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O CASO RIVIÈRE: CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DE UMA

PSICOLOGIA JURÍDICA.

Helivan Oliveira da Silva 1

Leo Vitor Santos de Almeida 2


Marvio de Oliveira Costa3

Mirna Graziela Carvalho Pereira4

RESUMO:
O presente estudo tem como objetivo identificar na obra de Michel Focault:
Eu Pierre Rivière, que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão, as contribuições
do caso Rivière para uma intersecção entre o direito e a psiquiatria na conformação
do que posteriormente se tornaria uma Psicologia Jurídica, de modo a fazer emergir
uma nova perspectiva para um tratamento jurídico mais adequado aos portadores de
psicopatologias .

Palavras-Chave:
Pierre Rivière; manomania; psicopatologia; psicologia jurídica; psicopatia; Michael
Foucault.

THE WORK I, PIERRE RIVIÉRE, HAVING SLAUGHTERED MY MOTHER, MY


SISTER, AND MY BROTHER, FROM MICHEL FOUCAULT AND HIS
CONTRIBUTION TO THE DEVELOPMENT OF LEGAL PSYCHOLOGY.

1
Graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana; Especializado em Filosofia
Contemporânea pela Universidade Estadual de Feira de Santana e Graduando em Direito pela
Universidade Estadual de Feira.
2
Graduando em Direito Pela Universidade Estadual de Feira de Santana.

3
Graduado em Gestão de Segurança Pública pela Universidade do Estado da Bahia, Graduando em
Direito Pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
4
Graduanda em Direito Pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
SUMMARY:

The present study aims to identify in Michel Focault's work: Pierre Pierre
Rivière, Having Slaughtered My Mother, My Sister and My Brother, the contributions
of the Rivière case to an intersection between law and psychiatry in the conformation
of what would later become a Juridical Psychology, in order to emerge a new
perspective for a legal treatment more appropriate to those with psychopathology.

Key words:
Pierre Rivière; manomania; psychopathology; Juridical Psychology; psychopathy;
Michael Foucault.

INTRODUÇÃO

Michel Foucault (1926-1984) organizou e publicou em 1973 o livro Eu, Pierre


Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, o livro é dividido em duas
partes. A primeira parte da obra traz a reunião de diversos documentos que compõe
o processo do triplo homicídio o qual Pierre executou contra sua mãe, grávida de seis
meses, sua irmã, de 16 anos, e seu irmão, de 8 anos, em 3 de junho de 1835 no
interior da França, utilizando como instrumento para tal atrocidade uma foice, que
também era seu instrumento de trabalho. Na segunda parte, sete análises atuais
produzidas pelo grupo de pesquisadores do Collège de France, incluindo uma de
autoria de Foucault intitulada Os Assassinatos que se Conta, obra que será utilizada
neste artigo como ponto de partida para a análise do desenvolvimento da psicologia
jurídica e da sua importância para a justiça criminal.

O caso em estudo na obra de Foucault preencheu as notícias de jornais e


folhetins de 1835, causando repulsa e julgamento da opinião pública, aflorando a
associação entre o trabalho jurídico e o psiquiátrico. Pierre, coisificado como objeto
de estudo, significou o nascimento das relações entre a psiquiatria e a justiça
criminal. Percebemos que o processo de exclusão ao qual Pierre foi submetido, tanto
do ponto de vista da abordagem do processo em seu aspecto judiciário quanto no
psiquiátrico, onde se digladiam as teses que determinariam se autor dos fatos era
culpado ou um louco e se seu destino seria um veredicto ou a um diagnóstico.
Os documentos que constam na primeira parte da obra demonstra que o
julgamento de Pierre foi cercado por contradições, se por um lado alguns
testemunhos evocavam a imagem de Pierre como um lunático, outros os descreviam
como uma pessoa muito inteligente, que teria premeditado os crimes pois odiava os
homens.

Em suas declarações, o próprio Pierre tentou apresentar-se como alguém


fora do seu juízo perfeito, contradizendo-se posteriormente afirmando que cometera
os crimes de forma premeditada para salvar seu pai da situação ao qual o homem se
submetia por causa dos caprichos de esposa, posteriormente em seu memorial
deixaria claro o quão lúcido se encontrava em todos os passos que sucederam ao
seu crime e assim como denotaria a total falta de sensibilidade quanto a morte de
sua mãe e irmãos, tratando-os como meros empecilhos para o gozo de uma vida
tranquila de seu pai.

Pierre não era o tempo todo louco, nem o tempo todo são, ele alternava entre
a lucidez e a loucura. O caso de Pierre Rivière é carregado de peculiaridades, que
não são possíveis de serem desvendadas utilizando isoladamente a psicologia, a
psiquiatria, ou o direito. Há aqui, uma necessidade de se conjugar essas ciências de
forma a desvendar e contribuir com um modo minimamente coerente de se aplicar a
justiça em casos que guardam peculiaridades, tal o caso de Pierre.

O presente artigo iniciamos apresentando um resumo do caso de Pierre


Rivière, em segundo momento apresentamos o conceito de manomania homicida,
bem como os reflexos do estudo deste caso no desenvolvimento da psiquiatria e da
ciência criminalística e suas implicações para o direito.

1- O CASO PIERRE RIVIÈRE

Este caso foi retirado da obra “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe,
minha irmã e meu irmão”, relatado por Foucault em 1977. A obra traz a história de
um jovem chamado Jean Pierre Rivière que matou a golpes de foice sua mãe
Victorie, grávida de 6 meses, sua irmã Victorie Rivière e seu irmão Jules Rivière.
Executado o assassinato, Pierre Rivière foge e a partir disso dá-se início às
especulações sobre o crime. O prefeito decretou a prisão do mesmo e os
depoimentos acerca do crime não paravam.
Passados alguns dias, encontram Pierre caminhando pelo bosque e decidem
trancá-lo a fim de que fosse preso. O mesmo foi encontrado com um arco e flecha,
duas facas, um bastão de enxofre e um canivete.

No primeiro interrogatório, indagado sobre o motivo pelo qual o levou a


cometer tal crime, Pierre relata que praticou a mando de Deus, pois sua mãe e os
dois irmãos estavam em comunhão. O juiz implora uma melhor explicação, momento
em que Rivière diz que eles estavam unidos para perseguir seu pai. O juiz insiste em
dizer que Deus não faria tamanha proposta e Pierre insiste na resposta e ainda recita
passagens bíblicas, afirmando ter lido várias vezes na Bíblia. Pierre Rivière diz que
havia planejado o crime há 15 dias e o motivo principal é que seu pai sofria muitas
perseguições e estava impedido de trabalhar por conta disto. Relata ainda que
estava no campo e Deus e um anjo o ordenou a executar o crime. O mesmo conta os
detalhes e ainda promete transcrever tudo o que tinha dito no tribunal.

Diante do seu relato, Pierre conta do relacionamento dos seus pais, do seu
nascimento, nascimento dos seus irmãos, sobre o crime e o pós-crime. Diz que seu
pai Pierre Margrin Rivière pediu a mão de sua mãe em casamento pois eram dignos
de fortunas e idade compatíveis, sendo, portanto, prometida. Após namoro de 6
meses, os pais de sua mãe mudaram de ideia e rejeitaram o casamento, mas logo
depois de um tempo, finalmente, casaram-se.

O casamento foi um tanto diferente, pois não teve festa e os mesmos não
dormiram juntos, pois a mãe de Pierre tinha receio de uma gravidez. Após o
casamento, sua mãe, Victoire, continuou morando com seus pais. No início do
casamento ela recebia diversas visitas do marido, mas o mesmo era recebido com
bastante frieza e indiferença, fazendo com que evitasse visitá-la.

Em 1815, nasce Pierre Rivière, onde logo após o parto Victoire fica bastante
enferma, mas seu marido toma todas as medidas necessárias para que se curasse
logo. Depois do primeiro filho, eles só dormiam juntos quando Rivière preparava o
trigo, ia rachar a lenha, plantar árvores, dentre outros serviços. Logo no ano seguinte,
sua mãe dá a luz a uma menina, que se chama, também, Victoire, onde sua mãe
passa a morar com seu pai.
Logo após Victorie Filha nascer, a doença da mãe voltou de maneira sucinta,
onde os sintomas perduraram por 3 meses. Recebeu novamente os cuidados do
marido e de sua sogra. Pierre diz que sua mãe estava praticamente curada, foi
quando os avós paternos a convidaram pra ir pra sua casa e ela aceita. A mesma
relatava para as pessoas que estava retornando pois não era bem cuidada e faltava-
lhe algo ali na casa da sogra. Ela passa a odiar o marido e passa a tomar atitudes
aborrecedoras que contrariasse o marido.

Os pais de Pierre ainda tiveram quatro filhos (Aimée, Prosper, Jean e Jule).
Sobre o momento do crime, Pierre conta que esperou sua irmã Aimèe ir com sua vó
ordenhar as vacas. Foi o momento em que ele pega a foice e entra na casa de sua
mãe, executando-a. Logo depois executou sua irmã e depois seu irmão. Logo em
seguida sai em direção ao bosque e joga sua foice num trigal.
Pierre confessa que se entregou à justiça, mas possuía receio em contar a
verdade e resolve relatar que foi influenciado por visões. Alega ainda que viu
espíritos e anjos que mandavam fazer aquilo a mando de Deus e que o levariam para
o céu logo em seguida. Mas fica claro seu arrependimento pelo fato praticado.
Pierre Rivière foi condenado por crime de parricídio à pena de morte.
Entretanto, após esta decisão o rei recebe um parecer sobre o estado mental do
acusado que relatava que desde os 4 anos de idade, Pierre demonstrava sinais de
alienação mental e que esta persistiu ao longo do tempo. Consta nos relatos também
que esses homicídios só aconteceram por conta dos delírios. Após este parecer, o
Rei substitui a pena de morte em prisão perpétua.
Ao longo do tempo começaram a notar que Pierre possuía sinais evidentes
de loucura. O mesmo delirava e dizia que estava morto e não teria nenhum cuidado
com seu corpo. Ele ainda ameaçava as pessoas que o impedissem de cortar seu
pescoço, momento em que é isolado e que se aproveita para, finalmente, suicidar-se.

2- MONOMANIA HOMICIDA E A CIÊNCIA CRIMINAL DO SÉCULO XIX

A monomania homicida, uma das criações da psiquiatria criminal do século


XIX, inaugura um conceito que traz a ideia do indivíduo naturalmente perigoso,
dentro de uma associação entre loucura e periculosidade. De acordo com
PORTOCARRERO:
O primeiro tipo de monomania é a intelectual, ou seja, uma lesão parcial
da inteligência, que caracteriza uma desordem concentrada num único
objetivo ou numa série limitada de objetos, presente no delírio. O
segundo tipo é a monomania afetiva, cuja desordem se apresenta no
comportamento, sem alterar a inteligência, mas os hábitos, o caráter e as
paixões. O terceiro tipo é monomania instintiva, ou monomania sem
delírio, que afeta a vontade; a alienação, nesse caso, não é uma
desordem intelectual nem moral; o alienado é impulsionado por uma forca
irresistível, por arrebatamento que não pode vencer, por um impulso
cego, ou uma determinação irrefletida, sem interesses, sem motivos”
(Apud, ESQUIROL, 2002, p.42).

Fundamentalmente, ao ser analisada essa concepção da ligação entre a


loucura e o indivíduo perigoso, em que pese todo período histórico anterior, é no
século XIX que se fortalecem as ideias, fomentadas nos conceitos da psiquiatria
propostos por Esquirol, aduzindo que “é o caso de uma monomania homicida, um
déficit moral intrínseco, visível apenas no crime mesmo, faculdade intelectual intacta,
loucura raciocinante, mas sem freio moral”.
Para Foucault, essa entrada da psiquiatria no campo do direito acarreta em
mais instabilidade, para além de uma simples incerteza num campo de saber
rodeado de incertezas. conforme o autor (FOUCAULT, 2004, p.25) " Talvez entreveja
o que haveria de horrível em autorizar o direito a intervir sobre indivíduos em função
do que eles são: uma sociedade assustadora poderia advir daí."Desse modo,
começa a ser esboçada a ideia de risco, restando aplicar um tratamento moral,
saindo da Justiça e indo para a esfera da psiquiatria. E, dentro desse contexto, em
meados do século XIX, as relações entre doença mental e criminalidades já estavam
estabelecidas dentro de uma construção discursiva, não podendo também deixar de
observar que esses saberes eram geradores de poder e comungavam com uma ideia
de manutenção da ordem social e avanço de uma nação.
Observou-se, dessa maneira, a generalização de um discurso baseado no
“controle dos corpos e a reforma dos seres humanos”, aos que desviavam das
normas restava a pena, e aos que desviassem da tida normalidade psíquica, o
hospício. Como diria Foucault (2001): “todos aqueles que, de uma forma ou de outra,
não se enquadrassem nos padrões sociais estabelecidos entravam na categoria de
anormais”.
A repercussão dessa parceria entre a psiquiatria e o direito contribuiu para
um movimento que fortaleceu ainda mais a concepção generalizada sobre a
periculosidade intrínseca à loucura, bem como o surgimento de novas teses na
tentativa de explicar todas as questões advindas desse novo olhar para os casos que
se apresentavam.
Desse modo, a pressão social surgia no sentido de cobrança por
mecanismos para o tratamento desses indivíduos perigosos, exigindo uma
separação destes e a sociedade, em nome de uma segurança pública e defesa
social. Com isso, eis que surge a tecnologia normatizada pelo direito-psiquiatria: a
medida de segurança – como uma forma de proteger a sociedade de um indivíduo
que oferece perigo aos demais, pois é portador de um déficit moral, como apontado
nos estudos da época. A internação desse delinquente dá-se por tempo
indeterminado, cabendo salientar que é deste modo até os dias atuais.
Estava assim estabelecido no século XIX, através dos conceitos trazidos pela
psiquiatria e associados ao direito penal, que não havia mais diferença entre
demência e delinquência. E, passados os anos, ideia de que seja nos
monomaníacos, degenerados ou no homem delinquente existe um déficit moral
intrínseco na loucura, fazendo desses indivíduos naturalmente perigosos.

3- A PSIQUIATRIA E O DIREITO NO CASO PIERRE RIVIÈRE

O caso Pierre Rivière é um divisor de águas na medida em que marca o


início das relações entre a Psiquiatria e a justiça penal quando estabelece a
pergunta: “Afinal de contas, o caso Pierre seria um problema dos médicos ou dos
juízes?” A resposta para esta pergunta permearia as diversas discussões daqueles
que se debruçaram sobre o caso na época.
Conforme explanado no ponto anterior, o século XIX foi palco de um discurso
que trazia o homem como objeto de estudo, para Foucault este saber, gerado pelas
novas disciplinas que ali emergiam, promoveriam as prerrogativas para o controle
dos corpos. Conforme BARROS-BRISSET:

Nesse contexto, surgiu a psiquiatria, que se viu diante da necessidade de ser


reconhecida como uma modalidade de saber, com o poder de atuar no
campo da medicina enquanto higiene pública. O direito também se
organizava em torno do saber sobre o homem criminoso, não bastando mais
apenas o crime e a pena que a ele corresponderia para executar sua função
punitiva, tendo necessidade de saber por que punir, ou seja, saber da
natureza do criminoso. A demência anulava o crime. Crimes bárbaros e sem
motivos, absurdamente sem sentido ou sem razão de ser, mas cujo autor
não parecia ser um demente, interrogavam esta lógica. (2011, p.38)

Para Robert Castel, estabelece-se ali as instâncias penal e médica, enquanto


representantes dos núcleos nos quais concorriam as análises do caso Rivière, cujo o
substrato seria a questão do controle. Em certo sentido, esta disputa entre o direito e
a psiquiatria trazia também a dimensão da luta pelo controle social, conforme afirma
o autor:
Que Justiça e medicina mental disputem o ato de Rivière levanta
primeiramente um problema de classificação em referência aos dois núcleos
de saber: culpado ou loco. Atrás deste confronto teórico, esboça-se
igualmente uma concorrência entre os agentes que defendem seus lugares
na divisão do trabalho social: A que tipo de especialista confiar este homem,
e qual será sua “carreira” em função do veredicto ou diagnóstico? (CASTEL,
1977, p. 261)

A questão seria saber a quem caberia a autoridade, no que concerne aos


indivíduos cujos atos delituosos fogem ao entendimento médico que define os
alienados típicos. O caso Rivière trouxe esse desafio, segundo Castel, a época, as
autoridades envolvidas se dividiram em três pareceres: O parecer de Bouchard no
qual abandonava Rivière às instâncias tradicionais, o parecer Vastel o qual
apresentou uma semiologia arcaica da loucura situando a criminalidade no campo da
medicina mental e por fim o parecer dos grandes especialistas parisienses que
apresentam o poder psiquiátrico numa perspectiva que buscou incluir Rivière no novo
aparelho médico propiciando a inspiração da remodelação legislativa com a lei de
1938.
Requisitados pela defesa o “grupo de Paris” composto por 7 sumidades
médicas impõe sua autoridade garantindo um lugar ao lado da justiça. O resultado é
a comutação da pena de Rivière para internação, constituindo-se aí um marco nas
relações entre a justiça penal e a medicina psiquiátrica, o argumento médico se
sobrepõe e o parricida é salvo da pena capital.
Em 1838, com a participação dos grandes nomes da psiquiatria de então,
surge a lei que estabelece uma modificação decisiva entre a relação médico e penal,
a nova lei estabelece, entre outras coisas, a internação ex-officio e "voluntária" em
estabelecimentos especiais destinados especificamente a essa função, são os
chamado asilos, para CASTEL:

O confinamento ex-officio prepara a possibilidade de um internamento


rápido, tão eficaz quanto o isolamento penal. mas ele apresenta a
vantagem suplementar de poder intervir antes que um ato ou delito
seja cometido, antes também que um julgamento de interdição seja
emitido, como era em princípio exigido nos casos de loucura, antes
da lei de 1838 (1977, p.275).

CONCLUSÃO

O estudo da obra Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e
meu irmão é o marco histórico do nascimento e do desenvolvimento das relações
entre a Psiquiatria e a justiça penal. O estudo do caso Rivière trouxe à tona um dos
principais problemas que atormentou a psiquiatria e o Direito Penal na época cujos
desdobramentos ecoam até os tempos atuais em debates sobre a questão da
psicopatologia e os atuais debates acerca do vigente modelo de sistema carcerário.
Muito embora a psiquiatria trate os crimes praticados pelos ditos psicóticos como
condutas imotivadas e o Código Penal trate os ditos “anormais” como inimputáveis, o
estudo demonstra que o principal desafio seria encontrar a forma mais adequada de
tratá-los, pois, embora os métodos utilizados no século XIX, época em que ocorreu o
crime cometido por Rivière, fossem mais cruéis e não existisse ainda a figura forte
dos Direitos Humanos, em que pese hoje sejam considerados inimputáveis, tais
indivíduos devem cumprir uma série de medidas compulsórias. Não obstante,
atualmente o método do encarceramento a que muitos são submetidos é igualmente
prejudicial, pois não facilita e, muitas vezes, não torna possível o retorno ao convívio
social do indivíduo que, ao ser retirado do meio social a que pertencia, é colocado
em um ambiente também não saudável, a clausura, destituindo-o, como se imputável
fosse, de seus direitos e características personalíssimas.
REFERÊNCIAS

BARROS-BRISSET, Fernanda de Otoni de. Genealogia do conceito de


periculosidade.. Responsabilidades : Revista Interdisciplinar do Programa de
Atenção Integral Ao Paciente Judiciário do TJMG - PAI-PJ, Belo Horizonte ,
v.1, n.1, p.37-52, mar./ ago. 2011.

DA SILVA , liziane angelica cordeiro; rodrigues, allan; andrade, patricia


daniele. Os ditos "Criminosos Doentes Mentais" e as estratégias Jurídico-
Psiquiátricas de sua disciplinarização: revisitando o caso Pierre Rivière. ANAIS
DO XI EVINCI — Centro Universitário Autônomo do Brasil — UniBrasil, 2016 -
ISSN: 2525-5126, disponível em:
http://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/anaisevinci/article/
download/1239/1100, acesso em: 20 de dez de 2018.

FOUCAULT, Michel. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e
meu irmão: Um caso de parricídio do século XIX apresentado por Michel
Foucault. Trad. Denize Lezan de Almeida. Rio de Janeiro: Graal, 1977.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da Violência nas prisões.


Petrópolis: Vozes, 1977b.

PORTOCARRERO, Vera Maria. Juliano Moreira e a descontinuidade histórica


da psiquiatria. Coleção Loucura e Civilização, RJ, Fiocruz, 2002.

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