento.
A partir da criação do um Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDS), Schlindwein et al.
(2014), utilizaram análise multivariada cujo resultado refutava a hipótese de que o indicador de
desenvolvimento dos municípios lindeiros do Oeste Paranaense, que são municípios localizados ao lago de
Itaipu, são condizente com a arrecadação dos royalties, isto é, refutou-se a ideia de que quanto maior a
arrecadação do recurso, maior o IDS dos municípios. Além disso, a correlação entre o IDS e a arrecadação
dos royalties mostrou que todos os municípios apresentaram correlação negativa, ou seja, o aumento (ou
baixa) dos valores do IDS está correlacionado com a redução (ou alta) dos valores dos royalties.

2.1.2 Finanças Públicas

No que se refere ao impacto do recurso petrolífero sobre finanças públicas dos municípios, existem
estudos como Silva (2007), Ribeiro et al. (2009), Reis (2013) e Carnicelli e Postali (2014).
De acordo com Silva (2007), a trajetória dos municípios produtores de petróleo é marcada por
caminhos e descaminhos no desempenho das finanças públicas e na provisão de bens e serviços públicos.
Caminhos que levam à melhoria do desempenho das finanças públicas e da qualidade dos bens e serviços
públicos. Descaminhos que levam à ineficiência na provisão de bens e serviços e na captura dos recursos
públicos.
Ribeiro et al. (2009) buscaram identificar os efeitos das receitas de royalties dos governos
municipais do Estado do Espírito Santo e no PIB per capita dos respectivos municípios. De forma geral,
foram coletados dados de todos os 78 municípios do Estado do Espírito Santo, entre os períodos de 1999 a
2004. O método utilizado foi o modelo econométrico de dados em painel equilibrado com regressão
múltipla, para encontrar as relações entre as variáveis, ou seja, dois modelos foram utilizados para testar a
elasticidade do PIB per capita municipal em relação a royalties. O principal resultado, indica que não há
evidência dos impactos das relações do PIB per capita nos munícipios analisados.
Reis (2013) analisa por meio de um modelo de dados em painel os efeitos da aplicação dos royalties
do petróleo nas finanças públicas dos entres federativos no período de 1999 a 2011. Foi verificado que os
municípios dependentes das rendas petrolíferas elevaram as despesas de capital com o aumento dos
royalties. Por outro lado, observou-se que as despesas com pessoal foram influencias pelos royalties per
capita de todos os municípios. Vale ressaltar que as despesas com educação e saúde também foram
influenciadas pelo ingresso dos royalties.
Por fim, o método aplicado no estudo de Carnicelli e Postali (2014) é duplamente robusto a um
painel de municípios observados entre 2000 e 2009. O método compõe-se de dois estágios. Primeiramente,
estimaram-se as probabilidades de recepção de receitas do petróleo condicionadas a variáveis observáveis;
em um segundo estágio, estimou-se um painel de efeitos fixos no conjunto de observações pertencentes a
um suporte comum construído a partir dos propensity scores estimados no primeiro estágio. Diante disso,
concluiu-se que as prefeituras elevam o seu quadro de funcionários perante o usufruto de rendas do petróleo,
mas a despesa média com pessoal não aumenta nas cidades pertencentes ao grupo de tratamento.
2.1.3 Indicadores Sociais

Sobre os efeitos do royalty do petróleo nos indicadores sociais, destacam-se os estudos de Terra et
al. (2007), Givisiez e Oliveira (2008), Postali e Nishijima (2011), Tavares e Almeida (2014).
Terra et al. (2007) analisaram o potencial redistributivo das rendas petrolíferas por meio do estudo
do padrão de investimentos públicos interurbanos no município brasileiro melhor beneficiado com as
receitas oriundas das rendas petrolíferas – Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. A partir
desta análise, concluíram que a folga orçamentária deste município “novo rico” não tem se transformado
em mecanismo redutor das desigualdades interurbanas, ao contrário, vem reforçando-as.
O método aplicado na pesquisa de Givisiez e Oliveira (2008) inclui o levantamento de séries
históricas de indicadores de educação, com base nos Censos Escolares e Prova Brasil. Os autores
compararam a evolução de determinado grupo de municípios com um grupo de municípios de controle, por
meio de regressões logísticas. Os resultados refutam a hipótese levantada no trabalho indicando que as
vantagens orçamentárias desses municípios não têm se refletido em melhorias nos indicadores de educação.
Postali e Nishijima (2011) utilizaram o Índice Firjan de Desenvolvimento Social (IFDM) como
medida de desenvolvimento social, para verificar se os royalties distribuídos sob esta lei contribuíram para
a melhoria dos indicadores sociais dos municípios contemplados, em relação à média nacional, no período
de 2000 a 2007. Os resultados mostraram que as rendas do petróleo não produziram impactos significativos
nos indicadores sociais de saúde e de educação dos municípios beneficiados, mas, de forma surpreendente,
geraram efeitos negativos sobre seus setores formais de trabalho.
Nos estudos de Tavares e Almeida (2014) foi averiguado que os royalties do petróleo aumentam,
em média, os gastos com educação e saúde nos municípios beneficiários, em R$ 2 bilhões e R$ 1,97 bilhões
ao longo do período de 10 anos, respectivamente. No entanto, o impacto dos royalties não se traduziu
diretamente no aumento do desenvolvimento social medido pelo IDH.
Em suma, os estudos expostos mostram que a aplicação dos royalties petrolíferos não está gerando
impactos positivos nos indicadores de desenvolvimento dos municípios beneficiados.
Por fim, os estudos referentes aos royalties petrolíferos apresentam uma abordagem econométrica
para analisar o impacto na economia. Ressalta-se que na literatura não há uma análise de impacto dos
royalties por meio do método de matriz insumo-produto. Desta forma, o presente trabalho irá mostrar essa
nova abordagem, sendo assim, uma contribuição para a literatura empírica de royalties no sentido de
oferecer novos resultados para a discussão. A próxima seção apresenta os aspectos metodológicos do
trabalho, descrevendo o modelo de insumo-produto.

2.2 Aplicação dos Royalties em Sergipe

No caso especifico de Sergipe, a arrecadação dos royalties no estado proporcionou uma


característica que merece investigação. De acordo com Lacerda (2011), os investimentos na cadeia
produtiva de petróleo e gás são um dos principais fatores de diferenciação de Sergipe em relação à média
dos Estados nordestinos, mostrando inclusive que a economia sergipana tenha crescido sistematicamente
acima da média do Nordeste e do Brasil desde os anos setenta. Sintomaticamente, os melhores indicadores
de renda, de acesso a bens de consumo e a serviços públicos pelas famílias na região Nordeste se verificam,
por ordem, em Sergipe e no Rio Grande do Norte, que têm na exploração do petróleo uma das principais
fontes de geração de riqueza.
Para Sergipe, há estudos que investigam a influência dos royalties petrolíferos, em nível das
municipalidades, sobre indicadores de finanças públicas e sobre indicadores sociais, como é o caso de
Nogueira e Santana (2008) e Silva et al. (2014).
Em relação às finanças públicas, Nogueira e Santana (2008) investigam os principais municípios
sergipanos em termos de receitas de royalties, mostrando que, no período entre 2000 e 2006, estas receitas
chegavam a atingir mais de 30% das receitas totais dos respectivos municípios. Os resultados apresentados
pelos autores mostram que a elevação dos royalties, contudo, não tinha como regra geral o aumento dos
investimentos nos principais municípios sergipanos beneficiários dessas receitas.
Quando se trata de estudar a relação entre royalties e desenvolvimento local sergipano, merece ser
citado o trabalho de Silva et al. (2014). Os autores trabalham a partir de uma metodologia descritiva, no
período de 2000 a 2010, analisando a evolução do peso das rendas petrolíferas sobre as receitas tributarias
e orçamentárias dos municípios, além de utilizarem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) e o
IFDM. Os autores mostram que, mesmo com o forte crescimento da arrecadação de royalties, não houve
melhora na posição ocupada pelos municípios sergipanos nos rankings do IDHM e IFDM. Por fim, o
conjunto de municípios sergipanos selecionados como maiores beneficiários não apresentou desempenho
convincente, capaz de garantir que os recursos petrolíferos estejam gerando desenvolvimento nessas
localidades.

3. MÉTODO E BASE DE DADOS

A principal base de dados utilizada é referente à matriz interregional de Insumo-Produto para o


Brasil, ano da matriz 2008. Para o presente trabalho, foi utilizado um sistema setor x setor com agregação
de 26 setores e 2 regiões (Sergipe e restante do Brasil), cuja matriz utilizada é inspirada no trabalho de
Guilhoto et al. (2010).
No presente artigo, são utilizados os valores dos royalties dos municípios de Sergipe como choques
exógenos na demanda final. Como resultado, tem-se a variação (impacto) na produção, no emprego ou em
quaisquer outras variáveis econômicas presentes na matriz. A base de dados dos royalties foi deflacionada
via indices de preço ao consumidor amplo no ano base de 2008.
A matriz de insumo-produto4 decompõe os fluxos entre as atividades econômicas e os fatores
primários, descrevendo a estrutura interna de cada setor produtivo e do conjunto da economia. Assim,
tornou-se uma ferramenta importante para analisar as relações entre os setores produtivos, identificando
seus efeitos multiplicadores sobre a produção, o emprego e a renda.

3.1 Modelo Insumo-Produto


É dito que a teoria de insumo-produto foi desenvolvida pelo economista russo Wassily Leontief.
Essa teoria permite identificar a interdependência das atividades dos setores produtivos em detrimento aos
insumos e produtos utilizados e decorrentes do processo de produção. Dada a natureza complexa do sistema
produtivo, sua melhor representação se daria por meio de matrizes, daí o nome Matriz Insumo-Produto
(MIP) (CARVALHEIRO, 1998).
A equação 1 apresenta a estrutura básica de insumo-produto interregional para duas regiões, L e M,
e abrange três setores produtivos na região L e dois setores produtivos na região M (MILLER; BLAIR,
2009).

𝑍 𝐿𝐿 ⋮ 𝑍 𝐿𝑀
Z=[ ⋯ ⋯ ⋯ ] (1)
𝑍 𝑀𝐿 ⋮ 𝑍 𝑀𝑀
O ZLM e ZML representam os fluxos interregionais e o Z LL
e ZMM representam os fluxos
intrarregionais.
𝑋 = (𝐼 − 𝐴)−1 𝑌 (2)
A Equação (2) é representa a solução do modelo, em que a Matriz Inversa de Leontief (L) é
especificada como (I - A) -1. O modelo interregional apresenta vantagens em relação aos modelos regionais,
devido a captura dos efeitos em cada setor e em cada região e as interdependências interregionais são
explicitadas tanto pelos setores da região ofertante quanto pelos setores da região demandante (RIBEIRO,

4 Consultar, Richardson (1978), Leontief (1983), Schaffer (1999), Haddad & Domingues (2003) e Miller & Blair (2009).
2013). É importante destacar que a análise de impacto ocorre via variações exógenas na demanda final (Y).
Em outras palavras, um choque de demanda produzirá um novo nível de produção (X) necessário para
atender esta variação. Na próxima seção exibe-se a análise e a discussão dos resultados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise de impacto tem como objetivo mensurar os impactos dos royalties do petróleo e a
distribuição setorial no Estado de Sergipe. Deste modo, a partir da matriz de insumo-produto, partindo do
modelo de Leontief (1977), pode-se mensurar o impacto que as mudanças ocorridas na demanda final (Y),
ou em cada um de seus componentes, teriam sobre a produção total, emprego, entre outros. Sendo assim,
para este trabalho, foi calculado o impacto dos royalties na produção total do Estado de Sergipe e no
emprego.
De acordo com a lei 12.858 dos royalties do petróleo sancionada em 2013, 75% dos royalties do
petróleo deve ser destinados à educação e 25% à saúde. Nesse sentido, na simulação assume-se que somente
esses dois setores sofrerão variações nas suas respectivas demandas finais.
O valor arrecadado para o ano de 2008 foi de aproximadamente R$ 202 milhões. Não obstante, para
calcular os impactos na produção e no emprego, o valor arrecadado foi desmembrado, conforme o
direcionamento da lei 12.858. Para compor o cálculo do impacto, para a educação foi utilizado um valor
arrecadado de aproximadamente R$ 152 milhões e para o setor da saúde, um valor arrecadado de
aproximadamente R$ 50 milhões.
Esses valores referentes aos royalties de petróleo foram deflacionados objetivando os preços do ano
base da matriz, no caso o ano de 2008. A deflação foi efetuada, por meio da variação do índice de preço ao
consumidor amplo (IPCA)5, tornando assim os valores compatíveis com os da matriz utilizada na análise
de impacto.
A Tabela 1 apresenta os impactos nas principais variáveis macroeconômicas consideradas no
modelo. Evidencia-se à possibilidade de interpretar esses números como impactos potenciais em relação ao
ano base da matriz.
Tabela 1: Impactos sobre variáveis macroeconômicas selecionadas

Impactos SE (%)
Produção 0,92
Emprego 0,89
Renda 1,77
PIB 0,99
Arrecadação ICMS 0,63
Arrecadação IPI 0,63

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da MIP – 2008.


A magnitude do impacto sobre as variáveis macroeconômicas está diretamente relacionada com os
coeficientes estruturais do modelo. Em outras palavras, os coeficientes de emprego (razão entre número de
empregos e valor bruto da produção do setor) e renda de Sergipe apresentaram valores maiores do que os
do Resto do Brasil, ou seja, Sergipe apresenta uma economia menor e, portanto, mais sensível a impactos
do que o resto do Brasil. Os royalties do petróleo arrecadados em Sergipe em 2008, se investidos em
Educação e Saúde, poderiam gerar impacto em torno de 0,9% na produção e no emprego, 1,77% na renda
e 1% no PIB.

5
O IPCA foi obtido no IPEADATA.
No intuito de avaliar o impacto temporal dos royalties, foram calculados os impactos na produção e
no emprego no Estado de Sergipe nos anos de 2000, 2005, 2010 e 2016 a partir das informações dos valores
de royalties de petróleo para os respectivos anos (Ver Gráfico 1).

Gráfico 1: Impacto na produção e no emprego do Estado de Sergipe

30
25
20
15
10
5
0
Produção Emprego
Impactos (%)

2000 2005 2010 2016

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da MIP-2008.

Os resultados obtidos mostram que os anos de 2005 e 2010 foram os que apresentaram maiores
impactos na produção e no emprego. Isso se deve ao grande impacto nos setores da educação e da saúde,
pois são as variáveis de referência e também por que os impactos são maiores na região que sofre a
intervenção, neste caso, o Estado de Sergipe. Pode-se dizer, que isto é esperado em simulações de insumo-
produto devido à linearidade presente no modelo.
Além disso, outros setores que compõem a economia sergipana também demonstraram um impacto
significativo, apresentado no período entre 2005 a 2010. A exploração de petróleo e gás natural e, a
produção de fertilizantes – importante insumo para agricultura - proporcionaria aumento na produção
industrial voltado para as indústrias extrativas.

Gráfico 2: Ranking dos setores da economia sergipana (compra e venda)

30.00

25.00

20.00

15.00

10.00

5.00

0.00

Ótica da Venda Ótica da Compra

Fonte: Elaboração própria com base nas simulações com o modelo de IP.
O gráfico 2 apresenta os resultados dos rankings dos setores em relação as compras e vendas de
insumo. O objetivo de apresentar esses resultados é discriminar o percentual de vendas setoriais para o
mesmo setor e também para os outros setores analisados. Neste processo, é possível visualizar
encadeamentos mais intensos e menos intensos entre os setores. Pela ótica das vendas, a indústria extrativa
ocupa a segunda posição com 21% das vendas, representando maiores fornecimentos de insumo para os
demais setores e demanda final.
Por outro lado, a indústria de transformação é uma atividade importante para setor. Segundo o
Observatório de Sergipe, a indústria de transformação é uma das atividades que mais tem gerado empregos,
só em 2010 foram 4.600 novos postos criados, ficando atrás apenas da construção civil. O setor de
construção ocupa a terceira posição pela ótica das compras, com 16,62%, entre os setores que possuem
maiores despesas com bens intermediários, sendo assim, um importante gerador de riqueza e de emprego
para o Estado. Já o setor de serviços públicos, como eletricidade, água e esgoto, também apresenta um
impacto significativo, pois com o potencial energético gerado pela usina de Xingó, proporcionaram maiores
níveis de armazenamento e produção de energia.
O impacto dos royalties na produção da economia sergipana apresenta uma concentração de 85,8
%, enquanto 14,2% transbordariam para o resto do Brasil. E além da produção, também foram calculados
os impactos para emprego, referente ao ano de 2008 em relação a Sergipe (Ver Gráfico 3).
A maior variação do impacto da produção seria no setor da Educação mercantil e pública, com um
percentual de aproximadamente (28,1%). No âmbito nacional, a educação faz parte da agenda de políticas
do governo. Pode-se dizer que essa variável, tem sido enfatizada como um determinante crítico para o
progresso econômico do país, um dos pilares basilar para a redução das desigualdades. Todavia, o maior
entrave ainda consiste na transformação desses gastos (TAVARES E ALMEIDA, 2014). Outros setores de
destaque são: Saúde mercantil e pública, com um percentual de aproximadamente (3,0%), Indústrias
diversas (0,6%), Construção (0,5%), Serviços privados (0,5%). Desta forma, há uma correlação dos setores
que apresentaram um maior impacto com aqueles que compõem a economia sergipana.

Gráfico 3: Impacto setoriais sobre a produção e o emprego de Sergipe

1.400 30.000

1.200 25.000
1.000
20.000
0.800
15.000
0.600
10.000
0.400

0.200 5.000

0.000 0.000

Impactos (%) Emprego Impactos (%) Produção


Fonte: Elaboração própria com base nas simulações com o modelo de IP.

O segmento da Educação mercantil e pública, maior impacto total na produção, obteve participação
de 9% da criação total de empregos em Sergipe, seguido por Saúde pública (4%). Outros setores de destaque
são: Serviços privados (0,4%), Artigos de borracha e plástico (0,2%), Construção (0,2%), Madeira, papel e
impressão (0,2%), Indústrias diversas (0,1%). No entanto, as atividades referentes ao resto do Brasil
apresentam impactos menores, mostrando também, um baixo grau de dependência com o resto do Brasil.
Para o resto do Brasil, os impactos nos setores apresentaram valores marginais, no qual não
apresentou relevância. Assim, é possível identificar que esses impactos referentes as atividades no resto do
Brasil são menores do que os verificados nas atividades sergipanas, o que sugere, num primeiro momento,
certa autossuficiência da economia de Sergipe, ou seja, um baixo grau de dependência em relação ao resto
da economia brasileira.
Visando complementar os resultados dos impactos na produção e no emprego, deve-se ressaltar que
as receitas públicas são fontes de recursos, que são utilizadas para manutenção das funções do Estado. De
acordo com Silva (2007), a trajetória dos municípios produtores de petróleo é marcada por caminhos e
descaminhos no desempenho das finanças públicas e na provisão de bens e serviços públicos. As despesas
geradas dependem diretamente de recursos ora cobrados, ora captados por meio de financiamentos diversos,
bem como de parcerias que gerarão recursos aos cofres públicos. Uma ineficiência dessa alocação de
recurso, pode ser considerado um descaminho no desempenho das finanças de um Estado.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é a responsável pelo
cálculo do valor, que cada Estado ou município recebe de royalties de petróleo e este valor é calculado com
base no preço internacional do petróleo e na produção local. Se há um aumento na produção e alta no valor
do barril de petróleo, então a arrecadação estadual tende a aumentar, impulsionando os investimentos nos
setores estaduais, mas se houver um efeito inverso, a arrecadação tenderá a diminuir, tendo um efeito direto
no impacto da produção.
Apesar de que alguns setores mostraram um impacto significativo, ainda há necessidade do
aprofundamento de análises como essa, visando uma metodologia de matriz insumo produto. Há uma
escassez na literatura de informações acerca de dados de impacto com esta magnitude.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste artigo foi simular os impactos decorrentes da arrecadação dos royalties do petróleo
no Estado de Sergipe. De forma especifica, foram estimados os impactos na produção e na geração de
emprego, para mostrar o peso que esta compensação financeira apresenta na economia do Estado. A
principal contribuição deste artigo, portanto, foi examinar os impactos dos royalties nos diversos setores da
economia.
Segundo Carnicelli e Postali (2014) as prefeituras elevam o seu quadro de funcionários perante o
usufruto de rendas do petróleo. Mas, no decorrer dos últimos dez anos, Sergipe apresentou um pequeno
impacto na geração de emprego, atingindo em média a 10%. Portando, contrariando a hipótese de que o
uso dos royalties petrolíferos podem elevar o quadro de empregados.
Mais especificamente, foram analisados os setores de educação e saúde, pois são os setores
atribuídos à destinação das rendas do petróleo para os Estados produtores e afetados. Por conseguinte,
foram averiguados que aplicação dos royalties proporcionou um impacto maior na educação apresentando
28% da produção e 9% de emprego, em comparação com os demais setores. Por outro lado, a saúde também
apresentou um impacto relevante na produção e no emprego, sendo 4% e 3% respectivamente.
A alocação dos recursos do petróleo para educação e saúde serve como propósito de sinalizar a
importância dada pelo Governo a esses setores no Brasil. Como meta fiscal, o Governo tende a aumentar
os recursos paras essas duas áreas, cujo Projeto de Lei Orçamentária Anual 2017, prevê que a saúde
apresentará um valor de 7% maior dos recursos em relação ao ano anterior e a educação apresentará uma
cifra de 2% maior dos recursos. Porém, a expansão petrolífera dos últimos anos, proporciona um aumento
na arrecadação da renda do petróleo, e consequentemente, uma maior aplicação na educação e saúde.
No propósito de melhorar o método de análise, pretende-se em estudos futuros utilizar de forma
complementar outros métodos de análise como, por exemplo, os quocientes locacionais, permitindo
determinar se um município em particular possui especialização em uma atividade especifica, abrangendo
a pesquisa para os municípios sergipanos que são beneficiários dos royalties petrolíferos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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