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INCLUSÃO ESCOLAR DO SURDO NAS ESCOLAS ESTADUAIS DO ESTADO

DE PERNAMBUCO

Wilma Cavalcante de Araujo

RESUMO

Este trabalho discute a inclusão Escolar na Educação de Surdos nas escolas do Estado de
Pernambuco, para a construção da cidadania do surdo dentro da sociedade, investigando,
assim, os planos e objetivos de ensino das escolas para formação do sujeito surdo e quais
os meios utilizados para incluí-los na sociedade como um cidadão crítico sabendo seus
direitos e deveres. O objetivo desse artigo não é acusar nenhuma escola, mas fazer com
que se repense a forma como os surdos estão sendo incluídos, se a presença do intérprete
em sala tem sido considerada bastante ou, ainda, se tem levado em conta os outros
procedimentos necessários para atender a todas as necessidades e expectativas do sujeito
surdo. Para tanto, fez-se uma reflexão sobre como as escolas estão tratando a educação
de surdos a partir de dados empíricos baseados em entrevista realizada com estudante
surdo. Portanto, os resultados conclusivos enfatizam a perspectiva dos surdos e a
necessidade de proporcionar sua integração à sociedade, respeitando as limitações e
diversidades existentes.

Palavra Chave: Escola. Inclusão. Educação de surdos.

INTRODUÇÃO

A educação é um dos processos mais longos, através do qual se constrói o ser


humano, inicia-se com o nascimento e se estende por toda a vida. Ao nos depararmos
com o bebê humano, podemos perceber que, para poder crescer e se desenvolver
tornando-se um indivíduo adulto, este bebê precisa estar em contato com adultos de sua
espécie, que além de garantirem sua higiene e sua saúde, vai colocá-lo em contato com
sua comunidade. Este processo é um aprendizado, é o que chamamos de educação.
O problema que abordaremos aqui está atrelado ao fato de que a situação
educacional dos surdos sofre mudanças a despeito dos avanços tecnológicos e das
infindáveis possibilidades de comunicação que já romperam a barreira do tempo e do
espaço contínuo, bem como demonstrar a mesma história de insucessos na escolarização
e na integração social que marcou todo este século.
O que observamos, na atualidade, continuam sendo esporádicos exemplos de
sucesso educacionais, e também um enorme contingente de surdos sem acesso à leitura,
à escrita, à organização, e, não raro, até mesmo à língua brasileira de sinais (Libras) que
é a língua mãe do surdo. Este fato ocasiona grandes barreiras que dificultam sua

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cidadania, o desenvolvimento de suas potencialidades e sua efetiva realização como
indivíduo.
O presente estudo, embasado teórica e empiricamente, mostra a relação entre
educação de surdos e as causas desse insucesso. Esta constatação é confirmada pela
comunidade surda, que justifica a luta pela viabilização da abordagem educacional como
o ensino da língua de sinais, dando condições para efetivação da Inclusão e Integração
como um paradigma da educação especial.

INÍCIO DA EDUCAÇÃO DE SURDOS

A educação de surdos teve início em 1750, quando o abade Charles Michel de L’


Éppé, francês nascido em Versalles, encontrou em Paris duas irmãs surdas, então decidiu
fundar um abrigo que ele próprio sustentava, seu método de ensino era através de gestos.
Em 1760, dez anos depois da fundação do abrigo, ele passou de abrigo para escola,
a primeira escola de surdos do mundo. Aqui, no Brasil, as escolas para surdos tiveram
início em 1857, no Rio de janeiro, fundada pelo professor surdo, Hernest Huet. A partir
daí a educação de surdos teve impulso e crescimento.
O trabalho não foi fácil, pois não era conhecido aqui o trabalho com a educação
de surdos. No começo, o instituto tinha dois alunos, mas depois de quatro anos, passou a
ter dezessete alunos, foi depois desse tempo, em 1861, que o professor Huet deixou a
direção do instituto por problemas pessoais, e foi para o México, onde fundou também
uma escola para surdos.
Posteriormente, em 1962, Dr. Manoel de Magalhães Couto, não era especialista
na surdez, e após seis anos de sua direção, em 1968, uma inspeção do governo verificou
que o instituto estava servindo como um asilo de surdos sendo nomeado outro diretor.
Com o passar dos anos, surgiu um novo (instituto nacional de Educação para Surdos) o
INES, que existe até hoje e é uma referência nacional na Educação e profissionalização
do surdo. O INES passou por diversas fases, em determinado momento chegou a
incentivar o ensino da linguagem articulada, tentativas de fazer o surdo falar. Ideia esta
que foi levada ao congresso realizado em Milão.
Atualmente, a proposta e abordagem bilíngue na Educação de surdos vem sendo
utilizada pelas escolas, associações e institutos, devido a legalização da Lei 10.436 de 24
de abril de 2002, promulgada pelo ex-presidente da República Fernando Henrique
Cardoso.
Mas explica Lacerda (1998), que em 1880, aconteceu o congresso Internacional
de Milão, preparado por um grupo de ouvintes juntos com surdos alguns surdos
oralizados, para defender o oralismo para surdos, e acabar com a língua de sinais. Devido
a votação de todos da plateia, europeus e ouvintes, a língua de sinais ficou proscrita por
cem anos, fazendo com que os surdos fossem obrigados a copiar os ouvintes, porém
surdos com surdez profunda não conseguiam uma boa linguagem que desse para entender,

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isso prejudicou muito o aprendizado dos surdos, atrasando seu desenvolvimento pessoal
e social.
Portanto devemos resgatar essa cultura que há muito tempo ficou esquecida, então
cabe as escolas hoje dar continuidade a esse ensino, não podemos deixar essa cultura se
acabar, não devemos oprimir o surdo a fazer parte do mundo dos ouvintes, e sim valorizar
sua língua e sua cultura. Porque só o surdo é obrigado a entender nossa cultura, nós
estamos nos esforçando em aprender a língua e a cultura deles.

EDUCAÇÃO DE SURDOS

Há muitos questionamentos sobre qual metodologia melhor combina no ensino de


surdos, esse ensino vai mais além dos ensinos das escolas e universidades. É importante
se estudar como se dá o ensino nas escolas de surdos.
É importante considerar o que Quadros (2003) afirma que as questões
relacionadas com a formação de identidade, os tipos de interações sociais, as
representações existentes e os papéis desempenhados pelos surdos dentro da escola e na
própria discussão referente às línguas e nas línguas.
De acordo com Silva (2001), a escola atua ideologicamente, seja de uma forma
mais direta, através de matérias mais suscetíveis ao transporte de crenças explícitas sobre
a desejabilidade das estruturas sociais existentes.
Além disso, a ideologia atua de forma discriminatória, ela inclina as pessoas das classes
subordinadas à submissão e obediência, enquanto as pessoas das classes dominantes
aprendem a comandar e a controlar. Essa diferenciação é garantida pelos mecanismos
seletivos que fazem com que as crianças das classes dominantes sejam excluídas das
escolas, antes de chegarem àqueles níveis os quais se aprendem hábitos e habilidades
próprias das classes dominantes.
Lunardi (1998) ainda explica que é necessário que o currículo possa ser visto como
um espaço privilegiado de relações de poder. Essas relações não se processam
simplesmente através de formas homogêneas, repressivas, proibitivas. Portanto, analisar
o currículo envolvido pelas relações de poder significa trazer esta discussão para o campo
da educação, mais precisamente para o projeto educacional crítico.
No decorrer do tempo, o ensino para surdos teve transformações que prejudicaram
o aprendizado, ocasionando um atraso escolar pela oposição das escolas que descartaram
a língua de sinais e valorizaram a oralização.
Atualmente, muitas escolas vêm sentindo a necessidade de se adequar e procurar
meios e propostas para um melhor ensino para surdos. Cabe a estas aderir essa nova
proposta de ensino, fazendo com que todo o meio escolar aprenda como interagir com o
surdo, e proporcione um treinamento para os professores, ajudando-os a transmitir melhor
o conteúdo de suas disciplinas.
As escolas também podem criar projetos para ajudar os alunos a interagir com
colegas trazendo especialistas para ensinar a língua de sinais, assim como inglês e
espanhol.

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INCLUSÃO ESCOLAR

A escola que se espera, para o século XXI, tem compromisso não apenas com a
produção e a difusão do saber culturalmente construído mais também com a formação do
cidadão crítico, participativo e criativo para fazer face ás demandas cada vez mais
complexas da sociedade moderna.
De acordo com a Declaração de Salamanca (1994), a nova política nacional de
educação Especial, numa perspectiva inclusiva (que contempla aportes da convenção de
Guatemala ), prevê que a educação Especial deverá atender alunos com deficiências,
transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades, ampliando o foco do
atendimento para o AEE ( atendimento educacional especializado) Neste conceito, terão
que se incluir não só a clientela acima mencionada, como também as crianças de áreas ou
grupos desfavoráveis ou marginalizados.
Essa adaptação resguarda o caráter de flexibilidade e dinamicidade que a escola
deve ter, ou seja, a convergência com as com as condições do aluno e a correspondência
com as finalidades da educação na dialética do ensino-aprendizagem.
Sabendo-se que a integração do surdo no sistema regular de ensino deve ser um
processo individual, é necessário estabelecer para cada caso, o momento oportuno para
que o educador comece sempre a frequentar a classe comum.
Dorziat (2004) considera a inclusão social de pessoas surdas, objetiva, ainda, sua
participação social efetiva que depende de uma organização das escolas considerando três
critérios: a interação por meio da língua de sinais, a valorização de conteúdos escolares e
a relação conteúdo-cultura surda.
Segundo Aranha (2004, p.26):

Escola inclusiva é aquela que garante a qualidade de ensino educacional


a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e
respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e
necessidades. Assim, uma escola somente poderá ser considerada
inclusiva quando estiver organizada para favorecer a cada aluno,
independentemente de etnia, sexo, idade, deficiência, condição social
ou qualquer outra situação.

Afirma Aranha (2004) que um ensino significativo é aquele que garante o acesso
ao conjunto sistematizado de conhecimentos como recursos a serem mobilizados. Numa
escola inclusiva, o aluno é sujeito de direito e foco central de toda ação educacional;
garantir a sua caminhada no processo de aprendizagem e de construção das competências
necessárias para o exercício pleno da cidadania é, por outro lado, o objetivo primeiro de
toda ação educacional: “Escola inclusiva é aquela que conhece cada aluno, respeita suas
potencialidades e necessidades, e a elas responde com qualidade pedagógica”
(ARANHA, 2004, p.26).
Porém, apesar das leis de inclusão, os alunos surdos têm acesso a matrícula na
escola, mas não têm todos os direitos garantidos nas leis de inclusão. Muitas escolas não
estão preparadas para receber alunos surdos e os professores não sabem libras nas salas
de aula, não favorecendo o aprendizado destes educandos.

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CONHECENDO OS SURDOS

Apresentaremos a seguir a opinião de surdo que teve a experiência anterior de ser ouvinte:
João Manoel, 40 anos, aposentado, faz supletivo ensino médio. O início da nossa conversa
assim se deu:
Wilma: você nasceu surdo ou perdeu a audição?
João: eu não nasci surdo, perdi a audição aos 21 anos devido à meningite.
Wilma: Qual as mudanças que ocorreram na sua vida depois da perda de audição?
João: Bem conviver com outro mundo não é fácil, tive que me adaptar a cultura surda e
aprender libras, mas já me acostumei e falo libras fluentemente.
Wilma: E com relação à escola, o que você achou mais difícil depois da perda da audição.
João: Achei difícil porque fui barrado por várias escolas, não queriam me aceitar, me
mandaram para uma escola de surdos, eu não me adaptei, e parei de estudar, acho que não
se deve impor ao surdo onde ele deve estudar, isso é uma decisão própria de cada um, os
surdos são cidadãos e têm os mesmos direitos que os ouvintes.
Percebemos como a exclusão foi analisada criticamente por João, uma vez sendo
ouvinte e tendo experiência anterior com a escola, João soube reconhecer o seu direito e
a importância dele no exercício pleno da cidadania, o que reflete na sua opinião sobre a
inclusão e a escola bilíngue:
Wilma: Você acha que a sociedade trata o surdo como um cidadão?
João: Bem a lei de inclusão já mudou muita coisa, mas ainda assim o surdo não é tratado
como um cidadão, pois em muitos estados, os médicos ainda pensam que surdos são
doidos, e também hoje é difícil você ver em um órgão público pessoas qualificadas para
falar com os surdos, e nos trabalhos você só vê surdos em fábricas, não em faculdades,
são poucos os qualificados, eu vejo outros deficientes serem advogados, e com outros
cargos, mais o surdo nada, só professor quando consegue e olhe lá.
Wilma: Qual sua opinião sobre a escola bilíngue?
João: Acho importante se ter uma escola onde a libras seja ensinada em primeiro lugar e
o português em segundo, mas acho que ainda falta muita coisa para se ter uma escola
bilíngue de qualidade, o que eu vejo é uma ensinando a libras e outra ensinando o
português, ainda não vi uma escola usando os dois métodos de ensino para surdos.
Assim João faz uma análise igualmente crítica da realidade brasileira atual. Além
da consciência crítica, ele se sente comprometido com a sociedade e realiza um trabalho
voluntário, o que denota sua profunda consciência cidadã.
Wilma: Você faz trabalho voluntario com surdos?
João: sim como sou aposentado ocupo o meu tempo em ajudar famílias que não sabem
lidar com os filhos surdos.
Wilma: Como se sente quando ajuda outros surdos?
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João: Fico feliz de ver um trabalho que faço com esforço dar resultados, já ajudei muitos
surdos e hoje eles estão bem, com suas vidas em ordem.
É importante observar que a visão crítica de João o ajudou a superar suas
dificuldades iniciais e conseguir progressos em sua vida afetiva, conforme descrevemos
a seguir:
Wilma: Como é sua relação com sua família?
João: Minha família não sabe libras mas leio os lábios e consigo entender, também minha
esposa sabe libras, ela é professora de surdo, me ajuda muito, é bom, tenho uma interprete
de graça, (risos).
Wilma: Como você se sente hoje por não escutar?
João: No passado ficava deprimido, pois como era jovem ficava pensando que nunca ia
me casar, qual a mulher que queria casar comigo sem eu escutar, mais depois que aprendi
libras percebi que tudo era diferente, então conheci minha esposa e já estamos juntos vai
fazer sete anos, hoje não tenho porque está deprimido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto que comporte todas as questões ligadas a surdez, teria que ser um
trabalho exaustivo. Entretanto, o objetivo limitou-se a algumas reflexões acerca da
inclusão e comunicação de pessoas surdas.
Sabe-se que, na história da surdez, a comunicação oral prevaleceu. Tal abordagem
se baseava na utilização da comunicação dos ouvintes, tanto por parte dos educadores
como dos educandos, mantendo-se na história durante um século. Mas afinal o que mudou
com relação a educação de surdos? Ainda hoje, no século XXI, o trabalho com surdos
deixa a desejar, existem duas grandes correntes, a oralista, que utiliza o método oral e a
língua de sinais.
Como vimos, parece que a grande preocupação sempre foi fazer o surdo falar, e
não como o ouvinte se comunica com as pessoas surdas. Se não bastasse a educação
sempre os tratarem como coitadinhos.
Entende-se educação como um processo histórico-cultural-social-linguístico, que
deve proporcionar a integração de todos á sociedade, respeitando as limitações e as
diversidades existentes. Os direitos e deveres são para todos, como são para todos os
direitos e deveres sem distinção.
Partindo desse princípio, fica a contribuição em forma de reflexão, sobre o papel
do professor para com as pessoas surdas. E a contribuição dos recursos audiovisuais para
o ensino dessas pessoas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA,M.S.F. A escola. Brasilia (DF): Ministério da educação, Secretaria de


educação especial, 2004. V.4.26 p.
LACERDA,C.B.F. de. Um pouco de história das diferentes abordagens na educação
de surdos. In: cadernos cedes, ano 19, n. 46, Setembro, 1998.
LUNARDI, Márcia. Educação de surdos e currículo: Um campo de lutas e conflitos.
Dissertação de mestrado. Porto Alegre: UFRGS/FACED/PPGEDU,1998.

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