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1 – Lugar e região, por exemplo, têm sido diferentemente conceitualizados segundo as

diversas correntes da geografia.

2 – O espaço, em realidade, não se constitui em um conceito-chave na geografia tradicional.


Contudo, está presente na obra de Ratzel e Hartshorne.

3 – O espaço em Ratzel é visto como base indispensável para vida do homem, encerrando as
condições de trabalho, quer naturais, quer aqueles socialmente produzidos. (...) conceito de
território e de espaço vital. O primeiro vincula-se à apropriação de uma porção do espaço por
um determinado grupo, enquanto o segundo expressa as necessidades territoriais de uma
sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos
recursos naturais. Uma relação de equilíbrio entre a população e os recursos, mediada pela
capacidade técnica. A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se na própria razão de
ser do Estado. O espaço transforma-se, assim, através da política, em território, em conceito-
chave da geografia.

4 – O espaço não visão de Hartshorne é o espaço absoluto, isto é, um conjunto de pontos que
tem existência em si, sendo independente de qualquer coisa. (...) O espaço de Hartshorne
aparece como um receptáculo que apenas contém as coisas. É somente um conceito abstrato
que não existe na realidade (...) a área, em si própria, está relacionada aos fenômenos dentro
dela.

5 – A introdução da geografia teorético-quantitativa traz consigo a percepção do espaço como


conceito-chave da disciplina. (...) Lugar e território não são conceitos significativos na geografia
teorético-quantitativa.

6 - O conceito de espaço dentro da geografia teórico-quantitativa é dado através de duas


formas. Uma é a noção de planície isotrópica e a outra de representação matricial. Por planície
isotrópica entendo como sendo uma construção teórica que resume a concepção de espaço
derivada de um paradigma racionalista e hipotético-dedutivo e por representação matricial
deveria segundo o autor se constituir em meios operacionais (logo, instrumental) que nos
permitam extrair um conhecimento sobre localizações e fluxos, hierarquias e especializações
funcionais que, segundo ele seria uma importante contribuição que permite a compreensão da
organização espacial.

7 – No âmbito dos debates da geografia crítica, o espaço aparece como o conceito-chave.

8 – O desenvolvimento da análise do espaço no âmbito da teoria marxista deve-se à


intensificação das contradições sociais e espaciais tanto nos países centrais como periféricos.
(...) O espaço aparece efetivamente na análise marxista a partir da obra de Henri Lefébvre. (...)
O espaço é o locus da reprodução das relações sociais de produção.

9 – Milton Santos estabelece o conceito de formação socioespacial. Acredita que modo de


produção, formação socioeconômica e espaço são categorias interdependentes. (...) a
sociedade só se torna concreta através de seu espaço (...)apresenta o espaço como fator social
e não apenas um reflexo social, constitui uma instância da sociedade.

10 – (...) categorias de análise do espaço. Segundo Milton Santos, o espaço deve ser analisado
a partir das categorias estrutura, processo, função e forma.

11 – Forma é o aspecto visível, exterior, de um objeto, seja visto isoladamente, seja


considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial.
12 – A noção de função implica uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo
objeto criado, a forma.

13 – A estrutura diz respeito à natureza social e econômica de uma sociedade em um dado


momento do tempo: é a matriz social onde as formas e funções são criadas e justificadas.

14 – Processo é definido como uma ação que se realiza, via de regra, de modo contínuo,
visando um resultado qualquer, implicando tempo e mudança. Processo é estrutura em seu
movimento de transformação.

15 – “Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados, a


empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente,
representam apenas realidades parciais, limitadas do mundo. Considerados em conjunto,
porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da
qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade. “(Milton Santos)

16 – No estudo do espaço no âmbito da geografia humanista consideram-se os sentimentos


espaciais e as ideias de um grupo ou povo sobre o espaço a partir da experiência.

AS PRÁTICAS ESPACIAIS

17 – (...) estabelecimento de um conjunto de práticas através das quais são criadas, mantidas,
desfeitas e refeitas as formas e as interações espaciais. As práticas espaciais são um conjunto
de ações espacialmente localizadas que impactam diretamente sobre o espaço.

18 – As práticas espaciais são as seguintes: seletividade espacial, fragmentação-


remembramento espacial, antecipação espacial, marginalização espacial e reprodução da
região produtora. Não são mutuamente excludentes.

19 – Seletividade espacial: o homem age seletivamente; decide sobre um determinado lugar


segundo este apresente atributos julgados de interesse de acordo com os diversos projetos
estabelecidos.

20 – Fragmentação e remembramento espacial: No processo de produção do espaço há uma


inerente dimensão política que leva a diferentes formas de controle sobre o espaço (cidades,
países, empresas). A fragmentação e o remembramento dessas porções do espaço são uma
prática corrente. O espaço geográfico sofre constantes divisões político administrativas, além
de fusões e desagregações entre empresas. Assim, novos estados, municípios, países e
empresas são criados, resultantes da fragmentação de outros, ou então ocorre o contrário:
fusões entre empresas (AmBev), países (RDA e RFA= Alemanha atual) etc.

21 – Antecipação espacial: Constitui uma prática que pode ser definida pela localização de uma
atividade em um dado local antes que condições favoráveis tenham sido satisfeitas. Significa
reserva de território, garantir para o futuro próximo o controle de uma dada organização
espacial, garantindo assim as possibilidades, via ampliação do espaço de atuação, de
reprodução de suas condições da produção.

22 – Marginalização espacial: o valor atribuído a um dado lugar pode variar ao longo do


tempo. Razões de ordem econômica, política ou cultural podem alterar a sua importância e, no
limite, marginalizá-lo, deixando-o à margem da rede de lugares a que se vinculava.

23 – No processo de valorização produtiva do espaço é necessário que se viabilize a


reprodução das condições de produção. Constituem ingredientes da gestão do território,
ocorre quando algum empreendimento procura garantir, a longo prazo, suas condições de
atuação.

QUESTAO DISCURSIVA CACD – 2018

Considerando que o fragmento de texto apresentado tem caráter unicamente motivador,


disserte sobre as abordagens espaciais e(ou)

territoriais, no campo do saber geográfico, durante os seguintes períodos:

1 fase inicial do determinismo ou ambientalismo geográfico;

2 fase inicial da geografia crítica radical;

3 fase emergente da geografia humanista.

RESPOSTA: 1 Abordagens espaciais e(ou) territoriais, no campo do saber geográfico, durante a


fase inicial do determinismo ou

ambientalismo geográfico

A constituição científica da geografia, ao final do século XIX, é especialmente fundamentada


no determinismo

ambiental ratzeliano. Alguns pontos estruturantes dessa fase dizem respeito a i) desequilíbrios
regionais vistos como originados

de fatos naturais; ii) distância entendida como distância física impeditiva do desenvolvimento;
iii) isolamento como fato

geomorfológico; iv) pobreza encarada como fato geológico; v) visão geográfica de problemas
históricos e socialmente

determinados como portadores de um intransponível fundamento natural. A funcionalidade


da concepção determinista esteve

em fortalecer o senso comum, a ideologia das classes dirigentes e a superficialidade do nível


científico. Essa geografia

determinista evitou a reflexão política sobre os desequilíbrios regionais e o mascaramento das


escolhas de política territorial dos

grupos dominantes. Nessa fase, a incorporação da filosofia positivista contribuiu para que os
fatos — problemas a serem

interpretados ou dados estatísticos inertes a serem registrados ou classificados — fossem


tomados na dimensão geométrica do

mundo. O ambiente deixou de ocupar um lugar privilegiado na história da geografia não


porque o determinismo geográfico faça

a geografia centrada em questões causais, mas porque a visão determinista ou ambientalista é


funcional à ideologia e à concepção
do mundo e da sociedade que dominam a época capitalista. O determinismo geográfico reflete
de forma mistificada a condição

de alienação do território em relação ao homem. Para o determinista, o território, no sistema


capitalista, torna-se uma força

autônoma que se contrapõe ao homem e o domina. O problema do determinismo dos


positivistas não é tanto descrever a

submissão do homem à “natureza”, mas, não vendo eles a especificidade histórica e social
dessa dominação, buscar mistificá-la

ou interpretá-la como natural e biológica, sendo ela, na verdade, somente social e


historicamente determinada.

2 Abordagens espaciais e(ou) territoriais, no campo do saber geográfico, durante a fase inicial
da geografia crítica radical

A relação social não é relação natural. O território não é uma objetividade natural que domina
a sociedade. A natureza

social não é sociedade natural; há, pois, que penetrar na mistificação real que o modo de
produção capitalista realiza. As novas

questões sociais emergentes nos anos de 1960 a 1970 — ou seja, problemáticas urbanas,
exponente migração, feminismo,

movimentos ecológicos, emancipação de minorias, afirmação da cidadania e outros —


exigiram novo arcabouço geográfico,

quando, então, ganhou respaldo a geografia crítica radical de inspiração marxista. O debate da
produção do espaço, na dimensão

da economia política, fortaleceu a recusa em “naturalizar” os fatos sociais. Essa corrente fez da
própria sociedade a realidade

primeira e do espaço geográfico o equivalente da totalização ou o devir social. Entre os


diferentes autores que podem ser citados

para explicar esse momento importante da geografia e o tratamento do espaço e do território,


destacam-se Milton Santos, com a

obra Por uma Geografia Nova, e David Harvey, com A justiça social e a cidade, estudiosos que
indicam as raízes históricas e

as determinações sociais do espaço. O espaço deixou de ser externo ao homem, organizado


por ele, para ser produto desse homem

pelo trabalho; por isso, a noção de produção do espaço. A sociedade, assim, só poderia ser
analisada e compreendida, em cada

momento do tempo, por meio da periodização do espaço geográfico, reciprocamente.

3 Abordagens espaciais e(ou) territoriais, no campo do saber geográfico, durante a fase


emergente da geografia humanista
A geografia humanista reforça, após o período de 1970 a 1980, o homem como medida de
todas as coisas, de forma que

o espaço e suas propriedades não se resumem a medidas numéricas, e o espaço é sempre um


lugar ou um território, extensão

carregada de significações variadas, de acordo com uma perspectiva mais integrada do espaço
com seus valores definidos e

definidores de lugares e de territórios. Nessa abordagem, a ação humana tem um contexto


físico-social; ainda que se parta de um

enfoque antropocêntrico, a ação humana deve ser entendida no seu contexto mais amplo. O
conceito de território e de lugar,

nessa corrente, fundamentado na atribuição de valores às coisas que nos cercam, incorpora o
homem como produtor de cultura

e de identidade; e o ato de generalização teórica não pode perder de vista as particularidades,


pois são estas de fato as fundadoras

da cultura, uma vez que abstrações explicativas lógicas partem de premissas globais falsas, que
reduzem a importância dos

artesãos da atividade humana, isto é, os artífices da cultura, dos valores, das significações.
Para o geógrafo humanista, generalizar

significa negligenciar as propriedades fundamentais dos contextos particulares. Essa corrente


está ligada a uma busca filosófica

fenomenológica e também hermenêutica, que adota um método em que são reconhecidos


contextos próprios e específicos de

cada fenômeno, na arte da interpretação das linguagens, dos signos e de seus valores
simbólicos. Essa geografia favorece, ainda,

a aproximação da ciência e da arte, de tal forma que o território e o lugar constituem


conceitos de mediação entre a vida e o

universo de representações — meio mais livre e espontâneo da manifestação das culturas e


suporte das identidades ou de sua

inscrição espacial por intermédio de valores e significações de sujeitos e de grupos sociais


territorializados ou em processo de

territorialização.

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