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APONTAMENTO PARA UMA

EXEGESE DA CHAMADA
“PARÁBOLA” DO RICO E
LÁZARO

Rev. Carlos Alberto Chaves Fernandes


SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO DO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro – março de 1997
Neste estudo há apontamentos. Ele levanta questões e sugere
caminhos de interpretação da passagem de Lucas 16: 19 – 31. Ele
seguirá um método de abordagem e estudo do texto bíblico.
Entretanto, como todo estudo, ele não quer fazer com que o leitor
(estudante) acumule conhecimentos e aplique técnicas, mas que,
bem interpretando a Escritura Sagrada, respeitando sua forma e
linguagem, encontre, com a comunidade de fé, o caminho de Jesus
para segui-lo.

Crítica (ou análise) textual:

* segundo os melhores estudiosos os copistas conservaram muito


bem o texto;

* razão porque as variantes são insignificantes para o todo,


apresentando um grupo de manuscritos em maiúsculas depois de 835;

* a Vulgata Clementina (1.592) acrescenta ao v. 21: "e ninguém


lhe dava algo {nada}";

* Irineu (202), Código Cantabrigense (500) traduziram "se


deixarão persuadir" , no v. 31, por "crerão" ou mais literalmente
"virão a crer" - fazendo uma pequena confusão no  [logion –
dito] conclusivo da narrativa;

* existe uma questão de pontuação nos vs. 22-23 que não muda em
nada o entendimento geral do texto.

Crítica à (ou análise da) tradução:


*  [Lázaro] é uma forma helenizada de Elieser ou Eleaser,
o que significa que a helenização do nome fez com que se perdesse
o sentido do nome em hebraico = Meu Deus é socorro [libertação ou
salvação], ou seja, o nome Lázaro, quando lido no contexto
helênico do oeste do império romano não tinha, certamente, o
mesmo significado.

* v. 20 para o termo , “jazia” não é uma boa tradução,


visto que no grego a voz é passiva de um verbo no pretérito mais
que perfeito do verbo , a tradução melhor seria "foi
colocado ali e ali permaneceu", ele não estava ali, mas ele foi
colocado naquela situação e não tinha como reagir (a ação é
passiva, ou seja, ele sofre esta ação), para melhor entender esta
questão seria conveniente ver outros textos semelhantes Mt. 8:6,
8:14, Atos 3:2, 9:33;

* o termo "porta" no v. 20 (, pilona = portal, ou portão,


usado para falar das portas de uma cidade, ou da porta de uma
fortaleza, cf. Apoc. 21: 15), a tradução "porta" é muito frágil,
pequena para a idéia de portão com tranca, visto que portas são
para dar acesso, mas portões são para fechar fortemente e impedir
o acesso, ou seja, não deixam Lázaro entrar;

* juntando as duas idéias acima: Aquele de quem Deus é o socorro,


foi jogado para fora de casa, colocado naquela situação
humilhante e da qual não poderia sair, visto não poder reagir e
foi-lhe fechada a porta, com fortes trancas, para que não
entrasse e não incomodasse o que se passava do portão para
dentro: banquete, festa, mesa regalada, roupa da última moda;
* v. 25 o termo, , "recebido" (aoristo do verbo
 [apolanbano] – note-se que o aoristo é um tempo que
não existe em português, veja bem, o que vale nos tempos verbais
é a qualidade de ação e não o tempo, em sentido cronológico; o
aoristo expressa a ação em sua forma mais simples, não
distinguindo entre ação completa e por completar, ou seja é
pontual, a sua ação é um ponto, por isso é chamado de tempo
pontilinear, o que faz deste verbo algo isento de tempo, existem
outros tipos de aoristo);

* bem, então vejamos: o termo é de uso comercial e aparece em


Lc. 6:34, Lc. 23:24, Rm. 1:27, Gl. 4:5, II Jo. 8, Col. 3:24, o
sentido seria retirar, tomar algo que pertence a outro (por
direito, por assinaturas de papel contratual) dando esta quota ou
parte a um outro;

* por fim, no v. 30 o termo  "arrepender-se-ão"


(futuro do indicativo do verbo , metanoeo), este é um
termo muito mal traduzido, visto que o conceito de
"arrependimento" parece estar ligado a algo como "sentimento de
culpa", ou ainda, "sentir-se envergonhado, mal consigo mesmo, por
algo que se fez e não deveria", a tradução da Bíblia Católica
"penitência" parece ainda pior para o sentido do texto;

* o termo aqui é o verbo  (derivado de , metánoia)


dar uma meia volta, fazer uma conversão [ no sentido que usam os
paulistas do termo, ou seja, virar numa rua ], mudar de direção:
a resposta dada por João Batista às pessoas que procuravam o seu
batismo para a  dá uma excelente ilustração para o
conceito: as pessoas perguntavam, depois que foram batizadas para
a , o que deveriam fazer, respondendo o Batista: quem
tiver comida e duas túnicas reparta com quem não tem; os soldados
não aceitem suborno e vivam com seu soldo, não aceitando dinheiro
por uma denúncia falsa, os cobradores de imposto não enganem o
povo, mas cobrem somente o que está marcado na tabela etc. . .;

*  é uma mudança de mentalidade, de caminho de vida, é a


aversão de uma atitude, daí o sentido de nova vida [ Paulo, antes
perseguidor, agora promotor da Igreja - isso é conversão ],
conversão não é mudança de roupa, de linguagem, de livros, mas de
prática em relação ao nosso semelhante.

Crítica dos termos conceituais:

* quando fizemos a crítica da tradução já colocamos algumas


observações conceituais (veja tópico acima);

* v. 19 "rico",  [plousios], é o termo mais usado (28


vezes no NT – , plouteo, 12 vezes, , lampros, e
, perisseo, 1 vez cada) para a tradução em português
"rico", mas é muito mais que uma questão monetário-financeira,
mas algo que se mostra e fica claro na forma de viver. O adjetivo
 (plousios), derivado do mesmo radical, ocorre 4 vezes no
NT e é traduzido por "em abundância" (Cl. 3:16, I Tm. 6:17, Tt.
3:6, II Pd. 1:11) ou "abundantemente". O termo quer dizer, por
isso, alguém que leva uma forma de vida plena, satisfeita, com
abundância de tudo;

* Por isso diz o texto que "vestia-se",  (imperfeito


médio do verbo , endiduskamai), ou seja "vestir-se com
habitualidade" desta forma (note-se que a purpura, modo de tingir
criado pelos fenícios, era a última moda do Egito, por isso, uma
veste importada; sendo o linho de uso dos ricos, quanto mais o
"finíssimo"; o linho usava-se por baixo e a túnica talar
importada do Egito, tingida com finess, por cima - a denotar não
somente abundância, mas esbanjamento);

* mais ainda, diz o texto que "se regalava esplendidamente", as


tradições mais antigas dizem "banqueteava-se" (,
euphrainomenos, tradução do particípio presente médio do verbo
, euphrainomai) que acontece 14 vezes, como verbo, no
N.T., sendo traduzido por regalar-se, banquetear-se, regozijar-
se, gozar, festejar, alegrar-se etc. Vê-se que o sentido é de um
banquete farto,  [lampros], e alegre. Ele não almoçava e
jantava, mas sempre gastava muito nas refeições como se estivesse
em banquetes ou em uma festa (onde existem notórias sobras e
grande fartura);

* v. 20 "mendigo", o termo grego aqui é  [pitokos], um


substantivo que aparece no NT 34 vezes (o termo que mais é
traduzido em português por "pobre", sendo ainda usado o verbo
 ustereo 16 vezes = que tem falta, destituído, que é
inferior, que se separa por inferioridade; e, uma única vez, em
Paulo, o termo , penes, em II Co. 9:9);

* das 34 vezes que este termo aparece no NT, 4 em Paulo, 4 em


Tiago e 2 no Apocalipse; de onde se denota que este termo está
muito perto do Jesus Histórico, do Jesus relatado nos evangelhos,
sendo Lc. quem mais usa o termo (10 vezes);

* diz Jesus que deles é o reino dos céus, que a eles é anunciado
o reino, que eles são os seus discípulos, que quem der um copo de
água fria a estes não deixará de ter a sua recompensa, que o
jovem rico deveria vender suas propriedades e dar a eles o que
obtivesse com este ato;

* vê-se que a tradução mendigo, pedinte, aquele que não tem lugar
e que vive do que outros lhe dão é uma boa tradução, visto que
Jesus, ao aplicar o termo aos seus discípulos, a quem mandou sem
túnica e sem mantimentos, para receber nas casas as doações para
comer e beber, depois de ouvirem a mensagem da paz, lembra que o
seu grupo de discípulos era de “mendicantes", ou seja, pessoas
que abandonaram seus afazeres para cuidar da pregação e que, por
isso, não tendo nada, nem família nem sustento, dependiam, como
as aves do céu e os lírios do campo, do sustento que podiam
receber (Suzana, Maria, Marta e outras mulheres de piedade
significativa sustentavam Jesus e seus discípulos com seus bens);

* assim,  [pitokos], pobre, é aquele que é livre, de um


lado, pois não tem amarras, mas de outro vive da misericórdia e
do amor dos demais, ou seja "pobre como um mendigo";

* no caso de Lázaro ele não era mendigo por opção, mas por
imposição: foi colocado naquela situação (veja-se o comentário do
v. 20, no tópico crítica da tradução - o mais que perfeito
PASSIVO do verbo , ballo - jogar, lançar - Lázaro foi
lançado, jogado, naquela situação de mendigo, não a procurou, mas
foi-lhe imposta de fora, por terceiros);

* o termo , eilkomenos, "coberto de chagas" é o termo


técnico de medicina para designar "estar cheio, coberto, todo
tomado de úlceras", particípio perfeito de , elkoomai; o
substantivo relativo a este verbo é , elkos, que no
Apocalipse traduz o termo "praga" ou "úlceras malignas".
* v. 21 "e desejava", tradução de , particípio presente do
verbo , epthmeo, este verbo ocorre 16 vezes no N.T., sendo
quatro em Lc. que o usa com particularidade, pois o faz com o
infinitivo , epithumon. Joachim Jeremias (em um
maravilhoso livro sobre as parábolas - As Parábolas de Jesus, ed.
Paulinas) diz que Lc. faz este uso para denotar um desejo ou
anseio não realizado, ou seja, algo que Lázaro desejava fazer e
não podia: comer "as migalhas da mesa" e "livrar-se dos cães lhe
vinham lamber as feridas" (vamos falar melhor sobre estes
conceitos);

* o verbo, assim entendido, dentro do modo de sua construção,


poderia ter este sentido: "desejava, se pudesse, mas está
impedido";

* de "alimentar-se", , infinitivo aoristo [veja o


sentido deste tempo grego em crítica da tradução, acima] passivo
do verbo , cortazo, "fartar-se", "saciar-se". Uma boa
tradução do conceito seria "comer até se sentir plenamente
satisfeito, farto, saciado";

* quanto às "migalhas que caem da mesa" esta é uma expressão


idiomática, que faz mais sentido em aramaicos do que em grego
quando a mulher, p. ex., disse a Jesus que "os cachorrinhos comem
das migalhas que caem da mesa dos filhos" [Mt. 15:27] ou, na
mesma situação [Mc. 7:27] "tirar o pão dos filhos e lançá-los aos
cachorrinhos". Joachim Jeremias traduz assim: "o que era atirado
ao chão por aqueles que se assentavam à mesa do rico". Esta é uma
referência aos pedaços de pão que eram usados como hoje usamos os
guardanapos, para limpar os dedos e a boca: um pão sujo e
desprezível jogado no chão e que os cães podiam comer;

* ele desejava estar, ao menos, no mesmo lugar que os cães, mas


estava abaixo deles. Este podiam comer o pão jogado fora pelos
ricos, mas a ele nem isso era dado;

* a expressão "e até", partículas  , alla kai, tem o


sentido de "além disso", como quem quer dizer: fora este
importuno de querer satisfazer a sua fome até que ela acabe, sem
poder, outra coisa desejava ele e não podia;

* os cães estavam acima dele não só no direito à vida, mas


também, no poder: eles vinham lambiscar as suas feridas, o que
era incômodo, mas Lázaro não tinha nem forças para espantar os
cães de cima de si, por esta razão o verbo , "lamber",
tradução do imperfeito do verbo grego , epileino, com o
acréscimo da preposição, formando um verbo composto, acaba dando
o sentido de que os cães lhe vinham por cima, para lamber-lhe;
Lázaro está por baixo, pois está abaixo dos cães.

* v. 22, onde temos a tradução "ser levado", ,


infinitivo aoristo passivo de , apophero, ou seja, ele
sofreu esta ação, não foi fruto de algo que tenha feito ou
deixado de fazer, que tenha buscado, procurado ou produzido: ele
foi levado, visto que a voz do verbo é passiva;

* para o "seio", , substantivo koltos, "âmago"; este termo


colocado em conjunto com a expressão "do Pai Abraão" é uma
expressão idiomática [ Jo. 13:23] : é a designação do lugar de
honra em um banquete, à direita do chefe ou pai da família; é o
lugar de mais alta honra em um banquete, o local onde são
servidos, primeiro, o chefe e, em seguida, este convidado de
honra;

* aquele que não podia fartar-se do que era desprezível, aquele


que estava abaixo dos cães, que não tinha direito a alimentar-se
e estava mais baixo que os animais lambisquentos, agora ocupa o
lugar de honra e será o primeiro e não o último. Porém, tal
medida de honra está naquele que mandou colocá-lo naquele lugar,
e não nele (Lázaro);

* o rico teve o seu sepultamento, , epaphe, aoristo


indicativo passivo de , thapto, mas Lázaro não; o rico
recebeu as honrar finais neste mundo, Lázaro recebeu a honra
"escatológica", na inversão dos valores que aconteceu após a
morte: um morre e nada se sabe, o outro teve as honras de um
sepultamento [ o termo, aqui, é um tanto quanto jocoso ].

* v. 23 os termos de maior dificuldade neste verso vêem


traduzidos por "inferno" e "tormento"; vejamos, primeiro,
tormento;

* o termo grego , basanos, tortura ou tormento,


originalmente era a pedra de toque para testar os metais (ouro,
principalmente), depois ficou como a designação de um instrumento
usado em torturas;

* isso quer dizer que o rico foi imediatamente levado, após a sua
morte e sepultamento pomposo, para um lugar de dor e sofrimento
impostos, como a dizer que de nada adiantou o seu dinheiro e a
sua pompa, visto que os critérios de entrada nos dois diferentes
lugares no Hades são outros;

* o termo grego  , hades, é muito mal traduzido por


"inferno"; no N.T. este conceito está mais ligado à , geena
(que acontece 12 vezes em todo o N.T., sendo que uma única vez em
Lc. 12: 5), e não a hades; veja, p. ex., que Jesus desceu em
hades, não ao inferno, ou seja, desceu na região dos mortos, como
a querer dizer, o Credo Apostólico, que Jesus morreu mesmo, de
verdade; assim, Hades é a região dos mortos e não inferno no
sentido cristão do termo.

* v. 24 o rico passou a fazer o que em todo o NT faz o pobre


, particípio acusativo presente do verbo , clamou,
ou seja, "rogou", "apresentou fortes gritos pedindo algo";

* e o seu grito era: , eleison (termo conhecido na musica


sacra, muito antigo, remontando mesmo à Igreja primitiva: kyrie
eleison, senhor "tem piedade") imperativo aoristo do verbo ,
eleéo: ele solicitou, gritando, clamando em alta voz, para que o
"Pai Abraão" tivesse piedade, misericórdia, olhasse para ele com
compaixão;

* este é o mesmo grito do cego Bartimeu, quando, mendigando


[ observe que Lázaro era mendigo também], clamou Filho de David:
, eleison, (tem misericórdia), ou seja, o lugar está
verdadeiramente invertido: ele gozava do primeiro e principal
lugar, Lázaro mendigava e clamava por misericórdia, piedade;
agora, tudo se inverte, os papeis foram trocados;

* o pedido era, , penpson, "manda" Lázaro, esta não é uma


boa tradução, o verbo aqui é o imperativo aoristo do verbo
, pento (enviar): Envia a Lázaro, seria uma melhor
tradução; sendo colocado no imperativo aoristo dá a idéia de que
o pedido é enfático porque urgente, emergencial: é um grito de
socorro;

* O rico pede, com rogos e clamor de misericórdia, que


urgentemente Lázaro molhe a ponta de seu dedo na água e ,
kataphuze, subjuntivo aoristo do verbo , kataphuco, o
refresque, ou seja, o alivie, (esta tradução está correta), pois
ele está passando por angústias, ou dores severas (,
odunaomai - acontece somente quatro vezes no NT., três em Lc.:
neste verso, no próximo e em 2: 48, e, mais uma vez, em At.
20:38), todas as vezes é traduzido por sentir dores fortes.

* v. 25 segue a resposta do Pai Abraão, onde três termos são


importantes, dentro do contexto da narrativa:

a) , mneistheiti, imperativo aoristo de ,


mimneiskomai. O substantivo que dá origem a este verbo é ,
menía, (memória), "lembra-te", não te esqueça, é o lembrete, pois
este conceito terá ligação com o final da narrativa, na idéia de
ler Moisés e os Profetas e não esquecer o que disseram e fazer
conforme ensinaram (mas isso é somente mais tarde);

b) , apelabes, aoristo de , apolamban, (é um


verbo composto da preposição , apó = de, desde, por + o verbo
, lambano [ que ocorre 258 vezes no NT ] = receber,
cobrar, tomar alguma coisa ou valor), este verbo composto ocorre
9 vezes no NT, sendo 4 em Lc., tendo o sentido de "receber de",
ou ainda "receber desde", ficando aberto o sentido se recebeu de
alguém ou a partir de alguém; ou seja: o rico recebeu algo porque
alguém deixou de receber, alguém não recebeu para que ele tivesse
muito;

* por isso diz que "recebeste os teus bens em vida, Lázaro,


 [igualmente]", não no sentido de uma medida justa, mas no
sentido de que aquilo que faltou ao Lázaro coube ao rico, ou
seja, “da mesma maneira”, ou “do mesmo modo”, ou “juntamente”;
por isso ele era rico e Lázaro pobre (sem querer interpretar, mas
já interpretando: existe riqueza onde há pobreza (sendo que
aquela se alimenta desta);

c) e, por fim, o terceiro termo , parakaleitai,


traduzido por "consolado", presente passivo do verbo ,
parakaleo. Este é um termo muito significativo no NT: Jesus é
chamado de , parakletos, sendo o Espírito o outro
, parakletos. Paulo usa muito este verbo ,
parakaleo, recebendo a tradução de "consolar", "exortar" ou
"rogar". Ele é a junção de uma preposição "para" (a, acerca de,
com, contra, de, da parte de, entre, junto a, com, ao lado de
etc...) mais o verbo , kaleo (chamar, convidar, invocar).
Assim, , parakaleo, significa "chamar ao lado" ou
"chamar para ficar ao lado", de onde vem rogar e exortar
[ exortar não é chamar a atenção, mas chamar para ficar ao lado e
não se desviar, rogar para que caminhe junto, ou melhor, ficar ao
lado de para que não se desvie, de onde se deriva o termo
disciplina, que não é punição, mas chamar para ensinar o caminho,
ficar junto de para que não se desvie do objetivo etc. . .];
* consolar (exortar, rogar) é dar alívio do mal, da aflição, da
dor, do tormento, dar a abundância necessária para a vida feliz [
outro comentário a parte: isso nada tem haver com a exortação e a
disciplina aplicada em nossas igrejas, que é punição e gera
sofrimento e não alívio ];

* , parakaleitai está em oposição a , odunasi [


confira o comentário deste verbo no verso anterior], ou seja
consolo X tormento, angústia e sofrimento;

* a exortação, os rogos e o consolo devem gerar alívio e não dor,


alívio e não tormento, alívio e não desgraça: chamar para o
caminho, ir ficar ao lado do outro até que ele encontre
felicidade, alívio do mal. Este é o lugar de Lázaro, em oposição
ao do rico (as situações se inverteram).

* v. 26 o termo , metazu, com genitivo, ou seja "entre",


somado ao substantivo , casma, ou seja divisão, separação,
ficando, por isso, boa tradução dizer que "há uma separação
insuperável", daí a tradução "abismo", embora este termo seja
específico no grego koine: , 'abyssos' (presente em Lc.
8:31, Rm. 10:7 e principalmente no Apocalipse, p. ex., 9: 1-2
etc. . .). Não existe modo de se ultrapassar esta barreira, assim
como, ao que tudo indica, não havia em vida, quando Lázaro
parecia "transparente" para o rico;

* o texto é uma grande contradição da idéia do "purgatório",


visto não haver passagem de um lugar para outro; outrossim, deve
levar em conta que esta narrativa baseia-se em crendices, visões
ou cosmovisões próprias do mundo hebreu, marcado pela linguagem
profética-messiânica, somada às imagens escatológicas do
apocalipcismo;

* são lendas e mitos, crendices, que são usadas para descrever,


não o céu e o inferno [já vimos que trata-se do Hades e não do
inferno]. Estas crendices eram comuns, p. ex.: um anjo movia a
água do poço de Betesda, quem nele entrasse ficava curado [ Jesus
desprezou claramente esta crendice dando ênfase ao fato de que é
na obediência de sua palavra que as pessoas podem caminhar com as
próprias pernas];

* cria-se que Abraão, o pai da nação, presidia um banquete


messiânico escatológico, para onde iam os justos, os filhos de
Abraão [ por nacionalidade e não mérito ], e o lugar dos mortos,
de sofrimento e dor, para onde iam os pagãos e demais impuros.
Esta "morada" era abaixo do solo [ da terra, por isso enterravam-
se os mortos, para irem para o seu lugar ]: lá existia uma
habitação com felicidade paradisíaca para uns e o tártaro dos
tormentos para outros;

* este lugar, com duplo significado, era tido nesta crendice como
um local de aguardo do juízo, até que se entraria no quarto céu,
ao sul e, os outros, para o inferno geena, o Vale do Hinon de
Jerusalém. São elementos retirados da religião persa, no início
da volta do exílio, ou montadas no período intertestamentário
antes e durante o domínio de Alexandre; é no período depois de
Alexandre, com os Antíoquos e os Selêucidas, que entram os
elementos da literatura apocalíptica nesta cosmovisão ou
crendices mitológicas. Ou seja, o narrador se utiliza dessas
crendices para afirmar uma verdade escatológica, e não descrever
o céu e o inferno. Na verdade, ver-se-á, seu objetivo não é a
questão após a morte, mas durante a vida, quando decidimos como
se viverá a eternidade, no modo como vivemos o presente.

Crítica (ou análise) estrutural:

* todo texto é composto de uma estrutura própria que lhe dá


significação e sentido: isso significa que deve-se levar sempre
em consideração, ao buscar-se o sentido ou interpretação de um
texto a sua forma literária;

* para se exemplificar a idéia, vejamos uma fábula. Fábulas são


pequenas narrativas onde, de um modo geral, temos bichos que
falam entre si e mesmo com pessoas. O objetivo de uma fábula
encontra-se sempre no seu final, com a frase conclusiva: "Moral
da Estória", seguindo-se uma observação nesta linha. Os 3
Porquinhos, p. ex., pode não ter ao final a frase de efeito, mas
é para concluir que o trabalhador é prudente e, por isso,
sobrevive no dia mau;

* ninguém questiona uma fábula dizendo: é cientificamente provado


que animais não podem falar... isso seria uma ignorância do
estilo literário utilizado, que acarretaria uma interpretação
incorreta;

* a Bíblia é repleta de gêneros literários diferentes, tais como:


o conto, a novela a narrativa histórica, a parábola, parábolas
narrativas, leis, poesias, etiologias, ditos, parêneses,
oráculos, apocalipsismo, símiles, provérbios, sagas etc. . .;

* o Espírito Santo, ao inspirar o texto sagrado, por meio de seu


redator, desejou que a Palavra de Deus fosse expressa naquela
forma literária (e não outra). Não respeitar esta "eleição" do
Espírito é desprezar o que Deus inspirou, o modo como se revelou
e quis fazer conhecer a Sua vontade;

* um outro exemplo ajudaria a entender esta afirmação: imagine


que você vá a um médico e que este lhe avie uma receita; lá está
escrito tomar 25 gotas deste remédio três vezes ao dia, de oito
em oito hora. Como interpretar esta forma de redação. Certamente
você, para o bem de sua saúde, não poderá dizer: bem..., 3 X 8 =
24, ora 24 são as horas de um dia, assim, eu bem
poderia tomar o remédio assim: 3 X 25 (gostas) = 75 (gotas), logo
tomarei uma só vez 75 gotas que terá o mesmo efeito;

* receitas médicas são para serem seguidas "ao pé da letra" para


o bem do combate ao mal que o torna inferno e para não lhe
intoxicar.

* mas agora imagine se você aplicasse o mesmo método de


interpretar uma receita médica ao dito hiperbólico de Jesus: se o
teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti, pois é
melhor entrares sem um olho no Reino dos Céus e não seja todo o
teu corpo lançado no inferno... A cada topada que déssemos na rua
deveria arrancar um olho, sendo que só poderíamos, assim,
topar duas únicas vezes e, o resto da vida, cegos, toparmos em
tudo mais, sem possibilidade de nos dirigirmos. Acabaríamos
fazendo o contrário do que pede o texto: não tropeçar, visto que,
cegos, tropeçaríamos sempre;

* o que ver-se-á neste ponto de nossa reflexão é qual a estrutura


do texto que estamos lendo para, sem seguida, procurarmos a sua
forma literária e o modo melhor de interpretar-se esta referida
forma inspirada, nesta caso específico, pelo Espírito Santo.
* desde já podemos afirmar que o nosso texto é uma narrativa
(mais tarde será definida que tipo de narrativa);

* a narrativa começa com a descrição de uma situação, dizendo (v.


19) que : "havia um homem rico" e (v. 20) um sobre à sua porta.
Num segundo momento introduz uma novidade importante, um
acontecimento (v.22): morreu o pobre e o rico. Num terceiro
momento, quando a ação transfere-se para o momento presente, o
rico vê o Pai Abraão e a Lázaro (v.23);

* nota-se que o texto, neste ponto, chega à um ponto culminante.


Se encerrasse aqui a narrativa ela estaria completa. Daí, poder-
se concluir que está primeira etapa da narrativa é completa em si
mesma.

* a segunda parte da narrativa está caracterizada por vários


diálogos, somando-se um total de seis intervenções dos
personagens da narração. Antes temos somente a palavra (voz) no
narrador, agora, porém, introduz a fala dos personagens (o que
marca uma modificação no texto).

* Nesta parte dialogada temos, num primeiro momento temos a


palavra do rico, dirigida ao Pai Abraão, quando grita (v. 24)
"tem piedade de mim!", ao que replica o interpelado (v. 25)
"lembra-te" do que aconteceu no passado e vê o presente, onde
mantém-se a situação anterior só que com papéis invertidos;

* segue-se uma segunda etapa, dentro do mesmo esquema, quando o


rico (v. 27) roga por seus irmãos ao Pai Abraão para que, como no
pedido anterior, dê ordens ao pobre Lázaro;

* a narrativa culmina com uma palavra interpretativa do Pai


Abraão, referindo-se, novamente, a questões do presente (v. 29),
lembrando que eles (os seus irmãos) têm os profetas, seguindo-se
uma ordem: ouçam-os;

* segue-se, ainda, mais uma terceira etapa desta segunda


narrativa (v.30), quando o rico se recusa a aceitar o que diz
Abraão; este, por sua vez, o responde na forma condicional (v.
31), "se não ouvem os profetas, tão pouco um ressuscitado".

* esta forma narrativa é de um conto novelístico simples e muito


claramente desenhado (depois se discutirá a questão "parábola" /
"narrativa novelística" / "parábola narrativa", bastando, por
ora, esta breve afirmação).

* O esquema que acabou-se de esboçar pode sofrer algumas


objeções, visto que a narrativa pode encerrar-se, claramente, no
v. 25, o que deixaria a narrativa, ainda que aparentemente,
completa;

* não há como negar que neste verso termina uma narrativa e uma
temática: aplicação de uma justiça retribuitiva de inversão. Os
valores humanos são invertidos quando se abre um horizonte
transcendente: o pós-morte.

* sobre esta questão da justiça retribuitiva de inversão muito


bem argumentou um membro da lista da Teonet (da Website IPB)
quando disse: "Vê-se o agudo senso de justiça associado à
retribuição, que é bem forte na Bíblia toda. Como estudante de
Direito noto que esta associação justiça-retribuição consta de
todas as tradições religiosas antigas, do orfismo grego à lei de
Talião no Código de Hamurabi. Toda a construção jurídica moderna
é apenas "nota de rodapé" sobre este agudo senso de 'dar a cada
um o que lhe é devido'. São na verdade duas as principais idéias
que representam a justiça no mundo antigo: uma é a retribuição, a
que já me referi, a outra é a eqüidade, a simetria, a justa
divisão. São a mesma idéia vista por dois ângulos diferentes: a
simetria como a "ordem das coisas" vista estaticamente; a
retribuição como o equilíbrio da "ordem" vista ao longo do tempo.
Emerge o conceito de "ordem das coisas" deste arrazoado."

* No v. 27 inicia-se uma outra temática e, com isso, outra


narrativa, cujo centro é a procura de uma saída desta situação
inamovível e fechada, não do pós-morte, mas da situação presente
dos irmãos vivos;

* outra questão é aqui colocada: o Ressurreto dentre os mortos


que fala a mensagem persuasiva, eficiente e eficaz;

* ora, entre o v. 25 e o v. 27 temos o versículo "ponte", o v.


26;

* este modo de ver-se o texto implica na observação de uma "dupla


narrativa", com duas afirmativas de conteúdo e, por isso, na
forma atual seria um conto narrativo com dois picos, com duplo
ponto principal (como acontece com algumas parábolas);

* este é o ponto de vista defendido pelo biblísta Joachim


Jeremias em seu livro "As Parábolas de Jesus" (Ed. Paulinas)
quando diz: "Esta parábola é uma das de duplo clímax. O primeiro
clímax (vv. 19-23) tem por objeto a inversão da sorte no além. O
segundo (vv. 14-31), a rejeição dos dois pedidos do rico para que
Abraão envie Lázaro a eles e aos seus cinco irmãos." (pág. 187).

* J. Jeremias, para tal conclusão sobre a estrutura do texto,


parte do pressuposto que a unidade estrutural do texto combinaria
duas tradições em uma re-narração unificada, feita por Jesus que
serviu-se de uma tradição rabínica conhecida (Estória do Escriba
Pobre e do Rico Publicano Bar Ma'ajan) dando-lhe, com pequenas
modificações e o acréscimo da segunda parte (os diálogos) uma
nova interpretação;

* J. Jeremias, marcado pelo pressuposto de poder-se encontrar nos


textos dos evangelhos a "ipissíssima vox" do Jesus histórico, e
visto haverem parábolas de dupla narrativa e de duplo clímax,
acaba concluindo pela estrutura retromencionada;

* como não é objeto deste estudo a análise das teorias de J.


Jeremias, encerra-se esta observação do referido autor à
estrutura do texto, com a estória que, segundo o mesmo, Jesus
utilizou para montar a sua nova narrativa:
"Para compreender a parábola no detalhe e no conjunto, é
essencial constatar que ela se liga na sua primeira parte a um
conhecido material narrativo, que tinha por objeto a inversão da
sorte no além. Trata-se da fábula egípcia da viagem de Si-Osíris
e de seu pai Seton Chaemwese ao reino dos mortos, que termina com
as palavras: ' Àquele que é bom na terra, acontece o bem também
no reino dos mortos; àquele, porém, que é mau na terra, acontece
o mal também lá '. Judeus alexandrinos trouxeram esta narrativa
para a Palestina, onde ela foi muito apreciada como a estória do
pobre escriba e do rico publicano Bar Ma'jan (que se acha no
Talmud Palestinense: o rico publicano morreu e teve um solene
sepultamento; toda cidade parou, porque todo mundo queria
acompanha-lo na sua última viagem. Ao mesmo tempo morreu um
piedoso escriba e ninguém teve notícia do seu sepultamento). O
que interessa no momento é a sua conclusão: a um colega do pobre
escriba foi concedido ver em sonho como é a sorte de ambos no
além: ' Alguns dias mais tarde, aquele escriba viu o seu colega
em jardins de paradisíaca beleza, onde corriam águas de fontes.
Ele viu também Bar Ma'jan, o publicano: como ele estava à margem
de um rio e queria alcançar a água, mas não podia'. " (págs. 179
e
184-185).

* segue-se que o narrador tinha conhecimento desta estória


talmúdica, recontando-a com os referidos acréscimos que lhe
modificam o entendimento, sendo este o motivo encontrado por J.
Jeremias para afirmar que temos uma parábola de duplo pico ou
clímax.

* outro detalhe, ligado mesmo ao contraste que o texto apresenta,


e que forma a estrutura do texto é o uso das constantes oposições
contraditórias. Os estudiosos chamam esta estrutura narrativa de
antitética;

* nota-se, ainda, esta estrutura antitética não é somente para o


todo da narrativa: a muda em antítese à dialogada, o próprio v.
25 é construído em antíteses:

Rico: Lázaro:
recebe males recebe os bens
recebe recebe consolo
tormentos
cobra/busca encontra
no passado no presente
em vida no banquete
escatológico

* os contrastes são colocados de modo exclusivos, mas se dão em


níveis diferentes: um é inferior e o outro é superior.
* basta ler atentamente e ver que todos os episódios da narrativa
obedecem ao mesmo esquema estrutural, até mesmo o uso do tempo
dos verbos: do aoristo irreversível (pontilíneo) e do presente
reiterativo;

* se esta é a estrutura do texto há que se considerar a mesma,


para não se perder em detalhes estranhos à esta mesma estrutura e
acabar dizendo o que o texto não busca ressaltar.

* deve-se, ainda, destacar que a narrativa pressupõe que o rico,


quando em vida, não conseguia ver ao pobre Lázaro, ainda que
estivesse debaixo de sua porta (ou janela, de onde ativaram os
pedaços de pães que lhe eram imprestáveis), mas que, estando no
lugar de Lázara o (considerando-se a inversão dos papéis) passa a
ver o mesmo, agora no lugar de destaque;

* vê-se, ainda, que este "ver" estará, ao final em relação com o


"ouvir" Moisés e os profetas, ou seja, aqui temos um jogo de
ações que se ligam na estrutura do texto: ver a Lázaro e ouvir as
Escrituras (mais tarde, dentro do contexto lucanos, deve-se
entender este princípio, comparando com a questão do Jovem Rico
que diz obedecer a lei, e ao Publicano Zaqueu, de quem
Jesus diz ter à sua casa chegado a salvação por ser ele, também
"filho do Pai Abraão).

Crítica (ou análise) literária:

* como já dito anteriormente, o texto se apresenta na forma de


uma narrativa. A narrativa, neste caso, é de um conto. Devido o
conteúdo dramático deste conto, podemos caracterizá-lo como
drama. Assim sendo, o que temos é uma narrativa de conto
dramático;

* viu-se, também, que o conto tem uma duplo clímax, o que tem
feito com que alguns, por está característica própria de alguma
narrativas parabólicas, classificar o mesmo como uma parábola
(como o faz J. Jeremias);

* entretanto algumas características outras próprias de uma


parábola: início em dativo (para as parábolas sobre o Reino de
Deus, o que a descaracteriza como parábola do Reino); a forma
comparativa (o que a descaracteriza como símile parabólica);

* assim, este conto dramático segue mais ao estilo novelístico


reflete, assim como em uma espelho, uma experiência típica ou
mesmo tipificante (como o Livro de Jonas, por ex., ou a história
da ovelhinha de Natã à Davi);

* mesmo levando-se em conta o duplo clímax não tem a forma


disjuntiva como nas parábolas deste tipo. Ou seja, se bem
notarmos o que existe são dois atos paralelos, e ambos pertencem
ao mesmo Abraão: fazer um juízo. Os temas são distintos mas os
atos não. Para os diferentes temas há um só juízo e não dois.

* por isso não se pode interpretar este conto como uma parábola,
cuja finalidade seria a de subtrair o máximo da junção dos
elementos das figuras dispostas no texto, com os elementos da
vida do que fala ou daquele que interpela;

* muito ao contrário, a hermenêutica deste tipo de narrativa


(conto novelístico tipificante [ de uma atitude determinada ] ),
não poderá fazer-se com equações relativas ao Reino de Deus, nem
com a cristologia (marcas equacionais de todas as parábolas do
N.T.: fala sobre o Reino ou sobre Cristo).

* Assim sendo, o que o texto deseja é referir-se a juízos e,


conseqüentemente, a decisões que se deve tomar em coerência com a
Palavra de Deus na vida das pessoas e, principalmente na vivência
cristã (como o Bom Samaritano que não fala do Reino nem da
Cristologia, mas como narrativa dramática tipificante exige um
juízo e uma mudança de atitude - cf. Lc. 10:36).

* não é uma preocupação com o além túmulo, mas com o presente:


mudar de vida, ouvir a Palavra, fazer metanóia. O texto quer
produzir mudança ética por meio de juízos da realidade.

* Este forma literária (narração conto novelístico dramática),


sempre que foi utilizada por Jesus, teve como exigência
conclusiva um imperativo para a ação: ela aponta para a mudança
de uma prática ou exige uma determinada prática.

* Sendo parte de uma composição literária maior, deve-se, a bem


de uma exegese correta, observar o modo como o seu escritor
(narrador) a colocou dentro da obra maior, visto que ela, dentro
daquele contexto, compõe o que os estudiosos chamam de obra
sintética.

* Diz-se, pois, que toda a perícope (passagem bíblica) está


colocada dentro de um contexto (a obra literária) participando,
por isso, de um contexto próximo e um contexto remoto.

* O contexto próximo em questão é, como diz o termo, aquele que


antecede, de modo imediato o texto e, também, aquele que o
prossegue. A conexão entre estes três (o texto antecedente, o
texto em si, e o texto procedente) pode dar-se de uma modo lógico
no desenvolvimento do tema abordado, ou como uma conexão
lingüística em ditos que se unem por associação de palavras.

* No caso em questão (Lc. 16: 19-31), o contexto próximo


antecedente se marca por diálogos em tom de polêmicas (Lc. 16:
4), quer com os fariseus "avarentos" (amantes do dinheiro), ou
com os seus próprios discípulos incertos de sua vocação (Lc. 15
parábolas da ovelha, moeda e filho perdido; Lc. 16 parábola do
mordomo infiel, ditos referentes à Lei, os Profetas e o Reino);

* o contexto remoto posterior reflete um grupo de narrativas que


se dirigem aos discípulos (Lc. 17, não escandalizar a um
pequenino, perdoar o arrependido, ter fé, servir sem exigências
meritórias).

* Por vezes pode parecer difícil encontrar um fio condutor das


idéias mas, ao que tudo indica pode-se determinar o tema como:
quando ou onde os valores se corrompem quando o dinheiro é meu
utilizado. Ao que tudo indica, para Lucas esta é uma questão
importante, visto que no todo de sua obra literária ele é o
evangelista mais preocupado com esta questão.

* Destaca-se tal fato no contexto remoto da obra (evangelho).


Note-se que estamos, no contexto geral da obra na segunda grande
divisão da mesma. Senão, veja-se: que Lucas apresenta Jesus como
um caminhante, que parte da Galiléia (primeira grande parte da
obra), passa por Samaria (segunda grande parte) e destina-se a
Jerusalém (terceira parte da obra). Esse caminho há de ser
continuado pela Igreja (chamado por Lucas, me Atos dos Apóstolos,
de "os do caminho"), sendo que o caminho da Igreja será inverso
ao de Jesus: Jerusalém, Samaria, Galiléia e até os confins da
terra.

* Neste caminho, o nosso texto insere-se na chamada Missão na


Galiléia (segunda parte do Evangelho de Lucas). Desde Lc. 13: 22
até Lc. 17: 10 (a referida segunda sessão do Evangelho) Jesus,
dando continuidade à sua caminhada salvífico-missionária (que,
relembramos, a Igreja deverá dar continuidade) Jesus a faz sob o
tópico expresso em 13:24: "Esforçai-vos por entrar pela porta
estreita", pois, através desta é que se passa à sala do Banquete
Messiânico com Abraão (Lc. 13: 28).

* Ora, sendo a Igreja a continuadora do caminho, esta abertura,


pela porta estreita, deve impregnar a vida da mesma na
continuidade do caminho salvífico-missonário, visto que "virão
muitos do Oriente e do Ocidente" (da diáspora) e "tomarão lugar à
mesa", mas fora ficarão aqueles que esperava-se uma vida coerente
como os "filhos de Abraão" (judeus palestinenses).

* Desde Lc. 17: 10 até 19: 27, Jesus começa a deixar a segunda
parte (ministério na Samaria) para passar à etapa derradeira. Em
Lc. 18: 25 afirma que "é mais fácil um camelo passar pelo fundo
de uma agulha (pequena porta do portão da cidade) do que um rico
entrar no Reino de Deus".

* Fica claro que aqui o termo é o mesmo usado na narrativa do


Rico e Lázaro, "portão", ou no dito de Jesus sobre a "porta
estreita". A porta continua sendo o acesso ao banquete messiânico
do Reino. Justamente nestas duas partes (segunda e terceira) é
que se acumulam os ditos sobre a situação crítica e criticável
das riquezas e sobre o acesso ao Reino de Deus.
* Tal caminho já estava descrito no Cântico de Maria, o
Magnificat, na primeira parte da obra lucana, quando dizia sua
mãe: "Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu vazio os ricos. Amparou a
Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a
favor de Abraão e da sua descendência para sempre" (Lc. 1: 52 -
55).

* O texto em pauta faz outra conexões claras com o todo dos


temas desenvolvidos em toda a obra lucana. Poder-se-ia estudar a
relação da figura de Abraão e benção da qual este é o pai, não
para um grupo específico mas para “todas as famílias da
terra”(Gn. 12: 1-2); ou ainda a relação da “alegria” com a
“conversão” (Lc. 13:3; 15:7; 17: 3-4); a própria questão do
espanto causado pela Ressurreição (15: 24; 15: 32; 24: 11; 24:
41); a recusa terminante de se usar os milagres como demonstração
de poder ou “testemunho” da verdade (11: 16, 11: 19). Todos estes
detalhes, que integram a narrativa como um todo, estão presentes
em outras partes da obra lucana.

* A forma narrativa, ainda, oferece em sua estrutura ainda


alguns outros detalhes que são fundamentais para a boa
hermenêutica do texto. Uma delas está ligada à questão da
“inversão”. Os papéis sociais dos dois personagem são invertidos
e, este inversão tem uma intenção clara nos texto narrativos de
Lc. (cf. Lc. 15: 37, a conclusão de uma outra narrativa
dramática, onde Jesus exige do intérprete da lei que conclua e
“mude de vida”, ou seja, “faça igual”);

* neste caso a inversão dos papéis sociais e conceptual: o rico


ocupa o lugar do pobre, Lázaro se assenta na mesa do banquete em
lugar de honra e para gozar da alegria, aquele que estava
acostumado a dar ordens passa a suplicar em vão. A narrativa, por
isso, assume características dramáticas;

* nestes casos, na obra de Lc., o objetivo deste tipo de


narrativa dramática muito bem poderia ser chamado, como hoje se
aplica, a uma sociodrama, no estilo das conhecidas dinâmicas de
grupo. Ora se o rico assume o lugar de Lázaro pode, agora, saber
quais as conseqüências de assumir-se este lugar e, assim, ao
sair-se da narrativa, os que foram colocados nos lugares
invertidos, assumindo os seus papéis sociais reais, podem, assim,
repensar as suas posturas (como exigiu Jesus na narrativa do
chamado “Bom Samaritano”, cf. Lc. 15: 25 – 37);

* bem, o texto em pauta, como se viu na abordagem do contexto


próximo precedente está em diálogo com os “fariseus, que eram
avarentos”. Daí, conclui-se que o objetivo da narrativa é fazer
com que os mesmos, havidos por riquezas e bens, pensando que têm
direitos ao mundo vindouro paradisíaco, pelo fato de serem filhos
de Abraão, estão sendo exortados a mudarem de vida (metanóia),
para não perecerem.

* Assim, o objetivo deste conto não é somente o de “relatar”, mas


de “delatar”: ele denuncia uma situação que deseja combater, ele
relata uma situação que está sob juízo e que necessita de ser
mudada.

* Outro detalhe, conseqüente deste, é que Jesus está, também,


combatendo a doutrina de segurança nacional (de Israel), onde
julgava-se que a filiação abraâmica, era causa de predestinação
para todo o judeu (cf. Lc. 3: 7 – 9, quando João Batista condena
esta doutrina com uma expressão que será também de uso de Jesus
“destas pedras Deus pode fazer nascer filhos a Abraão”, cf. 19:
40);

* Deste modo, como tema correlato, está, também, a eleição


daqueles que não filhos da nação judaica, mas que, de igual modo,
são filhos de Abraão (cf. Lc. 4: 18 – 29 , o episódio da Sinagoga
de Nazaré, quando Jesus, ao falar dos “pobres” como objeto da
alegria futura que anuncia, inclui os pagãos neste, citando,
inclusive, passagens do A.T.).

* Ao resolver-se, com estas poucas ponderações sobre a forma, que


a mesma é uma narrativa na forma de conto dramático novelístico,
para cujo entendimento torna-se necessário considerar os sentidos
dos detalhes descritos na narrativa, resolve-se, também, outra
questão hermenêutica: a sua não classificação como “parábola”
propriamente dito.

* Se fosse a mesma uma parábola, a texto andaria pela esfera do


enfoque sapiencial, perguntando sobre a sabedoria da vida. Sabe-
se, pelos textos bíblicos escritos nesta forma literária, que
toda sabedoria dá conselhos, estimulando o seus leitor (ouvinte)
à uma melhor modo de encaminhar a vida;

* a literatura sapiencial está repleta de conselhos aos ricos,


aos pobres, aos que ocupam um lugar intermediário (“classe
média”?), sendo que o autor da obra lucana muito se utiliza da
mesma, referindo-se à “Sofia” (cf. Lc. 2: 40, 2: 52, 7: 35, 11:
31, 11: 49; At. 7: 10, 7: 22);

* nota-se, porém, que nestas passagens, especialmente Lc. 11: 31


que, para o autor o que temos é um Alguém maior do que Salomão:
quem interpela é Jesus, não chamando para uma vida mais sábia,
mas chamando para uma vida que mostre mudanças, chamando para a
metanóia, visto que a Sua morte e ressurreição têm o poder de
mudar a situação de morte em que se vive hoje. Por isso, o que
temos é mais que uma mera parábola.

* Ainda, para boa hermenêutica, deve-se destacar, com mais


clareza (ainda que já se tenha indicado tal fato) que o autor do
texto (e em toda sua obra) não está falando com Lázaro, mas sobre
Lázaro com um alguém. Ele não interpela a Lázaro, mas a este
alguém. Como em todo Evangelho, nota-se que o seu autor está
preocupado, não em falar com os pobres, mas sobre os pobres, não
com eles, mas com os ricos;

* disso se conclui que o autor está emprestando a sua voz à um


grupo, em diálogo com outro grupo: empresta a sua voz aos pobres
para interpelar os ricos. Quem seria este “excelentíssimo
Teófilo” ? Qual o seu lugar social? Embora não se possa
responder a esta pergunta de modo objetivo, pode-se, à luz do
exposto, inferir-se algo.

* Finalmente, neste ponto do estudo, poder-se-ia, ainda, abordar


os elementos característicos da literatura e da linguagem
veterotestamentária do texto, suas relações com a literatura
rabínica, sua relação com os termos retirados da apocalíptica,
ou, ainda, a relação das expressões ligadas a estas tradições
hebraicas, mas que, em Lc. Estão, por sua vez, citadas na forma
da Septuaginta, o que poderia atualizar a linguagem utilizada.
Mas vê-se que tal empreitada, embora cabível e mesmo necessária,
não mudaria no todo o que se concluiu neste ponto do estudo (fica
a sugestão como estímulo aos alunos e estudiosos da matéria,
visto que estamos nos limitando a somente apresentar alguns
apontamentos).
Pelo presente exposto nota-se que a tarefa hermenêutica
exige uma investigação analítica de vários ângulos. Entretanto,
deve-se destacar, que aqui seguiu-se um método, ora, todo método
aponta na direção de um caminho, o que nos coloca dentro dos
limites metodológicos. O nosso autor, ao inserir seus texto na
obra, não nos deixa esquecer que ele está falando de caminho, no
desejo de que os do caminho, a Igreja, que dá continuidade ao
caminho de Jesus Cristo, prossiga no mesmo. Isso nos leva à
concluir que esse texto deve ser interpretado no meio da feitura
deste caminho, caso contrário, ficará limitado, sem sentido, sem
razão. Ao interpretá-lo o estudante deve vivê-lo, para, assim,
imitar a Jesus Cristo e ser prosseguidor de seus passos, visto
que ele não é um convite à sabedoria, mas à mudança da vida, à
metanóia, à transformação da realidade.

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