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X Encontro de Pós­Graduação e Pesquisa

Universidade de Fortaleza
20 a 22 de Outubro de 2010

LEVANTAMENTO DE SOFTWARES EDUCATIVOS LIVRES PARA A


MATEMÁTICA: O QUE HÁ PARA EDUCAÇÃO BÁSICA?

Palavras-chave: Software Educativo. Software Livre. Ensino de Matemática.

Resumo
Pesquisas apontam que o uso de softwares educativos no ensino de Matemática colaboram para
um melhor aprendizado discente. Uma forma de viabilizar essa produtiva prática pedagógica é
adotando softwares livres, não só pelo fator econômico, mas também por primarem pelo cultivo e
propagação do conhecimento humano. Este trabalho se propõe a apresentar, parte de um projeto
de pesquisa desenvolvido pelo Laboratório de Tecnologia Educacional e Software Livre (LATES).
Trata-se da realização do levantamento de softwares educativos livres em Matemática voltados
para Educação Básica. A busca realizada numa pesquisa anterior, que identificou, para a área de
Matemática, 25 softwares educativos livre (SELs) serviu de base para este levantamento. Para a
atualização desses dados empregou-se repositórios que albergam softwares livres e/ou sites que
os relacionam. O Referencial Curricular para a Educação Infantil e os Parâmetros Curriculares
Nacionais dos Ensinos Fundamental e Médio subsidiaram a classificação de 42 SELs de
Matemática aptos para a Educação Básica. Desses, 7 destinam-se à Educação Infantil, 33 para o
Ensino Fundamental, sendo que 26 para os anos iniciais e 31 para os anos finais e 32 disponíveis
para o Ensino Médio. Com o significativo aumento quantitativo dos SELs para a Matemática, aos
profissionais da educação participar em seu aprimoramento qualitativo, visando melhorias ao
processo de ensino-aprendizagem de Matemática.

Introdução
Os softwares educativos se mostram cada vez mais presentes nos mais variados níveis e áreas do
conhecimento no ensino. Ao se dispor dessas tecnologias nas aulas de Matemática, principalmente
na Educação Básica, percebe-se que elas são fonte de informação e auxiliam na busca do
conhecimento. Trata-se de uma ferramenta que desenvolve autonomia, que permite pensar, refletir
e criar soluções. Além disso, também pode ser considerado grande aliado do desenvolvimento
cognitivo dos alunos, na medida em que possibilite o desenvolvimento de trabalho que se adapte
aos diferentes estilos de aprendizagem e considere que o aluno aprende com seus erros (Papert,
1994). Por outro lado, o uso adequado dessa ferramenta na sala de aula depende tanto da
metodologia utilizada quanto da sua escolha, em função dos objetivos que o professor pretende
alcançar e da compreensão de conhecimento e aprendizagem que orienta o processo.

Nem sempre o software educativo responde de forma explícita às perguntas, nem sempre é
possível compreender tudo o que aparece na tela de um computador. Por isso, o importante é
“entender as relações que estão sendo estabelecidas pelo software”. (BORBA; PENTEADO, 2001,
p. 56). Diante de uma situação imprevisível, o professor pode constituir o inesperado como
aprendizagem, refletindo, questionando e discutindo tal situação com os alunos, pois ele deve ter
consciência de que não sabe tudo, nem tudo pode prever.

Para que seja possível desenvolver um trabalho usando softwares educativos, deve-se acreditar na
sua importância para que a aprendizagem se torne viável, porém, ao utilizar essa ferramenta, é
necessário ter em mente a noção de que as novidades nessa área surgem velozmente, a cada dia.
A atualização profissional é constante. Como ressaltam Borba e Penteado (2001, p. 67), “não
existe forma de suprir isso de uma vez e ficar tranquilo por algum período. Em outras palavras, não

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é possível manter-se numa zona de risco sem se movimentar em busca de novos conhecimentos”.

No ensino de Matemática, conforme D´Ambrosio (1989), a utilização do software educativo


possibilita ao aluno a autoconfiança para criar e resolver situações matemáticas, desenvolvendo a
autonomia, como também o desenvolvimento dos conceitos matemáticos. Este processo
desencadeia um rol de atitudes a serem modificadas, tanto do professor quanto do aluno,
principalmente na metodologia que transforma o processo pedagógico dos dois.

Nesse contexto, a mudança do paradigma educacional deve ser acompanhada da introdução de


novas ferramentas que facilitem a expressão do nosso pensamento. Esse é um dos papéis do
computador: desenvolver o raciocínio ou possibilitar situações de resolução de problemas.
Conforme Valente (1995, p. 6), “é a razão mais nobre e irrefutável do uso do computador na
educação”.

Percebe-se hoje alguns estudos voltados para a utilização de softwares educativos livres (SELs)
como uma alternativa a ser investigada pela comunidade escolar, pois sua filosofia e flexibilidade
primam pelo cultivo e propagação do conhecimento humano. Cada vez mais, empresas e
organizações governamentais e não governamentais adotam, em sua estrutura de informática,
software livre devido a liberdade de executar, copiar, distribuir, estudar, modificar e aperfeiçoar o
software, disponibilizando, portanto, o código fonte (NUNES, 2005). A visão filosófica do
movimento software livre, assim como assinala Pinheiro (2003), é de que a liberdade não é um
direito individual, mas um direito coletivo e, por isso, deve ser mantido e passado de pessoa para
pessoa. Além disso, qualquer projeto de software livre se sustenta pela colaboração entre pessoas
interessadas, sem concentração de poder ou qualquer outro artifício que venha ferir as liberdades
já mencionadas.

Para o setor educacional, muitas vezes carente de recursos, o software livre é a alternativa viável e
que deve ser considerada seriamente. É pela formação continuada do professor que o
conhecimento das tecnologias vai se adequando à prática pedagógica: ao refletir, analisar,
comparar possibilidades, atender as necessidades e os interesses de professores e alunos. A
escolha pelo software educativo livre não é diferente. Seu caráter aberto permite levar
conhecimento a todos os cidadãos, pela adaptação dos programas às próprias necessidades e
redistribuir o conhecimento para qualquer outra pessoa interessada.

As experiências internacionais de implantação de software livre na educação mostram que muitas


comunidades e organizações estão preocupadas em desenvolver projetos de Informática na
Educação, promovendo o ensino e a aprendizagem em instituições educacionais. No âmbito
nacional, as experiências de software livre na educação mostram a possibilidade de reunir
comunidade nacional e internacional interessadas em desenvolvimento e aplicação de software
livre de caráter educativo, compartilhando conhecimento de modo a estimular o seu uso crescente,
o aprimoramento de tecnologias e a difusão da filosofia da criação cooperativa.

Dentre os projetos brasileiros que utilizam software livre para emancipação das tecnologias na
educação o Laboratório de Tecnologia Educacional de Software Livre (LATES), integrado ao
Centro de Educação (CED) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), tem, entre seus objetivos,
realizar o estudo, o desenvolvimento e a avaliação de softwares educativos livres e investigar a
formação de professores para o uso pedagógico dos softwares livres desenvolvidos pelo projeto.

Em seu primeiro projeto de pesquisa, “Software Livre e Educação (SLE)”, foi procedido um
levantamento dos softwares educativos livres existentes. Como um dos resultados obtidos ao final
da pesquisa, foi possível encontrar, após buscas realizadas em diversos sites da internet que
albergam esses softwares educativos ou apenas os relacionam, 81 softwares educativos livres.
Desses, foi identificada predominância de softwares nas áreas de matemática (30,9%), língua
estrangeira (27,2%) e língua materna (13,6%) (NUNES et al, 2008).

Este levantamento serviu de subsídio para o projeto de pesquisa seguinte intitulado Software Livre
no Ensino de Matemática: desenvolvimento e formação de professores (SOLEM). Este projeto,

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visava, dentre outros objetivos, fazer uma atualização do levantamento e proceder uma avaliação
dos SELs disponíveis para o ensino de Matemática na Educação Básica, considerando critérios
técnicos e pedagógicos, além de serem classificados segundo sua forma de obtenção e sistema
operacional onde funciona.

Por considerar que a seleção de quais softwares são mais adequados para cada situação em
particular adquire grande importância, na medida em que existem inúmeras opções e cada uma
delas se destina a uma utilização específica, para este trabalho se fez um recorte do projeto
SOLEM e centrou-se em atualizar o levantamento dos Softwares Educativos Livres de Matemática
voltados para Educação Básica que compreende as etapas da Educação Infantil, Ensino
Fundamental (anos iniciais e finais) e Ensino Médio.

Metodologia
Para o presente levamento de softwares educativos livres de Matemática tomou-se como base a
busca realizada anteriormente pelo grupo LATES na pesquisa "Software Livre na Educação (SLE)".
Nesta, haviam sido identificados 25 softwares educativos livres para para a área de Matemática de
um total de 81 para uso na Educação Básica.

Como a produção de software livre congrega grupos e pessoas que desenvolvem projetos por todo
o mundo e que a cada momento produz novas ferramentas, foi procedida uma atualização daquele
quadro. Para tanto, recorreu-se novamente aos repositórios que albergam softwares livres e/ou
sites que os relacionam. Dentre os repositórios, destacam-se o da distribuição Linux Ubuntu versão
8.04 (http://www.ubuntu.com/), amplamente utilizada e o Sourceforge (http://sourceforge.net/) um
dos maiores repositórios de software livre com mais de 230.000 projetos cadastrados. Além dessas
fontes, recorreu-se aos sites que relacionam os projetos de software educativos livres encontrados
através de ferramentas de busca na web.

A partir da lista atualizada foi procedida a identificação de quais programas comtemplavam as


características de um software educativo proposto por (OLIVEIRA et al, 2001). Nesta perspectiva,
um software é educativo quando ele é desenvolvido para o propósito de ser uma ferramenta no
auxílio do aprendizado. A partir dessa concepção, calculadores e planilhas eletrônicas, por
exemplo, são excluídas.

Ao final dessa triagem inicial, chegou-se ao total de 107 softwares educativos livres. Entretanto,
ainda faltava separar apenas os programas que poderiam ser usados como uma ferramenta de
ensino e aprendizagem na Educação Básica, bem como classificá-los nas diferentes etapas de
ensino que compõem aquele nível de ensino.

Para este procedimento, foram utilizados documentos oficiais que norteiam o currículo no país.
Assim, o terceiro volume do Referencial Curricular Nacional (RCN) para a Educação Infantil e os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental e Médio que contemplam o
ensino de Matemática subsidiaram a classificação dos SELs considerando os conteúdos
explorados. Importa registrar que essa classificação excluiu um total de 65 softwares que seriam
restritos ao Ensino Superior, restando, portanto, 42 softwares educativos livres de Matemática.
Ademais, há que se considerar que um mesmo SEL pode ser utilizado em vários níveis de ensino.

Resultados e Discussão
Ao fim da pesquisa foi possível identificar um total de 42 softwares educativos livres aptos para
serem utilizados no ensino de Matemática na Educação Básica. Desse total, 7 estavam
apropriados para a Educação Infantil. Para o Ensino Fundamental foram identificados um montante
de 33 SELs de Matemática. De forma mais esmiuçada, para esta etapa da Educação Básica foram
classificados 26 programas aptos para anos iniciais (1º ao 5º ano) e 31 para os anos finais (6º ao
9º ano). Para o Ensino Médio, foram identificados 32 SELs.

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A despeito do foco deste trabalho, esses dados evidenciaram uma atenção maior à produção de
SELs para o Ensino Superior. Entretanto, considerando o levantamento realizado anteriormente,
houve um aumento quantitativo de software educativo para auxiliar nos processos de ensino e
aprendizagem de Matemática na Educação Básica.

Considerando as etpas da Educação Básica é possível aferir que há um equivalência da


quantidade de SELs entre o Ensino Fundamental e Médio. Por outro lado, exite um constraste
entre esses níveis com a Educação Infantil. Além disso, para o Ensino Fundamental observa-se
uma pequena vantagem quantitativa de SELs aptos para os anos finais em relação aos anos
iniciais. Por fim, é possível identificar um crescimento proporcional do número de SELs com o nível
de ensino, inclusive considerando as duas fases do Ensino Fundamental.

A partir desse levantamento, espera-se proceder ainda a avaliação dos SELs para que se possa
fazer um estudo do quadro qualitativo dos programas. Entende-se que além do aspecto
quantitativo há que se considerar a qualidade técnico-pedagógica dessas ferramentas que auxiliam
os processos de ensino e aprendizagem em Matemática.

Conclusão
A partir dos resultados desta pesquisa, espera-se contribuir para a melhoria da atuação docente no
que tange à seleção de ferramentas mais adequadas, tendo como base suas características e
potencialidades de mediação ao processo de ensino-aprendizagem de Matemática auxiliado por
computador.

A pesquisa permite vislumbrar um horizonte de possibilidades favoráveis à melhoria do ensino da


Matemática para a Educação Básica. A filosofia colaborativa dos softwares educativos livres
repercute como fator consistente para tal realização. Uma vez constatado o significativo aumento
quantitativo dos softwares para o ensino de Matemática, cabe aos profissionais da educação a
tarefa de participar em seu aprimoramento qualitativo, a fim de superar o baixo desempenho dessa
área no País.

Ademais, espera-se que esse levantamento suscite a produção de mais SELs para o ensino de
Matemática na Educação Básica, em especial, dos níveis mais elementares como a Educação
Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental.

Referências
BORBA, M. C.; PENTEADO, M. G. Informática e Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2001.

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Brasília: MEC/SEF, 142p, 1997.

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NUNES, J. B. C. Introdução ao Linux. Fundação Demócrito Rocha. Fortaleza: Universidade Aberta


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PAPERT, S. A máquina das crianças: repensando a escola na Era da Informática. Porto Alegre:

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VALENTE, J. A. Por quê o Computador na Educação? In: Computadores e Conhecimento:


Repensando a Educação, 1995. Disponível em: <http:/
www.nied.unicamp.br/publicacoes/separatas/Sep2.pdf>. Último acesso em: 25/10/2008.

Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES.

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