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São Paulo
2018
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São Paulo
2018
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Banca Examinadora:
______________________________________
Prof. Me. Amnon Armoni
Coordenador do Curso
Fundação Armando Alvares Penteado
______________________________________
Prof. Dr. Marco Antônio Cabral dos Santos
Orientador Metodológico
Fundação Armando Alvares Penteado
______________________________________
Prof.
Professor convidado
Fundação Armando Alvares Penteado
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AGRADECIMENTOS
1THINK EVA. Um grande momento para ser mulher. 2015. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=WUr_Y6E2YHc > (2m33s). Acesso em: 29 abr. 2018.
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RESUMO
A maioria das empresas nacionais não vive seus valores corporativos e não
demonstra interesse pelas questões sociais. Já outras, quando se posicionam
a favor de causas, muitas vezes como reajuste de imagem, trazem o
questionamento sobre a sustentabilidade de suas ações. Contudo nos últimos
anos é possível observar o aumento de iniciativas de marcas com discursos
empoderados às causas ativistas, adotando tambem valores para a
corporação. Portanto, conforme o cenário atual, onde o consumo, liderado
pelas gerações Y e Z, motiva-se por aspectos emocionais, este trabalho tem
como objetivo analisar o impacto no mercado pelo net-ativismo, com foco no
feminismo. Também procura compreender as percepções dos consumidores
após o reposicionamento de marca da cerveja Skol em 2016. A metodologia
utilizada foi a abordagem de referenciais teóricos, estudo de caso, e por fim,
uma pesquisa quantitativa com o público-alvo. Os resultados demonstram que,
apesar do reconhecimento da melhoria da marca e sua importância social, a
confiança do consumidor ainda está comprometida devido a antiga conduta e a
má reputação do setor cervejeiro perante as mulheres. O consumidor não
consegue enxergar a conexão do discurso atual da marca com a aplicação dos
valores da cervejaria Ambev na sua cadeia de stakeholders. Empresas que
praticam o ativismo de marca possuem relações fortalecidas e sustentáveis
com seus consumidores, além de se tornarem agentes de transformação
social. Já corporações que investem numa comunicação inclusiva apenas por
oportunidade midiática, devido à falta de aproximação e diálogo com setores
ativistas, ficam numa situação de vulnerabilidade pelo constante risco de
incoerência. Espera-se que as marcas entreguem além de promessas
emocionais e que avoquem suas responsabilidades com a sociedade. A
mensagem do posicionamento deve refletir a veracidade da relação do seu
proposito empresarial com o engajamento com as causas sociais.
ABSTRACT
Most national companies do not live their corporate values, showing no interest
in social causes. Still others, when they position themselves in favor of causes,
often as a realignment of image, they bring the questioning about the
sustainability of their actions. However, in recent years it is possible to observe
the increase of initiatives of brands with empowered speech to activist causes,
also adopting values for the corporation. Therefore, according to the current
scenario, where consumption, led by Y and Z generations, is motivated by
emotional aspects, this dissertation aims to analyze the impact on the market by
the internet activism, with a focus on feminism. It also seeks to understand the
perceptions of the consumers after the repositioning of the beer brand Skol in
2016. The methodology used was the approach of theoretical references, case
study, and, finally, a quantitative research with the target public. The results
show that, despite the recognition of the improvement and its social importance,
the consumer confidence is still compromised due to the old behavior of the
brand and the bad reputation of the brewing sector towards women. The
consumer cannot see the connection of the current speech of the brand with the
application on the values of the Ambev brewery in its chain of stakeholders.
Companies that practice brand activism have a strengthened and sustainable
relationships with their consumers, in addition to becoming agents of social
transformation. Now, corporations that invest in an inclusive communication
only by media opportunity, due to the lack of rapprochement and dialogue with
activist sectors, are vulnerable due to the constant risk of incoherence. Brands
are expected to deliver beyond emotional promises and to vindicate their
responsibilities to society. The positioning message should reflect the
truthfulness of the corporate purpose with the engagement with social causes.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 18
Hipóteses ............................................................................................. 19
Objetivos .............................................................................................. 20
Metodologia .......................................................................................... 21
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................... 22
1.1 Marketing........................................................................................ 22
1.2 A formação social no ciberespaço e poder social ........................... 25
1.2.1 Definição e alcance do net-ativismo ............................................ 29
1.3. O impacto da cibercultura no mercado .......................................... 32
1.3.1 Confiança do consumidor ............................................................ 32
1.3.2 Sociedade de consumo e o consumo consciente ........................ 34
1.4 Ativismo de Marca .......................................................................... 37
1.4.1 Ativismo da marca progressivo e regressivo ................................ 39
1.4.2. Categorias do ativismo da marca................................................ 39
1.4.3 Empresa como agente de transformação social .......................... 42
2. CENÁRIO BRASILEIRO .................................................................. 44
2.1 A ascensão feminista nas marcas .................................................. 48
2.2 Limitações e erros nos discursos de marcas .................................. 58
3. ESTUDO DE CASO ......................................................................... 66
3.1 O Mercado cervejeiro no Brasil....................................................... 66
3.2 Histórico da posição feminina nas marcas cervejeiras.................... 67
3.3 A relação da Skol com a mulher ..................................................... 80
3.3.1 O embate da marca com o ativismo ............................................ 85
3.3.2 Reposicionamento da marca ....................................................... 89
4. PESQUISA ....................................................................................... 99
4.1 Pesquisa quantitativa...................................................................... 99
4.2 Questionário ................................................................................. 100
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................... 104
17
INTRODUÇÃO
Hipóteses
Objetivos
Metodologia
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Marketing
2Termo de origem alemã que significa “espírito do tempo”, sendo o conjunto de características
de uma época provenientes de valores, costumes, ações, e visão de mundo que representam
um momento vivido num determinado lugar. É o contexto vivido por uma sociedade numa
sociedade.
23
organização, os quais impactam de forma direta e indireta em suas metas: “stakeholder tem
origem no termo stokeholder (acionista), e amplia o foco da organização, que antes era
satisfazer o acionista e passa a satisfazer seus públicos de interesse estratégicos, como
clientes, funcionários, imprensa, parceiros, fornecedores, concorrentes, sindicatos e a
comunidade local” (ROCHA, GOLDSCHMIDT, 2010, p. 6).
24
9“Em nível micro, as pessoas estão adotando a inclusão social. Ser inclusivo não significa ser
semelhante. Significa viver em harmonia apesar das diferenças. No mundo on-line, as mídias
sociais redefiniram o modo como as pessoas interagem entre si (...)” (KOTLER, 2017, p. 24).
29
(...) os movimentos sociais, que são uma das faces mais visíveis e
organizadas das práticas do ativismo, atuam numa dinâmica que
confere empoderamento aos atores “comuns” da sociedade, já que
possibilitam a expressão da indignação quanto a atitudes de natureza
e origens diversas, que podem comprometer o meio ambiente, natural
e social, e os interesses da coletividade. O ativismo em grupo,
comumente conhecido por movimentos sociais, é um importante
instrumento transformador de hábitos, pensamentos e costumes, pois
exerce pressão para melhoria das condições de vida e é um dos
responsáveis pela prática da cidadania, que é o exercício dos direitos
e deveres na relação indivíduo-Estado, numa explicação bastante
genérica.
Este tópico tem como objetivo dissertar o tema discorrido por Philip
Kotler, juntamente com Christian Sarkar (2017), no artigo online nomeado
como “Finally, Brand Activism!” (traduzido como “Finalmente, Ativismo de
Marcas!), para o jornal acadêmico The Journal Marketing. Neste conteúdo os
autores apresentam o recente termo “ativismo de marca” e sua explanação,
ainda com baixa difusão entre apontamentos teóricos acadêmicos até o
momento, entretanto um tema de crescente relevância mercadológica e social.
Conforme os autores, o posicionamento de marca voltado para as
características de desempenho do produto ou serviço não é mais suficiente
devido à alta competitividade no mercado, em adição a rápida disseminação
tecnológica e ressignificação dos valores e comportamentos sociais,
proveniente principalmente dos mais jovens.
14Disponível em <http://www.marketingjournal.org/finally-brand-activism-philip-kotler-and-
christian-sarkar/>. Acesso em: 28 mai. 2017.
40
ativismo de marca (Figura 2), sendo identificado por meio de seis áreas: social,
jurídico, empresarial, econômico, político e ambiental. Cada categoria, sendo
fatores essenciais para atuação plena de uma estratégia organizacional que
contemple qualquer ponto dos movimentos sociais, compreende aos seguintes
eixos temáticos:
15 Disponível em <http://www.marketingjournal.org/finally-brand-activism-philip-kotler-and-
christian-sarkar/>. Acesso em: 28 mai. 2017.
16 LGBTQIA+: Sigla de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros (travestis e transexuais),
18 O Customer Value Analysis (CVA) é uma metodologia de métricas para mensuração do valor
de uma empresa, marca, produto ou serviço é percebido pelo seu consumidor. É utilizada
também como uma ferramenta de monitoramento do desempenho no mercado e comparação
aos concorrentes.
19 Disponível em <http://www.marketingjournal.org/finally-brand-activism-philip-kotler-and-
2. CENÁRIO BRASILEIRO
nov. 2018.
47
2018.
42 Disponível em: <https://www.b9.com.br/80285/com-repense-o-elogio-avon-abre-campanha-
Outra campanha da marca que tem jus a ser destacada nesta pesquisa
e a #RepenseoElogio, de 2017 (Figura 13). Esta ação, produzida por meio de
um manifesto divulgado nas redes sociais e de um documentário, teve como
objetivo a reflexão sobre a diferenciação de elogios para meninos (mais
voltados para criatividade) e meninas (mais voltados para aparência) e os
impactos em seus desenvolvimentos futuros. Além de ter atingido o
reconhecimento dos consumidores – e ataques de haters 43 – a Avon recebeu
pelo Facebook (Figura 14, 15 e 16) uma declaração de apoio da Natura, uma
das suas principais concorrentes:
43Haters e um termo de origem inglesa proveniente da cibercultura para definir internautas que
fazem ataques ofensivos em ambiente virtual a ideias divergentes.
Figura 18 - Plano de Menina, projeto co-criado por Seda, fundado por Viviane Duarte em
2016.
feminino (Figura 19 e 20), como a Dove (que já foi alvo de críticas por erro de
comunicação) e a Seda, seguem a tendência do seguimento e comunicam a
mensagem de valorização da diversidade de corpos e aceitação da beleza
natural.
Figura 22 - Site Axe - "Ninguém pode dizer a você o que o que significa ser um homem",
2018.
Figura 27 - "É bom demais" - Publicações no Facebook com vocalista do grupo Molejo,
2018.
Fonte: Google
3. ESTUDO DE CASO
cerveja-devassa-e-considerada-abusiva-e-pode-ser-multada-em-r-6-milhoes.shtml>. Acesso
em: 10 jul. 2018.
73
Fonte: R7 85.
• 2014 – Conti Bier “Ex”: Criticado pelas mulheres usuárias da rede social
Facebook, o narrador da publicação comparou uma rodada de cerveja com
a conduta sexual da ex-parceira. Mesmo sem a apresentação de figuras
humanas, a mensagem misógina coloca o homem como o protagonista e
resume a mulher a um papel sexualizado (Figura 43).
84 Disponível em:
<http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2013/04/28/bohemia-ri-da-propria-
publicidade.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.
85 Disponível em: <http://entretenimento.r7.com/blogs/as-melhores-cervejas-do-meu-
Em 2017, após uma série de críticas dirigidas aos concorrentes pelo público
feminino e reposicionamentos de marcas, citada anteriormente, a marca
Proibida lançou uma versão de suas cervejas dedicada para as mulheres,
nomeada como “Proibida Puro Malte Rosa Vermelha Mulher”. Este exemplo
evidencia o despreparo da empresa ao produzir um produto baseado por
conclusões de estereótipos, sem de fato escutar e estudar o público-alvo.
Mesmo tentando gerar um diálogo diretamente às mulheres, sem a comparar
com um objeto, ou sem explorar sexualmente sua imagem, a marca falha ao
torna-la protagonista ao relaciona-la com símbolos e significantes limitados e
preconceituosos que destacam a disparidade de gêneros. O discurso ignora a
diversidade de perfis das mulheres, que, assim como os homens, possuem
necessidades variadas, podendo consumir qualquer tipo de cerveja, pois o
paladar não é padronizado com base no gênero, e sim no gosto individual.
79
89Pesquisa realizada pela startup brasileira especializada em pesquisa digitais, Mind Miners,
em parceria com a consultoria empresarial americana A.T. Kearney - Julho, 2018
80
91“2017 Brazil Reputation Dividend Report” foi realizado pela Reputation Dividend, em parceria,
com a MZ Group.
Na produção “Skol Love Story” a mulher fica irritada com o decorrer do tempo
devido a obtenção do papel de servidão, enquanto o homem se diverte. Como
resolução, o protagonista adquire um maquinário de controle remoto que traz
as latas de cerveja, assim tirando sua parceira da situação problemática e
trazendo de volta o romantismo no relacionamento. Em nenhum momento o
homem refletiu em dividir as tarefas como solução, e a mulher se resume numa
função de suporte materno, sem ser consumidora da bebida (Figura 54). Já na
propaganda “Treino” exibe somente homens como agentes da ação e a
representação feminina como objeto de treinamento (Figura 55).
102 Desde 1996 até os dias atuais a Skol teve a agencia F/Nazca Saatchi & Saatchi como
interface geradora de posicionamento e comunicação de marca.
86
avaliada em 2018 pelo ranking BrandZ Brasil 109 (EXAME, 2018) no valor de
US$ 8,2 bilhões (crescimento de 1%), a Skol se destaca como um forte agente
influenciador de um novo mindset no mercado, gerando um efeito cascata de
readequações em toda indústria cervejeira e publicitária. Segundo Fabio
Fernandes (F/NAZCA SAATCHI & SAATCHI, 2016), presidente da F/Nazca
S&S e criador do conceito “desce redondo” para a marca: “... como líder da
categoria, a Skol tem um papel transformador na comunicação do setor”.
109O ranking BrandZ Brasil e realizado há 12 anos pelo Grupo Kantar, consultoria de pesquisas
de mercado.
111 Disponível em: <http://www.fnazca.com.br/index.php/tag/skol/>. Acesso em: 11 jul. 2018.
90
slogan “Redondo é Sair do Seu Quadrado” para o verão de 2017, foi quando a
marca anunciou oficialmente o início de um conceito mais igualitário para seu
reposicionamento.
Figura 62 - Skol Skolors - edição limitada de latas com tons de pele, 2017.
Figura 63 - Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo em parceria com Casa 1 115 -
Edição limitada de latas coloridas, 2017.
2018.
92
“Toda vez que nos deparamos com peças antigas de SKOL, que
mostram posicionamentos distantes do que temos hoje, surge uma
vontade de redesenhá-las e reescrevê-las. Então, percebemos que é
possível fazer isso e o primeiro passo foi assumir o passado para
mostrar a nossa evolução. Para legitimar ainda mais este momento,
fizemos questão de dar espaço para mulheres dizerem como
gostariam de ser representadas, fazendo essa releitura de pôsteres
antigos. Queremos cada vez mais dar voz a quem defende o respeito.
Amplificando e aprofundando ações que conversem com o
posicionamento da marca. Não é apagar a história. Ela aconteceu,
mas ficou no passado. E redondo é deixar para trás o que não te
representa mais”.
Fonte: B9 124.
2018.
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4. PESQUISA
4.2 Questionário
PERGUNTAS RESPOSTAS
1 - Qual a sua faixa etária? a. 18 a 29 anos
b. 30 a 39 anos
c. 40 a 59 anos
d. Acima de 60 anos
2 - Qual gênero você se identifica? a. Mulher (Trans ou Cis)
b. Homem (Trans ou Cis)
c. Gênero Não-Binário
3 - Qual sua cor ou raça/etnia? (Classificação IBGE) a. Cor Preta
b. Cor Parda
c. Cor Branca
d. Cor Amarela (descendência
oriental/asiática)
e. Raça / Etnia Indígena
4 - Qual região do Brasil você mora? a. Norte
b. Nordeste
c. Centro-Oeste
d. Sudeste
e. Sul
f. Moro em outro pais
5 - Qual o seu nível de escolaridade? a. Até Ensino Fundamental (1.º Grau)
incompleto/completo
101
Fim do questionário!
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
Recomendações
nov. 2018.
124
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WEBGRAFIA
KIRIN. Kirin Beer University Report Global Beer 2015. 2016. Disponível
em: <https://www.kirinholdings.co.jp/english/news/2016/1221_01.html>. Acesso
em: 18 jun. 2018.
______. Sex doesn’t sell any more, activism does. And don’t the big
brands know it. 2017. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/feb/03/activism-sells-
brands-social-conscience-advertising>. Acesso em 25 jun. 2017.
APÊNDICE