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PARASITOLOGIA

MÉDICA
17. STRONGYLOIDES STERCORALIS E
ESTRONGILOIDÍASE
Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia
Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de
Medicina e Saúde”, de

Luís Rey
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto Oswaldo Cruz
Departamento de Medicina Tropical
Rio de Janeiro
Strongyloides stercoralis
A família Strongyloididae Strongyloides stercoralis é pa-
compreende nematóides rasito freqüente da espécie
de vida livre que vivem em humana, desenvolvendo seu ciclo
vital em parte no solo, onde se
geral no solo ou na água. encontram fêmeas (A) e machos
(B), e parte como parasitos teci-
duais da parede intestinal, onde
só há fêmeas partenogenéticas
(F).
Estas produzem ovos (C) já em-
brionados ou parem larvas (D) de
tipo rabditóide, L1, que deixam a
mucosa e saem com as fezes.
No solo elas formam machos e
fêmeas que põem ovos de onde
eclodem outras larvas L1.
As larvas L1, de ambas origens
transformam-se no solo em L2 ou
A fêmea de vida livre (A) mede 1-1,5 mm;
o macho (B) 0,7 mm; a larva L1 (D) 200 a larvas filarióides infectantes (E),
300 µm; e L2 (E) 500 µm. Os ovos (C) não capazes de penetrar através da
são vistos nas fezes. pele humana.
Strongyloides stercoralis
A infecção é a estrongiloidíase
(= estrongiloidose ou anguilulose)
que pode ser assintomática, produzir
enterite ou enterocolite de maior ou
menor intensidade e, um quadro
grave e fatal nos pacientes que
usam corticóides.
O parasito (1a) apresenta dois
ciclos possíveis:
1) Ciclo direto: onde as larvas
rabditóides (1b) eliminadas com as
fezes transformam-se, no meio
exterior, em larvas filarióides (1c)
capazes de infectar diretamente as
pessoas;
2) Ciclo indireto: larvas rabditói-
des (2a) formam, no solo, machos e
fêmeas (2b) que produzem ovos (3-
4); estes eclodem produzindo larvas
L1 (5) que passam a L2 (6), infec-
tantes para aqueles que andam
Esquema representativo dos dois ciclos descalços ou põem alguma região
biológicos do Strongyloides stercoralis cutânea em contato com o solo.
(Segundo Piekarski), 1962.
Estrongiloidíase
Somente as larvas filarióides Essas circunstâncias explicam
são infectantes e penetram habi- a duração ou o aumento da
tualmente pela pele dos pés. população parasitária em certos
Mas podem infectar por via casos.
oral (sem fazer o ciclo pulmonar). Mas, a situação mais grave é a
Além da hetero-infecção, em decorrente do uso de doses
que o parasito vem do solo ou de elevadas e prolongadas de
outro paciente, pode haver: corticóides.
─ auto-infecção externa, se as Pois, no metabolismo destas
larvas L1 passarem a L2, no perí- drogas formam-se compostos
neo e invadirem a pele do próprio semelhantes aos hormônios de
paciente; ou forem levadas à crescimento e muda dos helmin-
boca pelas mãos sujas deste ou tos: as ecdizonas, que fazem as
pelos alimentos que contaminou. larvas L1 passarem a L2 sem sair
─ auto-infecção interna, se a do intestino.
passagem de L1 para L2 ocorrer O ciclo parasitário fecha-se
no intestino do próprio paciente, então com grande produção de
devido a constipação intestinal fêmeas partenogenéticas e inva-
(casos raros) ou a imunodepres- são larvária de todo o organismo,
são. levando o paciente ao óbito.
Patologia da estrongiloidíase
As lesões causadas por esta - No duodeno e no jejuno as
infecção situam-se em diferen- lesões são produzidas na muco-
tes níveis: sa pela presença das fêmeas
- Na pele, costumam ser dis- partenogenéticas, dos ovos que
cretas ou formarem placas de eclodem e das larvas filarióides
eritema nos pontos de pene- que migram para a luz intestinal,
tração das larvas; lesões urtica- produzindo lesões mecânicas,
riformes aparecem em torno do histolíticas e inflamatórias.
ânus na auto-infecção externa. Observa-se aí uma inflamação
- Durante o ciclo pulmonar, catarral, pontos hemorrágicos e
são produzidas pequenas hemor- ulcerações várias, em função da
ragias no parênquima quando as carga parasitária. O edema pode
larvas invadem os alvéolos e aí estender-se à submucosa.
fazem suas mudas. Em conseqüência da duodeno-
Elas chegam a causar uma jejunite, aumenta o peristaltis-
pneumonite difusa ou síndrome mo, causando diarréia e evacua-
de Loeffler, com a presença de ções muco-sangüinolentas.
larvas no escarro. Fibrose e atrofia da mucosa
Esse quadro pode prolongar-se vão transformando o duodeno e
ou repetir-se com freqüência. jejuno em um tubo quase rígido.
Sintomatologia da estrongiloidíase
No início, a penetração larvá- Na fase aguda, há leucocitose
ria pode ser assintomática ou, que pode apresentar 15 a 45%
em pacientes sensibilizados, de eosinófilos.
acompanhar-se de eritema, de Nos casos graves aparecem:
prurido ou de manifestações anemia, emagrecimento, desi-
urticariformes. dratação, astenia, irritabilidade
Dias depois, podem surgir nervosa ou depressão.
tosse, expectoração e ligeira As infecções podem assumir
febre; ou a síndrome de Loeffler um curso crônico, devido à
(pneumonite difusa). Em alguns auto-infecção, tanto externa
casos, uma crise de asma. como interna, persistindo por 20
Depois, os sintomas mais im- ou 30 anos.
portantes são os digestivos, vari- Também sucede de a doença
ando com a carga parasitária: evoluir de forma grave ou fatal
desconforto abdominal, cólicas, com ulcerações extensas ou
dores vagas ou imitando úlcera uma síndrome de sub-oclusão
péptica, surtos diarréicos, anore- intestinal alta.
xia, náuseas e vômitos.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser suspeitado sempre que
houver eosinofilia não explicada por outras causas;
ou deve ser procurado em pacientes que vão tomar ou
estão tomando corticóides.
Mas, devido ao caráter inespecífico do quadro
clínico, ele deve ser confirmado pelos exames de
laboratório.
Em um exame de fezes comum (nunca o método de
Kato) o que se espera é encontrar as larvas
rabditóides (L1); não os ovos.
Como elas são escassas, usar uma das técnicas
coproscópicas de enriquecimento para a pesquisa de
larvas nas fezes, como:
- o método de Rugai;
- o método de Baerman;
- ou a coprocultura de Harada-Mori.
Diagnóstico
As figuras mostram:
A – Método de Rugai: o recipiente com a
amostra fecal, protegido por gaze, é
emborcado em água a 45ºC. Dado o hidro e
termotropismo das larvas, elas migram e se
concentram no fundo do cálice. Pipetar e
examinar o sedimento com uma lupa.
B – Método de Baerman: a amostra de fezes
(ou a de solo), sustentada por tela metálica, é
posta em contato com água morna, migrando
as larvas para o tubo (fechado com uma
pinça). Recolher e examinar o sedimento.
C – Coprocultura da Harada-Mori: uma dobra
de papel de filtro, a que as fezes foram
aplicadas, fica com a ponta mergulhada na
água, que sobe por capilaridade e induz as
larvas a migrarem em sentido contrário,
concentrando-se no fundo do tubo.
As larvas de Stongyloides produzem adul-
tos que se reproduzem nessas condições.
Em amostras velhas de fezes, poderão encontrar-se as larvas L1
e L2 de ancilostomídeos, a serem reconhecidas pela morfologia.
Identificação de larvas
As figuras mostram as larvas ob-
tidas em coprocultura das espécies:
A – Strongyloides stercoralis
B – Necator americanus
C – Ancylostoma duodenale
Para cada uma, mostram-se a
larva inteira e os segmentos onde
estão os caracteres diferenciais:
─ em cima, a cavidade bucal;
─ no meio, a junção esôfago-intes-
tinal;
─ em baixo, a cauda simples ou
bifurcada e a presença ou ausência
de bainha.
Strongyloides não tem bainha mas
A escala menor é para as larvas
inteiras e a maior para os sim a cauda entalhada.
segmentos das larvas; elas
indicam 100 µm de comprimento.
Tratamento da estrongiloidíase
Os medicamentos atualmente recomendados são os
seguintes:
- Ivermectina por via oral, 200 µg/kg/dia, administra-
dos em 2 vezes. Contra-indicada durante a gestação e o
aleitamento.
- Albendazol, oralmente, 400 mg/kg/dia, durante 3 dias.
- Tiabendazol, oralmente, 25 mg/kg, duas vezes ao dia,
durante 7 a 10 dias. É recomendado nos casos de hiper-
infecção. Nos casos normais, 50 mg/kg (até um máximo
de 3 gramas) em um dia, divididos em 2 a 4 tomadas,
depois das refeições.
A taxa de cura é de 70 a 90% e como os
medicamentos não matam as larvas, convém repetir o
tratamento para evitar reinfecções externas ou internas.
Controle da estrongiloidíase
A estrongiloidíase é cosmopolita, com distribuição
semelhante à da ancilostomíase, mas com menores
prevalências (<10%).
As únicas fontes de infecção são as pessoas
parasitadas.
A transmissão é facilitada onde o microclima é quente
e úmido, em solos porosos e ricos de matéria orgânica.
Em geral, no peridomicílio, onde as crianças e os adultos
têm o hábito de defecar no chão e de andar descalços.
As larvas tornam-se infectantes nas fezes logo após a
defecação. Mas, as larvas rabditóides morrem abaixo de
8ºC.
As medidas de controle são as mesmas recomendadas
para as demais geo-helmintíases.
Leituras complementares
ACHA, P.N. & SZYFRES, B. – Zoonosis y enfermedades transmisibles
comunes al hombre y a los animales. 2a edição. Washington,
Organización Panamericana de la Salud, 1997.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e
Parasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas].
REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora
Guanabara, 2002 [380 páginas].
REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2a
edição, ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2003
[950 páginas].
REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora
Guanabara, 2001 [856 páginas].
THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. – Diagnosing
helminthiasis by coprological examination. Beerse, Belgium,
Janssen Research Fondation, 1986.

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