You are on page 1of 12

ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – Setembro 2017, Vol.

25, nº 3, 1317-1328
DOI: 10.9788/TP2017.3-18Pt

Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo


Moderam essa Relação?

Renan Pereira Monteiro


Universidade Federal do Piauí, Parnaíba, PI, Brasil
Emerson Diógenes de Medeiros
Universidade Federal do Piauí, Parnaíba, PI, Brasil
Carlos Eduardo Pimentel
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil
Ana Karla Silva Soares
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil
Hermógenes Acácio de Medeiros
Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa, PB, Brasil
Valdiney Veloso Gouveia1
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil

Resumo
São perceptíveis as consequências graves que perpassam o bullying, sendo importante conhecer variá-
veis que possam predizer este padrão de comportamento entre escolares. O presente estudo objetivou
conhecer em que medida os valores humanos predizem o bullying, testando o papel moderador
das variáveis sexo e idade. Participaram 300 crianças (M = 11,07; DP = 1,31) de escolas públicas
e particulares, as quais responderam a Escala de Comportamentos de Bullying, o Questionário dos
Valores Básicos – Infantil e perguntas demográficas. Os resultados indicaram que os valores das
subfunções interativa (β = -0,21, B = -0,14, IC95% = -0,23/-0,06, p < 0,001) e realização (β = 0,32,
B = 0,14, IC95% = 0,09/0,20, p < 0,001) predisseram comportamentos de bullying. Posteriormente,
verificou-se que estas relações não foram moderadas por sexo e idade das crianças. Conclui-se que os
valores humanos são uma variável importante para compreender este tipo de comportamento agressivo
entre pares, favorecendo intervenções que venham a reduzir este problema nas escolas.
Palavras-chave: Bullying, valores humanos, crianças, escola.

Human Values and Bullying: Do Age and Gender


Moderate this Relationship?
Abstract
The serious consequences that underlie bullying are noticeable and it is important to know the variables
that can predict this behavior pattern among students. The aim of the study was to understand to what

1
Endereço para correspondência: Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas, Letras
e Artes, Departamento de Psicologia, João Pessoa, PB, Brasil 58.051-900. Fone: + 55(83)32167856; Fax:
+55(83)32167064. E-mail: vvgouveia@gmail.com
Agradecimentos: Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e
ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em razão de bolsas concedidas
ao primeiro (Doutorado em Psicologia Social) e último (Produtividade em Pesquisa) autores.
1318 Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia, V. V.

extent human values predict bullying, testing the moderating role of gender and age. Participants were
300 children (M = 11.07; SD = 1.31) from public and private schools, who answered the Bullying Beha-
viors Scale, the children version of Basic Values Survey and demographic questions. Results showed
that values from the interactive (β = -.21, B =-.14, IC95% = -.23/-.06, p < .001) and promotion (β = .32,
B = .14, IC95% = .09/.20, p < .001) subfunctions predict bullying behavior. We found that these rela-
tionships were not moderated by the children’s gender or age. It may be concluded that human values
are an important variable to understand this aggressive behavior among peers, promoting interventions
that may reduce the problem at schools.
Keywords: Bullying, human values, children, school.

Los Valores Humanos y el Bullying: La Edad y el Género


Moderan esta Relación?
Resumen
Son perceptibles las graves consecuencias que perpasan el bullying, siendo importante conocer varia-
bles que puedan predecir este comportamiento entre estudiantes. El presente trabajo tuvo como objetivo
conocer en que grado los valores humanos predicen el bullying, evaluando el papel moderador de las
variables género y edad. Participaron 300 niños (M = 11.07; SD = 1.31) de escuelas publicas y privadas,
los cuales responderon la Escala de Comportamentos de Bullying, el Cuestionario de Valores Básicos
Infantil y preguntas demográficas. Los resultados indicaron que los valores de las subfunciones interac-
tiva (β = -.21, B = -.14, IC95% = -.23/-.06, p < .001) y realización (β = .32, B = .14, IC95% = .09/.20,
p < .001), predicieron comportamientos de bullying. Posteriormente, se verificó que estas relaciones no
fueron moderadas por género y edad de los niños. Se concluye que los valores humanos son una varia-
ble importante para comprender este tipo de comportamiento, favorecendo intervenciones que vengan a
reducir este problema en las escuelas.
Palabras clave: Bullying, valores humanos, niños, escuela.

Envolver-se em episódios de bullying pode sua defesa (Baldry & Farrington, 2000; Olweus,
acarretar prejuízos diversos, indo desde idea- 1993; Salmivalli, 2010; Smith & Morita, 1999).
ção suicida e uso de substâncias até retaliações Percebe-se que a intencionalidade do agressor e
violentas das vítimas (Geel, Vedder, & Tanilon, a assimetria de forças entre perpetrador e vítima
2014; Reed, Nugent, & Cooper, 2015; Roh et al., são atributos centrais do fenômeno (Farrington,
2015). Apesar de tais consequências, são cres- 1993).
centes os relatos de bullying em ambientes esco- Apesar de a literatura apresentar definições
lares, denotando que este tipo de agressão entre e formas específicas de estimar o bullying, a
pares vem se transformando em um problema de identificação do comportamento corresponden-
saúde pública (Craig et al., 2009; Hertz, Donato, te por parte de pais, responsáveis e profissionais
& Wright, 2013; Kim, Koh, & Leventhal, 2005), ainda é deficitária. De fato, estes agentes comu-
sendo, portanto, relevantes os intentos de conhe- mente caracterizam as agressões sofridas pelas
cer seus antecedentes. vítimas como parte do processo de socialização,
Em termos conceituais, o bullying confi- isto é, encara-se o problema como algo natural
gura-se como um subtipo de comportamento (Blank & Liberal, 2005; Lopes, 2005). Tal natu-
agressivo, onde são praticadas, repetidamente e ralização do fenômeno contrasta com seus danos
sem justificativa, agressões físicas, verbais e/ou severos.
psicológicas, onde o vitimizado se encontra em Considerando o anteriormente indicado, há
uma relação desigual de poder, impossibilitando que dizer que entre os participantes dos atos de
Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo Moderam essa Relação? 1319
.

bullying, os agressores (bullies) tendem a apre- Lee, 2009). Além disso, estima-se que o sexo e
sentar comportamentos antissociais, como o uso a idade dos escolares são características indivi-
de drogas lícitas e ilícitas, além de serem poten- duais que podem ter influência no envolvimento
ciais pessoas em conflito com a lei (Bender & em episódios de bullying (Lee, 2009).
Lösel, 2011; Farrington & Ttofi, 2011; Oliveira Concretamente, verifica-se a prevalência
et al., 2016); as vítimas são propensas a estarem de homens tanto na categoria de vítima como
insatisfeitas com a vida, podendo apresentam de agressor (Carlyle & Steinman, 2007; Lucia,
tendências depressivas e suicidas (Costa, Xavier, 2016; Malta et al., 2014; Sourander, Hestelä,
Andrade, Proietti, & Caiaffa, 2015; Fleming & Helenius, & Piha, 2000). Por exemplo, Malta
Jacobsen, 2009; Geel et al., 2014; Klomek, Sou- et al. (N = 109.104 escolares brasileiros) ve-
rander, & Gould, 2010; Roh et al., 2015); víti- rificaram que 7,9% dos homens e 6,5% das
mas/agressores tendem a apresentar baixos ín- mulheres envolveram-se em bullying no papel
dices de comportamento pró-social, frequentes de vítima, ao passo que 26,1% dos homens e
dificuldades acadêmicas e predisposição para 16% das mulheres o fizeram no papel de agres-
o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos sores. Ressalta-se, ainda, que a intensidade do
(Arseneault et al., 2006; Kim et al., 2005; Per- bullying pode variar de acordo com a idade dos
ren & Alsaker, 2006; Sourander et al., 2007). escolares, sendo que no início da adolescência
Os efeitos do bullying sobre as testemunhas va- há um pico na busca por popularidade, onde a
riam de acordo com o envolvimento destes; por prática do bullying pode ser usada para refor-
exemplo, pode ir da quase extinção de compor- çar ou aumentar o próprio status (LaFontana
tamentos relacionados com solidariedade e co- & Cillessen, 2010). A propósito, em revisão
operação até sofrimento vivenciado por aqueles sistemática, Álvarez-García, García e Núñez
que se identificam com a vítima (Ribeiro, 2007). (2015) observaram que a prática do bullying
Percebe-se, portanto, que a participação em e a idade possuem um padrão de correlações
comportamentos de bullying pode trazer pre- curvilinear, ou seja, a probabilidade de praticar
juízos aos envolvidos, algo que aponta para a bullying aumenta seguidamente até os 14 anos,
necessidade de conhecer variáveis que possam sendo que a partir desta idade, a probabilidade
predizê-los. De fato, alguns estudos têm identi- de agredir os pares diminui. Portanto, conside-
ficado variáveis que podem explicar a predispo- rar variáveis demográficas pode ser importante
sição para se envolver em situações de bullying para o entendimento do bullying, conjeturando
no papel de agressor (e.g., agressividade, raiva, que sua interação pode mudar as relações entre
baixa agradabilidade e baixo autocontrole) e ví- uma variável preditora e os comportamentos
tima (e.g., crenças negativas sobre si, baixa ha- de bullying.
bilidade social, isolamento e clima escolar ruim; Diante do exposto, parece pertinente conhe-
Cook, Willians, Guerra, Kim, & Sadek, 2010; cer preditores potenciais do envolvimento em
Fossati, Borroni, & Maffei, 2012; Lucia, 2016; comportamentos de bullying, seja no papel de
Melander, Hartshorn, & Whitbeck, 2013; Salmi- agressor ou vítima. Não obstante, ressalta-se que
valli, 2010; Tani, Greenman, Schneider, & Fre- no presente estudo o foco são as pessoas envol-
goso, 2003). vidas em bullying no papel de agressor. A propó-
Logo, nota-se que os estudos vêm tendo em sito, estudos apontam que este grupo apresenta
conta uma miríade de variáveis para compreen- deficiências empáticas, desempenho acadêmico
der a predisposição de crianças e adolescentes insatisfatório e que avaliam negativamente o cli-
para serem perpetradores ou vítimas de bullying, ma escolar, além de serem expostos a múltiplas
não se limitando àquelas mais individuais, como formas de violência doméstica (Del Rey et al.,
os traços de personalidade, tendo em conta igual- 2016; Lucas, Jernbro, Tindberg, & Janson, 2015;
mente a importância do contexto para a prática Nansel et al., 2001). Ademais, praticar bullying
e desenvolvimento do bullying (Bowes et al., na infância está relacionado a graves problemas
2009; Lam, Law, Chan, Wong, & Zhang, 2014; na adultez, como personalidade antissocial, abu-
1320 Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia, V. V.

so de substâncias e transtornos de ansiedade e realizações materiais, procurando ser práticas


depressão (Sourander et al., 2007). em seus comportamentos e suas decisões, visan-
Nesta direção, conhecer fatores relaciona- do seu sucesso pessoal.
dos a prática do bullying possibilita a identifica- Subfunção Existência (estabilidade pessoal,
ção precoce de crianças mais propensas a agre- saúde e sobrevivência). O propósito principal
direm seus pares. Tal aspecto é fundamental na destes valores é garantir as condições básicas
medida em que auxilia no delineamento de in- para a sobrevivência biológica e psicológica do
tervenções que foquem na redução do bullying, individuo, o que é compatível com perseguir va-
fomentando um ambiente escolar propício para lores pessoais e sociais.
o aprendizado, além de ser importante na pre- Subfunção Suprapessoal (beleza, conheci-
venção de futuros comportamentos criminais, de mento e maturidade). Seus valores representam
modo que praticar bullying na infância é um pre- necessidades estéticas, de cognição e autorrea-
ditor de delinquencia na idade adulta (Álvarez- lização, traduzindo um entendimento maduro
-García et al., 2015; Bender & Lösel, 2011). da vida e acentuando a relevância de princípios
Dentre as variáveis de cunho psicológico gerais e abstratos, coerente com orientações pes-
que podem contribuir para a explicação deste soais e sociais.
tipo de agressão entre pares, destacam-se os va- Subfunção Interativa (afetividade, apoio
lores humanos. Estes têm um forte componente social e convivência). Tais valores representam
social, evidenciando a centralidade da socializa- necessidades de pertença, amor e afiliação, pro-
ção no processo de sua transmissão, algo impor- porcionando o estabelecimento e a manutenção
tante de se ter em conta no estudo do bullying, das relações interpessoais por parte da pessoa,
uma vez que a influência familiar e dos pares que prioriza os demais.
pode incentivar a prática de tais condutas antis- Subfunção Normativa (obediência, reli-
sociais (Knafo, 2003; Ribeiro, 2007). Portanto, giosidade e tradição). Estes valores refletem a
considerando que os valores socializados em de- importância de preservar a cultura e as normas
terminados contextos podem ajudar a explicar a sociais, onde a obediência é valorizada acima
prática de bullying, no tópico a seguir a relação de tudo, evidenciando a hierarquia social como
entre os dois construtos será explorada. princípio-reitor.
Considerando a descrição destas subfun-
Valores e Bullying ções e as evidências que indicam que a prá-
A concepção de valores humanos adotada tica do bullying está relacionada com elevado
no presente estudo é oriunda da Teoria Funcio- status e dominância frente aos pares (Pouwels,
nalista (Gouveia, 2013; Gouveia, Milfont, & Lansu, & Cillessen, 2016; Salmivalli, 2010), é
Guerra, 2014), uma perspectiva individual que possível hipotetizar que os envolvidos em com-
considera os valores como aspectos psicológi- portamentos de bullying, no papel de agressor,
cos que possuem duas funções: guiar as ações priorizem valores de realização, visto que estes
humanas e representar cognitivamente suas ne- caracterizam pessoas que buscam o poder e o
cessidades. Do cruzamento das funções derivam reconhecimento, podendo-se utilizar de agres-
seis subfunções valorativas, descritas a seguir, sões como um meio para alcançar posições de
indicando-se entre parênteses três valores espe- liderança (Benish-Weisman, 2015; LaFontana
cíficos que servem para representá-las: & Cillessen, 2010; Schumann, Craig, & Rosu,
Subfunção Experimentação (emoção, prazer 2014). Por outro lado, valores sociais, especi-
e sexualidade). Estes valores descrevem pessoas ficamente os interativos, que descrevem aque-
pautadas pela busca de sensações; os valores que las pessoas pautadas em interesses sociais, que
a compõem promovem uma maior facilidade de valorizam o estabelecimento de laços afetivos
mudança e inovação nas estruturas sociais. duradouros, podem se configurar como um
Subfunção Realização (êxito, poder e prestí- fator de proteção contra a prática do bullying
gio). São valores típicos de pessoas que buscam (Gouveia, 2013).
Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo Moderam essa Relação? 1321
.

De fato, estas presumíveis associações fo- Método


ram verificadas em estudos utilizando o modelo
de Schwartz (1992), quando se constatou corre- Participantes
lação positiva do comportamento agressivo en- Contou-se com a participação de 300 estu-
tre pares e os valores de autopromoção (poder dantes da cidade de Parnaíba (PI), apresentando
e realização) e, em sentido oposto, com os de idade variando de 8 a 17 anos (M = 11,07; DP =
autotranscendência (universalismo e benevolên-
1,31), sendo a maioria do sexo feminino (53,1%)
cia), que descrevem aqueles que preocupam-se
e de escola particular (50,5%). Tratou-se de uma
com o bem-estar e interesse dos demais (Benish-
amostra de conveniência (não probabilista), ten-
-Weisman, 2015; Knafo, 2003; Knafo, Daniel,
do participado aqueles que, quando presentes em
& Khoury-Kassabri, 2008; Menesini, Nocetini,
sala de aula e inqueridos a colaborar, aceitaram
& Camodeca, 2013).
voluntariamente a participar da pesquisa. Des-
Em resumo, objetivou-se neste estudo co-
taca-se que 15,8 % dos participantes indicaram
nhecer o papel preditivo dos valores, desde de
cometer bullying ao passo que 25,3 % afirmaram
uma perspectiva funcionalista, com relação aos
serem vítimas deste tipo de agressão.
comportamentos de bullying, além de averiguar
em que medida as variáveis sexo e idade do
Instrumentos
perpetrador podem moderar esta relação. Espe-
cificamente, duas hipóteses foram elaboradas a Os participantes responderam um livreto
partir da literatura: que, além de apresentar perguntas demográficas
1. As pontuações dos participantes em valores ao final (idade, sexo e tipo de escola), reuniu os
de realização estarão positivamente correla- seguintes instrumentos:
cionadas com aquelas na medida de prática Escala de Comportamentos de Bullying
de bullying e (ECB; Medeiros, Gouveia et al., 2015). Medida
2. Aquelas em valores da subfunção interativa composta por 16 itens respondidos em escala de
o farão inversamente com este tipo de práti- cinco pontos (0 = Nenhuma vez a 4 = Quatro ou
ca agressiva. mais vezes por semana). Tais itens são respon-
Esclarece-se que as relações entre valores didos tendo em conta a seguinte frase estímulo:
e bullying poderão ser moderadas por variáveis “em minha escola, ultimamente, apresentei tais
demográficas, a exemplo de idade e sexo, que, no comportamentos em relação aos meus colegas”.
caso dos valores humanos, parecem exercer efei- Este instrumento reúne quatro fatores, corres-
tos diferentes (Feather, 2004; Gouveia, Vione, pondendo às formas de expressão do fenômeno:
Milfont, & Fischer, 2015), o que talvez reflita na bullying físico (e.g., Chutei ou dei pontapés em
explicação de práticas de bullying. Por exemplo, colegas), verbal (e.g., Apelidei colegas), relacio-
uma vez que os homens priorizam mais do que nal (e.g., Excluí e/ou convenci amigos a isolarem
as mulheres valores de realização, além de apre- outros colegas) e cyberbullying (e.g., Publiquei,
sentarem mais condutas agressivas instrumen- na internet, fotos com o objetivo de ridicularizar
tais, como as do bullying (e.g., bater, humilhar, colegas). No presente estudo observou-se uma
chutar; Wang, Iannotti, & Nansel, 2009), isso estrutura fatorial satisfatória (CFI = 0,93; TLI
faria mais provável esse comportamento entre = 0,92; RMSEA = 0,02), com índices de con-
eles. Por outro lado, como as mulheres pontuam sistência interna (α) variando de 0,64 (bullying
mais do que os homens em valores interativos, relacional) a 0,82 (cyberbullying).
estando menos predispostas a condutas agressi- Questionário dos Valores Básicos Infantil
vas instrumentais do que os homens, talvez elas (QVB-I; Gouveia, Milfont, Soares, Andrade,
se engajassem menos na prática do bullying. Não & Leite, 2011). Esta medida é composta por
obstante, em razão da escassez de estudos sobre 18 itens ou valores específicos adaptados para
estas presumíveis moderações, decidiu-se não crianças (e.g., Poder. Ser o(a) chefe ou líder do
formular qualquer hipótese a respeito. grupo de amigos(as); mandar nos(as) outros(as)
1322 Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia, V. V.

colegas; e ter poder para decidir as coisas; Con- ção de Pearson, e análise de regressão múltipla
vivência. Conviver bem com familiares e vizi- para verificar em que medida os valores estão
nhos; ter amigos(as) no colégio ou no bairro; relacionados e predizem os comportamentos de
e participar de atividades e brincadeiras com bullying; a análise de regressão hierárquica foi
os(as) colegas). Os itens são respondidos em es- também empregada com o fim de testar o papel
cala de cinco pontos (1 = Nenhuma importân- moderador do sexo e da idade dos participantes.
cia a 5 = Máxima importância), e distribuídos Com o software R, por meio do pacote la-
em seis fatores ou subfunções valorativas. Nesta vaan (Rosseel, 2012), verificou-se a adequação
ocasião, a estrutura fatorial apresentou índices das medidas utilizadas, empregando o estimador
de ajuste adequados (CFI = 0,96; TLI = 0,95; Weighted Least Squares Means and Variance
RMSEA = 0,04), sendo observado os seguintes Adjusted (WLSMV), considerando os seguintes
coeficientes do alfa de Cronbach: experimenta- índices de ajuste: Comparative Fit Index (CFI),
ção (α = 0,55), realização (α = 0,59), existência Tucker-Lewis Index (TLI) e Root Mean-Square
(α = 0,48), suprapessoal (α = 0,40), interativa (α Error of Approximation (RMSEA). Para conside-
= 0,51) e normativa (α = 0,51). rar o modelo aceitável, os valores de CFI e TLI
devem ser acima de 0,90, preferencialmente aci-
Procedimento ma de 0,95 (Kline, 2016) e o RMSEA abaixo de
0,08 (Brown, 2006; Kline, 2016).
Após parecer favorável do comitê de ética
em pesquisa da Universidade Federal do Piauí
Resultados
(CAAE: 0193.0.045.000-11), entrou-se em con-
tato com os responsáveis pelas instituições de
Inicialmente, calcularam-se correlações de
ensino com o intuito de solicitar a autorização
Pearson com o fim de conhecer em que medi-
para a realização da coleta dos dados. Por se
da e direção as seis subfunções valorativas se
tratar de uma amostra composta por menores,
correlacionariam com as formas de expressão
após a autorização dos diretores das escolas, foi
do bullying e sua pontuação total (Tabela 1).
enviado aos pais e responsáveis um termo de
Avaliando o padrão de correlações (p < 0,05),
responsabilidade, onde deveriam dar ciência do
observa-se que os valores de realização se corre-
estudo, expressando sua autorização a que o me-
lacionaram positivamente com os quatro tipos de
nor fizesse parte do estudo. A coleta dos dados
bullying, ao passo que a subfunção interativa o
foi realizada em ambiente coletivo (sala de aula),
fez negativamente com três formas de expressão
mas os questionários foram respondidos de for-
do bullying (físico, relacional e cyberbullying).
ma individual. No momento da coleta, contou-se
Além destas subfunções, a suprapessoal, que
com a colaboração de dois aplicadores, devida- como a anterior representa um motivador hu-
mente aptos a dirimir quaisquer dúvidas sobre o manitário, idealista, também se correlacionou
instrumento. Destaca-se que a todos foi informa- inversamente com duas dimensões da medida
do que a participação seria anônima e voluntária, de bullying (relacional e cyberbullying). A pon-
não implicando qualquer dano ao participante, tuação total da ECB se correlacionou com as
que poderia desistir da pesquisa a qualquer mo- subfunções realização (r = 0,28; p < 0,01), in-
mento, sem prejuízos. Em média, foram neces- terativa (r = -0,14; p < 0,01) e suprapessoal (r =
sários 30 minutos para concluir a participação no -0,12; p < 0,05).
estudo. Passo seguinte, por meio de análise de re-
gressão múltipla (método stepwise), verificou-
Análise dos Dados -se quais subfunções valorativas prediriam os
Os dados foram analisados por meio dos comportamentos de bullying. Considerou-se a
pacotes estatísticos PASW (versão 18) e R (R pontuação total da ECB como variável critério
Core Team, 2015). Com o primeiro calcularam- por conta das dimensões específicas do bullying
-se estatísticas descritivas, análises de correla- se correlacionarem de forma consistente com
Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo Moderam essa Relação? 1323
.

Tabela 1
Correlações e Regressão Hierárquica das Subfunções Valorativas e Fatores de Bullying
Correlações Comportamentos de Bullying

Valores Humanos Total Físico Verbal Relacional Cyberbullying

Experimentação -0,02 -0,03 0,01 -0,03 -0,06


Realização 0,28** 0,18** 0,21** 0,25** 0,12*
Suprapessoal -0,12* -0,09 -0,08 -0,11* -0,13*
Existência -0,08 -0,04 0,01 -0,06 -0,12*
Interativa -0,16** -0,14** -0,08 -0,15** -0,14**
Normativa -0,07 -0,05 -0,06 -0,03 -0,09
Regressões
Realização x Idade β t Interativa x Idade β t
zRealização 0,28** 4,53 zInterativa -0,18** -2,86
zIdade -0,03 -0,54 zIdade -0,04 -0,60
Interação -0,01 -0,14 Interação 0,04 0,64
Realização x Sexo Interativa x Sexo
C_Realização 0,34 1,65 C_Interativa -0,06 -0,33
Sexo -0,21** -3,51 Sexo -0,20** -3,16
Interação -0,07 -0,37 Interação -0,08 -0,42

Nota. *p < 0,05, **p < 0,01 (teste uni-caudal).

as subfunções realização e interativa, tal como zindo a interação entre ambas no segundo passo
hipotetizado, além destes fatores de bullying es- desta análise. Não se verificou qualquer predição
tarem relacionados entre si, justificando o côm- significativa do termo de interação, descartando
puto de um fator geral. Os resultados reforçaram a possível moderação. Testou-se ainda se a idade
os papéis preditores dos valores das subfun- moderaria a relação entre a subfunção interativa
ções realização (β = 0,32, B = 0,14, IC95% = e os comportamentos de bullying, seguindo-se o
0,09/0,20, p < 0,001) e interativa (β = -0,21, B procedimento anteriormente descrito. No caso,
= -0,14, IC95% = -0,23/-0,06, p < 0,001). Estas apenas a subfunção interativa predisse os com-
duas subfunções apresentaram R = 0,37, expli- portamentos de bullying, mas não o termo de in-
cando conjuntamente 14% (R2) da variância das teração. Deste modo, não se configurou o papel
pontuações da medida de bullying (p < 0,001). moderador da idade.
Posteriormente, realizaram-se análises de Buscou-se verificar se o sexo moderaria a
regressão hierárquica para verificar se a idade e o relação entre a subfunção realização e os com-
sexo moderariam as relações supracitadas (valo- portamentos de bullying. No caso, seguindo o
res predizendo bullying; Tabela 1). Inicialmen- procedimento de Miles e Shevlin (2001) para um
te, seguindo o procedimento de Miles e Shevlin preditor contínuo e uma moderadora categórica,
(2001) para preditores contínuos, padronizou-se centralizou-se a variável realização, multipli-
(z) a variável realização e a idade, multiplicando cando-a pelo sexo para criar o termo de intera-
uma pela outra, computando-se assim o termo de ção. Logo, entrou-se com as variáveis realização
interação. Em seguida, entrou-se com a subfun- e sexo no primeiro passo na regressão hierárqui-
ção realização e a idade padronizadas no pri- ca e o termo de interação no segundo passo. No
meiro passo da regressão hierárquica, introdu- entanto, não se verificou predição significativa
1324 Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia, V. V.

deste termo. Portanto, o sexo não moderou a re- harmonia das relações interpessoais, promoven-
lação entre realização e bullying. Realizou-se o do condutas de respeito mútuo (Gouveia, 2003,
mesmo procedimento para verificar a moderação 2013; Medeiros et al., 2012). Neste sentido, tais
do sexo na relação entre a subfunção interativa e valores agem como um fator de proteção para os
os comportamentos de bullying, não sendo veri- comportamentos de bullying, inibindo-os. Deste
ficada predição do termo de interação, o que des- modo, parece relevante incentivar a transmissão
carta o papel moderador do sexo neste contexto. destes valores por parte de pais e professores.
Diante deste cenário, parece evidente a
Discussão importância da teoria funcionalista dos valores
humanos (Gouveia, 2003, 2013; Gouveia et al.,
O presente estudo teve como objetivo co- 2014) para compreender os principais resulta-
nhecer em que medida e direção os valores dos deste estudo. Como pode ser predito a par-
humanos se correlacionariam e prediriam os tir da descrição de suas subfunções teorizadas,
comportamentos de bullying, checando o papel crianças que já desde tenra idade se orientam
moderador das variáveis sexo e idade dos res- por êxito, poder e prestígio são mais propensas
pondentes. Confia-se que este objetivo tenha a envolverem-se em situaçoes de bullying no
sido alcançado. Concretamente, foi possível ve- papel de agressores ou estariam mais dispostas
rificar que os valores foram preditores de com- a fazer valer seus interesses pessoais, impondo-
portamentos típicos do bullying, algo congruente -se aos demais, o que pode acarretar em com-
com os resultados encontrados em estudos pré- portamentos de bullying nas escolas. Não se está
vios (Knafo, 2003; Knafo et al., 2008; Menesini afirmando categoricamente que estas pessoas
et al., 2013). seriam bullies, mas que a importância atribuída
Pareceu evidente, pois, que os perpetradores a esta subfunção agiria como um fator de risco
deste tipo de agressão são orientados pela busca para tais comportamentos. Portanto, aqueles que
de reconhecimento e poder, provavelmente pro- buscam realizações materiais e preferem agir de
curando se impor por meio da agressão, em uma modo prático ao tomarem decisões e expressa-
tentativa de serem respeitados por seus pares, rem comportamentos estão mais predispostos a
assumindo uma posição de destaque e liderança se envolverem em comportamentos discrimina-
(Benish-Weisman, 2015; LaFontana & Cilles- dores, em que o bulying é um dos tipos. Con-
sen, 2010; Schumann et al., 2014). Crianças e trariamente, conferir importância aos valores hu-
adolescentes que praticam bullying são perce- manitários, sobretudo de orientação social, como
bidos por seus pares como populares, portanto, os interativos, promovem a aceitação do outro,
a agressão pode ser uma forma utilizada para sendo menos discriminador, além de evitar pro-
alcançar status e uma posição social dominante mover condutas que depreciem os demais. Por-
(de Bruyn, Cillessen, & Wissink, 2010; Mora- tanto, parece claro o importante papel que os va-
les, Yubero, & Larrañaga, 2016; Pouwels et al., lores cumprem para o entendimento do bullying,
2016). Deste modo, há que demandar algum cui- explicando, nesta ocasião, 14% de sua variância,
dado em promover descontextualizadamente os valor superior ao de outros preditores de cunho
valores de realização, fazendo perceber a impor- individual (e.g., internalização [1,44%], exter-
tância também das relações interpessoais. nalização [11,5%] ou performance acadêmica
A propósito do anteriormente comentado, [4,41%]; Cook et al., 2010).
verificou-se que aquelas crianças que se orien- Fica evidente que as duas hipóteses deste
tam pela subfunção interativa, representada pe- estudo foram corroboradas. Entretanto, é im-
los valores específicos afetividade, apoio social portante assinalar que as relações entre valores
e convivência, foram menos prováveis de se en- e comportamentos de bullying não foram mo-
volverem em comportamentos de bullying. Estes deradas pelas variáveis sexo e idade dos parti-
valores representam necessidades de pertença, cipantes, como poderia ser inicialmente conje-
amor e afiliação, proporcionando a manutenção e turado a partir de estudos empíricos que citam
Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo Moderam essa Relação? 1325
.

o papel destas variáveis demográficas para o de personalidade e da crença no mundo justo. É


entendimento do bullying (Carlyle & Steinman, possível que a naturalização deste tipo de com-
2007; LaFontana & Cillessen, 2010; Sourander portamento agressivo seja mais comum entre
et al., 2000). Especificamente, não há que per- aqueles com alta crença na ideia de que cada um
der de vista que a variação da idade dos partici- tem o que merece, isto é, o mundo é essencial-
pantes, concentrada entre 10 a 12 anos (77,6% mente justo, pois assim justifica que grupos mi-
da amostra), pode ter sido determinante para noritários sejam discriminados e objeto de agres-
não configurar qualquer relação com o bullying. são (Uhlmann, Brescoll, & Machery, 2010).
Nesta direção, em estudos futuros é importante Por fim, cabe ressaltar potenciais limitações
considerar amostras mais heterogêneas quanto a da pesquisa. Por exemplo, há que considerar que
idade, pois esta variável apresenta um padrão de a amostra não foi probabilística, impossibilitan-
correlações curvilinear com o envolvimento em do a generalização dos achados para além do es-
bullying (Álvarez-García et al., 2015). copo da pesquisa. Ressalta-se, ainda, o fato de
A propósito de possibilidades de estudos terem sido empregas medidas de autorrelato, que
futuros, será relevante ter em conta outras vari- podem ser influenciadas pela desejabilidade so-
áveis preditoras do bullying, a exemplo dos es- cial dos participantes no momento de responder
tilos parentais, visto que é no contexto familiar os questionários. Isso é particularmente possível
que a criança tem suas primeiras oportunidades em razão do tipo de construto que se está tentan-
de socialização, constituindo-se um papel pre- do explicar, isto é, o bullying, que é presumivel-
ponderante no comportamento que adotará e na mente indesejável pela maior parte das pessoas.
sua interação com os demais (Ribeiro, 2007). Apesar das limitações expostas, os resulta-
Portanto, estima-se que a possível exposição de dos encontrados indicam o importante papel dos
infantes a episódios de violência familiar, carac- valores para a compreensão do bullying, sendo
terizado muitas vezes por um estilo autoritário, é que intervenções pautadas na promoção de valo-
consistente com alto risco de envolvimento em res podem contribuir para a redução de tais com-
comportamentos de bullying, pois esta passa a portamentos agressivos entre os escolares. Con-
perceber a violência como um método aceitável cretamente, uma possibilidade de intervenção
para resolução de conflitos (Bauer et al., 2006; seria orientantar pais e professores a passar para
Bowes et al., 2009; Lucas et al., 2015). Nesta as crianças a importância dos valores, principal-
direção, é comum a presença de pais autoritários mente aqueles de uma orientação social, que vem
e superproterores na família de agressores, en- se mostrando de forma consistente como fatores
quanto que os permissivos são mais típicos nas de proteção contra atitudes e comportamentos
familias de vítimas (Baldry & Farrington, 2000; problema (Formiga & Gouveia, 2005; Medei-
Georgiou, 2008; Knafo, 2003). ros, Pimentel, Monteiro, Gouveia, & Medeiros,
Também será importante testar outros mo- 2015; Pimentel, Gouveia, Medeiros, Santos, &
deradores da relação entre valores e comporta- Fonseca, 2011).
mentos de bullying. Concretamente, poder-se-á
verificar em que medida os valores dos próprios Referências
pais das crianças agem como moderadores des-
sa relação. Também caberia considerar o fato de Álvarez-García, D., García, T., & Núñez, J. C. (2015).
tais pais apoiarem a prática discriminatória de Predictors of school bullying perpetration in
adolescence: A systematic review. Aggression
bullying, mostrando comportamentos discrimi-
and Violent Behavior, 23, 126-136.
natórios em relação a grupos minoritários (e.g.,
gays, negros, gordos, etc.). Portanto, abrem-se Arseneault, L., Walsh, E., Trzesniewski, K.,
diversas alternativas de pesquisas que conside- Newcombe, R., Caspi, A., & Moffitt, T. E.
(2006). Bullying victimization uniquely contri-
ram os valores como explicadores do bullying,
butes to adjustment problems in young children:
mas poderão ser igualmente considerados outros A nationally representative cohort study. Pedia-
construtos explicadores, a exemplo dos traços trics, 118, 130-138.
1326 Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia, V. V.

Baldry, A. C., & Farrington, D. P. (2000). Bullies and De Bruyn, E. H., Cillessen, A. H., & Wissink, I. B.
delinquents: Personal characteristics and paren- (2010). Associations of peer acceptance and per-
tal styles. Journal of Community & Applied So- ceived popularity with bullying and victimiza-
cial Psychology, 10, 17-31. tion in early adolescence. The Journal of Early
Adolescence, 30, 543-566.
Bauer, N. S., Herrenkohl, T. I., Lozano, P., Rivara,
F. P., Hill, K. G., & Hawkins, J. D. (2006). Del Rey, R., Lazuras, L., Casas, J. A., Barkoukis, V.,
Childhood bullying involvement and exposure Ortega-Ruiz, R., & Tsorbatzoudis, H. (2016).
to intimate partner violence. Pediatrics, 118, Does empathy predict (cyber) bullying perpe-
235-242. tration, and how do age, gender and nationality
affect this relationship? Learning and Individual
Bender, D., & Lösel, F. (2011). Bullying at school as
Differences, 45, 275-281.
a predictor of delinquency, violence and other
anti-social behaviour in adulthood. Criminal Farrington, D. P. (1993). Understanding and preven-
Behaviour and Mental Health, 21, 99-106. ting bullying. In M. Tommy & N. Morris, Crime
and justice. Chicago, IL: University of Chicago
Benish-Weisman, M. (2015). The interplay between
Press.
values and aggression in adolescence: A longi-
tudinal study. Developmental Psychology, 51, Farrington, D. P., & Ttofi, M. M. (2011). Bullying as
677-687. a predictor of offending, violence and later life
outcomes. Criminal Behaviour and Mental He-
Blank, D., & Liberal, E. F. (2005). O pediatra e as
alth, 21, 90-98.
causas externas de morbimortalidade. Jornal de
Pediatria, 81, 119-122. Feather, N. T. (2004). Value correlates of ambivalent
attitudes toward gender relations. Personality
Bowes, L., Arseneault, L., Maughan, B., Taylor,
and Social Psychology Bulletin, 30, 3-12.
A., Caspi, A., & Moffitt, T. E. (2009). School,
neighborhood, and family factors are associated Fleming, L. C., & Jacobsen, K. H. (2009). Bullying
with children’s bullying involvement: A and symptoms of depression in Chilean middle
nationally representative longitudinal study. school students. Journal of School Health, 79,
Journal of the American Academy of Child & 130-137.
Adolescent Psychiatry, 48, 545-553. Formiga, N. S., & Gouveia, V. V. (2005). Valores
Brown, T. A. (2006). Confirmatory factor analysis humanos e condutas anti-sociais e delitivas. Psi-
for applied research. New York: The Guilford cologia: Teoria e Prática, 7, 134-170.
Press. Fossati, A., Borroni, S., & Maffei, C. (2012). Bullying
Carlyle, K. E., & Steinman, K. J. (2007). Demographic as a style of personal relating: Personality cha-
differences in the prevalence, co-occurrence, racteristics and interpersonal aspects of self-
and correlates of adolescent bullying at school. -reports of bullying behaviours among Italian
Journal of School Health, 77, 623-629. adolescent high school students. Personality and
Mental Health, 6, 325-339.
Cook, C. R., Willians, K. R., Guerra, N. G., Kim, T.
E., & Sadek, S. (2010). Predictors of bullying Geel, M. V., Vedder, P., & Tanilon, J. (2014). Re-
and victimization in childhood and adolescence: lationship between peer victimization, cyber-
A meta-analytic investigation. School Psycholo- bullying, and suicide in children and adoles-
gy Quarterly, 25, 65-83. cents: A meta-analysis. JAMA Pediatrics, 168,
435-442.
Costa, M. R., Xavier, C. C., Andrade, A. C. S.,
Proietti, F. A., & Caiaffa, W. T. (2015). Bullying Georgiou, S. N. (2008). Parental style and child
among adolescents in a Brazilian urban center bullying and victimization experiences at scho-
– “Health in Beagá” study. Revista de Saúde ol. Social Psychology of Education, 11, 213-227.
Pública, 49, 1-10. Gouveia, V. V. (2003). A natureza motivacional dos
Craig, W., Harel-Fisch, Y., Fogel-Grinvald, H., Dos- valores humanos: Evidências acerca de uma
taler, S., Hetland, J., Simons-Morton, B., ...Pi- nova tipologia. Estudos de Psicologia (Natal),
ckett, W. (2009). A cross-national profile of 8, 431-443.
bullying and victimization among adolescents Gouveia, V. V. (2013). Teoria funcionalista dos valo-
in 40 countries. International Journal of Public res humanos: Fundamentos, aplicações e pers-
Health, 54, 216-224. pectivas. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.
Valores Humanos e Bullying: Idade e Sexo Moderam essa Relação? 1327
.

Gouveia, V. V., Milfont, T. L., & Guerra, V. M. (2014). Lopes Neto, A. A. (2005). Bullying: Comportamento
Functional theory of human values: Testing its agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria,
content and structure hypotheses. Personality 81, 164-172.
and Individual Differences, 60, 41-47.
Lucas, S., Jernbro, C., Tindberg, Y., & Janson, S.
Gouveia, V. V., Milfont, T. L., Soares, A. K. S., An- (2015). Bully, bullied and abused. Associations
drade, P. R., & Leite, I. L. (2011). Conhecendo between violence at home and bullying in
os valores na infância: Evidências psicométricas childhood. Scandinavian Journal of Public
de uma medida. Psico, 42, 106-115. Health, 44, 1-9.
Gouveia, V. V., Vione, K. C., Milfont, T. L., & Lucia, S. (2016). Correlates of bullying in Switzerland.
Fischer, R. (2015). Patterns of value change European Journal of Criminology, 13, 50-66.
during the life span: Some evidence from a
Malta, D. C., Porto, D. L., Crespo, C. D., Silva, M. M.
functional approach to values. Personality and
A., Andrade, S. S. C., Mello, F. C. M., Monteiro,
Social Psychology Bulletin, 41, 1276-1290.
R., & Silva, M. A. I. (2014). Bullying em escola-
Hertz, M. F., Donato, I., & Wright, J. (2013). Bullying res brasileiros: Análise da Pesquisa Nacional de
and suicide: A public health approach. Journal Saúde do Escolar (PeNSE 2012). Revista Brasi-
of Adolescent Health, 53(Suppl.), S1-S3. leira de Epidemiologia, 17(Supl. 1), 92-105.
Kim, Y. S., Koh, Y. J., & Leventhal, B. (2005). School Medeiros, E. D., Gouveia, V. V., Gusmão, E. E. S.,
bullying and suicidal risk in Korean middle Milfont, T. L., Fônseca, P. N., & Aquino, T.
school students. Pediatrics, 115, 357-363. A. A. (2012). Teoria funcionalista dos valores:
Kline, R. B. (2016). Principles and practice of struc- Evidências de sua adequação no contexto parai-
tural equation modeling (4th ed.). New York: bano. Revista de Administração Mackenzie, 13,
Guilford Press. 18-44.

Klomek, A. B., Sourander, A., & Gould, M. (2010). Medeiros, E. D., Gouveia, V. V., Monteiro, R. P.,
The association of suicide and bullying in chil- Silva, P. G. N., Lopes, B. J., Medeiros, P. C. B.,
dhood to young adulthood: A review of cross- & Silva, E. S. (2015). Escala de Comportamentos
-sectional and longitudinal research findings. de Bullying (ECB): Elaboração e evidências
The Canadian Journal of Psychiatry, 55, 282- psicométricas. Psico-USF, 20, 385-397.
288.
Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Monteiro, R. P.,
Knafo, A. (2003). Authoritarians, the next generation: Gouveia, V. V., & Medeiros, P. C. B. (2015).
Values and bullying among adolescent children Valores, atitudes e uso de bebidas alcoólicas:
of authoritarian fathers. Analyses of Social Is- Proposta de um modelo hierárquico. Psicologia:
sues and Public Policy, 3, 199-204. Ciência e Profissão, 35, 841-854.
Knafo, A., Daniel, E., & Khoury-Kassabri, M (2008). Melander, L. A., Hartshorn, K. J. S., & Whitbeck,
Values as protective factors against violent L. B. (2013). Correlates of bullying behaviors
behavior in Jewish and Arab high schools in among a sample of North American Indigenous
Israel. Child Development, 79, 652-667. adolescents. Journal of Adolescence, 36, 675-
LaFontana, K. M., & Cillessen, A. H. N. (2010). De- 684.
velopmental changes in the priority of perceived Menesini, E., Nocetini, A., & Camodeca, M. (2013).
status in childhood and adolescence. Review of Morality, values, traditional bullying, and
Social Development, 19, 130-147. cyberbullying in adolescence. British Journal of
Lam, S. F., Law, W., Chan, C.-K., Wong, B. P. H., & Developmental Psychology, 31, 1-14.
Zhang, X. (2014). A latent class growth analy- Miles, J. N. V., & Shevlin, M. E. (2001). Applying
sis of school bullying and its social context: The regression and correlation: A guide for students
self-determination theory perspective. School
and researchers. London: Sage.
Psychology Quarterly, 30, 75-90.
Morales, J. F., Yubero, S., & Larrañaga, E. (2016).
Lee, C. H. (2009). Personal and interpersonal correla-
Gender and bullying: Application of a three-fac-
tes of bullying behaviors among Korean middle
tor model of gender stereotyping. Sex Roles, 74,
school students. Journal of Interpersonal Vio-
169-180.
lence, 25, 152-176.
1328 Monteiro, R. P., Medeiros, E. D., Pimentel, C. E., Soares, A. K. S., Medeiros, H. A., Gouveia, V. V.

Nansel, T. R., Overpeck, M., Pilla, R. S., Ruan, W. Rosseel, Y. (2012). lavaan: An R Package for Struc-
J., Simons-Morton, B., & Scheidt, P. (2001). tural Equation Modeling. Journal of Statistical
Bullying behaviors among US youth: Preva- Software, 48, 1-36.
lence and association with psychosocial adjust-
Salmivalli, C. (2010). Bullying and the peer group:
ment. Jama, 285, 2094-2100.
A review. Agression and Violent Behavior, 15,
Oliveira, W. A., Silva, M. A. I., Silva, J. L., Mello, 112-120.
F. C. M., Prado, R. R., & Malta, D. C. (2016).
Schwartz, S. H. (1992). Universal in the content and
Associações entre a prática do bullying e variá-
structure of values: Theoretical advances and
veis individuais e de contexto na perspectiva dos
empirical tests in 20 countries. In M. P. Zanna
agressores. Jornal de Pediatria, 92, 32-39.
(Ed.), Advanced in experimental social psycho-
Olweus, D. (1993). Bullyng at school: What we logy (pp. 1-65). New York: Academic Press.
know and what we can do. Cambridge, MA:
Smith, P. K., & Morita, Y. (1999). The nature of
Blackwell.
school bullying: A cross-national perspective.
Perren, S., & Alsaker, F. D. (2006). Social behavior London: Routledge.
and peer relationships of victims, bully-victims,
Sourander, A., Hestelä, L., Helenius, H., & Piha, J.
and bullies in kindergarten. Journal of Child
(2000). Persistence of bullying from childhood
Psychology and Psychiatry, 47, 45-57.
to adolescence – A longitudinal 8-year follow-
Pimentel, C. E., Gouveia, V. V., Medeiros, E. -up study. Child Abuse & Neglect, 24, 873-881.
D., Santos, W. S., & Fonseca, P. N. (2011).
Sourander, A., Jensen, P., Rönning, J. A., Elonheimo,
Explicando atitudes frente à maconha e
H., Niemela, S., Helenius, H., …Almqvist, F.
comportamentos antissociais: O papel dos
(2007). Childhood bullies and victims and their
valores e grupos normativos. In S. C. S.
risk of criminality in late adolescence. Archives
Fernandes, C. E. Pimentel, V. V. Gouveia, &
of Pediatrics & Adolescent Medicine, 161, 546-
J. L. A. Estramiana (Eds.), Psicologia social:
Perspectivas atuais e evidências empíricas (pp. 552.
13-23). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. Schumann, L., Craig, W., & Rosu, A. (2014). Power
Pouwels, J. L., Lansu, T. A., & Cillessen, A. H. differentials in bullying: Individuals in a com-
(2016). Participant roles of bullying in adoles- munity context. Journal of Interpersonal Vio-
cence: Status characteristics, social behavior, lence, 29, 846-865.
and assignment criteria. Aggressive Behavior, Tani, F., Greenman, P. S., Schneider, B. H., & Frego-
42, 239-253. so, M. (2003). Bullying and the big five: A study
R Core Team. (2015). R: A language and environ- of childhood personality and participant roles in
ment for statistical computing. Vienna, Austria: bullying incidents. School Psychology Interna-
R Foundation for Statistical Computing. Retrie- tional, 24, 131-146.
ved from http://www.R-project.org/ Uhlmann, E. L., Brescoll, V. L., & Machery, E.
Reed, K. P., Nugent, W., & Cooper, R. L. (2015). (2010). The motives underlying stereotype-ba-
Testing a path model of relationships between sed discrimination against members of stigma-
gender, age, and bullying victimization and tized groups. Social Justice Research, 23, 1-16.
violent behavior, substance abuse, depression, Wang, J., Iannotti, R. J., & Nansel, T. R. (2009).
suicidal ideation, and suicide attempts in School bullying among adolescents in the Uni-
adolescents. Children and Youth Services ted States: Physical, verbal, relational and cyber.
Review, 55, 128-137. Journal of Adolescent Health, 45, 368-375
Ribeiro, A. T. M. (2007). O bullying em contexto
escolar: Estudo de caso. Dissertação de mestrado
não publicada, Universidade Portucalense,
Porto, Portugal.
Roh, B. R., Yoon, Y., Kwon, A., Oh, S., Lee, S. I., Recebido: 16/02/2016
Ha, K., ...Hong, H. J. (2015). The structure of 1ª revisão: 24/05/2016
co-occurring bullying experiences and associa- 2ª revisão: 17/06/2016
tions with suicidal behaviors in Korean adoles- 2ª revisão: 11/07/2016
cents. PloS one, 10, 1-14. Aceite final: 12/07/2016

You might also like