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Análise elaborada pela psicologa Gabriela Granero, vale muito a pena a

leitura.

No início do filme a personagem principal tem dificuldade de se vincular e mostra


uma incapacidade de amar, pinta no quadro a solidão instaurada dentro de si, o que
evidencia seus sintomas depressivos e uma latente infelicidade.

Correlacionado ao período que vivemos na qual depressão é a doença do nosso


século.
Depois o filme mostra que a “coisa” está se espalhando por todos países e ninguém
está imune, a não ser aqueles que não olham, a “coisa” que se espalha, faz uma
analogia a sociedade contemporânea, da qual está adoecida, e todos estão se
contaminando só de olhar uns para os outros.

Esse adoecimento contemporâneo pode ser visto na enorme quantidade de pessoas


com transtornos mentais (depressão, pânico, toc, TAG), além do isolamento social,
a invasão tecnológica, o excesso de consumismo, etc.

O pânico é muito bem representado no filme em diversas cenas, mas talvez a mais
visível seja quando estão indo ao supermercado e o personagem negro se desespera.

Esses sofrimentos estão levando as pessoas ao suicídios, muito bem representada no


filme.
Também podemos relacionar com a onda de suicídios coletivos ocorridos nesse
últimos ano, em pessoas de todas as faixas etárias.

Para não se “contaminar” os personagens fecham os olhos, as vezes precisamos


fechar os olhos frente aos disparadores que causam adoecimento na
contemporaneidade para que possamos sobreviver, porém mais do que fechar os
olhos é preciso descobrir uma nova forma de viver.

Porém, se reinventar constitui-se em um árduo trabalho, as vendas fazem alusão a:


Ah, como é difícil se acostumar a viver de uma outra maneira.

A travessia do rio no filme , representa as travessia diária que temos que fazer para
não nos contaminarmos/adoecermos, porém essa travessia não é um caminho fácil
mais composto de correntezas.

Além do que muitas vezes é preciso fazer difícies escolhas, como no momento que a
personagem tem que escolher entre o garoto e a garota.
Quantas vezes na nossa vida não nos vemos em um beco sem saída? Sem saber qual
decisão tomar?

Outro ponto são os “loucos” do filme, que fazem alusão aos transtornos mentais
inerentes em todos ser humano, na qual ninguém está imune a escapar.

As cenas de suicídios, pânicos são chocantes e metaforicamente representam a


fragilidade humana, o desespero muito bem retratado no filme, é o desespero interno
que estamos vivenciando.

Outro ponto que não pode ser esquecido, é com relação aos pássaros, sensíveis a
captar quando a “coisa” está chegando.

Quantas vezes sentimos uma “coisa” que não sabemos nomear, as vezes não somos
capazes de reconhecer nossos próprios sentimentos.

Em uma determinada parte do filme, o personagem Tom diz que teve um sonho na
qual os pássaros estavam em um ninho em cima da árvore, e eles foram embora e
voaram.

Essa metáfora representa a liberdade emocional e social que todo ser humano
almeja, mas que é muito difícil encontrar. Somos como pássaros presos em gaiolas.

As gaiolas representam a escravidão evidenciada no filme, as vendas fazem analogia


ao fato de que não estamos vendo a gravidade da nossa situação, com o pânico
instaurado a única saída possível é o suicídio. Será que não estamos engaiolados?

Será que não ouvimos vozes que nos querem convencer do contrário? Como a cena
em que estão na floresta, a atriz principal e as crianças ouvem vozes que a
confundem.
Quantas vozes nos atrapalham o nosso crescimento emocional?

Por fim, quando a personagem faz a travessia do rio, essa desenvolve a sua
capacidade de amar, Tom não vai com ela, pois essa travessia é única, muitas vezes
temos que faze-la sozinha.

O final do filme é o mais surpreendente, os únicos que não foram contaminados são
os cegos, outra metáfora muito forte.
Eles não vêem fisicamente, mas tem a habilidade de olhar internamente pra si, por
isso não são “contaminados pela coisa”.
Ao final a personagem principal, aprende a amar e a lidar com seus sintomas
depressivos, a capacidade de amar a salva da sua solidão e dá sentido a sua vida.
Ao dar um nome ao garota e a garota, fica nítido que ela perdeu o medo de se
vincular. E perdeu o medo de perder as pessoas, já que essa perdeu sua irmã, sua
amiga grávida e outros amigos.

Chegar na comunidade é alcançar a liberdade, representada ao soltar os pássaros da


gaiola, chegar a comunidade é desejo de alcançar a “cura” e mais do que isso fugir
desse adoecimento contemporâneo.

Nessa comunidade as pessoas estão convivendo uma com as outras e as crianças


estão brincando, e detalhe as crianças não estão no celular.

Porém, ainda sim, os personagens não alcançaram a liberdade em sua completude,


pois estão presos em uma “gaiola de pessoas”.

Será possível alcançar a felicidade em sua plenitude?

O conceito de saúde mental de acordo com a OMS é “o completo bem estar físico,
mental e social.”
Será possível alcançar essa completude? O sofrimento não é inerente a nossa
condição?

Enfim, o filme está cheio de mensagens, mas as vezes estamos com os olhos
vendados e não conseguimos ver.

Gabriela Souza Granero é psicóloga,


pós-graduada em psicoterapia psicanálitica pelo Uni-Facef
Mestranda em Psicologia pela UFTM

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