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Espero que a mulher não seja lembrada somente em uma data que muitos não sabem o

porquê de existir. O sentido das coisas está em fazermos no nosso dia a dia com que as
pessoas sejam sempre melhores do que são, por isso, precisamos fazer deste mundo que
oprime, um lugar melhor de se viver. O que desejo neste dia Internacional da Mulher é
que ela tenha cada vez mais espaço no mundo que vivemos. Espero que a mulher seja
menos discriminada, violentada e humilhada e que tenha cada vez mais espaço para
existir, sem ser retirado os seus direitos mínimos à dignidade. As duas mulheres que
mais amo na vida, minha mãe e avó, mostraram-me os valores de respeito, humildade,
honestidade, amor, por isso, ofereço este texto a todas as mulheres que de alguma
maneira, são feito elas, lutadoras, porque reivindicam nada mais nada menos o
protagonismo de suas vidas. À minha mãe e à minha avó, todos os meus beijos e
felicitações de amor neste dia. Parabéns, a todas as mulheres!!!

Neste dia, pensei: de que maneira seria possível homenagear as mulheres sem cair no
lugar-comum, nos clichês? Ao ser mais atento, percebi que estava rodeado delas. Seria
impossível trazer à baila tantos nomes, contudo, algumas, a minha memória não se
furtaria jamais – a minha amada vó Jove, mamãe Juracy (dona neném), dona Cota,
“Negrinha”, vó Trindade, Irene, Fátima, Lígia e agora, mais duas joias raras que Deus
permitira cruzar o meu caminho: dona Belinha e vó Elvira, estas, já seriam o suficiente
para delinear o meu tecido. Por que a escolha destes nomes neste singelo texto, alguns
podem indagar, a resposta é simples: essas mulheres a meu ver são um mosaico de cores
que alegram o mundo e o faz melhor no lugar que cada uma se situa. Com a dona Jove,
por exemplo, desde criança, aprendi o que era o amor verdadeiro. Quando esse ser de
luz olhava-me, deixava a lição que é possível ser dócil e forte diante da vida, sem ser
cruel . Não precisamos ter pressa com as coisas, estas quando nos dispomos a
compreender o que somos e o mundo que vivemos, tornam-se plumas no cotidiano,
afinal, as coisas que batem na jornada da vida precisam ter o aspecto leve sobre o nosso
olhar. Nesta mulher, vejo: amor e resignação... Já com a minha mamãe, compreendi
logo cedo que precisaria ser um combatente. Ainda que estivesse sucumbindo, entendia
que na vida precisamos buscar uma força dentro de si para vencer a nós mesmos.
Quando me lembro desta mulher sinto: fé e espiritualidade, força e amor com o outro.
Aprendi a lutar, ir adiante sem medo, por causa de sua força de mulher negra,
trabalhadora, honesta e digna... Ao reportar-me há vinte e cinco anos atrás, quando
Cota, hoje com noventa anos, com o seu olhar doce e voz calma, conversou comigo
ainda com dez anos de idade no parapeito da janela, não posso esquecer da sua
disposição em ouvir o outro, trazer narrativas de maneira tão poéticas para o meu
aprendizado humano. Ao lado dela, entendo: o amor não cobra nada do outro, ele é o
curso do rio que segue e vai movimentando a vida e as pessoas...
“Negrinha”, uma mulher enigmática, de aspectos fortes e compleição franzina, é um
furacão diante da vida. Não somente com os seus cafés de tarde e o seu amor enorme
por mim, noto: não temos explicação para tudo, precisamos sentir mais a vida de forma
despretensiosa – qualidade a quantidade, marcam os seus afetos... Já a vó Trindade,
deixou marcas de simplicidade com a terra em mim. Foi por meio dela que comecei a
entender o que era a natureza. Dentro dos seus saberes ricos com as plantas e as suas
rezas de cura de quebranto, comecei a conhecer o poder do organismo complexo na vida
das pessoas. Com ela desejo: tocar a terra, as pessoas, as suas experiências, para me
adubar o espírito... O que dizer de Irene, uma mulher de personalidade forte, prima que
biologicamente falando, é de segundo grau, mas espiritualmente, nem sem dizer a
quanto tempo estamos juntos. Se não fosse a sua humildade em ouvir uma criança de
treze anos, que questionava tudo sobre a existência humana, talvez eu não tivesse
seguido o mundo das letras e palavras. Foram por todas as suas respostas e provocações
que o meu espírito despertou para a „minha não certeza de nada‟. Com você
compreendo: estudar sempre para evoluir, sem a arrogância de se achar sabedor de
muito... Fátima, outra joia de mulher em minha vida. Com essa pessoa linda, aprendi a
exercitar o desapego. As suas conversas, sempre foram de muita paciência, pois
aguentar um adolescente faminto por saber coisas sobre o místico, a espiritualidade,
psicanálise e psicologia, definitivamente, precisa ser um anjo resignado – concluo:
humildade, desprendimento, lealdade, são as suas marcas de existência... Lígia, minha
doce flor. Deve se lembrar de quando a minha vó Jove partiu, foi naquele momento que
ela me deixou reencontrar você no caminho desta vida. Sem a sua paciência e amizade,
desde os quinze anos, seria impossível o meu espírito despertar com tanta sensibilidade
para a música. Zé Ramalho, Cassia Eller, Legião Urbana, dentre tantos outros, não
teriam me atravessado, se não fosse por você – a sensibilidade te resume; aproprio-me
dela... Dona “Belinha” (adoro chamá-la assim), outra pérola de alto valor que Deus
permitira reencontrar aqui no planeta, mais precisamente, em Nerópolis. Com a senhora,
logo fica fácil perceber o porquê de existir artistas tão nobres no mundo. As suas mãos
simples, reportam-me aos artesãos italianos – compenetrados, que cunhavam obras
lindas de qualquer olhar humano se deslumbrar. Não sou o mesmo depois de provar do
seu café docinho, o bolinho de milho, que estão materializados o afeto, o amor, o calor
de ser humano. O seu olhar vaza emoção e sinceridade, por isso, agradeço por olhar-me
com firmeza e carinho, sem crítica... Por fim, a vó Elvira, não por acaso, sinto um amor
próximo da pessoa que inicia este texto: a vó Jove. Quando a senhora me beija e abraça,
sinto-me amparado. Reporto-me à minha doce Jove, que amava sem pré-julgamento,
porque simplesmente amava. Os seus afagos em mim são um lenitivo para a minha
alma – a nossa conversa se dá muito pelos olhares e a senhora sabe muito bem disso. De
espírito forte, é o esteio na família Gomes da Silva. Quando crescer, quero ter a sua
vitalidade e olhar para a vida, sempre de maneira tão doce e ao mesmo tempo ponderada
– amor e nobreza de caráter te resume. Obrigado pelos sorrisos afetuosos quando me
recebe em Nerópolis, grato por todas as vezes que sai à porta para me proteger com o
seus bons pensamentos...
Por essas e tantas outras Joves, Juracys, Cotas, “Negrinhas”, Trindades, Irenes, Fátimas,
Lígias, Belinhas e Elviras, entendo a importância da mulher na vida das pessoas. Não
sou o mesmo Clodoaldo depois de embeber de suas histórias. As narrativas a mim
contadas, incrustaram na minha alma. Estou marcado para sempre com as suas vidas,
por isso, agradeço às mulheres que escolheram estar comigo seja física ou
espiritualmente (in memorian), porque amar é isso, estar disposto ao outro sem querer
explicar tudo.
Texto de Clodoaldo Fernandes. 08 de mar. 2016.

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