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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e
poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível."
Augusto Tavares Rosa Marcacini

As Inovações do CPC de 2015

Da propositura da ação até a sentença

São Paulo

2016
As Inovações do CPC de 2015: Da propositura da ação até a sentença
© Augusto Tavares Rosa Marcacini

Sobre o autor:

Augusto Tavares Rosa Marcacini é Advogado em São Paulo, Bacharel (1987), Mestre (1993), Doutor (1999) e Livre-docente
(2011) em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. É Professor no curso de Mestrado em Direito da Sociedade da
Informação da UniFMU, instituição em que também leciona Direito Processual Civil no curso de Graduação em Direito. Foi Presidente da
Comissão de Informática Jurídica (2004-2006 e 2007-2009) e da Comissão da Sociedade Digital (2010-2012) da OAB-SP. Foi Vice-Presidente
da Comissão de Direito Processual Civil da OAB-SP (2013-2015).
Dados bibliográficos:

Marcacini, Augusto Tavares Rosa. As Inovações do CPC de 2015: Da propositura da ação até a sentença. São Paulo: A. Marcacini, 2016.
ISBN da versão impressa:

ISBN-13: 978-1530589074

ISBN-10: 153058907X
Aos meus pais,
Nobil Marcacini (in memoriam) e
Marly Tavares Rosa Marcacini.

À minha esposa, Luciana,


e aos nossos filhos,
Ana Helena, Maria Clara (in memoriam) e João Pedro.
Sumário

Prefácio do Autor

Introdução

Capítulo I - Procedimento comum

1. Aspectos gerais

2. Estrutura do novo procedimento comum

3. Flexibilização do procedimento

4. Procedimentos especiais extintos e a aplicação do procedimento comum

Capítulo II - Propositura da ação

1. Competência

1.1. Limites da jurisdição nacional (a antes chamada “competência internacional”)

1.2. Competência territorial

2. Instrumento de mandato

3. Petição inicial

4. Valor da causa

5. Pedido

Capítulo III - Deferimento, ou não, da petição inicial

1. Aspectos gerais

2. Questões apreciáveis de ofício pelo juiz

3. Emenda da petição inicial

4. Indeferimento da petição inicial

5. Improcedência liminar do pedido

6. Da decisão judicial

Capítulo IV - Citação do réu

1. Formas de citação e suas formalidades

2. Efeitos da citação

3. Finalidade da citação no procedimento comum

Capítulo V - Audiência de conciliação e mediação


Capítulo VI - Resposta do réu

1. Aspectos gerais

2. Prazo

3. Questões processuais em preliminar de contestação

3.1. Poucas modificações quanto ao tema

3.2. Novas disposições quanto à alegação de ilegitimidade passiva

3.3. Arguição de incompetência

4. Defesas de mérito

5. Reconvenção

Capítulo VII - Providências preliminares, réplica e o julgamento conforme o estado do processo

1. Providências preliminares

2. Réplica

2.1. Considerações gerais

2.2. Forma

2.3. Conteúdo da manifestação

3. Julgamento conforme o estado do processo

3.1. Considerações gerais

3.2. Julgamento antecipado parcial do mérito

3.3. Saneamento e decisão de organização do processo

Capítulo VIII - Alterações do NCPC em matéria de provas

1. Parte geral

2. Produção antecipada de prova

3. Meios de prova em espécie

3.1. Ata notarial

3.2. Prova documental

3.3. Documentos eletrônicos

3.4. Prova testemunhal

3.5. Prova pericial

4. Audiência de instrução e julgamento


5. As provas e o direito intertemporal

Capítulo IX - Sentença

1. Resolução da causa com ou sem julgamento de mérito

2. Requisitos da sentença e a motivação das decisões

3. Do dispositivo da sentença

4. Hipoteca judiciária

5. Remessa necessária

Capítulo X - Intimações e prazos no NCPC

1. Intimações e o termo inicial dos prazos

2. Contagem dos prazos

Capítulo XI - Honorários advocatícios e despesas processuais

1. Obrigação de antecipação das despesas e responsabilidades decorrentes da sucumbência

2. Critérios de fixação dos honorários

2.1. Disposições gerais

2.2. Honorários nas causas em que a Fazenda é parte

3. Honorários progressivos

4. Outras disposições sobre honorários

5. Novas disposições sobre custas e despesas

Capítulo XII - Gratuidade da justiça

Capítulo XIII - Informatização do processo no NCPC

1. Generalidades

2. Da prática eletrônica de atos processuais

3. Outras disposições relevantes sobre o uso da tecnologia

Bibliografia
Prefácio do Autor

Um novo Código de Processo Civil vem à luz em nosso país.

Abro este prefácio esclarecendo que, se o leitor quiser saber a minha opinião pessoal sobre o novo CPC,
eu lhe diria que ela oscila do mais entusiasmado otimismo ao mais empedernido pessimismo. Não que
me considere portador de uma personalidade volátil: são as diferentes disposições da nova lei que fazem
oscilar o meu humor. Umas delas trazem à mente os mais elevados princípios processuais: estimulam a
clareza, a transparência, o exercício do contraditório, a eliminação das armadilhas, a boa-fé das partes, o
fim da chamada “jurisprudência defensiva”. Outras, porém, enveredam por caminhos tortuosos a
complicar demasiadamente o procedimento, a tornar incertos os rumos do processo e a atuação das
partes, a cercear liberdades sem uma razão meritória que o justifique, a aplicar as novas tecnologias sem
horizontes definidos e sem conhecimento preciso dos seus riscos e vantagens, a deixar a suspeita de que
ainda vamos assistir ao milagre às avessas da multiplicação dos incidentes...

Quanto aos alardeados propósitos com que o poder político justificou a opção por uma nova lei, tenho
uma opinião absolutamente neutra. O novo CPC não vai acelerar os processos, simplesmente porque não
é a lei a causa maior da morosidade, nem será a solução única para esse mal; pudéssemos agilizar o
processo simplesmente produzindo leis, o Brasil teria a justiça civil mais expedita de todo o planeta, eis
que durante pouco mais de duas décadas o CPC de 1973 foi constante e freneticamente emendado e
remendado. Mas, no todo, também não penso que o novo CPC vá retardá-los. Nesse aspecto que envolve
a celeridade, estou apostando num simples zero a zero.

Que não me entenda mal o leitor. Tudo somado, devo dizer que gosto do novo CPC. E, como sempre, as
palavras por vezes não permitem expressar o porquê do apreço que sentimos por algo ou alguém. Tenho
por ele certa compreensão, a compreensão de saber que foi promulgado num país inusitado que se
encontra de pernas para o ar, mas mesmo assim, sem sabermos bem o porquê, ainda funciona
razoavelmente, ao menos até o dia em que completei este prefácio; a compreensão de saber que suas
normas foram fruto de uma espécie de “pega, estica e puxa” político, em que, diante do cobertor curto, os
vários atores potencialmente interessados nas normas processuais tentaram como puderam aquecer os
seus próprios pés. E assim saiu uma lei um tanto quanto contraditória, mas que mesmo assim gerou um
punhado de regras que considero bastante promissoras.

Apesar de algumas “vedetes” muito comentadas da nova lei, tenho dito por aí que o que mais me encanta
nela são as suas entrelinhas, pequenas disposições que querem consertar grandes equívocos, e que, de
algum modo, parecem assoprar algo na nossa consciência. Regras que impõem ônus mais claros às
partes, como a exigência de formulação de pedidos líquidos, ou que ordenam mais precisão e
especificidade nas contestações e impugnações em geral, ou o aumento progressivo dos honorários
advocatícios, que nos fará pensar junto ao cliente se vale ou não a pena recorrer, sugerem que o Código
propõe a nós, advogados, uma observância mais rígida da boa-fé processual, uma maior atenção ao
direito que a parte efetivamente tem, pois é especialmente para discutir tal direito que o contraditório é
assegurado aos litigantes e, não, para tumultuar o processo e postergar o seu final para as calendas. Por
outro lado, regras como a publicação da ordem de processos que aguardam decisão, as que revogam caso
a caso as armadilhas da “jurisprudência defensiva”, ou a excêntrica definição do que não se considera
uma decisão motivada, fazem-me crer que o Código também espera maior diligência dos juízes no
desempenho de suas relevantes funções, para que dediquem seus melhores esforços a julgar bem o direito
sobre o qual os jurisdicionados divergem, e que é motivo do conflito a ser pacificado, ao invés de se
apegarem às minúcias mais irrelevantes do direito processual para justificar uma moderna forma de dizer
sibi non liquet.

Enfim, que me perdoe o leitor pela falta de jeito ou pelas palavras que possam parecer ásperas. É que
quando, no silêncio da noite, leio algumas dessas entrelinhas que me entusiasmam e em seguida fecho os
olhos, poderia jurar que ouço o novo Código a me sussurrar algo nos ouvidos. Ouço uma voz grave,
como se invocasse a alma de todos os juristas mortos que se dedicaram a construir a ciência do processo,
mas com um sotaque cearense que só pode provir de Capistrano de Abreu, a me dizer: que tal se todos
vocês brasileiros aí do Século XXI tivessem um pouco mais de vergonha na cara?

Quem sabe seja disso que precisamos! Quem sabe a nova lei ao menos sirva para nos lembrar desse
detalhe nada desprezível. O CPC me informa que ele é só mais uma lei, dessas muitas que vêm e vão
desde a origem dos tempos. Não vai solucionar os problemas que criamos e alimentamos por nós
mesmos. O que precisamos é de atitudes!

Seja lá quais bons ou maus resultados concretos a nova lei poderá produzir, importa de imediato a todos
os profissionais que atuam no foro, advogados, juízes e promotores, conhecer, interpretar e bem aplicar
as novas disposições que regem o processo civil brasileiro.

Daí meu propósito em publicar esta obra, destinada a comentar as alterações práticas decorrentes da
nova lei e que afetarão o cotidiano desses profissionais. E, seguindo uma opção pessoal que tomei
recentemente, quando passei a publicar os meus escritos tanto no formato tradicional, em papel, como,
especialmente, no formato digital, esta obra será encontrada nessas duas mídias. Sem dúvida, minha
preferência recai sobre o meio digital, pois julgo que os chamados e-books são um modelo muito mais
prático e acessível – e ao mesmo tempo um destino inafastável e inevitável – para a transmissão do
conhecimento (e também, por certo, das tolices humanas...).

Tento, com isso, somar a minha pequena contribuição, apoiada nos anos de experiência docente e de
militância na advocacia privada, para a construção da melhor interpretação acerca das disposições do
nosso novo Código. Por ora, apresento-lhes apenas as minhas considerações sobre o processo de
conhecimento e alguns temas necessários aos primeiros passos na aplicação da nova lei, como as
intimações e prazos, os honorários advocatícios decorrentes da sucumbência, a gratuidade processual e
alguns comentários mais sobre a informatização do processo, dentro das limitações com que as novas
tecnologias foram tratadas no novo CPC.

Assumindo esse propósito, este livro se resume a abordar as novidades advindas do novo Código,
deixando de discorrer sobre os pontos que não foram por ele alterados. Portanto, que o leitor não tome
este livro como um estudo completo sobre a totalidade do processo de conhecimento. O livro é voltado
para aqueles que, já atuantes nas profissões jurídicas, conhecem a matéria, compreendem seus conceitos
e regras, tais como previstos no finado Código de 1973, ou mesmo para os estudantes que, já tendo
superado algumas etapas do curso, foram surpreendidos com alterações a respeito de conteúdo já
ensinado segundo o regime anterior. Assim, este livro aborda exclusivamente aquilo que sofreu
modificação pelo novo Código. São expostos comentários sobre os seus aspectos mais práticos, que
atenderão às necessidades do profissional, ao lado de opiniões interpretativas que integrem possíveis
lacunas, e mais algumas análises críticas sobre os propósitos e possíveis resultados da nova lei.
Para encerrar, ao leitor a quem essa obra porventura agradar, deixo no ar a promessa de completar esse
estudo das inovações processuais com a publicação futura de outros volumes, comentando as alterações
que recaem sobre os demais temas que não foram abordados aqui.

Espero, assim, ofertar à comunidade jurídica uma obra que se mostre útil e que, ao lado dos excelentes
trabalhos que proficuamente têm lançado boas luzes sobre o novo CPC, possa contribuir para divulgar e
esclarecer as suas diferenças em relação às velhas regras e proporcionar o mais preciso entendimento
acerca das novíssimas disposições que passam a reger o processo civil brasileiro.

Bons estudos a todos!

Augusto Tavares Rosa Marcacini


Março de 2016
Introdução

Após cinco anos de trâmite no Congresso Nacional, veio finalmente à luz, em março de 2015, um novo
Código de Processo Civil, vigente a partir do dia 18 de março de 2016, um ano após a sua publicação.
Desnecessário dizer a dimensão do impacto que uma lei desse porte e com essa relevância causa no
cenário nacional, em muitas frentes.

O Direito Processual Civil, embora não regule diretamente a vida das pessoas, regula o exercício de um
poder por parte do Estado, o poder que tem por finalidade solucionar os conflitos mediante a imposição
da lei. É um conjunto de normas garantidoras da correta aplicação da lei ao caso concreto, da realização
da justiça, da proteção aos direitos assegurados pelo restante do ordenamento jurídico. A revogação e
promulgação de um novo Código de Processo Civil produz reflexos profundos sobre toda a esfera da
justiça civil, com induvidosas repercussões nas relações negociais e até mesmo na economia do país.

Uma das razões para a proposta de um novo Código, como foi amplamente divulgado pelo poder político
pátrio, quando iniciou a movimentação inicial de reforma mediante a nomeação, pelo Senado Federal, de
uma notável Comissão de Juristas para elaboração de um anteprojeto, era a tentativa de solucionar os
conhecidos males que acometem os processos judiciais, especialmente a sua morosidade.

Como se vê, trata-se de um mesmo discurso que se repete ao longo dos tempos. Desde o início da grande
e quase interminável Reforma processual, que desde 1994 promoveu alterações quase anuais no Código
de Processo Civil anterior, não deixou jamais o legislador de prometer um processo mais efetivo, mais
rápido, mais acessível, sem, contudo, proporcionar não mais do que alguns resultados pontuais, fruto de
ajustes sobre atos e formas processuais que já se encontravam por demais empoeirados e, sem dúvida,
mereciam uma atualização. Mas não se pode dizer que, no todo, as reformas processuais passadas
produziram melhorias significativas no tempo de duração do processo.

Segundo afirmei em estudos que dei à luz há mais de quinze anos, a lei já não parecia ser, à época, a
principal causa da morosidade processual; hoje, empiricamente se pode constatar isso, ao ver que após
uma sequência quase interminável de reformas – umas produtivas, outras nem tanto – não há qualquer
alteração sensível no tempo de duração dos processos. Mesmo assim, nessa perseguição em busca da
efetividade da prestação jurisdicional, o poder político resolveu dobrar a aposta. Foi discurso corrente a
afirmação de que, após as reformas do CPC de 1973 – como se todas elas tivessem produzido reluzentes
efeitos – o próximo passo nessa direção seria a promulgação de um novo Código.

Seja como for, legem habemus. Que o futuro mostre os resultados concretos da promulgação do novo
Código para a maior efetividade do processo civil em nosso país!

De todo modo, uma das primeiras consequências de uma nova lei – qualquer que seja ela, e por mais que
tenha sido cuidadosamente elaborada – é o surgimento de possíveis interpretações discrepantes sobre os
seus muitos dispositivos. Como já discorri no mesmo trabalho anterior, brevemente referido acima,1 um
dos motivos da pouca efetividade e da morosidade é a polêmica interpretativa sobre as próprias normas
processuais. Divergências interpretativas sobre as normas processuais suscitam incidentes processuais e
alimentam um monstro formal que passa a consumir tempo e esforços dos atores processuais tão somente
para discutir o próprio processo, deixando-se de lado por um momento – eventualmente, um longo
momento! – o objetivo último de toda aquela atividade: a solução do conflito que foi trazido a juízo.
Assim, diretriz primordial para a efetividade do processo é a existência de um sistema processual cujas
regras sejam o menos possível duvidosas, que gerem o menor número possível de incidentes, questões e
recursos que apenas versem sobre os próprios atos do processo. Só assim o direito processual se livrará
da merecida crítica que afirma que são despendidos mais tempo e esforços em juízo para decidir sobre o
próprio processo e suas formas do que para decidir o direito que as partes têm. Logo, o ponto inicial
para qualquer estudo mais profundo sobre os novos rumos do direito processual reside em conhecer a lei
e destacar suas possíveis divergências interpretativas, oferecendo-lhes, na medida do possível, uma
solução racionalmente sustentável e finalisticamente útil.

Esta obra pretende, nestes momentos iniciais de vigência da nova lei, apontar as inovações que foram por
ela trazidas, comparando-as com a legislação recém revogada e, em alguns pontos que se mostraram
necessários, suscitar críticas acerca da racionalidade dos novos textos, apoiadas no seu confronto com as
experiências anteriores encontradas na doutrina e na jurisprudência. E, como não poderia deixar de ser,
que as novas disposições sejam examinadas sob a ótica da informatização processual que cada vez mais
ganha corpo. Não obstante os avanços implementados recentemente pelo Poder Judiciário, o CPC/2015
muito pouco avançou na regulamentação de seu uso para os processos judiciais.

Este livro abrange um estudo restrito ao processo de conhecimento em primeiro grau, com capítulos
adicionais destinados a temas relevantes e complementares, como a gratuidade processual e a
condenação a honorários imposta ao vencido, as intimações e prazos, e a informatização processual.
Além disso, procurei inserir, quando aplicável, ao longo dos demais capítulos, comentários pontuais
sobre a informatização aplicada àquele momento processual e as opções adotadas pelo novo Código.

No tocante ao capítulo destinado à fixação da verba honorária, merece algum destaque nesta introdução
comentar a relação desse tema com a efetividade. É com certa satisfação que vejo o novo CPC adotar
sugestão que sustentei há mais de quinze anos,2 quando apontei que a progressividade na fixação das
verbas impostas ao vencido poderia servir como um virtuoso fator inibidor ao excesso de recursos, eis
que faria com que os litigantes tivessem que valorar racionalmente os riscos, vantagens e probabilidades
de atacar uma decisão judicial, e não delas recorrer de modo automático e impensado, como se o manejo
de todos os recursos previstos no sistema fosse o curso normal e inevitável da marcha processual.

Pretende-se, pois, com este estudo, colaborar para a maior compreensão das novas regras, tanto por parte
do estudioso da ciência processual, cujas pesquisas precisarão ser renovadas à luz do novo corpo
normativo, como também para os profissionais e estudantes do Direito.

O desenvolvimento da obra abrange uma divisão em capítulos sobre os grandes temas do processo de
conhecimento, desde a propositura da ação até a sentença de primeiro grau. Em cada capítulo, são
comentadas as reformas, suas possíveis interpretações e consequências práticas e, conforme o tema
comportar, será feita uma análise crítica da solução adotada pelo legislador, ou correlações possíveis
entre as novas mudanças e a aplicação da tecnologia aos processos judiciais.
Capítulo I - Procedimento comum

1. Aspectos gerais

O processo de conhecimento pode se desenvolver segundo diferentes procedimentos, que se classificam


em procedimentos comuns e procedimentos especiais. Especial é o procedimento que se aplica apenas a
um determinado tipo de pedido, para o qual se mostra mais adequado do que um procedimento padrão.
Os casos que seguem procedimentos especiais são expressamente previstos na lei, aplicando-se aos
demais o procedimento comum. Designa-se procedimento comum um procedimento padrão que pode ser
aplicado para o desenvolvimento de processos em que quaisquer tipos de pedido tenham sido formulados
(excluídos, obviamente, aqueles para os quais a lei definiu um procedimento especial).

O novo Código de Processo Civil dispõe sobre o procedimento comum a partir do art. 318 e dedica um
título a regular diversos procedimentos especiais, acomodados entre os arts. 539 e 770. A fórmula para a
escolha do procedimento não se altera, e nem era de se esperar que isso pudesse ser diferente. Não
havendo procedimento especial definido em lei (seja no próprio Código, seja em lei extravagante), a
causa segue o procedimento comum (art. 318). Mantém-se, igualmente, a aplicação subsidiária das
disposições do procedimento comum aos procedimentos especiais (art. 318, § ún.). Via de regra, e na
quase totalidade das situações, as normas legais que regem os procedimentos especiais definem apenas
alguns poucos atos e formas diferenciados, aplicando-se, quanto ao mais, as disposições do
procedimento comum.

No Código de 1973, havia dois procedimentos comuns: o sumário e o ordinário. A dualidade de


procedimentos comuns é eliminada pela nova lei, restando no Código de 2015 apenas um único
procedimento comum, ao qual a lei nem sequer atribuiu um nome, sendo chamado simplesmente de
procedimento comum. É, portanto, extinto o procedimento sumário. Também foram extintos alguns
procedimentos especiais: de depósito, de anulação e substituição de títulos ao portador, de nunciação de
obra nova, de usucapião de terras particulares e de vendas a crédito com reserva de domínio. As causas,
que, segundo o CPC/1973, seguiam esses procedimentos especiais, com a vigência do CPC/2015 passam
a se submeter ao procedimento comum. E, conforme disposto no art. 1.049, § ún., quando houver
determinação, em outras leis, para a utilização do rito sumário, aplicar-se-á, igualmente, o rito comum do
novo Código.

Após a vigência da nova lei, portanto, essas causas, que antes seguiam esses ritos extintos, deverão ser
propostas segundo o procedimento comum. Quanto às causas pendentes, o art. 1.046, § 1º, prevê regra de
transição específica para os feitos que seguem esses procedimentos extintos. Diz que “as disposições da
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos
especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da
vigência deste Código”.

Trata-se de exceção ao sistema de isolamento dos atos processuais, que determina a aplicação imediata
da lei processual aos processos em curso e é considerado regra geral de direito intertemporal em matéria
processual (preceito previsto no art. 1.211 do CPC/1973, que foi mantido, no art. 1.046, caput, do
CPC/2015). O texto do § 1º, porém, diz menos do que deveria. O que se pode entender pela condição
“ações propostas e não sentenciadas”? Por certo, as ações propostas e já sentenciadas não são
atingidas pela regra desse parágrafo, aplicando-se-lhes o CPC/2015 imediatamente. Quanto aos feitos
não sentenciados, a superveniência da sentença é apenas o marco temporal para definir a aplicação de
uma ou outra lei aos processos em curso, ou seria também um limite para a aplicação da lei anterior em
cada um desses processos? Isto é, no primeiro sentido, os processos atingidos pela nova lei enquanto se
encontravam entre o ajuizamento e a sentença continuariam, até o seu final, regidos pelo CPC/1973
(sistema da unidade processual); na segunda interpretação, os processos não sentenciados continuariam
regidos pela lei velha tão somente até a sentença e daí em diante passariam a ser regidos pelo CPC/2015
(sistema do isolamento das fases processuais).

Em sua literalidade, o sentido do texto legal parece ser o da primeira opção, mas isso não soa lógico. Se
os feitos já sentenciados são atingidos imediatamente pela lei nova, que rege, então, toda a fase recursal
que se seguir, não há razão lógica ou prática para justificar que, na fase recursal, não se aplique a lei
nova também aos processos que ainda não tinham sido sentenciados quando do início de sua vigência.
Por outro lado, a peculiaridade que havia no rito sumário, em matéria de recursos, de dispensar um juiz
revisor,3 foi incorporada ao rito comum, já que o novo Código eliminou a revisão para todas as
apelações. De qualquer modo, não seria razoável que as novas regras recursais ou sobre o trâmite de
processos nos tribunais possam ser imediatamente aplicáveis aos processos sentenciados, em que
possivelmente já foi interposto o recurso cujo trâmite pode ser afetado, mas os que ainda não foram
sentenciados continuem regidos pelo CPC/1973 também após a sentença. Ademais, o objetivo da regra
parece ser o de evitar o tumulto dos processos em primeiro grau, quando a diferença entre os ritos é mais
evidente.

Outra questão que resta refere-se à lei aplicável em caso de anulação da sentença e retorno dos autos ao
primeiro grau, tanto dos feitos mencionados no § 1º quanto aqueles que já tinham sido sentenciados e se
encontravam pendentes do julgamento de recurso. Considerado que o perceptível objetivo da regra, como
dito acima, é evitar o tumulto gerado pela necessidade de adaptação do procedimento em primeiro grau
de causas já iniciadas segundo as formas anteriores, soa apropriado que tais processos também sejam
regidos pelo CPC/1973 em caso de retorno ao primeiro grau, até a prolação da nova sentença.

Noutras palavras, a melhor interpretação para o parágrafo em exame parece ser a seguinte: o trâmite em
primeiro grau das causas de rito sumário ou dos ritos especiais revogados, mas ajuizados na vigência do
CPC/1973, seguirá as anteriores disposições específicas que regem esses ritos até a sentença. Se o
processo for anulado, qualquer que seja o estado da causa quando do início da vigência do CPC/2015,
aplica-se a ele, quando do retorno ao primeiro grau e até nova sentença, o CPC/1973.

Por último, soa claro do texto que as normas cuja eficácia no tempo é postergada, para esses processos
em curso, são apenas as disposições específicas dos ritos sumário e especiais que foram eliminados do
novo Código, e não a totalidade do CPC/1973. As regras gerais do CPC/1973, aplicáveis a todos os
procedimentos e, portanto, também a esses que não mais existem, não têm sua vigência prolongada,
aplicando-se imediatamente as disposições gerais do CPC/2015 também nos processos referidos no art.
1.046, § 1º, mesmo que não tenham sido sentenciados (como, p. ex., as regras sobre contagem de prazos,
sobre concessão de gratuidade processual, ou sobre o cabimento e forma do recurso de agravo, entre
outras).

2. Estrutura do novo procedimento comum

O novo procedimento comum, apesar das modificações que nele foram inseridas, mantém a estrutura do
“velho” procedimento ordinário. Assim como seu antecessor, o procedimento comum do novo Código
pode ser igualmente dividido nas mesmas fases lógicas: fase postulatória, fase ordinatória, fase
instrutória, fase decisória e fase recursal.

A fase postulatória, inicial, é marcada pelas subsequentes manifestações do autor e do réu, praticadas por
petições escritas, tal como no rito ordinário, e tendentes a proporcionar o contraditório sobre as questões
de fato e de direito e a estabelecer os limites da controvérsia sobre o caso concreto trazido a juízo.

A fase ordinatória, que, em termos cronológicos, praticamente se sobrepõe à fase postulatória,


caracteriza-se pela atividade judicial de ordenar o curso do processo e conduzi-lo conforme se fizer
necessário em função das manifestações apresentadas pelas partes, bem como de zelar pela validade e
regularidade do processo e de seus atos, determinando a eventual correção de vícios sanáveis. Do
mesmo modo como ocorre com o rito ordinário, a fase ordinatória do novo procedimento comum se
encerra com a prolação de uma decisão judicial qualificada, chamada de decisão de saneamento e de
organização do processo (v. art. 357)4. Tal decisão, evidentemente, não será proferida se for o caso de
extinção do processo, com ou sem julgamento do mérito, do mesmo modo como ocorre no CPC/1973.

Após, não sendo o caso de proferir-se julgamento antecipado, também previsto e com novos contornos,5
passa-se à fase instrutória, em que são colhidas as provas, seguindo-se a breve fase decisória, que se
resume à prolação da sentença, contra a qual cabe recurso, abrindo-se, então, a fase recursal.

3. Flexibilização do procedimento

Não se pode dizer que o procedimento ordinário, tal como previsto no CPC/1973, fosse um procedimento
rígido e invariável. A sequência de postulações iniciais das partes é desenvolvida ao sabor dos
acontecimentos, isto é, a depender do teor das manifestações do autor e do réu podem e devem ser
abertas novas oportunidades de vista ao adversário, para que este aduza suas impugnações ou
considerações. Ou, conforme ocorra intervenção de terceiros, o rito segue de modo a dar-lhes voz e
estabelecer o contraditório adequado sobre as questões que envolvem a entrada desses sujeitos. Ou,
ainda, a possibilidade de julgamento antecipado, quando desnecessárias outras provas acerca dos fatos
da causa, também afasta a ideia de que o procedimento ordinário fosse algo engessado.

Essas características são mantidas no procedimento comum do novo Código, que ainda prevê outras
maneiras mais de flexibilização procedimental.

Em se tratando de causas que admitam autocomposição, o art. 190 do CPC/2015 autoriza que as partes,
“antes ou durante o processo”, estipulem modificações no procedimento “para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais”. E, no art. 191, é prevista a possibilidade de elaboração de um “calendário para a prática
dos atos processuais”, a ser fixado conjuntamente pelas partes e pelo juiz, de modo que, uma vez seja
assim acordado, os atos devem ser praticados nas datas estabelecidas, com a dispensa de outras futuras
intimações (art. 191, § 2º).

Tais normas rompem com a anterior orientação que afirmava a indisponibilidade do procedimento.
Segundo o novo Código, as formas legais do procedimento podem ser afastadas, diante de norma privada
pactuada entre as partes. Como se admite que esse ajuste seja feito antes mesmo que exista um processo
em curso (art. 190), isso abre, especialmente no campo negocial, amplas oportunidades para que os
contratantes insiram regras de procedimento nos instrumentos contratuais, definindo a forma como será
desenvolvido em juízo eventual futuro processo derivado daquela avença.

Pode-se pensar, por exemplo, em estipular um procedimento cuja fase postulatória flua automaticamente,
fixando-se um certo número de manifestações para cada lado, com um prazo iniciado logo após o outro,
sem outras intervenções do órgão judicial. Uma vez que o art. 228, § 2º, do CP/2015 determina a juntada
automática de petições em autos eletrônicos, sem intervenção humana, tarefa que o computador é capaz
de cumprir instantaneamente, assim que terminado o prazo de uma parte o ato por ela praticado há de
estar disponível para conhecimento do adversário. A estrita observância dessa disposição por parte do
sistema informático judicial será um fator importantíssimo para o sucesso dessas disposições sobre a
disponibilidade do procedimento, especialmente a fixação do calendário previsto no art. 191. E, talvez,
seja esta determinação do art. 228, § 2º, uma das novas regras que verdadeiramente promovam a
celeridade processual, eis que eliminará grandes fatias do tempo morto do processo.

O § ún. do art. 190 estabelece o poder do juiz de controlar a validade das convenções sobre o
procedimento, mas afirma que sua aplicação só será recusada “nos casos de nulidade ou de inserção
abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de
vulnerabilidade”. Não está claro, no texto, a que tipo de nulidades a ressalva se refere. Parece razoável
supor que estão aí incluídos tanto os vícios formais ou os decorrentes de algum vício de vontade que
atinjam o próprio ato jurídico da convenção, como as nulidades decorrentes do conteúdo das regras
convencionais pactuadas. Afinal, embora o litígio envolva direitos disponíveis, que admitam
autocomposição, não soa possível que o procedimento fixado entre as partes possa atentar contra
princípios basilares do direito processual, como os da isonomia, do contraditório e do devido processo.
Assim, haverá de ser recusado pelo juiz um procedimento pactuado que nitidamente proporcione maiores
oportunidades de atuação a uma das partes em detrimento da outra, ou que suprima o contraditório no
todo ou em parte, ou que estabeleça formas que escapem dos contornos de racionalidade ou do due
process.

Não cuidou o legislador de estabelecer outros requisitos formais para tal convenção, mas, por analogia
com o disposto no art. 63, § 1º, que dispõe sobre a eleição de foro, que pode ser entendida como um
antigo negócio jurídico processual admitido pelo sistema, essas estipulações sobre matéria processual
devem constar de instrumento escrito e definir sobre quais futuros litígios elas se aplicam.

Questão interessante pode surgir acerca dessas disposições durante o período de vacatio legis do novo
Código. Seria lícito aos contratantes, desde logo e antes mesmo da entrada em vigor da nova lei, pactuar
regras sobre o procedimento? Tais regras convencionais, evidentemente, não poderiam ser aplicadas
antes da vigência do CPC/2015, mas não parece ilícita a inclusão, desde logo, nos contratos, de cláusulas
sobre o procedimento, dotadas de eficácia futura, pois sujeitas à condição suspensiva, isto é, a futura
vigência de lei que autorize a convenção sobre normas de procedimento.

Alguma flexibilização quanto à aplicação das formas procedimentais também se observa no art. 327, §
2º, do CPC/2015, que autoriza a cumulação de pedidos sujeitos a procedimento comum e especial,
hipótese em que a causa seguirá um procedimento que, na verdade, será híbrido, e não comum, como diz
o texto. Afinal, em tal procedimento deverão ser empregadas as “técnicas processuais diferenciadas
previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados”, como dispõe
o referido parágrafo. Assim, por exemplo, pode-se cumular um pedido de consignação em pagamento
com declaração de nulidade de cláusula contratual, bastando que seja inserida a “técnica diferenciada”
aplicável ao primeiro pedido, qual seja, a realização do depósito da obrigação consignada e os demais
atos processuais a ele relacionados. Os procedimentos especiais, em sua quase totalidade, não são mais
do que um procedimento comum em que foram inseridas algumas poucas variações. Evidentemente, é a
esses procedimentos que se aplica a regra aqui analisada. Impossível se mostra tal fusão com
procedimentos cuja especialidade seja maior do que a aplicação de meras variantes sobre o
procedimento comum, ou que conduzam a tipos específicos de tutela, como por exemplo o mandado de
segurança, o procedimento monitório, ou o inventário.

Outra possibilidade de alteração procedimental que a lei confere às partes encontra-se no art. 456, §
único, que permite ouvir primeiramente as testemunhas do réu e depois as do autor, se ambas as partes
concordarem. É de se indagar, porém, quais motivos concretos levariam o réu a abrir mão dessa
vantagem que a lei lhe concede e aceitar tal inversão, de modo que essa regra corre o risco de ser tão
pouco observável na prática quanto aquela que, já constante do CPC/1973,6 autoriza a modificação do
pedido ou da causa de pedir, após a citação, mediante concordância do réu.7

4. Procedimentos especiais extintos e a aplicação do procedimento comum

Quando da entrada em vigor do CPC/1973, foram por ele extintos alguns procedimentos especiais
previstos no Código anterior, de 1939. O mesmo ocorre agora. Não foram mantidos no novo Código os
procedimentos especiais de depósito, anulação e substituição de títulos ao portador, nunciação de obra
nova, usucapião de terras particulares e vendas a crédito com reserva de domínio.

Ao deixarem de figurar no rol dos procedimentos especiais, as causas que versam sobre tais tipos de
pedido simplesmente passam a seguir o procedimento comum.

De certo modo, a sequência de reformas a que o CPC/1973 foi submetido nas últimas duas décadas,
especialmente a generalização da possibilidade de concessão de tutelas antecipadas no corpo do
procedimento comum, tornou muito tênues as diferenças entre o procedimento comum e os especiais.
Muitos dos procedimentos especiais não contêm mais do que umas poucas variantes aplicadas sobre a
estrutura do rito comum, especialmente a possibilidade de concessão de medidas liminares. Antes da
instituição da antecipação de tutela, pela Lei nº 8.952/1994, não havia qualquer possibilidade de postular
uma tutela no início ou ao longo do procedimento comum. O processo de conhecimento somente previa
medidas de urgência em alguns dos procedimentos especiais. Assim, diante da crescente flexibilização,
que já há anos vem sendo dada ao procedimento comum, como mencionado anteriormente, é de se
duvidar até mesmo da utilidade da manutenção de alguns dos procedimentos especiais que restaram, cuja
futura extinção ainda haverá de ocorrer.

As necessidades de formas procedimentais “especiais”, que se dizem mais “adequadas” a muitos desses
tipos de litígio, não vão além da prática de um ou outro ato, ou da observância de uma ou outra
formalidade adicional, que bem podem ser introduzidos no procedimento comum. Assim se fez, no novo
Código, para os pedidos de usucapião, agora sujeitos ao rito comum. Estabelece, porém, o art. 246, § 3º,
que, nessas ações, a citação dos confinantes do imóvel se faz necessária, exceto quando versar sobre
unidade autônoma de prédio em condomínio, e o art. 259 determina a expedição de editais para ciência
de terceiros, regra essa que também se aplica ao pedido de recuperação e substituição de título ao
portador, outro procedimento especial extinto pela nova lei.

As disposições do CPC/1973 continuarão aplicáveis a esses procedimentos especiais extintos, que


tenham sido ajuizados e não estejam sentenciados até a entrada em vigor do novo Código, conforme
estabelece o art. 1.046, § 1º. Não são afetados pelo novo Código os procedimentos especiais previstos
em outras leis, que apenas passam a ser supletivamente regidos pelas suas disposições, segundo o § 2º do
mesmo artigo.
Capítulo II - Propositura da ação

1. Competência

1.1. Limites da jurisdição nacional (a antes chamada “competência internacional”)

Uma das primeiras questões processuais a serem consideradas quando do ajuizamento da ação é a
aferição do órgão judicial competente para a causa. E, talvez, seja também uma das mais complexas, que
não raramente gera tumulto processual e atraso significativo no processamento e julgamento final da
causa.

Pode-se afirmar que poucas foram as modificações trazidas pelo novo CPC sobre esse tema.

Antes de se verificar qual órgão judicial nacional é competente para causa, é preciso aferir se a causa
pode ser julgada em nosso país. O novo CPC substituiu a expressão “competência internacional”, nome
do capítulo que abrangia os arts. 88 a 90 do CPC/1973, por “limites da jurisdição nacional”,
designação esta que se mostra mais precisa.

Tais regras, agora posicionadas entre os arts. 21 a 25, estabelecem se a causa se submete, ou não, à
jurisdição nacional. Em caso negativo, não se atribui “competência” a órgão algum, cabendo ao
interessado encontrar qual outro país no mundo aceita, segundo suas próprias leis, processar e julgar essa
lide. Assim, o que se define nessas regras é se o Estado brasileiro exerce ou não poder sobre a causa que
se deseja ajuizar. Daí, mais correta a expressão utilizada no novo CPC, nomeando o tema como “limites
da jurisdição nacional”.

As hipóteses de competência concorrente previstas no art. 88 do CPC/1973 foram repetidas no art. 21 do


CPC/2015 e, com poucos acréscimos de texto, as situações de competência exclusiva da autoridade
judiciária brasileira, antes encontradas no art. 89, do CPC/1973, são também reproduzidas no art. 23 da
nova lei.

Resta claro, pelo novo texto legal, que a “partilha de bens, situados no Brasil” é litígio a ser
exclusivamente afeto à jurisdição nacional, tanto nas partilhas decorrentes da sucessão causa mortis
como também naquelas decorrentes de “divórcio, separação ou dissolução de união estável” do casal,
como foi expressamente acrescentado no inciso III do art. 23. Foi infeliz a escolha da expressão
“sucessão hereditária”, constante do inciso II do art. 23, eis que, se o mesmo inciso também incluiu a
“confirmação de testamento particular”, a regra parece ser aplicável tanto nos casos de sucessão
hereditária como testamentária. Por “sucessão hereditária”, o CPC/2015 deve ter desejado dizer
sucessão causa mortis, excluindo-se da competência exclusiva da autoridade brasileira outras formas de
partilha e sucessão, como, por exemplo, a decorrente de dissolução societária ou de outros atos negociais
praticados entre vivos.

No art. 22, outras causas, não previstas no CPC/1973, são incluídas como hipóteses de competência
concorrente da autoridade judiciária brasileira. Não se compreende porque o legislador não reuniu as
disposições dos arts. 21 e 22 num único rol, eis que ambos tratam indistintamente de hipóteses de
competência concorrente.
Assim, segundo dispõe o inciso I do art. 22, também podem ser ajuizadas perante o juiz brasileiro as
ações de alimentos, se: “a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil”, ou, “b) o réu mantiver
vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de
benefícios econômicos”. A hipótese da letra “b” aplica-se quando nem o autor nem o réu forem
residentes ou domiciliados no país (pois, para casos assim, já submetidos à jurisdição nacional por força
das disposições anteriores, a existência dessa regra seria desnecessária), bastando que aqui existam os
meios para assegurar o pagamento da pensão alimentícia demandada em juízo.

Pelo inciso II desse mesmo art. 22, incluiu-se no rol as ações decorrentes de relações de consumo,
quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil. No contexto em que a regra se insere,
tornou-se competente o juiz brasileiro para decidir ações movidas por pessoa residente ou domiciliada
no Brasil que travou relação de consumo no estrangeiro, sendo também estrangeiro o réu fornecedor.
Fosse a operação aqui ocorrida, ou estivesse o réu situado no Brasil, seja ele o fornecedor ou o
consumidor, as regras do art. 21 (como as do anterior art. 88 do CPC/1973) já fariam a causa se submeter
à jurisdição nacional. A nova regra de competência parece ter sido inspirada pela nova realidade de um
mundo globalizado, em que, especialmente por meio da Internet, é possível consumir produtos e serviços
oferecidos em qualquer lugar do planeta. Note-se, porém, que, no afã de proteger o consumidor, criou-se
regra de competência que carrega uma abrangência exageradamente ampla. Na letra fria do novo texto,
não se exige sequer a contemporaneidade entre o domicílio no Brasil e a relação de consumo
controvertida. Portanto, do modo como o inciso II se encontra redigido, um estrangeiro que passasse a
morar no Brasil poderia aqui demandar a respeito das relações de consumo de que foi parte, quando
ainda residia no seu país de origem, o que soa absurdo. No mais, aguardemos sua aplicação, para
constatar diante dos casos concretos se tal disposição será capaz proporcionar resultados úteis e
eficazes.

No terceiro e último inciso, define-se a possibilidade de submissão, expressa ou tácita, à jurisdição


nacional. É curioso que o legislador exija a forma escrita como requisito para a modificação de
competência interna pela eleição de foro (art. 63, § 1º, do CPC/2015), mas, neste caso, além de não se
referir à forma escrita, ainda admita que a jurisdição nacional possa ser considerada aceita pelas partes
de forma apenas tácita. Por coerência, tal eleição de jurisdição internacional haveria de ser admitida
somente por escrito. Note-se que a situação inversa, isto é, a exclusão da competência da autoridade
brasileira por força de eleição de foro estrangeiro, deve seguir o disposto no art. 63 e seus parágrafos,
conforme reza o art. 25 e seu § 2º, sendo, portanto, exigida a forma escrita, com alusão expressa a
determinado negócio jurídico.

A inclusão, neste inciso, do vocábulo “tacitamente”, ainda parece capaz de produzir consequências
aparentemente indesejáveis. Estaria o legislador se referindo à aceitação tácita por parte do réu, que não
impugna o ajuizamento da causa no Brasil, tal como ocorre com a prorrogação da competência nos casos
de incompetência relativa não impugnada? A aceitar-se essa possibilidade, na prática qualquer causa
poderá ser ajuizada no Brasil e não poderia o magistrado indeferi-la sem antes citar o réu, a quem seria
dado apresentar a recusa em contestação. Tal extensão da autoridade judiciária brasileira soa exagerada,
mas é o que, à primeira vista, parece derivar da literalidade do texto, ao admitir-se a aceitação tácita,
pelas partes, da jurisdição nacional.

Além disso, deve-se considerar a oportunidade de submeter ao Judiciário nacional causas cuja execução
possa ser praticamente dificultosa ou mesmo vedada pela legislação do país de origem. Não soa lógico
que a regra do inciso III possa impor ao país a apreciação de quaisquer causas, nem se compreende essa
generosidade do legislador em oferecer os já sobrecarregados serviços judiciários brasileiros para
julgar litígios que não apresentem nenhum elemento de conexão com o país.

1.2. Competência territorial

No que toca à competência interna, tal como no regime anterior, prevê o novo Código a distribuição de
competência territorial, sendo as competências de justiça ou de juízo objeto de disposições
constitucionais ou das leis de organização judiciária.

A regra geral de competência territorial, que define como competente o domicílio do réu, é mantida no
CPC/2015, encontrando-se prevista no art. 46. Também se repetem, nos parágrafos deste artigo, os
mesmos desdobramentos da regra geral fixados no CPC/1973, sendo acrescentado um § 5º, que define a
competência do domicílio do executado para a execução fiscal.

Entre as regras especiais de competência territorial, encontramos algumas ligeiras novidades, abaixo
referidas.

A ação para impugnar ou anular a partilha extrajudicial também segue o foro da sucessão, agora previsto
no art. 48, ou seja, deve ser ajuizada no último domicílio do falecido.

As disposições subsidiárias, aplicáveis para o caso de o falecido não ter domicílio certo, tornam-se mais
claras e precisas no novo Código. Não tendo domicílio certo, são competentes, nesta ordem: “I – o foro
de situação dos bens imóveis”, diferentemente do que dizia o CPC/1973, que não fazia distinção entre a
localização de bens móveis e imóveis para fins de fixação da competência; “II – havendo bens imóveis
em foros diferentes, qualquer destes”, e não mais no lugar do óbito, como previsto no CPC/1973; “III –
não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio”. Sendo assim, o local do
óbito, previsto subsidiariamente no art. 96, § ún., II, do CPC/1973, já não é relevante para fixação da
competência para as ações relativas à sucessão causa mortis.

Outra regra de competência territorial modificada pelo novo CPC é a que diz respeito às ações de
separação, divórcio e anulação de casamento, agora prevista no art. 53, I, sendo acrescentadas à hipótese
legal também as ações de reconhecimento e dissolução de união estável. Em nome da igualdade entre os
sexos, o legislador eliminou o privilégio de foro da mulher, estabelecendo como competente, em
primeiro lugar, o foro do domicílio do guardião de filho incapaz. A regra anterior inseria-se em um
contexto patriarcal – por certo ainda não totalmente eliminado em nosso extenso e contrastado país – em
que a mulher casada desempenhava as funções de mãe e dona de casa e normalmente se via em situação
de dificuldade econômica com a separação, a justificar essa sua proteção por meio do privilégio de foro.
Em não havendo filho incapaz, estabelece a nova regra que competente é o foro do último domicílio do
casal, desde que algum dos cônjuges ainda permaneça na localidade. De certo modo, para os casais que
ainda sigam aquele modelo patriarcal, a mulher que restar com os filhos incapazes, ou for deixada no lar
comum, situações bastante corriqueiras nas separações quando ela se encontra em posição de submissão
econômica, o foro competente ainda será o seu. Não ocorrendo nenhuma das duas hipóteses, a letra “c”
desse inciso remete para a regra geral de competência, devendo a ação ser ajuizada no foro do domicílio
do réu, eliminando-se, portanto, o privilégio de foro.

Duas novas regras de competência territorial especial foram incluídas nas letras “e” e “f” do inciso III,
do mesmo art. 53. Pela primeira, instituiu-se o foro especial para o idoso, para causa que verse sobre
direito previsto no seu Estatuto. Neste caso, competente é o foro de sua residência. A outra regra define a
competência da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato
praticado em razão do ofício.

Por último, modificou-se a regra voltada para a ação de reparação de dano decorrente de acidente de
veículos, para incluir-se a expressão “inclusive aeronaves”, de modo que também as ações com pedido
de indenização por acidentes aéreos observem a competência do lugar do domicilio do autor ou o local
do fato (art. 53, V, do CPC/2015).

2. Instrumento de mandato

Ao postular em juízo, cabe ao advogado apresentar o instrumento de mandato, excetuadas as situações


previstas no atual art. 104, semelhantes às do art. 37 do Código de 1973.

Tal como na lei anterior, segundo o art. 105 do novo Código a procuração geral para o foro é bastante
para outorgar ao advogado poderes para a prática de todos os atos do processo, excetuados aqueles para
os quais a lei exige poderes especiais. Entre os atos que exigem outorga expressa de poderes especiais,
incluiu-se a assinatura de declaração de hipossuficiência econômica, repetindo-se os demais que já se
encontravam no art. 38 do CPC/1973. Assim, para formular o pedido de gratuidade processual na petição
inicial, na contestação, ou em qualquer outra petição, ou a própria parte assina a peça conjuntamente, ou
o advogado que a subscreve haverá de ter poderes especiais definidos expressamente na procuração.

3. Petição inicial

Os requisitos da petição inicial, antes previstos no art. 282 do CPC/1973, agora se encontram no art. 319
da nova lei processual.

No que tange à qualificação das partes, o inciso II deste artigo passou a exigir a indicação de eventual
existência de união estável, o número de inscrição no CPF ou CNPJ, conforme se trate de pessoa natural
ou jurídica, bem como o endereço eletrônico.

A menção ao número do CPF ou CNPJ já vinha sendo exigida por algumas Cortes em nosso país desde há
muitos anos, mesmo inexistindo qualquer determinação legal nesse sentido. Esses números, que não
passam de um índice no cadastro de contribuintes federais, sem que qualquer lei lhes tenha atribuído
função de identificação civil, há tempos vêm sendo irregularmente tratados, em diferentes cenários, como
se fossem documentos de identidade. Com o avanço da informatização processual, os sistemas
informáticos dos tribunais passaram a se valer desses números como um dado cadastral indexador, um
verdadeiro número único de identificação civil. Agora, à parte qualquer juízo de valor sobre a novidade,
ao menos a lei passou a amparar tais exigências.

Durante o trâmite legislativo, chegou a constar do texto do projeto a infeliz ideia de se fazer intimações
pelo correio eletrônico, discussão que também havia sido ventilada no projeto que resultou na anterior
Lei nº 11.419/2006, que regula a informatização processual. Essa má ideia de efetuar citações pelo
correio eletrônico, felizmente, não restou aprovada no texto final de nenhuma das duas leis, o que foi
muito sábio da parte do legislador, eis que tal tecnologia não é suficientemente segura para esse fim e o
ato citatório não pode ser de tal modo banalizado. Retirada do texto final qualquer referência à intimação
por e-mail, aparentemente esqueceu-se o legislador de remover essa exigência da petição inicial, como
se fez em outros artigos que continham determinação correlata. Desse modo, a indicação do endereço
eletrônico do autor e do réu constituem-se exigências menores, cuja inobservância não há de gerar
qualquer consequência. Mesmo porque ninguém pode ser obrigado a ter e manter um endereço eletrônico,
e soa absurdo que um mero serviço, voltado para a comodidade do usuário, e que é contratado e
encerrado, ora aqui ora ali, com variados prestadores de serviços, ou é fornecido por força de fatos
conjunturais, como sua relação de emprego, associação ou participação em algum grupo social ou
profissional, possa ser comparado a um endereço físico onde a parte possa ou deva ser encontrada, fato
este que costuma ser razoavelmente estável e duradouro, ao menos para a maioria das pessoas. Deve ser
visto, pois, como uma indicação opcional, que poderá servir para facilitar um eventual contato com a
parte, quando isso se fizer necessário, mas não é de se esperar que se possa extrair daí outras
consequências jurídicas ou processuais.

Além disso, os §§ 1º a 3º do art. 319 abrandam sobremaneira as exigências de seu inciso II, o que é
bastante consentâneo com a realidade prática, eis que nem sempre é sabida pelo autor a qualificação
completa do réu. Desse modo, o autor pode requerer a realização de diligências tendentes a completar
tais informações (§ 1º), algo que já era costumeiramente deferido pelos juízes, diante dessas situações
excepcionais. E, sendo possível a citação do réu, a falta dessas informações não pode acarretar o
indeferimento da inicial, conforme dispõe o § 2º, o mesmo se aplicando quando a sua prévia obtenção
tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. O que importa, evidentemente, é que as
partes possam ser identificadas e individuadas.

Dispensou-se o requerimento de citação do réu, previsto no inciso VII, do art. 282, da lei anterior,
exigência que não é repetida no novo CPC. De fato, tal “requisito” não passava de mera formalidade sem
sentido, pois é claro que o réu haverá de ser sempre citado para que seja completada a formação da
relação processual, ou para que seja observado o princípio do contraditório. Era, portanto, um excesso
de formalismo considerar necessária a inclusão de uma frase-padrão na petição inicial, em que esse
indispensável chamamento do réu precisasse ser expressamente mencionado ou requerido.

O mesmo formalismo ainda restou, porém, na exigência de indicação de provas na petição inicial,
constante do inciso VI do art. 319, o que também se repete para a contestação, conforme dito no art. 336,
ambos do CPC/2015. Enquanto não esgotada a fase postulatória, as partes ainda não definiram os limites
do litígio, não restando nítidos a elas quais são os fatos controvertidos que demandarão prova. Daí o
requisito ter-se tornado, na prática, uma frase feita, em que as partes solicitam, indistintamente e em todas
as causas, a produção de todos os meios de prova possíveis e imagináveis. Em todo caso, se a nova lei
continua a exigir tal referência, reitere-se, então, ad nauseam, nas iniciais e contestações, a tal frase
feita. Continua correto e oportuno, assim, que o juiz solicite a especificação de provas ao final da fase
postulatória, momento em que os contornos do litígio estão definidos e as partes podem apontar com
precisão quais provas realmente pretendem produzir, ou afirmar que o feito não exige a produção de
outras provas e solicitar julgamento antecipado.

Pede, ainda, o inciso VII do art. 319, que o autor expresse sua opção pela realização ou não de audiência
de conciliação ou de mediação. Parece claro que isso não é propriamente um requisito de aptidão da
peça vestibular, mas tão somente uma opção do autor de dispensar essa audiência prevista na lei.
Omitindo-se a inicial quanto a esse item, é de se presumir que ele não optou pela dispensa, não se
opondo a que o feito siga o trâmite legal em sua inteireza. Quanto à audiência em si e sua possível não
realização, o tema será tratado mais adiante.8
Com o fim do rito sumário, desaparece qualquer exigência quanto à apresentação do rol de testemunhas
na petição inicial.9

Por último, a petição inicial deverá ser instruída com os documentos indispensáveis à propositura da
ação, conforme dispõe o atual art. 320, que reitera a regra do art. 283 do CPC/1973.

4. Valor da causa

O inciso V do art. 319 mantém o valor da causa como requisito da petição inicial e as regras a seu
respeito encontram-se agora previstas nos artigos 291 a 293, com algumas ligeiras modificações em
relação ao disposto no CPC/1973.

A orientação geral que deve prevalecer, no tocante à fixação do valor da causa, é que este deve
representar, do modo mais fiel possível, o significado econômico do pedido formulado pelo autor, ao
menos tanto quanto se possa apurar no momento do ajuizamento. É notável que as modificações
observadas acerca desse tema têm o claro escopo de atender o mais possível a essa orientação geral.

As regras sobre a fixação do valor da causa, constantes do art. 292, do CPC/2015, não são exaustivas,
assim como as que estavam no art. 259 da lei anterior. O artigo enumera situações suficientes para
abranger a maior parte dos casos concretos em que a causa tenha conteúdo econômico. Quando não o tem,
o valor dado a causa será meramente estimativo, não sendo objeto de qualquer critério legal.

Mas é sempre possível que surjam situações práticas que não se encaixem perfeitamente nas hipóteses
descritas no rol do art. 292, casos em que o valor a ser atribuído à causa deve ser apurado caso a caso,
segundo a orientação geral acima referida. Nesse sentido, a regra do § 3º, a princípio destinada a
pacificar a dúvida sobre a possibilidade, ou não, de correção desse valor por determinação ex officio do
juiz, serve também como um critério supletivo para a fixação do valor, ao estabelecer que o juiz pode
ordenar sua alteração, quando o valor atribuído pelo autor não corresponder “ao conteúdo patrimonial
em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor”. Essa é precisamente a orientação
geral que deve balizar a atribuição inicial do valor da causa, e que agora aparece inscrita na lei.

Os incisos do art. 292 fixam critérios objetivos para o valor da causa, representando uma estimativa
legal para o conteúdo patrimonial ali envolvido. Na falta de regra expressa, esse conteúdo patrimonial e
os critérios para sua obtenção devem ser aferidos e decididos caso a caso.

No inciso I do art. 292, aplicável aos pedidos condenatórios de obrigação em dinheiro, foi acrescentada
a expressão “monetariamente corrigida”. Deixa claro o novo CPC que o valor da causa é o valor
presente da obrigação postulada, contemporâneo à data do ajuizamento, com todos os seus acréscimos,
tais como, reiterando o CPC/1973, os juros e outras penalidades pedidas pelo autor.

O inciso II, que rege o valor da causa para as ações em que se discute a existência, validade,
cumprimento, modificação ou rescisão do ato jurídico, incluiu no rol também os pedidos para a sua
resolução ou resilição. Aproximando-se mais da orientação geral acima mencionada, o novo texto diz
que o valor da causa, nesses casos, é “o valor do ato ou o de sua parte controvertida”. Por vezes, o
questionamento trazido a juízo não atinge todo o valor econômico do ato jurídico controvertido; assim, a
parte final acrescentada ao texto deixa claro que o valor da causa corresponderá apenas ao conteúdo
econômico que está em jogo, ainda que o valor total do contrato, por exemplo, seja maior. Tome-se como
exemplo processo que verse sobre a validade ou não de uma determinada disposição contratual, cuja
aplicação fosse capaz de aumentar ou reduzir o valor das obrigações contratadas. O valor da causa,
portanto, seria apenas a diferença decorrente da aplicação, ou não, da cláusula controvertida, e não o
valor total do contrato.

Outra novidade é observada no inciso IV do art. 292, acerca do valor da causa para ações de divisão,
demarcação e reivindicação. No CPC/1973, essa situação era prevista no inciso VII do art. 259, que
dava à causa o valor do imóvel para fins de lançamento de impostos sobre a propriedade urbana ou rural.
Embora tais valores fiscais tenham sido, no passado e no mais das vezes, bastante inferiores ao valor
real de mercado do bem, a velha regra trazia como vantagem o fato de constarem de um documento
público e oficial, a permitir desde logo e sem grande dificuldade atribuir-se o valor a essas causas
relativas a bens imóveis. Com a aparente intenção de atender àquela orientação geral, o novo texto diz
que o valor da causa passa a ser “o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido”. A regra se
mostra inoportuna, pois cria uma necessidade extra quando da propositura dessas ações, impondo um
ônus desnecessário ao autor. Por outro lado, levada a sério tal exigência, é de se indagar como poderá
ser feita uma avaliação, com apuro e precisão, sobre imóvel reivindicando que se encontra ocupado pelo
réu, com quem o autor provavelmente não está a manter relações muito amistosas... Parece claro que um
profissional responsável não se permitirá assinar um laudo avaliatório nessas condições; restará ao autor,
a se exigir tamanho rigor formal na fixação do valor, valer-se dos que não são tão responsáveis...

Ademais, alguns Municípios, interessados no aumento de arrecadação, têm nos últimos anos elevado
significativamente os valores fiscais dos imóveis urbanos, e a realidade que se observa é que sua
defasagem com o preço de mercado tornou-se algo superado ou irrelevante, mesmo porque o mercado é
sujeito a oscilações puramente conjunturais e nem sempre duradouras. Teria sido melhor deixar que esse
movimento das prefeituras cuidasse de tornar o valor fiscal mais próximo do real, do que criar
dificuldades adicionais ao autor da ação, a lhe embaraçar o acesso à justiça e a tornar
desnecessariamente custoso o ajuizamento da ação, com a exigência de realização de perícias que talvez
nem sequer precisariam ser feitas para decidir o pedido. É de se esperar que impere o bom senso na
interpretação dessa regra e da viabilidade de sua aplicação ao caso concreto levado a juízo,
dispensando-se o autor dessa exigência, ao menos quando se mostrar desproporcionalmente cara, ou de
difícil ou demorada execução. A melhor solução para a nova regra é permitir ao autor uma “avaliação”
estimativa, declarada por ele próprio na petição inicial; se houver controvérsia a respeito, sempre caberá
a produção de prova posterior.

Além desses pequenos ajustes em três das regras presentes no CPC/1973, um novo inciso foi
acrescentado no rol. Figura no inciso V a determinação de que o valor da causa seja, “na ação
indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido”. A regra, por um lado, não
parece ser das mais felizes, pois não há motivo para tratar em incisos diferentes os pedidos de
condenação em dinheiro, quaisquer que sejam os seus fundamentos. Segundo a orientação geral, que
nesses casos de condenação em dinheiro encontra as menores dificuldades de aplicação e apuração do
valor, o valor da causa deve ser, obviamente, o valor em dinheiro que se pede. Faria sentido criar regras
distintas se desejasse o legislador que o valor da causa para uma ou outra cobrança seguisse algum
critério diferenciado, mas esse não parece ser o caso do novo dispositivo ora comentado. O que seria “o
valor pretendido”, senão o valor presente da indenização, com todos os seus acréscimos, consoante já
estabelecido no inciso I do mesmo artigo? Para dizer tal coisa, é desnecessária a criação da nova regra.

O que parece motivar essa regra é o desejo do legislador de afirmar que também para os pedidos de dano
moral o valor da causa deve exprimir o valor pretendido. Mas, neste caso, qual é, em moeda, o valor
pretendido? Fica a impressão de que o legislador confundiu o valor da causa com a exigência de liquidez
do pedido. Como apontado adiante,10 o CPC/2015 foi mais incisivo ao dispor sobre o requisito de
determinação do pedido e, ao que parece, esta regra é mais um reflexo disso do que disposição voltada
para a estimação do valor da causa, eis que, como dito, não se distingue do critério contido no inciso I do
mesmo artigo.

Noutras palavras, esse texto quer sugerir, na verdade, que o pedido de dano moral seja igualmente
líquido, mas o legislador, confundindo os conceitos, inseriu a regra entre as disposições sobre a fixação
do valor processual da causa, e não sobre a determinação do pedido. Assim, uma vez expresso em moeda
o valor do dano moral pleiteado, exigência relativa à liquidez do pedido, o valor da causa é o valor
pretendido.

5. Pedido

Requisito mais importante da petição inicial, o pedido é, assim como no CPC/1973, objeto de Seção
própria, que se estende entre os arts. 322 a 329.

Poucas são as modificações introduzidas acerca do pedido, todas girando em torno de sua determinação e
de sua interpretação. Quanto ao mais, são reiterados os preceitos do CPC/1973.

Segundo o art. 286 do CPC/1973, o pedido deve ser “certo ou determinado”, expressão que a doutrina
corrigia para “certo e determinado”. Afinal, essas não eram exigências alternativas nem tão pouco
sinônimas, devendo ser, ambas, atendidas pelo autor. A possível confusão foi eliminada pelo CPC/2015,
que passou a tratar de cada um desses requisitos em artigos diferentes.

Assim, o art. 322 do CPC/2015 afirma que “o pedido deve ser certo”. Isso significa que o pedido deve
ser expresso, explícito, induvidoso, não pode pairar qualquer dúvida sobre o que pede o autor.
Consequência disso é que não se considera integrante do pedido aquilo que dele não constar com clareza.

Nos parágrafos, porém, especialmente no § 2º, o CPC/2015 faz afirmações contraditórias, cuja
interpretação poderá gerar sérios problemas para ambas as partes.

Corolário inseparável da exigência de certeza do pedido é a sua interpretação restritiva, que era
afirmada pelo art. 293 da lei anterior. O mesmo artigo excepcionava os juros legais e, por força de outras
disposições legais, no Código ou fora dele, a doutrina e jurisprudência não hesitavam em incluir no rol
das exceções à interpretação restritiva também a correção monetária, eis que prevista na Lei nº
6.899/1981, e as custas e honorários de advogado, impostas em outros artigos do Código. O § 1º do art.
322 do CPC/2015, ao dizer que “compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e
as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios”, consolida no mesmo dispositivo essa
orientação anterior, de modo que essas rubricas mencionadas no texto são consideradas parte integrante
do pedido, ainda que não expressamente referidas na petição inicial. Até aqui, nenhuma novidade em
relação ao regime legal anterior.

No § 2º, entretanto, há uma afirmação incongruente com o sistema, com as garantias do réu e com o
próprio teor do que lhe antecede no mesmo artigo. Não reiterou o CPC/2015 a disposição que afirmava
que “os pedidos são interpretados restritivamente” (art. 293, do CPC/1973), preferindo dizer que “a
interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé”.

Há, ao longo do novo CPC, uma desejável e saudável orientação no sentido de prestigiar-se a solução da
demanda, esforçando-se a lei em tentar superar as questiúnculas processuais que possam obstar ou
retardar o julgamento do mérito. Nesse sentido, são várias as disposições tendentes a permitir a correção
de vícios e defeitos, para que o processo possa ser “salvo” e siga adiante até o julgamento de mérito.
Todavia, o pedido e sua necessária certeza – afirmada no caput desse mesmo artigo – não podem ser
tratados sob essa mesma ótica “salvacionista”. Se o autor não for capaz de apresentar pedido induvidoso,
bem formulado, que não comporte entendimentos diferentes sobre o que precisamente veio buscar em
juízo, ninguém mais, a não ser ele mesmo, pode ou deve ser prejudicado pelo sentido enganoso de suas
próprias palavras.

Afinal, antes de mais nada, um pedido certo já não comporta interpretações. Ele é o que é. O que se pede
é o que está escrito. Um pedido que comporte interpretações, que possa ter sentido ou extensão diversos
aos olhos de diferentes leitores, é na verdade um pedido duvidoso. O critério da interpretação restritiva,
expresso no CPC/1973, já era uma forma de “salvar” um pedido duvidoso da extinção, adotando-se a
única solução que não prejudica o demandado: restringir sua extensão. Isto é, se um texto é ambíguo, a
ponto de poder significar tanto que o autor quer X, como que quer X+Y, conforme a percepção do leitor,
isso pode prejudicar a defesa, caso esta, na sua interpretação, só tenha percebido o pedido de X. E,
assim, o réu se defendeu somente de X. Apresentou provas somente para fatos que influíam no pedido X.
A regra do § 2º, ao afirmar que “a interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e
observará o princípio da boa-fé”, é, portanto, um verdadeiro atentado às garantias do réu. Invocar a
aplicação do princípio da boa-fé não explica coisa alguma, a menos que se dissesse que a outra
alternativa – agir de má-fé – fosse uma opção possível e aceitável. Boa-fé é algo sempre esperado. E o
que seria o “conjunto da postulação”? Se o autor, em algum parágrafo esparso ao longo de seu texto,
sugeriu ter direito a qualquer coisa mais, mas não a pediu expressamente, estaria o juiz autorizado, por
absurdo, a julgar esse suposto pedido, a partir do “conjunto da postulação”? Teria o réu se defendido
suficientemente disso? Ou, mais, será que o próprio autor tem a intenção de formular tal pedido nesse
momento e vê-lo julgado? E se, mesmo não sendo intenção do autor formulá-lo, o juiz incluí-lo no
conjunto da postulação e julgá-lo improcedente? Ainda que o quisesse, por que não o formulou
expressamente, se lhe cabia a apresentação de pedido certo? E se, querendo, não o formulou, sendo seu o
erro, por que flertar com a violação de garantias do réu, se seria muitíssimo mais óbvio, justo e coerente
com todos os princípios de direito que o prejudicado por suas falhas ou omissões deva ser ele próprio, o
autor?

Feitas essas considerações, vê-se que a nova regra não resolve nenhum problema importante do
processo, mas pode criar outros, especialmente dando margem ao arbítrio judicial.

Sob um ângulo mais prático, o que resta considerar?

Em primeiro lugar, a novidade não afasta a sempre segura recomendação, que se faz ao patrono do autor,
no sentido de que o pedido seja redigido com o maior cuidado possível, seja lido e relido quantas vezes
necessário, depurando-se eventuais ambiguidades de texto. Não convém, nem mesmo para o autor, contar
com uma possível interpretação posterior sobre o que está sendo pleiteado, pois nada garante que essa
margem de flexibilização sugerida pelo legislador – se considerada constitucional, coisa que duvidamos,
pois atenta contra o princípio do contraditório – poderá levar a resultado que coincida precisamente
com o bem da vida que ele veio buscar em juízo.
Em segundo lugar, do ponto de vista do réu, talvez seja o caso de, diante da constatação de ambiguidades
de redação constantes da petição inicial, apontá-las na defesa e, se for o caso, tentar apresentar defesa
sobre todos os possíveis sentidos do pedido.

Em terceiro lugar, ao juiz, recomenda-se que interprete os pedidos restritivamente, em regra, pois é essa
a interpretação que mais atende ao princípio do contraditório e, de certo modo, é a que mais se afina
com a boa-fé pregada no texto legal. Somente pode ser diferente diante de situação – certamente pouco
frequente – em que, apesar do texto duvidoso com que o pedido se apresenta, ficar claro que a aplicação
dessa interpretação extensiva faça com que o pedido corresponda àquilo que o autor quer pedir, e que o
réu o compreendeu e de tudo se defendeu de modo completo. Não observadas essas premissas, ou
veremos o juiz agir de ofício, julgando aquilo que o autor não desejou pedir, ou prejuízos irreparáveis à
defesa, o que soa inadmissível.

Quanto à determinação do pedido, essa vem mencionada no art. 324, constando do § 1º as mesmas
ressalvas do CPC/1973, que admitem pedido genérico. A rigor, pedidos genéricos, ou ilíquidos, só são
admitidos nas três situações constantes dos incisos do § 1º, que são repetições dos incisos do art. 286, do
CPC/1973. E o teor desses incisos é induvidoso: somente se admite o pedido genérico quando o autor
não tem como determiná-lo. A jurisprudência nacional, todavia, tem se mostrado muitíssimo benevolente
na aceitação de pedidos genéricos, sendo raros os julgados que aplicavam o art. 286 com o necessário
rigor. A determinação do pedido é, igualmente, uma garantia do réu, tanto no sentido de conhecer
precisamente os limites daquilo sobre o qual é demandado, como para proporcionar-lhe também a
oportunidade de discutir o quantum pretendido ou os critérios que levaram à sua fixação.

O CPC/2015 incluiu entre os motivos de indeferimento da inicial a afirmação de que é inepta a petição
inicial quando “o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o
pedido genérico” (art. 330, § 1º, II). Destarte, se dúvida interpretativa havia na redação do CPC/1973, o
novo Código assinalou que os incisos do art. 324, § 1º, elencam hipóteses taxativas. E, não se
encontrando entre elas, o pedido de dano moral, por exemplo, deve ser líquido, cabendo ao autor
apresentar o valor em moeda que deseja receber como compensação pela dor, vexame, ou humilhação
sofridos, ou o que mais tenha motivado tal pleito indenizatório. É nesse sentido que o já mencionado
inciso V do art. 292 prevê, entre os critérios de fixação do valor da causa, que tal valor deve
corresponder ao montante pretendido, também para as indenizações por dano moral, como comentado
anteriormente.11

Por fim, o art. 329 do CPC/2015 consolida e aclara as regras relativas à estabilização do pedido, antes
divididas nos arts. 264 e 294 da lei anterior. Até a citação, segundo o inciso I, o autor tem livre
disponibilidade acerca do pedido, podendo tanto aditá-lo como alterá-lo, bem como desistir dele no todo
ou em parte (art. 485, VIII, e § 4º). Citado, o réu adquire direitos na relação processual, que passa a
integrar a partir daí, de modo que após a citação essas modificações no objeto da demanda só se admitem
com o consentimento dele, conforme previsto no inciso II. Embora tal situação, se ocorrer na prática,
deva ser raríssima, teve o legislador o cuidado de prever que, feita a adição ou alteração do pedido
nessas condições, terá o réu o prazo mínimo de 15 dias para “manifestação”, que é, na verdade,
verdadeira contestação ao pedido acrescido ou modificado.
Capítulo III - Deferimento, ou não, da petição inicial

1. Aspectos gerais

O novo CPC mantém o exame preliminar da petição inicial. Ajuizada a demanda, a inicial é submetida a
um prévio juízo de admissibilidade feito pelo magistrado, do qual pode resultar o seu deferimento, com a
determinação de citação do réu, ou decisão para que seja emendada, caso em que, cumprida a exigência,
a petição volta a novo exame de admissibilidade, para que seja deferida, ou seja extinto o processo.

Nesse sentido, a essência e a estrutura desse momento processual são praticamente as mesmas. Há,
porém, novidades em aspectos formais que merecem a atenção dos estudiosos e profissionais.

2. Questões apreciáveis de ofício pelo juiz

Entre as normas fundamentais do processo civil, que abrem o texto do novo Código, prevê o art. 10 que
“o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual
não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual
deva decidir de ofício”.

Todos os pontos examinados pelo magistrado, quando dessa primeira apreciação, são matérias que
devem ser decididas de ofício, mesmo porque a parte contrária ainda nem foi citada.

Diante desse novo princípio legal previsto no art. 10, a primeira manifestação judicial, quando do exame
prévio de admissibilidade da inicial, só pode seguir dois caminhos: o deferimento, ou a vista à parte,
seja para emendar a inicial, seja para se manifestar sobre alguma questão que o juiz possa decretar de
ofício. Não cabe ao juiz, portanto, extinguir o processo desde logo, sem dar oportunidade ao autor de se
manifestar sobre os fundamentos dessa extinção. Ainda que se trate de vício que não comporte correção –
a existência de coisa julgada, ou a ilegitimidade ativa, por exemplo – ao autor deve ser dada a
oportunidade de esclarecer a questão e sustentar que tais vícios não existem. Outras questões que não
acarretariam extinção, como a decretação de incompetência absoluta, também só poderiam ser decididas,
neste momento, após concedida oportunidade ao autor de sobre elas se manifestar.

Após a manifestação do autor, a inicial pode ser, então, deferida ou indeferida, conforme o vício tenha
sido sanado ou não, ou tenha ou não o autor convencido o magistrado de que o suposto vício inexistia.

Esse novo modo de conduzir o processo certamente levará ao aprimoramento das decisões, uma vez que
elas serão proferidas pelo magistrado a partir de um caldo de informações mais denso, e, quem sabe,
proporcionará a redução do número de recursos interpostos.

3. Emenda da petição inicial

No art. 321 do CPC/2015, repete-se, então, o disposto no art. 284 da lei anterior. Diante da falta de
requisitos ou da existência de vícios, o juiz determinará ao autor que emende a petição inicial.

O prazo para a emenda passa a ser de 15 dias, e não mais os 10 dias previstos no diploma anterior. E,
como todos os demais prazos em dias, são contados apenas os dias úteis (art. 219).

Outra alteração formal encontra-se na parte final do art. 321. Ao ordenar a emenda da inicial, compete ao
magistrado indicar “com precisão o que deve ser corrigido ou completado”. O texto acrescido, a rigor,
poderia ser considerado desnecessário, pois é o que faz regularmente a imensa maioria dos magistrados e
decorre da mais pura racionalidade: como pode o autor corrigir a inicial se não sabe qual é o defeito ali
visto pelo magistrado? Além disso, tem a parte o direito de, ao invés de emendar a petição, sustentar que
o defeito apontado não ocorre e simplesmente insistir no deferimento da petição inicial.

Disso resulta que, se o magistrado identificar posteriormente outros vícios, que lhe pareçam igualmente
insanáveis, mas não foram precisamente especificados na decisão que determinou a emenda da inicial,
outra oportunidade deve ser dada à parte de se manifestar sobre eles ou, se for o caso, corrigi-los.

4. Indeferimento da petição inicial

As hipóteses de indeferimento da petição inicial encontram-se no art. 330 do novo Código e são
praticamente as mesmas enumeradas no art. 295 do diploma anterior. A estrutura dos dois artigos - velho
e o novo – é a mesma. O caput enumera vícios que acarretam o indeferimento, um dos quais é a inépcia
da petição inicial, que, por sua vez, vem esmiuçada em parágrafo desses artigos. No geral, ocorrida a
situação de qualquer dos incisos, seja do caput, seja do parágrafo que define a inépcia, há vício capaz de
acarretar a extinção do processo.

Há, porém, algumas notáveis diferenças entre os dois dispositivos. O novo texto contém uma previsão
inexistente no CPC/1973, que já foi acima referida: a inicial é considerada inepta quando o pedido não
for determinado, excetuadas as restritas hipóteses de pedido genérico, autorizadas pelo art. 324, § 1º.12

Por outro lado, três dos incisos presentes no art. 295, do CPC/1973, não se repetem na nova lei. Dois
deles foram abolidos, outro foi apenas deslocado de lugar.

A impossibilidade jurídica do pedido deixa de ser considerada condição da ação. Assim, não é
mencionada no art. 330 como hipótese de inépcia da inicial (como antes figurava, no art. 295, § ún., III,
do CPC/1973), nem entre os casos de extinção do processo sem julgamento de mérito do art. 485, VI
(disposição correspondente ao art. 267, VI, do CPC/1973). Se, a partir da vigência do CPC/2015, um
pedido formulado puder ser considerado juridicamente impossível em tese, sem necessidade de outras
considerações de fato ou independentemente dos detalhes concretos da causa (características da condição
da ação ora sepultada), isso deverá ser decidido como hipótese de improcedência do pedido, não mais
de inadmissibilidade da ação. Afinal, se o pedido é impossível juridicamente, pode-se dizer que o autor,
então, não tem direito a ele. Será proferido, portanto, um julgamento de mérito, pela rejeição do pedido.

Não se repetiu, também, a regra do inc. V, do art. 295, do CPC/1973, que na prática já não era mesmo
aplicada da maneira como se encontrava ali escrita. Caso o procedimento escolhido pelo autor não seja o
correto, cabe ao juiz simplesmente determinar que o feito siga o procedimento determinado pela lei. É o
que se fará, na vigência do novo CPC, respeitando-se o disposto no art. 10, já mencionado
anteriormente.13

O art. 295 do CPC/1973 também incluía as hipóteses de decadência e prescrição no rol de incisos que
conduzem ao indeferimento da inicial. A decretação de decadência ou prescrição resulta em sentença de
mérito – como já constava do CPC/1973 – e foi melhor situada, na nova lei, entre as regras acerca da
“improcedência liminar do pedido” (art. 332, § 1º, do CPC/2015).

5. Improcedência liminar do pedido

O CPC/2015 criou um capítulo destacado, denominado “da improcedência liminar do pedido”, para
dispor sobre todas as situações em que o pedido é julgado improcedente, por sentença de mérito, antes
mesmo da citação do réu. O Capítulo conta com um único artigo, o de número 332.

O art. 332 substitui, com muito maior qualidade e oportunidade, o controvertido art. 285-A, do
CPC/1973. Tal dispositivo havia sido inserido no Código anterior pela Lei nº 11.277/2006, criando
situação que a doutrina vinha chamando de julgamento antecipadíssimo da lide.

O novo texto dispõe sobre situações em que o mérito é julgado imediatamente pelo juiz, tal como se
observava no anterior art. 285-A, ancoradas, porém, em fundamentos completamente diversos, previstos
em seus quatro incisos. Todos os incisos são fundados em súmulas dos tribunais ou em julgamento de
recursos ou demandas repetitivas. A jurisprudência de um juiz só, ou jurisprudência das próprias
decisões, aberração contida no art. 285-A do CPC/1973, foi, portanto, abolida.

O improcedência liminar do pedido, segundo o novo Código, tem lugar quando o pedido contrariar: “I –
enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II – acórdão
proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos; III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou
de assunção de competência; IV – enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local”.

Por fim, no § 1º desse mesmo artigo, o novo Código melhor enquadra a hipótese de decretação de
decadência ou prescrição, como já foi mencionado no tópico anterior. O texto desse parágrafo, na
verdade, bem poderia constar de mais um inciso do caput, dentre os que já ali figuram, elencando as
situações de improcedência liminar do pedido.

E, insista-se, por força do já mencionado art. 10 do novo Código,14 em qualquer das hipóteses de
improcedência liminar do pedido, antes de o juiz proferir a sentença deve dar vista ao autor para que se
manifeste sobre a questão.

6. Da decisão judicial

O ato de deferir a petição inicial, embora vulgarmente chamado, no dia a dia do foro, de “despacho” da
inicial, tem natureza de decisão interlocutória, embora dela não caiba recurso. O autor não foi
prejudicado ao ter a sua petição admitida e, portanto, não tem interesse em recorrer; e o réu, que ainda
não está no processo, poderá apontar na contestação todos os vícios processuais que poderiam resultar
no indeferimento, não sendo cabível, como já não o era no regime do CPC/1973, a apresentação de
recurso, por qualquer das partes, contra o ato de mero deferimento da petição inicial.

O ato que indefere a petição inicial e o que decide pela improcedência liminar do pedido têm a natureza
de sentença, em qualquer dos casos impugnável pelo recurso de apelação. Curiosamente, embora o
conteúdo das regras seja rigorosamente o mesmo, o CPC/2015 desdobrou as disposições sobre uma e
outra apelação em dispositivos diferentes.
Assim, o art. 331 do CPC/2015 e seus parágrafos dispõem sobre a apelação contra a sentença de
indeferimento e os §§ 2º a 4º do art. 332 referem-se ao mesmo recurso apresentado contra a sentença de
improcedência liminar do pedido. Os textos são ligeiramente diferentes, mas o significado deles é
idêntico.

De ambas as sentenças cabe apelação, cujo prazo encontra-se previsto no art. 1.003, § 5º, ou seja, os
mesmos 15 dias previstos no CPC/1973, com a diferença de que agora serão contados em dias úteis (art.
219). Interposta a apelação, é permitido ao juiz retratar-se, no prazo de 5 dias (art. 331 e art. 332, § 3º).
Não havendo retratação, o réu será citado para responder ao recurso (art. 331, § 1º e art. 332, § 4º). Não
se repete, portanto, a regra do art. 296, § ún., do CPC/1973, que determina a imediata remessa dos autos
ao tribunal ad quem, sem se referir à citação do réu para responder ao recurso. Agora, em qualquer dos
casos, tanto de indeferimento como de improcedência liminar, havendo recurso do autor, o réu deve ser
citado para responder ao apelo e acompanhar o processo até seus ulteriores termos.

Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado (art. 331, § 3º, e art. 332, § 2º),
apenas para o fim de lhe dar ciência da existência do processo já morto e de seu resultado, que lhe foi
favorável. Tratando-se de julgamento de mérito, nos casos previstos no art. 332 a sentença ficará coberta
pela coisa julgada material.

Uma vez que o novo CPC admite a prolação de julgamentos parciais de mérito (art. 356), não parece
haver óbice a que tal decisão parcial seja proferida também nesse momento inicial. Já não é estranho ao
sistema do CPC/1973 que a inicial possa ser deferida em parte, quanto a um ou alguns dos pedidos, mas
sejam indeferidos os demais. O mesmo se mantém na nova lei. E, também, caso parte dos pedidos mereça
deferimento, mas, quanto ao restante, ocorra alguma das hipóteses do art. 332, não há óbice ao
julgamento liminar de mérito quanto a esses últimos. Nesses casos, em que a inicial é parcialmente
deferida, contra a outra parte dessa decisão caberá agravo de instrumento (art. 356, § 5º).
Capítulo IV - Citação do réu

1. Formas de citação e suas formalidades

Deferida a petição inicial, o réu será citado para os termos da ação. A citação vem prevista no CPC/2015
a partir do art. 238.

As formas de citação são praticamente as mesmas previstas no art. 221, do CPC/1973, conforme rol do
art. 246, do CPC/2015. Estabelece esse artigo que a citação será feita: “I – pelo correio; II – por oficial
de justiça; III – pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório; IV – por
edital; V – por meio eletrônico, conforme regulado em lei”. Incluiu-se na lista, como se nota, a forma
constante do novo inciso III, embora se possa dizer que mesmo no regime anterior essa meio de
comunicação ao réu, uma vez que se apresentasse na secretaria, não seria vedada.

Do mesmo modo que na lei anterior, o comparecimento espontâneo do réu supre a citação, como se lê no
art. 239, § 1º, do CPC/2015. Acrescentou esse parágrafo que o prazo para contestar ou para embargar a
execução flui a partir da data de seu comparecimento; entretanto, tal regra deve ser interpretada em
conjunto com as demais disposições sobre o prazo para contestação. Quando o termo inicial do prazo for
a data da juntada do mandado ou outros eventos previstos no art. 231 (conforme estabelece o art. 335,
III), esse momento é substituído pela regra do art. 239, 1º. O termo inicial do prazo, então, é a data do
comparecimento. Mas, caso o prazo para contestar tenha início a partir de outro evento (como, por
exemplo, a audiência de conciliação ou mediação, ou o protocolo, pelo réu, do pedido de cancelamento
dessa audiência, conforme art. 335, I e II), o comparecimento espontâneo do réu apenas o dá por citado,
sem nenhuma repercussão quanto ao início de algum prazo.

O texto final do comentado § 1º, porém, traz repercussão importante quanto ao prazo para contestar ou
embargar quando o demandado, já considerado revel, adentrar os autos alegando vício de citação. Pelo
regime anterior, se o réu revel comparecesse posteriormente e alegasse apenas o vício de citação, e
sendo tal vício reconhecido por decisão judicial, a citação e, consequentemente, o termo inicial do prazo,
seriam considerados ocorridos na data em que o réu ou o seu advogado fossem intimados dessa decisão
(art. 214, § 2º, do CPC/1973). Pela nova sistemática, o réu que se apresenta no processo, mesmo
alegando a nulidade do ato citatório, precisará oferecer contestação ou embargos dentro do prazo legal,
que se inicia na data do seu comparecimento, e não mais na data de intimação da decisão que viesse a
acolher a alegação de nulidade. Deste modo, acolhida a arguição de nulidade, a contestação, já
apresentada, é recebida, proporcionando maior celeridade aos desdobramentos posteriores do feito; não
acolhida a alegação de nulidade de citação, a defesa é considerada intempestiva.

A citação postal continua a ser a forma preferencial de citação, conforme referido no art. 247 do
CPC/2015. As anteriores restrições à citação postal, contidas nas alíneas do art. 222, do CPC/1973, são
praticamente repetidas no novo dispositivo, excetuada a referência aos processos de execução (art. 222,
letra “d”, do CPC/1973). Deste modo, a citação poderá ser postal também para os processos de
execução. Outra pequena diferença de texto entre os dois dispositivos encontra-se no inciso V, a indicar
que o pedido do autor para que a citação seja feita de outra forma há de ser justificado. Assim, se o autor
entender mais conveniente que se promova desde logo a citação por oficial de justiça, dispensando-se a
tentativa de fazê-la por carta, pede a nova lei que tal requerimento seja motivado. Ao que parece, tal
motivação não há de exigir longa argumentação, bastando apontar circunstâncias fáticas que indiquem que
o carteiro poderá ter dificuldades em efetivar a citação pessoal.

Tratando-se de pessoa jurídica, a citação postal, segundo o art. 248, § 2º, poderá ser entregue a pessoa
com poderes de gerência geral ou de administração, como já afirmava a lei anterior, ou ainda “a
funcionário responsável pelo recebimento de correspondências”, expressão que é acrescentada no novo
texto, confirmando circunstância que a jurisprudência ao tempo do CPC/1973 já costumava admitir.

No que toca à citação por hora certa, foram abrandados os rigores para sua realização, o que poderá dar
causa a mais incidentes e nulidades. Segundo art. 252 do CPC/2015, bastam agora duas visitas do oficial
do justiça em que o réu não seja encontrado, e não mais as três exigidas pela lei anterior, para que o
oficial de justiça possa marcar a realização da citação por hora certa. Evidentemente, a suspeita objetiva
de ocultação é mantida como importante requisito de validade da citação por hora certa, não bastando
que o réu não esteja presente no endereço indicado por duas vezes.

A designação da hora certa pode ser feita a qualquer parente ou vizinho, como já fixado no CPC/1973,
admitindo-se também, na nova lei, que possa ser feita a funcionário da portaria responsável pelo
recebimento de correspondência, caso o citando habite condomínio vertical ou horizontal, conforme
disposto no § ún. do art. 252 do CPC/2015. Não é de se esperar, todavia, que a diligência do oficial,
nesses casos, se resuma a perguntar pelo réu na portaria e, diante da negativa, marque desde logo a hora
certa. A exigência de suspeita de ocultação exige que o oficial averigue com cautela e atenção as razões
da ausência do réu, parecendo claro que, no cumprimento de mandado judicial, o controle de acesso da
portaria não pode obstá-lo de adentrar o condomínio para esse fim. O que o parágrafo autoriza é apenas
direcionar a comunicação da hora certa aos funcionários da portaria, o que se fará na falta de parentes ou
outros habitantes do imóvel em que a diligência foi feita. Não os havendo, melhor entregar a citação a
porteiro do condomínio do que a vizinho, seja para preservar a intimidade do citando, seja pela
experiência ordinária de que o contato do morador com a portaria é bem mais frequente e esperado do
que com vizinho. A regra do parágrafo, neste sentido, presta-se também a facilitar a chegada da
informação ao citando favorecendo o seu comparecimento para receber a citação pessoal na hora
marcada, e não apenas a simplificar a tarefa do meirinho.

Duas novas disposições sobre a citação por hora certa são agora previstas nos §§ 2º e 4º do art. 253 do
CPC/2015. Pelo primeiro texto, “a citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da
família ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da
família ou o vizinho se recusar a receber o mandado”. Esclareceu-se, portanto, na lei, que não é
necessário que esteja presente, no momento da citação, a mesma pessoa intimada no dia anterior acerca
da designação do horário de citação. Esqueceu-se o texto de mencionar o porteiro do condomínio, a
quem também pode ter sido entregue essa comunicação no dia anterior. Por certo, sua presença também é
dispensada no dia seguinte. Desse modo, se o citando não estiver presente para receber a citação no
horário marcado, esta poderá se efetivar na pessoa de qualquer outro parente, vizinho, ou funcionário da
portaria do condomínio. No § 4º, indica-se que “o oficial de justiça fará constar do mandado a
advertência de que será nomeado curador especial se houver revelia”. O curador especial é nomeado
em favor do citado revel, de modo que tal comunicação não parece ser propriamente uma “advertência”,
mas sim uma mera informação. Caso o oficial, por esquecimento, não o mencione no mandado, não se
vislumbra nisso qualquer prejuízo ao réu, de modo que tal omissão não parece ser motivo para invalidar
a citação.
Por último, feita a citação por hora certa, a carta a ser enviada ao réu deve ser expedida dentro de 10
dias da juntada do mandado aos autos (art. 254 do CPC/2015). Tal carta é considerada um esforço a mais
para se tentar dar ciência ao réu acerca dos termos da ação, sendo importante o respeito a esse prazo,
especialmente diante da nova sistemática do CPC/2015, em que o prazo para contestar só se iniciará na
data da audiência de conciliação ou mediação. Com isso, diversamente do que ocorria no regime do
CPC/1973, há grandes probabilidades de tal carta ser recebida pelo citando ainda em tempo hábil de
oferecer sua defesa e evitar a revelia, desde que, claro, o prazo previsto nesse artigo seja observado pela
secretaria. Tratando-se de mero esforço para aumentar as chances de ciência do réu, a exigência aqui
prevista, assim como se encontra no CPC/1973, resume-se à expedição de tal carta, sendo desnecessário
que tenha chegado às mãos do réu, que já se encontra formalmente citado desde a data em que foi
efetivada a citação por hora certa.

No que toca à citação por edital, observa-se no CPC/2015 algumas modificações em sua forma, neste
caso bastante promissoras. O edital, segundo dispõe o art. 257, II, já não mais será publicado nos jornais
ou em local visível do fórum como era da tradição dessa modalidade de citação e se encontrava prevista
no art. 232, II e III, do CPC/1973. Excelente exemplo de bom uso dos meios informáticos pelo processo
judicial, essas formalidades foram substituídas pela “publicação do edital na rede mundial de
computadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais do Conselho Nacional de
Justiça, que deve ser certificada nos autos”. Em dois aspectos, a novidade se traduz em maior acesso à
justiça, tanto para o autor como para o réu.

De um lado, a publicação em um canal de comunicações ubíquo, como é a Internet, em que a informação


pode ali permanecer indefinidamente, aumenta substancialmente a possibilidade de que o réu venha a
tomar conhecimento da sua citação. Para esse fim, a publicação se mostra muito mais eficiente do que a
divulgação no diário oficial ou em jornais.

Por outro lado, é de se esperar uma expressiva diminuição do custo desse ato citatório, eis que, ainda que
taxas venham a ser cobradas pelo órgão judicial para a realização do edital, o custo de publicação no
papel é muitas vezes maior do que nessas plataformas digitais. Embora o Estado brasileiro seja um
arrecadador insaciável, deixa-se aqui os votos de que as custas para tal edital eletrônico sejam
compatíveis com os ínfimos custos de manutenção do serviço, o que representará grande economia em
relação ao preço dos editais publicados em jornais. A novidade, portanto, reduz os custos do acesso à
justiça, nesses casos em que não se sabe o paradeiro do demandado.

Leve-se em conta, ainda, a diminuição de importância dos jornais impressos em nossa moderna
sociedade da informação, não se descartando sequer que possam ser extintos em mais alguns anos, daí
mostrar-se também oportuno que a lei comece desde já a buscar alternativas à sua utilização.

A possibilidade de publicação nos jornais torna-se, no novo Código, apenas uma faculdade a ser
determinada pelo juiz, conforme dispõe o § ún. do art. 257, para o fim de atender às peculiaridade da
comarca. Não se trata de forma alternativa, mas sim de mais uma forma de divulgação da citação, a se
somar à forma eletrônica prevista no inciso II desse mesmo artigo. Ambas as publicações devem ser
feitas, caso o juiz determine a publicação pelo jornal. Nos grandes centros, e onde mais haja facilidade e
universalização do acesso à Internet, a publicação em papel nada agregará, exceto mais custos, razão
pela qual a opção do parágrafo único não deve ser utilizada, o que restringe a aplicação dessa regra a
locais ermos do país em que as comunicações eletrônicas ainda não tenham chegado ou sejam pouco
disseminadas entre a população local.
No que diz respeito à citação por meio eletrônico, modalidade que, pelo seu caráter de comunicação
presumida, já merece ser praticada e interpretada com muitíssimas ressalvas, o novo CPC continuou sem
esclarecer quais as formas pelas quais se fará tal comunicação ao réu, tão pouco se ocupou de
estabelecer requisitos formais que assegurem que o ato possa atingir a sua finalidade. O § 1º do art. 246
do CPC/2015 cria uma exigência um tanto quanto extravagante, ao determinar que empresas públicas e
privadas, excetuadas as microempresas e as empresas de pequeno porte, sejam obrigadas a se cadastrar
“nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações”.
No § 2º, determina-se a aplicação da regra anterior também para a citação da Fazenda Pública. Pouco se
diz, no entanto, sobre como as empresas cadastradas serão intimadas ou citadas. Dizer, como consta do
inciso V do art. 246 (repetindo exatamente o art. 221, V, do CPC/1973, inserido pela Lei nº
11.419/2006), que a citação se fará por “meio eletrônico”, equivale a dizer simplesmente que, pelas
outras formas, tal ato será praticado com o uso do papel. Há inúmeras maneiras eletrônicas de se enviar
uma comunicação a alguém, e a importância desse ato inicial de comunicação exige uma descrição mais
minuciosa, em lei, da forma como será executado e, especialmente, das garantias que deverão ser
observadas a fim de se assegurar que o ato atinja sua finalidade, que é a de dar adequada ciência ao
citando acerca da existência do processo e do que é postulado pelo autor.15

Quanto ao mais, são mantidas as disposições sobre citação previstas no CPC/1973, especialmente as
referentes à citação pessoal por oficial de justiça, repetidas nos arts. 249 e 250 do CPC/2015.

2. Efeitos da citação

Os efeitos da citação estão previstos no art. 240 do CPC/2015, com ligeiras modificações em relação ao
diploma anterior.

Em primeiro lugar, segundo o CPC/2015, a citação já não produz o efeito de tornar prevento o juízo. No
CPC/1973, havia duas regras acerca da prevenção, que ensejavam interpretação da doutrina e
jurisprudência sobre a correta relação entre os dois dispositivos, prevalecendo a noção de que, entre
órgãos judiciais com a mesma competência territorial, a prevenção se dava pelo primeiro despacho que
deferiu a inicial (art. 106, do CPC/1973), mas, entre órgãos judiciais de competência territorial diversa,
a prevenção era fixada pela primeira citação válida (art. 219, do CPC/1973).

No novo Código, a prevenção é produzida por um único ato, independentemente do fato de tratar-se de
causas pendentes em órgãos judiciais com mesma competência territorial ou não. E o ato que estabelece a
prevenção do órgão judicial não é nenhum dos dois atos que a definiam, no regime do CPC/1973. O art.
59, do CPC/2015, determina que “o registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o
juízo”. Assim, a prevenção já não é um dos efeitos processuais da citação.

Também a interrupção da prescrição deixa de ser efeito material da citação. Segundo o § 1º do art. 240
do CPC/2015, a interrupção da prescrição decorre do ato do juiz que ordena a citação, ainda que o órgão
judicial seja incompetente para a causa. Praticado esse ato, a interrupção da prescrição retroage à data
da propositura da ação, segundo o mesmo parágrafo, que repete, neste ponto, a regra da lei anterior (art.
219, § 1º, do CPC/1973). Compete ao autor, no prazo de 10 dias, promover “as providências
necessárias para viabilizar a citação”, sob pena de não se considerar interrompida a prescrição,
conforme § 2º do mesmo art. 240. Embora tenha o mesmo sentido que a doutrina e jurisprudência
atribuíam ao texto correspondente anterior (art. 219, § 2º, do CPC/1973), que dizia que o autor tinha tal
prazo para “promover a citação”, o novo dispositivo deixa claro que não é necessário que a citação se
efetive nesse prazo, mas tão somente que o autor não se omita em praticar ato necessário à diligência, e
que lhe compita, como, por exemplo, antecipar as despesas para sua realização.

Foram completamente excluídas do texto as exigências anteriores para que a citação fosse realizada, ou
realizada dentro de certo prazo, sob pena de não se considerar interrompida a prescrição. Assim,
proposta a ação dentro do prazo prescricional e exarada a decisão de deferimento da inicial, a prescrição
está interrompida retroativamente à data do ajuizamento, exceto se o autor for negligente em proporcionar
os meios para sua efetivação dentro dos dez dias seguintes ao deferimento. Por certo, o termo inicial
deste prazo é o dia da intimação do deferimento, como soe acontecer com todos os demais prazos
processuais.

O novo texto é mais consentâneo tanto com a realidade de uma sociedade de massas quanto com a
própria concepção de prescrição, como uma consequência da inércia do titular do direito. Não se pode
exigir dele mais do que simplesmente propor a ação no prazo. Se o demandado sumiu no mundo, se ele se
oculta, ou se as próprias características da vida moderna, especialmente nos grandes centros urbanos,
produzem dificuldades extras para que se efetive a citação pessoal, isso não pode ser motivo para que o
titular do direito sofra as consequências da prescrição.

O § 4º, do art. 240, estabelece que as disposições sobre a interrupção da prescrição são igualmente
aplicadas à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei. Não é correto falar-se, neste
caso, em interrupção da decadência, cujo prazo não se interrompe, e sim que, ajuizada a ação dentro do
prazo decadencial e observadas as disposições dos §§ 1º e 2º, a decadência não ocorreu.

Concluindo, a citação já não é o ato do processo que produz a prevenção ou a interrupção da prescrição.
Como exposto acima, são outros os atos que produzem esses efeitos.

Os demais efeitos previstos no art. 219, do CPC/1973, são reiterados na nova lei. No art. 240, dispõe o
novo Código que a citação “induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o
devedor”. Mas há ligeiras diferenças de texto que merecem comentário.

A expressão “ainda quando ordenada por juízo incompetente” foi deslocada para o início do texto.
Desse modo, a eventual incompetência – relativa ou absoluta, já que não se faz na lei qualquer distinção
– do órgão judicial não é empecilho à produção de qualquer dos efeitos da citação. No CPC/1973, pela
posição em que a expressão se encontrava na frase, referia-se tão somente aos efeitos materiais da
citação, isto é, a constituição do devedor em mora e a interrupção da prescrição.

Assim, para o Código de 2015, é irrelevante a competência, ou não, do órgão jurisdicional para que a
citação produza seus efeitos todos, materiais e processuais. E, quanto à interrupção da prescrição,
consequência que já não mais decorre da citação válida, mas do deferimento da inicial, o § 1º, do art.
240, afirma que tal interrupção também opera mesmo quando a causa tenha sido ajuizada perante órgão
judicial incompetente.

A parte final do art. 240 acrescenta texto inexistente na lei anterior, afirmando que, no tocante à
constituição do devedor em mora, é “ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002 (Código Civil)”.16 Embora a lembrança dessas disposições seja oportuna, nada se
altera em termos práticos. A mora e as causas que constituem o devedor em mora encontram-se na órbita
do direito material e não do processo. A citação é apenas um dos eventos que constituem o devedor em
mora. Se, por força da lei material, sejam essas disposições do Código Civil referidas no art. 240, sejam
outras quaisquer que a lei definir, o devedor já se encontrava em mora antes da citação, neste caso o
efeito já foi produzido, sendo irrelevante a citação para esse fim. Mas esse já era o entendimento
anterior, isto é, se o devedor ainda não estiver em mora, a citação válida assim o constitui; se já estava
em mora antes mesmo do processo, por força de outros atos ou fatos previstos na lei material, irrelevante
se torna tal regra processual para esse caso concreto.

3. Finalidade da citação no procedimento comum

No procedimento ordinário, previsto no CPC/1973, o réu é citado para oferecer resposta no prazo de 15
dias. No procedimento sumário, também do Código anterior, a citação chama o réu para comparecer à
audiência designada, com data, hora e local informados no mandado, momento em que poderá apresentar
sua defesa.

Não se pode deixar de apontar desde logo algumas críticas à alteração das formas processuais ora
analisadas, pois, ao que me parece, esse momento do procedimento é uma das duas piores criações do
novo Código, fazendo par com as disposições sobre o cabimento do recurso de agravo.

O CPC/2015 resolveu extrair o que há de pior no rito sumário anterior, juntar com as demais disposições
do rito ordinário e dar a isso o nome simples de procedimento comum. Como mencionado em capítulo
anterior,17 há apenas um procedimento comum no novo Código, tendo sido extinta a dualidade entre os
procedimentos ordinário e sumário. Assim, prevê o art. 334 e seus doze parágrafos a realização de uma
audiência inicial de conciliação ou de mediação. Desse modo, aquilo que já se mostrou suficiente para
provocar atraso e congestionar nossos juízos de primeiro grau, quando aplicado apenas a algumas causas
de rito sumário, passa a ser regra para todas as lides que seguem o rito comum. Também já não tinha sido
muito promissora a experiência obtida com a audiência preliminar de conciliação, que a Lei nº
8.952/1994 inseriu no art. 331 do CPC/1973, dando-lhe inicialmente ares de obrigatoriedade, mas essa
rigidez foi posteriormente atenuada pela inserção de um § 3º a aquele artigo, pela Lei nº10.444/2002.
Desprezando essas experiências anteriores, o legislador insiste em obrigar a realização de uma audiência
para tentativa amigável de solução do litígio, colocando-a, porém, no momento mais inoportuno do
procedimento.

Não se trata, esta crítica, de amaldiçoar a conciliação em si, ou a mediação recém prestigiada pela lei,
nem mesmo de confessar sem culpa um espírito conflituoso que, supostamente – segundo se tem bradado
por aí – alimenta a sociedade e a advocacia de nosso país, o que seria a causa de todos os males do
processo. Trata-se apenas de constatar que, em termos práticos, designar uma audiência sem antes citar o
réu – ou todos os réus – é um caminho que já mostrou seus defeitos à exaustão, diante da má experiência
do rito sumário. Melhor seria citar o réu para desde logo defender-se por escrito, como se dava no rito
ordinário, sem prejuízo de se tentar conciliar ou mediar a causa paralelamente, designando-se após a
citação uma data para tal fim.

Ademais, consideramos que não há possibilidade de uma negociação séria, justa e honesta sem que
ambas as partes tenham ciência das razões sustentadas por seu adversário, o que só se dá, pelo menos,
após a apresentação da defesa pelo réu. O autor deve ter o direito de saber que o réu não tem nada de
razoável a oferecer em defesa, como tem o réu o direito de mostrar ao autor que conta com argumentos
contundentes a seu favor. Sem isso, o que se quer é somente uma saída aleatória e o mais rápido possível,
para limpar o quanto antes os escaninhos judiciais, se é que isso vai concretamente acontecer, por
impulso dessas novas disposições.
Além disso, o rito processual nessa fase inicial, e tão somente por conta dessa audiência, não poderia ter
sido regido de modo mais confuso. Piorou-se um pouco mais aquilo que, no rito sumário, já era ruim.

Como visto anteriormente,18 o autor pode, na petição inicial, optar pela não realização da audiência (art.
319, VII). Entretanto, mesmo que o autor afirme não ter interesse pela tal sessão de pacificação, a
audiência é designada mesmo assim! A lei exige, para não a realizar, que todas as partes se manifestem
expressamente pela sua dispensa conforme disposto no art. 334, § 4º, I, ficando claro no § 6º desse
mesmo artigo que, em caso de litisconsórcio, todos os litisconsortes devem expressamente manifestar seu
desinteresse.

Não tendo o réu sido citado, sua opinião, obviamente, só poderá ser colhida depois que ele tomar ciência
do processo. Mas a lei quer que ele já seja citado para a comparecer a uma audiência, o que, portanto,
exige que ela seja previamente designada pelo magistrado, ao despachar a inicial, informando-se o
citando, no mandado, a data, hora e local de sua realização. O resultado disso é que, mesmo que o autor
manifeste seu desinteresse, a audiência é designada e o réu será citado para comparecimento.

Outra razão que pode levar à dispensa da designação dessa audiência inicial é o disposto no art. 334, §
4º, II, isto é, quando a causa não admitir a autocomposição.

Feitas essas considerações iniciais, quanto à realização ou não da audiência, no que toca à finalidade da
citação e comportamento esperado do réu uma vez citado, os desdobramentos são os seguintes:

Tendo sido designada a audiência, o réu é citado tão somente para comparecimento. Nem mesmo precisa
apresentar defesa ou qualquer manifestação processual por ocasião dessa audiência, eis que o prazo para
tanto começará a fluir somente a partir da data dessa sessão, ou da última, se mais de uma for designada
em continuação da primeira (art. 335, I, do CPC/2015).

Se, citado, observar o réu que o autor havia dispensado a audiência, tem aquele a opção de também
manifestar seu desinteresse. Nesse caso, cabe ao réu apresentar petição simples, apenas para dizer que
também não quer a realização da audiência, a ser protocolada com até dez dias de antecedência contados
da data designada. É sempre oportuno lembrar que tal prazo é contado em dias úteis, como todos os
demais prazos em dias (art. 219).

Desistindo o réu da audiência, o prazo para oferecer defesa passa a ter como termo inicial o dia do
protocolo da petição em que manifestou seu desinteresse, segundo art. 335, II. E, neste caso,
evidentemente, a audiência não será realizada e o Poder Judiciário por certo não terá como aproveitar
para outra causa o horário antes reservado na agenda, ou o local e pessoal já empenhados para o ato. Ou
seja, não se trata de regra muito afinada com a economia processual ou com a boa gestão do trabalho nos
órgãos judiciais.

Mas, sendo vários os réus, todos devem igualmente se manifestar pela não realização da audiência.
Nesse caso, o prazo de reposta para cada réu se inicia independentemente um do outro, cada um contado
da data de protocolo de sua própria petição. Um problema que pode ocorrer, caso o Judiciário não seja
suficientemente ágil em juntar tais petições,19 é que o litisconsorte que dispensou a audiência pode não
ficar sabendo de imediato acerca da manifestação de vontade do outro litisconsorte, quando não
defendidos pelo mesmo patrono.
Note-se que não há, na lei, regra expressa sobre o início do prazo quando um réu se manifesta pela
dispensa da audiência e o outro simplesmente se omite (sem contar com o risco de uma situação de
dúvida: ele se omitiu ou apenas sucedeu que sua petição de dispensa ainda não foi juntada aos autos?).
Mesmo que houvesse manifestação expressa do outro corréu, no sentido de indicar seu desejo pela
realização da audiência – ato que a lei não lhe obriga a apresentar – não está claro no Código que o
prazo do primeiro litisconsorte, que a dispensou, só correrá conjuntamente a partir da data da audiência,
embora seja essa a interpretação que parece fazer mais sentido.

Nesses casos, portanto, convém ao demandado muita cautela, ao menos até que se possa considerar
pacífica nos Tribunais alguma orientação sobre o início desse prazo, quando há litisconsórcio. Em termos
estritamente práticos, para evitar surpresas, recomenda-se ao demandado litisconsorte apresentar sua
desistência no derradeiro dia. Se até a data da audiência não houver nos autos notícia da desistência do
outro corréu, apenas dez dias úteis se passaram e, à falta de outra informação, deve-se ir à audiência
designada. Se somente na ocasião da audiência for constatado pelo órgão judicial que o outro
litisconsorte também a havia dispensado, ela não será realizada, e o réu ainda contará com cinco dias
remanescentes do prazo que se iniciou com o protocolo da sua petição.

O que é mais provável que aconteça, invocando-se às avessas um famoso ditado popular – “não faça hoje
o que pode ser deixado para amanhã” – é que a grande maioria dos demandados, mesmo sem ter interesse
algum pelo acordo, nem proposta séria a oferecer, preferirá não se manifestar e deixar a audiência se
realizar, pois no mínimo obterá com isso uma dilação maior para oferecimento de sua defesa; e, claro, a
demora processual já se tornou uma cínica e frequente moeda de troca em acordos, sempre em desfavor
do demandante, e cujo valor é diretamente proporcional às aflições deste, ou de sua maior necessidade
em obter a prestação jurisdicional.

Além disso, existe a possibilidade de não designação desta audiência inicial por conta do disposto no
inciso II, do § 4º, isto é, quando a causa não admitir autocomposição. Considerando que mesmo direitos
indisponíveis admitem, em certa extensão, alguma margem de acordo (como, por exemplo, o direito à
paternidade, que é indisponível pelo filho mas a relação pode ser reconhecida pelo pai), poucas são,
estatisticamente falando, as causas que se encaixam nesse inciso, o que talvez fique restrito
especialmente às causas contra a Fazenda, diante da indisponibilidade dos bens públicos.

Nesse caso, o réu será citado para oferecimento de defesa, por petição, em prazo que começará a correr
a partir de algum dos termos iniciais previstos nos incisos do art. 231 do CPC/2015, conforme seja o
caso. Assim, o termo inicial do prazo será, em síntese, a juntada aos autos da comprovação de realização
do ato citatório. Havendo litisconsórcio, repete-se aqui a orientação do CPC/1973, no sentido de que o
prazo deve correr conjuntamente para todos os réus. Diz o § 1º do art. 231, do CPC/2015, que “quando
houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para contestar corresponderá à última das datas a
que se referem os incisos I a VI do caput”. A nova redação é mais clara e precisa do que a que constava
do art. 241, III, do CPC/1973, embora fosse esse o sentido que se extraia da regra anterior.

Em síntese:

a) se designada a audiência, o réu é citado para apenas comparecer à tentativa de conciliação ou


mediação, após a qual correrá seu prazo para resposta;

b) se, embora tenha sido designada a audiência, o autor havia se manifestado na inicial pela sua não
realização, o réu tem a opção de também dispensá-la, por petição apresentada em até dez dias que
antecedem a audiência, caso em que seu prazo para resposta começa a correr a partir da data do
protocolo;

c) não designada a audiência, o réu é citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias contados da
juntada aos autos do ato citatório.
Capítulo V - Audiência de conciliação e mediação

Segundo o art. 334 do CPC/2015, se não for o caso de indeferimento da inicial (art. 330), nem de
improcedência liminar do pedido (art. 332), “o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência”. Em respeito às partes e seus advogados, a lei também exige que, entre as
audiências marcadas no mesmo dia, seja respeitado o intervalo mínimo de vinte minutos entre o início de
uma e o horário designado da seguinte (art. 334, § 12).

Como já salientado no capítulo anterior, a audiência não será designada se a causa não comportar
autocomposição (art. 334, § 4º, II), caso em que o réu é citado para se defender no prazo de 15 dias da
juntada aos autos do ato de citação.

Definida a data da audiência, quando do deferimento da inicial, tal informação deverá constar do
mandado de citação a ser entregue ao réu (art. 250, II). O autor será intimado da data da audiência na
pessoa de seu advogado (art. 334, § 3º) pelos modos usuais, especialmente a publicação no diário da
justiça. Não é prevista na lei a intimação pessoal do próprio autor, cabendo a seu advogado informá-lo
da designação.

O caput do art. 334 já desnuda uma das grandes dificuldades que se cria com a fixação de uma audiência
logo no início do processo, sem prévia citação do réu. Se o réu ou os réus, havendo mais de um, não
forem citados a menos de 20 dias (úteis, conforme art. 219) da data da audiência, esta deverá ser
redesignada para outra data. Não há, na lei, de modo expresso, nenhum dever ou ônus para que o réu
constitua patrono nos autos, até a data da audiência. Assim, se a citação é feita a menos de 20 dias, ou se
nem todos os réus são citados, e nova data é designada, não apontou a lei por qual via o réu já citado será
intimado dessa nova data, caso ainda não tenha patrono nos autos. A lei não o considera revel até ali pois
o prazo de contestação nem sequer começou (v. art. 344), a ponto de se considerar que estará intimado
pela mera publicação do ato decisório no órgão oficial (art. 346). Aparentemente, se o réu citado não se
apresentar voluntariamente nos autos, por advogado, só resta a possibilidade de intimá-lo da
redesignação pelas formas pessoais de comunicação, postal ou por oficial, o que possivelmente será
fonte de outras dificuldades práticas.

Como já dito anteriormente, mesmo que o autor manifeste seu desinteresse na realização dessa audiência,
ela será designada, e somente não será realizada se o réu ou todos os réus, se houver litisconsórcio,
assim o desejarem, mediante manifestação expressa apresentada por petição, em até 10 dias que
antecedem a audiência. Se isso já não fosse perverter o suficiente a ideia de conciliação, ou de
mediação, que supõem a vontade e a disposição do litigante em encontrar uma solução pacífica para o
litígio, que com ela irá colaborar, no § 8º, do art. 334, ainda se diz que “o não comparecimento
injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade
da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou
do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado”.

Tem-se dito, com certa dose de razão, que o CPC/2015 é o mais democrático dos Códigos processuais.
Porém, fruto das contradições por que passa o país nestes tempos atuais, não se encontra, nos Códigos
anteriores, de 1939 ou de 1973, promulgados durante ditaduras, nenhuma norma tão atentatória aos
direitos e às liberdades individuais quanto a deste § 8º. A norma contém inaceitável ranço autoritário-
paternalista, típico dos que supõem que as partes não sabem o que é bom para elas próprias e precisam
ser “pacificadas” pelo Estado-pai. Somente nesse contexto se pode considerar atentado à dignidade da
justiça recusar-se a ouvir os conselhos do agente público, que, dentro dessa concepção autoritária, é
considerado o único portador da suficiente sabedoria, capaz de conduzir os litigantes na direção da
felicidade. Em um país livre, em que o direito de ação é assegurado na Lei Maior, tal norma não deve
superar a arguição de inconstitucionalidade.

É possível, no entanto, que a parte se apresente por “representante, por meio de procuração específica,
com poderes para negociar e transigir” (art. 334, § 10). Não há óbice a que esses poderes sejam
outorgados ao advogado da parte, que, então, poderá representá-la nessa audiência e realizar a tentativa
de autocomposição, ou firmá-la, se frutífera. Para tanto, basta que sejam incluídos na procuração os
poderes específicos para negociar e transigir, eis que tais não se encontram implícitos na cláusula ad
judicia, de poderes gerais para o foro,20 o que não é diferente do que previa o CPC/1973.

Segundo dispõe o § 9º, as partes devem estar acompanhadas, à audiência, “por seus advogados ou
defensores públicos”. O autor já está certamente representado nos autos, pelos patronos que constituiu
para propor a ação. Quanto ao réu, apesar dessa exigência contida no texto do § 9º, não se encontra na lei
consequência alguma para o seu comparecimento sem advogado. Não se pode impor a ele as
consequências da revelia, pois, como já dito acima, esta só decorre da não apresentação de contestação
no prazo legal (art. 344) e esse prazo nem se iniciou. Mais uma lacuna é deixada nessa mal regrada
audiência inicial. Não havendo acordo, ou se o magistrado optar pelo não prosseguimento da audiência
diante dessa situação de desequilíbrio, inicia-se a partir dali o prazo de 15 dias para oferecimento da
contestação, quando então o réu deverá apresentá-la, constituindo advogado, sob pena de revelia.

De acordo com o § 1º, tal audiência pode ser conduzida por conciliador ou mediador, onde houver. Trata-
se de opção interessante do legislador, seja para preservar a imparcialidade do magistrado, seja para
evitar tomar-lhe o já tão assoberbado tempo de trabalho. Resta saber – e este autor simplório ousa
perguntar, ainda que possa ser acusado de “inimigo da paz” pelos pacifistas de turno – se haverá recursos
materiais e humanos suficientes para realizar toda essa imensa leva de audiências, em todas as causas
civis de rito comum a serem ajuizadas no país. Nem de longe duvidamos que o meritório legislador só
incluiu tal disposição na lei diante do minucioso exame de números atuais e consistentes sobre a estrutura
material e humana disponível em todas as justiças federais e estaduais! Uma vez em vigor o novo CPC,
essa estrutura deverá estar já a postos. Mesmo assim, deixemos que o tempo responda a essa dúvida.

Não havendo solução autocompositiva, a sessão pode ser encerrada ou pode ser designada outra data
para sua continuação, desde que seja realizada dentro de dois meses contados da primeira tentativa,
segundo dispõe o § 2º, do art. 334. Tratando-se de prazo em meses, conta-se mês a mês, não sendo
correto convertê-lo em 60 dias. Isto é, realizada a primeira audiência em 1º de fevereiro, a segunda deve
ser designada no máximo para o dia 1º de abril, pois considera-se mês o período de tempo entre o termo
inicial e o dia correspondente no mês seguinte.21 A utilidade desse prazo ou a razão de o legislador tê-lo
previsto no Código produzem uma enorme interrogação. Se a continuidade do diálogo é intenção de todas
as partes, fruto de sua vontade livre e desimpedida, não há porque estabelecer essa limitação no tempo
para a realização da próxima audiência. Caberia exclusivamente às partes decidir se aceitam continuar na
tentativa de autocomposição, mesmo que a próxima sessão só tenha lugar depois de dois meses. Vale
lembrar que as partes podem, de comum acordo, pedir a suspensão do processo por até seis meses (art.
313, II, e § 4º, do CPC/2015). Esse prazo, assim, não faz o menor sentido, a menos que o legislador
estivesse pensando em permitir a designação de tal segunda audiência contra a vontade de uma ou de
ambas as partes, avançando mais profundamente no caráter autoritário-paternalista de algumas das
disposições que rodeiam essa audiência, caso, então, em que o prazo do § 2º teria como significado
servir de limite ao abuso estatal e à denegação de justiça. Mas não esperamos que tenha sido essa a
intenção do legislador, nem que tal orientação vá ocorrer na prática. Assim, se todas as partes quiserem
continuar a negociar, não há óbice em designar essa audiência com maior intervalo, ou mesmo suspender
o processo pelo prazo máximo de seis meses; se um dos litigantes não quiser prosseguir nas negociações,
estas devem ser encerradas, dando-se curso regular ao processo, em homenagem ao princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional.

Diz o § 7º que “a audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico, nos
termos da lei”. No tocante ao trecho final, não há lei alguma que disponha sobre isso, ao menos até o
presente momento. Quanto ao mais, desde que a infraestrutura tecnológica para tanto esteja disponível, e
também as partes tenham acesso a ela, esta pode ser uma solução bastante razoável para se agilizar e até
mesmo diminuir os custos e o tempo de realização dessas audiências. Não aparenta ser fácil, no entanto,
organizar uma extensa agenda de conciliações, compatibilizando o horário dos interlocutores e a
disponibilidade da infraestrutura. Há, no exterior,22 experiências interessantes na realização de
negociação online e assíncrona, especialmente para litígios envolvendo discussão sobre o pagamento em
dinheiro, algo que poderia ser tentado, tanto pelo Poder Judiciário, como por entes privados de
mediação.
Capítulo VI - Resposta do réu

1. Aspectos gerais

A expressão resposta do réu nominava o capítulo do CPC/1973 que tratava das manifestações que o réu,
uma vez citado, poderia oferecer, e que não se resumiam apenas em apresentação de defesas, processuais
ou materiais, pois nessa resposta se incluía também a reconvenção. O CPC/2015 não repete o uso dessa
expressão, mas isso não impede que continue a ser empregada nesse mesmo sentido, isto é, para designar
as manifestações que o réu pode apresentar após ter sido chamado a juízo.

Do ponto de vista formal, o CPC/2015 resumiu a resposta do réu a uma peça única, uma petição singular
em que o contestante alinhará tudo o que é possível dizer nesse momento processual. Mas, na essência,
nada foi alterado: todos os tipos de manifestação que o réu poderia apresentar, mas que, segundo o
CPC/1973, viriam em petições destacadas, são agora reunidas em um corpo único.

Todas as defesas do réu, portanto, serão apresentadas em contestação. Impugnações de natureza


processual que antes eram objeto de petição autônoma, como a exceção de incompetência relativa, ou a
impugnação ao valor da causa, agora foram simplesmente relacionadas no art. 337 do CPC/2015 ao lado
das demais preliminares de contestação (incisos II e III). Até mesmo a impugnação de gratuidade
processual (que não é propriamente uma modalidade de defesa, eis que pode ser manejada por qualquer
das partes) será suscitada pelo réu como preliminar de contestação (inciso XIII).

E, também, se o réu desejar reconvir, apresentará os fatos e fundamentos da demanda e formulará seu
pedido reconvencional nessa mesma petição.

Enfim, todas as defesas do réu – tanto processuais quanto materiais – devem ser apresentadas em um só
corpo, que também abrigará seu pedido reconvencional, se for o caso. Trata-se de uma inteligente,
simples e oportuna alteração do novo Código, especialmente considerando que, com a já avançada
informatização do processo que vem sendo promovida em nosso país, não há nenhum sentido prático em
formar apensos, ou autos apartados para incidentes processuais. Autos digitais são uma mera organização
lógica, feita por um sistema informático, dos arquivos que representam os atos processuais. Como
arquivos digitais são imateriais e, quando disponíveis na Internet, ainda se tornam ubíquos, ficando
permanentemente, e ao mesmo tempo, disponíveis em todos os lugares, carece de utilidade desdobrar os
autos em vários apensos. Ademais, já não parecia haver muita coerência técnica ou sistemática na
escolha que a lei anterior fazia entre incidentes suscitados nos próprios autos ou em apartado; e, de certo
modo, pode-se dizer que a apresentação de reconvenção em peça distinta, mas juntada nos mesmo autos,
nunca teve sentido prático algum, exceto a manutenção de costume secular.

Essa novidade talvez cause algum desconforto inicial aos operadores do direito, especialmente aos
advogados, que precisarão remodelar o estilo de suas petições para juntar ataque e defesa numa única
peça, mas, superado o tempo de adaptação, os ganhos para a simplicidade do processo certamente
compensarão o pequeno esforço.

Das manifestações que o CPC/1973 chamava de resposta do réu, apenas as arguições de impedimento e
suspeição continuam a ser apresentadas em peça independente. Em verdade, tais manifestações não são
propriamente defesas do réu, eis que pode também o autor apresentá-las. E nem sequer são questões
unicamente suscitadas nesse momento processual, pois pode haver arguição de parcialidade dirigida aos
membros dos tribunais, aos juízes deprecados, ou a magistrado que, diante de promoção ou
aposentadoria do anterior, assuma a condução da causa durante o curso do feito; além de, claro, poder ser
apresentada no correr do processo, se somente então o fato que ocasiona impedimento ou suspeição vier
a ser conhecido pelo suscitante. Assim, também foi correta, em termos sistemáticos, a opção do
CPC/2015 de reunir todas as disposições sobre o tema em um único capítulo, entre os arts. 144 e 148,
onde se encontram tanto as definições de impedimento e suspeição quanto a forma de sua arguição que,
neste caso, se fará por petição própria (art. 148, §1º).

2. Prazo

De acordo com o art. 335 do CPC/2015, o prazo para o réu responder foi mantido em 15 dias, como na
lei anterior, lembrando-se, mais uma vez, que tal prazo passa a ser contado em dias úteis (art. 219). O
termo inicial desse importantíssimo prazo, entretanto, tornou-se um tanto mais confuso do que na lei
anterior. No CPC/1973, a juntada aos autos do ato citatório positivo (a citação feita por carta ou por
oficial de justiça) marcava o termo inicial do prazo e, havendo mais de um réu, o prazo para todos os
litisconsortes passivos se iniciava conjuntamente, no dia em que a última citação fosse juntada aos autos.
No novo Código, as regras que definem o termo inicial do prazo estão no art. 335 e seus parágrafos,
cabendo distinguir diferentes situações.

Em primeiro lugar, uma vez que o padrão, no novo procedimento comum, é realizar uma prévia audiência
de conciliação ou mediação, podendo ser designadas outras sessões em continuação dos trabalhos,
dispõe o art. 335, I, que o termo inicial do prazo para resposta do réu é a data da última sessão realizada,
ainda que alguma das partes não tenha comparecido. Essa regra sempre será aplicada quando for
designada a audiência preliminar de conciliação ou mediação, e caso ela não seja dispensada pelas
partes.

Se o autor, na petição inicial, manifestou-se pela não realização da audiência preliminar de conciliação
ou mediação, a audiência é mesmo assim designada pelo magistrado, e só não será realizada se o réu
também a dispensar. Assim, cabe ao réu, se também não a quiser, apresentar petição nesse sentido, com
no mínimo 10 dias de antecedência contados da data da audiência (art. 334, § 5º). Não havendo essa
manifestação, a audiência será realizada, não importando que o autor a tenha dispensado, e o termo
inicial do prazo será o do art. 335, I, comentado acima, isto é a data da audiência, ou da última delas. Se
o réu se manifestar pela não realização da audiência, nesse caso o termo inicial do prazo é a data do
protocolo dessa sua petição, segundo determina o art. 335, II.

Importante destacar que, no caso de dispensa da audiência por ambas as partes, se houver litisconsórcio
passivo, o novo Código adotou opção que rompe com a tradição anterior de sempre unificar o início do
prazo para todos os réus. O § 1º do art. 335 estabelece que os prazos para resposta dos réus, apenas neste
caso em que a audiência é dispensada pelas partes, terão inícios distintos, conforme a data em que cada
corréu protocolar sua manifestação pela não realização da sessão de conciliação ou mediação. Trata-se
de disposição capaz de gerar dúvidas ou mesmo algum tumulto processual.

O Código não deixa claro se o prazo fica ou não prejudicado, caso os demais litisconsortes não se
manifestem pela não realização da audiência preliminar. Se, no último dia do prazo para se manifestar
pela dispensa da audiência, isto é, no decênio (também contado em dias úteis) anterior à data designada,
um dos corréus dispensar a audiência, seu prazo de 15 dias haveria de terminar 5 dias úteis após a data
marcada. E se o outro corréu não a dispensar? Realizada a audiência, o prazo do réu que a dispensou já
estaria em curso, ou seria reiniciado, na forma do art. 335, I, caso em que seria o mesmo para todos os
demandados? Considerando que a forma padrão do procedimento é a realização da audiência, a segunda
solução é a que parece mais consentânea com a hipótese ora analisada. Entretanto, não é difícil imaginar
que, no início da vigência do novo Código, entendimentos contrários pululem, a causar dificuldades ao
patrono do réu. É aconselhável, portanto, tomar uma atitude cautelosa quando tais situações sucederem,
apresentando-se desde logo a defesa nos 15 dias seguintes ao protocolo da petição, ainda que a audiência
seja realizada, por falta de manifestação dos demais litisconsortes passivos.

Mais difícil pode ser a situação se um dos corréus se antecipar e, logo após citado, manifestar seu
desinteresse na realização da audiência preliminar. Neste caso, o seu prazo começará a fluir desde o
protocolo dessa petição e poderá se encerrar antes da data da audiência, ou antes mesmo do decênio que
lhe antecede. Assim, sem saber se os demais réus a dispensarão ou não, só resta ao réu que manifestou a
desistência pela audiência apresentar sua defesa no prazo de 15 dias. Como se vê, o prazo desse réu
pode terminar antes mesmo que se esgote a oportunidade para que o outro litisconsorte apresente o seu
pedido de dispensa e, assim, um dos réus já terá contestado a ação sem sequer ter como certo que a
audiência não será realizada, uma vez que sua dispensa exige a manifestação de todos os corréus neste
sentido (v. art. 334, § 6º). Diante desse descuido do legislador, ao criar essa regra passível de gerar
tumulto, pode ser recomendável aos litisconsortes que não se adiantem na apresentação do pedido de
dispensa, deixando-o para o derradeiro dia do prazo, a 10 dias (úteis) da audiência, de modo que o prazo
para resposta finde somente após a data marcada, seja a sessão realizada ou não.

Por fim, segundo dispõe o art. 335, III, o termo inicial do prazo será, “nos demais casos”, um dos fatos
relacionados nos incisos do art. 231. Aparentemente, não há “demais casos”, mas apenas uma única
situação em que essa regra é aplicada: quando a audiência não for designada pelo magistrado. Pela letra
da lei, a audiência não será realizada apenas nas hipóteses do art. 334, § 4º, incisos I e II. Na situação
prevista no inciso I desse dispositivo, a audiência é designada, aguardando-se eventual manifestação dos
réus, casos em que o prazo para resposta se iniciará ou na data da última sessão (art. 335, I), ou na data
do protocolo da dispensa manifestada pelo demandado (art. 335, II), conforme explicado acima. A
princípio, o magistrado não a designaria apenas “quando não se admitir a autocomposição” (art. 334, §
4º, II). Não é de se descartar, porém, que outros motivos possam surgir, dentre eles até mesmo a
invencível carga de trabalho e a sobrelotação das pautas de audiência, para que o magistrado, em nome
da celeridade e da garantia da ação, deixe de marcar essa audiência inicial.

Enfim, se a audiência não for designada, o termo inicial do prazo para resposta é o mesmo previsto no
Código anterior, ocorrendo na data da juntada aos autos do ato citatório positivo, ou, conforme o caso,
com a verificação de alguma das situações previstas nos incisos do art. 231. E, repetindo a regra do
CPC/1973, havendo litisconsórcio passivo, o prazo para todos eles será comum, iniciando-se na última
das datas em que ocorreram os fatos descritos nos incisos do art. 231 do CPC/2015, como estabelece o §
1º do mesmo artigo.

O art. 335 do CPC/2015, em seu § 2º, repete orientação da lei anterior estabelecendo que, quando houver
vários réus e o autor desistir da ação em relação a algum deles, o prazo para resposta correrá da data da
intimação da decisão que homologar a desistência. Segundo disposto no novo texto, diante da variedade
de possíveis caminhos iniciais, essa regra é aplicável apenas quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º,
II, isto é, quando a audiência não for desde logo designada pelo magistrado. Então se já juntados aos
autos os mandados de citação dos demais réus, ou se ocorridos em relação a eles os demais fatos do art.
231 que dão ensejo ao início do prazo, caso o autor desista da ação quanto a réu remanescente ainda não
citado, as partes serão intimadas da desistência, daí passando a correr o prazo. Se designada a audiência,
o autor certamente pode desistir da ação quanto a réu não citado até mesmo no momento da própria
audiência, caso em que prossegue-se na tentativa de conciliação ou mediação com os réus remanescentes
já citados, cujo prazo para resposta fluirá dessa data, se não houver autocomposição.

À semelhança do CPC/1973, o dia do termo inicial não é contado (v. art. 224), considerando-se como o
primeiro dia da contagem o dia útil subsequente, a partir do qual são contados os demais dias úteis do
prazo.

3. Questões processuais em preliminar de contestação

3.1. Poucas modificações quanto ao tema

Assim como já ocorria no regime do CPC/1973, cabe ao réu apresentar eventuais defesas processuais
como preliminares de contestação. Não há grandes novidades nesse ponto. As mesmas defesas
relacionadas no art. 301, do CPC/1973, são reiteradas no art. 337 da nova lei.

Como o CPC/2015 unificou a resposta do réu em uma única petição, novos itens aparecem no rol das
defesas preliminares contido no art. 337, como a alegação da incompetência relativa (inc. II), a
impugnação ao valor da causa (inc. III) e a impugnação da gratuidade concedida ao autor (inc. XIII),
questões que, no regime anterior, podiam ser igualmente suscitadas pelo réu nesse momento processual,
mas por meio de petição distinta.

Mudou-se apenas a forma, mas não o conteúdo dessas manifestações. Tudo aquilo e exatamente aquilo
que o réu teria escrito em petições autônomas, ao suscitar tais questões, agora será deduzido em
preliminar de contestação.

3.2. Novas disposições quanto à alegação de ilegitimidade passiva

No tocante à preliminar de ilegitimidade passiva, porém, o CPC/2015 introduz algumas novidades, cujo
evidente objetivo é suprir, com extensão mais abrangente, as finalidades da finada nomeação à autoria.

A nomeação à autoria, modalidade de intervenção de terceiros prevista no CPC/1973, era uma maneira
de permitir a substituição do polo passivo quando o réu fosse parte ilegítima para a causa, mas sua
incidência se resumia às restritas hipóteses previstas na lei (arts. 62 e 63, do CPC/1973), o que fazia
dela um incidente raro no dia a dia forense. Excetuadas as poucas situações de cabimento dessa
modalidade de intervenção, não sendo o réu parte legítima para a causa, o desfecho do processo seria
inevitavelmente a sua extinção sem julgamento de mérito.

O novo Código não manteve a nomeação à autoria entre as modalidades de intervenção de terceiro. Em
seu lugar, inseriu novas regras sobre o tratamento dado à ilegitimidade passiva, voltadas para permitir a
eventual substituição do réu ilegítimo e ao aproveitamento dos atos processuais até então praticados, bem
como as custas já recolhidas. Observa, pois, um dos princípios gerais que se extrai do novo CPC, que dá
preferência à solução de mérito sempre quando esta se mostrar possível, buscando ao máximo a
superação de vícios formais que a impeçam.
O art. 339 do CPC/2015 determina que, ao suscitar a ilegitimidade passiva, “incumbe ao réu indicar o
sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as
despesas processuais e indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação”. Ou seja, a
partir do CPC/2015, o réu passa a ter o dever legal de indicar quem seria o sujeito legitimado a figurar
no polo passivo daquela ação, desde que o saiba, sob pena de aplicação das sanções previstas nesse
artigo. Não lhe basta, portanto, apenas apontar sua ilegitimidade e postular a extinção do processo.

Ouvido o autor no prazo de 15 dias, este poderá, evidentemente, repelir as alegações do réu, ou, se
aceitar a indicação feita, optar por substituir o réu pelo sujeito por ele apontado, ou apenas incluí-lo
como litisconsorte passivo, sem exclusão do réu original (art. 339, §§ 1º e 2º).

Segundo se compreende do art. 338, a possibilidade de substituição do réu se faz presente mesmo quando
o verdadeiro legitimado não seja apontado na contestação, como determinado no art. 339. Basta que o réu
suscite a sua ilegitimidade, mesmo que não saiba e portanto não indique o possível legitimado. Neste
caso, caberá ao autor apontar o sujeito a ser incluído no polo passivo.

O novo Código, por três vezes (no caput do art. 338 e nos §§ 1º e 2º do art. 339), refere-se à concessão
de um prazo de 15 dias ao autor, para que se manifeste sobre a preliminar de ilegitimidade e sobre o
sujeito indicado pelo réu, podendo alterar a petição inicial. Embora o texto legal não seja explícito em
relação a isso, tudo indica que, assim como o réu deduz todas as suas alegações e defesas em uma peça
única, a manifestação do autor sobre a resposta do réu, neste terceiro “compasso” da sequência
procedimental, há de ser também concentrada em uma mesma petição. Apresentada a resposta, ao autor é
dada a oportunidade de manifestação sobre todo o seu teor, no prazo de 15 dias. Em uma mesma petição,
falará então sobre a preliminar de ilegitimidade (repelindo-a ou adotando os caminhos autorizados pelos
arts. 338 e 339) juntamente com as demais manifestações que hão de ser apresentadas em réplica (v. arts.
350 e 351).

Caso o autor concorde com a exclusão do réu, arcará com verba honorária mais branda do que a que
suportaria em caso de extinção do processo sem julgamento do mérito (v. art. 85, §§ 2º, 3º e 6º).
Estabelece o art. 338, § ún., que os honorários, neste caso de concordância do autor com a alegação de
ilegitimidade passiva, devem ser fixados entre três a cinco por cento do valor da causa, exceto se este for
irrisório, caso em que o valor da verba será arbitrado pelo magistrado.

O que não fica muito claro no novo texto legal é o rumo que o procedimento há de tomar, após a inclusão
do novo sujeito no polo passivo. A contestação, em regra, será oferecida após a audiência de conciliação
ou mediação, de modo que somente então caberá ao autor oferecer réplica e manifestar-se sobre a
ilegitimidade. Sendo incluída a pessoa indicada pelo réu, este haverá de ser citado para qual fim? Para
comparecer a uma nova audiência preliminar? Ou para contestar no prazo de 15 dias, contados a partir
dos fatos enumerados no art. 231? A segunda hipótese parece ser mais consentânea com a celeridade
processual, ou do contrário o feito poderá permanecer meses sem que mal tenha dado os primeiros
passos da fase postulatória. Ademais, a posterior tentativa de conciliação, em paralelo ao
desenvolvimento do procedimento, é atividade sempre possível, não havendo prejuízo maior à tão
almejada busca pela paz.

3.3. Arguição de incompetência

O CPC/1973 já previa, no art. 305, § ún., a possibilidade de o réu protocolar a exceção de incompetência
(apresentada apenas em caso de arguir incompetência relativa) em juízo de seu próprio domicílio, que
ficaria incumbido de remetê-la para o juízo da causa. Com isso, facilitava-se o acesso à justiça do
demandado, especialmente quando, por causa da alegada incompetência, a ação tivesse sido ajuizada em
localidade distante de seu domicílio. O CPC/2015 manteve essa possibilidade ao réu, mas, diante das
peculiaridades do novo procedimento comum, alguns comentários mais merecem ser feitos.

Como anotado acima, qualquer alegação de incompetência, seja relativa, seja absoluta, há de ser
deduzida pelo réu em contestação que, por sua vez, será ordinariamente apresentada somente após a
audiência de tentativa de conciliação. Destarte, não há preclusão da questão (no caso, da incompetência
relativa, apenas, já que a incompetência absoluta não se sujeita à preclusão) até que esgotado o prazo
para resposta do réu. Bem pode o réu, então, deixar passar a audiência, para, em contestação ofertada nos
15 dias seguintes, arguir a incompetência.

A regra do art. 340, portanto, é apenas uma faculdade concedida em proveito do réu, permitindo-lhe
apresentar sua contestação ao órgão judicial – ou justiça local – de seu domicílio, desde que, claro,
aponte a incompetência relativa ou absoluta do órgão judicial em que tramita o processo. Conforme se
deduz do § 3º do mesmo artigo, ao alegar a incompetência, permite-se ao réu antecipar a contestação,
apresentando-a antes da audiência, tanto que o citado dispositivo legal determina peremptoriamente a sua
suspensão (“será suspensa”).

Não há, porém, na nova lei, qualquer prazo anterior à audiência para a alegação da incompetência,
podendo o réu apresentá-la a qualquer tempo, mesmo às vésperas da data designada, e com isso
suspender a sua realização. Mesmo porque, insista-se, não há preclusão da questão até que vença o prazo
de resposta, que somente se iniciará na data da audiência. Não é difícil imaginar o tumulto processual
que isso poderá provocar – não bastassem as já conhecidas dificuldades intrínsecas ao exame da
competência – especialmente se houver mais de um réu e cada um deles desejar discutir a questão em
momentos diversos, antes ou após a audiência preliminar.

Ademais, o art. 340 e seus parágrafos, de tão lacunosos que são, parecem estar despregados do restante
da estrutura procedimental. Se o réu, antes da audiência, apresenta a defesa como um todo, contendo a
preliminar de incompetência, cabe ao autor, por certo, se manifestar antes que o juiz decida a questão.
Mas, neste caso, seria o autor ouvido apenas sobre a alegação de incompetência, ou sobre todo o teor da
resposta? Extinta a exceção de incompetência, não há previsão de uma manifestação avulsa do autor,
sobre apenas um dos pontos da defesa; por certo, apresentada a contestação como um todo, antes da
audiência, ao autor cabe ofertar sua réplica completa, também em peça única, e parece prudente que
assim o faça, a fim de evitar eventuais entendimentos quanto à preclusão das demais questões. Mas, nessa
toada, o rito previsto na lei teria sido totalmente pervertido.

Anote-se, por fim, que a própria razão de existência dessa regra, que permite o protocolo da contestação
no foro de seu domicílio, é questão parcialmente superada, seja pelos protocolos integrados existentes há
anos, seja pela informatização já presente, e certamente será desnecessária quando todo o Judiciário
nacional permitir o peticionamento eletrônico remoto para todos os processos. A principal utilidade
dessa forma excepcional há de ser a possibilidade de dispensar a parte de comparecer à audiência, ao
menos até que a questão acerca da competência seja resolvida, e não tanto a de apresentação da petição,
que já pode ser protocolada de qualquer lugar, via Internet, para muitos órgãos judiciais do país.

O art. 63 § 4º, do CPC/2015, acrescenta que “citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula
de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão”. É de se supor que tal questão seja suscitada
na própria preliminar de incompetência deduzida na contestação. Nesse caso, o réu se insurge contra a
competência do órgão indicado na eleição de foro, sob o fundamento de sua abusividade.

4. Defesas de mérito

Apresentadas as defesas processuais, cabe ao réu manifestar-se sobre o mérito da causa. Neste aspecto,
as disposições do art. 341 e 342 do CPC/2015 repetem o teor dos anteriores arts. 302 e 303, reiterando o
princípio da eventualidade e o ônus da impugnação especificada dos fatos, com as mesmas exceções
previstas no CPC/1973. Não há, pois, nenhuma novidade a tratar quanto à apresentação das defesas de
mérito pelo réu.

5. Reconvenção

Na sua essência, não há modificações na reconvenção. Suas hipóteses de cabimento, quando há conexão
com a ação principal ou com o fundamento da defesa, são repetidas no art. 343 do CPC/2015.

Novidade há quanto à forma. Como já mencionado, todas as manifestações do réu são cumuladas em uma
única petição. O art. 343 diz, com impropriedade, que “na contestação” pode o réu propor a
reconvenção. Ora, contestação e reconvenção são manifestações essencialmente distintas; o que o
CPC/2015 quer, na verdade, dizer, é que o réu proporá a reconvenção na mesma petição em que oferta
sua contestação. Em uma mesma peça, um mesmo corpo com texto contínuo, cabe ao réu defender-se e, se
quiser, reconvir ao autor.

A nova regra talvez produza algum tipo de dificuldade aos advogados, ao menos nos primeiros tempos de
sua vigência, nem tanto pelos seus aspectos jurídicos ou processuais, mas por conta de questões de estilo
ou redação. Não há nenhum impacto prático do ponto de vista puramente normativo: tudo aquilo que o réu
diria em uma reconvenção, poderá dizê-lo, igualmente, na contestação-reconvenção que se apresenta em
peça única. No tocante à redação e apresentação da reconvenção, sob um prisma puramente prático, a
novidade logo deixará de causar estranheza ao profissional, pois certamente será muito mais simples e
direto interpor as duas manifestações em uma única narrativa sequencial. No mais das vezes, quando
apresentadas em separado segundo o regime do CPC/1973, largas partes da exposição dos fatos eram
repetidas na defesa e na reconvenção, ou mesmo alguns trechos da fundamentação jurídica.

Assim, a título de sugestão, a nova peça híbrida pode se iniciar com a narrativa completa dos fatos,
segundo a versão do réu, tanto os fatos que são de proveito comum às duas manifestações como os que se
referem exclusivamente à defesa ou à reconvenção. Em seguida, apresenta-se as consequências jurídicas
desses fatos, eventualmente já destacando o que serve para repelir o pedido formulado pelo autor,
daquilo que dará sustentação ao pedido reconvencional. Por último, pede-se a improcedência da ação
principal e formula-se o pedido reconvencional, acrescentando os demais requisitos formais, como o
valor da causa reconvencional e a indicação de provas para ambas ações.

Outra novidade encontra-se nos §§ 3º e 4º do art. 343. O novo Código permite a ampliação subjetiva na
reconvenção. Se, no regime anterior, só se aceitava a reconvenção movida por quem era réu, tendo como
sujeito passivo apenas quem já figurasse como autor na relação processual, o CPC/2015 permite que a
reconvenção acrescente novos sujeitos ao processo, tanto na posição de reconvintes como na de
reconvindos.
Assim, segundo dispõe o § 3º do art. 343 do CPC/2015, “a reconvenção pode ser proposta contra o
autor e terceiro”. Note-se, primeiramente, que a expressão “terceiro” nesse texto tem em vista a
situação da relação processual original, eis que se refere a alguém que – até o momento de apresentação
da reconvenção – ainda não era parte. Mas ele será parte, será corréu da reconvenção, ou, como se
costuma chamar na terminologia própria deste instituto processual, será também reconvindo. Teremos, na
relação processual, alguém que é autor-reconvindo (autor da ação principal e réu da reconvenção) e
outro sujeito que será apenas reconvindo (réu da reconvenção), não se tornando, claro, autor da demanda
principal.

O Código é um tanto omisso acerca do procedimento a se seguir, caso o réu inclua um novo sujeito na
posição de reconvindo. O § 1º do art. 343 repete a disposição do Código anterior (art. 316, do
CPC/1973), estabelecendo que o prazo para contestar a reconvenção é de 15 dias, contados de intimação
feita na pessoa do advogado do autor. Mas é silente a nova lei no que tange ao “terceiro”, incluído como
reconvindo. Por certo, haverá de ser citado pessoalmente na forma da lei e seu prazo terá termo inicial
em algum dos fatos enumerados no art. 231. Mas não esclarece a lei se o prazo para o autor-reconvindo,
citado na forma de intimação ao seu advogado, será comum com o prazo do reconvindo (iniciando-se,
pois, com a juntada do ato de citação pessoal deste) ou se fluirá independentemente, aplicando-se
simplesmente a regra do § 1º. Considerando a importância do ato e a tradição anterior de prazo comum
aos réus – rompida apenas pela regra expressa do art. 335, § 1º – melhor entender que, na omissão da lei,
os prazos dos réus para resposta devem ser comuns. Assim, ao deferir a reconvenção com reconvindo
“externo”, convém ao magistrado suprir a lacuna e definir expressamente que o prazo para resposta será
comum, a se iniciar com a juntada do mandado de citação pessoal do novo reconvindo. Na falta de
decisão expressa nesse sentido, e até que a questão seja pacificada, ou – ainda melhor – objeto de nova
emenda na lei, convém ao advogado do autor-reconvindo evitar riscos e apresentar sua defesa no prazo
do art. 343, § 1º. Neste caso, o processo ficará paralisado, no aguardo da citação do outro reconvindo
recém chamado ao processo.

Também não parece conveniente designar nova audiência de tentativa de conciliação por conta da
inclusão ao feito do novo reconvindo, ou o processo poderá permanecer meses sem que mal tenha dado
os primeiros passos da fase postulatória. Ademais, é possível a posterior tentativa de conciliação, em
paralelo ao desenvolvimento do procedimento, sem que disso resulte qualquer prejuízo.

Mais simples, ou menos sujeita a dúvidas ou tumulto processual, é a possibilidade de incluir sujeito no
processo na qualidade de apenas reconvinte. O § 3º do art. 343 admite a reconvenção “proposta pelo réu
em litisconsórcio com terceiro”. Reitera-se, aqui, as mesmas considerações sobre o uso da palavra
“terceiro”, já feitas por ocasião do comentário ao parágrafo anterior. Esse sujeito torna-se parte, é autor
da reconvenção (ou também chamado reconvinte), tão logo seja interposta a reconvenção. Mas neste
caso, tudo é mais simples: basta que o “terceiro” constitua advogado, provavelmente o mesmo do réu-
reconvinte, e com este apresente a reconvenção (que continua a ser deduzida na mesma peça da
contestação). Assim, teremos um réu-reconvinte e um outro sujeito que será apenas reconvinte, autor da
reconvenção, mas que não se torna réu da ação principal.

No § 5º do art. 343, o CPC/2015 traz à luz uma regra incompreensível. O texto substitui o mal-explicado
§ ún. do art. 315, do CPC/1973, segundo o qual “não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao
autor, quando este demandar em nome de outrem”. Esse texto anterior continha evidente erro
redacional, pois quando o réu demandasse “em nome de outrem”, esse “outrem” é que seria o “réu”, e
aquele a quem o texto chama de “réu” não passaria de um representante (pois age em nome de outrem). A
interpretação doutrinária, porém, entendia o texto como uma proibição à reconvenção nos casos de
substituição processual, tratando a referência à representação processual como um equívoco de texto.23

O atual Código, contudo, estabeleceu no art. 343, § 5º, que “se o autor for substituto processual, o
reconvinte deverá afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá ser
proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual”. Inovando sobre o texto
anterior, também se pode reconvir quando há substituição processual, mas, se o direito pleiteado na ação
é do substituído processual (que não é parte), a reconvenção deve invocar a existência de direito do
reconvinte em relação a tal substituído. Esta regra, evidentemente, é em si inaplicável às substituições
processuais em matéria de interesses difusos, casos em que o substituído não é sujeito determinável.
Mas, nos demais casos (como, p.ex., na ação popular, em que o substituído seria a pessoa jurídica de
direito público lesada), não faz sentido outorgar ao substituto processual que propôs a ação no interesse
do ente público substituído, poderes para verdadeiramente representá-lo como sujeito passivo da
reconvenção. A excepcionalidade da substituição processual não pode ser assim estendida para o polo
passivo da demanda, privando o ente substituído do direito de ser regularmente citado e oferecer defesa
própria. Afinal, ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Essa
reconvenção, por suposto, exige citação do substituído, tal como se daria no caso previsto no art. 343, §
3º, em que se admite que a reconvenção seja proposta em face do autor e terceiro.
Capítulo VII - Providências preliminares, réplica e o julgamento
conforme o estado do processo

1. Providências preliminares

Apresentada a resposta do réu, inicia-se a chamada fase ordinatória do procedimento, cabendo ao juiz
verificar se existem vícios no processo e determinar sua correção; além disso, compete ao magistrado
determinar o rumo a seguir a partir daí, concedendo vista ao autor sobre a resposta e, se for o caso,
outras oportunidades de manifestação serão franqueadas às partes e a eventuais terceiros intervenientes,
tudo com o objetivo de esgotar o contraditório. Encerradas as oportunidades de manifestação, o feito
atinge o momento do julgamento conforme o estado do processo, em que caberá ao juiz proferir uma
decisão qualificada, seja para extinguir o processo, com ou sem julgamento de mérito, seja para
determinar seu prosseguimento, dando início à fase instrutória.

O CPC/2015 não apresenta novidades quanto às providências preliminares, ou à fase saneadora. Os arts.
347 a 353 do CPC/2015 repetem a estrutura e o teor dos dispositivos equivalentes do Código anterior.

O desdobramento mais comum que se observa nesse momento processual é o oferecimento de réplica por
parte do autor, tratada no CPC/2015 com ligeiras modificações, como observado a seguir.

2. Réplica

2.1. Considerações gerais

O autor tem o direito de se manifestar sobre a defesa, permitindo-lhe exercer o contraditório sobre
pontos novos que o réu eventualmente tenha inserido na discussão, sejam esses pontos de natureza
processual, sejam relativos ao mérito da causa. Na linguagem forense, essa manifestação é chamada de
réplica, embora o CPC/1973 não utilizasse esse vocábulo para designá-la.

No regime anterior, embora as referências ao oferecimento da réplica se desdobrassem em dois


diferentes artigos (arts. 326 e 327 do CPC/1973), que concediam ao autor prazo de 10 dias para
manifestação, era certo que se tratavam do mesmo prazo e da mesma manifestação. No entanto, havendo
reconvenção, o autor teria prazo de 15 dias (art. 316, do CPC/1973) para contestá-la, neste caso
oferecendo peça autônoma. Qualquer dos incidentes autonomamente arguidos pelo réu eram, igualmente,
respondidos pelo autor em petição independente (p.ex., exceção de incompetência, ou impugnação ao
valor da causa).

O novo Código é explícito ao dizer que todas as manifestações do réu, após citado, serão apresentadas
numa única petição, nela cumulando todas as defesas possíveis e também a reconvenção. No entanto, não
é expresso a esse respeito ao se referir a esse terceiro compasso da música, isto é, quando novamente é
dada voz ao autor.

Por coerência com a forma adotada para a resposta do réu, a interpretação mais adequada aponta
igualmente para uma única manifestação do autor nesse momento processual. E se o réu contestou e
reconveio na mesma peça, deve ser intenção da lei, ainda que não tenha sido explícita neste sentido, que
o autor replique os argumentos de defesa e conteste a reconvenção também na mesma peça. Enfim, que
uma única petição reúna todas as oportunidades de manifestação do autor neste terceiro momento do
debate processual.

As referências à manifestação do autor, após a resposta do réu, estão diluídas no CPC/2015, e em


nenhuma delas usa-se a palavra réplica para designar esse ato processual. Mas o vocábulo foi utilizado
noutras passagens do novo Código, como se lê nos arts. 100, 430 e 437, revivendo na lei o uso dessa
denominação bastante arraigada no cotidiano forense.

2.2. Forma

A réplica é apresentada por petição, sem outras exigências formais previstas na lei, não havendo, nesse
aspecto, qualquer alteração em relação ao regime anterior.

O prazo para a réplica, que no CPC/1973 era de 10 dias, foi alterado no CPC/2015, passando para 15
dias (e agora contados em dias úteis). É, então, o mesmo prazo que tem o autor para contestar a
reconvenção, se houver, o que reforça a ideia de que as duas manifestações também serão apresentadas
em peça única.

2.3. Conteúdo da manifestação

À semelhança do CPC/1973, cabe ao autor, em réplica, manifestar-se sobre os fatos impeditivos,


modificativos e extintivos do direito do autor (art. 350, do CPC/2015), bem como sobre as defesas
processuais alegadas pelo réu em preliminar de contestação (art. 351, do CPC/2015).

Considerando, como esboçado acima, a unicidade da petição, cabe ao autor, nesta mesma peça, contestar
a reconvenção (art. 343, § 1º, do CPC/2015), se for o caso.

Como visto acima,24 em caso de alegação de ilegitimidade passiva, com ou sem indicação pelo réu do
sujeito que considera corretamente legitimado, o autor terá a oportunidade de manifestação, no prazo 15
dias. Ao que tudo indica, trata-se do mesmo prazo, para a mesma manifestação. Assim, na mesma petição
da réplica, cabe ao autor infirmar a preliminar de ilegitimidade passiva, ou, aceitando-a, incluir o
legitimado correto no polo passivo, com ou sem exclusão do réu original, segundo dispõem os arts. 338 e
339, e seus respectivos parágrafos, do CPC/2015.

3. Julgamento conforme o estado do processo

3.1. Considerações gerais

Chegado o momento do julgamento conforme o estado do processo, compete ao juiz proferir uma decisão
qualificada, diante de um cenário processual mais definido, em que as partes já apresentaram – ou ao
menos tiveram a oportunidade de apresentar – todas as manifestações necessárias ao contraditório acerca
da lide, de seus fatos e de seus fundamentos. Os desdobramentos possíveis são praticamente os mesmos
previstos no CPC/1973, surgindo como grande novidade – inexistente no regime anterior – a
possibilidade dada ao juiz de proferir decisão de julgamento antecipado parcial do mérito.

3.2. Julgamento antecipado parcial do mérito


Não sendo o caso de extinção do processo sem julgamento do mérito, nem sendo possível proferir uma
sentença de mérito mais simples, como as previstas no art. 487, incisos II e III, do novo Código
(sentenças homologatórias de autocomposição e o reconhecimento de decadência ou prescrição), isso
significa que o processo reúne os requisitos necessários ao julgamento do pedido, restando ao magistrado
a árdua tarefa de decidi-lo. Duas opções se apresentam nesse momento: julgá-lo imediatamente, se não
houver necessidade de outras provas além das que já constam dos autos, ou, do contrário, prosseguir com
a instrução.

No CPC/1973, o julgamento antecipado do pedido exigia que todos os pedidos, se mais de um foi
formulado, estivessem em condições de receber pronto julgamento. Se para um único pedido fosse
necessária a colheita de prova, o feito prosseguiria, e na sentença final todos os pedidos seriam
concomitantemente decididos.

O CPC/2015 cria a possibilidade de julgamento antecipado parcial do mérito, estando o magistrado


autorizado a proferir decisão de mérito definitiva apenas quanto a um ou alguns dos pedidos, ou quanto a
parte deles e, ao mesmo tempo, determinar a realização de instrução para colheita das provas necessárias
aos demais pedidos. Trata-se de uma opção interessante do ponto de vista prático, especialmente em
nome da celeridade e da efetividade da prestação jurisdicional.

Assim, segundo dispõe o art. 356, do CPC/2015, se verificadas as hipóteses previstas nos seus incisos, é
possível o julgamento parcial do mérito para que o juiz decida “um ou mais dos pedidos formulados ou
parcela deles”. A segunda situação aplica-se especialmente a pedidos condenatórios a pagamento de
quantia em dinheiro, ou a qualquer outra situação em que o pedido comporte diversos graus de
apreciação parcial, podendo o juiz decidir desde logo sobre parte do que foi postulado pelo autor.

Uma das razões que autorizam o julgamento antecipado parcial (art. 356, I) é a existência de
incontrovérsia acerca de um ou alguns dos pedidos, ou de parte deles. É o que pode ocorrer, por
exemplo, quando, em ação com pedido condenatório a pagamento de quantia em dinheiro, o réu não negue
a existência da dívida, resumindo-se, em sua defesa, a impugnar o quantum postulado pelo autor. Assim,
no que tange ao valor por ele admitido, pode ser proferido o julgamento antecipado parcial do mérito,
seguindo o feito para instrução e posterior decisão acerca do valor impugnado.

No regime do Código anterior, adotava-se uma solução diversa para essa situação em que ocorria a
incontrovérsia parcial: segundo o art. 273, § 6º, do CPC/1973, era autorizada a antecipação de tutela
jurisdicional “quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se
incontroverso”. Essa hipótese de antecipação de tutela não foi mantida no Título correspondente do
CPC/2015, relativo às tutelas de urgência (arts. 300 a 311), que substituiu tanto as disposições anteriores
sobre o tema, como as que tratavam do processo cautelar, que deixou de ser visto como um processo
autônomo. Agora, ocorrendo a incontrovérsia parcial, a solução prevista na nova lei é decidi-la
definitivamente, em julgamento antecipado parcial do mérito.

A outra possibilidade prevista no CPC/2015 para julgamento antecipado parcial é a circunstância de não
ser necessária a colheita de outras provas apenas em relação a alguns dos pedidos ou parte deles (art.
356, II). Isto é, as mesmas situações que autorizariam o julgamento antecipado, só que presentes apenas
para parte dos pedidos. Essa é uma inovação do atual Código, não existindo nenhum dispositivo análogo
na lei anterior, que dispusesse sobre essa situação prática. Segundo o CPC/1973, ou era possível proferir
julgamento antecipado completo para todos os pedidos, ou o julgamento deles todos só seria proferido na
sentença final. Destarte, segundo o CPC/2015, se o julgamento de parte dos pedidos depende apenas da
apreciação de questões de direito, ou se não dependem de outras provas, tais pedidos podem ser desde
logo decididos definitivamente, prosseguindo a instrução quanto aos demais.

No novo regime, ao contrário da hipótese do art. 273, § 6º, do CPC/1973, que admitia antecipação de
tutela para pedidos parcialmente incontroversos, essa decisão proferida no curso do processo como
julgamento antecipado parcial resolve definitivamente os pedidos nela julgados. Não serão tais pedidos,
portanto, reapreciados ou reafirmados na sentença final. Proferida a decisão de julgamento parcial,
esgotou-se a atividade processual de primeiro grau em relação aos pedidos apreciados. Não sendo
objeto de recurso, essa decisão de mérito transita em julgado e fica coberta pela coisa julgada material
(observe-se que o art. 502, do CPC/2015, fala em coisa julgada da decisão de mérito, e não da sentença,
como dito na regra análoga da lei anterior) e comporta execução definitiva (art. 356, § 3º), ainda que o
processo não tenha terminado porque prosseguiu para julgamento da porção remanescente do mérito da
causa.

Segundo o regime adotado pelo CPC/2015, esse ato judicial que decide parcialmente o mérito tem
natureza de decisão interlocutória. Segundo o art. 203, § 1º, só se considera sentença o pronunciamento
do juiz que “põe fim à fase cognitiva do procedimento comum”. A definição legal não abarca, portanto,
essa decisão proferida no curso do procedimento, sem encerrar a atividade processual de cognição em
primeiro grau de jurisdição. E, assim, o art. 356, § 5º, estabelece que o recurso cabível para desafiá-la é
o agravo de instrumento. O art. 1.015, ao enumerar “as decisões interlocutórias” que são agraváveis,
inclui no inciso II as que versarem sobre “mérito do processo”. Trata-se, pois, dessa decisão de
julgamento antecipado parcial.

Não obstante sua natureza formal de decisão interlocutória, os requisitos da sentença previstos no art.
489 do CPC/2015 devem ser observados. Tais requisitos, revividos do art. 458 da lei anterior, nunca
foram propriamente requisitos da sentença, mas sim daquilo que se pode chamar de julgamento de
mérito em sentido estrito,25 eis que eram desnecessários nas demais sentenças, tanto as terminativas
como as sentenças de mérito por equiparação legislativa, isto é, as meramente homologatórias de
autocomposição (renúncia, reconhecimento ou transação), ou as que decretam a decadência ou a
prescrição. Necessários à compreensão do julgamento de mérito em sentido estrito e à transparência da
atividade jurisdicional, tais requisitos devem ser observados também nessa decisão interlocutória de
julgamento parcial do mérito.

Anote-se ainda que, segundo o novo Código, a ação rescisória é voltada para rescindir decisão de mérito
(art. 966 do CPC/2015) e não apenas sentença de mérito, como prescrevia o dispositivo correspondente
anterior (art. 485, do CPC/1973). Portanto, embora tenha a natureza de decisão interlocutória, o
julgamento parcial de mérito pode ser objeto de ação rescisória.

Em verdade, essa distinção entre decisão interlocutória e sentença, ou a coexistência de dois recursos
distintos para atacar as decisões proferidas em primeiro grau de jurisdição, é um tema esgarçado que
mereceria uma corajosa revisão. Especialmente em razão da avançada informatização do processo, que
produziu autos ubíquos, carece de sentido prático formar autuações em separado ou estabelecer uma
forma recursal específica para se recorrer das decisões proferidas no curso do processo. Como autos
eletrônicos não viajam, nem se ausentam, uma única forma recursal seria suficiente para atacar ambas as
decisões, mas o legislador ainda manteve a secular tradição luso-brasileira de recorribilidade em
separado das decisões interlocutórias, propiciada pela modalidade recursal de agravo.26
Mesmo que tenha sido interposto o recurso, a decisão de mérito proferida em julgamento antecipado
parcial comporta, desde logo, execução provisória (art. 356, § 2º). Aqui, o CPC cria um descompasso
que, certamente, gerará profunda controvérsia acadêmica e prática. Não parece haver qualquer
inconveniente em se adotar execução imediata para o julgamento fundado na incontrovérsia parcial;
afinal, tal incontrovérsia, nos termos postos na lei, incide sobre o próprio direito disputado, não sendo
outra coisa que não um reconhecimento parcial do pedido por parte do réu (ou renúncia parcial, por parte
do autor). Neste caso, pode até mesmo parecer maliciosa a eventual interposição de recurso pela parte
vencida, eis que estaria se insurgindo contra algo que expressa ou implicitamente foi por ela
reconhecido.

No entanto, dar execução imediata ao julgamento parcial antecipado fundado no inciso II, do art. 356,
corresponde a tratar de modo diverso duas situações perfeitamente iguais. Afinal, se todos os pedidos se
encontrassem em condições de julgamento imediato, por não dependerem de outras provas ou por
versarem apenas sobre questões de direito, o feito seria sentenciado, da sentença caberia apelação,
dotada de efeito suspensivo, e nenhum dos pedidos poderia ser provisoriamente executado. Mas se
apenas um, alguns, ou parte dos pedidos não dependerem de prova, neste caso, segundo a lei, seria
possível executar o julgamento parcial de mérito, enquanto pendente o recurso de agravo. Não faz
sentido. A interpretação mais adequada para a regra do art. 356, § 2º, portanto, deve ser a restritiva,
delimitando sua incidência apenas ao julgamento antecipado parcial do inciso I, do art. 356, em que a
execução imediata é plenamente justificável por razões lógicas, como exposto acima. Afinal, essa
situação de incontrovérsia parcial comportava, no CPC/1973, a concessão de antecipação de tutela, que
ensejaria o início de uma execução provisória.

Embora o art. 356, II, faça referência apenas ao art. 355, não há óbice ao julgamento antecipado parcial
também nos casos em que ocorre julgamento de mérito por equiparação (art. 354 c/c art. 487, II e III),
especialmente no caso de acolhimento de decadência ou prescrição apenas quanto a um, alguns ou parte
dos pedidos formulados. Não há motivos para distinguir essas situações das demais que podem receber
julgamento parcial, na forma do art. 356, II. Verificando, por exemplo, a ocorrência de prescrição com
relação a parte dos pedidos, pode o juiz desde logo decidi-los definitivamente em julgamento antecipado
parcial, prosseguindo-se com a instrução para a colheita de prova relativa aos pedidos remanescentes.

3.3. Saneamento e decisão de organização do processo

Há tempos que a lei e a doutrina processuais estão precisando criar um nome adequado, e facilmente
pronunciável, para a decisão outrora chamada – inapropriadamente – de despacho saneador. Não
obstante não ser nem despacho, nem sanear coisa alguma, esse era um nome fácil e sonoro que, por isso,
às vezes ainda é reverberado no cotidiano forense. Como se sabe, trata-se de decisão interlocutória,
pois o ato judicial em questão tem conteúdo decisório. E, na verdade, esse ato apenas declara que o
processo se encontra válido e regular. Se alguma atividade de saneamento ocorreu, quando necessária,
isso se desenvolveu antes da prolação dessa decisão, que apenas reconhece o processo como regular. Em
resumo, ou o processo já não continha vício algum desde o princípio, e essa decisão assim o afirma,
rejeitando eventuais preliminares apresentadas pelo réu, ou os eventuais vícios foram previamente
corrigidos pela atividade de saneamento que se realizou durante a fase ordinatória, culminando com a
subsequente prolação dessa decisão, que somente reconhece a superação dos defeitos originais, de modo
que o processo, agora, apresenta-se válido.

O CPC/2015 batizou esse ato judicial de decisão de saneamento e organização do processo (art. 357).
Também não é um nome muito preciso, pois saneamento, como esboçado logo acima, é uma atividade
que antecede essa decisão; se tal decisão é proferida, nos moldes desse art. 357, é porque o processo ou
já foi saneado, ou, válido e regular desde o início, não precisou de correção alguma. Se o processo
contém vício, ou determina-se sua correção (caso em que essa decisão de saneamento e organização, ao
menos por enquanto, não é proferida), ou ele é extinto sem julgamento de mérito. Nenhum saneamento,
portanto, é realizado ao se proferir essa decisão.

Em sua essência, essa decisão não é muito diferente daquela definida no CPC/1973: é um ato em que o
juiz declara válido o processo e rejeita as defesas processuais arguidas pelo réu (pois se fosse para
acolhê-las, não teria proferido essa decisão), bem como defere as provas a serem produzidas (pois se
nenhuma prova fosse necessária, o processo comportaria julgamento antecipado do mérito).

Ao tratar dessa decisão de saneamento e organização do processo, e essa é a razão de chamá-la de


decisão de organização, o novo Código tenta recuperar e reafirmar a intenção de uma das alterações
trazidas na reforma processual de 1994, que, infelizmente, pouco efeito surtiu na prática cotidiana. Trata-
se da regra inserida no CPC/1973 pela Lei nº 8.952/94, voltada para a delimitação do objeto da
controvérsia e da instrução. A alteração ao art. 331 do CPC/1973, promovida em 1994, determinou a
realização, nesse momento processual, de uma audiência preliminar de tentativa de conciliação,
estabelecendo, em § 2º inserido no mesmo artigo, que “se, por qualquer motivo, não for obtida a
conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e
determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se
necessário”. O excesso de serviço e a necessidade de o juiz adequar suas infindáveis pautas de
audiência contribuíram para o desprestígio dessa novidade e, consequentemente, essa fixação de pontos
controvertidos em audiência não foi das coisas mais vistas em juízo nessas duas décadas passadas.

O novo Código, então, tenta recuperar essa útil atividade de organização do processo, dando-lhe nova
roupagem. Continua possível a designação de uma audiência para esse fim, como reza o § 3º, do art. 357,
do CPC/2015, sempre que “a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito”, a
ponto de se considerar mais conveniente que as partes e o juiz, oralmente, definam os pontos
controvertidos. Por certo, a oralidade será útil em situações assim, permitindo aclarar e precisar melhor
os pontos controvertidos do litígio.

Segundo o novo diploma legal, porém, a fixação dos pontos controvertidos, e outras definições mais,
torna-se sempre obrigatória, mesmo quando a audiência não se realiza. Assim, em substituição do velho
despacho saneador, a agora nomeada decisão de saneamento e organização do processo é ato bem mais
complexo, em que cabe ao juiz: “I – resolver as questões processuais pendentes, se houver; II –
delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de
prova admitidos; III – definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; IV – delimitar as
questões de direito relevantes para a decisão do mérito; V – designar, se necessário, audiência de
instrução e julgamento”.

Como novidades, essa decisão sempre deverá delimitar as questões de fato que serão objeto da futura
instrução, conforme disposto no seu inciso II. Essa, portanto, já não é uma questão a ser definida apenas
quando realizada a audiência preliminar, como se achava previsto no art. 331, § 2º, do CPC/1973 (e que,
na prática, nem sempre era assim decidida, mesmo quando a audiência era feita). Ainda no sentido de
reafirmar regra já vigente mas pouco aplicada, o inciso IV desse mesmo artigo determina que sejam
delimitadas “as questões de direito relevantes para a decisão do mérito”. Mais preciso do que a norma
anterior, que se referia apenas à fixação de “pontos controvertidos”, o novo Código esclarece que,
sendo relevantes e controvertidas, tanto as questões de fato as como de direito serão relacionadas pelo
juiz ao proferir esse ato decisório.

Além dessa reafirmação e melhor definição de regras já presentes no CPC/1973, mas com essa mesma
finalidade de organização, incluiu-se nessa decisão a definição da “distribuição do ônus da prova,
observado o art. 373” (inc. III). Se, para o juiz, a aplicação dessas regras só se faz necessária no
momento de julgar, e apenas quando algum fato não restou suficientemente demonstrado na instrução, para
as partes é primordial o conhecimento prévio acerca dessa distribuição e, assim reconhece o novo
Código, as partes têm direito a essa prévia ciência acerca dos fatos cujo ônus da prova lhes é atribuído.
Evita-se, com isso, que a parte seja surpreendida na sentença com a afirmação de que era seu o ônus de
provar algum fato que não restou esclarecido na instrução já encerrada. E, por conseguinte, é este o
momento em que o juiz deverá decidir a eventual inversão do ônus da prova, de modo a dar prévia
ciência à parte a quem a carga foi transferida, tendo ela condições de melhor agir durante a fase
instrutória que se iniciará.27

Somadas, essas regras todas cumprem um importante papel no sistema processual, no sentido de
aperfeiçoamento do contraditório. Por força desse importante princípio, as partes têm o direito de ter
ciência de todos os atos processuais, bem como a oportunidade de sobre eles se manifestar
adequadamente. Tão mais perfeito é o contraditório quanto menos o processo for um palco de
armadilhas e chicanas – do que por vezes é acusado! – ou quanto menos surpresas se esconderem nas
curvas sinuosas do procedimento, a surpreender os litigantes. Deve ser um jogo jogado com todas as
cartas sobre a mesa. Deve, pois, distanciar-se diametralmente d'O Processo imprevisível descrito na
ficção por Franz Kafka.

Proferida essa decisão, ela ainda se submete ao contraditório das partes, que “têm o direito de pedir
esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna
estável”, como disposto no § 1º, do art. 357. Embora se assemelhe ao recurso de embargos de
declaração, este ato com ele não se confunde. Observada a origem dessas disposições, bem se nota que o
legislador de 2015 substituiu a discussão oral sobre os limites da causa (a do art. 331, § 2º, do
CPC/1973) por uma discussão praticada por escrito. A título de exemplo, podem as partes, nesta
oportunidade, apontar ao juiz a existência de outros fatos incontroversos, além dos relacionados na
decisão de organização, eventualmente indicando em qual manifestação anterior foram impugnados; ou,
ao contrário, afirmar que fatos relacionados como controvertidos foram, na verdade, admitidos pelas
partes como verdadeiros. Considerado o objetivo da regra, que é o de tornar a instrução mais produtiva e
eficaz, além de se evitar as surpresas, é de todo desejável que essa decisão seja proferida como
resultado de muita atenção a todos os fatos e fundamentos da causa, daí estabelecer a lei esse verdadeiro
diálogo entre partes e juiz, mesmo que apenas pela forma escrita.

Embora não o diga expressamente, havendo manifestação das partes, na forma do § 1º do art. 357,
compete ao juiz complementar ou reafirmar os termos de sua decisão, que só então se torna estável.

A delimitação da controvérsia sobre as questões de fato e de direito pode também ser objeto de ajuste
entre as partes, a ser homologado pelo juiz, conforme dispõe o § 2º do art. 357. A lei não prevê um
momento para que tal manifestação conjunta seja apresentada em juízo, mas certamente deve ser admitida
enquanto não estabilizada a decisão de organização do processo. Assim, parece-me que ainda no prazo
de 5 dias previsto no § 1º desse artigo, podem as partes oferecer a sua delimitação da controvérsia, em
substituição daquela recém definida pelo magistrado. Resta saber se haveria, aí, um prazo final para tal
estipulação. Parece-me que não. Tratando-se apenas de interesse das partes, definir em conjunto a
controvérsia ou incontrovérsia acerca de algum ponto do processo – o que pode significar confissão de
uma das partes – é ato de vontade que pode ser praticado a qualquer tempo. É de se perguntar,
praticamente falando, por que as partes fariam isso no curso ou em momentos adiantados do processo,
interrogação que, ademais, paira sobre os vários regramentos do novo Código que estabelecem formas de
cooperação entre as partes. Se as partes quiserem dispor de qualquer direito, faculdade ou posição de
vantagem seus, incluindo-se nisso o próprio direito material em disputa, não cabe ao processo civil
proibi-las de fazê-lo, à exceção dos cada vez mais escassos casos em que a lide verse sobre direitos
considerados indisponíveis.

Nos demais parágrafos do art. 357, encontram-se algumas modificações que atingem a produção de prova
e, por isso, serão comentadas adiante no Capítulo dedicado ao tema.28
Capítulo VIII - Alterações do NCPC em matéria de provas

1. Parte geral

As disposições gerais relativas às provas encontram-se nos arts. 369 a 380 do CPC/2015. Em boa parte,
são repetições das disposições contidas no capítulo correspondente do CPC/1973, que abarca os arts.
332 a 378, ou das disposições sobre o juiz que foram trasladadas dos arts. 130 e 131 da lei anterior,
correspondendo, agora, aos novos arts. 370 e 371. Como proposto nesta obra, serão comentadas somente
as diferenças trazidas pelo novo diploma processual.

O art. 371 reafirma, com texto ligeiramente modificado, o princípio da persuasão racional do juiz, antes
previsto no art. 131 do CPC/1973. Trata-se de princípio relativo ao modo de apreciação e valoração da
prova e que pode ser considerado um modelo intermediário, situado entre dois sistemas opostos, cujo
objetivo é definir o método pelo qual se forma a convicção acerca da verdade dos fatos. Um desses
extremos é a chamada prova tarifada, modelo arcaico e superado em que o valor probante dos meios de
prova é preestabelecido em lei, cabendo ao juiz nada mais do que constatar a verdade mediante
aplicação desses pesos legais. O outro extremo é o do julgamento conforme a consciência do julgador,
ainda encontrado modernamente nos julgamentos decididos pelo tribunal do juri. Cabe ao jurado votar
pela existência ou inexistência dos fatos segundo ditar a sua convicção íntima, sendo dispensado de
externar qualquer motivação ou esclarecimento a respeito do seu convencimento. O princípio da
persuasão racional do juiz, já adotado pelo Código anterior, encontra-se entre esses dois sistemas: nem
vincula o juiz a valores predefinidos pelo legislador, dando-lhe liberdade para valorar a prova, nem o
deixa completamente livre para julgar segundo suas convicções íntimas, pois dele se exige uma
motivação racional, mediante a apresentação de um discurso lógico e calcado nas provas dos autos, que
explique aos seus interlocutores – não só as partes, mas toda a sociedade – o porquê de ter acreditado na
veracidade ou inveracidade de cada um dos fatos relevantes e controvertidos da causa submetida ao seu
julgamento.

Em relação ao texto anterior, eliminou-se no CPC/2015 a referência a apreciar livremente a prova, tendo
sido retirado esse vocábulo do texto. Em meu entendimento, a supressão do vocábulo livremente nada
altera o sentido que já era dado ao princípio, eis que, pelo restante do texto do art. 131 do CPC/1973,
ficava claro que essa liberdade não era total – tal como se dá no julgamento pelo júri – mas tão somente
significava a liberdade de formar o convencimento sem se submeter a qualquer prévia amarração
apriorística dada pela lei; mas a liberdade prevista no texto anterior estava restrita pela necessidade de
apresentar motivação racional, calcada na prova constante dos autos. É o que temos na nova redação.

Acresceu-se, no mesmo artigo, a expressão “independentemente do sujeito que a tiver promovido”,


referindo-se o texto, no caso, às provas constantes dos autos. Apenas se inseriu na lei posições
consagradas da teoria acerca do direito probatório, cuja aplicação anterior parecia se dar sem qualquer
hesitação. Considera-se que as provas, uma vez produzidas, devem ser analisadas objetivamente pelo
magistrado, que as valora por aquilo que em si afirmam, não importando quem as trouxe aos autos. É o
que já se costumou chamar – sob as críticas da moderna doutrina – de ônus objetivo da prova, expressão
em si criticável pois ao magistrado não se impõe ônus algum na relação processual. O juiz tem o dever
de apreciar as provas e, nessa apreciação, não lhe cabe distinguir qual das partes as trouxe, eis que
devem ser examinadas objetivamente.
O art. 372 faz referência à prova emprestada. Não havia dispositivo sobre o tema no CPC/1973, mas sua
admissibilidade já era amplamente aceita em juízo, bem como ventilada na doutrina mais tradicional
sobre a matéria. E o artigo em comento se resume a afirmar a admissibilidade de tal prova, sem adentrar
em quaisquer regramentos adicionais sobre a forma de sua produção ou critérios para sua valoração, não
significando, portanto, uma real novidade.

A maior inovação neste Capítulo diz respeito às regras sobre a distribuição do ônus da prova.

A regra geral de distribuição, antes prevista no art. 333 e incisos do CPC/1973, é repetida no art. 373 e
seus incisos, do CPC/2015. Ao autor é atribuído o ônus de provar o “fato constitutivo de seu direito”,
ao réu cabe o ônus de provar a “existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor”. Admite-se, tal qual no regime anterior, que as partes disponham diferentemente sobre a
distribuição do ônus da prova (art. 373, § 3º), acrescentando o novo CPC, no § 4º deste mesmo artigo,
que esta convenção pode ser celebrada antes ou durante o processo.

Inova o CPC/2015 ao permitir que o juiz decida sobre a distribuição do ônus da prova de modo diverso
do estabelecido no caput, adotando moderno posicionamento acerca da chamada carga dinâmica da
prova. A questão, porém, não é simples, e o legislador mostrou-se cheio de cuidados ao regular a
questão, nos §§ 1º e 2º do art. 373.

Em primeiro lugar, tal disposição diversa pode ser determinada “nos casos previstos em lei”. Tome-se
como exemplo, neste caso, a regra consumerista que permite inversão do ônus da prova em favor do
consumidor, quando suas alegações forem verossímeis ou quando ele for hipossuficiente, segundo a
experiência ordinária do magistrado (art. 6º, VIII, do CDC).

A segunda situação, mais fluida, refere-se “a peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade


ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de
obtenção da prova do fato contrário” (art. 373, § 1º). A subjetividade dos adjetivos empregados no
texto dão conta da dificuldade que tal regra poderá trazer. E, com receio de eventual injustiça que a
novidade possa infligir ao litigante que recebe esse ônus, inseriu o legislador um contraponto no § 2º do
mesmo artigo, que afirma que a inversão “não pode gerar situação em que a desincumbência do
encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil”. Disso resulta que a prolixidade do
legislador foi inútil. O que, na prática, deverá permitir essa alteração na atribuição do ônus da prova será
apenas a maior facilidade que a parte contrária teria em desincumbir-se dele, comparativamente ao seu
adversário. Havendo apenas excessiva dificuldade para a parte a quem incumbiria originalmente o ônus
da prova, como expresso no § 1º, se idêntica excessiva dificuldade tiver o adversário em produzi-la, o
texto dos dois parágrafos se anulam. Portanto, não havendo previsão legal a respeito dessa inversão,
conclui-se que só se pode transferir a outro o ônus da prova se a este for mais fácil produzi-la; mesmo
assim, se falamos do descompasso entre o quase impossível e o excessivamente difícil, o § 2º também
impede a modificação, ainda que mais fácil (ou ligeiramente menos difícil) seja a prova do fato para o
adversário.

A nova regra que permite modificação do ônus da prova pelo juiz talvez encontre campo fértil no âmbito
dos fatos negativos. Já se disse, no passado remoto, que fatos negativos não podem ser provados, o que
foi depurado mais modernamente, aduzindo-se que somente os fatos negativos e indeterminados não
podem ser provados. Fatos negativos e determinados podem, sim, ser provados, mediante demonstração
de outros fatos que lhe sejam excludentes. A título de exemplo, é impossível provar que nunca estive em
Pequim (fato negativo e indeterminado). Mas é possível provar que não estive em Pequim, digamos, no
dia 6 de outubro de 2004 (fato negativo e determinado), mediante demonstração de que nessa data eu
estava em outro lugar. Mas... onde é mesmo que a parte estava nesse preciso dia? Ora, uma coisa é dizer
que tais fatos negativos e determinados possam ser logicamente provados, outra coisa é a dificuldade
prática em fazê-lo, pois isso exige identificar e provar, no caso concreto, quais seriam esses fatos
positivos capazes de excluir o fato negado. E que tenha ocorrido no passado um fato demonstrável com
essa aptidão para excluir o fato negado.

Assim, penso que já deveria ser compreendido na regra do caput do art. 373 (ou do anterior art. 333),
que cabe às partes a prova dos fatos positivos que lhes aproveitam. Ao autor aproveita demonstrar a
existência dos fatos constitutivos de seu direito; ao réu aproveita demonstrar a existência dos fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Se o autor fundamenta seu pedido na
negativa de existência de uma relação jurídica, como ocorre, por exemplo, nas ações com pedido
declaratório de inexistência de obrigação (tipo de causa que, na moderna sociedade de consumo, tem-se
tornado corriqueira), não se pode impor a ele o ônus de provar que não firmou contrato algum com o réu.
Ao réu incumbe provar a existência da obrigação negada pelo autor, pois é fato que lhe aproveita. Definir
que cada parte tem o ônus de provar os fatos positivos que lhe aproveitam parece decorrência direta da
regra geral de distribuição do ônus da prova. Não pode ser considerado fato constitutivo do direito um
não-fato. Não pode ser ônus do autor provar a não-existência de um fato, o que não se confunde com o
velho brocardo sobre a impossibilidade dessa prova, que pode ser trazida aos autos, se for o caso, como
contraprova. Idem, com relação ao réu, quanto ao ônus de provar os fatos impeditivos, modificativos ou
extintivos, o que não abrange os não-fatos.

No art. 379, o CPC/2015 repete três ônus processuais que o anterior art. 340 do CPC/1973 impunha às
partes: “I – comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for interrogado; II – colaborar com o juízo
na realização de inspeção judicial que for considerada necessária; III – praticar o ato que lhe for
determinado”. Há, no entanto, uma diferença de texto no caput desse artigo que merece ser comentada,
para evitar confusões. É ressalvado, no caput do art. 379, “o direito de não produzir prova contra si
própria”, casos em que os ônus previstos nos três incisos seriam afastados. Esclareça-se que tal direito
não existe no âmbito do processo civil: é norma própria do garantismo penal, decorrente das disposições
que asseguram ao acusado o direito ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII). Portanto, esse acréscimo de texto não
muda a ordem já vigente, mas apenas esclarece, na lei processual civil, que a busca da prova em um
processo civil não pode compelir a parte a informar fato que lhe acarrete risco de ser processado
criminalmente, pois isso seria um atalho a subverter a garantia processual penal.

Nem se pense que a nova lei pretendeu trazer essa garantia penal para o âmbito civil, pois as confissões
decorrentes do silêncio previstas no CPC/1973 foram todas mantidas no novo Código, especialmente
aquela que decorre da recusa em responder ao que lhe é perguntado em depoimento pessoal, ou quando o
depoente emprega evasivas (arts. 385, §1º, e 386, do CPC/2015). Mais que isso, foram introduzidas
novas situações em que o silêncio faz presumir a verdade contra o interesse de quem silencia, como se
nota no art. 411, III, a se melhor comentado adiante.29 A nova redação, portanto, apenas enfatiza as
implicações e reflexos no processo civil da já conhecida garantia penal que assegura ao acusado o
direito ao silêncio e a não ser compelido a produzir prova contra si mesmo.

2. Produção antecipada de prova

Com a extinção do livro dedicado ao processo cautelar, e o consequente fim da atividade cautelar como
objeto de processo autônomo, as disposições antes constantes dos arts. 846 a 851 do CPC/1973 foram
acomodadas no Capítulo dedicado às provas. O novo Código dedica ao tema os arts. 381 a 383.

Não obstante a natureza indefinida que a nova lei deu ao instituto, e a nítida intenção do legislador em
extinguir o processo cautelar, as normas dispostas nesses três artigos dão à produção antecipada de prova
uma natureza inegável de processo autônomo, cujo objeto é tão somente a colheita e preservação da
prova, tal qual a cautelar nominada que se encontrava prevista no Código anterior.

A produção antecipada de prova do CPC/1973 era medida de natureza acautelatória, destinada à


proteção da prova, sem caráter constritivo. É assim que a medida pode ser definida, segundo o novo
CPC. Em verdade, pode-se dizer que essa nova roupagem dada pelo CPC/2015 substitui as finalidades
não apenas da produção antecipada de prova da lei anterior, mas também do arrolamento de bens quando
não constritivo de direitos (arts. 855 a 860, do CPC/1973 - v. art. 381, § 1º, do CPC/2015), da
justificação (arts. 861 a 866, do CPC/1973 – v. art. 381, § 5º, do CPC/2015) e da exibição (arts. 844 a
845, do CPC/1973).

Trata-se, enfim, de medida que pode ser ajuizada quando o único objetivo do requerente, naquele
momento, é preservar, documentar ou apenas conhecer a prova.

Segundo o art. 381, a medida será admitida quando: “I – haja fundado receio de que venha a tornar-se
impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação; II – a prova a ser
produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de
conflito; III – o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação”. A
hipótese descrita no inciso I foi transcrita do art. 849 do CPC/1973 e, embora ali se fizesse referência
apenas à prova pericial, esta era a fórmula geral que permitia amplamente a medida, para a colheita de
quaisquer dos meios de prova apontados no art. 846 do CPC/1973. As situações descritas nos outros dois
incisos são inovações do CPC/2015, que ampliam a autorização legal para o requerimento da medida e
que praticamente asseguram à parte um direito abstrato em somente registrar a prova, para qualquer fim,
mesmo que não seja a futura propositura de ação, ou simplesmente ter ciência dos fatos que, até então,
não conhecia total ou parcialmente.

Não se tratando de medida restritiva de direitos de outrem, não há porque a lei ou o juiz introduzam
maiores dificuldades ao pedido de perpetuação da prova que, segundo reconhece o legislador de 2015,
pode se prestar até mesmo para evitar ou solucionar litígios presentes ou futuros.

Diversamente do disposto no art. 846, do CPC/1973, que estabelecia o procedimento para a colheita de
“interrogatório da parte, inquirição de testemunhas e exame pericial”, a medida prevista no novo
Código é destinada a colheita de qualquer meio de prova (art. 382, § 3º, do CPC/2015), o que significa
dizer não só os meios típicos descritos na lei, como também qualquer outro meio atípico (art. 369, do
CPC/2015) que puder ser produzido para demonstrar a verdade dos fatos que se quer perpetuar. E, assim,
substitui também a extinta ação cautelar nominada de exibição (arts. 844 a 845, do CPC/1973).

A competência para a produção antecipada de prova é definida no foro do local onde a prova deva ser
produzida ou no do domicílio do réu, como previsto no art. 381, § 2º, do CPC/2015. O ajuizamento dessa
medida não torna prevento o juízo para uma eventual ação posterior, segundo diz o § 3º do mesmo artigo.
Ainda quanto à competência, a lei confere à justiça estadual competência para processar esta medida
“em face da União, entidade autárquica ou empresa pública federal, se na localidade não houver vara
federal”, como previsto no § 4º.
Não há qualquer necessidade de indicar uma ação principal a ser futuramente ajuizada, eis que, como já
dito, o cabimento dessa medida sequer se resume a servir de prova em um futuro processo judicial. A
petição deve ser fundamentada apenas com “as razões que justificam a necessidade de antecipação da
prova”; cabe, porém, ao requerente, mencionar “com precisão os fatos sobre os quais a prova há de
recair”, (art. 382, do CPC/2015).

Serão citados “os interessados na produção da prova ou no fato a ser provado”, segundo reza o art.
382, § 1º, do CPC/2015. Essas são as pessoas em relação a quem o autor tem interesse em fazer a prova.
Para que a prova seja colhida sob o contraditório, tais sujeitos devem ser citados para o processo. Note-
se que a possibilidade de atuação do requerido foi ampliada, em comparação com a medida análoga do
CPC/1973, sendo-lhe autorizado solicitar a produção de outras provas acerca do mesmo fato (art. 382, §
3º, do CPC/2015), cabendo ao juiz decidir sobre sua admissibilidade.

Esgotada a colheita das provas requeridas, o procedimento é encerrado, sem que o juiz se pronuncie
“sobre a ocorrência ou a inocorrência do fato, nem sobre as respectivas consequências jurídicas”. A
prova é simplesmente colhida, para o uso extrajudicial que a parte der a ela, ou, se apresentada em
processo judicial futuro, caberá ao juiz dessa segunda causa apreciá-la e aplicar as consequências
jurídicas do fato ao direito ali postulado. O que importa é que, colhida sob as vistas da parte contrária,
seu valor probante no segundo processo deve ser idêntico ao de uma prova que tivesse sido colhida nele
próprio.

Diz o art. 383, do CPC/2015, que “os autos permanecerão em cartório durante 1 (um) mês para
extração de cópias e certidões pelos interessados”. Em se tratando de autos digitais, a regra é
evidentemente desnecessária. As partes podem fazer download de todos os atos do processo e bem pode
o Judiciário manter tais registros no seu banco de dados, juntamente com os autos digitais dos demais
processos findos.

Não se admite recurso nesse procedimento, “salvo contra decisão que indeferir totalmente a produção
da prova pleiteada pelo requerente originário” (art. 382, § 4º, do CPC/2015), isto é, contra a decisão
que indeferir o pedido e determinar a extinção do processo. É curiosa a restrição feita na lei: deveria ser
admitido recurso também contra o indeferimento parcial. Se a parte tem interesse na preservação da
prova sobre certos fatos, não há porque distinguir o direito ao recurso contra a decisão que negou todas
ou apenas algumas das provas solicitadas. Se a prova negada tivesse sido a única solicitada, teria sido
aceito o recurso; não faz sentido negá-lo apenas porque a mesma prova foi requerida em conjunto com
outra, cuja produção antecipada foi admitida. Note-se que ao negar o direito a recurso por parte dos
requeridos, com fundamento na excessiva demora em colher a prova (art. 382, § 3º, do CPC/2015), a lei
não atinge seu direito à prova antecipada. O direito destes de requerer medida autônoma para colher tais
provas, por certo, é preservado. O indeferimento, nesse caso, apenas tem o evidente objetivo de não
causar embaraços à mais expedita colheita da prova que foi solicitada pelo requerente original.

3. Meios de prova em espécie

Como se sabe, não mais vigora, nos modernos sistemas jurídicos, o sistema da prova legal, segundo o
qual somente são aceitos os meios de prova que a lei enumerar. O art. 369 do CPC/2015, na esteira do
que já determinava o art. 332 do CPC/1973, estabelece que são aceitos como prova “todos os meios
legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código”. Portanto, a
previsão legal dos meios de prova na lei processual só faz sentido quando o legislador desejar
estabelecer regras procedimentais sobre sua produção em juízo, ou, ainda, quando sobre eles desejar
estabelecer presunções legais. Não cabe à lei definir o que faz prova ou o que não faz, eis que prova é
uma demonstração da verdade que só pode ser compreendida mediante aplicação da inteligência e da
razão humanas sobre o caso concreto e sobre as provas acerca dos fatos litigiosos que foram trazidas
para os autos.

O CPC/2015 reitera a previsão expressa dos mesmos meios de prova já descritos no CPC/1973:
depoimento pessoal, confissão, exibição de documento ou coisa, prova documental, prova testemunhal,
prova pericial e inspeção judicial. Além desses, foi acrescentada uma nova seção, com um único artigo,
introduzindo a ata notarial no rol dos meios de prova especificados em lei. Serão comentadas, nos itens
que se seguem, apenas as novas disposições que o CPC/2015 estabeleceu acerca dos meios de prova em
espécie.

3.1. Ata notarial

A ata notarial foi inserida pelo CPC/2015 entre os meios de prova expressamente previstos em lei.

Como já afirmado, os meios de prova não se resumem aos que são descritos em lei, admitindo-se outros
que, de um modo lógico e racional, permitam desvendar a verdade dos fatos da causa. Destarte, a
previsão legal da ata notarial, especialmente do modo singelo em que se encontra, em artigo único, era
absolutamente desnecessária. A ata notarial é espécie de prova documental, meio de prova que já se
encontra extensamente regrado na lei processual. Mais especificamente, é um documento público lavrado
por tabelionato de notas, conforme elencado no art. 7º, III, da Lei nº 8.935/1994, e que tem como
conteúdo a descrição de fatos presenciados pelo Tabelião. Não é um ato de disposição nem de
reconhecimento acerca de direitos e, sim, uma constatação de fatos captados pelo notário e por ele
descritos nesse documento.

E a ata notarial já tem sido utilizada com razoável frequência, para documentar situações que possam ser
presenciadas pelo agente que a lavra. Assim, não há propriamente uma novidade na inserção no Código
dessa inédita seção, contendo apenas o art. 384 e seu parágrafo único. O caput desse artigo, confirma a
finalidade acima descrita para esse documento público, ditando, com uma certa veia poética, que “a
existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do
interessado, mediante ata lavrada por tabelião”. O parágrafo acrescenta que “dados representados por
imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial”.

Tem sido bastante comum o uso de ata notarial para documentar registros eletrônicos presentes em sítios
da Internet, com o propósito de demonstrar uma miríade de fatos, tais como violação de direito autoral,
qualidades e características de produtos e serviços anunciados, contratos e termos de uso publicados
apenas em páginas web, conteúdo ofensivo, entre outros fatos praticados por computadores, cujos
vestígios poderão ser apagados com facilidade pelo seu detentor, daí a utilidade da expedita lavratura de
uma ata notarial. Assim, é comum que tais atas contenham imagens das telas de computador vistas pelo
notário, quando da constatação dessa modalidade de fatos informáticos.

3.2. Prova documental

A prova documental é prevista nos arts. 405 a 441 do CPC/2015. São amplamente reiteradas as
disposições do CPC/1973 acerca da prova documental, até mesmo aquelas que, pela evolução dos meios
de comunicação, já não parecem fazer muito sentido em razão do desuso, como, por exemplo, a do art.
413 do novo Código, que apenas repete regra do art. 374 da lei anterior. Como proposto nesta obra,
serão comentadas apenas as diferenças entre os Códigos novo e velho.

No art. 411, nota-se alteração acerca da presunção de autenticidade dos documentos particulares.
Autenticidade é a certeza quanto à autoria do documento. A regra anterior, constante do art. 369, do
CPC/1973, estabelecia que o documento particular somente era considerado autêntico quando sua
assinatura fosse reconhecida de modo presencial pelo tabelião. O novo Código amplia a incidência da
presunção de autenticidade, para abranger as seguintes situações: “I – o tabelião reconhecer a firma do
signatário; II – a autoria estiver identificada por qualquer outro meio legal de certificação, inclusive
eletrônico, nos termos da lei; III – não houver impugnação da parte contra quem foi produzido o
documento”.

No primeiro inciso, ao referir-se somente ao reconhecimento de firma, sem distinguir as duas


modalidades, isto é, presencial e por semelhança, parece ter sido vontade do legislador atribuir a ambas
a força de gerar a presunção de autoria do documento. Trata-se de alteração arriscada, pois sabe-se que,
na tarefa de reconhecer firmas por semelhança, o tabelionato se resume a verificar se a assinatura se
parece com outra mantida em seus arquivos. Falsificadores habilidosos, com ou sem o uso de novas
tecnologias, são capazes de replicar a assinatura autógrafa de outros, não se supondo que o tabelionato,
na mera aferição de semelhança entre as assinaturas, tenha condições de constatar a presença de fraudes
mais finas. É certo que a regra do art. 411 apenas estabelece uma presunção simples de autenticidade,
que, portanto, admite prova contrária. Contudo, diante da presunção, o ônus da prova da falsidade passa
a ser do suposto signatário que impugna a firma dita como sua, acarretando-lhe, por isso, também o ônus
de suportar as despesas para produção da prova necessária à demonstração da falsidade. Melhor teria
sido que o legislador deixasse esse tema como estava no CPC anterior, o que dava às partes a opção de
realizar ou não o reconhecimento de firma presencial, que lhes daria maior segurança contra impugnações
de falsidade; ou, querendo, optassem apenas pelo reconhecimento por semelhança, sem presunção de
autenticidade, com o objetivo de ao menos aumentar a confiabilidade negocial do ato, ou para cumprir o
disposto em situações previstas em lei, como no art. 654, § 2º, do Código Civil.

O segundo inciso é fruto de uma moderna tendência legislativa, que, desejosa de modernizar as
instituições jurídicas e o processo, tenta a qualquer custo introduzir e regular o uso das novas tecnologias
sem, contudo, compreendê-las, ou nem mesmo conhecê-las. É o que venho chamando, com certa dose
sarcasmo, de síndrome da modernidade desconhecida que, por vezes, aflige o legislador. E o resultado
disso tem sido a criação de normas mal formuladas, mal explicadas, ou profundamente incompletas para
o fim a que se destinam. Neste caso, como o legislador ao menos exige outro “meio legal de
certificação”, finalizando o inciso de forma redundante com a expressão “nos termos da lei”, o texto
apenas remete para outra lei a missão de prever mais alguns mecanismos tendentes a criar essa presunção
de autenticidade. No momento, parece-me que tal lei não existe. Há um profundo lobby neste país,
originário principalmente das esferas governamentais, que vem paulatinamente obrigando o uso da
certificação digital emitida pela ICP-Brasil, mesmo que não haja lei alguma que o autorize ou determine.
A ICP-Brasil foi criada pela Medida Provisória nº 2.200/2001 que, caída no vácuo deixado pela EC nº
32, jamais foi votada pelo Congresso Nacional. E o texto dessa Medida Provisória não prevê nenhuma
presunção de autenticidade à certificação digital ali criada e regulada, apesar da insistência do lobby
governamental, que tenta sustentar o contrário, com o fito de obrigar todo o país a usar essa megaestrutura
estatal. Assim, esse segundo inciso apenas remete para lei por ora inexistente.
O terceiro inciso deixa explícito o que já deveria ser consequência lógica do procedimento adotado na
produção da prova documental. Toda vez que um documento é juntado aos autos, a parte contrária tem o
direito de se manifestar a seu respeito. Se uma das partes junta documentos em suas manifestações
iniciais, ainda durante a fase postulatória, o adversário deverá se manifestar sobre eles na sua petição
seguinte. Se juntado no curso do processo, a qualquer tempo, abre-se vista e oportunidade de
manifestação à parte adversa, conforme art. 437, 1º, do CPC/2015, a ser comentado logo abaixo. O
inciso III deixa expresso que, se a parte não impugnar os documentos juntados pelo adversário, disso
resultará sua presunção de autenticidade, assim como o silêncio, em outros momentos do processo civil,
produz diferentes formas de presunção de veracidade.

O art. 422 do CPC/2015 traz norma análoga à do art. 383, do CPC/1973, destinada a regrar a
apresentação de reproduções de documentos, isto é, cópias feitas a partir do documento original. Do
mesmo modo que o texto legal anterior, cópias cuja conformidade com o original não tenha sido
impugnada pelo adversário são igualmente aptas a “fazer prova dos fatos ou das coisas representadas”.
Há uma sutil modificação de texto entre a nova e a velha norma. No art. 383, do CPC/1973, as cópias
seriam meios idôneos de prova “se aquele contra quem foi produzida lhe admitir a conformidade”. No
novo texto, ficou claro que essa admissão de conformidade também pode ser tácita, decorrente da
ausência de impugnação expressa, pois a hipótese legal agora é redigida deste modo: “se a sua
conformidade com o documento original não for impugnada por aquele contra quem foi produzida”.
Esse entendimento já poderia ser deduzido do texto anterior; com a nova redação dada pelo CPC/2015,
fica claro o ônus que se atribui às partes de impugnar documentos de forma expressa e precisa.

Havendo impugnação pela parte contrária, a depender de seu teor, os caminhos a tomar serão diversos.
Se a parte apenas impugnar a conformidade da cópia com o original, ou mesmo a inexistência de um
original correspondente, basta que este seja exibido em juízo e examinado pelo juiz, para que a questão
seja solucionada. Se a impugnação recair sobre a veracidade do próprio original, neste caso, além da
apresentação deste, pode ser necessária a realização de prova pericial sobre o documento, tudo em
conformidade com os limites da impugnação e da resposta oferecida pela parte que juntou o documento.

É oportuno considerar que, com a crescente informatização do Poder Judiciário e a introdução de autos
digitais, a prova documental juntada passa a ser formada quase que exclusivamente por cópias
digitalizadas dos documentos originais. Documentos originais eletrônicos, ao que parece, ainda são de
uso raríssimo e, além disso, os sistemas informáticos adotados pelos tribunais, cheios de
especificidades, nem sempre permitem sua apresentação na forma original.

Foram introduzidos, neste art. 422, três parágrafos que não encontram correspondência no Código
anterior. As regras dos parágrafos, todavia, não têm relação com o tema do caput, que, como visto, se
refere à juntada de cópias de documentos originais. Os parágrafos não tratam de cópias, mas sim de
outros tipos de documento: a fotografia e as mensagens eletrônicas.

No tocante às fotografias, o § 2º determina que “se se tratar de fotografia publicada em jornal ou


revista, será exigido um exemplar original do periódico, caso impugnada a veracidade pela outra
parte”. O texto parece ser autoexplicativo. Anote-se, apenas, que, por “exemplar original do
periódico”, o texto se refere apenas à mídia impressa. Embora trate de assunto diverso, esse parágrafo
merece ser interpretado em consonância com o disposto no caput, ou seja, a exigência de juntada do
exemplar original do periódico só deve ser considerada necessária se houver impugnação da parte contra
quem a fotografia foi produzida. Por certo, não é excluída a juntada de apenas uma cópia do periódico, só
sendo necessária a apresentação do original se houver impugnação da parte contrária.

Os §§ 1º e 3º são sintoma da mesma síndrome da modernidade desconhecida referida acima. Ainda com
a pretensão de regrar a apresentação de fotografias, o § 1º se propõe a criar regras sobre a apresentação
de fotografias digitais. O § 3º preocupou-se com as mensagens eletrônicas.

Há pelo menos uma década que as fotografias digitais tomaram o cotidiano de todas as pessoas, não se
tendo notícia do emprego do velho filme, senão em nichos profissionais e artísticos extremamente
restritos. E, por conseguinte, na década passada, fotografias digitais foram fartamente apresentadas como
prova nos processos judiciais. Se é certo que a edição dessas imagens tem se tornado cada vez mais
acessível ao leigo, não parece haver outro modo de apreciar tal prova, senão submetendo-a ao
contraditório e, no limite das impugnações e respostas apresentadas pelas partes em torno de sua
veracidade ou falsidade, colher outras provas que esclareçam a questão, especialmente a perícia sobre a
própria foto. O § 1º, entretanto, diz que, se impugnadas tais fotografias, deve ser apresentada “a
respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possível, realizada perícia”. Não tenho a menor ideia
do que seja essa autenticação eletrônica de fotografia. Simplesmente não há, e provavelmente não
haverá, qualquer tecnologia que autentique a fotografia, a ponto de assegurar que a imagem em questão
corresponde àquilo que foi captado, no passado, pelos sensores eletrônicos do equipamento fotográfico.

O § 3º, por sua vez, apenas determina a aplicação das disposições do artigo também “à forma impressa
de mensagem eletrônica”. Uma análise mais minuciosa das mensagens eletrônicas como prova
extravasam os objetivos deste trabalho. São documentos facilmente autoproduzidos ou alterados
unilateralmente, cuja apreciação pelo juiz requer extrema cautela. Exceto se tais mensagens foram
assinadas digitalmente, algo que, na prática, ainda é bastante raro, são documentos profundamente
voláteis não apenas em sua forma impressa, mas também na forma eletrônica “original”. Sua valoração
como prova depende grandemente dos limites do contraditório que sobre elas se estabeleceu, ou da
verosimilhança das alegações em favor ou contra sua veracidade, especialmente quando apoiada nos
demais elementos constantes dos autos. Portanto, tudo o que pode ser extraído deste parágrafo é:
apresentada como prova uma mensagem eletrônica, se não impugnada, ou, se o for parcialmente, nos
limites do que não foi impugnado ela é considerada verdadeira; impugnada, torna-se prova frágil, cuja
veracidade dependerá de outros elementos de convicação e do contraditório que foi estabelecido sobre
esse documento.

O contraditório sobre a prova documental significa dar à parte contrária, contra quem o documento faz
prova, a oportunidade de se manifestar sobre seu teor e sobre a sua própria veracidade ou autenticidade.
O CPC/2015 regula a discussão sobre o documento de forma mais precisa e minuciosa, em comparação
com a lei anterior.

A grande unificação de prazos feita pelo CPC/2015, dando-lhes duração de 15 dias, atingiu também esse
momento do processo. Uma vez juntado um documento, cabe ao adversário manifestar-se sobre ele. Os
documentos juntados pelo autor serão impugnados pelo réu na contestação, enquanto os que o réu juntar
na defesa serão impugnados pelo autor em réplica, ambos os atos submetidos ao mesmo prazo de 15 dias.
Juntado o documento em qualquer outra oportunidade, como na réplica, ou por petição avulsa
apresentada no curso do processo, tem a parte contrária o mesmo prazo de 15 dias para manifestar-se
sobre ele, conforme arts. 430 e 437, § 1º.

Uma novidade importante acerca do prazo para essa manifestação encontra-se no § 2º do art. 437:
“poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo para manifestação sobre a prova documental
produzida, levando em consideração a quantidade e a complexidade da documentação”. Há situações
em que o volume de documentos juntados por uma das pates é extenso, ou exige que a parte contrária faça
algum tipo de diligência, analise outros registros seus, ou precise apurar fatos, para poder se manifestar
sobre eles. Não diz o texto qual o momento para essa solicitação, mas parece claro que deve ser feita
antes do final do prazo, se a parte não quiser correr riscos, esperando-se que o juiz prontamente aprecie
o pedido. Como parágrafo do art. 437, cujo caput se refere às manifestações sobre documentos na
contestação e na réplica, parece claro que essa prorrogação de prazos também a elas se aplica. Mas,
neste caso, não diz o Código se a prorrogação atinge a contestação e réplica como um todo, ou apenas
para a manifestação sobre os documentos. Deveria a lei ter sido mais clara neste sentido, mas, não o
sendo, creio que as duas hipóteses podem ser contempladas, cabendo à parte requerê-las com clareza, e
ao juiz decidir expressamente se a prorrogação concedida é para praticar o ato como um todo
(contestação, réplica) ou apenas para que a parte possa posteriormente peticionar, apresentando
manifestação mais abrangente sobre a prova documental. Certamente, haverá situações em que a defesa
não terá como impugnar precisamente os fatos alegados na inicial se não puder ter plena ciência dos
documentos juntados com a inicial; ou, o mesmo pode acontecer por ocasião da réplica, relativamente a
fartos documentos juntados com a defesa.

Note-se que o CPC/2015 extinguiu o incidente de falsidade como um incidente procedimental (art. 390,
do CPC/1973). Em seu lugar, simplificando as formas, cabe à parte manifestar-se sobre os documentos
em sua fala seguinte, no mesmo corpo da contestação, da réplica, ou de qualquer outro ato seu, como
contrarrazões de recurso, caso o documento seja juntado em um recurso. Ou, se juntado a qualquer tempo,
é dado a parte o prazo de 15 dias para uma manifestação também avulsa, apenas sobre o documento.

Uma primeira observação que pode ser feita a esse respeito é que, uma vez abolido o incidente de
falsidade, deveria a lei ter unificado as regras que dispõem sobre a manifestação da parte contrária. Ao
manter as mesmas rubricas do CPC/1973, que dividia as regras que tratavam “da arguição de falsidade”
(arts. 430 a 433) das que cuidam “da produção da prova documental”, (arts. 434 a 438), o novo CPC
inclui normas que se mostram redundantes. Parece claro que o prazo de 15 dias e a petição de
manifestação sobre os documentos, previstos separadamente nos arts. 430 e 437, § 1º, são os mesmos
atos e prazos.

Assim, apresentado documento por uma das partes, a outra tem a oportunidade de sobre ele se manifestar.
Trata-se de uma única manifestação, dentro do prazo de 15 dias, seja ela no bojo da contestação ou da
réplica, seja por petição exclusiva para esse fim, o que somente ocorrerá quando o documento for juntado
a qualquer tempo no curso do processo.

Um dos pontos mais meritórios do novo CPC reside na sua clara intenção de dar mais objetividade aos
limites do litígio. Há, aqui, um louvável esforço do legislador para afastar as impugnações genéricas,
vazias, ou mesmo levianas sobre os documentos juntados pelo adversário. Diz o art. 436 que cabe à
parte, ao se manifestar sobre os documentos: “I – impugnar a admissibilidade da prova documental; II
– impugnar sua autenticidade; III – suscitar sua falsidade, com ou sem deflagração do incidente de
arguição de falsidade; IV – manifestar-se sobre seu conteúdo”. E, nos casos dos incisos II e III,
situações em que a crítica recai sobre veracidade do documento ou de sua autoria, diz o § ún. que “a
impugnação deverá basear-se em argumentação específica, não se admitindo alegação genérica de
falsidade”. Não bastam, pois, palavras vazias: deve-se apontar precisamente qual é o mal que atinge o
documento impugnado, sob pena de inadmissibilidade da impugnação e, consequentemente, presumir-se
verdadeiro o documento e seu teor.

Distingue-se, no CPC/2015, a arguição de falsidade tratada apenas como questão incidental, daquela que
foi suscitada como questão principal. Em regra, segundo dispõe o art. 430, § ún., será ela resolvida
como questão incidental, isto é, será apenas motivo para que o juiz inclua ou exclua o documento do
conjunto probatório, que, por sua vez, embasará o julgamento do mérito. Pode a parte, no entanto,
“requerer que o juiz a decida como questão principal, nos termos do inciso II do art. 19”, consoante
parte final desse mesmo parágrafo. Neste caso, segundo o art. 433, a decisão sobre a falsidade “constará
da parte dispositiva da sentença e sobre ela incidirá também a autoridade da coisa julgada”.

Nenhum desses dispositivos, entretanto, estabelece a necessidade de um pedido autonomamente


apresentado, nem o desenvolvimento de um incidente procedimental em paralelo. Em um modelo em que
até mesmo a reconvenção é deduzida na mesma petição que contém as defesas do réu, a arguição de
falsidade, com ou sem o pedido para que seja julgada como “questão principal”, será igualmente
deduzida na contestação, ou em réplica, ou em petições avulsas posteriores a essas, conforme o caso.

As exigências formais do art. 431, isto é, a exposição dos “motivos em que funda a sua pretensão e os
meios com que provará o alegado”, que, no caso, é a falsidade do documento, devem ser observadas
tanto na falsidade a ser resolvida como questão incidente como na que for suscitada como questão
principal. Afinal, são elementos lógicos e necessários a apoiar o exame e eventual decretação de
falsidade, estando, esta regra, em sintonia com o já comentado art. 436, § ún., que exige uma
“argumentação específica” do impugnante, ao afirmar a falsidade do documento ou de sua autoria.

O inciso III, do art. 436, faz referência à deflagração, ou não, do “incidente de arguição de falsidade”.
Como sustentado acima, esse incidente, enquanto dotado de uma estrutura procedimental própria, foi
aparentemente eliminado no novo Código, tanto que a impugnação de falsidade pode ser feita em
contestação ou réplica. Ao que tudo indica, a parte final desse inciso deve significar “com ou sem pedido
de resolução como questão principal”, harmonizando o texto com os arts. 430, 431 e 433. Noutras
palavras, não há distinção formal ao se arguir a falsidade de documentos. A parte sempre o fará do modo
mais simples: na manifestação seguinte, se já houver uma a ser normalmente praticada na sequência
regular do procedimento (contestação ou réplica), ou por petição exclusivamente voltada para esse fim,
mas encartada nos mesmos autos. A diferença existente entre requerer ou não a sua solução como questão
principal é algo que se observará apenas no pedido feito nessas mesmas manifestações, cabendo à parte
optar por fazê-lo ou não, conforme tenha ou não interesse em obter uma decisão definitiva a respeito da
falsidade do documento.

Apresentada qualquer impugnação ao documento, dentre as arroladas no art. 436, a parte que o juntou aos
autos deve ser ouvida, no mesmo prazo de 15 dias, segundo disposto no art. 432, cuja aplicação deve ser
estendida a todas as hipóteses de manifestação, e não apenas à arguição de falsidade. Claro, feita a
impugnação pelo réu, em contestação, essa manifestação será deduzida no corpo da réplica. Se em
réplica, o juiz deverá dar vista ao réu para uma tréplica, nos mesmos 15 dias. Se no curso do processo, a
manifestação sobre a impugnação será feita por petição autônoma.

O art. 434, § ún., estabelece que documentos cinematográficos ou fonográficos, além de juntados aos
autos, serão executados em audiência. É esta uma importante inovação. Com a ampla disseminação de
aparelhos capazes de criar tais tipos de registros, sua utilização como prova tem sido crescente e,
certamente, será ainda mais comum no futuro. Por outro lado, exibir o áudio ou vídeo em audiência, na
presença do juiz, das partes e seus advogados, permitirá um melhor contraditório e, consequentemente,
uma melhor apreciação da prova, como decorrência do exercício da oralidade e da imediação. A regra
deve ser compreendida como a afirmação de um direito das partes de solicitar sua reprodução em
audiência e não, propriamente, uma determinação necessária à produção desse tipo específico de prova
documental. A utilidade dessa reprodução no caso concreto certamente dependerá dos limites do litígio
ou do contraditório que se estabeleceu sobre esses mesmos documentos. Assim, cabe às partes
interessadas solicitar a exibição e, eventualmente, fornecer os meios necessários para tanto, o que, a
princípio, deve ser deferido pelo magistrado, que não poderá recusar tal apresentação apenas sob o
argumento de falta de previsão legal, dificuldade ou demora da colheita da prova. Como qualquer outra
prova, cabe ao juiz deferir ou indeferir sua produção, levando em conta apenas os mesmos requisitos
gerais de admissibilidade da prova ou sua adequação ao fato concreto.

3.3. Documentos eletrônicos

O CPC/2015 incluiu, entre as disposições sobre prova documental, uma nova seção, formada pelos
artigos 439 a 441, dispondo sobre os documentos eletrônicos. O CPC/1973 não fazia referência ao tema,
que é apenas marginalmente tratado na Medida Provisória nº 2.200/2001, na Lei nº 11.419/2006 e na Lei
nº 12.682/2012.

O documento digital, ou documento eletrônico, como é mais conhecido apesar da imprecisão conceitual
desse segundo adjetivo, é uma representação numérica da informação, independente e autônoma do meio
físico em que esteja momentaneamente gravado, que é definido como uma sequência de bits que,
traduzida por um programa de computador, seja representativa de um fato. O bit é a menor unidade de
informação, podendo ser compreendido como um interruptor ligado ou desligado, sim ou não, ou, como
representação numérica, por 0 (zero) ou 1 (um). O documento eletrônico não transmite a informação
diretamente aos sentidos humanos, como ocorre com um documento escrito em papel ou outros
documentos físicos; é necessário que a sequência de bits seja traduzida, por meio de um software, para
alguma forma de comunicação reconhecível pelos sentidos.

As disposições contidas nos três artigos com que o CPC/2015 se propôs a regular o tema são bastante
modestas. Em verdade, a admissibilidade do documento eletrônico como prova já não deixava dúvidas,
seja porque não há como negar-lhe a natureza de documento, e assim, reconhecê-lo como espécie dessa
prova já tipificada na lei, seja porque, se assim não fosse, seria ele uma prova atípica, igualmente aceita
em um sistema processual que há muito abandonou a limitação das provas aos meios descritos na lei (art.
369, do CPC/2015, ou art. 332, do CPC/1973).

O art. 439 afirma que “a utilização de documentos eletrônicos no processo convencional dependerá de
sua conversão à forma impressa e da verificação de sua autenticidade, na forma da lei”. O artigo não
é aplicável aos documentos que não são conversíveis à forma impressa, eis que documentos eletrônicos
não se resumem apenas em textos ou imagens estáticas. Os arquivos de áudio ou vídeo podem ter suas
falas transcritas. Quanto aos arquivos digitais passíveis de impressão – textos, desenhos ou fotografias –
esta é apenas uma cópia do documento original de modo que qualquer conferência da autoria ou da
integridade de um documento assinado digitalmente, se for o caso, só poderá ser feita mediante acesso
aos originais eletrônicos.

O artigo é omisso sobre como, quando ou por quem essa conferência será feita, antes da apresentação dos
impressos, remetendo o problema para “a forma da lei”, embora nenhuma outra lei atual trate
especificamente dessas questões próprias à produção de prova eletrônica em juízo. Por outro lado,
documentos eletrônicos em sentido amplo, incluindo-se os não assinados digitalmente, são também
admissíveis como meio de prova, não havendo como realizar a conferência de sua autenticidade mediante
exame do próprio original. Aparentemente, o texto diz apenas o óbvio: não se pode juntar bits em autos
físicos, daí a necessidade – apenas prática – de passar a informação do arquivo eletrônico para uma
folha de papel, quando isso for praticamente possível. Quando não o for, que seja o arquivo eletrônico
apresentado em alguma mídia de gravação (CDs ou DVDs, por exemplo) a ser entregue em cartório.
Qualquer outro entendimento desse texto, como o de considerar a regra uma restrição à apresentação de
provas eletrônicas, ou de supor se tratar de requisito de admissibilidade para tais provas, seria um
inaceitável cerceamento do direito à prova, que decorre diretamente da garantia da ação e do princípio
do contraditório. Além disso, não bastassem as regras gerais sobre a ampla admissibilidade dos meios
de prova, o artigo seguinte refere-se à prova por documento eletrônico não convertido, deixando claro
que não é intenção do artigo 439 estabelecer qualquer requisito de admissibilidade para a apresentação
de documentos eletrônicos.

O art. 440, do CPC/2015, diz apenas que “o juiz apreciará o valor probante do documento eletrônico
não convertido, assegurado às partes o acesso ao seu teor”. Por certo, as partes devem ter ciência de
todos os atos e todas as provas produzidas no processo, no que este texto, portanto, chove no molhado.
Tão pouco o início do texto é significativo, pois cabe ao juiz apreciar o valor probante desta e de todas
as demais provas, sempre motivando racionalmente as razões de seu convencimento.

Por último, esta seção é encerrada com o art. 441, que tem o seguinte teor: “serão admitidos documentos
eletrônicos produzidos e conservados com a observância da legislação específica”. Trata-se de norma
desnecessária, que, ademais, está em conflito com o sistema probatório, que admite amplamente todos os
meios de prova idôneos a demonstrar a verdade dos fatos (art. 369, do CPC/2015). Não se pode
confundir a admissibilidade da prova com seu valor probante. Admissíveis são todos os meios capazes
de demonstrar algum fato (art. 369, do CPC/2015); outra coisa é o valor probante que cada prova terá, o
que só pode ser estimado no caso concreto, diante do contraditório que se estabeleceu sobre o conjunto
dos autos e por aquilo que a prova puder racionalmente esclarecer ao julgador.

Além disso, o artigo 441 do CPC/2015 é também um tanto quanto extravagante por fazer referência a
legislação inexistente. Não há nenhuma lei específica que regule como documentos eletrônicos devam ser
produzidos ou conservados, para que tenham valor probante ou sejam admissíveis em juízo. Ademais,
esse dispositivo aparentemente confunde a produção de prova, que em seu sentido técnico-processual
significa a apresentação ou a colheita da prova no processo, com a criação do documento. A referência à
conservação do documento, por sua vez, soa estranha, porque tal atividade não guarda relação visível
com a admissibilidade ou não do documento como prova, nem nada diz acerca do seu valor probante.

Não foi muito feliz, portanto, o legislador, na redação desses três artigos sobre “documentos
eletrônicos”, que pouco ou nada acrescentam ao sistema jurídico do país. Como sumo desses
dispositivos, resta apenas certo que o documento eletrônico foi expressamente reconhecido pela lei como
espécie de prova documental, eliminando-se eventuais dúvidas que ainda restassem a esse respeito.
Contudo, a apreciação quanto à sua autenticidade, ou quanto à fé que possam merecer, não é, de todo
modo, questão que possa ser a priori e de modo geral regulada em lei.30

3.4. Prova testemunhal

O Código anterior restringia a admissibilidade da prova exclusivamente testemunhal como meio de


demonstração da existência de contratos, pagamento ou remissão de dívidas, cujo valor fosse maior do
que o equivalente a dez salários mínimos (arts. 401 e 403, do CPC/1973), admitindo-a, entretanto, se
houvesse começo de prova por escrito, ou nas situações em que o credor não podia obter prova escrita
da obrigação (art. 402, I e II, do CPC/1973). Tais restrições foram abolidas. Nos termos do art. 444, do
CPC/2015, somente quando “a lei exigir prova escrita da obrigação” é que não se admite a prova
exclusivamente testemunhal, podendo a parte valer-se dela, no entanto, “quando houver começo de
prova por escrito, emanado da parte contra a qual se pretende produzir a prova”. Nota-se, pois, que o
novo Código foi mais amplo nas hipóteses de admissão da prova exclusivamente testemunhal, não mais a
limitando ao valor da obrigação, mas foi mais restritivo ao definir o que se entende por “começo de
prova por escrito”: o escrito deve provir da parte adversa contra quem a prova é produzida, o que soa
de acordo com uma valoração racional da prova. É também mantida a ressalva antes prevista no art. 402,
II, do CPC/1973, acrescida de mais uma hipótese: quando o credor não podia obter a prova escrita “em
razão das práticas comerciais do local onde contraída a obrigação”.

No tocante às pessoas que não podem prestar testemunho, consideradas incapazes, impedidas ou
suspeitas, incluiu-se o companheiro no rol dos sujeitos impedidos (art. 447, § 2º, II, do CPC/2015) e
eliminou-se duas situações bastante criticáveis, previstas no rol dos suspeitos da lei anterior. Assim, não
é mais considerado suspeito “o condenado por crime de falso testemunho” (art. 405, § 3º, I, do
CPC/1973). Era absurdo pressupor, sem qualquer prazo limitador, que aquele que mentiu uma vez no
passado devesse ser suspeito para sempre. Também retirou-se do texto a imprecisa e aparentemente
preconceituosa restrição àquele que “por seus costumes, não for digno de fé” (art. 405, § 3º, II, do
CPC/1973). De todo modo, essas regras não pareciam ter aplicação muito usual na prática forense.

Ligeira modificação se observa na regra que desobriga a testemunha a depor. Entre as pessoas
suscetíveis de sofrer grave dano em decorrência do depoimento, incluiu-se o companheiro e estendeu-se
a regra para abranger os colaterais até o terceiro grau (art. 448, I, do CPC/2015), e não mais até o
segundo grau, como previsto no CPC/1973.

No tocante ao rol de testemunhas, o prazo para sua apresentação será sempre contado da intimação da
decisão de saneamento e organização do processo. Deferida, nessa decisão, a produção de prova
testemunhal, as partes terão prazo comum, fixado pelo juiz em não mais do que 15 dias, para
apresentação do rol (art. 357, § 4º, do CPC/2015). Se, porém, for designada audiência para prolação da
decisão, o rol de testemunhas deverá ser levado para a audiência (art. 357, § 5º, do CPC/2015). É de se
destacar, portanto, que esses são os dois únicos momentos previstos na nova lei para a apresentação do
rol de testemunhas. Já não vigora, portanto, a regra que determina a sua apresentação em até 10 dias da
audiência, diante da omissão do juiz em fixar expressamente tal prazo (art. 407, do CPC/1973). Caso o
juiz se omita na fixação do prazo, ao proferir a decisão de organização do processo, é de se supor que
será de 15 dias da intimação da decisão de saneamento e organização, pois este, de qualquer modo, seria
o prazo máximo fixado no § 4º do art. 357. Tal situação em que o juiz se omita, porém, poderá suscitar
controvérsias quanto ao prazo aplicável. Seria o prazo de apenas 5 dias, como previsto no art. 218, § 3º,
do CPC/2015 (mera repetição do art. 185, do CPC/1973)? Creio que não, pois há preceito legal, fixando
um prazo máximo. Não se entende porque o legislador já não fixou desde logo um prazo certo no art. 357,
§ 4º, do CPC/2015, fosse ele de 5, 10 ou 15 dias, para evitar possíveis desentendimentos e armadilhas.
Não se vê nenhum motivo útil para a condução do processo que justifique deixar o prazo ao sabor do
entendimento do juiz, de cada juiz do país, em cada processo. Falando aos advogados, e como advogado,
embora sustente que, na eventual omissão do magistrado, o prazo deva ser contado pela extensão máxima
dada no citado § 4º, pode ser mais cauteloso praticar o ato dentro dos 5 dias do art. 218, § 3º.
No tocante à apresentação do rol em audiência, não se vê utilidade na nova regra, ou qualquer razão
lógica a exigir sua antecipação para esse momento. Além disso, o legislador aparentemente não se
lembrou da informatização processual. Se, nos autos digitais, as petições já não são mais apresentadas
em papel, o que será feito do rol levado em petição cartácea para a audiência? Melhor teria sido dispor
disso em regra única, a do § 4º. Talvez seja o caso de o juiz, nos processos com autos digitais, dispensar
expressamente as partes de levar o rol em audiência, quando esta for designada, estabelecendo que
deverá ser apresentado na forma do § 4º. Para partes e advogados, só resta levar à audiência as petições
em papel contendo o rol de testemunhas, à falta de outras determinações, mesmo em se tratando de autos
digitais. Que o juiz resolva o que fazer com elas ou como inseri-las nos autos, caso tenha equipamentos
de digitalização disponíveis na sala de audiência. Eventualmente, é possível que o rol levado pelas
partes seja simplesmente transcrito na ata de audiência, na impossibilidade ou dificuldade de juntar a
petição em papel nos autos digitais. Convém ao advogado, se por qualquer motivo seu rol não puder ser
juntado aos autos, solicitar que conste em ata que a petição foi levada à audiência e o que decidiu o juiz a
esse respeito.

O art. 450 do CPC/2015 estabelece os dados da testemunha que devem constar do rol, “sempre que
possível”. Evidentemente, nem sempre a parte conhece a testemunha o bastante, ou com ela mantém um
canal de comunicação direto, para que saiba sua identificação completa e possa fornecê-la ao processo.
Cabe-lhe, pois, indicar o que souber e que seja suficiente para identificá-la. Além do nome, profissão,
residência e local de trabalho, mencionados no art. 407, do CPC/1973, o novo Código quer que sejam
também informados o estado civil, idade, número do CPF e do documento de identidade das testemunhas
arroladas, “sempre que possível”.

Com relação ao número de testemunhas que podem ser arroladas o CPC/2015 manteve o mesmo
limitador anterior, mas acrescentou um segundo dispositivo sobre esse tema, a flexibilizá-lo. Os limites
de 10 testemunhas no total e de três para cada fato, previstos no art. 407, § ún., do CPC/1973, foram
trasladados para o art. 357, § 6º, do CPC/2015. Sempre opinei no sentido de que esse limite não poderia
ser tomado com ares absolutos, pois isso seria uma afronta ao contraditório e ao direito à prova. Na
prática, já não é frequente que as partes, no mais das vezes, sequer tenham mais do que cinco ou seis
testemunhas para arrolar, que saibam dos fatos da causa. Vindo a juízo uma causa excepcionalmente
complexa, em que muitos sejam os fatos relevantes e controvertidos – talvez, até, porque muitos são os
pedidos cumulados e várias as defesas apresentadas – havendo testemunhas diferentes que presenciaram
cada um dos fatos a serem objeto de prova, seria inaceitável limitar a apenas dez o número de
testemunhas que cada parte possa arrolar. O limite de três para cada fato, então, só pode ser entendido
como uma recomendação à parte, isto quando esta saiba previamente o que cada testemunha sabe e sobre
o que será capaz de depor. Ao juiz, é impossível indeferir de antemão a oitiva de uma quarta testemunha
arrolada, a menos que seja dotado do dom da vidência, de modo a saber, antes do depoimento, aquilo
sobre o qual a testemunha arrolada ainda vai falar.

Neste sentido, o CPC/2015 inseriu uma segunda regra a respeito do número de testemunhas, no § 7º, do
mesmo art. 357, que assim dispõe: “o juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a
complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados”. Já havendo regra sobre o número de
testemunhas no parágrafo anterior, parece claro que este § 7º dá ao juiz o poder de tanto diminuir como
aumentar o número de testemunhas, conforme a causa tenha uma menor ou maior complexidade,
autorizando que mais do que dez testemunhas sejam arroladas pelas partes. A experiência demonstra que
casos tais haverão de ser escassos no cotidiano forense, o que não retira a importância da regra, evitando
que o limite rígido previsto na lei anterior atente contra o contraditório e o correlato direito à prova.
No art. 453, § 1º, está prevista a possibilidade de ouvir-se testemunhas por videoconferência ou outro
recurso tecnológico equivalente, quando “residir em comarca, seção ou subseção judiciária diversa
daquela onde tramita o processo”. É, pois, uma interessante inovação com oportuno emprego das novas
tecnologias da informação e comunicação, em substituição das vetustas cartas precatórias. Estabelece,
ainda, o novo dispositivo legal, que essa oitiva por canais eletrônicos de comunicação poderá ser
realizada durante a própria audiência de instrução e julgamento. Não será fácil a implementação dessa
novidade, mesmo porque é necessário estabelecer em que condições, e com que meios, a testemunha
transmitirá seu depoimento, a partir da localidade em que se encontra. É necessário assegurar que ela não
terá auxílio de terceiros para proferir suas respostas, nem estará consultando qualquer tipo de material
não autorizado, do mesmo modo como são tomados os depoimentos presenciais. Isso, aparentemente, só
se mostra possível se a testemunha comparecer à sede do Judiciário local para que ali, sob alguma
supervisão, seja conectada com o juízo da causa. O § 2º do mesmo artigo determina que os juízos
deverão estar equipados com tais equipamentos de transmissão e recepção de sons e imagens. Não é
norma processual, mas mera determinação às esferas administrativas do Poder Judiciário para que
instalem tais equipamentos. Se, porém, os eles não existirem, não há outras consequências processuais
que não o desatendimento da regra do § 1º, tomando-se o depoimento por carta, do modo tradicional.

Embora, como alardeado, este seja o primeiro Código de Processo Civil brasileiro elaborado em
período democrático, o novo diploma processual não conseguiu se livrar das regalias concedidas aos
privilegiados de sempre. Em verdade, ampliou o rol dos que são tratados de forma “mais igual” do que a
plebe, de modo que mais autoridades foram incluídas na relação daqueles que “são inquiridos em sua
residência ou onde exercem sua função”, segundo os muitos incisos do art. 454. Destaco, pois, as
seguintes ilustres presenças, agora agregadas ao rol das pessoas mais importantes: os conselheiros do
Conselho Nacional de Justiça, os conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público, o advogado-
geral da União, o procurador-geral do Estado, o procurador-geral do Município, o defensor público-
geral federal e o defensor público-geral do Estado, o prefeito, os deputados distritais, o procurador-geral
de justiça. Aumentar esse rol, ao invés de reduzi-lo ou simplesmente extingui-lo, é o retrato atual de
nossa república!

Tal qual dispõe o CPC/1973, a autoridade arrolada como testemunha tem a prerrogativa de definir dia,
hora e local para a tomada de seu próprio depoimento. Prefeitos de pequenas cidades agora poderão se
sentir importantes como nunca! O CPC/2015 ao menos introduz um limite a tais vantagens, inexistente na
lei anterior: passado um mês sem manifestação da autoridade, o poder de designação retornará ao juiz da
causa, realizando a oitiva “preferencialmente na sede do juízo”, como estabelecido no art. 454, § 2º. O
mesmo poder é restituído ao magistrado caso a autoridade não compareça à sessão por ela mesma
agendada, conforme § 3º do mesmo artigo. Faltou, porém, regra que obrigasse a autoridade a designar a
data com alguma brevidade.

Segundo dispõe o art. 455 e seu § 1º, as testemunhas arroladas deverão ser informadas ou intimadas da
audiência pelo advogado da parte que as arrolou, mediante envio de carta com aviso de recebimento. A
cópia da correspondência e o comprovante de recebimento deverão ser juntados aos autos com
antecedência de 3 dias (como sempre, dias úteis) da data da audiência, de acordo com o mesmo § 1º. E,
pelo disposto no § 3º do mesmo artigo, “a inércia na realização da intimação a que se refere o § 1º
importa desistência da inquirição da testemunha”. Considerando que foi mantida a regra que permite
arrolar testemunhas independentemente de intimação (art. 455, § 2º), parece claro que as consequências
do § 3º só se aplicam se a testemunha não comparecer; se, intimada na forma do § 1º ou informada por
qualquer outro modo, a testemunha estiver presente à audiência, não importa que os documentos previstos
no § 2º não tenham sido previamente juntados aos autos, pois a finalidade do ato foi atingida.

O § 4º do art. 455 arrola as situações em que a intimação da testemunha será feita pela via judicial. São
elas: “I – for frustrada a intimação prevista no § 1º deste artigo; II – sua necessidade for devidamente
demonstrada pela parte ao juiz; III – figurar no rol de testemunhas servidor público ou militar,
hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao comando do corpo em que servir; IV
– a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública; V – a
testemunha for uma daquelas previstas no art. 454”. Os incisos III a V, ao que parece, são
autoexplicativos. Os dois primeiros incisos merecem algumas considerações de ordem prática,
especialmente porque são os que mais diretamente se relacionam com os problemas que a intimação
expedida pelo advogado poderá causar.

Nota-se que o CPC/2015 cuidou de fixar um prazo para a comprovação do recebimento da intimação
pela testemunha (art. 455, § 1º), mas cometeu o grave esquecimento de não estabelecer prazo algum para
a expedição da intimação. Nem, tão pouco, um prazo para juntar desde logo a informação de negativa de
intimação. O único prazo previsto na nova lei a respeito dessa intimação enviada pela própria parte é o
prazo de meros 3 dias antes da audiência, do art. 455, § 1º. Teria sido conveniente que a lei houvesse
definido mais esses dois prazos: a) o prazo para a expedição da intimação e sua comprovação nos autos,
contado da apresentação do rol ou da intimação do ato judicial que designou a audiência, o que for
posterior; b) o prazo para a juntada do comprovante de recebimento, positivo ou negativo (especialmente
se negativo), contado de seu retorno do serviço postal. Isso evitaria que, designada uma audiência com
alguns meses de antecedência, a parte malemolente deixasse para convocar suas testemunha apenas às
vésperas do dia marcado; ou que, já ciente da negativa de intimação, só o informasse no processo no
terceiro dia que antecede a audiência. A omissão legislativa neste caso pode, por certo, ser suprida pelo
juiz, cabendo-lhe fixar prazo razoável para a prática e comprovação nos autos desses dois atos, a fim de
melhor organizar o desenvolvimento dessa fase processual.

Em caso de não comparecimento da testemunha intimada, ou cuja intimação foi requerida mas até então
foi frustrada, a parte que a arrolou terá direito de insistir em seu depoimento. Se a parte dispensou sua
intimação, o não comparecimento implica desistência da testemunha. Não há diferença, aqui, entre o
velho e novo texto. Como novidade, nesse ponto, considera-se igualmente como desistência de ouvi-la o
não atendimento às prescrições do § 3º, do art. 455, já comentado acima.

Na audiência, assim como previsto no CPC/1973, são ouvidas em primeiro lugar as testemunhas do autor
e, depois, as do réu (art. 456, do CPC/2015). O § ún. do art. 456, insere a possibilidade de alteração
desta ordem, “se as partes concordarem”. Essa é uma das regras do novo Código que estabelecem a
possibilidade de uma cooperação entre as partes, no tocante à condução do processo. A experiência
prática no dia a dia forense, contudo, torna lícito indagar por quais motivos no mundo o réu iria
concordar com essa inversão e abrir mão de uma vantagem que, por direito, a lei lhe concede. E, como
está claro no texto, sem a concordância de todas as partes (o que inclui todos os eventuais litisconsortes),
tal alteração na ordem dos depoimentos não é autorizada.

A inovação mais relevante relativa à prova testemunhal é a superação do modo arcaico, lento e
improdutivo como a tomada dos depoimentos era desenvolvida até então, segundo a lei anterior. O art.
459 estabelece que “as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha”. Desse
modo, além do evidente ganho de tempo, o desenrolar dos depoimentos deverá parecer algo mais
espontâneo, e não aquela atividade exageradamente formal que as leis anteriores, de longa data,
determinavam. Considerando, especialmente, o emprego das novas tecnologias para gravação da
audiência em áudio e vídeo, esse modo de tomada de depoimentos ainda os tornará muitíssimo mais
expeditos. Depoimentos que, para a resposta de um punhado de perguntas, levavam cerca de meia hora
cada um, podem perfeitamente ser resolvidos em tempo muitas vezes menor.

Evidentemente, resta ainda ao magistrado o poder de indeferir perguntas, mas o CPC/2015 delimitou esse
poder com contornos bem mais objetivos. O art. 416, § 1º, do CPC/1973, vedava a formulação de
perguntas “impertinentes, capciosas ou vexatórias”, o que, por vezes, dava margem a interpretações
muito restritivas por parte do magistrado, motivando tumulto na audiência, recursos, incidentes e,
principalmente, prejuízos irreparáveis à qualidade do depoimento da testemunha, que, leiga, não
acostumada com aquele ritual e assustada com a elevação da temperatura das discussões travadas entre
juiz e advogados a respeito de sua presença ali, a partir desse momento já não se lembra nem mais do
endereço de sua residência...

A proibição, em primeiro lugar, de perguntas vexatórias era absurda. Se os fatos da causa envolvem
situações vexatórias, a parte tem o direito de prová-los por todos os meios possíveis e admissíveis e,
portanto, de perguntá-los à testemunha, que, por sua vez, pode se escusar de depor apenas sobre os fatos
descritos no art. 448 do CPC/2015 (também previstos no art. 406, do CPC/1973).

Quanto aos fatos impertinentes, essa era uma restrição que precisava ser aferida com muita cautela pelo
juiz diante de um depoimento testemunhal. As partes tanto têm direito de provar de modo direto os fatos
relevantes e controvertidos da causa, como também de prová-los de modo indireto, pela demonstração
de outros fatos que permitam concluir pela existência ou inexistência do fato principal, como, ainda,
devem ter o direito de tentar desqualificar a capacidade da testemunha de prestar tais informações,
eventualmente desmascarando o falso testemunho. Portanto, sempre me pareceu muitíssimo difícil, senão
impossível, que o juiz pudesse indeferir corretamente perguntas supostamente impertinentes, se ele não
sabe – e não tem como saber – de antemão quais serão as respostas que ainda serão dadas pelo depoente.
De todos os sujeitos do processo, o juiz é o único ali na sala de audiência que não conhece nenhum dos
fatos da causa; a prova se presta, precisamente, a informá-lo a respeito deles. É um tanto irracional
permitir que o juiz, que ainda não conhece os fatos da causa, possa considerar impertinente uma pergunta,
sem saber onde se poderá chegar com a resposta a essa mesma pergunta ou às perguntas subsequentes que
podem ser formuladas a partir da resposta ainda não dita.

Por sua vez, a pergunta maliciosa, capciosa, era algo indefinido e sujeito a todo tipo de interpretação
subjetiva. É malicioso tentar desmascarar a testemunha que mente, com perguntas que a façam cair em
contradição? Por certo não.

Assim, andou bem o CPC/2015 ao fixar de modo mais objetivo as perguntas que poderão ser indeferidas
pelo magistrado. Diz o mesmo art. 459 que o juiz poderá indeferir as perguntas que “puderem induzir a
resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou importarem
repetição de outra já respondida”.

No primeiro caso, cabe ao juiz controlar o modo como a parte faz a pergunta, evitando que as palavras
usadas na sua formulação já indiquem a resposta desejada. Essa, sim, é a pergunta maliciosa que deve ser
repelida.

No segundo caso, o novo texto restringe e delimita a pergunta impertinente a ser rechaçada: é a que não
tiver relação com os fatos da causa. Ter relação com os fatos da causa é expressão de largo sentido.
Refere-se, na esteira da crítica feita acima, à relação com fatos diretos e indiretos, bem como com a
idoneidade do próprio testemunho (tais como perguntas que tentem demonstrar que a testemunha não
poderia ter ciência direta dos fatos sobre os quais presta o depoimento). Convém, portanto, ao juiz cioso
pela busca da verdade, que tenha extrema cautela ao indeferir perguntas por esse fundamento, a fim de
não prejudicar a qualidade da colheita da prova. Ademais, o poder de indeferir perguntas supostamente
impertinentes só se presta a atender os princípios da celeridade e da economia processual. Não causa
qualquer outro prejuízo, seja à prova, seja ao contraditório, ou a qualquer direito da parte adversa,
deixar que seja proferida resposta a tais perguntas, que se perderão nos autos em razão de sua própria
inutilidade. Considerando que o tempo de resposta não vai além de alguns poucos segundos,
especialmente se utilizados equipamentos eletrônicos de registro no lugar da velha datilografia ou da
digitação, é de se perguntar o que é mais vantajoso praticamente: deixar a audiência fluir com mais
naturalidade, ou gerar paralisações e possíveis futuros incidentes em razão do indeferimento de uma ou
de várias perguntas consideradas impertinentes. Muitas vezes, esse tumulto em audiência é precisamente
o que a parte sem razão está procurando, para ter algo minimamente plausível para escrever em seu
futuro recurso. Que se deixe, pois, perguntar com mais flexibilidade! Mal não fará.

O terceiro motivo previsto no art. 459 também merece ser visto com cautela. A parte não pode formular
novamente a mesma exata pergunta já respondida, até mesmo para que isso não seja usado como um meio
ardiloso para conduzir o testemunho de um depoente, digamos, influenciável. Porém, formular pergunta
similar, melhor esclarecida, melhor esmiuçada, incluindo detalhes mais finos sobre os fatos perguntados,
não pode ser considerada uma mera repetição da pergunta já respondida, especialmente quando quem faz
a nova pergunta é a parte adversa, com o objetivo de apontar contradições ou imprecisões no depoimento
prestado e sobre as respostas já dadas.

No § 1º do art. 459 do CPC/2015, diz-se que “o juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes quanto
depois da inquirição feita pelas partes”. A regra se apresenta melhor do que a que substituiu, antes
fixada no art. 416 do CPC/1973. De algum modo, era o que já acontecia na prática. Não tem o juiz
qualquer dever funcional em formular perguntas às testemunhas. Faz perguntas se as tiver, podendo passar
a palavra diretamente às partes, para que formulem suas perguntas às testemunhas. Mas, em qualquer
caso, poderá fazer perguntas após os depoimentos. O juiz, em nosso sistema processual, é dotado de
amplos poderes instrutórios, cabendo-lhe buscar a verdade, eis que, afinal, é ele que deverá decidir na
sentença qual é a verdade dos fatos e, para tanto, é preciso que esteja bem instruído. O casamento de um
juiz com amplos poderes instrutórios com um processo contraditório há de levar ao entendimento de que
cabe ao magistrado valer-se desses seus poderes sempre com o intuito de aumentar o conjunto
probatório, trazendo mais luzes sobre os fatos controvertidos, o que certamente atende aos fins do
processo, e não para cercear ou restringir o direito da parte à produção da prova.

O uso de gravações como forma de documentação dos depoimentos já era autorizado, ao menos, desde o
advento da Lei nº 11.419/2006. O CPC/2015 foi apenas mais explícito ao dizê-lo, no art. 460, afirmando,
também, que a transcrição para a forma escrita só será providenciada, em caso de recurso, “quando for
impossível o envio de sua documentação eletrônica” (art. 460, § 2º). A tendência, evidentemente, é que
a médio prazo as gravações sejam utilizadas com exclusividade, sem necessidade de transcrição, de
modo que os depoimentos possam ser revistos pelos julgadores no seu flagrante. Não se diga que essa
promissora novidade possa dificultar o julgamento em segundo grau! A rigor, o recurso deve apontar os
equívocos da sentença e, se é arguido no apelo algum divórcio entre o que foi falado nos depoimentos e o
que se encontra decidido pelo magistrado, cabe à parte apontar – transcrevendo as palavras da gravação
– os trechos do depoimento sobre os quais apoia seu inconformismo, indicando os minutos e segundos em
que a fala aparece no vídeo. O mesmo pode fazer o recorrido.

Causa calafrios a alguns a suposta necessidade de que os juízes dos tribunais de segundo grau tenham que
assistir por completo as gravações de audiências e depoimentos, para poder julgar a matéria de fato
abrangida nos recursos. Não me parece assim. O recurso será julgado segundo o que for impugnado,
cabendo ao recorrente, caso sustente o apelo sobre a prova oral, transcrever o que foi dito no trecho
considerado relevante, indicando o tempo em que a fala aparece na gravação. O recorrido, por sua, vez,
pode confrontar o que foi afirmado no recurso, eventualmente indicando e transcrevendo outros trechos
da prova oral. Bem formados os recursos, o que é ônus das partes, o tribunal poderá julgá-los com base
no teor das razões e contrarrazões e do que foi nelas transcrito; só será necessário assistir diretamente às
gravações quando sobre elas pairar controvérsia nas razões e contrarrazões do recurso, ou quando se
invocar que o comportamento do depoente ou a forma como respondeu às perguntas possa contribuir para
valorizar ou desqualificar seu relato (p.ex., se foi titubeante ao responder, ou se pareceu induzida pela
pergunta, entre outras situações relevantes que ficarão registradas na gravação). Julgar a matéria de fato
nos recursos, especialmente quando provada por depoimentos orais, sempre foi um arriscado ato de fé
por parte dos tribunais, menos por conta da capacidade de decisão dos magistrados superiores do que
pela restritiva limitação que lhes tem sido imposta pelos meios de documentação dessa modalidade de
prova. As gravações e a possibilidade de revê-las no tribunal, quando necessário, certamente
aprimorarão a qualidade dos julgamentos dos recursos acerca da matéria de fato.

O CPC/2015 trouxe algumas poucas regras adicionais sobre o procedimento de acareação. A prática da
acareação não é muito frequente nos processos civis, sendo esperado que a lembrança do legislador dê
um sopro de estímulo à sua realização, quando se mostrar oportuna. Assim, diz o § 1º, do art. 461, do
CPC/2015, que “os acareados serão reperguntados para que expliquem os pontos de divergência,
reduzindo-se a termo o ato de acareação”. O § 2º deste artigo, por sua vez, autoriza a realização da
acareação por meio de videoconferência ou recurso tecnológico similar.

3.5. Prova pericial

Com relação à prova pericial, as modificações trazidas pelo CPC/2015 têm o notável propósito de dar
maior transparência e, consequentemente, valorizar esse meio de prova.

As diferenças são encontradas já nas formas de escolha do experto que atuará na causa. O art. 156, § 1º,
estabelece que os peritos serão escolhidos entre profissionais e órgãos técnicos “devidamente inscritos
em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado”. A criação desse cadastro é a grande
novidade do CPC/2015 quanto à prova pericial, pois despersonaliza a escolha e desvincula o perito de
eventuais relações de confiança que mantenha com o juiz. O perito sempre foi considerado como um
profissional técnico de confiança do juiz,31 o que, do ponto de vista de um processo contraditório, é em si
um grande equívoco, pois deixa o risco de transformar o trabalho técnico em prova inatacável. Não pode
o magistrado, a priori, confiar na pessoa do perito. A valoração da prova não pode ter outra fonte de
racionalidade, que não a qualidade do laudo em si considerado ou, eventualmente, as boas qualificações
objetivas do experto.

Portanto, a escolha do louvado a partir de um cadastro geral foi, em si, uma inovação importante e
bastante republicana, até mesmo para permitir que bons profissionais possam se inscrever e atuar como
peritos, apenas comprovando suas adequadas qualificações perante os organizadores de um cadastro
unificado, sem a necessidade de indicações pessoais ou de travar relações cordiais com os membros do
aparato judiciário.

Além disso, a manutenção do profissional no referido cadastro depende de avaliações e reavaliações


periódicas, tal como foi previsto no art. 156, § 3º, bem como no histórico dos serviços prestados em
perícias anteriores (v. arts. 158 e 468, § 1º). O perito que prestar informações inverídicas, além de
responder pelos prejuízos causados, poderá ficar inabilitado para outras perícias por um período maior
do que previsto no Código anterior, variando de 2 a 5 anos, além de sujeitar-se à representação que o juiz
deverá fazer, de ofício, ao seu órgão de classe, segundo dispõe o art. 158, do CPC/2015.

Quanto à forma de produção, nomeado o perito, o prazo para oferecimento de quesitos e indicação de
assistente técnico passa a ser de 15 dias (como sempre, dias úteis), cabendo à parte, no mesmo prazo,
arguir o seu impedimento ou suspeição, de acordo com o art. 465, § 1º, do CPC/2015.

A submissão, a esse mesmo prazo, da arguição de parcialidade do perito deve ser interpretada em
conjunto com outras disposições. É certo que os fatos que caracterizam o impedimento ou a suspeição
podem chegar ao conhecimento das partes somente em algum momento posterior. Portanto, assim como o
CPC/2015 tornou claro que o prazo para arguir tais vícios em relação ao juiz é contado “do
conhecimento do fato” (art. 146), a gravidade da situação de parcialidade do perito ou de quaisquer
outros “sujeitos imparciais do processo” (v. art. 148, III, do CPC/2015) afasta qualquer possibilidade
de se considerar preclusa a questão, se não arguida no prazo previsto no art. 465, § 1º.

Ao perito, por sua vez, o CPC/2015 impõe a apresentação, em 5 dias da ciência da nomeação, de: “I –
proposta de honorários; II – currículo, com comprovação de especialização; III – contatos
profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais”,
segundo dispõe o § 2º do art. 465. Intimadas as partes para manifestação em 5 dias, o juiz arbitrará o
valor dos honorários, como reza o § 3º do mesmo artigo.

Cabe ao juiz determinar o pronto pagamento ao perito de até metade do valor fixado. O pagamento do
valor remanescente, porém, só será autorizado “depois de entregue o laudo e prestados todos os
esclarecimentos necessários” (art. 465, § 4º). E, ainda, o novo Código autoriza a redução da
remuneração inicialmente arbitrada se a perícia “for inconclusiva ou deficiente” (art. 465, § 5º). Neste
caso, é de se compreender que o perito só pode ser punido se a perícia for inconclusiva, porque
deficiente. Evidentemente, há casos em que os fatos já não podem ser apurados, não obstante os melhores
esforços do louvado, o que por certo deverá ser bem demonstrado por ele em seu laudo. Se os vestígios e
demais elementos de prova com que o perito puder contar – sem que haja negligência ou imperícia de sua
parte – não permitirem chegar a qualquer conclusão, isso por certo não desmerece o seu trabalho. De
certo modo, afirmar o perito que o material colhido ou analisado é inconclusivo, não deixa de ser,
também, um elemento de convicção que o juiz deverá enfrentar na sentença. No mais, a nova regra legal é
bastante oportuna, para estimular o perito a prestar bons serviços, ciente que está das punições, também
pecuniárias, a que estará sujeito.

No tocante à atuação dos assistentes, o CPC/2015 também trouxe mais transparência a esse importante
meio de prova. Diz o art. 466, § 2º, que “o perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e
o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada
nos autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias”. Criou-se, pois, um procedimento simplificado
de desenvolvimento dos trabalhos periciais, a ser seguido pelo perito.

Em caso de substituição do perito, pelos mesmos motivos já elencados na lei anterior (art. 468, do
CPC/2015), incluiu-se regra expressa para determinar que o perito restitua “os valores recebidos pelo
trabalho não realizado sob pena de ficar impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5
(cinco) anos” (art. 468, § 2º), podendo a parte promover execução em face do perito que não o fizer a
tempo (art. 468, § 3º).

O art. 471 do CPC/2015 traz como novidade a possibilidade de indicação do perito pelas partes, de
comum acordo. Trata-se de mais uma das regras voltadas para a construção de um processo cooperativo.
Ao contrário de algumas hipóteses de cooperação ou negócio jurídico processual previstas na nova lei,
cujo ajuste pelas partes soa praticamente improvável (como, p. ex., a inversão da ordem de oitiva das
testemunhas prevista no art. 456, § ún, ou a convenção sobre ônus da prova feita no curso do processo,
constante do art. 373, § 4º), não é de se descartar que as partes, mesmo com o litígio conflagrado, tenham
confiança em um mesmo perito e seja interesse mútuo entregar-lhe a missão de realizar essa prova
técnica. Os requisitos de admissibilidade para a indicação do perito pelas partes são poucos, o que
permitirá sua realização em grande espectro das causas judiciais: basta que as partes sejam capazes e a
causa admita solução autocompositiva (art. 471, I e II, do CPC/2015). Optando por essa via, as partes
devem, na mesma oportunidade em que indicam o perito escolhido de comum acordo, indicar seus
assistentes técnicos e, pelo que se deduz do trecho final, apresentar data e local para a execução dos
trabalhos (art. 471, § 1º). Por certo, cabe-lhes também ofertar quesitos, de comum acordo ou
individualmente, apesar da omissão do texto a esse respeito. Se a perícia exigir trabalhos mais
complexos, a serem desenvolvidos ao longo de certo tempo, seria conveniente que um cronograma
detalhado fosse apresentado nesse mesmo momento. Ao juiz, mesmo assim, cabe fixar prazo de entrega
do laudo e dos pareceres dos assistentes técnicos (art. 471, § 2º). Por último, diz o § 3º do mesmo artigo
que “a perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria realizada por perito nomeado
pelo juiz”. Não faria sentido se assim não fosse.

Embora nada dissesse a lei a esse respeito, a boa doutrina já afirmava que um laudo técnico haveria de
conter a descrição do que foi observado, as operações executadas, a fundamentação e, claro, as
conclusões a que chegou o experto. Peça racional que é, à semelhança das sentenças, o laudo técnico
deve conter uma descrição do que foi observado; uma discussão, em que o perito, utilizando-se de seus
conhecimentos, analisa o material colhido, e por fim a conclusão, em que aponta qual é a verdade
apurada acerca dos fatos cuja verificação lhe foi solicitada. O CPC/2015, em seu art. 473, define, como
elementos do laudo: “I – a exposição do objeto da perícia; II – a análise técnica ou científica
realizada pelo perito; III – a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV –
resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do
Ministério Público”.

Exige a nova lei, ainda, que o perito utilize “linguagem simples e com coerência lógica” (art. 473, §
1º). Por certo, o laudo deve ser um instrumento que permita aos leigos na matéria – juiz, partes,
advogados – compreender a técnica e o raciocínio empregados e como se chegou às conclusões
apresentadas. A perícia também deve estar isenta de “opiniões pessoais que excedam o exame técnico
ou científico do objeto da perícia” (art. 473, § 2º).

Entregue o laudo, as partes terão o prazo de 15 dias para manifestação (art. 477, § 1º), cabendo aos
assistentes técnicos, em igual prazo, apresentar seu parecer. Nova voz é dada, então, ao perito, que,
segundo regra sem correspondente no CPC/1973 (art. 477, § 2º), tem o dever de, no prazo de 15 dias,
esclarecer ponto “I – sobre o qual exista divergência ou dúvida de qualquer das partes, do juiz ou do
órgão do Ministério Público; II – divergente apresentado no parecer do assistente técnico da parte”.
Sendo necessários outros esclarecimentos, a parte poderá requerer a intimação do perito para
comparecer à audiência de instrução e julgamento (art. 477, § 3º), intimação essa que será feita por meio
eletrônico com pelo menos 10 dias de antecedência (art. 477, § 4º). Não esclarece a lei, porém, qual o
prazo para que a parte peça o comparecimento do perito, tal como previsto no § 3º acima aludido. Na
falta de previsão expressa, é razoável supor que o prazo será de 5 dias, segundo regra de fechamento
contida no art. 218, § 3º.

Nota-se, nesse ponto do procedimento, que o legislador cometeu notável escorregão, sendo traído pela
aritmética elementar. Se, repetindo regra do CPC/1973, o laudo deve ser apresentado com antecedência
de pelo menos 20 dias da data da audiência (art. 477, do CPC/2015), e, como visto acima, os prazos de
manifestação da parte (15 dias), de manifestação do perito (15 dias), de solicitação de comparecimento
(5 dias, como exposto acima) e de antecedência da intimação (10 dias), já somam sozinhos 55 dias, sem
contar o inevitável tempo morto entre o fim e o início de cada um desses prazos, haverá tumulto
processual, a conduzir para o adiamento da audiência. Louvável, de todo modo, a intenção do legislador
em definir claramente como se realiza um procedimento contraditório sobre a prova pericial. Ao juiz, a
melhor solução para evitar tais desdobramentos e o risco de adiamento da audiência e inutilização de um
dos seus horários da pauta há de ser não designar a audiência com antecedência, aguardando, se for o
caso, a entrega do laudo, de modo a acomodar a data ao final dessa possível sequência de manifestações
previstas na lei. Afinal, uma vez previstas em lei, as partes têm direito a esse procedimento de colheita
da prova pericial e ao exercício do contraditório ali definido, sendo passível de decretação de nulidade
a sua supressão.

Por fim, nota-se diferença no texto do art. 479 do CPC/2015, que faz referência à apreciação do laudo
pelo magistrado. Evidentemente, para a prolação de uma decisão motivada, não bastaria apenas
transcrever as conclusões do laudo e nelas depositar uma fé dogmática e acrítica, especialmente se sobre
tais conclusões houve divergências e impugnações razoavelmente motivadas pelas partes e seus
assistentes técnicos. Assim, nas causas em que se produziu prova pericial, além dos demais requisitos da
sentença (art. 489) a serem observados, o juiz deverá indicar “os motivos que o levaram a considerar
ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito”.
(art. 479, do CPC/2015).

4. Audiência de instrução e julgamento

Poucas são as alterações nas regras relativas à audiência de instrução e julgamento.

Em respeito às partes e advogados, o CPC/2015 incluiu entre os motivos do adiamento da audiência o


“atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 (trinta) minutos do horário marcado” (art.
362, III, do CPC/2015). Embora louvável a intenção da lei, é de se perguntar o que tornaria o atraso
injustificado. O novo Código já estabeleceu que o intervalo entre as audiências deverá ser de, no
mínimo, uma hora (art. 357, § 9º). É um avanço, a impedir a designação de audiências com intervalo
excessivamente reduzido, que à toda evidência não será suficiente para o seu desenvolvimento,
acumulando enormes atrasos até o final do dia, em desrespeito às partes e advogados que compareceram
no horário marcado. Mas, não seria justificado o atraso se, arroladas muitas testemunhas, a colheita dos
depoimentos postergou a audiência para além do horário marcado para a sessão seguinte? Ao que dita a
experiência prática, esse é um fator de frequente atraso nas pautas. Um pouco mais de inteligência
poderia ter sido aplicada ao regrar esse momento do processo e, com toda a tecnologia de processamento
de dados hoje disponível para auxiliar o Poder Judiciário, melhor teria sido estabelecer na lei que a data
e horário da audiência serão designados após, pelo menos, a entrega do rol de testemunhas. Afinal, se
serão colhidos um, dois, nenhum, ou vinte depoimentos, esta é uma informação que deveria ser levada em
conta na formação das pautas. Arrolada uma testemunha de cada lado, o intervalo de uma hora será um
desperdício, considerada a maior agilidade na tomada de depoimentos, quando registrados por gravação.
Se há seis, sete, ou mais testemunhas a ouvir, o tempo será insuficiente. Mas se as pautas já foram
designadas antes da chegada do rol de testemunhas, já não mais será possível adequar os horários.

Em caso de adiamento ou antecipação da audiência, o art. 363 do CPC/2015 deixa claro – e não poderia
ser diferente – que os advogados da causa deverão ser intimados. Não obstante o zelo do legislador em
inserir essa nova regra, sente-se a expressiva omissão de um prazo de antecedência para que tal
intimação seja feita. A alteração de uma data de audiências impõe todo um reagendamento dos
compromissos das partes e advogados, sem contar com a necessidade de se expedir novas intimações às
testemunhas, o que agora é feito pela própria parte. Por analogia, se para a designação da audiência de
conciliação e mediação, o réu deve ser citado com pelo menos 20 dias de antecedência (art. 334), caso
em que tudo o que se exige dele é que compareça, a intimação em apreço, que envolve um rearranjo mais
complexo, não pode ser feita com intervalo menor em relação à nova data.

Substituídos os debates orais por memoriais escritos, preferiu a nova lei fixar um prazo para sua entrega,
em vez de deixar para o juiz fixá-lo, como constava do art. 454, § 3º, do CPC/1973. Assim, segundo
disposto no art. 364, § 2º, do CPC/2015, as razões finais escritas serão apresentadas “em prazos
sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos”. Assim, o autor terá prazo de 15 dias (úteis,
sempre) para apresentação de suas razões, seguindo-se imediatamente o prazo de 15 dias para o réu. O
prazo é dado para que a manifestação seja apresentada e não apenas para que a parte tenha vista dos
autos. Ao réu é dado o direito de conhecer as manifestações finais do autor, antes de apresentar as suas,
tal como ocorreria se o debate tivesse sido feito em audiência.

É importante notar que, na contagem de prazos sucessivos, deve-se levar em conta o dia do termo inicial
do prazo seguinte. Terminado o prazo do autor, o dia útil seguinte será o termo inicial do prazo do réu,
cuja contagem se iniciará no próximo dia útil. Isto é, se o décimo quinto dia do prazo dado ao autor
vencer numa terça-feira, o prazo do réu começará no dia útil imediato, no caso, na quarta-feira, que não é
contado pois é o dia do termo inicial, sendo a quinta-feira o primeiro dos seus quinze dias. Além disso, o
prazo de ambas as partes só poderá começar a correr uma vez lhe seja franqueada a vista dos autos, o
que, em se tratando de autos digitais, é um problema praticamente superado, exceto se ocorrer alguma
falha do sistema informático. Em caso de autos não digitais, e especialmente para que seja juntada aos
autos a manifestação do autor, teria sido conveniente que o réu fosse intimado do início do seu prazo, mas
a lei foi omissa a esse respeito. Seria conveniente, então, que constasse da ata de audiência o modo como
se iniciará o prazo do réu, assegurando-lhe acesso aos autos e à manifestação do autor já apresentada.

Havendo necessidade de continuação dos trabalhos em outra data, o art. 365, § ún., determina que o
prosseguimento seja marcado “para a data mais próxima possível, em pauta preferencial”.

Entendeu por bem o novo Código dispensar as partes de assinar a pauta de audiência, “exceto quando
houver ato de disposição para cuja prática os advogados não tenham poderes” (art. 367, § 2º, do
CPC/2015). Não se entende o porquê dessa disposição. Se presentes à audiência, em nada prejudica a
assinatura da ata; ao contrário, dá-lhe mais elementos de autenticidade.
A audiência poderá ser integralmente gravada, segundo dispõe o art. 367, § 5º, “desde que assegure o
rápido acesso das partes e dos órgãos julgadores”. Não define a lei o que poderia ser considerado
rápido, neste caso. Se o acesso não puder ser feito de modo imediato, durante a própria audiência, os
debates orais serão prejudicados, pois a parte deve ter o direito de conferir o exato teor dos depoimentos
antes de apresentar essas últimas manifestações. Acrescente-se, finalmente, que o § 6º do mesmo artigo
autoriza a gravação da audiência “por qualquer das partes, independentemente de autorização
judicial”. A ampla disseminação de equipamentos capazes de realizar gravações de áudio e vídeo tornou
real a profecia antevista nos anos 40 por Jorge Americano, afirmando que os custos para a gravação do
“fonograma” haveriam de ser reduzidos no futuro, diante dos progressos técnicos.32 A medida certamente
trará maior transparência às audiências, evitará as infrutíferas discussões sobre o que foi ou não foi dito
e, espera-se, servirá como potente freio a encorajar todos os presentes a agir com maior urbanidade, uma
vez cientes de que todos os sons e movimentos estão sendo gravados para a posteridade.

5. As provas e o direito intertemporal

O CPC/2015 definiu regra de direito intertemporal específica para regular a aplicação das novas
disposições acerca da prova. Trata-se do art. 1.047, que diz: “as disposições de direito probatório
adotadas neste Código aplicam-se apenas às provas requeridas ou determinadas de ofício a partir da
data de início de sua vigência”.

Portanto, tal regra excepciona a regra geral que estabelece a aplicação imediata da lei processual aos
processos em curso (art. 1.046, do CPC/2015).

Sendo assim, na literalidade do texto, as provas requeridas ou determinadas de ofício até a data de
entrada em vigor do CPC/2015 ainda serão regidas pelas disposições do CPC/1973. As novas
disposições só se aplicam quando o requerimento ou determinação ex officio forem praticados após a
entrada em vigor do novo Código.

Segundo estabelecem ambos os Códigos, o momento do requerimento das provas é a petição inicial, para
o autor, e a contestação, para o réu. Assim, a princípio, praticamente todos os processos em curso
continuarão regidos pelas disposições do CPC/1973, no que tange ao direito probatório. É possível,
porém, que ao especificar provas as partes solicitem meios não expressamente pedidos na inicial ou na
defesa, caso em que esse seria o momento utilizado para definir a lei aplicável.

A escolha do ato que delimita a aplicação de uma ou outra norma não poderia ter sido mais infeliz, sendo
visíveis os problemas práticos que dela advirão. Havendo provas requeridas em momentos diversos por
autor e réu, ou determinadas de ofício pelo juiz em outros momentos seguintes, corre-se o risco de, sendo
uns desses atos praticados na vigência do CPC/1973, e outros na vigência do CPC/2015, a colheita da
prova seguir parte segundo a lei velha, e parte segundo a lei nova, o que não faz qualquer sentido, seja
político, seja apenas prático.

Tome-se como exemplo a causa que, proposta ainda na vigência do CPC/1973, fixando aí o regime da
prova requerida pelo autor, só seja contestada pelo réu na vigência do CPC/2015. Seguiria, a prova do
autor, a lei velha, e a do réu, a lei nova? Ou, se o juiz determinar provas de ofício já na vigência do novo
Código, as provas requeridas pelas partes seguiriam o Código anterior, enquanto a que foi determinada
pelo magistrado se regeria pelas regras novas? Não pode ter sido essa a intenção do legislador,
determinar que parte das provas siga uma lei, e outras provas observem uma outra lei. Aparentemente, o
legislador se mostrou cioso em não violar direitos adquiridos de natureza processual, que, em tese,
poderiam ser atingidos pela nova lei.

Se o legislador quis proteger supostos direitos adquiridos, considerando-os nesse status uma vez que a
prova tenha sido apenas requerida, a evitar a aplicação da lei nova, teria sido melhor adotar desde logo o
sistema da unidade processual e simplesmente não aplicar as disposições de direito probatório aos
processos em curso. Mas enganou-se em definir como adquirido o direito à prova já no momento do seu
requerimento. O direito à prova nasce no momento do seu deferimento. Ademais, não se confunde o
direito à prova com o direito apenas ao procedimento de sua colheita. A alteração, por exemplo, da
extensão do prazo para manifestação sobre documentos juntados pelo adversário, ou sobre o laudo
pericial, não atentam contra eventual direito adquirido à prova: são regras puramente procedimentais.

E se considerarmos não fazer sentido, nem ser razoável, que a produção de algumas provas de um mesmo
processo sigam um regime legal, e outras sigam outro regime, a consequência prática disso é que todas as
provas produzidas nos processos em curso seguirão a lei do tempo em que o primeiro requerimento por
provas foi efetivado. Na prática, é como se o CPC/2015 tivesse adotado o modelo da unidade
processual.

Melhor teria sido fixar o momento do deferimento da prova como o divisor de águas para a aplicação da
lei nova. Neste caso, os feitos já saneados seguiriam as disposições de direito probatório do CPC/1973;
àqueles processos em que o juiz proferisse a nova decisão de saneamento e organização, por sua vez,
seria aplicado o CPC/2015. Com isso, ainda se teria a vantagem de aplicar uma única lei a todas as
provas deferidas na mesma oportunidade. É o que, em interpretação contra legem, defendem alguns
autores.33

Essa opção do legislador certamente causará grande balbúrdia na verificação de prazos e na prática de
outras disposições meramente formais acerca da produção da prova que sofreram modificação na nova
lei. Para evitar cair em armadilhas, recomenda-se aos patronos, nesses processos que se encontravam em
curso quando da entrada em vigor do CPC/2015, a utilização do prazo mais breve para a prática de atos
relativos à prova, que, ao que parece, sempre será o do CPC/1973.
Capítulo IX - Sentença

1. Resolução da causa com ou sem julgamento de mérito

No Capítulo destinado à sentença e coisa julgada, o CPC/2015 incorporou os artigos que elencavam as
hipóteses de extinção do processo, com ou sem julgamento do mérito. As disposições antes constantes
dos arts. 267 e 269 do CPC/1973 encontram-se, agora, nos arts. 485 e 487, com pouquíssimas alterações.
Entre os incisos que arrolam as hipóteses em que o juiz não julgará o mérito, acrescentou-se no número
VII, além da já prevista convenção de arbitragem, o reconhecimento da competência pelo juízo arbitral.
O texto aditado refere-se apenas à situação em que o procedimento arbitral já foi iniciado e recebido.

Nos dois casos de abandono do processo, por ambas as partes ou apenas pelo autor (art. 485, II e III, do
CPC/2015), o prazo para que a parte, pessoalmente intimada, dê andamento ao feito, foi dilatado para 5
dias, segundo disposto no § 1º, do art. 485, em lugar do prazo de 48 horas da regra anterior (art. 267, §
1º, do CPC/1973). Quanto ao abandono do feito pelo autor, o novo texto inserido no § 6º do art. 485
esclarece que, “oferecida a contestação, a extinção do processo por abandono da causa pelo autor
depende de requerimento do réu”. Esse já era um entendimento possível na vigência do CPC/1973,
mediante interpretação conjunta da regra sobre o abandono com as disposições acerca da desistência da
ação, que, por regra expressa da lei anterior, dependia de concordância do réu. O abandono pelo autor
nada mais é do que uma forma de desistência tácita; portanto, deve ser submetido ao mesmo tratamento
dado à desistência expressa. Se o réu, no processo de conhecimento, tem tanto direito à prestação
jurisdicional quanto o autor, este não pode provocar, por ato unilateral de vontade, o que inclui a
omissão, o fim do processo sem julgamento do mérito. Daí a necessidade de ouvir o réu em ambos os
casos, tanto o previsto neste § 6º como no § 4º, comentado a seguir.

No § 3º do mesmo artigo, incluiu-se entre as situações que podem ser conhecidas e decretadas de ofício
pelo juiz a do inciso IX. Este inciso repete a situação prevista no art. 267, IX, do CPC/1973, que foi
melhor explicada no CPC/2015: “em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível
por disposição legal”.

Eliminou-se, nesse mesmo § 3º, a imposição de condenação ao réu pelas custas do retardamento, caso
não alegue o vício na primeira oportunidade em que falasse nos autos. A severidade do tratamento dado
ao réu, no CPC/1973, realmente não fazia muito sentido.

A desistência da ação depende do consentimento do réu após “oferecida a contestação”, segundo


redação do § 4º, do art. 485 do CPC/2015. Na regra correspondente do CPC/1973, dizia-se “depois de
decorrido o prazo para resposta”. A alteração produz algumas consequências práticas, decorrentes
diretamente da literalidade das palavras. Se o réu apresentar a contestação antes do fim do prazo,
evidentemente já não pode o autor desistir da ação sem a concordância do primeiro. Por outro lado, o
texto sugere que, sendo o réu revel, o autor poderá livremente desistir da ação a qualquer tempo. No § 5º
do mesmo artigo, inseriu-se nova disposição sobre a desistência da ação, inexistente no CPC/1973: não
se pode desistir da ação após proferida a sentença. Assim, mesmo que o réu seja revel, a prolação da
sentença impede o autor de desistir da ação. O parágrafo também implica na não aceitação da desistência
após a sentença, mesmo que haja concordância das partes. O sentido da regra parece claro: se o processo
chegou até a sentença, houve uso prolongado da máquina processual estatal, sendo contrário ao interesse
público que este conflito não receba uma solução definitiva e, por isso, possa voltar a juízo. As partes,
podem, claro, transigir após a prolação da sentença, mas isso acarretará uma solução homologada por
sentença de mérito (art. 487, III, “b”, do CPC/2015), que ficará coberta pela coisa julgada material. É
sempre importante salientar que a exigência de concordância do réu para a desistência da ação –
expressa ou tácita (§§ 4º e 6º, do art. 487) – é norma típica do processo de conhecimento, não se
aplicando à execução.

Foi inserido, por fim, um § 7º a este artigo, que cria a possibilidade de retratação do juiz, dentro de 5
dias da interposição de apelação contra a sentença terminativa. Há, no CPC/2015, uma louvável
preferência pelo julgamento de mérito, o que se reflete em muitas de suas disposições. Assim, se o
magistrado de primeiro grau reconhecer o equívoco cometido na prolação da sentença meramente
terminativa, não será necessário que o feito seja remetido ao órgão de segundo grau, para que só então a
sentença venha a ser anulada e dali retorne ao primeiro grau. A regra se aplica a todas as hipóteses de
sentença terminativa.

O art. 486 do CPC/2015 e seus parágrafos apenas esclarecem melhor a regra do art. 268 do CPC/1973.
Não havendo julgamento de mérito, não se forma a coisa julgada material, de modo que nada há a obstar
uma nova propositura da mesma ação. Claro que, se repetido o vício que motivou a extinção do processo
sem julgamento de mérito, o segundo processo está fadado ao mesmo destino do anterior, e é isso que se
infere do § 1º do art. 486. Para ser purista, é evidente que a propositura da ação, mesmo nessas
situações, é sempre decorrente de um direito abstrato e totalmente incondicionado. Somente após
proposta, apenas, é que caberá ao juiz da causa aferir a presença dos requisitos de admissibilidade.

Quanto às hipóteses de julgamento de mérito, essas são repetidas no art. 487, que apenas reorganizou-as
de forma mais sistemática, agrupando em alíneas de um mesmo inciso (inc. III) as sentenças
homologatórias das três soluções autocompositivas: reconhecimento, transação e renúncia. No § ún., foi
incluída regra sem correspondência na lei anterior. Seguindo a orientação geral do CPC/2015 de se
evitar surpresas e prestigiar o contraditório, estabelece o novo dispositivo que “ressalvada a hipótese
do § 1º do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às
partes oportunidade de manifestar-se”. A ressalva feita aplica-se à decretação liminar de decadência
ou prescrição, antes mesmo da citação do réu. Como o réu ainda não foi citado, não se pode dar
oportunidade de manifestação “às partes”, mas por certo é necessário e muito conveniente ouvir-se o
autor a respeito. O art. 321 determina seja dada vista ao autor para sanar qualquer defeito ou
irregularidade capaz de dificultar o julgamento do mérito e o art. 10 contém regra geral que inibe
qualquer decisão de ofício sem que seja dada prévia oportunidade às partes para manifestação. A razão
dessas regras é clara: melhorar a qualidade da decisão judicial, eis que, sem o contraditório específico
sobre a questão, pode o juiz ter-se equivocado com uma visão apenas superficial e incompleta daquilo
que decidiu. Pode-se, com isso, evitar também eventuais recursos, aliviando o acúmulo de serviço nas
instâncias superiores.

Ainda com o intuito de prestigiar o julgamento de mérito, foi criada a regra constante do art. 488, que
estabelece que, desde que possível, o juiz deverá decidir o mérito, quando o julgamento puder ser
favorável à parte a quem aproveitaria a decisão sem resolução de mérito. A finalidade do processo é
decidir o litígio entre as partes, dando-lhe uma solução estável. É um desperdício de tempo, recursos
materiais e esforços das partes e do aparato estatal o encerramento do processo com uma decisão
meramente terminativa, que mantém vivo o conflito original. Há, evidentemente, situações em que o
julgamento de mérito se mostra impossível, como as hipóteses do inciso V, do art. 485. Estando a causa
madura para julgamento de mérito em favor do réu, e não havendo vício contrário ao interesse público, é
preferível o julgamento do mérito à solução meramente terminativa calcada no art. 485, do CPC/2015.

2. Requisitos da sentença e a motivação das decisões

A motivação é requisito fundamental de todas as decisões judiciais, tanto que em 1988 ganhou status de
garantia constitucional (art. 93, IX, da CF). A motivação é essencial para dar transparência ao exercício
do poder, esclarecendo, não só às partes mas também à sociedade, as razões que levam os juízes a
solucionar litígios desse ou daquele modo. É, ainda, um dos principais elementos legitimadores das
decisões judiciais, já que, não sendo proferidas por deuses, mas por humanos, é somente a ratio
publicamente exposta na decisão que permite aferir a justiça e o acerto da solução imposta às partes pelo
Estado. Aliada à publicidade, outro importante princípio processual, a motivação das decisões abre
caminho para o controle social sobre o exercício do Poder. Além disso, em um sistema processual que
permite à parte recorrer das decisões judiciais, é fundamental que conheça os motivos que levaram ao
julgamento desfavorável, para poder, ou ao menos tentar, desconstruí-los nas razões de recurso.

Reforçando a importância da motivação das decisões, o CPC/2015 inovou ao incluir a regra do § 1º, do
art. 489, que traz um rol, certamente casuístico, de situações em que a decisão judicial de qualquer
natureza “não se considera fundamentada”. A nova norma foi causadora de uma das maiores
controvérsias em torno do novo Código. Por certo, é uma norma um tanto quanto exótica, especialmente
ao enumerar o que não é uma decisão fundamentada e, em termos estritamente teóricos ou acadêmicos,
parece ser desnecessária, eis que certamente todos haveriam de compreender o que é uma decisão
fundamentada. O Direito, porém, não existe no vácuo. Aplica-se a sociedades humanas concretas e reais,
onde a beleza do rigor técnico ou acadêmico por vezes não é suficiente para produzir os bons resultados
desejados. Qualquer profissional que milite no foro com alguma frequência já deve ter vivido a má
experiência de se defrontar com decisões que se encaixam perfeitamente em todos os incisos do citado §
1º. É sabido que, na História, quando se encontra uma lei remota proibindo ou regrando algo muito
específico, é bastante possível que aquele fato acontecesse ao tempo da lei, pois seria improvável que
legislador fosse tão imaginativo na formulação daqueles detalhes, ou tivesse se preocupado em proibir
fato que sua sociedade, ao seu tempo, desconhecesse. Pois é essa a justificativa que se pode dar a esse
estranho texto do § 1º.

Assim, segundo reza o citado dispositivo, não se considera fundamentada a decisão judicial que: “I – se
limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a
causa ou a questão decidida; II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso; III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão; IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se
ajusta àqueles fundamentos; VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento”.

O § 2º ainda acrescenta mais uma exigência: “no caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o
objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a
interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão”.
O sentido dessas regras é um só: não basta apoiar-se em normas ou teses jurídicas abstratas: é necessário
demonstrar, mediante um discurso jurídico consistente, que tais normas ou teses jurídicas se aplicam aos
fatos da causa. Ademais, o inciso IV, do § 1º, já acima transcrito, é voltado para retirar do sistema
processual a malsinada orientação jurisprudencial que havia se formado em sentido contrário e que, em
minha opinião, afrontava a garantia constitucional de motivação das decisões. Motivar decisões não pode
significar outra coisa que não apontar, acolhendo ou rejeitando, todos os elementos de fato e de direito
que possam influir no resultado. E se isso se tornou garantia constitucional, é porque o constituinte quis
limitar o arbítrio do julgador. Permitir ao julgador escolher sem outras justificativas explícitas quais
fatos ou argumentos jurídicos quer decidir, sem nem ao menos justificar que as demais questões não
apreciadas sejam impertinentes, é sem dúvida um perigoso flerte com o arbítrio.

Não se desconhece que, afrontando os limites da boa-fé, algumas partes por vezes apresentam arrazoados
com dezenas de páginas absolutamente despropositadas, em que se invoca o sexo dos anjos ou coisa
parecida. Igualmente, qualquer profissional que milite no foro com alguma frequência também já se
deparou com situações tais. O problema, se o leitor permite uma consideração de ordem política, é que o
nosso país tem se acostumado a ministrar remédios errados para as doenças que o afligem, sendo
contumaz em punir coletivamente quem nada fez de errado, mas não punir especificamente quem o fez.
Apresentar dezenas de laudas inócuas e sem sentido, por certo infringem os incisos II e III do art. 77, do
CPC/2015, meras repetições de regras idênticas do anterior art. 14, do CPC/1973. Assim, se a parte
deixa de discutir a lide para apenas produzir tumulto, cabe ao magistrado aplicar a sanção
correspondente, apontando, também de modo expresso e fundamentado, que esses argumentos são
exógenos à questão discutida em juízo. O que não se pode admitir é que seja franqueado aos julgadores,
em escala, ignorar o que quiser ignorar, em todos os julgamentos, e sem demostrar de modo explícito que
as questões ignoradas não são relevantes.

E se a parte é demasiadamente prolixa, estendendo de forma pomposa e retórica a sustentação de um


mesmo argumento, sobre questão de fato ou de direito, é claro que a norma não exige do juiz que se
pronuncie sobre cada parágrafo do texto, mas apenas sobre cada argumento. Se apesar da prolixidade das
palavras, há ali um único argumento, basta decidi-lo.

É possível que, diante da proporção que já tomou esse tipo de abuso das partes, especialmente usual por
alguns tipos identificáveis de litigantes, atender às novas disposições e punir especificamente os que
litigam de má-fé poderá aumentar, inicialmente, a carga de trabalho dos juízes. Mas, creio firmemente,
uma vez sinalizado ao mundo que as partes não têm o direito de deduzir pretensões sem qualquer
seriedade, e que por esse comportamento malicioso serão efetivamente punidas, a tendência é que tais
sanções desempenhem uma função educativa, que nos conduza à normalidade perturbada pelas crises dos
últimos anos: as partes, se não por ética, pelo receio da esperada sanção, limitar-se-ão a deduzir fatos e
fundamentos relevantes e os juízes, por sua vez, terão o dever de decidi-los todos.

Como a fundamentação das decisões é requisito essencial para sua validade, nula é a decisão que
desatenda a essas disposições ou que, além das situações enumeradas nesse extenso rol, possam também
ser consideradas imotivadas. Como o ato nulo em direito processual exige uma decisão judicial que o
reconheça, a eventual nulidade dessas decisões será motivo a ser deduzido em recurso apresentado
contra essa decisão.

O § 3º do art. 489, também regra nova, fala dos critérios de interpretação das decisões judiciais. Deve
ser dito em primeiro lugar que decisões judiciais devem ser certas e precisas, de tal modo que seu
sentido seja compreendido sem a necessidade de empregar quaisquer critérios interpretativos. Esses se
mostrarão necessários apenas diante de decisões duvidosas, em que as palavras, de modo traiçoeiro,
permitem inferir mais de um significado. Neste caso, diz o CPC/2015 que a interpretação de tais decisões
deve levar em conta “a conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da
boa-fé”. Chove no molhado, pois é impensável algo diverso disso, isto é, que a decisão fosse
interpretada somente à vista de frases isoladas, ou que a má-fé pudesse servir de parâmetro.

Fora deste capítulo, o art. 479, do CPC/2015, contém disposição afinada com essa mesma orientação da
nova lei, estabelecendo em sua parte final que, ao apreciar a prova pericial, o juiz deve indicar na
sentença “os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo,
levando em conta o método utilizado pelo perito”. Ou seja, o laudo pericial não é um julgamento nem a
ele se equivale; é tão somente um meio de prova. Cabe ao magistrado, pois, decidir expressamente na
sentença porque o laudo merece fé ou não, em seu todo ou quanto a alguns de seus pontos relevantes.
Evidentemente, a extensão com que o juiz deverá discutir e apreciar o laudo decorre do contraditório que
se estabeleceu anteriormente. As partes tiveram a oportunidade de criticar o laudo, com ou sem
apresentação do parecer dos seus assistentes técnicos. Ponto não impugnado é ponto incontroverso, e a
menção a tal incontrovérsia é motivo bastante para atender ao disposto no art. 479. O mesmo critério
valorativo, claro, deve ocorrer quanto a todos os demais meios de prova, pois é o que decorre do sistema
de apreciação das provas segundo a persuasão racional do juiz (art. 371, do CPC/2015). Os aspectos
controvertidos resultantes da colheita da prova devem ser, todos, apreciados e decididos
fundamentadamente.

3. Do dispositivo da sentença

No dispositivo da sentença, o juiz “resolverá o mérito acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, os


pedidos formulados pelas partes”, segundo afirma o art. 490 do CPC/2015. Há ligeira modificação de
texto, em comparação com a norma correspondente da lei anterior, o art. 459, do CPC/1973. Como já se
observava mesmo sob a égide do CPC/1973, pode haver outros pedidos no processo, além do que foi
formulado pelo autor. O uso do plural remete para a presença de mais de um pedido a ser julgado. Devem
ser julgados na sentença, pelo seu acolhimento ou rejeição, os pedidos iniciais formulados pelo autor, os
pedidos reconvencionais, formulados pelo réu, bem assim os eventuais pedidos incidentais, tais como o
de declaração de falsidade do documento ou a denunciação da lide. Mas assim já era, houve apenas uma
adequação do texto.

O art. 491 do CPC/2015 é bem mais incisivo do que a regra anterior (art. 459, § ún., do CPC/1973) ao
apontar para a necessidade de liquidez da decisão condenatória ao pagamento de quantia. É uma regra
salutar, tendente a evitar o prolongamento de certas discussões a respeito do valor da condenação, que,
por vezes, permeiam a futura execução da sentença. Assim, diz o caput desse artigo que, mesmo que o
pedido tenha sido genérico, “a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de
correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos
juros”, com a ressalva feita nos incisos, isto é, quando: “I – não for possível determinar, de modo
definitivo, o montante devido; II – a apuração do valor devido depender da produção de prova de
realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença”.

O § 2º do artigo em questão estabelece que essa regra também se aplica ao acórdão que alterar a
sentença. Isso tanto pode ocorrer quando a sentença de improcedência for reformada, julgando-se
procedente o pedido condenatório, como quando o julgado superior reformar a sentença apenas em parte.
Neste segundo caso, se acolhido um dos pedidos ou parte de pedido que havia sido rejeitado na sentença,
ou, inversamente, se rejeitado no todo ou em parte pedido acolhido na sentença, deve o acórdão, se restar
alguma condenação imposta ao vencido, ser igualmente claro e preciso na delimitação do quantum ou da
forma de sua apuração, apontando os elementos previstos no caput do art. 491, do CPC/2015.

A ressalva do inciso I contém alta dose de generalização, que, se não aplicada com parcimônia,
significará a ineficácia completa da regra do caput. Já o inciso II traz, em verdade, um dilema de difícil
enfrentamento prático. Se nem o direito da parte está definido, se as provas de sua existência não foram
sequer colhidas e se outros graus de jurisdição acima do magistrado ainda podem decidir pela
improcedência total da demanda, pode se mostrar inoportuna a realização da tal prova “demorada ou
excessivamente dispendiosa”. Entretanto, há um dilema prático em se postergar essa perícia para
momento futuro: além de deixar para a liquidação de sentença uma miríade de novas questões, a torná-la
mais complexa e dilatando no tempo a satisfação final da parte vencedora, corre-se o risco de, com o
passar dos anos, ser mais e mais difícil a apuração completa dos fatos deixados para trás e consequente
mensuração do valor devido. Talvez fosse o caso de combinar-se com essas ressalvas, em especial a do
inciso II, a eventual situação de incontrovérsia ou probabilidade do an debeatur. Caso incontroverso ou
muito provável a existência do direito ao pedido condenatório formulado pela parte, pode ser mais
conveniente “perder” tempo e esforços na realização das provas tendentes a liquidar o valor em
discussão já na fase de conhecimento do que postergar essa tarefa para futura liquidação.

Essa regra do art. 491 do CPC/2015 tem o mérito de dar alguma objetividade aos critérios para que o
valor cobrado seja ou não seja discutido e provado na fase de conhecimento, resultando em decisão
líquida, ou seja a questão postergada para futura liquidação, caso em que a sentença poderá se resumir a
reconhecer o direito ao pagamento, sem definir o valor em sua extensão e demais elementos acessórios.

4. Hipoteca judiciária

Condizente com sua proposta – uma tendência dos tempos atuais – de procurar dar mais efetividade ao
processo judicial, o CPC/2015 dá uma roupagem mais completa ao instituto da hipoteca judiciária.

Inicialmente, o art. 495 do CPC/2015, em comparação com a regra análoga (art. 466 do CPC/1973),
amplia as possibilidades de sua aplicação, acrescentando que também são títulos constitutivos de
hipoteca judiciária a decisão que determinar a conversão em dinheiro das obrigações de fazer, não fazer
ou de dar coisa.

O § 1º do mesmo artigo acrescenta que a decisão condenatória produz a hipoteca judiciária “mesmo que
impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo” (inc. III), além de reafirmar outras situações já
descritas no Código anterior. Trata-se de inciso meramente esclarecedor, a espancar eventuais
controvérsias existentes sobre a questão, pois, ao que parece, a função da hipoteca judiciária é
precisamente a de garantir o futuro crédito que ainda não pode ser executado, porque o efeito suspensivo
do recurso o impede, não tendo o credor como penhorar bens.

Simplificando o procedimento de registro, o CPC/2015 dispensa qualquer decisão específica do juiz


para que o efeito seja produzido, e a sentença, registrável. A mera apresentação de cópia da sentença,
segundo diz o § 2º do art. 495, é bastante para que o registro imobiliário proceda às devidas anotações na
matrícula do imóvel, dispensando-se pronunciamento judicial específico ou a expedição de um mandado.
A parte terá prazo de 15 dias, contados da realização da hipoteca, para informá-la nos autos,
providenciando-se a intimação da parte. Trata-se, ao que parece, de ato de mera ciência, pois não tratou
a lei das possíveis consequências processuais decorrentes da inércia em prestar nos autos essa
informação. Como a finalidade do ato é dar ciência à parte de que bens seus encontram-se hipotecados, a
única consequência aparente da omissão ou intempestividade dessa informação seria o eventual
pagamento de perdas e danos porventura decorrentes do desconhecimento do vencido acerca dessa
hipoteca.

Eventualmente, pode a parte cujos bens foram hipotecados exigir correções ou ajustes nos termos e
delimitações da hipoteca, o que poderá suscitar novas questões processuais. Embora a lei não o diga, por
certo a constrição deve atingir apenas tantos bens quantos bastem para o pagamento da dívida e seus
acréscimos, por analogia com os limites à penhora (art. 831, do CPC/2015). Não diz a lei como e perante
qual órgão judicial essa questão pode ser suscitada, caso venha a surgir no caso concreto. Basta imaginar
a situação em que a parte vencedora, apenas munida da cópia da sentença, constitua hipoteca judiciária
sobre vários bens, excedendo grandemente o valor da dívida. Uma vez que o CPC/2015 parece tentar dar
uma nova vida ao instituto da hipoteca judiciária, sente-se a omissão de maiores considerações acerca de
seus eventuais limites, de como controlá-los e do procedimento a tomar em caso de sua utilização
abusiva ou excessiva sobre o patrimônio da parte vencida.

Nos dois parágrafos restantes, também inéditos, estabelece a lei os efeitos da lavratura da hipoteca
judiciária, comparáveis aos da penhora de bens, isto é, dá ao credor “o direito de preferência, quanto
ao pagamento, em relação a outros credores, observada a prioridade no registro”, segundo o § 4º. Por
sua vez, o § 5º impõe a responsabilidade objetiva do requerente da hipoteca, “pelos danos que a outra
parte tiver sofrido em razão da constituição da garantia, devendo o valor da indenização ser
liquidado e executado nos próprios autos”. É regra consentânea com o sistema, que atribui
responsabilidade objetiva àquele que, em prejuízo do adversário, dá eficácia concreta a decisões
judiciais ainda passíveis de modificação.

5. Remessa necessária

Da sentença cabe recurso voluntário de apelação. É da tradição de nosso direito, porém, determinar que
algumas sentenças são sujeitas ao reexame necessário, também conhecido por duplo grau obrigatório. A
sentença sujeita a reexame necessário não transita em julgado enquanto não reapreciada pelo tribunal,
ainda que não seja interposto qualquer recurso voluntário pela parte vencida. Hoje, essas situações estão
restritas às hipóteses em que a Fazenda Pública é vencida. Tema criticável, pela disparidade de forças
que causa entre o particular e a Fazenda, a sua incidência tem sido pouco a pouco reduzida.

Assim, o CPC/2015 limitou as hipóteses de sua incidência, ao elevar o valor mínimo do proveito
econômico discutido no processo para que a remessa necessária seja obrigatória. O CPC/1973, após
reforma aplicada pela Lei nº 10.352/2001, já havia limitado o reexame necessário apenas às causas em
que a condenação ou o direito controvertido superassem o equivalente a 60 salários mínimos (art. 475, §
2º, do CPC/1973). O CPC/2015 criou pisos variáveis, considerando a capacidade financeira dos
diferentes entes públicos beneficiados pela regra, como se observa no § 3º do art. 496. Assim, o reexame
necessário só se aplica à União e entidades federais se o proveito econômico disputado for superior a
1.000 salários mínimos, um aumento bastante significativo em relação à norma anterior. Em favor das
Fazendas dos Estados, ou dos Municípios das Capitais dos Estados, e respectivos entes da administração
pública, o limite passa a ser de 500 salários mínimos. Para os demais Municípios e respectivas
autarquias e fundações, o limite é de 100 salários mínimos. Nas causas em que o proveito econômico
obtido na causa for inferior a esses patamares, não haverá reexame necessário, cabendo ao ente público,
se for o caso, apresentar recurso voluntário sob pena de ocorrer o trânsito em julgado da decisão de
primeiro grau.

Também foram ampliadas as restrições ao reexame necessário, quando calcadas no conteúdo da decisão.
Pelo texto anterior, do § 3º do art. 475 do CPC/1973, não havia duplo grau obrigatório quando a sentença
estivesse fundada em jurisprudência do plenário do STF, ou súmula deste ou de Tribunal superior
competente para a matéria. O CPC/2015 limita a remessa necessária também quando a decisão estiver de
acordo com acórdãos proferidos em julgamento de recursos repetitivos pelo STF ou STJ (art. 497, § 4º,
II), ou com “entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência”, (art. 497, § 4º, III) incidentes estes que tiveram julgamento perante os tribunais de
segundo grau. Ou, ainda, quando a sentença estiver fundada em “entendimento coincidente com
orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em
manifestação, parecer ou súmula administrativa” (art. 497, § 4º, III).

Causa certa estranheza o fato de só haver referência ao reexame necessário das sentenças. O uso
expresso do vocábulo sentença é feito no caput do art. 496, bem como no seu § 4º. O § 1º, por sua vez,
refere-se à não interposição de apelação, de modo que, findo o prazo, seja ordenada “a remessa dos
autos ao tribunal”, ou, na omissão do magistrado, o presidente do tribunal poderá avocá-los. Ora, o
CPC/2015 criou a possibilidade do julgamento antecipado parcial do mérito, mas esse julgamento tem a
natureza de decisão interlocutória, passível de recurso de agravo. Não há vedação a que tais julgamentos
parciais sejam desfavoráveis à Fazenda. Aparentemente, houve mera desatenção do legislador com a
novidade, pois seria um atentado à finalidade da norma dispensar o reexame necessário das decisões
interlocutórias de mérito proferidas na forma do art. 356 do CPC/2015. Mas não diz o Código como
proceder nesses casos, diante da eventual não interposição voluntária do agravo de instrumento pelo ente
público. Como, por sua vez, o procedimento em primeiro grau não se encerrou – prossegue para
julgamento dos pedidos remanescentes – não será propriamente o caso de “remessa dos autos” ao órgão
superior. As facilidades trazidas pela informática poderão contornar essa questão, ao menos quando o
processo correr em autos digitais, que, por ubíquos ou facilmente duplicáveis, poderão ser
concomitantemente examinados pelo tribunal – para revisão da decisão parcial – enquanto prosseguem
em primeiro grau para julgamento dos demais pedidos. Para os processos que correm em autos físicos, a
solução por certo será mais trabalhosa, exigindo a extração de cópia ao menos parcial dos autos para
envio ao tribunal, tal qual se faria na formação do instrumento do agravo.
Capítulo X - Intimações e prazos no NCPC

1. Intimações e o termo inicial dos prazos

As novidades do CPC/2015 acerca das intimações não, são, em sua maioria dignas de aplauso. O Poder
Judiciário nacional tem empreendido razoável esforço e despendido muitos recursos para promover a
informatização e a prática eletrônica dos atos processuais e, no entanto, caminhos já bem trilhados
restaram desconsiderados pela nova lei.

É minha opinião, há mais de uma década, que não há meio mais simples, eficiente, barato, rápido e,
especialmente, seguro contra eventuais erros e os consequentes incidentes processuais que tais erros
provocam, do que a publicação das intimações no Diário da Justiça Eletrônico. Inúmeros tribunais já o
implantaram, com estridente sucesso. E o uso da informatização na feitura das publicações, aproveitando
dados já existentes em bases eletrônicas, eliminou os erros de datilografia de tempos passados, que
tantas nulidades produziam, de modo que praticamente não mais se vê discussões processuais
questionando a validade desses atos de comunicação. Sendo assim, outros meios de intimação só
poderiam ser considerados na Lei quando inexistente, ainda, o Diário Eletrônico, ou quando o ato fosse
destinado a quem não é parte. Promover, em paralelo, outros meios de intimação da parte constituída no
processo é um perigoso flerte com a insegurança e com a proliferação de nulidades e de incidentes dela
decorrentes.

A principal vantagem de um Diário eletrônico é que, com um sistema informático adequadamente


programado, todas as decisões judiciais podem ser objeto de intimação às partes no dia imediato ao de
sua prolação. Basta que o sistema seja programado para automaticamente acumular todos os atos
judiciais praticados num dado dia – partindo-se da premissa de que foram proferidos utilizando-se de um
sistema informático, no qual estão armazenados – e, reunindo os demais requisitos que devem constar da
intimação, produza o jornal e o disponibilize no sítio informático dos tribunais. Um sistema que armazene
as informações que devem constar das intimações (nomes, número do processo etc.) não teria
dificuldades em produzir o diário eletrônico e imediatamente publicá-lo online, independentemente de
qualquer intervenção humana. Por outro lado, uma vez dada a público com a divulgação do diário, a
intimação está perfeita e acabada, sem que seja necessário um sistema especializado para conferir quem
acessou o que, ou quando isso foi feito. Nada pode ser mais simples, rápido ou seguro. No que toca à
segurança e certeza das intimações, a publicidade do Diário Eletrônico elimina qualquer dúvida sobre o
fato da ciência, ou não, da intimação. Intimações eletrônicas são e sempre serão intimações presumidas,
não importa o que diga a lei, pois essa é a sua essência. No caso do Diário Eletrônico, a fraqueza de uma
intimação presumida é contrabalanceada pela máxima publicidade do ato, eliminando dúvidas sobre o
teor da comunicação e o momento em que foi feita. E, assumindo que o advogado tem o dever
profissional de acompanhar essas intimações, uma tradição quase secular do nosso Direito, eliminam-se
dúvidas quanto à sua entrega ao destinatário, restando apenas, a invalidar essa intimação, situações
excepcionais, como o prévio falecimento do patrono, que teriam invalidado qualquer outra forma de
intimação presumida. É impossível ter essa certeza, não desse modo simples e fácil, em qualquer outra
modalidade eletrônica de comunicação.

Já no início do Capítulo destinado às intimações, diz o art. 269, § 1º, que “é facultado aos advogados
promover a intimação do advogado da outra parte por meio do correio, juntando aos autos, a seguir,
cópia do ofício de intimação e do aviso de recebimento”. Comparado ao Diário eletrônico, a regra é
por demais arcaica e o perfazimento do ato de comunicação será muito mais lento e custoso. Assim, onde
quer que vigore o Diário eletrônico, a novidade desse dispositivo deve ser desconsiderada. Apenas se
aplica quando as intimações ainda sejam feitas de outro modo mais demorado, facultando-se aos patronos
tentar adiantar as intimações da parte adversa, tomando a iniciativa de enviá-las diretamente. Também
não é difícil imaginar quantas discussões não podem ser levantadas acerca da correção e validade dessas
intimações, considerando-se a exigência contida no § 2º do mesmo artigo, para que o ofício de intimação
“seja instruído com cópia do despacho, da decisão ou da sentença”. Um aviso de recebimento, é
sempre bom lembrar, pode apenas fazer prova de que um envelope ou algo semelhante foi deixado pelo
carteiro em mãos do destinatário; não é bastante para dar certeza sobre o que foi entregue, isto é, se o
envelope contém uma intimação corretamente documentada, ou folhetos de propaganda de um restaurante
delivery...

Do mesmo modo como já criticado acima, no capítulo destinado às citações,34 o CPC/2015 abusa das
referências à realização da intimação por “meio eletrônico”, mas pouco esclarece acerca de como são
feitas, ou que meio eletrônico será esse. É o que se observa, neste mesmo Capítulo, nos arts. 270, 272,
273 e 275.

O art. 272 do CPC/2015 trata das intimações feitas por “publicação dos atos no órgão oficial”,
dispondo sobre alguns de seus requisitos ao longo dos seus parágrafos. As regras se aplicam, igualmente,
ao Diário da Justiça eletrônico, que nada mais é do que o “órgão oficial” em formato digital.

Assim, segundo o CPC/2015, é facultado aos advogados pedir a inclusão, nas publicações, do nome da
sociedade a que pertençam. Segundo dispõe o § 1º, do art. 272, pode-se pedir para que as intimações
sejam feitas apenas em nome da sociedade. O § 2º do mesmo artigo determina que, além do nome do
advogado, deve a publicação conter o seu número de inscrição na OAB, sob pena de nulidade. Trata-se
de requisito importante, que há muito já deveria ter sido inserido na lei, pois permite maior facilidade na
busca, seleção e organização das publicações, de forma automatizada, especialmente quando feitas pelo
Diário Eletrônico. Afinal, o volume de intimações publicadas nesses periódicos já há muito tempo tornou
inviável sua leitura visual; o ideal seria que esse periódico fosse distribuído em formato mais facilmente
tratável por computador (e não no formato PDF), de modo que sua “leitura” pudesse ser mais facilmente
automatizada. Na parte final deste parágrafo, há nova referência à inclusão do nome da sociedade de
advogados, sugerindo que é possível à parte pedir que as intimações sejam feitas tanto em nome
exclusivo da sociedade, como em nome dos advogados, neste caso com ou sem menção do nome da
sociedade.

No § 3º desse mesmo artigo, a lei processual finalmente elimina um perigoso fator para o questionamento
das intimações feitas por publicação no Diário da Justiça. Segundo o novo texto, “a grafia dos nomes
das partes não deve conter abreviaturas”. No § 4º, acrescenta-se que “a grafia dos nomes dos
advogados deve corresponder ao nome completo e ser a mesma que constar da procuração ou que
estiver registrada na Ordem dos Advogados do Brasil”. O nome a ser incluído na intimação é o nome
completo e correto. Nome erradamente grafado não é o nome do destinatário do ato e, portanto, não
atende às exigências da lei. Em verdade, a regra chega ao Código um tanto quanto atrasada. Na prática,
com a implantação da informática, essas intimações passaram a ser feitas automaticamente, capturando o
nome e número de inscrição do advogado de uma base de dados informatizada, o que varreu do cotidiano
forense uma imensa ocorrência de vícios nas intimações relacionadas à indicação errônea dos advogados
da causa. Foi-se o tempo em que a feitura de tais intimações era dependente do tortuoso trabalho do
serventuário, de datilografar uma a uma as intimações, o que invariavelmente levava a erros de grafia ou
inclusão apenas parcial do nome dos patronos, gerando discussões posteriores sobre sua validade. De
todo modo, a regra é bem-vinda, para zelar pela maior segurança das intimações por publicação em
diários judiciais, eletrônicos ou não.

O § 5º do art. 272 estabelece que, se a parte pedir que a intimação seja feita em nome de determinados
advogados, o seu desatendimento implicará nulidade. É esta, pois, mais uma faculdade que a lei
expressamente confere à parte. Já era comum, no dia a dia forense, que tal pedido fosse formulado, sendo
também comum considerar-se viciada a intimação feita em nome de outros dos defensores, mesmo que
também constantes da procuração. Com a consolidação dessa prática na norma legal, elimina-se qualquer
divergência remanescente: feitas as intimações em nome de advogados outros, que não os indicados para
tal fim, a intimação será inválida.

Também para o fim de eliminar dúvidas acerca de fato bastante usual na prática, o § 6º estabelece que a
retirada dos autos em carga “pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado ou da
sociedade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público
implicará intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de
publicação”. O § 7º, por sua vez, autoriza a carga dos autos por “preposto”, desde que este seja
credenciado pelo advogado ou sociedade de advogados. Assim, há de se ter o cuidado ao se fazer essa
retirada, pois ainda que os autos sejam apenas levados para cópia e em seguida devolvidos, a parte é
considerada intimada de qualquer decisão contida nos autos, mesmo quando tenham sido retirados por
um mero preposto.

Os derradeiros parágrafos do art. 272 do CPC/2015 apontam a forma como se deve arguir eventual
nulidade da intimação, que, por sua vez, possa ter causado a perda do prazo. A princípio, segundo diz o §
8º, deve a parte apresentar o ato cujo prazo foi perdido em razão do vício de intimação, nele incluindo,
como preliminar, a alegação de nulidade da intimação. Se o vício for reconhecido, o ato é recebido como
tempestivo. Apenas se a parte necessitar prévio acesso aos autos para praticar o ato – e, por suposto,
embora omisso o texto, esse acesso não lhe esteja disponível no momento da manifestação – poderá a
parte peticionar para apenas arguir a nulidade da intimação, conforme expresso no § 9º. Se acolhida a
alegação de nulidade, o prazo para a prática do ato correrá da intimação dessa decisão.

Outra novidade, por fim, quanto à forma das intimações, é a previsão de que também podem ser
realizadas por hora certa ou edital (art. 275, § 2º, do CPC/2015). No Código anterior, só havia previsão
expressa para utilização dessas formas fictas de comunicação para a realização das citações, sendo
controversa a sua aplicação também para as intimações.

O art. 231 do CPC/2015 elenca oito incisos que fixam o momento do termo inicial dos prazos. Os incisos
I, II e IV repetem regras já existentes entre os incisos do art. 241 do CPC/1973. O § 4º do art. 231 do
CPC/2015, que merece ser desde logo mencionado, afirma que “aplica-se o disposto no inciso II do
caput à citação com hora certa”. Já era o que ocorria. Praticado o ato por hora certa, o termo inicial do
prazo é a data da juntada aos autos do mandado cumprido. Nos demais incisos do art. 231 do CPC/2015,
são encontradas algumas novidades, abaixo analisadas.

No inciso III, do art. 231, do CPC/2015, é previsto o termo inicial do prazo quando a citação for feita
pelo escrivão ou chefe de secretaria. Tendo a parte ou seu advogado comparecido ao ofício judicial e
recebido ali a citação ou intimação, está desde logo citada e essa data é o termo inicial do prazo. Se um
diário eletrônico for automaticamente publicado, carregando todos os atos judiciais praticados no dia
anterior, conforme exposto acima, essa regra se torna quase desnecessária por sua inutilidade: jamais
acontecerá esse fato, pois as partes seriam quase que imediatamente intimadas de todos os atos do
processo. Neste caso, a regra seria útil apenas para citar ou intimar quem não está ainda representado nos
autos, isto quando tal intimação se fizer necessária (ao revel, por exemplo, são dispensadas futuras
intimações).

O inciso V define o termo inicial para uma modalidade de intimação eletrônica que vinha prevista na Lei
nº 11.419/2006 e vem sendo aplicada em alguns sistemas de informatização processual utilizados pelo
Poder Judiciário. Segundo dispõe o inciso em questão, o termo inicial do prazo será “o dia útil seguinte
à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê,
quando a citação ou a intimação for eletrônica”. Diga-se, é uma forma confusa, insegura e bem mais
trabalhosa do que a publicação do Diário Eletrônico!

Quando a citação ou intimação for feita por carta, estabelece o art. 232 do CPC/2015 que caberá ao juiz
deprecado informar a realização do ato ao juiz deprecante, utilizando meio eletrônico. Assim, segundo o
art. 231, VI, recebida essa comunicação eletrônica pelo juízo deprecante, o termo inicial do prazo é a
data de sua juntada aos autos; na falta dessa comunicação, o termo inicial é a juntada aos autos da própria
carta com a citação ou intimação cumpridas, como já se encontrava previsto no CPC/1973.

O inciso VII afirma que o termo inicial do prazo é “a data de publicação, quando a intimação se der
pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico”. Não se trata propriamente de uma novidade, pois assim
já se entendia sob a lei anterior. O novo texto apenas o diz explicitamente. Note-se que, segundo o art.
224, § 2º, do CPC/2015, a data da publicação é o dia útil seguinte ao da “disponibilização da
informação no Diário da Justiça eletrônico”. São regras já previstas na Lei nº 11.419/2006, agora
incorporadas ao texto do Código.

Por fim, o dia da carga dos autos foi expressamente incluído no rol, figurando no inc. VIII desse mesmo
artigo, mas, tal qual a regra do inciso anterior, esta é apenas uma consolidação da lei acerca de
entendimento já previamente existente. A parte que faz carga dos autos está ciente de seu conteúdo,
considerando-se, portanto, de tudo intimada. Observe-se, novamente, que tal carga terá o efeito de
considerar a parte intimada de todos os atos do processo mesmo quando feita por mero preposto
autorizado, como previsto no art. 272, §§ 6º e 7º, do CPC/2015, já comentados acima.

No § 2º, do art. 231, define-se que “havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado
individualmente”. Considerando-se o que já foi dito acerca das intimações pelo Diário Eletrônico, eis
aqui mais uma vantagem sua: todas as partes são simultaneamente intimadas com a sua publicação. O
novo Código envereda por um caminho confuso, eliminando a fluência comum do prazo para os
litisconsortes, ou mesmo para ambas as partes, como, por exemplo, em situações em que a decisão, a
sentença ou o acórdão decidiram pela vitória parcial dos dois polos da causa. Imagine-se o tumulto
causado por diferentes datas de início do prazo, para cada parte ou litisconsorte. Mas é o que determina a
lei. Portanto, ocorridas as situações descritas nos incisos deste art. 231, em se tratando de intimação, o
prazo para a parte intimada passa a fluir independentemente do prazo para outros litisconsortes ou para a
parte contrária. Note-se que, como já comentado no capítulo próprio,35 quando não designada a audiência
de conciliação ou mediação, o termo inicial do prazo para contestação é marcado por um desses eventos
descritos nos incisos do art. 231 e, havendo litisconsortes passivos, o prazo, neste caso, é comum e tem
início na data em que o último desses eventos ocorrer, como previsto no § 1º desse mesmo dispositivo.
O § 3º do art. 231 distingue o termo inicial do prazo para ato a ser praticado diretamente pela parte, e
não por seu procurador. É o caso, por exemplo, de pagamento, desocupação de imóvel, entrega de
documentos ou coisas, cumprimento de obrigação de fazer, entre outras situações em que é expedida uma
determinação judicial para ser cumprida pela própria parte. Assim, diz o citado parágrafo que “o dia do
começo do prazo para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a
comunicação”. Sendo pessoal a intimação, feita por oficial de justiça ou pelo correio, o termo inicial do
prazo para cumprimento da ordem é o dia do recebimento da comunicação e não o da sua posterior
juntada aos autos do processo, excepcionando-se, neste caso, o disposto nos incisos I, II e VI, do caput.

2. Contagem dos prazos

A maior novidade do CPC/2015 a respeito dos prazos é o fim do chamado princípio da continuidade (art.
178, do CPC/1973), que determinava que todos os dias fossem considerados no cômputo do prazo, tanto
dias úteis como não-úteis. Segundo o art. 219 do CPC/2015, “na contagem de prazo em dias,
estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis”.

Com a revogação do art. 178 do CPC/1973, desconhecemos a existência de qualquer outra regra
aplicável aos processos civis que determine a contagem do prazo de forma contínua. Se houver, claro,
excepcionará, no âmbito de sua incidência, o disposto no art. 219 do CPC/2015. Não havendo tal
exceção, deve ser aplicada a nova regra a todos os processos não-penais, inclusive os que tramitam
perante justiças especializadas. Causa espécie a discussão que a extensão dessa regra tem gerado entre
os estudiosos. Negar vigência do prazo em dias úteis sem uma regra expressa que determine sua
contagem de forma contínua é uma interpretação baseada sobre o nada. Sem uma lei que determine o
prazo em dias contínuos, trata-se de mero exercício do voluntarismo do intérprete, sem qualquer apoio
nas boas regras de exegética.

É importante, neste caso, observar a unidade usada para definir a duração do prazo. Prazos em meses ou
anos continuam contados do mesmo modo como sempre se fez: vencem no dia correspondente ao dia do
início, no mês ou ano seguinte, conforme o caso, não importando o número de dias úteis ou não-úteis
ocorridos no período. A nova regra, pois, afeta somente a contagem dos prazos definidos em dias, sejam
os prazos de lei, sejam os fixados pelo juiz, quando aquela for omissa (art. 218, § ún., do CPC/2015).

A contagem em dias úteis, havendo feriados locais, tem sido exageradamente tratada como possível fonte
de dificuldades práticas, tendo sido essa, aliás, a motivação que sustentou um antigo veto a artigo de lei
que pretendeu instituí-la, ainda na vigência do CPC/1973.36 Suscitou-se, naquela ocasião, como razão
para o veto, a dificuldade de controle dos feriados locais por parte dos tribunais. Não concordo com essa
suposta verdade sabida, que, desde o trâmite do projeto do novo CPC, tem sido objeto de acaloradas
discussões. Com todo o orçamento que o Poder Judiciário nacional já despendeu com a informatização
de suas estruturas e do processo judicial, e diante das sabidas capacidades de processamento da
informação por essas maravilhosas máquinas, parece inacreditável que se alegue que a contagem em dias
úteis possa causar invencíveis dificuldades porque os tribunais não terão como saber quando é feriado.

Quanto aos feriados nacionais, por certo não haverá dificuldade.

Quanto aos feriados locais, aos tribunais superiores só importa saber quando é feriado nas comarcas
sede dos tribunais, isto é, nas Capitais dos Estados, ou, excepcionalmente para a Justiça do Trabalho, na
cidade de Campinas, onde é sediado o TRT da 15ª região. Os únicos prazos que os tribunais superiores
necessitam aferir, além dos que são inteiramente contados em Brasília, são os prazos recursais que
correram enquanto o processo se encontrava nos tribunais de segundo grau, sendo ali interposto o
recurso. Os tribunais locais e os tribunais superiores trocam imensos volumes de dados entre si, de modo
que não seria despropositado sugerir que, em tempo real, de forma automática e por meio das redes de
computadores, remetessem uns poucos bytes a mais numa comezinha tabela para informar quando foi
feriado na Capital em que têm sede. A informação sobre feriados locais nas muitas comarcas do país, por
sua vez, só é relevante para o órgão judicial da própria comarca ou para o tribunal de segundo grau
imediatamente superior. Causa espécie que tais tribunais não saibam ou encontrem alguma dificuldade
para saber quando é feriado nas comarcas onde funcionam os órgãos judiciais de primeiro grau sujeitos à
sua jurisdição. Os seus departamentos de recursos humanos devem sabê-lo, pois é dia em que não
trabalham os funcionários lotados no órgão local. Não parece difícil compartilhar as informações
administrativas do setor de pessoal com os sistemas informáticos de controle processual.

É com tristeza, portanto, que se lê a exigência absurda, porque demasiadamente primitiva, para que a
parte comprove “a ocorrência do feriado local no ato de interposição do recurso” (art. 1.003, § 6º, do
CPC/2015). Milhares de recursos precisarão, ano a ano, comprovar aos tribunais superiores que, por
exemplo, o dia 25 de janeiro, aniversário da fundação da cidade, é feriado local em São Paulo? E assim
ocorrerá, igualmente, nos processos oriundos das demais Capitais do país? Não seria mais inteligente e
eficiente anotar isso num sistema informático integrado, cujos desenvolvimento e manutenção não
parecem exibir absolutamente nenhuma complexidade? Embora o CPC/2015 tenha arduamente lutado
contra as armadilhas processuais e as formalidades inúteis – e este é sem dúvida um de seus maiores
méritos – nessa regra sobre o prazo recursal o amor cego aos infinitos requisitos de admissibilidade se
saiu vitorioso. Aos advogados, então, só resta agir com zelo redobrado ao interpor recursos e atender a
essa exigência inútil da lei, quando o prazo for dilatado por feriados ocorridos não apenas no final, como
também no meio da contagem.

Mais complexo do que o controle dos feriados previstos em lei – e tal problema já ocorria no regime do
CPC/1973 – é o controle dos dias em que excepcionalmente não houve expediente forense. Segundo
dispõe o art. 216 do CPC/2015, que atualiza a regra do anterior art. 175 do CPC/1973, além dos dias
declarados em lei, “são feriados, para efeito forense, os sábados, os domingos e os dias em que não
haja expediente forense”. Não houve propriamente uma inovação no sentido da norma, mas apenas o
reconhecimento legal de que por feriados, a lei processual considerava os feriados judiciários. Dias em
que somente o Judiciário tem folga, ou somente o serviço público, como o Dia da Justiça, em 8 de
dezembro, ou o dia 11 de agosto em algumas justiças, ou o dia do funcionário público, em 28 de outubro,
são, para o processo, considerados igualmente feriados. Portanto, não serão computados no prazo
contado apenas em dias úteis.

A contagem em dias úteis traz um novo significado político-filosófico para os feriados e os dias sem
expediente forense que são também havidos como feriados. Até o regime anterior, ao desconsiderar
apenas o feriado no início ou no fim do prazo, a lei somente se preocupava com a disponibilidade dos
serviços judiciais: no início do prazo, para que a contagem só começasse em um dia em que a parte
tivesse a oportunidade de acesso aos autos; no final do prazo, porque o guichê do protocolo deveria estar
operante, para que a petição fosse ali apresentada. Contado o prazo em dias úteis, reconhece a lei o
direito ao descanso do advogado, que diante de prazos curtos com contagem iniciada às quintas ou
sextas-feiras, via-se obrigado a trabalhar no final de semana, o mesmo acontecendo quando boa parcela
do prazo fosse contada durante feriados prolongados. Se a Justiça não funciona nesses dias, deve o
advogado igualmente gozar uma folga. Especialmente quando os autos estão sendo amplamente migrados
para o formato digital, tornando-se disponíveis 24 horas por dias, durante todos os dias do ano, e igual
disponibilidade é dada ao sistema remoto de protocolo, os feriados já não são contados porque os autos
ficaram indisponíveis ou porque o prédio do fórum está fechado, mas porque o advogado deve ter
assegurado o seu dia de descanso.

Diante disso, os dias inteiramente sem expediente forense devem ser excluídos da contagem dos prazos.
Mas, em se tratando de problemas excepcionais que atingiram os serviços judiciários, nesse caso o
tratamento deve ser diverso. A regra anterior que atrasava o primeiro ou o último dia do prazo por
irregularidade anormal do expediente forense (art. 184, § 1º, do CPC/1973) já não faz o mesmo sentido
em relação aos dias intermediários da contagem. Manteve-se aquela disposição no art. 224, § 1º, do
CPC/2015, quando “o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou
houver indisponibilidade da comunicação eletrônica”. O texto mereceria ter sido mais claro, para
evitar dificuldades práticas. Diversamente do que foi afirmado acima, essas disposições já não são
voltadas a assegurar o descanso do advogado, mas a restituir o correto tamanho do prazo que foi
prejudicado por algum dos eventos relacionados na norma em comento. Mas, nesse caso, a norma
menciona situações que ou se aplicam aos processos com autos físicos, ou se aplicam aos processos com
autos digitais. Se os autos são digitais, e se o sistema informático está operante, pouco importa que o
expediente do fórum foi alterado por fatos aleatórios, como, por exemplo, a dispensa antecipada dos
funcionários em razão de greves de transporte, tumultos políticos, jogos da seleção brasileira de futebol,
ou quaisquer acidentes que demandem a evacuação do prédio. Se os autos são físicos, e nenhuma
informação relevante para o ato se encontra exclusivamente no sistema informático judicial, neste caso a
indisponibilidade da comunicação eletrônica não há de ser causa de aplicação da regra do art. 224, § 1º.
Em resumo, essas situações de inacessibilidade parcial descritas nesse parágrafo, observados seus
respectivos efeitos concretos (isto é: inacessibilidade dos autos físicos, por funcionamento anômalo do
fórum, ou dos autos digitais, por problemas relacionados aos sistemas informáticos), não devem
repercutir na contagem em dias úteis, pois esse é um dia regular de trabalho para o advogado, mas
continuam a prorrogar o prazo quando ocorrem nos dias inicial ou final da contagem, porque causam
óbice à sua atuação, em prejuízo da duração total do prazo ou da prática do ato. Mas, claro, situações
ainda mais excepcionais (catástrofes naturais ou prolongada pane dos sistemas informáticos nos dias
intermediários da contagem) podem ser apreciadas caso a caso, dentre os motivos de justa causa (art.
223, do CPC/2015), cabendo ao magistrado, se for o caso, restituir o prazo à parte.

Parece certo que, quando local, o feriado que influi na contagem é o que atingir o órgão judicial perante o
qual o ato deva ser praticado. Enquanto o processo tramitar em primeiro grau, aplica-se, claro, os
feriados da comarca em que corre o processo. O advogado que patrocina causas em comarca diversa da
de seu escritório haverá de ficar atento aos feriados ocorridos na sede do juízo, não podendo
desconsiderar na contagem os do seu próprio domicílio profissional. Como a apelação e suas
contrarrazões são dirigidas ao órgão de primeiro grau, seus prazos também sofrerão influência apenas
dos feriados ocorridos na comarca. O mesmo se aplica aos demais recursos, que são interpostos perante
o órgão judicial que proferiu a decisão recorrida, não se computando no prazo os feriados havidos na
comarca em que tal órgão se encontra.

Por falta de maiores detalhes na lei, a contagem do prazo para o agravo de instrumento poderá suscitar
dificuldades práticas, já que o recurso tem origem em processo que está em primeiro grau, mas é desde
logo apresentado ao órgão de segundo grau. O art. 1.017, § 2º, do CPC/2015, prevê que o agravo poderá
ser apresentado tanto no protocolo do tribunal como no da comarca, além de admitir seu envio também
pelo correio, por fax, ou outra forma prevista em lei. Para os tribunais que já informatizaram todos os
novos processos, como é o caso do Tribunal de Justiça de São Paulo e vários outros, os agravos são
apresentados exclusivamente por meio eletrônico, via Internet, portanto. Diante desse quadro, parece-me
que, a priori, a contagem do prazo do agravo deve levar em conta os feriados da comarca em que tramita
o processo e não os do tribunal.

Em primeiro lugar, se os autos são físicos, é na comarca que poderão ser consultados, durante os dias de
expediente do órgão de primeiro grau. Em segundo lugar, se a nova forma de contagem tem por objetivo
assegurar o descanso do advogado, que, na maioria das vezes, é domiciliado na comarca, que o feriado
local possa ser por ele comemorado sem prejuízo de seu trabalho, podendo frequentar as quermesses,
cerimônias religiosas, desfiles e demais atividades típicas da comunidade local, ou simplesmente
usufruir o dia com sua família tal qual os demais munícipes. A ocorrência de feriados na comarca sede
do tribunal só parece relevante caso, não se tratando de petição a ser enviada por meio eletrônico, o
último dia do prazo for feriado na Capital. Ainda que o recurso possa ser interposto por outros meios
previstos nos incisos do art. 1.017, § 2º, esta norma cria opções diversas de interposição do recurso que
se colocam à escolha da parte. Sendo privada de uma dessas opções, o prazo há de ser prorrogado por
um dia. Mas os feriados na sede do tribunal que recaem no meio do prazo não hão de influir na contagem,
pois o processo ainda não guarda qualquer relação com a corte de segundo grau, nem com a comarca da
Capital onde está sediada.

Na hipótese de autos digitais e peticionamento eletrônico para interposição do agravo, somente os


feriados da comarca em que corre o feito haveriam de ser desconsiderados na contagem do prazo, não
importando sequer o feriado na Capital no derradeiro dia, desde que o sistema eletrônico de protocolo
esteja operante.

Tal como já previa a Lei nº 11.419/2006, em seu art. 10, § 1º, o ato praticado por meio eletrônico poderá
ser interposto até as 24 horas do último dia do prazo, segundo dita o art. 213, do CPC/2015,
considerando-se o fuso horário do órgão para o qual o ato é destinado, de acordo com o § ún. do mesmo
artigo. Também foi trasladada daquela Lei a regra que dispõe sobre o início da contagem do prazo,
quando a intimação é feita pelo Diário da Justiça eletrônico. Repete-se, no art. 224, § 2º, do CPC/2015, a
determinação constante do art. 4º, § 3º, da Lei nº 11.419/2006, de modo que o dia do termo inicial do
prazo (inapropriadamente chamado, em ambas as leis, de “data da publicação”) é o dia útil seguinte ao
da “disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico”, começando-se a contagem no
outro dia útil, após esse termo inicial.

Os prazos são suspensos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, conforme art. 220, do CPC/2015. São
também suspensos em razão de “obstáculo criado em detrimento da parte” ou pelos demais motivos
que dão ensejo à suspensão do processo, como reza o art. 221, do CPC/2015. Também podem ser
suspensos durante a execução de programas para a promoção da autocomposição, na forma do § ún. do
mesmo artigo. Como os prazos são contados apenas em dias úteis, a retomada da contagem se dará no dia
útil seguinte ao fim de quaisquer desses motivos de suspensão, sendo desnecessária a manutenção da
orientação constante da segunda metade do art. 179, do CPC/1973, que, por isso, não foi repetida no
CPC/2015.

Os prazos dobrados para litisconsortes recebem, no CPC/2015, algumas restrições. A mais relevante é a
do § 2º do art. 229, que afasta a aplicação dessa dobra para os processos em autos digitais. De fato, o
motivo para a dilatação do prazo para os litisconsortes, quando defendidos por patronos diferentes, é a
dificuldade que enfrentam para ter acesso simultâneo aos autos, com restrições à carga por apenas um
deles no curso dos prazos comuns. Sendo ubíquos os autos digitais disponíveis online, a regra perde sua
razão de ser, não havendo prejuízo aos litisconsortes a sua submissão ao prazo regular fixado em lei. Por
outro lado, o caput do art. 229 estabelece que, por “diferentes procuradores”, deve-se entender
procuradores “de escritórios de advocacia distintos”. Elimina, pois, o CPC/2015, a prática maliciosa
de se outorgar procurações diferentes a causídicos do mesmo escritório, tão somente para obter esse
benefício de prazo dobrado. Por sua vez, a dobra do prazo, nesses casos, independe de requerimento,
segundo afirma o mesmo dispositivo legal.

No mais, a forma de contagem não se altera. O dia do termo inicial não é contado, providência que, mais
do que fruto da regra legal, está correta em termos cronológicos. Assim, o primeiro dia da contagem é o
dia útil seguinte ao termo inicial do prazo, prosseguindo-se a contagem somente em dias úteis e, como no
CPC/1973, é incluído o dia do vencimento como dia ainda hábil à prática do ato.
Capítulo XI - Honorários advocatícios e despesas processuais

1. Obrigação de antecipação das despesas e responsabilidades decorrentes da


sucumbência

As regras sobre despesas, honorários e multas encontram-se previstas nos arts. 82 a 97 do CPC/2015.
Quanto à obrigação das partes de prover e suportar os custos do processo, o CPC/2015 introduz algumas
sensíveis modificações, embora a orientação geral que rege o tema permaneça a mesma, isto é, ao longo
do processo cada uma das partes deve adiantar as despesas relativas aos atos a que deu causa, exceto se
beneficiária da gratuidade processual; e ao autor incumbe suportar as despesas necessárias aos atos
determinados de ofício pelo juiz ou a requerimento do Ministério Público, quando este atua como custus
legis. É o que se encontra no art. 82 do CPC/2015, que reafirma o disposto no art. 19 do CPC/1973. E,
ao final, o vencido deve reembolsar o vencedor pelas despesas que este antecipou (art. 82, § 2º, do
CPC/2015), mais honorários de advogado a serem fixados pelo juiz, conforme as disposições constantes
daquela Seção, e que serão objeto dos comentários que se seguem.

Por ora, o tema será tratado sob o ângulo das situações em que as partes são economicamente capazes de
suportar os custos processuais, deixando-se o exame da gratuidade processual para o próximo Capítulo.

2. Critérios de fixação dos honorários

2.1. Disposições gerais

O art. 85, § 2º, traz ligeiras modificações sobre a fixação de honorários em relação ao que se encontra no
art. 20, § 3º, do CPC/1973. Os limites continuam fixados, de modo geral, entre dez e vinte por cento do
valor da condenação, como expressava o texto anterior, mas acrescentou-se que tal percentual também
será apurado sobre o “proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor
atualizado da causa”. A referência ao “valor da condenação” só se justifica no texto do novo Código
para manter em parte a já conhecida redação anterior, pois, a rigor, essa expressão está abrangida dentro
do sentido mais amplo de “proveito econômico da causa”. Este é o benefício economicamente
apreciável que a parte obtém da sentença, seja ele o reconhecimento de um crédito a receber – o valor da
condenação, portanto – seja o reconhecimento de que não o deve pagar por força de sentença de
improcedência ou de procedência de ação declaratória negativa da existência da obrigação, seja o valor
da coisa disputada, seja o benefício econômico representado pela anulação ou manutenção de cláusulas
contratuais, ou qualquer outro proveito econômico mensurável que seja alcançado pela parte como
resultado do processo.

As novas disposições tornaram claro o critério de fixação da verba honorária quando não se tratar de
sentença condenatória de obrigação em dinheiro. Deste modo, diferentemente do que previa o CPC/1973,
quando não houver condenação mas for possível aferir o proveito econômico obtido pela parte, este deve
ser considerado como base de cálculo para a fixação do percentual da verba honorária; não sendo
possível aferir o conteúdo econômico da disputa, somente nesse caso o valor da causa deve ser utilizado
como base de cálculo.

No Código anterior, não havendo condenação, dispunha o art. 20, § 4º, que esse era mais um caso de
fixação da verba por “apreciação equitativa do juiz”, em que a sentença simplesmente estima um valor
em moeda a título de honorários advocatícios. Mesmo assim, observa-se com certa frequência a
utilização do valor da causa como parâmetro, mas isso ficava a critério do juiz, a quem o CPC/1973
autorizou certo grau de discricionariedade, já que em seu texto não se lê nenhuma disposição expressa
acerca da utilização do valor da causa como base de cálculo, quando improcedente o pedido. Pelo
CPC/2015, essa “apreciação equitativa” na fixação da verba honorária só terá lugar, segundo o § 8º, do
art. 85, “nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o
valor da causa for muito baixo”.

No § 6º, do mesmo art. 85, estabeleceu-se que os critérios previstos no § 2º, acima comentado, como
também no § 3º, a ser tratado adiante, “aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo da
decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito”. Desse modo,
esclarece a lei mais uma vez que a fixação de honorários em um valor em moeda, por “apreciação
equitativa”, fica mesmo restrita às situações previstas no citado § 8º. Os novos critérios legais mostram-
se mais equitativos, especialmente no sentido de equilibrar os riscos da demanda entre autor e réu. Tanto
quanto seja apreciável o conteúdo econômico da causa, ou seu valor não seja irrisório, autor e réu
pagarão honorários um ao outro, quando vencidos, segundo os mesmos critérios e bases de cálculo. Com
isso, eliminou-se sobremaneira o subjetivismo na fixação dessas verbas, o que, muitas vezes, levava ao
deferimento de honorários vis. A regra será a aplicação dos percentuais definidos na lei, variando de dez
a vinte por cento sobre o resultado econômico (e a hipótese de condenação se encaixa nesse conceito
mais amplo) ou sobre o valor da causa, se aquele não for mensurável.

O § 9º estabelece regra peculiar para a fixação da base de cálculo, quando houver condenação a
indenização por ato ilícito contra a pessoa. No CPC/1973, o § 5º do art. 20 estabelecia que a base de
cálculo para aplicação do percentual de honorários, nesses casos, deveria ser a “soma das prestações
vencidas com o capital necessário a produzir a renda correspondente às prestações vincendas”; no
novo Código, a base de cálculo não mais é composta do capital, mas da “soma das prestações vencidas
acrescida de 12 (doze) prestações vincendas” (art. 85, § 9º). Note-se que é uma regra que apenas dispõe
sobre a base de cálculo, sobre a qual serão apurados os percentuais fixados segundo o § 2º, do art. 85.

Não são alterados, por seu turno, os critérios utilizados pelo juiz para justificar a aplicação de percentual
maior ou menor, dentro das margens mínima e máxima estabelecidas pela lei. Assim como no CPC/1973,
deve o magistrado levar em conta o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a
natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu
serviço. Repetem-se, assim, nos incisos do § 2º do art. 85, do CPC/2015, as mesmas orientações
constantes dos incisos do art. 20, § 3º, do CPC/1973. Esses elementos devem ser usados tanto para a
orientar a fixação dos percentuais, entre dez a vinte porcento, segundo este § 2º, como também para que o
juiz defina os percentuais aplicáveis nas causas em que a Fazenda for parte, segundo a tabela própria
definida no § 3º, comentada a seguir.

2.2. Honorários nas causas em que a Fazenda é parte

Entendeu por bem o legislador estabelecer parâmetros quantitativos mais claros para a fixação da verba
honorária nas causas em que a Fazenda Pública é parte. Trata-se de situação que tem suscitado
infindáveis controvérsias em nossos tribunais, não raro pela insurgência dos patronos da parte adversa,
que litiga com a Fazenda, diante da fixação de valores que representam proporções insignificantes sobre
o proveito econômico em disputa.
O CPC/1973 também incluía, entre os casos de “apreciação equitativa” constantes do art. 20, § 4º, as
causas em que “for vencida a Fazenda Pública”. A norma, que estabelecia mais um questionável
privilégio processual em favor da Fazenda, tinha como justificativa a necessidade de preservar o erário
(embora seja o caso de perguntar, especialmente diante da realidade concreta do país: seriam os
honorários advocatícios pagos proporcionalmente à condenação imposta à Fazenda a causa da bancarrota
estatal?).

Mantida a intenção do CPC/1973 – a preservação do patrimônio público – ao menos se pode dizer que o
novo CPC eliminou um odioso tratamento desigual. O texto do art. 85, § 3º, cria critérios diferenciados, e
a menor, em comparação com o parágrafo antecedente, para a fixação da verba honorária para todas as
causas em que a Fazenda for parte. Assim, são aplicáveis os mesmos critérios tanto contra ela como
também a seu favor.

A nova lei trouxe mais objetividade para a fixação da verba, estabelecendo uma tabela regressiva nos
incisos I a V desse mesmo § 3º, de modo que o juiz haverá de observar percentuais mínimo e máximo,
apurados sobre a condenação ou proveito econômico obtido, tal como ocorre com as demais causas. A
diferença reside na aplicação dessa tabela regressiva, que abaixa consideravelmente os percentuais
fixados no § 2º, conforme seja maior o valor do proveito econômico objeto da disputa, utilizando-se o
salário mínimo como critério atualizador da tabela (mas não da dívida, não esbarrando, portanto, na
proibição de se usar o salário-mínimo como indexador de obrigações).

Assinale-se que, embora nos incisos seja mencionado apenas o uso do “valor da condenação ou do
proveito econômico obtido” (texto que se repete em todos os incisos), lê-se no § 4º, III, do mesmo artigo
que “não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido,
a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor atualizado da causa”. Portanto, as bases de
cálculo para apuração de honorários percentuais, nas causas em que a Fazenda é parte, são as mesmas
previstas no § 2º para as demais causas. Isto é, havendo condenação ou proveito econômico mensurável,
estes são utilizados como base de cálculo dos percentuais a serem pagos a título de honorários; do
contrário, utiliza-se o valor processual da causa como base de cálculo. Reitere-se que aqui também se
aplica o disposto no § 6º, relativamente às sentenças de improcedência ou apenas terminativas.

Assim, de forma esquemática, temos a seguinte tabela no § 3º do art. 85:

I – até 200 SM – 10% a 20%

II – de 200 a 2.000 SM – 8% a 10%

III – de 2.000 a 20.000 SM – 5% a 8%

IV – de 20.000 a 100.000 SM – 3% a 5%

V – acima de 100.000 SM – 1% a 3%

Como, para aplicar-se uma tabela como essa, é necessário conhecer o valor monetário da condenação, os
incisos I e II do § 4º estabelecem, respectivamente, que, sendo líquida a sentença, cabe ao juiz fixar
desde logo cada um dos percentuais da escala; se ilíquida, os percentuais aplicáveis serão decididos
somente por ocasião de sua liquidação. Segundo o inciso IV do mesmo parágrafo, para apuração dos
patamares dessa tabela regressiva, será utilizado o valor do salário-mínimo da data da sentença líquida,
ou o da data da liquidação, conforme o caso.

Por fim, o § 5º ainda esclarece que, na aplicação da tabela regressiva, deve-se inicialmente fixar os
honorários segundo o inciso I, evidentemente até o limite ali fixado, aplicando-se os percentuais do
inciso II para os valores que excederem aos do inciso I, e assim sucessivamente.

Ou, exemplificadamente, supondo um salário-mínimo de R$900,00, esses seriam os valores da tabela:

I – até R$ 180.000,00 – 10% a 20%

II – de R$ 180.000,01 a R$ 1.800.000,00 – 8% a 10%

III – de R$ 1.800.000,01 a R$ 18.000.000,00 – 5% a 8%

IV – de R$ 18.000.000,01 a R$ 90.000.000,00– 3% a 5%

V – acima de R$ 90.000.000,01 – 1% a 3%

Considerando como base de cálculo o montante de R$ 20.000.000,00, caso seja esse o proveito
econômico ou o valor da causa, caberá ao magistrado fixar percentuais, dentre os limites máximo e
mínimo dos respectivos incisos, para os quatro primeiros patamares da tabela. Se, por exemplo, fixasse
em 12% para os limites do inciso I, 9% para o II, 6% para o III e 4% para o IV, assim seriam calculados
os honorários:

I – apuração de 12% até os limites do inciso I:

12,00% X R$ 180.000,00 = R$ 21.600,00

II – apuração de 9% sobre o que excede os limites do inciso I, até os limites do inciso II (R$
1.800.000,00 – R$ 180.000,00 = R$ 1.620.000,00):

9,00% X R$ 1.620.000,00 =R$ 145.800,00

III – do mesmo modo, apuração de 6% sobre o que excedeu ao valor anterior, até o limite do inciso III
(R$ 18.000.000,00 – R$ 1.620.000,00 = R$ 16.200.000,00):

6,00% X R$ 16.200.000,00 = R$ 972.000,00

IV – descontados os limites anteriores, a condenação ainda excede em R$ 2.000.000,00, sobre os quais


aplica-se o percentual definido para o quatro patamar:

4,00% X R$ 2.000.000,00 = R$ 80.000,00

Tudo somado, os honorários neste caso seriam de R$ 1.219.400,00.

3. Honorários progressivos

Uma das mais relevantes modificações sobre honorários advocatícios é a generalização da aplicação de
honorários progressivos, que podem ser aumentados ao longo do processo, tanto no correr do processo
de conhecimento como no de execução. Entenda-se por honorários progressivos qualquer critério de
fixação dessa verba de modo distribuído e crescente ao longo do processo. Contrapõe-se a um modelo
em que, uma vez fixados os honorários na sentença de primeiro grau, tal verba não mais se altere, não
importando o quanto o processo se estenda, nem o quanto a parte vencida resista, ou ceda, ou se utilize
mais ou menos dos meios processuais previstos em lei.

De algum modo, esse aumento da verba ao longo do processo já era timidamente previsto no CPC/1973,
de uma forma esparsa, quanto às execuções de sentença e no procedimento monitório. No novo Código,
isso se torna uma orientação geral.

A fixação de honorários advocatícios em desfavor do vencido atende a duas finalidades práticas.

A primeira, mais óbvia, é a de remunerar o advogado da parte vencedora. Tratando-se de atividade


exercida profissionalmente, da qual o procurador da parte retira o seu sustento, o mandato não é,
evidentemente, gratuito. O pagamento de honorários ao advogado da parte vencedora, prática que foi
amplamente institucionalizada pela Lei nº 4.632/1965, contribui para o acesso à justiça daqueles que,
embora tendo razão, ou, ao menos, grandes perspectivas de sucesso na demanda judicial, não tenham
condições de suportar completa e antecipadamente os honorários do seu defensor. Assim, diante da
perspectiva vislumbrada pelo advogado, de receber honorários finais pagos pelo adversário vencido,
maior facilidade terá esse litigante em encontrar profissional qualificado que o atenda. Cria-se, assim,
tanto um elemento facilitador para o ajuizamento de causas viáveis, quanto um desestímulo para a
propositura de aventuras judiciais, que se mostrem desde logo improváveis ou descabidas. Assim,
mesmo nesse aspecto meramente voltado a propósitos remuneratórios do patrono da parte, esse critério
adotado há meio século cria uma lógica de prêmios e riscos para facilitar ou desestimular,
respectivamente, o ajuizamento de demandas viáveis ou inviáveis.

A outra razão, por sua vez, é diretamente voltada para esse escopo de evitar demandas infundadas.
Sabendo a parte que poderá ser condenada a pagar tanto as custas do processo como os honorários de
advogado do patrono de seu adversário, isso se traduz em um importante freio ao ajuizamento de ações
com pouca ou nenhuma chance de sucesso. Adotando a fixação progressiva dos honorários, pode-se
ainda criar desestímulos também ao longo do processo, a inibir a interposição de recursos inviáveis ou
qualquer outro modo de resistência meramente protelatória à entrega final da prestação jurisdicional.

São esses os propósitos do CPC/2015. De um lado, com o aumento progressivo dos honorários ao longo
da demanda, o advogado do vencedor passa a ser remunerado de uma forma mais proporcional ao tanto
de trabalho que o processo dele exigiu. De outro lado, impõe a ambas as partes a necessidade de, ao
longo de todo o processo, aferir o risco e a oportunidade de continuar a recorrer das decisões proferidas.

Na realidade anterior, do CPC/1973, esse objetivo de evitar demandas infundadas só se mostrava


praticamente eficaz para inibir o ajuizamento inicial da causa. O freio representado pelo receio de ser
sucumbente só se apresentava nesse momento, para aquele que desejasse ir a juízo. Uma vez que a ação
fosse proposta, não havia, no CPC anterior, mais nenhum estímulo para que as partes – tanto o autor
quanto o réu - abreviassem voluntariamente o processo por ato de disposição unilateral, renúncia,
reconhecimento, não interposição de recursos contra a decisão final, ou mesmo a transação bilateral.
Num modelo assim, os riscos resultantes de ganhar ou perder a causa se mostram invariáveis ao longo do
processo.
Aos poucos, nas reformas aplicadas ao CPC/1973, o sistema incorporou algumas regras pontuais que
davam um caráter de progressividade às verbas suportadas ao final pelo vencido, que mais e mais
resistisse à entrega da prestação jurisdicional. Tais disposições produziram um notável sucesso em
abreviar os feitos, com especial destaque para a multa inserida pela Lei nº 11.232/2005 no art. 475-J do
CPC/1973. Embora não se tenha notícia de estatísticas comparativas sobre o quanto essa nova regra
estimulou o depósito ao início da execução, em detrimento daquela atávica opção de oferecer coisas
quaisquer à penhora, como era muitíssimo frequente até o advento dessa lei de 2005, o aumento de casos
em que o executado optou pelo pagamento inicial da execução foi perceptível no dia a dia profissional de
todos aqueles que militam no foro.

Enfim, se o chamado princípio da sucumbência tem por finalidade estimular uma atuação mais
responsável por parte dos litigantes, o aumento progressivo dos valores a pagar, distribuído ao longo
das fases processuais, cobra-lhes – de ambos os litigantes – mais responsabilidade durante todo o
desenvolvimento da causa.

Esse novo cenário exigirá dos advogados das partes uma outra postura no decorrer do processo, voltada
a avaliar riscos de sucesso durante todo o curso do procedimento, para bem orientar o cliente a decidir
se prossegue com a discussão, ou se não é melhor curvar-se ao resultado e evitar correr o risco de que as
coisas piorem ainda mais.

É de se esperar que a novidade possa proporcionar bons resultados no sentido de diminuir o número de
recursos ou abreviar os feitos, diante da experiência concreta trazida com a instituição da multa do art.
475-J, do Código anterior. Parece claro, porém, que, neste caso, tais bons resultados dependerão de dois
fatores: que os aumentos progressivos que os tribunais fixarão não sejam insignificantes e que as
decisões das instâncias inferiores se mostrem robustas e convincentes, bem fundamentadas como o
CPC/2015 minuciosamente exige e espera.37 Se o Judiciário sinalizar que os aumentos progressivos não
passarão de migalhas, a parte vencida, mesmo que nitidamente sem razão ou sem bons argumentos diante
do conjunto das provas colhidas e da qualidade dos fundamentos da sentença desfavorável, continuará a
vislumbrar vantagens econômicas levar o feito adiante, e não se inibirá em interpor recursos feitos na
base do copy and paste, cujo propósito evidente não é o de vencer, mas retardar o processo o mais
possível, ou cansar o adversário. Por outro lado, de decisões aleatórias não há como fazer qualquer juízo
racional de viabilidade do recurso; quando o jurisdicionado percebe que absolutamente qualquer coisa
pode emergir do julgamento final, mesmo quem está consciente de ter pouca ou nenhuma razão se sentirá
tentado a arriscar a sorte, lançando seus dados na espera de algum descuido ou distração por parte da
Corte.

Feitas essas considerações sobre as possíveis consequências práticas que a boa aplicação dessa norma
poderá produzir, passemos ao exame do novo texto legal.

O art. 85, em seu § 1º, afirma que “são devidos honorários advocatícios na reconvenção, no
cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos
interpostos, cumulativamente”. O texto resume em um único dispositivo situações que se encontravam
dispersas na lei anterior, ou eram objeto de controvérsia, e a elas acrescentou a imposição de honorários
em grau recursal.

Adiante, no § 11 do mesmo artigo, está expresso que, no julgamento dos recursos, os honorários serão
majorados de ofício pelo tribunal.
O texto, a princípio, não distingue os recursos sobre os quais incide a nova norma, nem distingue se o
recurso foi julgado a favor ou contrariamente ao recorrente. Isso poderia ter sido melhor apresentado
pelo novo CPC, o que, no entanto, não ocorreu, deixando margem para as mais variadas interpretações.
Não há motivos, igualmente, para deixar de aplicar honorários recursais contra a Fazenda Pública,
sempre que esta apresentar recurso voluntário nas causas em que a sentença não esteja sujeita a reexame
necessário, situações essas que foram alargadas pelo CPC/2015.38

No tocante ao resultado do recurso, seria mais apropriado entender que a majoração só se aplica quando
o recorrente fosse mais uma vez vencido. Afinal, como dito acima, uma das finalidades da nova
orientação legislativa é a de direcionar as partes para uma atuação mais responsável. Nesse sentido, não
se vê motivos para aumentar a verba honorária fixada na sentença, quando, diante do recurso, ela passa a
ser imposta àquele que havia anteriormente vencido e não interpôs qualquer recurso. No que diz respeito
à remuneração do patrono vencedor, este já estará sendo premiado com a reversão do julgamento, eis
que, nos termos da sentença, nenhuma verba honorária ele teria recebido, pois seu cliente fora vencido.

Já no tocante aos recursos, parece razoável compreender que isso se aplica tão somente aos recursos
interpostos contra decisões finais, as mesmas, aliás, que já impuseram verba honorária ao vencido. Ou
seja, na apelação de sentença, ou no agravo que passa a ser cabível para desafiar sentenças que julgam
parcialmente o mérito, e nos recursos especial e extraordinário interpostos contra acórdãos finais, que,
igualmente, tenham fixado verba honorária. Enfim, se a decisão recorrida comportou fixação de verba
honorária, aplica-se ao recurso interposto contra ela a regra do § 11 do art. 85.

Não se deve desconsiderar, sob o ângulo de uma atuação responsável das partes, que é propugnada pelo
novo CPC, que nas execuções o recurso mais frequente é o agravo, que pode ser interposto contra
diversas decisões relativas à forma da execução. Mas, para as execuções, há regra própria de
progressividade da verba honorária no art. 827, que será adiante comentada, de modo que não parece
necessário que a regra do § 11 seja aplicável a tais agravos.

Um detalhe interessante a acrescentar, em termos de simplificação do processo, é que a nova sistemática


torna dispensável a interposição de recurso adesivo pela parte vencedora, caso pretenda apenas a
majoração dos honorários advocatícios fixados pelo órgão a quo. Tal aumento, nos casos em que é
aplicável, será imposto de ofício pelos magistrados que julgarem o recurso e independentemente de
qualquer requerimento da parte nas contrarrazões, já que a lei não o exige.

Há também progressividade, vista neste sentido de aumentar ou reduzir a verba honorária conforme a
parte opte por continuar a resistir ou por ceder antecipadamente, no art. 90, § 4º, que reduz pela metade
os honorários impostos ao réu que reconhece a procedência do pedido e simultaneamente cumpre a
prestação reconhecida. A regra poderia ter sido melhor elaborada, para que não parecesse tão casuística.
Haveria de ser dirigida também ao autor que renunciasse ao direito sobre que se funda a ação. E, claro,
nem sempre o pedido é condenatório, de modo que a lei também deveria estimular o réu que reconhece
pedidos meramente declaratórios ou constitutivos, em que não há prestação alguma a cumprir
posteriormente, de modo que a mera homologação do ato de disposição já seja bastante para satisfazer a
parte (como, p. ex., em ações para declarar a inexistência ou desconstituir um débito, ou outros tipos de
relação jurídica). Assim, esse estímulo indireto à solução autocompositiva também se estenderá aos
litígios que não tenham caráter patrimonial. Nada obsta, evidentemente, que assim seja entendida e
aplicada a regra pelo Poder Judiciário; entretanto, seria conveniente que a lei o dissesse expressamente,
pois isso seria uma garantia prévia – e independente de interpretações posteriores do órgão judicial – de
que o réu, se reconhecer o direito desde logo, terá fixados contra si honorários reduzidos à metade na
sentença que só será dada posteriormente.

Aos magistrados que concordarem com essa interpretação, que então indiquem, desde logo, no despacho
inicial, que o réu gozará desse “desconto”, caso reconheça, total ou parcialmente, do direito do autor.
Assim, o réu terá a certeza de que, mesmo em se tratando de causa de natureza não-condenatória, que
escape à literalidade da norma do art. 90, § 4º, sua disposição em ceder será igualmente premiada.

O texto do art. 90, § 4º, diz que os honorários serão reduzidos pela metade. Porém, no momento em que o
réu praticar tal ato, não há nenhuma fixação de honorários, apenas a perspectiva de que serão fixados na
sentença que homologará a renúncia. Isso significa dizer que a sentença deve arbitrar normalmente os
honorários, levando em conta os parâmetros legais aplicáveis, segundo os valores máximos e mínimos
constantes dos §§ 2º e 3º do art. 85 (no segundo caso, na hipótese de ato de disposição do particular que
litiga com a Fazenda), que só serão devidos pela metade caso seja satisfeito integralmente o direito do
autor. Se alguma resistência persistir, ou demora inaceitável na satisfação da prestação, os honorários
fixados na sentença serão aplicados em sua integralidade.

Note-se, neste sentido, que o texto se mostra muito afinado com um determinado tipo de prestação a
cumprir: o pagamento em dinheiro. Dizendo o parágrafo que é condição para o abatimento dos honorários
sucumbenciais cumprir integral e “simultaneamente” a prestação reconhecida, parece claro que, em se
tratando de obrigação em dinheiro, deve o réu providenciar o imediato depósito judicial da quantia, tão
logo apresente a petição com o reconhecimento. Porém, a depender do conteúdo de algumas obrigações
de dar coisa ou de fazer, o réu nem terá como cumpri-las simultaneamente com a apresentação do
reconhecimento. Pense-se, por exemplo, na entrega de uma coisa de grande porte, um maquinário
industrial, por exemplo. O transporte e o recebimento, pelo autor, de um bem assim precisam ser de
algum modo organizados e agendados, não sendo esperado, nem pelo credor, que o réu simplesmente
apareça com um caminhão à sua porta, para despejar ali a coisa devida.

Como sugestão, em causas dessa natureza pode o autor mencionar na petição inicial em que
circunstâncias o réu poderá, em certo prazo, cumprir a obrigação em caso de reconhecimento, o que, se
parecer razoável aos olhos do juiz, pode ser deferido expressamente no despacho da inicial, constando
do mandado.

Há, ainda, outras formas de aumento progressivo dos honorários finais em disposições espalhadas ao
longo do CPC/2015.

Para o cumprimento de sentença, manteve o legislador o mecanismo “estimulante” constante do art. 475-J
do CPC/1973, mas de forma mais precisa do que constava daquele texto anterior. Assim, ficou claro, no
art. 523 do CPC/2015, que o executado será intimado a cumprir a sentença condenatória e pagar o débito
no prazo de 15 dias. Não pago o débito nesse prazo, haverá o acréscimo de multa de 10%, como já
previa o referido art. 475-J da lei anterior, mais 10% de honorários advocatícios. Se parcial o
pagamento, a multa e os honorários incidirão sobre o restante, conforme disposto no § 2º.

Esses honorários fixados em execução são independentes e não se confundem com os já fixados na
sentença, aos quais se somam. Assinale-se, neste sentido, que o § 11 do art. 85, ao dispor sobre a verba
honorária em recurso, aponta que os limites dos §§ 2º e 3º do mesmo artigo são estabelecidos para a fase
de conhecimento. Em execução de sentença, como tem sido compreendido pela jurisprudência atual, há
incidência de novos honorários caso a obrigação não seja cumprida desde logo.

Para as execuções fundadas em título executivo extrajudicial, nota-se também a previsão da


progressividade de honorários, conforme se observa no art. 827 e seus parágrafos. Ao despachar a
inicial, diz o caput desse artigo, o juiz fixará honorários de 10% a serem pagos pelo executado. Mas, se
este pagar a dívida em até 3 dias – evidentemente contados de sua citação,39 embora não o diga o texto –
os honorários devidos são reduzidos à metade, segundo dispõe o § 1º. Por fim, de acordo com o § 2º
desse artigo, o valor de honorários fixado inicialmente pode ser elevado no correr da execução, para até
20% “quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos os
embargos, ocorrer ao final do procedimento executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo
advogado do exequente”. Conforme o executado resistir mais e mais à execução, mesmo sem interpor
embargos, isso poderá ser levado em conta pelo magistrado para fixar honorários em caráter final na
própria execução. Essa resistência pode decorrer, por exemplo, da interposição de um ou mais agravos
contra a forma da execução, desde que, é claro, o executado seja vencido nesses recursos. Daí ter sido
afirmado acima que não seria cabível, por desnecessária, a fixação de honorários recursais nesses casos.
O comportamento do executado como um todo pode e deve ser considerado pelo magistrado para o fim
de elevar o montante da verba honorária devida nas execuções.

O disposto no § 2º desse art. 827 parece igualmente aplicável às execuções de sentença, para o fim de
elevar os honorários caso haja resistência injustificada do executado, ou a execução se mostre igualmente
trabalhosa para o exequente. Assim, no cumprimento de sentença, o atendimento do comando no prazo de
15 dias dispensa o executado de qualquer verba adicional, cabendo-lhe pagar tão somente o que foi
fixado na sentença. Após o prazo, incide a multa de 10% e os honorários de igual percentual. Mas, se no
correr da execução ainda houver resistência injustificada do devedor, ou a interposição de agravos em
que se saiu vencido, cabível elevar a verba honorária, também nesses casos de execução de título
judicial, para até 20%, aplicando-se subsidiariamente o parágrafo ora comentado.

Segundo o art. 85, § 7º, “não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda
Pública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada”. Portanto, à
Fazenda, quando executada, não se aplicam essas disposições sobre honorários no cumprimento de
sentença, seja para o pagamento inicial, seja pelo desenvolvimento do processo, a menos que sejam
opostos embargos, caso em que, na respectiva sentença, novos honorários podem ser fixados e impostos
à parte vencida. Assinale-se que essa regra se refere aos honorários acrescidos em razão do cumprimento
de sentença (art. 523, § 1º, do CPC/2015); não se refere, claro, aos honorários fixados na sentença,
segundo os parâmetros do art. 85, § 3º.

Além dessas disposições, a progressividade da verba honorária já antes prevista para o procedimento
monitório é ligeiramente modificada no novo CPC. No regime anterior, o réu do procedimento monitório
estaria dispensado do pagamento de custas e honorários se cumprisse o mandado de pagamento no prazo,
conforme art. 1.102-C, do CPC/1973. Não o fazendo, sujeitar-se-ia aos honorários a serem fixados pelo
magistrado. No novo Código, ao despachar a inicial, o juiz fixará honorários de 5% do valor da causa,
segundo seu art. 701. A tempestiva atenção ao mandado, neste caso, dispensará o réu apenas do
pagamento das custas, como se lê no § 1º desse artigo. Constituído o título judicial, se for o caso,
aplicam-se, quanto aos honorários incidentes sobre a sua execução, as regras já tratadas acima. Em
havendo embargos, a sentença que os julgar fixará verba honorária autônoma, que, em caso de sair-se
vencido o réu, se somará aos 5% fixados inicialmente.
4. Outras disposições sobre honorários

Além das questões acima tratadas, o novo Código traz uma série de novidades ou pequenas modificações
acerca dos honorários de sucumbência.

Na esteira da orientação jurisprudencial dominante, o CPC/2015 consagrou o caráter alimentar dos


honorários advocatícios, o que se torna disposição legal expressa, no art. 85, § 14.

O mesmo dispositivo ainda instaura uma novidade, a reger a aplicação da verba honorária nas causas em
que houver sucumbência parcial. Pela nova regra, é descabido compensar honorários, isto é, em caso de
procedência parcial da demanda, devem ser fixados honorários ao autor e ao réu, apurados, cada qual,
segundo a proporção em que foram sucumbentes, não se compensando os valores. Noutras palavras,
tendo o autor formulado pedido de R$ 100.000,00 e obtido sua procedência parcial para apenas R$
70.000,00, o juiz deverá fixar percentual de honorários em favor do autor, calculados sobre a
condenação, e em favor do réu, sobre o montante em que o autor restou vencido, isto é, os R$ 30.000,00.
Supondo-se a aplicação do piso de 10%, o réu deverá pagar, além da condenação principal, R$ 7.000,00
ao advogado do autor, e este deverá pagar R$ 3.000,00 ao advogado do réu, vedada a compensação entre
tais verbas. É mantida, no entanto, a disposição anterior que afasta a imposição das verbas de
sucumbência à parte que decaiu em proporção mínima do pedido, como previsto no art. 86, § ún., do
CPC/2015, respondendo o vencido pela integralidade das despesas e honorários.

O novo Código também estabelece expressamente a possibilidade de expedição do mandado de


levantamento em favor da sociedade de advogados integrada pelo patrono da parte, se este o requerer,
segundo o § 15, do art. 85. Tem sido comum essa concessão, pelo magistrado, orientação essa que a nova
lei consolidou. Se o advogado mantém uma sociedade regular como forma de exercer sua profissão, e
nela contabiliza todos os seus recebimentos e despesas e se sujeita ao regime fiscal próprio das pessoas
jurídicas, torna-se muito oneroso, quando não lhe causa dificuldades contábeis, fazer o levantamento em
nome da pessoa física.

Uma questão que tem gerado alguma polêmica em nossos tribunais é a possibilidade, ou não, de contagem
de juros sobre o valor da verba honorária, quando esta é definida em valor nominal na sentença. Afinal,
quando fixados em percentual sobre a condenação, sua apuração sucede o acréscimo de juros e correção
monetária sobre o principal, de modo que apurados os honorários ao final, sobre o valor utilizado como
base de cálculo estão embutidos os juros. Mas, quando fixados em moeda, ora se aceitava a inclusão de
juros, ora era determinada a mera atualização monetária da quantia fixada no julgado. A jurisprudência
do STJ já havia reconhecido a incidência de juros nesses casos. O art. 85, § 16, pacifica e uniformiza a
questão: quando a verba honorária é fixada em quantia certa, incidirão juros a partir do trânsito em
julgado da decisão. Não se lembrou o legislador, porém, de dar tratamento expresso a esse problema nas
demais situações em que os honorários não são apurados sobre a condenação em dinheiro, mas com base
no valor da causa, ou, como agora instituído expressamente pela lei, sobre o proveito econômico. Por
analogia, deve-se aplicar a essas hipóteses a mesma regra do § 16, aplicando-se juros desde o trânsito
em julgado.

Caso a sentença seja omissa na fixação da verba honorária, essa poderá ser pleiteada pelo advogado em
ação autônoma, a ser ajuizada contra a parte contrária vencida, segundo o art. 85, § 18. Evidentemente,
enquanto no prazo, cabem embargos de declaração para que essa omissão seja sanada. A regra do § 18 é
aplicável apenas quando transitar em julgado sentença totalmente omissa a respeito da fixação da verba
honorária. Se a verba foi negada expressamente pela sentença, a questão pode ser objeto de recurso,
sujeitando-se à decisão superior; mas não será o caso de aplicar-se este § 18, quando os honorários
foram expressamente excluídos do julgamento final.

Sendo vencidos os litisconsortes, trouxe o novo CPC mais algumas disposições tendentes a eliminar
dúvidas sobre o quantum devido por cada um deles. Segundo o art. 87, § 1º, caberá ao magistrado
estabelecer expressamente na sentença, se for o caso, a proporção das despesas e honorários
advocatícios devidos por cada um dos litisconsortes. Em sendo omissa a sentença, dispõe o § 2º desse
mesmo artigo que todos os litisconsortes são igualmente solidários pelo pagamento dessas verbas.

Outra regra nova, presente no § 10 do mesmo artigo, estabelece que “nos casos de perda do objeto, os
honorários serão devidos por quem deu causa ao processo”.

5. Novas disposições sobre custas e despesas

Como afirmado no início deste Capítulo, mantém-se no novo CPC a obrigação das partes de adiantar o
pagamento das despesas a que deram causa, conforme disposto no art. 82, caput. Repete-se, também, a
regra que impõe ao autor o dever de antecipá-las, quando o ato for determinado de ofício pelo juiz ou a
pedido do Ministério Público.

Observe-se, entretanto, que o art. 95 abre uma exceção a essa forma de distribuição. No tocante à
remuneração do perito, esta será devida pela parte que requereu a perícia, como no CPC/1973, mas, se
determinada de ofício ou requerida por ambos os litigantes, diz o novo texto que tais despesas serão
rateadas pelas partes, e não mais adiantadas exclusivamente pelo autor.

Uma novidade, tendente a estimular a transação entre as partes, estabelece que, ocorrida a transação
“antes da sentença, as partes ficam dispensadas do pagamento das custas processuais remanescentes,
se houver” (art. 90, § 3º).
Capítulo XII - Gratuidade da justiça

O regramento da gratuidade processual era previsto no Código de Processo Civil de 1939. Após, a Lei
1.060/1950 passou a reger a matéria, revogando o capítulo correspondente do CPC de 1939. Ausente do
CPC/1973, que se referia a ela apenas em alguns artigos isolados, a justiça gratuita voltou a ser
codificada no CPC/2015, que dedica ao tema os arts. 98 a 102, além de algumas outras disposições
esparsas.

O CPC/2015 revoga em parte a Lei nº 1.060/50, passando a regular em seu texto a concessão de justiça
gratuita, ou gratuidade da justiça, expressão que foi adotada pelo legislador. Segundo o art. 1.072, III,
do CPC/2015, são expressamente revogados os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da sexagenária Lei de
Assistência Judiciária (LAJ). É de se estranhar o fato de o legislador não ter optado pela sua revogação
total, com a completa absorção da matéria pelo novo Código, pois vários dos dispositivos que não são
ali expressamente revogados o foram tacitamente, uma vez que o CPC/2015 regulou a questão por inteiro.
É o que se observa no art. 5º, caput (revogado tacitamente pelo art. 99, § 2º, do CPC/2015) e seu § 5º (v.
art. 186, §§ 1º e 3º, do CPC/2015), no art. 10 (v. art. 99, § 6º, do CPC/2015) e no art. 13 (v. art. 98, §§ 5º
e 6º, do CPC/2015).

Quanto aos demais dispositivos da LAJ, que não foram revogados expressa nem tacitamente, alguns são
apenas textos formais que se referem à aplicação e vigência daquela mesma lei (arts. 1º e 19). O art. 8º
estende as situações previstas no art. 7º, que foi revogado expressamente, sendo duvidoso que possa
aquele manter-se em vigor. Outras normas restantes aparentemente caíram em desuso diante da ampliação
e capilaridade alcançadas pelo serviço de assistência judiciária, de modo que, como relevantes, ficaram
mantidos em vigor os arts. 9º e 16, caput, que preveem, respectivamente, que os benefícios se estendem a
todas as instâncias e que o mandato dado ao advogado privado pode ser outorgado mediante registro em
ata de audiência (a dispensa de apresentação de instrumento de mandato, quando a parte é defendida pela
Defensoria Pública, constante do parágrafo único do art. 16, da LAJ, encontra-se prevista na Lei
Complementar nº 80, em seus arts. 44, XI, 89, XI e 128, XI).

Em seção intitulada “Da gratuidade da justiça”, contendo os arts. 98 a 102, além de outras disposições
ao longo do texto, o regramento da matéria foi incorporado ao novo Código. Tendo em vista o disposto
no art. 15, do CPC/2015, essas disposições codificadas acerca da gratuidade processual são aplicáveis
subsidiariamente aos processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos.

A fórmula legal que define o perfil econômico do assistido foi simplificada, passando o novo CPC a
dizer que tem direito ao benefício da gratuidade aquele sujeito que se apresente “com insuficiência de
recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários advocatícios” (art. 98). A novidade
maior, neste ponto, é a expressa referência à possibilidade de concessão do benefício às pessoas
jurídicas que também se enquadrem nesse mesmo critério, o que já vinha sendo aceito pela doutrina e
jurisprudência mais atuais.

O CPC/2015 mantém a presunção de veracidade da declaração feita apenas pelo requerente pessoa
natural, em que afirme não ter condições de arcar com as despesas do processo (art. 99, § 3º). A pessoa
jurídica, então, deverá expor fundamentadamente a sua situação econômica, e eventualmente prová-la,
como pressuposto para a concessão de gratuidade.
Segundo dispõe o art. 105, os poderes para “assinar declaração de hipossuficiência econômica” devem
ser expressamente outorgados ao advogado no instrumento de mandato. Desse modo, o requerimento de
gratuidade processual ou será subscrito pela própria parte requerente, que haverá de assinar em conjunto
a petição em que o requerimento foi feito, ou por advogado que tenha recebido poderes especiais para
esse fim, constantes do instrumento de mandato.

O benefício compreende os itens previstos nos incisos do art. 98, § 1º, do CPC/2015, que repete em
grande parte o teor do art. 3º da LAJ. Como novidades nesse rol, encontram-se os honorários de
intérprete ou tradutor (v. inc. VI, do § 1º) e emolumentos devidos a notários ou registradores para atos
notariais ou registrais necessários “à efetivação de decisão judicial ou à continuidade do processo
judicial” (v. inc. IX). De todo modo, os incisos do art. 98, § 1º, assim como a norma anterior contida na
LAJ, representam uma enumeração meramente exemplificativa da abrangência da gratuidade, eis que o
benefício decorre de garantia constitucional e não comporta limitação em sua extensão. A isenção,
portanto, deve abranger todas as despesas para a prática ou eficácia de atos necessários ao acesso à
justiça do hipossuficiente. Desde a inserção do inciso VII ao art. 3º da LAJ, por força da Lei
Complementar nº 132, ficou claro que o rol é meramente exemplificativo, sendo tal regra agora
transposta para o art. 98, § 1º, VIII, do CPC/2015, que confirma a dispensa de demais pagamentos
necessários “para a prática de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do
contraditório”.

É de se esperar que a constante polêmica quanto ao pagamento de honorários periciais e custas para a
execução da perícia seja de vez pacificada pelo CPC/2015. Segundo disposto no art. 95, § 3º, incisos I e
II, do novo Código, tal perícia deve ser custeada pelo Estado, seja quando feita por órgão público, seja
quando por particular, caso em que os valores deverão ser tabelados pelo tribunal ou pelo CNJ. À
Fazenda é assegurado o direito ao ressarcimento desses valores, que poderão ser executados contra o
vencido (art. 95, § 4º).

Quanto à forma de requerer o benefício, foi mantida a simplicidade constante da LAJ, sanando-se
eventuais dúvidas interpretativas que essa lei anterior por vezes suscitava. Assim, de forma mais clara,
diz o art. 99 do CPC/2015 que “o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição
inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso” ou, ainda,
“por petição simples” apresentada apenas para esse fim, se o pedido é formulado a qualquer tempo,
conforme § 1º desse mesmo dispositivo. Não há, portanto, qualquer formalidade específica para o
pedido, ficando claro que será apresentado e decidido nos próprios autos.

Com o disposto no § 2º do art. 99, do CPC/2015, é de se esperar maior presteza no deferimento inicial
do benefício, eis que o juiz só pode indeferi-lo de plano “se houver nos autos elementos que evidenciem
a falta dos pressupostos legais para a concessão da gratuidade”. Mais explícito do que o revogado art.
5º, caput, da LAJ, parece claro que não pode o juiz exigir qualquer prova ou formalidade adicional do
requerente, evitando-se delongas ou constrangimentos, lembrando-se mais uma vez que a declaração de
insuficiência de recursos prestada por pessoa natural goza de presunção de veracidade. Ademais, o freio
a pedidos de gratuidade que, mais do que descabidos, soem abusivos ou atentatórios à seriedade da
justiça, encontra-se previsto no art. 100, § único, do CPC/2015, que, repetindo o teor do art. 4º, § 1º, da
LAJ, impõe multa de até dez vezes o valor das custas em caso de comprovada ou evidente má-fé do
requerente.

Além da referência expressa, feita no caput do art. 99, do CPC/2015, acerca da possibilidade de requerer
a gratuidade em razões de recurso, o § 7º explicita que tal pedido tem o efeito imediato de dispensar o
recorrente do recolhimento do respectivo preparo, submetendo-se a questão ao relator, que fixará novo
prazo para o recolhimento da taxa em caso de indeferimento do benefício.

Seguindo a orientação predominante na jurisprudência nacional, o art. 99, § 4º, do novo CPC, afirma que
o patrocínio do requerente por advogado particular não impede a concessão da gratuidade. Entretanto, se
houver recurso voltado exclusivamente a pleitear ou majorar os honorários advocatícios devidos ao
advogado do beneficiário, o preparo será devido (art. 99, § 5º). O vocábulo exclusivamente, empregado
nesse parágrafo, deixa claro que, em caso de recurso mais amplo no interesse do assistido, o preparo não
será devido, mesmo que a insurgência do recorrente também abranja a majoração da verba honorária a
ser paga pelo adversário.

O CPC/2015 suprimiu a multiplicidade de petições simultaneamente apresentadas pela mesma parte.


Assim como eliminou a exceção de incompetência ou a impugnação ao valor da causa como peças
autônomas, cabendo ao réu suscitar tais questões em preliminar de contestação, do mesmo modo será
apresentada pelo réu a impugnação da gratuidade pleiteada pelo autor (v. art. 337, XIII). Se foi pedida
pelo réu, a gratuidade poderá ser impugnada pelo autor em réplica; se em recurso, impugna-se nas
contrarrazões; ou, feito o pedido a qualquer tempo, a parte contrária poderá impugná-lo também por
petição simples, nos próprios autos, a ser apresentada em 15 dias, tudo conforme o disposto no art. 100
do CPC/2015.

Não parece razoável, entretanto, considerar que esses momentos para a apresentação da impugnação
sejam preclusivos, pois a questão suscitada pelo adversário pode ser fundada na perda da condição de
necessitado durante o curso do processo, ou na ciência posterior de fatos que, embora preexistentes,
demonstrem o descabimento da isenção. Nesse sentido, era mais claro e preciso o disposto no art. 7º da
LAJ. Assim, deve ser admitida a apresentação de impugnação, por petição simples, a qualquer tempo,
fundada nesses motivos, eis que há interesse público em não se conceder a gratuidade a quem
evidentemente não a mereça. Constatada no curso do processo situação de riqueza incompatível com a
concessão do benefício, ou se esta for superveniente, pode a parte contrária apresentar a impugnação a
qualquer tempo, por mera petição avulsa destinada a esse fim.

O recurso cabível contra a decisão que versa sobre a gratuidade é o agravo de instrumento, conforme art.
101, do CPC/2015, exceto se a questão for resolvida na sentença, caso em que a parte poderá se insurgir
sobre esse ponto na própria apelação. O recurso de agravo, conforme definido no art. 101 e confirmado
no inciso V do art. 1.015 ,só é cabível em caso de rejeição do pedido ou acolhimento da impugnação,
isto é, quando for negada a gratuidade. O deferimento da gratuidade, a princípio, não admite agravo, mas
se inclui nas questões que, não cobertas pela preclusão, porque irrecorríveis por essa via recursal,
podem ser objeto da apelação, segundo dispõe o art. 1.009, § 1º do CPC/2015. Há aparente lacuna
quanto ao deferimento do benefício que tenha sido concedido em execução extrajudicial ou cumprimento
de sentença, parecendo aplicável neste caso o disposto no art. 1.015, § único, de modo a também admitir-
se o agravo de instrumento.

Com o intuito de assegurar o acesso à justiça e evitar-se a desconcertante situação de ter que pagar custas
para ver reconhecida a impossibilidade de pagá-las, o § 1º do art. 101 do novo CPC assegura ao
requerente, cujo benefício foi indeferido, a dispensa do preparo do respectivo recurso até exame do
relator sobre a questão, que será por ele apreciada como preliminar. Denegada ou revogada a gratuidade
pelo tribunal, a parte que a havia requerido terá o prazo de 5 dias para recolher as custas do recurso, sob
pena de não conhecimento, de acordo com o § 2º do mesmo artigo.

Quanto às verbas anteriores que se encontram em atraso, seu recolhimento só se torna exigível quando
transitar em julgado a decisão denegatória, cabendo ao juiz fixar prazo para o seu pagamento (art. 102,
do CPC/2015).

O CPC/2015 contempla a possibilidade de concessão parcial do benefício. A regra é importante porque,


sendo pressuposto da gratuidade “a insuficiência de recursos” para pagar as custas e demais verbas
inerentes à atuação da parte em juízo, o valor concreto a pagar é um parâmetro a ser sempre considerado.
Pessoas que não sejam tão pobres, mas que teriam que recolher custas e despesas incompatíveis com os
limites de seu orçamento, podem ao menos pleitear a concessão parcial do benefício, cujos patamares o
juiz deverá prudentemente estabelecer caso a caso. Ora, há em nosso país pessoas cujo estado de
miserabilidade é tal que não têm mesmo condições de suportar sequer o pagamento de uns ínfimos
tostões; e há aqueles que poderiam pagar custas e despesas na casa da centena ou mesmo alguns poucos
milhares de reais, mas não além disso. Portanto, para as segundas, se o valor das despesas é baixo e
compatível com seu orçamento, não cabe conceder-lhes o benefício; mas se o valor dos gastos com o
processo compromete seus estipêndios, deve a lei assegurar-lhes o acesso à justiça, oferecendo-lhes a
gratuidade parcial. Tal isenção parcial, que podia ser compreendida a partir de uma interpretação
razoável do art. 13 da LAJ, veio explicitamente prevista no CPC/2015, nos §§ 5º e 6º do art. 98,
estabelecendo a nova lei que “a gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os
atos processuais, ou consistir na redução percentual de despesas processuais que o beneficiário tiver
de adiantar no curso do procedimento” (§ 5º), cumulando-se ou aplicando-se alternativamente o
disposto no § 6º, que autoriza o pagamento parcelado, o que parece incidir tanto em relação ao
pagamento total como ao pagamento parcial eventualmente autorizado na forma do parágrafo anterior.

Vencido o favorecido pela isenção, o art. 98, § 2º, do CPC/2015, estabelece que o benefício que lhe foi
concedido não o exime da condenação às verbas decorrentes da sucumbência, que devem ser
normalmente fixadas pela sentença. Entretanto, de modo mais claro que a LAJ, o novo CPC afirma que
está suspensa a exigibilidade desse crédito, cabendo ao credor, como pressuposto de sua execução,
demonstrar que o beneficiário vencido passou a ter condições econômicas de suportar o seu pagamento
(art. 98, § 3º, do CPC/2015). Deixa nítido, também, o novo texto legal, que o prazo de cinco anos define
um termo extintivo da obrigação, e não um lapso prescricional, como incorretamente dizia o art. 12 da
LAJ. Portanto, o prazo é contado do trânsito em julgado, não estando sujeito às causas suspensivas ou
interruptivas da prescrição. Passados cinco anos, e não perdendo o vencido as condições de necessitado,
a obrigação de pagar as verbas decorrentes da sucumbência se extingue de pleno direito. A suspensão de
exibilidade e o termo extintivo quinquenal são também aplicáveis à execução feita pela Fazenda quanto
às verbas por ela despendidas para a realização da perícia, quando vencido o beneficiário, conforme
disposto no art. 95, § 4º.

O prazo em dobro em favor da Defensoria Pública, previsto no art. 5º, § 5º, da LAJ, é agora afirmado no
art. 186, prazo esse que passa a correr após intimação pessoal do defensor, na forma do § ún. do mesmo
dispositivo. Solucionando controvérsia que se arrasta desde a inserção dessa norma na LAJ, pela Lei nº
7.871/1989, adotou o CPC/2015 a postura que parece ser constitucionalmente adequada à questão,
estendendo o prazo em dobro para os “escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito
reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de
convênios firmados com a Defensoria Pública”. Em verdade, sob o ângulo da isonomia processual, esse
benefício de prazo se justifica enquanto concedido em favor da parte necessitada, e não do ente que o
defende, não havendo razão para distinguir os hipossuficientes que são defendidos por órgãos públicos
dos que são defendidos por outras entidades notoriamente voltadas à prestação de assistência judiciária à
população carente. Assim, por exemplo, aos que são defendidos por advogados vinculados a convênios
firmados entre a Defensoria Pública e a OAB também devem ser aplicados os prazos dobrados. Afinal, é
a parte carente a destinatária do benefício, e não o órgão público.
Capítulo XIII - Informatização do processo no NCPC

1. Generalidades

A proposta de um novo Código de Processo Civil e sua promulgação se deram em um momento histórico
peculiar. Nesses últimos anos, o Poder Judiciário envidou amplos esforços para informatizar suas
estruturas e migrar os autos processuais para o formato digital. A utilização de autos digitais, por certo,
trará benefícios, dúvidas e perspectivas de novos rumos que, talvez, ainda sejam imprevisíveis neste
momento. É minha opinião, já consolidada noutros textos anteriores,40 que a informatização bem
conduzida pode dar ensejo a uma radical mudança na forma do procedimento e, consequentemente, nas
regras que regem os processos judiciais. Noutras palavras, há de se pensar em normas processuais que
abandonem o paradigma do papel e passem a regrar um processo que se desenvolve inteiramente com o
uso das novas tecnologias da informação, aproveitando-se do poder de processamento de dados dos
computadores.

Projetado, discutido e promulgado neste momento de transição para a nova tecnologia, o CPC/2015
combina algumas regras tendentes a regular a aplicação da informática aos processos, umas tímidas,
outras mais adaptadas à nova realidade, com as mesmas regras formais anteriores e com uma estrutura
processual que se mantém intacta. Não é de se descartar que, em futuro breve, o CPC/2015 seja revisto,
para melhor adaptar as velhas regras de procedimento ao uso das novas tecnologias.

2. Da prática eletrônica de atos processuais

O CPC/2015 dedica à prática de atos processuais por meio eletrônico uma seção própria, inexistente no
CPC/1973, contendo os arts. 193 a 199. Parte das normas dessa seção é destinada não aos sujeitos do
processo, juízes, partes e advogados, mas às esferas administrativas do Poder Judiciário, que haverão de
zelar para que os programas de computador empregados estejam em conformidade com essas disposições
e cumpram as funções que deles se espera, isto é, tenham funcionalidades suficientes para permitir que
todas as possibilidades previstas na lei processual possam ser perfeitamente executadas no ambiente
digital. Essa é a tônica dos arts. 194, 195 e 196. O art. 193, por sua vez, apenas afirma que os autos
podem ser total ou parcialmente digitais. No atual cenário, tal regra é apenas uma confirmação da
realidade.

Nos demais artigos da seção, estão disposições que repercutem mais diretamente na relação processual,
no que diz respeito aos direitos das partes.

Segundo o art. 197, as informações processuais divulgadas nas páginas eletrônicas dos tribunais gozarão
de “presunção de veracidade e confiabilidade”. Trata-se de regra relevante, que supera uma longa
discussão jurisprudencial acerca das consequências produzidas por informações errôneas ou incompletas
contidas nessas páginas. A jurisprudência nacional oscilou entre dizer que tais sítios eletrônicos eram
meramente “informativos” e sem caráter oficial, ou reconhecer que são, sim, um canal oficial de
comunicação e, portanto, em caso de equívoco no fornecimento de informações, não pode a parte que
neles confiou ser prejudicada. Essa segunda orientação é a que parece ser a mais acertada. Afinal, a
nenhum órgão público é dado agir de modo informal! Se um órgão judicial oferece informações
processuais pela Internet, isso é uma extensão dos seus serviços, de modo que tais informações devem
ser completas, corretas e atuais. O art. 197, então, confirma essa posição. O § ún. desse artigo ainda
complementa o preceito, afirmando que “nos casos de problema técnico do sistema e de erro ou
omissão do auxiliar da justiça responsável pelo registro dos andamentos, poderá ser configurada a
justa causa prevista no art. 223, caput e § 1º”. Nem poderia ser diferente. Se parte foi impedida de se
manifestar e cumprir seus prazos em razão de falha do sistema informático, deve-se afastar a ocorrência
de preclusão, devolvendo a ela nova oportunidade de praticar o ato.

No art. 198, o CPC/2015 assegura aos interessados – o que certamente inclui partes e advogados – o
direito de ter à disposição, gratuitamente, na sede do juízo, “equipamentos necessários à prática de atos
processuais e à consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele constantes”. A informatização
processual deve ter como meta agilizar os trabalhos forenses, mas também facilitar o acesso à justiça dos
litigantes. Portanto, aos que comparecem ao Fórum e ali se encontram, deve ser fornecido algum meio de
acesso aos autos digitais e demais informações processuais. E mais do que apenas o acesso, devem ser
fornecidos meios para permitir o peticionamento eletrônico. O § ún. dispõe que onde essa regra do caput
não for observada, as partes poderão apresentar suas manifestações por meio não eletrônico, ou seja, em
papel.

Por fim, o art. 199 ocupou-se de determinar a facilitação de acesso às pessoas com deficiência.

Essa seção, com apenas sete artigos, não reúne todas as disposições relativas à aplicação da forma
digital ao processo. Ao longo do texto, entre as disposições sobre vários atos processuais, são
encontradas regras específicas sobre o uso da informática nesses momentos do processo.

3. Outras disposições relevantes sobre o uso da tecnologia

Ao tratar dos vários atos processuais, o CPC/2015 traz, em alguns casos, regras relativas à utilização das
novas tecnologias de comunicação e informação. Várias dessas regras acerca do uso da informática
foram comentadas nos Capítulos iniciais desta obra, quando relacionadas aos temas ali abordados.
Seguem-se, abaixo, algumas breves referências sobre a aplicação da tecnologia pelo novo Código em
outros momentos processuais.

O emprego da Internet como forma de divulgar informações processuais relevantes ou de dar maior
publicidade a atos processuais é previsto nos arts. 12, § 1º, 156, § 2º, 741, 745, 746, § 2º, 755, § 3º, 887,
§ 2º, 927, § 5º, 979, 1.029, § 1º e 1.043, § 4º, destacando-se, pela simplificação e redução de custos que
trará, sem prejuízo de suas finalidades, a utilização da rede mundial de computadores para publicação de
editais de citação, como se encontra previsto no art. 257, II, eliminando-se a exigência de sua publicação
nos jornais impressos.

O uso de assinaturas digitais é expressamente referido nos arts. 105, § 1º, 205, § 2º, 209, § 1º e 943.
Tratam-se, porém, de meras disposições exemplificativas, eis que não há restrição alguma ao amplo uso
das assinaturas digitais, dentro e fora do processo, podendo substituir o uso da assinatura autógrafa para
todos os fins.

São aperfeiçoadas as disposições sobre a penhora online, no art. 854, especialmente em seus §§ 6º e 7º,
que determinam que também o seu cancelamento, quando determinado pelo magistrado, deve ser
igualmente expedito e efetivado pelos mesmos meios.
As alienações judiciais podem ser feitas por meio eletrônico, como já previsto no CPC/1973, segundo
disposições nele introduzidas pela Lei nº 11.382/2006. O CPC/2015 trata do tema nos arts. 879, II, 880, §
3º, 882, caput e §§ 1º e 2º, do CPC/2015.

O mandado de levantamento de depósitos judiciais poderá ser substituído por transferência eletrônica a
ser determinada pelo juízo, conforme disposto no art. 906, § ún., do CPC/2015. As únicas referências
feitas a pagamentos por meio eletrônico, entretanto, são encontradas nas disposições sobre o pagamento
do lanço feito pelo arrematante (arts. 892 e 895, § 3º). De qualquer modo, sendo os meios eletrônicos
uma forma regular de pagamento utilizada pelo sistema financeiro nacional, já amplamente aceita para
outros depósitos judiciais ou recolhimento de custas e despesas, não há porque supor que dependam de
outra autorização legal específica nas leis processuais ou de organização judiciária. Nunca constaram das
leis processuais regras sobre como efetuar o pagamento de guias de custas; se a guia pode ser paga no
sistema bancário em geral, seu pagamento estará perfeito como quer que os bancos o aceitem, segundo as
normas do sistema financeiro nacional. Importa, apenas, que os valores tenham sido efetivamente
recolhidos aos cofres do Estado ou a quem quer que deva recebê-los, mediante pagamento da guia
específica.

Deixou-se claro, no art. 1.007, § 3º, que não é devido o pagamento de porte de remessa e retorno de
recursos, se os autos são digitais.

Como comentário final, os textos legais em vigor ainda são incompletos para bem ordenar o uso das
novas tecnologias ao processo civil. Embora as disposições do CPC/2015 tenham se somado ao que já se
encontrava previsto na Lei nº 11.419/2006, que continua em vigor, não se pode dizer que haja um sistema
normativo completo a regulamentar o assim chamado processo eletrônico, que avança a passos largos em
nosso país, o que deixa margem a muitas futuras dúvidas e lacunas. A maior parte dos textos legais sobre
o tema se restringe a determinar diretrizes gerais ou a apenas autorizar o uso de meios eletrônicos em
momentos pontuais do processo, sem descrever com maiores detalhes quais os requisitos formais, ou
suas consequências, a serem especificamente observados nesse novo cenário. Muito mais ainda pode ser
extraído do uso dessas tecnologias, uma vez que essa mudança de paradigma é capaz de repercutir tanto
na forma dos atos processuais, como nos seus requisitos de validade ou admissibilidade, ou mesmo na
própria estrutura do processo, que poderia ser repensada à luz das possibilidades que a tecnologia é
capaz de oferecer. E é neste sentido que, infelizmente, o novo Código corre o risco de envelhecer
rapidamente.
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ZANETTI, Paulo Rogério. Flexibilização das regras sobre o ônus da prova. São Paulo: Malheiros,
2011.
1MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Estudo sobre a efetividade do processo civil.

2MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Estudo sobre a efetividade do processo civil.

3Art. 551, § 3º, do CPC/1973.

4v. Capítulo VII - 3.3.

5v. Capítulo VII - 3.2.

6v. art. 264 do CPC/1973.

7v. art. 329, II, do CPC/2015.

8v. Capítulo V -

9Sobre momento de apresentação do rol, v. Capítulo VIII - 3.4.

10v. Capítulo II - 5.

11v. Capítulo II - 4.

12v. Capítulo II - 5.

13v. Capítulo III - 2.

14v. Capítulo III - 2.

15MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Citações e intimações por meio eletrônico no Novo CPC.

16Dizem os mencionados artigos da Lei Civil: “Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de
pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou
extrajudicial. Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou”.

17v. Capítulo I - 1.

18v. Capítulo II - 3.

19v. art. 228, § 2º, do CPC/2015, que determina a juntada automática de petições, quando os autos forem digitais.

20v. art. 105, do CPC/2015.

21v. Lei nª 810/1949.

22CORTÉS, Pablo. Online dispute resolution for consumers in the European Union. RULE, Colin. Online dispute resolution for
business.

23Nesse sentido: GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro.

24v. Capítulo VI - 3.2.

25Por julgamento de mérito em sentido estrito, entenda-se a decisão em que o juiz, apreciando fatos, provas e fundamentos da ação e da
defesa, decide pela procedência ou improcedência do pedido (art. 487, I, do CPC/2015, equivalente ao art. 269, I, do CPC/1973).

26Neste sentido, v. estudos anteriores: MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Processo e tecnologia: garantias processuais, efetividade e
a informatização processual. MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Apelações, agravos e a informatização do processo.

27Sobre inovações da lei acerca do ônus da prova, v. adiante Capítulo VIII - 1.

28v. Capítulo VIII - 3.4. e 3.5.

29v. Capítulo VIII - 3.2.

30MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. O documento eletrônico como meio de prova.

31GRECO FILHO, Direito Processual Civil Brasileiro.


32AMERICANO, Jorge, Comentários ao Código de Processo Civil do Brasil.

33PRESGRAVE, Ana Beatriz Ferreira Rebello. O novo Código de Processo Civil e os processos em curso: uma teoria do direito
intertemporal processual.

34v. Capítulo IV - 1.

35v. Capítulo IV - 3.

36Trata-se do veto à nova redação do art. 178, que teria sido dada pela Lei nº 10.358/2001 (mensagem de veto disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/Mensagem_Veto/2001/Mv1446-01.htm).

37v. Capítulo IX - 2.

38v. Capítulo IX - 5.

39Deve-se aplicar, neste caso, o disposto no art. 231, § 3º, contando-se o prazo a partir da “data em que se der a comunicação” e não da
sua juntada aos autos.

40MARCACINI, Augusto Tavares Rosa, Processo e Tecnologia.

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