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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE

SÃO PAULO

FERNANDO DA SILVA

TRABALHO 1
FUNDAMENTOS DE ECONOMIA

RA: 0022829
Curso: Sociologia e Política
Período: Noturno/ 2º Semestre - 2018
Fundamentos de Economia
Prof: William Nozaki

São Paulo (SP)


Pergunta:

Sabemos que o surgimento da economia enquanto ciência é algo recente.


Estudos e teorias sobre esse tema se tornaram mais relevantes a partir do surgimento da
moeda como o principal meio de troca. Tendo em mente o progresso do pensamento
humano no que diz respeito aos estudos das relações sociais e dos fatos sociais
intermediados pelas necessidades de troca, e, traçando uma relação entre os conceitos de
autores que estudaram estes assuntos, considerando também a dinâmica e o momento
histórico em que estes pensamentos foram escritos, descreva as ideias que mais
influenciaram a movimentação política e econômica na transição do sistema feudal para
o capitalista e relacione os principais objetos de estudo dos principais autores no que diz
respeito à investigação empírica da ciência econômica e se possível, comente de ponto
de vista pessoal, alguns aspectos subjetivos do pensamento humano nesse período e
com base nestes pontos, discorra sobre: quais são os autores que mais tiveram
relevância na história do pensamento econômico político moderno?

Resposta:

Antes de entrarmos no primeiro autor que estudou a economia enquanto ciência,


é essencial contextualizarmos o momento em que essas formulações foram colocadas
em evidência, sendo necessário, para melhor entendimento, explicar uma parte do
feudalismo e alguns fatores sociais que impulsionaram uma mudança econômica e
política importante num período que se estende aproximadamente entre os séculos XIV
e meados do século XX.
O feudalismo, chamado também de sociedade estamental, por ser composta de
camadas sociais estanques, em que não havia mobilidade social, era caracterizado,
economicamente, a grosso modo, pela posse de terra e pela produção autossuficiente,
onde o excedente dessa produção era usado como meio de troca por outras mercadorias.
A mão de obra desses detentores de terras, os servos, que não recebiam salário, logo,
seu trabalho não gerava “valor”, conceito que será explicado mais adiante. Com a
expansão do número de produtores, a exploração do trabalho no campo e a migração de
pessoas aos grandes centros urbanos, assim como outros acontecimentos históricos
importantes, por exemplo, as cruzadas e a revolução inglesa, levando em conta também
a relação entre esses fatores, grandes transformações sociais e econômicas começaram a
desenvolver um novo modelo de sociedade, não mais baseada no escambo.
Existem estudiosos da transição feudo-capitalista que têm ideias divergentes de
como se deu esse processo. Segundo Maurice Dobb, economista marxista, nascido em
1900, as contradições entre os senhores feudais, suas necessidades de maiores
rendimentos, a consequente intensificação da exploração do trabalho dos servos e a
revolta dos pequenos e médios produtores, que resultou em uma luta de classes, foi o
que determinou, em longo prazo, o fim do feudalismo e o inicio do capitalismo. Já para
Paul Sweezy, também economista marxista, nascido em 1910, ao se contrapor à tese de
Dobb, afirma que a economia feudal era baseada na produção de bens que tinham
valores de uso e que a intensificação das relações de troca e uso, foi o principal fator do
sua desestabilização, cenário em que o comércio tomou proporções maiores e a
consequente divisão do trabalho, gerando a necessidade de mais mão de obra, fez com
que houvesse esse rompimento dos trabalhadores com os senhores feudais, para quem
estes prestavam contas.
Claro que essa transição se deu uma maneira muito mais complexa e lenta, com
diversos determinantes históricos e políticos aos quais não caberia nos atentarmos nesta
análise. Para o que queremos elucidar, com esta breve explanação, já conseguimos
passar adiante e trazer um pouco o pensamento do primeiro autor que observou
empiricamente o surgimento de um mercado em expansão, que culminou em uma nova
etapa do pensamento, ou melhor, que desencadeou realmente o inicio de uma era
pautada na economia como elemento preponderante das relações sociais.
Adam Smith, considerado o pai da economia moderna, tendo vivido a maior
parte do século XVIII, período de intensificação das relações comercias e do inicio da
revolução industrial, inclusive com a invenção da máquina a vapor, em sua grande obra
“A Riqueza das Nações”, depois de muita pesquisa e observação e se contrapondo ao
mercantilismo, sistema de mercado caracterizado pela forte intervenção do estado,
desenvolveu uma nova maneira de pensar as relações comerciais e a economia vigente.
Tendo como elemento principal de seu pensamento, o liberalismo econômico, onde o
mercado se regularia através de suas próprias escolhas, gerando um benefício para os
consumidores, pois o preço dos produtos comercializados tenderia a diminuir, Smith,
muito influenciado pelo movimento iluminista, em que a razão era tida como a luz do
pensamento e o ceticismo muito presente em alguns autores, por fisiocratas como
François Quesnay, com a ideia do “deixar fazer”, entendia que, para que as necessidades
individuais fossem atendidas, partindo do estudo de que as relações de trabalho e oferta
de produtos seriam muito mais vantajosas quando divididas, pois um supre a
necessidade do outro, cada indivíduo ofereceria o seu produto para obter outro em troca,
fazendo apenas em benefício próprio, mas automaticamente estabelecendo relações às
quais as necessidades de outros seriam atendidas, o que ocasionaria uma harmonia entre
as pessoas, gerando riqueza para a nação, dinâmica que Smith chamaria de “mão
invisível” do mercado.

Smith analisou a divisão do trabalho como fator evolucionário poderoso para


impulsionar a economia, pois o trabalho era o que gerava o valor, era o primeiro preço,
o dinheiro da compra inicial que era pago por todas as coisas. Assim, afirmou que o pré-
requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse produto do trabalho
humano. Portanto, analisa-se então a importância do conceito de valor para Smith,
assim como a divisão do trabalho, em que os seres humanos procuram então se
especializar em uma determinada ocupação para daí poder negociar seus excedentes
produtivos. Faz um levantamento sobre como se realizou o aumento da produtividade,
e chega à conclusão que tem uma relação direta com a divisão do trabalho. Esta, por sua
vez, ainda traz consigo uma maior destreza e habilidades utilizadas no processo do
trabalho:

O maior aprimoramento das forças produtivas do


trabalho, e a maior parte da habilidade, destreza e bom senso
com os quais o trabalho é em toda parte dirigido ou executado,
parecem ter sido resultados da divisão do trabalho (SMITH,
1994, p.41)

Neste ponto, observando essa ideia de valor-trabalho cunhada por Smith, e


entendendo de maneira sucinta o contexto histórico em que estes pensamentos foram
escritos, pode-se dizer que a sociedade entrou em um modelo de produção capitalista.
Pautado pelo liberalismo de Smith, que acredita neste pensamento econômico como
uma maneira justa, que daria a liberdade necessária para que todos pudessem alcançar
seus objetivos, temos, em contraponto, o pensamento de Karl Marx. Filósofo
economista do século XIX, que certamente foi bastante influenciado por Smith,
principalmente no que diz respeito à divisão do trabalho, tinha a visão antagônica à
teoria liberal de Smith, pois acreditava que este sistema daria mais poder àqueles que já
detivessem a maior parte da produção, ou seja, os detentores dos meios de produção e
consequentemente, ocorreria a precarização das condições de trabalho, pois o
empregador visaria apenas o próprio lucro em detrimento de condições mínimas de
trabalho do empregado, este, por sua vez, alienado ao processo capitalista, não
usufruiria e nem ao menos saberia sobre o produto do qual fez parte no processo de
produção.
Feita a exposição bastante resumida das ideias centrais desses dois autores,
entrarei em alguns pontos relevantes para o entendimento destas, tendo em vista os
estudos aprofundados que ambos fizeram e respeitando a visão de cada autor. À
observação subjetiva, trarei um pouco de algumas percepções pessoais baseadas em
autores que teorizaram sobre a natureza do homem, que é claro, se analisada sob um
espectro científico e empírico do estudo do ser enquanto um elemento inserido em um
todo, pouco ou nada ajudam para a resolução e o entendimento dos fatos sociais,
econômicos e políticos, mas que vejo certa importância dessas teorias mais voltadas à
filosofia da natureza humana para o desenvolvimento das dinâmicas sociais, assim
como essas, através também do materialismo histórico de Marx, em que o ser está
condicionado às coisas objetivas e palpáveis da sociedade, também têm muita
importância para conhecimento dos fatores sociais aos quais estamos intimamente
inseridos. Começarei pelo segundo tópico, para depois retomar o raciocínio dos
conceitos dos autores e voltar à realidade objetiva dos fatos.
É como se houvesse algo cíclico entre o agir e pensar do âmago da natureza
humana e a maneira na qual a sociedade impõe alguns elementos cruciais e
influenciadores do comportamento e dos desejos. Thomas Hobbes, matemático, político
e filósofo inglês, acreditava que o “homem” era naturalmente mau e só seria refreado
através de regras punitivas, de leis fixas feitas por uma assembleia ou um monarca, que
teriam soberania diante dos demais cidadãos. De certo, é uma explicação sem
comprovação e ligada a questões religiosas da época, mas, podemos fazer um paralelo
com a ideia de individualismo de Smith. Ora, se o estado de natureza é mau, partindo do
pressuposto colocado por Hobbes de que, sem uma intervenção que regule o convívio,
como seria se o estado deixasse ao mercado – veja-se mercado como sendo controlado
por indivíduos que detém o seu poder - como poderia assim, haver uma autoregulação
deste e a igualdade entre as pessoas, se a tendência é a de que este indivíduo procure
sempre se sobrepor ao outro? Agora, se traçarmos um perfil da “evolução” do
pensamento, passando por John Locke e indo para Rousseau, veremos que, por
exemplo, Rousseau, acredita que o ser humano é naturalmente bom e a sociedade o
corrompe, logo, em qualquer uma dessas duas teorias sobre a natureza humana, a ideia
de termos uma força física externa às nossas vontades para que sigamos determinadas
regras, se torna necessária. Essas teorias são construídas antes da ideia de civilização,
mas têm entre si uma grande divergência na concepção política e de organização social
entre esses dois autores contratualistas. Entendo que estas nuances de interpretação da
natureza humana são importantes na concepção e na construção dos pensamentos que
influenciaram a maneira de se fazer política e de se pensar o mundo. Claro que um
estudo mais aprofundado sobre essa questão deveria ser feito para se obter um mínimo
de razão científica, se possível, sobre esse assunto, porém, acho que cabe alguma
reflexão.
Voltemos aos conceitos que fizeram da economia um objeto de estudo através
de um embate entre as ideias de Smith e Marx, para depois, contrapondo a estes dois
teóricos, observarmos um pouco das ideias econômicas de John Maynard Keynes,
economista britânico do século XX.
Sabemos que Marx foi influenciado por outros economistas e que entre esses,
Smith foi elemento chave de sua formulação teórica, por ter feito a observação de
elementos históricos que fizeram com que o trabalho fosse dividido para otimização do
processo de produção. Smith entendia que a divisão estrutural da sociedade se daria
entre os capitalistas, os proprietários de terras e os operários, e que a “mão invisível” do
mercado faria com que tudo se ajustasse naturalmente, o que contraria a visão Marxista,
da luta de classes como elemento principal para o desenvolvimento central de toda
história. Adam Smith foi o primeiro economista a fazer a clara distinção entre os lucros
que se destinavam ao capital industrial, salários, aluguéis e os lucros do capital
comercial e a avaliar o significado do fato de que as três principais categorias
funcionais de renda são os alugueis o lucro e salario. O que Marx pontuou, tendo
vivido a intensidade da revolução industrial, é que essa divisão do trabalho, e
posteriormente, a adesão das fábricas aos processos industriais com tecnologia avançada
através das máquinas, que resultaria na substituição do trabalhador pela máquina, e a
consequente precarização do trabalho, gerando o que ele chamaria de exercito de
reserva, culminaria na desigualdade e manteria as classes sociais divididas entre
proletariado e a burguesia.
No entanto, não podemos falar de mercado, sem falar da “mercadoria”. Para
Marx, a riqueza na sociedade capitalista apresenta-se como uma “imensa coleção de
mercadorias”, a mercadoria é, portanto, forma elementar da sociedade burguesa
moderna, por isso a investigação de Marx, em O’ Capital, começa pela mercadoria.
Smith sustenta que a riqueza é duas coisas ao mesmo tempo: valor de uso e domínio
sobre o trabalho alheio. Importante compreender que o “valor de uso é o conteúdo
material da riqueza”, qualquer que seja a formação social em que se viva. Desde que o
homem passou a transformar a natureza, a partir da sua ação consciente, se produz
valores de uso. A compreensão deste assunto é bastante complexa e os dois autores em
questão a estudaram com bastante riqueza de detalhes, então, não cabe aqui o
aprofundamento dessas teorias, mas sim uma observação sobre os principais pontos.
Em resumo, O ponto inicial da teoria de Adam Smith diz que o trabalho era o
primeiro preço que um produto possuía, antes mesmo de ficar pronto, sendo pago na
forma de salário ao trabalhador, assim, ao tomar o trabalho como base do valor, não
percebeu a dupla função que ele tem: a de ser origem do valor do produto e a
do trabalho como mercadoria. Com Marx, o conceito clássico do valor-trabalho
se transforma, pois o autor demonstra como é a capacidade de trabalho que dá
valor a mercadoria, ou seja, a quantidade de trabalho necessário à produção das
mesmas. Marx inicia sua obra diferenciando valor de uso e valor de troca para,
em seguida, definir o próprio trabalho. Os valores de uso só se realizam com a
utilização ou o consumo e constituem a riqueza, em Marx, a mercadoria encobre
características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como
características materiais, porque oculta a relação social entre os trabalhos individuais. .
Marx, por viver em um contexto histórico diferente e por vivenciar diretamente no
“chão de fábrica” a situação em que o trabalhador se encontrava, estudou o sistema
capitalista por uma visão ideológica diferente e de uma maneira mais abrangente, para
provar que este sistema não era o mais adequado, pois segundo ele, os ricos sempre
teriam mais poder de negociação diante dos mais pobres, o que manteria a divisão
desigual da riqueza. No tocante ao o fator “preço de mercado”, para Smith, é
determinado pelas forças da oferta e
de procura, e pode variar. O preço real é o suficiente para dar lucro ao patrão e
cobrir os custos de produção. O preço real também varia, mas de acordo com as
forças da oferta e da procura. A teoria do dinheiro de Marx se diferencia inicialmente
das demais concepções por se basear na teoria do valor-trabalho. Segundo esta visão as
mercadorias entram na circulação já tendo um valor expresso na forma do preço.
Para que se possa concluir uma linha do pensamento econômico moderno, sem
descartar autores contemporâneos aos citados aqui, mas destacando os três mais
importantes do ponto de vista da influência que ainda exercem nos estudos recentes, a
visão de macroeconomia que John Maynard Keynes trouxe para sociedade, é de
extrema relevância para se entender alguns aspectos novos nas relações comerciais que
surgiram no século XX.
Keynes, nascido em 1983 e tendo presenciado duas guerras mundiais, assistiu e
participou ativamente da política e da economia vigente, já muito influenciada pelo
processo de globalização e expansão das relações comerciais, momento histórico em
Keynes desenvolveu uma visão de mercado em uma perspectiva muito mais expandida.
Em “A Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda”, principal obra de Keynes, ele se
contrapõe a teoria econômica clássica e mostra que, em uma economia de mercado, a
permanência de longas crises marcadas pela recessão e pelo desemprego, a intervenção
do Estado na economia é o que irá impulsioná-la, assim, contrário a Smith, não
acreditava na “mão invisível”. Mesmo tendo sido influenciado por esses dois autores
colocados nesta análise, em verdade, nutria profunda antipatia pelos analistas
marxistas. Depois de uma breve viagem à Rússia em 1925, Keynes escreve: “Como
posso aceitar uma doutrina que estabelece como sua Bíblia, acima e além da crítica, um
livro-texto obsoleto de Economia que, pelo que sei, não é apenas cientificamente
errôneo, mas igualmente sem interesse e aplicação no mundo moderno?” A referência é
ao Capital de Karl Marx. Reproduzido Por exemplo de Essays in Persuasion (1931).
Interessante notar o grande importância da influência de fatores externos aos
indivíduos, quando estes estão em processo de construção de ideias para resolução de
problemas sociais e econômicos. Na economia, isso parece ainda mais evidente, pois
com as relações humanas sendo pautadas em mercadorias, onde os valores, inclusive os
morais, muitas vezes se dão pela “riqueza” que se possui, o consumo desenfreado e
irracional e a relação de poder que o dinheiro manipula, são determinantes em tempos
de capitalismo pulsante. Assim, se trouxermos esses três autores para o século XXI,
podemos enxergar vários pontos de suas ideias e ideais que conversam bastante com as
realidades social, econômica e ideológica que estamos vivenciando, guardadas as
devidas proporções de população, tecnologia e demais pensadores.

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