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Verde Perto
Educação
Vol. I
ORGANIZADORES
Manaus, 2015
dbm
Copyright © 2015 - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Dilma Vana Rousseff Linhares
EDITORA INPA
Editor: Mario Cohn-Haft. Produção editorial: Rodrigo Verçosa, Shirley Ribeiro Cavalcante, Tito Fernandes.
Bolsistas: Angela Hermila Lopes, Henrique Silva, Izabele Lira, Tiago Nascimento.
PROJETO GRÁFICO
Tito Fernandes
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Izabele Lira
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Marina Biagioni
A presente obra foi produzida com apoio do Programa de Monitoramento de Fauna (sub programa
de Avifauna) para fins da construção da UHE do rio Madeira em Santo Antonio, realizado pela Santo
Antonio Energia.
CATALOGAÇÃO NA FONTE
V483 Verde perto educação / Organizadores Leonardo da Silveira Rodrigues, Marina Anciães. -- Manaus : Editora INPA, 2015.
156 p. : il.
Verde Perto
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Verdes Perto
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 6
AGRADECIMENTOS 7
AUTORES 10
CAPÍTULOS
92345=-
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Apresentação
Leonardo Rodrigues
O presente livro trata do programa Verde Perto Educação, proposta educativa em que
crianças, jovens, curiosidade, ciência, matas e florestas, política, artes e cultura vivem
juntos. Essa metodologia de educação ambiental foi desenvolvida em 2007 na cidade minei-
ra de Conselheiro Lafaiete. No presente livro você encontrará a descrição da metodologia, o
histórico de sua construção e um conjunto de experiências em diferentes locais e contextos
do Brasil onde foi adaptada e replicada.
O livro é voltado para pessoas que tenham a intenção de trabalhar educação ambiental não
formal, seja em apoio a escolas, seja em ONGs, em Unidades de Conservação ou em demais
instituições que praticam a educação ou buscam a sustentabilidade ambiental.
Contém nove capítulos, mais as considerações finais. Cada capítulo traz uma diferente
perspectiva sobre o Verde Perto e foi redigido por pessoas diferentes. Abaixo um breve resu-
mo do que será encontrado em cada um deles.
O primeiro capítulo trata do histórico de surgimento da proposta educativa e descreve a
metodologia. O segundo foi escrito por estudantes que fizeram parte e ajudaram a elaborar a
primeira experiência do Verde Perto. O terceiro capítulo traz o relato de dois poetas que par-
ticiparam de três diferentes versões do projeto atuando como instrutores de oficinas de poe-
sia. O quarto capítulo traz a experiência do Verde Perto junto ao público especial da APAE. O
quinto capítulo é um relato do Verde Perto com aspecto mais científico, tendo sido realizado
em um Jardim Botânico na cidade de Manaus. O sexto capítulo traz a perspectiva de uma
pesquisadora que foi palestrante de uma das versões do projeto. O sétimo capítulo relata a
experiência de duas artistas plásticas que atuaram com instrutoras em algumas ações Verde
Perto. O oitavo capítulo relata a experiência de aplicação da metodologia junto a jovens resi-
dentes em Unidades de Conservação, no Amazonas. O nono capítulo aborda a metodologia
como estratégia educativa voltada para a gestão sócio ambiental.
Ao final do livro temos ainda as considerações finais, onde são brevemente expostos resul-
tados interessantes da metodologia através da história de algumas pessoas que por ela passa-
ram e hoje atuam em prol do meio ambiente de forma protagonista.
Esperamos que seja um documento útil a quem queira trabalhar a educação ambiental
promovendo a autonomia, o protagonismo e a auto gestão de cada pessoa em seu ambiente
imediato afim de termos um mundo mais equilibrado e justo. Como apregoado na Agenda 21
“pensando globalmente e agindo localmente / pensando localmente e agindo globalmente”.
José Odilon Rodrigues Pereira - Tenho 65 anos e sou psicólogo formado pela
UFMG. Sempre me interessei pelo meio ambiente, por entender ser o espaço por
onde se dá a relação humana. Sou fundador de uma ONG ambiental - Liga Ecológica
Santa Matilde (LESMA) em Conselheiro Lafaiete/MG, fui secretário municipal
da criança e do adolescente em Três Marais/MG, atualmente atuo como psicólogo
clínico. Sou pai de Leonardo, Cecília e Marcelo e casado com Selma Lúcia. Resido em
Conselheiro Lafaiete/MG.
Thai (Thaiane Rezende) considera que o Verde Perto deixou seu horizonte mais vas-
to e colorido. Hoje jornalista e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal
de Minas Gerais, idealizou e coordenou, em 2014, um projeto de intercâmbio cultural
e aprendizagem coletiva chamado Experiências Compartilhadas, que provavelmente
não teria existido sem a inspiração do Verde Perto.
Ana Luiza “KIKA” Gouvea - Depois de muitos anos vivendo no mar, o giro natural
da vida me levou a Manaus onde por alguns anos vivi; sentindo e aprendendo a gran-
de floresta. Com meu trabalho de arte-educadora, cuja formação se deu na Universi-
dade Federal do Amazonas, passei a atuar em projetos socioambientais, um dos mais
inspiradores o Projeto Verde Perto. Enquanto trabalhava tentava revelar através da pin-
tura e da fotografia a Amazônia em seus variados tons, em sua imensidão monumental
ou em sua miudeza constelada; naarquitetura desuas folhas, no caminho dos igarapés,
nosom dosigapós, e no saber de sua gente...Nesse trajeto, laços afetivos se formaram
e as vivências e aprendizados nesse Brasil de tamanha riqueza foram muitos deles
resultado de trabalhos desenvolvidos em comunidades às margens dos rios. Convivi
com crianças e jovens de sorrisos largos e olhos atentos, e com pessoas da mais alta
sabedoria que me ensinaram a enxergar com outras lentes, mas, sobretudo, ensinaram-
me sobre a grandeza das relações com a natureza e da singeleza da culturatradicional.
Buscante domundo, atualmente, moro no México onde trabalho com comunidades
indígenas e com jovens moradores de Áreas Naturais Protegidas, ou seja continuo
no caminho do sigoaprendendo….Por fim não me abandona o ímpeto de conhecer
e desvelar as “gentes” todas, trabalhando emmuitas mãos por esse mundão repleto de
possibilidades e desafios tentadores.
Tatiana Maria Machado de Souza acredita que educação é a base para a transforma-
ção social em direção a um mundo mais justo e saudável. Onde haja mais consciência,
menos superficialidade e mais respeito à diversidade. Encontrou no Verde Perto uma
robustametodologia de educação transformadora e emancipatória. É socioambienta-
lista, veterinária e analista ambiental do ICMBio. Email: tatimsouza@gmail.com
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Leonardo da Silveira Rodrigues e José Odilon Rodrigues Pereira
Histórico
Em 2006 eu, Leonardo, assumi metade das horas aula da discipli-
na “biologia” para 4 turmas do 2º ano do ensino médio em um colégio
particular (Colégio Potência) do município de Conselheiro Lafaiete, em
Minas Gerais. Desde o primeiro dia de aula por que não conversar com seu diretor e pe-
ficou claro que dificilmente se construiria dir a ele para executar uma ação educativa
uma relação mais profunda estudantes/pro- voltada para a questão ambiental em paralelo
fessor, pois as aulas ocorriam apenas uma vez a grade curricular?”.
por semana, em horários de 50 minutos, no Foi exatamente o que fiz. Conversei com
período matutino das sextas feiras. o diretor da escola, apresentei a ele o material
Na segunda semana de aula perguntei a que os alunos haviam redigido e perguntei se
todos os alunos das quatro turmas “de que não seria possível construir um projeto de
forma vocês gostariam de aprender ciências bio- educação ambiental voltado para os estu-
lógicas?”. Nas duas semanas seguintes a essa dantes do 2º ano do Colégio. Recebi carta
pergunta, cerca de 40 cartas (em um univer- branca e convidei os alunos interessados a se
so de mais de 120 estudantes) foram entre- reunirem comigo na segunda feira seguinte,
gues a mim com um conjunto bem variado no período da tarde. Cerca de 35 estudan-
de sugestões sobre como seria interessante tes compareceram a essa reunião e a partir
aprender biologia. da nossa conversa de uma hora achamos
As sugestões dos estudantes estavam prudente nos reunirmos por mais algumas
divididas em quatro grandes eixos de linhas segundas feiras a fim de construirmos nosso
de ação: projeto, de forma coletiva e participativa.
1. Utilizar saídas de campo para áreas na- Nos dois meses seguintes nos encontra-
turais, como a “Serra de Ouro Branco”, as mos mais oito vezes e ao final de todo esse
nascentes do “Rio Bananeiras” ou o “Pico do esforço surgiu uma proposta de educação
Itacolomi”; ambiental, batizada pelos estudantes de
2. Realizar ciclos de palestras sobre temá- “Ação Resgate”.
ticas ambientais e ecológicas proferidas por
profissionais, técnicos e políticos da cidade Ação Resgate
de Conselheiro Lafaiete, abordando de for-
Organizamos o projeto, os jovens
ma prática questões referentes ao meio am-
estudantes do ensino médio, José Odilon e
biente;
eu, focando a ação na questão ambiental de
3. Visitar espaços acadêmicos e científicos Conselheiro Lafaiete. Foi estruturado para
de ciências biológicas como Museus de His- ser realizado ao longo de doze semanas, com
tória Natural, Universidades e Jardins Zoo- as atividades e práticas ocorrendo sempre
botânicos; nos contra turnos das aulas formais e com
4. Trabalhar temas biológicos por meio de algunseventos sendo realizados nos fins
oficinas de arte educação, como fotografia, de semana.
música, poesia e desenho. Cada semana abordava um tema diferente
Após receber todo o conjunto de cartas, que era trabalhado por variadas linguagens.
analisar, organizar e sistematizar seus conte- Dessa forma, cada semana funcionava como
údos, apresentei o material ao psicólogo José um módulo dentro da estrutura maior do
Odilon que ao ler os conteúdos disse “você projeto. No total realizamos doze módulos
tem um projeto de educação em mãos aqui, de atividades.
16 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
Cada módulo era estruturado da seguinte florestal, biólogo, nutricionista, engenheiro
maneira: sanitarista, médico, entre outros.
1. Palestra Teórica nas tardes das segun- Cada palestra servia de tema inspirador
das feiras; para as oficinas realizadas na semana. Dessa
2. Oficina de Poesia nas tardes das terças forma, além de se trabalhar técnicas específi-
cas da oficina – técnicas de enquadramento
feiras;
de fotografias, exercícios de ritmo, métrica
3. Oficina de Música nas tardes das quar- poética ou técnicas de colagem e mosaico
tas feiras; – os participantes eram estimulados a utili-
4. Oficina de Vídeos, Fotografias e Multi- zar os temas teóricos das palestras como os
mídia nas tardes das quintas feiras; motivos inspiradores dos exercícios práticos
5. Oficina de Artes Plásticas nas tardes das realizados durante as oficinas. Logo, o tema
bacia hidrográfica gerou registros fotográfi-
sextas feiras.
cos do rio Bananeiras e tornou-se mote para
Os temas das palestras e das oficinas foram criação de poesias.
escolhidos pelos próprios jovens e cada estu-
Outra linha de ação realizada ao longo
dante tinha autonomia para decidir em quais
das doze semanas de projeto foram as
atividades do projeto gostaria de participar.
saídas a campo. Planejamos realizar 4
De uma maneira geral, as palestras eram
saídas a campo a cada um dos extremos
acompanhadas por todo o grupo, inclusive
de Conselheiro Lafaiete “os quatro cantos
pelos instrutores das oficinas. Assim, alguns
da cidade”: Rancho Novo (distrito com
alunos assistiam a palestra e participavam da
nascentes d’água tradicionalmente utilizadas
oficina de Música; outros preferiam a oficina por lavadeiras de roupas, ao leste); Buarque
de Artes Plásticas; outros ainda participavam de Macedo (distrito onde está localizada a
de todas as oficinas. As práticas não valiam nascente do rio Bananeiras, principal corpo
nota e o aluno ia se quisesse e retornava se d’água da cidade, no sul); Mato Dentro
gostasse. A medida que o projeto ia aconte- (distrito com comunidade remanescente de
cendo, começaram a aparecer jovens dos ter- quilombo, onde passa o rio Paraopeba, bacia
ceiros e primeiros anos do ensino médio, que hidrográfica em que se insere Conselheiro
inicialmente não eram o público alvo. Lafaiete, ao norte) e Água Limpa (fazenda
As palestras abordaram temas como “o importante na história de fundação da
protagonismo juvenil na questão ambiental cidade, no oeste). De todos os locais, o único
Lafaietense”; “a bacia hidrográfica do alto que não foi viabilizada a atividade de campo
Paraopeba e a sub bacia do rio Bananeiras”; foi a fazenda Água Limpa.
“os alimentos e o meio ambiente”; “a políti- Nas saídas a campo realizamos ações jun-
ca ambiental de Conselheiro Lafaiete”, entre to aos alunos das escolas municipais rurais
outros. Foram ministradas por profissionais dos respectivos distritos. Essa ação em con-
da área, desvinculados do Colégio. Entre os junto foi possível por meio da articulação
palestrantes contamos com psicólogo, se- do projeto com as secretarias municipais de
cretário municipal de meio ambiente, pre- educação e meio ambiente. As articulações
sidente de ONG ambientalista, engenheiro políticas fizeram parte do projeto como es-
CAPÍTULO 1 17
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
tratégia de estimulo a participação política Conselheiro Lafaiete enfrenta em seu meio
por parte dos jovens. Contamos ao longo das ambiente.
ações com amplo apoio dos secretários de
educação e meio ambiente. O Surgimento do Programa
Além das saídas de campo aos “quatro Verde Perto de Educação
cantos da cidade” conseguimos articular
Ambiental
uma parceria com uma universidade da ci-
dade (UNIPAC). Por meio dessa parceria A medida que as atividades do projeto
os alunos tiveram acesso aos laboratórios “Ação Resgate” aconteciam José Odilon e
de áudio visual da faculdade de comunica- eu discutíamos os avanços percebidos no
ção social. A partir dessa experiência com grupo de jovens participantes, as atividades
instrumentos de captura e transformação de desenhadas, a repercussão das palestras e das
imagens, vídeos e sons, os jovens produzi- oficinas e os efeitos do estímulo ao protago-
ram diversos materiais frutos das atividades nismo juvenil que buscávamos gerar desde
do projeto como: CD com recital de poesia, o início da construção coletiva da proposta
documentário com entrevistas realizadas nas educacional.
saídas de campo, exposição fotográfica. A partir das nossas avaliações e do acom-
Todo esse material produzido foi transfor- panhamento do projeto compreendemos
que essa iniciativa poderia se tornar uma
mado em um grande evento de encerramen-
metodologia de educação ambiental. Para
to do projeto, ao final da última semana, onde
tanto, concebemos que ela deveria estar es-
os participantes da “Ação Resgate” convida-
truturada em três principais aspectos: o Pro-
ram seus pais, amigos e demais familiares a
tagonismo Juvenil, a Transdisciplinaridade e
participar da celebração do término de uma
a Educação Lúdica.
etapa. Nesse fechamento todos os produtos
gerados ao longo do projeto foram expostos Outro aspecto determinante foiencarar
e apresentados. De exposição fotográfica a formação em educação ambiental como um
recital de poesia, passando por exibição de treinamentopara enfrentar problemas, ques-
entrevistas e apresentação musical. tões e desafios referentes a crise ambiental vi-
venciada no planeta e verificada por estudos
Conseguimos fazer dessas doze semanas que captamperda de biodiversidade, aumen-
um momento de efervescência socioam- to das concentrações de gases de efeito estu-
biental que envolveu diretamente os jovens fa na atmosfera, erosão dos solos, poluição
do projeto, profissionais de arte educação, das águas e do ar, contaminação dos alimen-
familiares, políticos, outras escolas, universi- tos e diversos outros sintomas dos desafios
dade, jornais e TV locais. Envolvemos tam- atuais que a sociedade vem enfrentando. As-
bém inúmeros participantes eventuais e ou sim, deduzimos que o estímulo à inteligência
leitores e expectadores que tomaram conhe- seria um caminho adequado para o projeto,
cimento das atividades que esse grupo de uma vez que “inteligência” pode ser interpre-
jovens protagonizou em prol das discussões tada como a capacidade cerebral pela qual
socioambientais e na busca pela resolução conseguimos penetrar na compreensão das
de desafios e problemas que o município de coisas escolhendo o melhor caminho para
18 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
agir. Ou seja, ela é um fluxo cerebral que nos dos problemas derivados das ditas relações e
leva a buscar opções para solucionar uma suas causas profundas. Ela desenvolve, median-
dificuldade e que se completa como uma te uma prática que vincula o educando com a
faculdade para compreender, entre opções, comunidade, valores e atitudes que promovem
qual a melhor. Além de também nos ajudar a um comportamento dirigido à transformação
resolver problemas ou até mesmo criar pro- superadora dessa realidade, tanto em seus as-
dutos válidos para a cultura que nos envolve pectos naturais como sociais, desenvolvendo no
(Antunes, 2002). educando as habilidades e atitudes para a dita
A partir dessas reflexões constatamos transformação”. É “o processo em que se busca
que a teoria das Inteligências Múltiplas de despertar a preocupação individual e coletiva
Howard Gardner (1994) seria uma ferra- para a questão ambiental, garantindo o acesso
menta teórica extremamente útil para trans- à informação em linguagem adequada, contri-
formarmos o projeto em um programa de buindo para o desenvolvimento de uma cons-
educação ambiental. Esta teoria possibilita ciência crítica e estimulando o enfrentamento
usos e ações muito mais variados e plásticos das questões ambientais e sociais. Desenvolve-
para o processo didático-pedagógico, casan- se num contexto de complexidade, procurando
do melhor com a proposta não formal que trabalhar não apenas a mudança cultural, mas
estava sendo construída do que a visão tra- também a transformação social, assumindo a
dicional utilizada na educação formal onde crise ambiental como uma questão ética e políti-
a inteligência é tratada como um coeficiente ca” (Brasil, 1999).
estanque, o QI. O ambiente é o espaço onde se materiali-
A partir desse arcabouço teórico, deduzi- zam as relações que os homens mantêm entre
mos que buscar diferentes formas de estimu- si, com a natureza, com os demais seres vivos
lar o estudante e, ao mesmo tempo, provocar e com tudo que os cerca. Por isso, a caracte-
a utilização de diferentes inteligências e apti- rística fundamental da educação ambiental
dões durante o processo educativo seria uma está no objeto de estudo – o meio ambiente,
excelente maneira de incitar um conjunto de considerando-se seus aspectos físicos, quí-
pessoas a criar soluções aos desafios socio- micos e biológicos, incorporando, também,
ambientais inerentes a atual civilização do toda uma rede de relações socioeconômicas,
consumo. Constatamos que a educação não culturais, políticas, ecológicas, tecnológicas,
formal lúdica, transdisciplinar, estimulado- éticas e estéticas (Melo et al. 1997).
radas diferentes inteligências, que desperta O ambiente deve ser visto como um todo.
protagonismo e autonomia nos participantes Em outras palavras, em todos os seus aspec-
era ideal para se trabalharo viés ambiental. tos:naturais, sociais, artísticos, científicos,
De acordo com a Política Nacional de políticos, ecológicos, econômicos, culturais,
Educação Ambiental - PNEA (Brasil, 1999) técnicos, etc. Afinal, a educação ambiental é
- a educação ambiental “é a ação educativa mais do que uma atividade, ela é um projeto.
permanente pela qual as comunidades edu- E um projeto amplo que deve estimular o es-
cativas têm a tomada de consciência de sua tudante a construir uma visão do ambiente,
realidade global, do tipo de relações que os auxiliando-o a formar conhecimentos para
homens estabelecem entre si e com a natureza, compreender e interpretar o mundo e agir
CAPÍTULO 1 19
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
sobre ele (Rodrigues et al. 1997).E a educa- experiência realizada no Ação Resgate. Sur-
ção ambiental, devido ao seu caráter holísti- gia então uma metodologia de educação não
co, deve favorecer a aptidão natural da mente formal. Logo começamosa pensar em um
para colocar e resolver os problemas e, cor- nome para a proposta educativa. Verde Perto
relativamente, estimular o pleno emprego da apareceu em uma conversa entre os instru-
inteligência geral (Morin, 2002). tores das oficinas de arte educação num mo-
Trata-se de um de um tipo de pedagogia mento de avaliação e discussão de próximos
que deve ser fonte de estímulo e de encora- passos a serem desenvolvidos com os jovens
jamento para instigar a aptidão interrogativa estudantes do Colégio Potência. Osmir Ca-
dos estudantes a fim de orientá-los a pensar milo, um dos instrutores da oficina de poe-
e buscar soluções para os problemas fun- sia, sugeriu o jogo de palavras verde perto /
damentais da condição humana em nosso ver de perto.Estava batizada nossa proposta
momento histórico atual (Morin, 2002). metodológica, a partir de uma brincadeira
Além disso, a educação ambiental pode ser com palavras, incluindo assim aspectos lú-
o paradigma educacional a ser seguido nesse dicos na essência do projeto, bem de acordo
século XXI, em que a educação formal tem com a orientação provocadora que desejá-
tido sérios revezes na realização de suas atri- vamos para a metodologia que estava sendo
buições. Revezes causados pelas profundas construída.
mudanças sociais, tecnológicas e populacio-
nais dos últimos 50 anos que ocorreram no Educação Ambiental –
planeta. Hoje, na atual sociedade da informa-
ção, a escola deveria buscar caminhos menos Abordagem conceitual
conteudistas. As informações estão em toda O foco na questão ambiental apresen-
parte, nas revistas, jornais, televisões, rádios tava-se muito afinado com as percepções e
e Internet. Mas os estudantes não têm sido- observações sobre a degradação contínua do
preparados para integrar essas informações, meio-ambiente realizada pelos participantes
que são transmitidas de forma fragmentada do projeto. Era patente em nossos estudos a
e não se transformam em melhoria de quali- compreensão de que a sociedade, a partir de
dade de vida e de bem estar (Morin, 2005). sua forma de lidar com os organismos, com
Ou seja, estamos em um momento de os recursos naturais e mesmo entre os seres
transição dos processos pedagógicos (Tiba, humanos, vem passando por um momento
2006), e a educação ambiental, exatamente delicado com grande perda de biodiversida-
por ser transdisciplinar e integradora em sua de, desafios hídricos, esgotamento de recur-
essência, pode se tornar o modelo desejável sos naturais locais, erosão de solos, vulnera-
de uma nova forma pedagógica (Leff, 2004). bilidade e injustiça ambiental, alémde tantos
Ou pelo menos pode ser uma das práticas outros limites e desafios. Isso deveria ser
inovadoras a inspirar um novo modelo peda- ponto central no Verde Perto, entendendo a
gógico, mais adequado ao complexo mundo necessidadeda sociedade buscar alternativas
atual (Soares, 2003; Leff, 2004). de uso de recursos e criar novas formas de se
Todos esses aspectos teóricos e conceitu- relacionar com a natureza e com os próprios
ais elencados acima foram sendo inseridos à seres humanos.
20 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
Apesar de haver diversas pessoas e institui- Mas para criarmos projetos ou programas
ções que encaram o desafio ambiental como de educação ambiental ou educação científi-
algo premente, essa ainda não é uma percep- ca, é desejável que pensemos e elaboremos
ção universal. Existem instituições que são propostas que sejam transdisciplinares, uma
mais propensas a criar e realizar atividades vez que meio ambiente e ciência são temas
inovadoras no sentido de buscar alternativas transversais e que afetam a todos; lúdicas,
sustentáveis para a sociedade. Além disso, a já que aprender deve ser um ato agradável;
inter-relação entre instituições de diferentes e que coloquem o jovem como protagonista
vocações produz resultados criativos, inova- de seu aprendizado e capaz de desenvolver
dores e eficientes na educação ambiental e autonomia em sua ação e em seu pensar. Ao
no uso sustentável dos recursos (Leff, 2000; reafirmarmos esses três aspectos estamos vi-
Leff, 2004). sualizando o seguinte:
Dentre as várias instituições que podem 1) Transdisciplinaridade
contribuir com novas formas de relação entre
De acordo com Morin (2005), “o co-
os seres humanos, a Escola e as instituições
nhecimento das informações ou dos dados
de ensino, sejam formais ou não formais,
isolados é insuficiente. É preciso situar as in-
tem um papel social importante e relevante
formações e os dados em seu contexto para
na construção de novos modelos de viver,
que adquiram sentido”. Porém, já há alguns
uma vez que atuam auxiliando a formação
séculos a educação tem feito exatamente o
decidadãos. Tem o potencial de facilitar a
inverso disso, estimulando a separação dos
constituição do Ser Humano participativo,
saberes, promovendo a criação de informa-
consciente, cooperativo, solidário, crítico,
ções que são passadas de forma fragmenta-
atuante e responsável. São locais adequados
da e sem contextualização. Nossa educação
para se pensar formas inovadoras de educar
tem primado pela análise em detrimento da
e, consequentemente, de trabalhar a educa-
síntese o que gera uma ciência hiperespecia-
ção ambiental e a educação científica. Mais
lizada e altamente segregada. O resultado é a
adequados ainda caso consigam promover a
complexificação cada vez mais pronunciada
associação com outras instituições tais como
dos saberes, das relações humanas e socioe-
Institutos de Pesquisa, Universidades,Insti-
conômicas, e do mundo como um todo.
tuições Estatais, ONGs e outras formas de
associações da sociedade civil (Ascelard et al. A transdisciplinaridade busca exatamen-
2006). Na situação atual, a associação da Es- te situar as informações no contexto. Busca
cola com Instituições que apresentam outras retomar a síntese, possibilitar o diálogo en-
vocações pode representar um papel capital tre os diferentes saberes. O diálogo entre os
na busca por alternativas comportamentais, diferentes saberes pode ser capaz de encon-
que permitam ao planeta continuarabrigan- trar respostas ou soluções para a problemá-
do toda a sua biodiversidade. Também criar tica ambiental que nenhum saber conseguiu
novos modelos de desenvolvimento que pensar em separado até o momento. É pre-
ofereçam as melhores condições para o bem ciso que o saber científico e filosófico a ser
estar humano, tanto do indivíduo quanto da feito no século XXI seja capaz de recompor o
sociedade, promovendo plenaevolução hu- todo, uma vez que o todo tem qualidades ou
mana (Sachs, 2004). propriedades que não são encontradas nas
CAPÍTULO 1 21
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
partes, quando estas estão isoladas umas das nidade, na vida social mais ampla e nas dis-
outras. E certas qualidades ou propriedades cussões ambientais como um todo. Pelo fato
das partes podem ser inibidas pelas restri- dos adolescentes serem pessoas em condição
ções provenientes do todo. particular de desenvolvimento, o protagonis-
Em suma, a educação transdisciplinar visa mo, mais do que justificar, pressupõe e exige
à promoção de uma ação comunicativa entre a presença do educador como orientador da
os diferentes saberes, de tal forma que esses relação do jovem consigo mesmo e com os
saberes se reconheçam legítimos e sem hie- outros jovens e também sobre suas relações
rarquia entre si. Ou seja, que após a análise com o ambiente que o cerca, pelo menos em
dos fatores separados inerentes à estrutura um primeiro momento.
de produção de conhecimento científico
A atuação do educador na promoção
atual, sejam criados momentos de síntese
de ações de protagonismo juvenil deve ter
desses conhecimentos em diálogos diversos
como objetivo vincular à ação educativa a
entre os vários saberes e conhecimentos. E
democracia, a solidariedade, a participação e
a educação ambiental é uma das atividades
a noção de que o que provocamos ao nosso
mais propensas a cumprir esse papel, uma
vez que tudo acontece no ambiente e todos planeta necessariamente retorna a nós mes-
os saberes e atividades humanas se dão no mos (efeito bumerangue). Logo,devemos
planeta Terra e são mediados pelo ambiente. criar condições para que o educando possa
Precisamos reconhecer e promover o diálo- participar da iniciativa da ação, do planeja-
go entre os saberes e as atividades humanas mento, da execução, da avaliação e da apro-
para alcançarmos um desenvolvimento real- priação dos resultados obtidos no desenvol-
mente sustentável e includente (Chomsky, vimento do processo educativo e das formas
et al. 1999; Leff, 2000; Sachs, 2004; Veiga, de se relacionar com os mundos físico, bioló-
2005). gico e social.
Com a utilização de atividades que esti- O protagonismo juvenil é uma forma de
mulem às múltiplas inteligências, o diálo- apoiaro educando a construir sua autono-
go entre os saberes, e consequentemente a mia através da criaçãode espaços e situações
transdisciplinaridade, podem ser alcançados propiciadoras da participação criativa, cons-
de forma mais efetiva, criativa e agradável. trutiva e solidária na solução dos problemas
Isso devido ao fato de que para estimularmos ambientais reais na escola, na comunidade
as múltiplas inteligências nós deveremos ne- ou na sociedade mais ampla. Não se trata,
cessariamente criar momentos didático-pe- portanto, dos educadores se isentarem do
dagógicos diferentes dos que são costumei- seu papel e jogarem sobre o educando o peso
ramente realizados nas escolas, o que nos total da responsabilidade do que ocorreu
permite inovar. ou ocorrerá. Trata-se do estabelecimento
2) Protagonismo Juvenil de uma corresponsabilidade entre jovens e
A expressão protagonismo juvenil desig- adultos pelo curso dos acontecimentos que
na a participação de jovens e adolescentes, resultam de sua ação educativa conjunta e da
atuando como parte da solução, no enfrenta- apropriação do meio ambiente por parte do
mento de situações reais na escola, na comu- jovem.
22 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
O protagonismo deve ser vivido como sentimentos (Freire, 2000). Sabendo que os
participação do adolescente no ato criador alunos são exatamente seres constituídos de
da ação educativa, em todas as etapas da evo- almas, desejos e sentimentos, e de que um
lução de sua percepção sobre a problemática dos mais agradáveis sentimentos humanos é
ambiental contemporânea. O adolescente o bom humor, o sorriso, é notório que com
não deve ser visto pelo educador como uma a criação e utilização de atividades lúdicas
ameaça à autoridade dos adultos ou à ordem (Homo ludens), o processo cognitivo torna-
imperante no processo educativo. Isso é ain- se mais efetivo, eficiente e eficaz.
da mais necessário, pertinente e premente na Aprender deve ser um ato agradável. Não
medida em que, no conceito de sustentabili- só pelo fato de que algo agradável é bom,
dade, entra a questão de que devemos deixar como também porque aprender brincando
para as gerações futuras condições ambien- fixa mais a atenção do aluno e é mais diverti-
tais que permitam que essas gerações te- do, melhora o clima das atividades pedagógi-
nham água, ar e alimento de qualidade, aces- cas e aumenta a postura crítica e a disposição
so às benesses que o meio ambiente oferece, do aluno para apreender os conteúdos das
justiça ambiental, enfim, uma vida digna. Os disciplinas e os saberes trabalhados por meio
jovens fazem parte de gerações futuras em de criatividade lúdica.
relação aos atuais donos do poder e das deci-
A partir de todas essas reflexões decidi-
sões sobre os rumos de crescimento e desen-
mos então adotar a teoria das Inteligências
volvimento escolhidos pela sociedade.
Múltiplas de Gardner (1994), a Complexi-
Além disso, com o protagonismo juvenil, dade Ambiental de Leff (2003), a Educação
os jovens estudantes tornam-se responsáveis para o Futuro de Morin (2002, 2005) e a
pelo seu próprio aprendizado. Isso é desejá- pedagogia da autonomia de Freire (2000)
vel uma vez que aprender é um ato individu- como estruturas teóricas do Verde Perto.
al, mediado pela sociedade. É desejável que Esses conceitos acabaram por definir, de for-
os estudantes saibam integrar seus conhe- ma natural, a base do Programa Verde Perto
cimentos, saibam transformar seu conhe- Educação: estímulo às inteligências múlti-
cimento em sabedoria. É desejável que eles plas, protagonismo juvenil, educação lúdica
saibam ser autodidatas (Morin, 2005). e transdisciplinaridade. Buscamos com a for-
3) Educação Lúdica matação da metodologia trazer aos partici-
Se educar é construir, libertar o homem pantes uma reflexão sobre o meio ambiente
do determinismo, passando a reconhecer o e as relações do homem com ele, associando
papel da história e a questão da identidade saberes técnicos, científicos, artísticos, cultu-
cultural, sem respeitar a identidade, sem au- rais, históricos, geográficos e jurídicos. Nessa
tonomia, sem levar em conta as experiências construção estabelecemos que as caracterís-
vividas pelos educandos, o processo será ticas locais sempre deveriam ser básicas e
inoperante, somente meras palavras despidas fundamentais na aplicação da metodologia,
de significação real. A educação é ideológica onde quer que ela fosse realizada.
e dialógica, pois só assim pode se estabelecer Assim, a apropriação do meio ambien-
a verdadeira comunicação da aprendizagem te por parte dos educandos torna-se muito
entre seres constituídos de almas, desejos e mais passível de ser estimulada e efetivada.
CAPÍTULO 1 23
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
Uma gama de atividades pode ser desenvol- nas ações educativas quanto sua autoestima,
vida, tanto para que os estudantes passem ao ver reconhecido na dinâmica pedagógica
a se colocar como parte do meio ambiente, seus interesses, desejos e necessidades (Frei-
quanto para que criem atividades em que eles re, 2000). Além disso, o protagonismo é im-
mesmos possam divulgar, replicar e passar portante tanto para manter a motivação du-
adiante os conhecimentos adquiridos. Com rante o processo como para possibilitar que
a utilização de atividades que estimulem as a continuidade da ação educativa, a partir de
diversas facetas das inteligências, ganhamos certo ponto, aconteça “puxada” pelo próprio
em plasticidade no momento de trabalhar público alvo inicial.
conceitos ambientais, sejam conceitos bioló- Outro ponto relevante da educação am-
gicos, políticos, econômicos, geográficos ou biental é sua vocação transformadora. De
sociais, e geramos mais possibilidades trans- acordo com Layrargues (2009) a educação
disciplinares e lúdicas no processo. ambiental visa a transformação da sociedade
A Política Nacional de Educação Ambien- por meio do oferecimento de oportunida-
tal (Brasil, 1999) coloca educação ambiental des, saberes, técnicas e ferramentas de forta-
como um conjunto de “processos por meio dos lecimento e empoderamento dos indivíduos
quais o indivíduo e a coletividade constroem va- para melhorar suas condições de vida e miti-
lores sociais, conhecimentos, habilidades, atitu- gar seus níveis de vulnerabilidade ambiental,
des e competências voltadas para a conservação enfrentando as injustiças ambientais. Edu-
do meio ambiente, bem de uso comum do povo, cação ambiental deve estar articulada com o
essencial à sadia qualidade de vida e sua susten- compromisso social.
tabilidade”. Ao ser trabalhada como processo Nossa caminhada conceitual indicou o ca-
de construção de conhecimentos, habilida- minho da metodologia com foco em incluir
des e atitudes, as competências individuais e educação e conservação ambiental, ciência e
coletivas, que englobam o ambiente natural, artes, protagonismo juvenil e empoderamen-
político, histórico, econômico, cultural e so- to das ações comunitárias na vida dos jovens
cial, a educação ambiental deve ser pensada e demais participantes do processo educati-
como ação continuada e integrada aos con- vo, incluindo aí as instituições parceiras ao
textos locais, regionais e globais resguardan- processo, os responsáveis por palestras e ofi-
do-se de ser executada como ação pontual cinas de arte educação e os responsáveis por
desconectada do todo. fazer a moderação das atividades do projeto,
Os processos de educação ambiental uma vez que “quem ensina aprende ao ensinar
continuados devem incluir a perspectiva de e quem aprende ensina ao aprender” (Freire,
que o educando é o sujeito principal de seu 2000). A construção conceitual do projeto
processo de aprendizagem. Isso implica em coloca o pressuposto de que o entendimen-
dar condições para o educando aprender a to do contexto em que estamos inseridos, o
partir de seus interesses e objetivos, sem que acesso a informações históricas e técnicas
seja alvo de um processo dogmático imposi- sobre onde vivemos e a consciência da im-
tivo de temas que não lhedizem respeito. O portância da organização social ou comuni-
protagonismo na ação pedagógica estimula tária, são base para a emancipação e inclusão
tanto a participação e interesse do educando social. Além disso, o diálogo é fundamental
24 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
para realmente conseguirmos transformar Verde Perto Considera:
nossa sociedade. • Enfoque humanista, integral, democráti-
Nas palavras de Edgard Morin (2002, pag. co e participativo;
51) “Literatura, poesia, cinema, psicologia, • Concepção do meio ambiente em sua
filosofia deveriam convergir para tornar-se es- totalidade:
colas da compreensão. A ética da compreensão
• O pluralismo de ideias e conceitos;
humana constitui, sem dúvida, uma exigência
chave de nossos tempos de incompreensão gene- • A continuidade e permanência do pro-
ralizada: vivemos em um mundo de incompre- cesso educativo;
ensão entre estranhos, mas também entre mem- • Reconhecimento e respeito a diversida-
bros de uma mesma sociedade, de uma mesma de individual e cultural;
família, entre parceiros de um casal, entre filhos • Relação entre os níveis local, regional,
e pais.” Essa incompreensão tão atual é muito nacional e global;
perceptível nos desafios ambientais, sinto-
• Avaliação crítica contínua do processo
mas de uma crise bem maior que é a crise de
educativo;
paradigma atual vivenciada por nossa civili-
zação. A separação em “caixinhas de saber” • União entre a ética, a educação e as prá-
estanques e que não se conversam apenas ticas sociais.
contribuem para a manutenção da crise sis- A primeira iniciativa para execução do
têmica. Nessa perspectiva, a abordagem edu- Verde Perto é definir o público alvo da ação
cacional que engloba diferentes saberes, que educativa. A princípio o público alvo colo-
engloba arte, cultura e ciência como neces- cado como prioritário no Verde Perto são
sários ao enfrentamento dos desafios atuais jovens com idade entre 14 e 29 anos. Essa
condiz fortemente com o momento vivido escolha faz parte inclusive da história do pro-
em nossa sociedade e com suas necessidades cesso de construção da metodologia, como
de ensino aprendizagem. foi apresentado. Entendemos porém que a
metodologia pode ser aplicada a outros pú-
A Metodologia Verde Perto blicos como crianças com menos de 14 anos
ou pessoas com deficiência cognitiva, públi-
Educação cos com os quais a metodologia já foi traba-
Na metodologia do Programa Verde Per- lhada. Concebemos inclusive que o Verde
to Educação (Rodrigues, 2008) se discutem Perto pode ser utilizado em outros públicos
aspectos teóricos utilizando diversas lingua- como grupos de mulheres ou lideranças co-
gens e diferentes formas de aproximaçãopara munitárias.
com os participantes do processo educativo, O grupo de pessoas inclinadas a participar
utilizando as artes e as brincadeiras como do projeto deve possuir elementos que faz
estratégia para aguçar a curiosidade, facilitar dele um conjunto com interesses minima-
os processos de ensino aprendizagem ecriar mente afins. No Ação Resgate, o grupo era
condiçõesde conexão emocional e racional composto por jovens alunos do segundo ano
dos participantes com as questões ambien- do ensino médio de um Colégio que gosta-
tais, além de fomentar a coesão de grupos. riam de participar de um projeto de educa-
CAPÍTULO 1 25
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
ção ambiental. Nas unidades de conservação assunto junto aos jovens. Além disso,o mes-
(UC) o grupo é composto por jovens que mo grupo estabeleceu que esse tema seria
residem na UC. trabalhado por meio de maquetes e de tea-
De toda forma a proposta metodológica tro. Logo, após as atividades teóricas, os jo-
parte do pressuposto que os jovens devem vens participam de oficinas com o instrutor
escolher os temas de interesse que gostariam de teatro e com o construtor de maquetes.
de aprender, de maneira não formal. Todo Em cada uma dessas oficinas os temas tra-
o projeto ocorre fora do horário de aulas balhados na teoria são retrabalhados, com
da escola formal e os participantes vão as outra abordagem. Dessa forma os assuntos
atividades do projeto por interesse pessoal. teóricos são vistos em mais de um momento
É uma decisão do próprio jovem participar e com utilização de linguagens variadas, am-
do processo. Com o grupo estabelecido, pro- pliando a apropriação dos conteúdos pelos
vocamos seus integrantes a nos dizer o que participantes do projeto.
gostariam de estudar e como gostariam de Assim, o estudante pode revelar o que
aprender os temas escolhidos. Essa autono- percebeu e apreendeu na exposição do
mia de escolhas difere desde o início a pro- palestrante utilizando-se de linguagens como
posta Verde Perto da educação formal, onde a poesia, a representação cênica, desenhos,
são os Parâmetros Curriculares Nacionais músicas, colagens, pinturas, contos,
que definem o que os estudantes irão apren- esculturas e demais linguagens de interesse.
der. Costumamos iniciar essa aproximação Esse mecanismo vai de encontro à teoria
com a provocação: “vocês são os diretores de das inteligências múltiplas. Nas palavras de
sua escola, decidam o que gostariam realmente Gardner: “...quando um tópico é ensinado de
de estudar”. formas variadas, cada pessoa assimila melhor
Os temas escolhidos serão trabalhados algumas delas. Inversamente, se alguém ficar
com auxílio de profissionais especialistas restrito a uma única forma de conceito e
em cada assunto. Cada tema é discutido por apresentação, sua compreensão tenderá a ser
meio de um conjunto de estratégias, tais mais superficial.” (Gardner, 1994).
como palestras, exibição de filmes, mesas re- Essa abordagem pedagógica tende a se
dondas, debates, atividades em grupo e aulas mostrar mais cativante e sedutora, aumen-
em campo. Após o momento teórico os te- tando a eficiência do processo educativo e a
mas são retrabalhados por meio da utilização participação dos jovens em todo o projeto,
de oficinas que estimulem outras linguagens, pois torna o processo de ensino aprendiza-
diferentes das observadas nas palestras e de- gem mais diversificado e estimulante. Além
bates citados acima. Essa é a forma alternati- disso, a transformação dos temas teóricos em
va de aprendizado que o grupo também de- linguagens artísticas, por parte dos jovens,
termina, onde é escolhido além do “o que”o acontece com o auxílio e a colaboração de
“como” se quer aprender. instrutores de arte educação que apresentam
Como exemplo: um grupo define que aos estudantes diferentes técnicas artísticas
gostaria de estudar saneamento básico. As- que poderão ser apropriadas e utilizadas
sim buscaremos um engenheiro sanitarista pelos jovens dali para frente. Esta maneira
que tratará de forma prática e teórica esse de estudar aparenta estar em sintonia com o
26 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
tipo de educação que os jovens gostariam de julgarem necessários para facilitar a aproxi-
ter em seu cotidiano, uma vez que foi cons- mação do jovem com o conteúdo tratado e
truída a partir de suas demandas. que não sejam impeditivos do ponto de vis-
ta logístico. Assim, com auxílio de imagens,
Estrutura em Módulos instrumentos e equipamentos, os jovens têm
acesso a ferramentas e dispositivos muitas
Verde Perto comumente é estruturado em vezes distantes de seu cotidiano e que incre-
módulos, onde em cada módulo um tema mentam e podem facilitar tanto a explanação
específico é tratado. Com a definição dos te- do técnico responsável quanto o processo de
mas e oficinas a serem trabalhados, a equipe aprendizagem do estudante.
executora busca pessoas que possam abordar
Nas ações teóricas são incluídas também
a parte teórica e artística ou científica. Para
atividades lúdicas, tais como dinâmicas,
ministrar a parte teórica, podem ser convi-
jogos e brincadeiras, para evitar que o en-
dadas lideranças comunitárias, técnicos, pes-
contro fique maçante, além de atividades
quisadores, servidores públicos, políticos e
de grupo, que podem ser estudos dirigidos,
outros, que desenvolvem ações e ou projetos
exercícios ou quaisquer outros mecanismos
relacionados ao tema escolhido. Para minis-
didático-pedagógicos necessários ao proces-
trar as oficinas devem ser convidados artistas
so de apropriação de conteúdos.
ou cientistas (já que oficinas científicas tam-
bém podem ser realizadas) que de preferên-
cia tenham experiência em educação. As Oficinas
Dessa forma os jovens entram em contato As oficinas de arte educação acontecem
com conteúdos teóricos e práticos atuais em após as ações teóricas. Nelas, as teorias vistas
suas mais diversas vertentes e se relacionam nas palestras ou aulas expositivas são retoma-
com novos vocabulários, jargões e conheci- das com outras linguagens. Os jovens entram
mentos. Tem também a oportunidade de es- em contato com alguma técnica artística ou
tabelecer contatos com pessoas que os pode científica e são estimulados a retomar os te-
ajudar na sua atuação protagonista, seja ime- mas teóricos com a utilização da nova lin-
diatamente, seja no futuro, pois, a partir dos guagem trabalhada. Por exemplo, após uma
contatos com pessoas qualificadas nas mais palestra sobre o contexto ambiental contem-
variadas áreas do conhecimento, os jovens porâneo, pode-se realizar uma oficina de de-
recebem dicas e orientações referentes aos senho onde os jovens são estimulados repre-
seus desafios imediatos, tais como:informa- sentar pictoricamente o contexto trabalhado.
ções referentes à políticas públicas ou acesso As oficinas têm importância fundamental
a materiais de apoio. para o alcance dos resultados pretendidos.
O conteúdo teórico pode ser abordado Tem o triplo objetivo de ressignificar o con-
por meio de palestra, exposição dialogada, teúdo teórico da palestra, melhorando a efi-
mesa redonda, debate ou quaisquer outros ciência no processo de apreensão cognitiva
métodos didáticos pedagógicos adequados. do tema abordado, ao mesmo tempo em que
Podem utilizar imagens, vídeos, sons, or- traz conteúdo técnico da própria oficina e
ganismos, livros textos, e quaisquer outros propicia a integração e o interesse do grupo
objetos, ferramentas ou mecanismos que de jovens pelo projeto. Uma oficina de tea-
CAPÍTULO 1 27
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
tro, por exemplo, além de ser utilizada como às emoções, esse repertório aumentado fica
forma de facilitar e fixar o aprendizado sobre vivamente presente na vida do jovem. Des-
determinado tema, tem a finalidade de apre- sa forma, o conhecimento adquirido pode
sentar aos jovens técnicas de teatralização e efetivamente se tornar instrumento para
representação cênica em si. esses jovens, contribuindo em seu processo
É fundamental que o instrutor da oficina de desenvolvimento de autonomia e prota-
seja assessorado pelo moderador que faz o gonismo.
papel de tradutor entre os diferentes saberes Além disso as oficinas oportunizam os jo-
e linguagens abordados durante o encontro. vens a apresentar conhecimentos que já pos-
É desejável também que o instrutor tenha suem previamente e que muitas vezes não
contato anterior com o tema a ser abordado são exaltados ou valorizados no cotidiano,
na teoria e que acompanhe toda a atividade tais como vocação para dança ou desenho,
teórica do módulo em que é colaborador. além de seus conhecimentos precedentes
Para tanto solicitamos ao palestranteque in- sobre diversos assuntos teóricos e empíricos
dique material teórico sobre os principais que surgem nos espaços da oficina. Essa pos-
conceitos e informações que serão aborda- sibilidade enriquece ainda mais o processo
dos em sua palestra. Esse material é repassa- educativo.
do aos instrutores das oficinas com antece-
dência. Atividades Auto Geradas
O contato com o material teórico facilita Além das palestras e oficinas, os jovens
aosinstrutores observar com clareza o que são estimulados a construírem seus momen-
mais aguçou a curiosidade, mais chamou tos de diversão nos intervalos das atividades.
a atenção e mais gerou dúvidas nos jovens Pode ser futebol, música, nadar em um ria-
durante as discussões teóricas. Assim, os ins- cho ou qualquer outra atividade que fortale-
trutores têm condições de preparar suas ofi- ça a coesão do grupo e seja agradável. Essa
cinas mesclando momentos de transmissão ação lúdica organizada e executada pelos
das técnicas com espaços para discussão e próprios jovens é mais uma forma de estí-
reflexão dos conteúdos teóricos, facilitando mulo direcionadoao protagonismo, que se
o processo de ensino aprendizagem. junta ao protagonismo da escolha dos temas
A pluralidade de linguagens visa adaptar e oficinas a serem trabalhados nos módulos e
vocabulários, métodos e técnicas às caracte- ao protagonismo na organização dos encon-
rísticas dos jovens participantes, tendo por tros,no monitoramento de horários, limpeza
meta facilitar a aprendizagem, potencializar das áreas de trabalho, apoio aos palestrantes
os resultados cognitivos, além de seduzir e e instrutores e toda as atividades associadas
encantar o jovem para participar ativa e efe- a organização plena dos encontros. Essa
tivamente das ações propostas. Visa ainda mescla de protagonismo na organização do
aumentar a apropriação e o empoderamento evento como um todo e na construção dos
de todo o processo educativo por parte dos momentos lúdicos auxilia na criação de um
jovens. Com a aquisição desse novo conjun- forte laço de coesão e percepção de pertenci-
to de conhecimentos os jovens aumentam mento ao grupo, uma característica marcante
seu repertório cognitivo. Com o estímulo dessa faixa etária.
28 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
O Papel do Moderador cesso educativo, e realizando as adequações
e refinamentos de curso a medida que o pro-
Cada módulo conta com um ou mais cesso educativo evolui.
responsáveis técnicos pela parte teórica e
um ou mais responsáveis técnicos pelas ati-
vidades das oficinas. Esses profissionais são
Exemplos de Estruturas
orientados pelo moderador das atividades Possíveis do Verde Perto
que é o condutor do projeto. É ideal que o O projeto é basicamente estruturado em
moderador treine, ao longo dos encontros temas teóricos apresentados em palestras,
dos projetos, jovens a exercer esse papel de debates, filmes ou outros métodos adequa-
moderação, que posteriormente poderão re-
dos, posteriormente retrabalhados e discuti-
plicar a metodologia, além de se qualificarem
dos em oficinas de arte educação, de ciência
como oradores.
ou de comunicação por meio de atividades
O moderador assume papel fundamental. práticas e lúdicas. Cada ação do projeto
Esse personagem tem a missão de facilitar acontece nos contra turnos de aulas for-
toda a ação pedagógica. Deve ser uma pes- mais e cada tema teórico é retrabalhado em
soa que inspire confiança nos jovens e que variadas oficinas. Para elucidar como seria
consiga fazer a interlocução com cada um a estrutura de um módulo, colocamos dois
dos três diferentes atores envolvidos no pro- exemplos já utilizados dentro das experiên-
cesso educacional: grupo de jovens; técnicos cias Verde Perto:
transmissores de teorias; instrutores de ofi-
cinas. 1º exemplo
O moderador deve estar atento aos jo- Projeto ocorrendo de forma contínua
vens, suas dúvidas e dificuldades, para poder com ações sendo realizadas de segunda a
clarear as informações teóricas, por um lado, sexta. Nessa estrutura o Verde Perto pode
e explicitar as dúvidas dos jovens para o téc- ser aplicado durante ano letivo após o horá-
nico que está apresentando as teorias, por rio da escola ou em cursos de férias. Pode ter
outro lado. O mesmo deve ser feito em rela- a duração de tantas semanas quanto o grupo
ção aos jovens e os instrutores das oficinas e quiser, onde cada semana funciona como
entre os conteúdos teóricos e os conteúdos um módulo que trata de um tema específico.
das oficinas. As oficinas são fixas, previamente escolhidas
pelo grupo. Os temas tratados também são
O moderador é quem tem a função de
previamente escolhidos.
manter conectado todo o processo educati-
vo, trazendo os módulos já realizados e re- Para ilustrar imaginemos um grupo que
metendo aos módulos futuros, de tal forma definiu seu projeto com atividades em um
que todo o processo se torne fluido e claro mês, realizado nas férias de julho, tendo 4
para os jovens envolvidos. Outro papel im- módulos. Os módulos escolhidos: foram
portante do moderador é poder participar Cidadania e meio ambiente; Saneamento
diretamente da avaliação dos encontros, jun- básico; Alimentação sustentável; Política
to aos demais membros da equipe, avaliando ambiental. E as oficinas escolhidas foram:
não só o módulo pontual, como todo o pro- Desenho; Teatro; Música; Artesanato.
CAPÍTULO 1 29
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
Nesse caso um módulo seria estruturado projeto, onde tudo que foi construídoéexibi-
da seguinte forma: do. Esse festival encerra o processo por meio
de celebração, o que tende a fortalecer os la-
ços do grupo.
Tabela 1. Primeiro Módulo
Dia da semana Atividade
2º exemplo:
Teoria: Cidadania e meio Outra alternativa é mesclar atividades te-
Segunda feira (14:00 as ambiente– mesclando óricas com uma oficina específica em dois
17:30) palestras, atividades em
grupo, debates, etc.
aquatro dias completos de atividades. Essa
Oficina: desenho – técnicas
estrutura funciona bem em locais onde a
Terça feira (14:00 as logística de realização dos encontros é mais
da oficina e retomada da
17:30)
teoria. complexa, e os módulos podem ser realiza-
Quarta feira (14:00 as Oficina: teatro – técnicas da dos a cada mês ou em intervalos maiores de
17:30) oficina e retomada da teoria.
acordo com as necessidades.
Quinta feira (14:00 as Oficina: música– técnicas da
17:30) oficina e retomada da teoria. Em unidades de conservação, onde os jo-
Oficina: artesanato – vens vivem em comunidades diferentes, essa
Sexta feira (14:00 as
técnicas da oficina e estrutura funciona bem. Nela, cada módulo é
17:30)
retomada da teoria.
realizado em formato de encontro de jovens.
Nesse modelo um tema teórico determinado
Ao final de cada módulo o conjunto de
é trabalhado com auxílio de uma oficina de
discussões, informações, dúvidas e produtos
arte educação.
gerados durante as discussões teóricas, as
atividades em grupo e as oficinas, são orga- Nesse caso, os temas e oficinas de cada um
nizados pelo moderador do processo. Esse dos encontros também são definidos com
material deve sempre ser resgatado alimen- antecedência. O grupo pode decidir, por
tando as novas discussões que vão surgindo exemplo, que realizarão seis encontros em
à medida que o projeto avança. Ao final da seis meses, que seriam: Contexto ambiental
ação educativa todo esse material é retoma- contemporâneo com oficina de Artesana-
do e exposto ao grupo. Simboliza a caminha- to; Ecologia e biodiversidade com oficina
da de aprendizagem do grupo e é excelente de Artes plásticas; Saneamento básico com
material de avaliação do processo. oficina de Construção de maquetes; Asso-
ciativismo e cooperativismo com oficina de
Nessa estrutura o moderador e o grupo
Jogos e brincadeiras; Nutrição com oficina
de jovens têm um contato mais intenso, uma
de Culinária; Saúde humana e prevenção de
vez que o moderador está presente diaria-
doenças com oficina de Dança.
mente. O jovem participante, por outro lado,
define em quais oficinas quer participar. É Nesse caso o módulo sobre ecologia e
desejável e muito importante que ninguém biodiversidade poderia ser estruturado da
perca a atividade teórica. Uma possibilidade seguinte forma:
interessante nesse modelo de estrutura são Nessa estrutura é fundamental definir
as aulas de campo, que podem ser realizadas missões a serem realizadas entre um encon-
em alguns sábados. Outro momento muito tro e outro pelos jovens em suas comunida-
importante é o festival de encerramento do des. Essas missões são definidas de acordo
30 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
Tabela 1. Primeiro Módulo
1º Dia: 2º Dia:
08:00 – Abertura do Encontro com dinâmica de
apresentação, apresentação da programação do encontro,
definição dos combinados, resgate dos encontros 08:00 – Abertura das atividades com dinâmica.
anteriores. 08:20 – Teoria: Ecologia e biodiversidade – relações entre
09:00 – Teoria: Introdução a Ecologia. animais e plantas.
10:15 – Lanche. 10:15 – Lanche.
10:30 – Abertura da oficina de artes plásticas: 10:30 – Oficina de artes plásticas: Parte 3: Monotipia.
apresentação das técnicas que serão utilizadas na oficina. 12:00 – Almoço.
Parte 1: Flotagem. 14:00 – Dinâmica de retorno.
12:00 – Almoço. 14:15 – Oficina de artes plásticas: Parte 4: Monotipia parte
14:00 – Dinâmica de retorno. 2 e introdução a teoria das cores.
14:15 – Oficina de artes plásticas: Parte 2: Desenho de 15:45 – Lanche.
observação. 16:00 – Teoria: Porque monitorar a biodiversidade?
15:45 – Lanche. 17:15 – Debate sobre os temas trabalhados no dia.
16:00 – Teoria: Correlações entre ecologia e
biodiversidade.
17:00 – Debate sobre os temas trabalhados no dia.
3º Dia: 4º Dia:
com os temas escolhidos pelos jovens em seu em oficinas de arte educação, mesclados com
projeto. Um exemplo é, após o encontro do dinâmicas e brincadeiras. Sempre buscando
contexto ambiental, solicitar que os jovens despertar o protagonismo dos participantes
de cada comunidade construam uma linha e utilizando linguagens variadas afim de se
do tempo sobre o surgimento da comunida- estimular as variadas inteligências durante o
de em que reside, a partir de conversas com processo.
os moradores mais antigos.
Os exemplos acima são para ilustrar pos- O Processo de Avaliação
sibilidades de construção de processos e
aplicação da metodologia Verde Perto. No- O processo de avaliação do Verde Perto se
tem que sempre temos assuntos teóricos dá de forma continuada e é realizado em três
tratados de formas variadas e retrabalhados momentos.
CAPÍTULO 1 31
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
1) Ao final de cada módulo é feita uma liando se esse conjunto de participantes da
avaliação oral ou escrita (o que o grupo de- ação educativa efetivamente se tornou um
finir), em que todos participam, incluindo grupo de jovens protagonistas em prol do
palestrantes, instrutores, jovens e modera- meio ambiente.
dor. Cada participante relata os pontos posi- Outro ponto avaliado são as mudançasde
tivos daquele módulo, os pontos negativos, atitude dos jovens nas atividades comunitá-
e as sugestões de coisas que gostariam que rias, na escola, na participação da gestão am-
fossem inclusas no próximo módulo. Todas biental de onde vivem, etc.
essas informações são colocadas em quadro
3) Após o final do projeto, alguns meses
de avaliação. Devem ser consideradas para o
depois, deve-se verificar se a partir do proje-
desenrolar do processo.
to ocorreu continuidade de ações e desdo-
Após essa avaliação coletiva ocorre uma bramentos. Essa avaliação é realizada pelos
avaliação da equipe organizadora, incluin- próprios jovens que participaram do proje-
do os palestrantes e instrutores do módulo, to. É importante que eles relatem o que tem
onde são relatadas as percepções de cada feito, se criaram projetos novos, se aderiram
um da equipe referentes a apreensão dos as Associações ou Grupos em prol do meio
conteúdos, dificuldades de transmissão dos ambiente ou da cidadania, se passaram a fre-
assuntos e temas que foram mais facilmente quentar reuniões de conselhos de meio am-
absorvidos. biente ou conselhos gestores de unidades de
Além disso, todos os produtos gerados ao conservação, se utilizam outras ferramentas
longo dos encontros são avaliados e arquiva- de gestão ambiental, se passaram a colaborar
dos pela equipe coordenadora do projeto. Se de alguma forma profissionalmente ou vo-
transformam em informação sobre a evolu- luntariamente em prol de sua comunidade,
ção cognitiva dos participantes do projeto. se tem utilizado as técnicas e informações
Esses produtos demonstram o que foi apre- apreendidas durante o projeto em seu coti-
endido do ponto de vista de conteúdo. diano, se passaram a assumir cargos e ou pa-
2) Logo ao final do processo formativo peis de direção, ou quaisquer outros indica-
como um todo, todos os produtos gerados tivos de assunção de responsabilidades e de
durante o processo formativo são avaliados exercício de protagonismo.
em sequência, pela coordenação pedagógica,
para a realização do panorama mais amplo O Programa em Outras
de ganho cognitivo de cada um dos partici- Realidades
pantes.
Ampliar a participação social na gestão
Esse material torna-se fonte de informa- ambiental é um dos desafios para imple-
ção da evolução de aprendizagem dos jovens mentação de uma sociedade realmente sus-
e pode ser transformado em relatório final do tentável. Ampliar essa participação passa ne-
projeto. cessariamente por trazer todas as pessoas e
Além dessa avaliação de apropriação de especialmente os jovens para dentro das dis-
conteúdo, é realizado o acompanhamento cussões. Pois significa atuar no processo de
do grau de adesão e coesão do grupo, ava- formação de novas lideranças protagonistas
32 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
na gestão do meio ambiente, da sociedade e naus, foi levado a jovens moradores de uni-
na manutenção da diversidade biológica na- dades de conservação de diferentes estados
cional (Zimmermann, 2012). Passa por dar do Brasil e foi levado até mesmo a outro país,
voz e estimular o protagonismo dos jovens além de ser realizado em uma Conferência
nas questões referentes ao meio ambiente Nacional Infanto-Juvenil de Meio Ambiente.
que é bem de uso comum de todos, logo, Aquela hipótese de que o Verde Perto era
também dos jovens que devem ter voz ati- replicável se mostrou acertada e hoje chega-
va e participação estimulada e reconhecida. mos a esse primeiro volume de experiências
“O desafio é a educação ambiental voltada Verde Perto sendo apresentadas nesse livro.
para o exercício da cidadania, no sentido do
Evidentemente que esse primeiro capí-
desenvolvimento da ação coletiva para o en-
tulo incluiu em sua essência experiências
frentamento dos conflitos e questões socio- da aplicação da metodologia em cada uma
ambientais. Para isso, a educação ambiental dessas diferentes realidades. A medida que
deve ter a perspectiva crítica e libertadora trabalhamos a metodologia, temos sempre
de forma a estimular que comunitários e co- condições de incluirmos novas ideias e pers-
munitárias sejam sujeitos ativos da gestão do pectivas, adaptando- a e refinando-a.
território, atuando de forma integrada com
Outro ponto fundamental para que essa
o poder público para a conservação do meio
ação educativa venha funcionando é que sua
ambiente e valorização de seu território e
aplicação tem gerado pessoas capacitadas
cultura” (Zimmermann, 2012).
para serem replicadores e multiplicadores
Vislumbrando as inúmeras possibilidades da ideia, sejam estudantes, palestrantes, ins-
que se abriamcom o Verde Perto, ilustra- trutores ou quaisquer pessoas que viveram a
das no parágrafo anterior, os organizadores experiência do Verde Perto e quiseram rea-
da metodologia após sua criação junto aos lizar o projeto. Estávamos e estamos sempre
jovens do Colégio Potência e depois de in- dispostos a colaborar, apoiar e melhorar essa
cluir as reflexões e novas ideias teóricas, além pratica educativa. Com isso, hoje, temos va-
de realizar o processo de avaliação feito em riadas experiências do Verde Perto aconte-
2007, incluindo a grande discussão ambien- cendo. Na verdade essa replicação é viável e
tal que existiu naquele momento, chegamos desejável. Por isso esse livro.
à conclusão de que Verde Perto seria aplicá-
vel e replicável em outras realidades sociais e
culturais. Queríamos testar essa nossa hipó-
tese, e tivemos o prazer de sermos convida-
dos por diferentes instituições para executar
o Verde Perto em variados locais.
O que aconteceu desde então foi a aplica-
ção do Verde Perto nos mais variados locais
e realidades. Foi levado a público de estu-
dantes comdeficiência da APAE, foi levado a
crianças da periferia de uma grande cidade,
no Jardim Botânico Adolpho Ducke de Ma-
CAPÍTULO 1 33
VERDE PERTO EDUCAÇÃO: METODOLOGIA E ORIGEM
Referências Bibliográficas e Ambiental. Brasília: Ministério da Educação
e do Desporto, 1997.
Sugestões de Leitura MATURANA, H. A Ontologia da Realidade.
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tez, 2009. MELO, N.G. (coord.). Educação
aboi
Thaiane Alexsandra Silva de Rezende e Cristiano Eduardo Rodrigues Reis
CAPÍTULO 2 49
VER DE PERTO O QUE É VERDE PERTO
eF.9;
h CAPÍTULO III
/ad d
Osmir Camilo Gomes e Wagner José Vieira
“O navio no porto está salvo, mas ele não foi feito pra isso.”
(Provérbio Popular)
O grão e o deserto
Purdenço e urmano
Árvores de Juruá3
Parapapá comprido
Andiroba, punam, Angelim
Gameleira, arabá, ananim
Cigano, trovão
Patauazinho, patuazão
Açacu, itaúba
Acapu, embaúba
Né não?
Vamos pescar, então!
Abacatirana, miratoá
Mogno, cedorana, jatobá
III
CAPÍTULO 3 59
EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS
Ó Brasília, agora ouves? Tenho fé.
Ter fé? – Tefé.
Povos da Amazônia
Vamos nos organizar, Jutaí, Ipixuma, Catuá.
Mãos e braços juntar! Auati, Paraná:
Alto, médio, baixo... JURUÁ
II
Lá vem um barquinho... um barquinho. É criada da Resex. Era o ano de 2001.
Lá vem um... Regatão! Amigos vêm ajudar.
Quelônios e peixes? – Destruição. Mãos à obra! Qual é a obra?
PRESERVAR.
Falaremos no geral
Para aumentar nosso saber. Á água é tão boa
Para sede saciar
Para início de conversa E em minha canoinha
Eu devo lhes avisar Vou com o remo a remar.
Que a água é muito mais
Do que podemos imaginar. Empunhando meu caniço
Já parto para pescar
Antes de tudo ela é estrada À tarde volto feliz
É boa de “caminhar” Com os peixes pra tratar.
Pois, não requer manutenção
Muito menos asfaltar. Mas á água também tem histórias
Que causam medo e pavor
Falando ainda em estrada E a que mais impressiona
Há um problema bem mau É a do misterioso batedor
Pois em caso de doença
Demora a chegar no hospital O batedor é um Espírito
que passa anunciando:
A água é fonte de vida subindo: está perto o inverno
CAPÍTULO 3 61
EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS
descendo, é o verão que tá chegando
No Cazuza e Pururé
Por tudo isso, peço que ame a água Celebramos São Francisco
e seja sempre consciente, Em Vila Efrain, Bacabal do Riozinho
preservando a Mãe da Vida Novo Cruzeiro, Monte Tabor e Bate Bico
preserva o Meio Ambiente. A devoção à Santa Cruz
São João do Acurau
Obrigado ao Meu Senhor Glória e viva ao senhor Jesus!
Por tudo isso que ele criou,
Sobretudo pela água, Viva! Viva!
Com a qual me batizou.
Autores: - Grupo Juventude
Autores: Grupo Fonte da Vida Rosenilde, Francenilde, Patrícia, Luana, Rai-
mundo, Elizeuda, Jarita, Reisiane, Elizandra,
Nailson, Erivan, Abraão, Telma, Valdete, Edinaldo, Jairison, Nego, Gordo e Diana
Lenny, Simon e Onivaldo.
A NATUREZA DÁ
Vida, saúde, alimento.
CAPÍTULO 3 63
EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS
.. ..dl
h CAPÍTULO IV
O Verde Perto na Educação Especial
h da
Selma Lucia da Silveira Pereira; Daniel Augusto da Fonseca; Marcelo da Silveira
Rodrigues
Introdução
Após a aplicação da metodologia foi pos- Outra forma de mensurar o despertar dos
sível observar melhoras no desenvolvimento alunos para a questão ambiental se deu atra-
cognitivo dos alunos de diversas maneiras, vés de entrevistas orais feitas com os mesmos
fosse através da melhoria nas respostas em sobre as temáticas dadas. Os coordenadores
aulas de outras matérias ou por novas práti- perguntaram, por exemplo, como se deve
cas cotidianas; fosse por um despertar em re- utilizar da água? E tiveram dentre as respos-
lação às artes, ou um maior prazer por parte tas, a da aluna Kelle Olinchiski, que afirmou,
dos educandos em participarem do universo “cuidando da água e não deixando desperdi-
escolar, o que, por si só, é um enorme ganho, çar”. Ou da mesma aluna, ao ser questionada
uma vez que a educação tradicional tende a sobre o que ela aprendeu com o projeto, “A
ser extremamente maçante e pouco instigan- cuidar do ambiente para que a gente tenha
te (FREIRE, 2011). saúde e vida boa”.
Para demonstrar essas novas percepções, Para além das respostas dos próprios es-
podem-se utilizar os textos produzidos pe- tudantes foram também feitas questões da
los próprios alunos nas oficinas, como por percepção dos resultados do projeto aos pais
exemplo, o do aluno Jackson Juliano de Pau- e professores. Dentre as respostas, uma das
la, que após um módulo de artes sentenciou: mães pontuou a mudança de compreensão
de sua filha para as atitudes das pessoas nas
Foi muito boa a visita. Eli (artista plástico)
ruas, afirmando que “quando vamos à rua,
teve que trabalhar muito, ele mexe com
(ela) nota que as pessoas jogam muito lixo
muitos (materiais) recicláveis... lembra
no chão”. A mesma relata, em uma carta para
muito do passado e das histórias de (Conse-
os coordenadores do projeto, o orgulho que
lheiro Lafaiete). Aproveita garrafas, tijolos
sentiu ao trabalhar, juntamente com sua
e junta cacos e a visita foi boa, deu para
filha, a incentivadora, na produção de guir-
contar as coisas que são recicláveis. Foi um
landas de natal com tubos de rolos de papel
espetáculo! Ele aproveita materiais reciclá-
higiênico, “Fiquei babando com nossa obra
veis, todo material fica muito bonito!
de arte”, que acabou como enfeites natalinos
Outro aluno, Vinícius José escreveu, de sua casa.
Por fim, em geral, os professores de outras
matérias perceberam mudanças de atitudes
78 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
dos alunos em relação ao meio ambiente. buiu também para que os participantes tives-
Exemplarmente pode-se tomar a questão sem acesso a diversos lugares aos quais difi-
sobre o interesse dos educandos para com cilmente teriam condições de visitar, como
o ambiente, no relato da professora Graziela museus e parques, o que potencializou a au-
Carolina, Regente de Turma, afirmou: “eles toestima, uma vez que, nas visitas a campo,
adoram participar do projeto e isso reflete os participantes demonstravam, com falas e
em suas ações. Observo neles uma vontade atitudes, uma extrema felicidade.
de fazer diferente para ter um planeta mais Percebemos hoje que eles conseguem
sustentável”. Reiterou, em outro momen- caminhar sabendo que o planeta é sua casa
to, que a questão ambiental se tornou uma e que suas ações são fundamentais para me-
preocupação permanente dos alunos, “essa lhoria da nossa casa maior, a Terra, pela qual
preocupação está nas atividades diárias mais todos somos responsáveis.
simples, como fechar a torneira, ou não jogar
o lixo no chão”. Considerações Finais
Outro resultado, relativo à nova percep-
Os inúmeros desafios da educação, en-
ção dos alunos sobre o meio ambiente, pode
quanto meio para transformação social e
ser visto através das mudanças de atitude em
individual, se tornam ainda maiores, quando
relação aos produtos normalmente descarta-
o público alvo tem características especiais,
dos pela sociedade. Após algumas oficinas de
como é o caso dos alunos da APAE. Desta
reciclagem e reutilização de materiais, vários
maneira, o programa Verde Perto, aplicado
alunos passaram a utilizar garrafas PET para
de forma adaptada a este público, tem gera-
a confecção de artesanato, como flores, ár-
do resultados bastante satisfatórios no intui-
vores de natal, guirlandas, entre outros, que
to da formação pedagógica, cidadã, ambien-
serviram para que presenteassem parentes e
tal, social, de mudança de comportamentos
amigos.
e percepções, além de transformações, até
Portanto, o fortalecimento social sobre mesmo psicológicas, dos educandos. Ob-
meio ambiente contribui muito para a in- viamente tais resultados são as verdadeiras
clusão de nossos alunos, porque eles estão metas e desafios de toda a equipe envolvida
participando ativamente de acontecimentos no projeto.
relativos às ações ambientais que acontecem Mas, podemos acrescentar outros resul-
em nossa comunidade. São agentes multipli- tados que foram alcançados para a surpresa
cadores no círculo familiar, onde mostram e alegria dos envolvidos, tais como o reco-
um outro olhar em relação ao meio ambien- nhecimento dado ao projeto pela Federação
te, demonstrando que através de pequenas Nacional das APAE ocorrida no XXIV Con-
atitudes nós podemos somar e ajudar nosso gresso Nacional, no ano de 2011, na cidade
planeta. de Belém do Pará, na qual foi concedida
O aumento da autoestima dos alunos a premiação máxima do evento, o prêmio
também foi notado, a partir dessas ações e do Stanislau Krynsky, ao Verde Perto da APAE-
reconhecimento por parte de alguns pais, de CL, que acabou por se tornar referencial para
professores e da comunidade onde eles estão projetos similares, voltados para educação
inseridos. Para além disso, o projeto contri- ambiental de outras APAEs do Brasil.
CAPÍTULO 4 79
O VERDE PERTO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Outro reconhecimento bastante surpre- do sua capacidade cognitiva e sociorrelacio-
endente veio da empresa Gerdau Açominas, nal.
através de seu projeto de educação ambiental A partir de todo reconhecimento obtido,
Germinar, pelo qual a APAE-CL foi contem- tanto por parte dos alunos, pais e professo-
plada com o prêmio pelo trabalho desen- res, quanto por parte de instituições, empre-
volvido através da metodologia Verde Perto sas e da sociedade Lafaietense, o Verde Perto
Educação, que gerou o financiamento para Educação foi formalmente incluído na grade
sua continuação e seu fortalecimento nos educativa da APAE-CL, deixando de ser um
anos de 2013 e 2014. Além destas, outras projeto temporário e passando a ser ação
condecorações ocorreram por órgãos públi- permanente desenvolvida pela instituição.
cos municipais e por ONG’s regionais, tais
como a láurea da Câmara de Vereadores de
Conselheiro Lafaiete e o prêmio ambienta-
lista da ONG Liga Ecológica Santa Matilde
- LESMA.
Enfim, o grande ganho advindo do pro-
jeto a partir da possibilidade de utilização e
repetição de uma metodologia educacional
ajustável ao público com necessidades es-
peciais, são os bons resultados alcançados
pelos estudantes que têm sido incluídos nas
discussões socioambientais locais e amplia-
CAPÍTULO 4 81
O VERDE PERTO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
W9S90
0 CAPÍTULO V
Verde Perto Educação Científica:
A Experiência Museu da Amazônia
9;;;
- MUSA / Jardim Botânico Adolpho
Ducke de Manaus - JBADM
Rita C. G. Mesquita; Ana Catarina C. Jakovac; Fernanda Meirelles;
Mario H. Fernandez; Leonardo S. Rodrigues
Contextualização
Em julho de 2008 nascia a ideia de criar o Museu da Amazônia-Musa,
pensado para ser instalado e experimentado dentro da floresta. O Musa
é uma instituição voltada para a divulgação científica, apostando que
por meio do conhecimento é possível aproximar as pessoas da natureza
e encurtar as distâncias culturais entre os vários mundos que coexistem
na Amazônia. Logo ficou claro que os valores trazidos pelo Verde Perto
se aproximavam muito dos ideais de concepção do Musa, o qual segue o
mote “viver juntos”buscando a coexistência Público alvo
saudável entre a cidade e a floresta.
Na vizinhança imediata da Reserva Ducke
Situado na Reserva Florestal Adolpho
existem mais de 15 escolas, com um contin-
Ducke (RFAD), uma área de floresta primá-
gente de mais de 35.000 estudantes, no en-
ria com 10.000 hectares ao norte da cidade
torno do Jardim Botânico, que estão matri-
de Manaus, o Musa compartilha essa área
culados nas escolas vizinhas e em diversas
utilizada como espaço de pesquisas pelo Ins-
tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia outras escolas da cidade. Muitas escolas e a
– INPA.Essa área foi apontada pelo natura- grande parte deste contingente de estudan-
lista italiano Adolpho Ducke para a conser- tes são carentes, e apesar da proximidade
vação da floresta, como seu melhor exemplo com a reserva, raramente a visitam ou usu-
da hileia descrita por Humboldt durante as fruem dos programas de educação ambiental
primeiras explorações científicas na Amazô- e lazer oferecidos pelo Jardim Botânico. A vi-
nia (Projetos Ecológicos de Longa Duração, zinhança sofre com os principais problemas
Sítio 1 Amazônia - Manaus).Na parte da Re- das periferias das grandes cidades do país:
serva onde a cidade encontra a mata, sempre violência doméstica, tráfico de drogas, pros-
se deu uma luta. De um lado o avanço da ex- tituição infantil, desemprego, alcoolismo, e
pansão urbana, desordenada, sem clemência exclusão social. Estão distantes das opções
com o verde, e de outro,o dos pesquisadores de cultura, esportes, lazer, e educação. Foi
e ambientalistas querendo defender e con- para este cenário que adaptamos o programa
servar bichos e plantas. Como estratégia po- Verde Perto, no Musa. As escolas que partici-
lítica para solucionar esse conflito foi criado param do programaforam selecionadas pela
um jardim botânico para impedir o avanço proximidade do Jardim Botânico, pelo grau
das motosserras e abrir o espaço para visi- de carência, e pela receptividade de seus
tação pública. No entanto, a separação com diretores, além de já terem um histórico de
cercas e vigilantes, sempre foi tênue e frágil. interação com o Jardim. A primeira escola a
Nós do Musa, vimos essa tensa fronteira en- participar foi a Escola Raul Veiga, com um
tre floresta e cidade como uma oportunidade grupo de crianças entre 10 a 12 anos. Isso já
de aproximar as pessoas da floresta, ao invés ia servir para definir os tipos de atividade e o
de lutar para afastá-las. Assim como outros, grau de complexidade que poderíamos ofe-
nós pensamos que a educação pode mudar recer.
as coisas, pode ajudar a forjar novos valores
e pode diminuir as tensões entre diferentes O que queríamos?
agentes da sociedade. Com isto em mente o
Leonardo trouxe o conceito do Verde Perto, Ao trazer o Verde Perto para dentro do
lá de Minas, e sugeriu que ele poderia ser jardim botânico, o Musa buscava frentes de
adaptado às escolas que visitavam o jardim conexão com a população para a sua propos-
botânico, se reinventando numa proposta di- ta de “Viver Juntos”. Assim, o Verde Perto foi
recionada para a Amazônia. Nós vimos que elaborado para trazer os jovens do entorno
ele poderia estar certo. Mas primeiro deve- para dentro do Jardim. A partir dessa nova
mos olhar a realidade que cerca aquele terri- frente de contato e diálogo iniciada com os
tório no norte da cidade de Manaus. jovens, comunidade escolar e família, podí-
84 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
amos dar mais passos na intenção de fomen- mente nunca haviam recebido qualquer tipo
tar uma nova relação entre a comunidade e de iniciação ou formação científica.
a floresta. Asedições abordaram temas para os quais
Para tanto, fundamental era oferecer havia facilidade de encontrar pesquisadores
oportunidades que suprissem algumas das “especialistas” em Manaus. Os pesquisado-
carências da população local. Uma dessas res eram convidados a participar voluntaria-
carências, talvez uma das principais, é a edu- mente e deveriam estar dispostos a trabalhar
cativa. As escolas do entorno imediato do junto com arte-educadores e equipe técnica
Jardim Botânico apresentavam, em 2009, do Musa na adaptação do conteúdo cientí-
umÍndice de Desenvolvimento da Educação fico para crianças e jovens. Era necessário,
Básica (IDEB) que as colocavam entre as 5% também, que os temas fossem fáceis de se-
pior avaliadas no país (Instituto Nacional rem ilustrados em pequenas excursões de
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio campo, dentro da própria floresta da RFAD.
Teixeira – INEP, 2014). Ao levarmos arte e Nosso objetivo era estimular, nos participan-
ciência para a comunidade escolar dentro do tes, a observação da natureza com outros
Jardim, estávamos levando oportunidades olhares e a reflexão sobre a relação homem-
aos jovens por meio de formação cultural e natureza, além de aproximá-los do convívio
da divulgação científica. Além disso, estáva- com o Jardim Botânico.
mos mostrando a esses jovens de forma di- Assim, as quatro edições realizadas foca-
reta e, indiretamente para suas famílias e co- ram nos seguintes temas centrais:
munidade, que a floresta pode ser vista com 1. Comunicação entre os seres vivos (duas
outros olhares. edições)
Entre 2009 e 2012 aconteceram 4 edições 2. Interação entre animais e plantas
do programaVerde Perto tratando de diferen- 3. Arqueologia, vivendo na Amazônia de
tes temas relacionados à floresta e às relações nossos antepassados
entre seres humanos e a mata. Para tanto, a
Após definir os temas, os palestrantes e as
metodologia passou por algumas adaptações
oficinas de arte-educação, organizávamos a
e adequações necessárias aos objetivos do
programação e nos reuníamos com a direção
Musa e do jardim botânico.
da escola envolvida, para apresentar nossa
proposta. A proposta era apresentada pri-
Adaptações Metodológicas meiramente para a direção da escola e pro-
para o Verde Perto Educação fessores, e em um segundo momento para
Científica os pais e estudantes. Nessas reuniões apre-
sentávamos nossos objetivos e mostrávamos
O Verde Perto Musa foi estruturado em quais possíveis ganhos cognitivos, sociais e
edições, de forma muito semelhante ao 1º afetivos os alunos poderiam receber. O aluno
Verde Perto realizado em Minas Gerais. só participava do projeto com a anuência dos
Cada edição tinha duração de 4 a 6 semanas, pais, que assinavam um termo permitindo a
tendo sua linguagem e ritmo adaptados aos participação de seus filhos.Esse cuidado era
estudantes da Escola Raul Veiga, que basica- fundamental pois as atividades do projeto
CAPÍTULO 5 85
VERDE PERTO EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
(Figura 1), que necessariamente estava co-
sempre ocorriam após o horário da aula for-
mal e fora das dependências da escola, sem- nectado com o tema central daquela edição
pre nas dependências do Jardim Botânico. do Verde Perto. Em geral esses pesquisado-
res tinham bastante experiência de pesquisa
Ao longo de cada semana tínhamos: uma na Reserva Florestal Adolpho Ducke, e por-
palestra sobre o tema do módulo, ministrada tanto, facilidade em explorar aquela floresta,
por um pesquisador; três oficinas de arte-e- os organismos e a ecologia como uma ferra-
ducação, ministradas por monitores artistas; menta interpretativa (Figura 2). Na época
e uma oficina de iniciação científica, minis-
em que ocorreram as edições do Verde Per-
trada por monitores técnico-científicos. Sen-
to, esses pesquisadores estavam vinculados
do sempre a palestra na segunda-feira e as
a grandes institutos de pesquisa e educação
oficinas nos demais dias da semana.
locais e nacionais, como a Universidade do
Ao final do módulo, realizávamos um fes- Estado do Amazonas (UEA), o INPA, a Uni-
tival de encerramento do projeto, contando versidade Federal do Oeste do Pará (UFO-
com a participação dos jovens, pais, paren- PA) e a Universidade de São Paulo (USP).
tes, responsáveis, amigos, comunidade es-
Com o objetivo de preparar a equipe de
colar, equipe do Verde Perto, equipe Musa,
oficineiros, os pesquisadores elaboravam
palestrantes, instrutores das oficinas e quem
textos para guiar as atividades que seriam
mais quisesse participar.No festival de encer-
desenvolvidas durante a semana. Entretanto,
ramento concluíamos a programação e apre-
sentávamos para a comunidade o conteúdo ficou claro que havia necessidade de ajudar
produzido ao longo de todas as semanas de muitos dos pesquisadores a traduzir a lingua-
atividades do Verde Perto. gem técnica, preparando-os para a interação
com os estudantes. Para auxiliar esse proces-
so o coordenador, figura que centralizava o
Palestras: a apresentação do desenvolvimento das atividades, também
tema da semana passou a mediar as trocas de informações
No início de cada semana, um pesquisa- entre a equipe participante de cada módulo.
dor diferente apresentava uma palestra de
divulgação científica sobre seu trabalho Oficinas: transformação do
conhecimento científico em
outras linguagens
Nos dias seguintes à palestra, os estudan-
tes entravam em contato com oficinas de ar-
te-educação e de iniciação científica, onde os
temas teóricos vistos eram retomadosa partir
de outras linguagens, que incluíam a música,
a dança, a pintura, os trabalhos manuais e a
expressão corporal, entre outras. Por meio
Figura 1. Palestra multimídia sobre aves. dessas expressões os estudantes podiam re-
Acervo fotográfico do Museu da Amazônia presentar o que perceberam e apreenderam
86 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
tes entravam em contato com o que foi tra-
tado na palestra, de forma direta, em campo.
Nessas atividades os jovens tinham a possi-
bilidade de visualizar a polinização de flores
por abelhas, de observar jardins de formiga,
oude escutar cantos de pássaros e anfíbios.
Assim os estudantespodiam associar os co-
nhecimentos adquiridos às sensações e emo-
ções sentidas dentro da floresta.
Figura 2. Palestra sobre quelônios com cascos
As atividades de campo, assim como as
de animais. Acervo fotográfico do Museu da
Amazônia oficinas de arte-educação, foramassistidas
por monitores, que também tiveram acesso
com a exposição do pesquisador, tornando ao texto do pesquisador e acompanharam
mais efetiva sua apropriação dos conceitos a palestra e as reações dos estudantes. Os
teóricos apresentados. monitores são estudantes de graduação de
Uma estratégia essencial era relacionar o variadas áreas do conhecimento, tais como
conteúdo técnico-científico abordado na- biologia, arqueologia, ou geografia. Eles
quela semana, durante a palestra, com as orientavam os jovens e crianças, na jornada
observações feitas nas visitas à floresta, e os pela mata, chamando a atenção para situ-
produtos construídos pelos alunos, durante ações que remetiam ao tema da palestra da
as oficinas de arte. Por exemplo, se o tema da semana. Assim, na palestra sobre por que
semana foi dispersão de sementes por pás- passarinho canta?, os monitores tinham a
saros, o instrutor de poesia apresentava em oportunidade de focar a atenção dos jovens
sua oficina poesias que tratavam de relações à vocalização de pássaros e podiam também
de animais com sementes. Desta forma havia extrapolar essa percepção destacando a vo-
um direcionamento para que os alunos in- calização de outros grupos de animais, como
cluíssem, em suas estrofes, associações com os anfíbios, por exemplo.
as redes alimentares de pássaros com frutos, Essas atividades práticas de iniciação cien-
mecanismos de dispersão das sementes que tífica, além de contar com técnicos (os ins-
eles viram na palestra, além de suas próprias trutores) foram realizadas com o auxílio de
observações pessoais. Assim abordávamos instrumentos que favorecessem a percepção
temas e conceitos acadêmicos com a utiliza- de interações na mata, tais como binóculos,
ção de outras linguagens. lupas, câmeras fotográficas, gravadores de
Associadas às oficinas de arte-educação, som ou quaisquer outros que amplificavam a
eram realizadas atividades práticas comple- vivência de pesquisas na floresta. Assim, es-
mentares de campo. Essas atividades eram timulava-se a compreensão de conceitos e a
as oficinas de iniciação científica condu- integração dos jovens ao universo da floresta.
zidas dentro da floresta, ao longo das trilhas Também foram realizadas oficinas de re-
do Jardim Botânico. As oficinas aconteciam dação e de “contação” de histórias. Nas ofi-
uma vez por semana, sempre no mesmo dia. cinas de redação, os alunos expressaram seu
Na oficina de iniciação científica, os estudan- conhecimento na forma de histórias em que
CAPÍTULO 5 87
VERDE PERTO EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
apresentavam suas atividades preferidas re- desenhos (Figura 3), origamis, entre outras
alizadas ao longo do Verde Perto e as infor- (Figura 4). Nas oficinas também foram con-
mações que mais gostaram de aprender. Nas feccionados vídeos produzidos pelos pró-
oficinas de “contação” de histórias, um mem- prios alunos que criativamente registravam
bro da equipe do Musa lia para as crianças os conteúdos teóricos através de exemplos
artigos publicados na revista Ciência Hoje encontrados na floresta do Jardim Botânico.
das Crianças (CHC) e livros do acervo da »» Oficina de expressão corporal e
biblioteca do JBADM. Durante e após as lei- teatro
turas, os participantes interagiam com o lei-
As oficinas de expressão corporal con-
tor, fazendo perguntas e acrescentando o que
taram com atividades de dança (Figura 5)e
sabiam a respeito do assunto tratado.
teatro (Figura 6), exercícios de respiração e
Com a aquisição de novo conjunto de corporalidade, dinâmicas de grupos e jogos
conhecimentos, os estudantes aumentam cooperativos. Tinham o objetivo de fortale-
seu repertório cognitivo. Com o estímulo às cer e integrar os jovens e crianças, tornando
emoções, o repertório aumentado fica viva- o grupo mais coeso. Durante essas práticas,
mente presente na vida do jovem que passa- as crianças participantes socializaram seu
ráa criar ligações mais profundas entre ele e conhecimento de forma divertida e puderam
a floresta. treinar sua interação social com o trabalho
A seguir descrevemos, brevemente, as em equipe e cooperativo.
diferentes oficinas que foram realizadas nas »» Oficina de música
quatro edições do Verde Perto - Musa:
Nas oficinas de música as crianças apren-
»» Oficina de artes deram a manipular diversos instrumentos
As oficinas de artes foram comandadas (Figura 7), bem como aprender sobre sua
por artistas plásticos profissionais e tiveram origem e sobre os tipos de música em que
o objetivo de estimular a liberdade criativa. são utilizados, além de realizar jogose ativi-
As crianças eram orientadas a transformar as dades lúdicas musicadas (Figura 8). Os alu-
informações científicas recebidas nas pales- nos também criaram letras de músicas que
tras em representações artísticas, tais como abordavam o conteúdo trabalhado em cada
pinturas, colagens, esculturas com argila, semana. As músicas criadas foram apresenta-
Figura 3. Oficina de artes – desenho. Acervo Figura 4. Oficina de artes - dobraduras. Acervo
fotográfico do Museu da Amazônia fotográfico do Museu da Amazônia
Figura 7. Oficina de música - contato com Figura 8. Atividades lúdicas com música.
instrumento. Acervo fotográfico do Museu da Acervo fotográfico do Museu da Amazônia
Amazônia
CAPÍTULO 5 89
VERDE PERTO EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Figura 9. Observação de organismos na trilha. Figura 10. Pesquisadora de borboletas acompa-
Acervo fotográfico do Museu da Amazônia nhando jovens. Acervo fotográfico do Museu da
Amazônia
Figura 14. Apresentação de peça de teatro. Figura 15. Apresentação de show de harpa.
Acervo fotográfico do Museu da Amazônia Acervo fotográfico do Museu da Amazônia
CAPÍTULO 5 91
VERDE PERTO EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Tabela I: Temas das quatro edições do Verde Perto Musa e respectivas oficinas realizadas. Edições realizadas na cidade
de Manaus entre os anos 2009 e 2012.
Iª Edição IIª Edição IIIª Edição IVª Edição
Arqueologia: vivendo
Comunicação entre os seres Interação entre animais e Comunicação entre os seres
Tema
na Amazônia de nossos
vivos plantas vivos
antepassados
1) “Porque existem bichos 1) “Arqueologia: como
coloridos? As cores conhecer o passado da
comunicam?” – Marina Amazônia” – Helena Pinto 1) “A comunicação dos
Anciães (INPA – Instituto 1) “Peixe-boi, o herbívoro
Lima (UEA – Universidade do Sapos” – Pedro Ivo Simões
Nacional de Pesquisas da das águas Amazônicas” –
Estado do Amazonas) (INPA)
Amazônia) Gália Ely de Mattos (AMPA
– Associação Amigos do 2) “A comunicação das Aves”
2) “Como as aves começam Peixe Boi) 2) “História da Amazônia: os – Marina Anciães (INPA)
seres humanos interagindo
Palestras (Título/palestrante)
2) “Oficina de Observação
2) “Contos, mitos e lendas” –
2) “Observação de 2) “Oficinas de Artes de Organismos” – Marcelo
Germano Afonso
Organismos” – Mario Plásticas” – Ana Luiza Lima, Karla Arakaki, Fernanda
Fernandez e Natacha Sohn Gouvea, Roberto Suarez e 3) “Vivendo na floresta – Meirelles e Elisa Herkenhoff
Roberta Paredes obtenção de água e alimentos,
3) “Música e Dança” – 3) “Oficina de Música” –
saúde, integridade física e
Ricardo, Sarah e Sâmara 3) “Oficina de contos, causos, Arnold Lugo Carvajal e Ramon
segurança” – Karla Arakaki e
histórias e poesias” – Lívia Bastos
4) “Oficina de Artes Plásticas” Brasil Viana Matta e Valeria Alice Plaskievicz
– Herbert Guarniento e Euros Batista 4) “Oficina de Expressão
4) “Música e Hip-hop” –
Barbosa e Corporalidade” – Juliana
Arnold Lugo Carvajal, Lívia
4) “Oficina de Artes Cênicas Belota
Brasil Viana Matta e Ismael
e Corporalidade” – Juliana
“Cruel”
Belota e Nonato Ramos
de alunos Participante
Escola Municipal de Ensino E.M.E.F. Ivone Maria Barbosa E.M.E.F. Ivone Maria Barbosa
Escola
69 50 34 61
CAPÍTULO 5 95
VERDE PERTO EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
dar a suprir algumas necessidades das escolas INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E
e a apoiar os professores. Essa aproximação PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO
permitirá que a equipe do Verde Perto, junto TEIXEIRA. Índice de Desenvolvimento da
aos professores, acompanhe a evolução dos Educação Básica / IDEB. 2009. Link: http://
ideb.inep.gov.br/resultado/
alunos envolvidos na iniciativa. Além disto,
o acesso antecipado aos temas trabalhados, JUNQUEIRA, Viviane & NEIMAN, Zysman
(org.). Educação Ambiental e conservação da
poderá permitir que os professores conhe-
biodiversidade. Barueri/SP: Manole, 2007.
çam e incluam em sua programação os con-
teúdos do Verde Perto. Todos estes ângulos NUNES, Angélica Cristina Gouveia. Educação
não-formal e mudança de conduta ambien-
reforçam o aspecto de viver juntos do Verde
tal em crianças: avaliação do programa Verde
Perto sem retirar o seu caráter de educação Perto. Monografia. Instituto Federal de Edu-
não-formal. cação, Ciência e Tecnologia do Amazonas –
IFAM. 2012.
Referências e Sugestões para PROJETOS ECOLÓGICOS DE LONGA DU-
Leitura RAÇÃO / PELD.Sitio 1 Floresta Amazônica -
Manaus.Link:http://peld.inpa.gov.br/sitios/
ANTUNES, Celso. As Inteligências Múltiplas duckevisitado em abril de 2014.
e Seus Estímulos. Campinas: Papirus, 9ª ed.
MUSEU DA AMAZÔNIA / MUSA.Ideia Con-
2002. 141 p.
ceitual. Link:http://www.museudaamazonia.
GARDNER, H. Estruturas da Mente: a teoria org.br/?q=94-conteudo-5244-Musavisitado
das inteligências múltiplas. Rio de Janeiro: em abril de 2014.
Artmed, 1994.
9;;;
“O que vi de perto
Ao vir ver cores
Vivas asas leves
Levadas ao vento
Danadas pequenas
Sentadas atentas
Ao verde em volta
De volta aos tons
Conto-lhes
De suas descobertas
Encobertas asas
Vibrantes sorrisos
Memória eterna
Retornam ao canto
Retornam ao bosque
Me contam então
O que vi de perto
Em seus olhos
As asas coloridas
Dos pássaros não mais meus”
(Marina Anciães)
M inha experiência no Verde Perto
tem uma característica sobres-
salente: aprendizado. Fui apresentada ao
estereotipados, durante as quais exibem suas
cores chamativas.
Com este contexto “naturalmente lúdico”,
projeto no fim de 2008 e fiquei fascinada, trabalhei para deixar que o conteúdo de mi-
e em meados de 2009, recebi o convite dos nha pesquisa fosse contado por suas formas
organizadores do programa para abrir sua e movimentos: as cores e as danças dos tan-
primeira edição no Museu da Amazônia, rea-
garás. Elaborei uma apresentação bastante
lizada no Jardim Botânico de Manaus. Ali se
visual, com várias fotos e vídeos. Para garan-
iniciou meu aprendizado em educação am-
tir que a palestra fosse bem acessível, utilizei
biental: conversar com crianças sobre meu
linguagem bastante coloquial e próxima do
trabalho com as cores dos pássaros. A con-
cotidiano do público infantil, mencionando,
versão dos resultados de pesquisa científica
por exemplo, a cor de nossos cabelos e peles,
para uma linguagem acessível e atraente era
e a cor de alguns alimentos de nosso dia a dia
um desafio. Apesar de meu grande e antigo
como a cenoura e o tomate. Ilustrei ainda ca-
interesse em mostrar minha pesquisa para o
sos que considero fascinantes sobre os tan-
público em geral e, sobretudo, para crianças,
garás, como o Tangarazinho amarelo – um
era inexperiente nessa área. Assim, com aju-
pássaro aparentemente mutante que revelou
da do Leo Rodrigues, elaborei uma palestra
um novo carotenoide (a piprixantina) para a
para expor-lhes o “por que dos pássaros serem
coloridos”. ciência e a síntese de outro carotenoide (a ro-
doxantina) por animais; e o Cabeça de Prata
Um dos objetivos do programa era desen- – uma espécie que possui penas brilhantes
volver a educação ambiental apresentando o multicolores na cabeça, cuja cor é produzida
mundo científico às crianças. Nesta edição através de uma estrutura muito semelhante
do programa, junto ao Museu da Amazônia,
àquela da gema opala.
exploraríamos os sentidos usados na comu-
nicação entre os seres vivos. Minha partici- Uma vez que o conteúdo da palestra seria
pação traria, então, a comunicação visual en- aplicado nas oficinas dos dias subsequentes,
tre os animais, abordada através do exemplo era importante apresentar um material prá-
dos tangarás, aves da família Pipridae. Esses tico que ilustrasse as bases científicas (eco-
pequenos pássaros coloridos se alimentam lógicas, comportamentais e evolutivas) da
de frutos dos quais absorvem compostos comunicação visual utilizada entre os pás-
que também dão cores às suas penas amare- saros. Os instrutores, além de acompanhar
las, laranjas e vermelhas. Já suas penas azuis, minha palestra, tiveram acesso, ainda, a um
verdes e brilhantes são produzidas por inter- texto de apoio redigido por mim, no qual en-
ferência entre ondas da luz refletida pelo ani- contraram explicações mais detalhadas, em
mal, sendo determinadas pelo nível e padrão linguagem simples e sem jargões científicos,
de organização de moléculas de melanina, dos tópicos abordados na palestra. Este tex-
queratina e bolsas de ar presentes nas penas. to serviu de apoio aos conceitos que os ins-
Os machos adultos e as fêmeas apresentam trutores utilizariam nas oficinas, permitindo
colorações diferentes, e os machos exibem ainda a visualização de situações para serem
danças nupciais, com saltos, voos e passos trabalhadas em grupo.
98 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
A mistura de linguagem textual e visual, terística do programa Verde Perto de levar a
na minha percepção, aumenta as opções de audiência a experimentar o assunto aborda-
absorção de conteúdo, facilitando assim o do durante e, sobretudo, após cada palestra,
aprendizado. As oficinas geraram resultados provavelmente seja um diferencial para seu
que evidenciam esta observação. Os alunos sucesso em divulgar a ciência e levar a educa-
desenharam pássaros, encenaram e dança- ção ambiental a crianças.
ram interpretando assuntos ensinados nas Acredito que o foco dado aos sentidos da
palestras. Além disso, expressaram admira-
comunicação foi um grande facilitador do
ção pela palestra e atividades, e um aluno
objetivo de transmitir ciência e educação
de 10 anos afirmou: “quando crescer quero ser
ambiental a crianças, uma vez que podemos
pesquisador do INPA para poder ver de perto
transmitir informações que são visualiza-
as plantas e os animais” (B. P. S.). Aprendi que
das (como as cores e as danças), ou ouvidas
conseguíamos sim traduzir para uma lingua-
(como as vocalizações e os sons mecânicos),
gem acessível o que, em geral, explicamos
não sendo somente explicadas verbalmente,
em textos e palestras técnicas, aproximando
com desenvolvimento de raciocínios técni-
assim o público à ciência e aos seres vivos.
cos complicados e distantes da realidade do
Ainda que a técnica não deixe explícita a
público. Não afirmaria que outros assuntos
emoção que nos move e leva a descobertas
científicas, sabemos que em geral ela está lá. não possam ser explorados com esta meto-
Mas, para mim, tais emoções tomam uma dologia de ensino, mas que a mesma talvez
dimensão mais concreta quando a técnica é seja bastante facilitada quando o assunto em
compreendida pelo público em uma lingua- si apresenta um conteúdo sensorial. A expe-
gem que ensine por tocá-lo, por movê-lo. A riência e aprendizado passam a ser bastante
emoção que os alunos sentiram ao ver as co- intuitivos neste caso, permitindo uma fácil
res e os movimentos dos tangarás. A emoção transferência do conteúdo às crianças através
ao desenhá-los, encená-los, cantá-los. de pintura, danças, encenações e saraus.
Com isso, outro aprendizado que tive foi Assim, após minha palestra, iniciou-se
perceber que o fascínio que um pesquisa- meu aprendizado mais importante. Em ge-
dor, em geral, tem pelo seu estudo verifica- ral, eu costumo me perguntar sobre quantas
se também com o público em geral. Porém, sementinhas teria plantado dentre os que me
tal atração talvez não dependa tanto do que assistiram. No Verde Perto, entretanto, no
se diga, mas da forma com que se apresente momento em que a palestra termina se inicia
um assunto. Caso os ouvintes possam expe- a verdadeira descoberta. Descoberta de am-
rimentar a informação, perceberão a sedu- bas as partes, palestrante e público. Aprendi
ção cotidana mesma e, assim, assimilarão o o quanto as crianças que me assistiram ha-
conteúdo transmitido com mais facilidade. viam absorvido, ao vê-las experimentar, mais
Terão sido contagiados pelo encanto da ci- de perto, os conceitos abordados na palestra,
ência, nosso objetivo. Poderíamos parar em através das diversas atividades artístico-edu-
frente a crianças por horas defendendo os cativas desenvolvidas ao longo da semana,
pontos fortes de um estudo e ao final elas não nas oficinas. Os alunos expressaram suas
teriam tido suas próprias experiências e não experiências e aprendizado desenhando os
desenvolveriam opiniões autênticas. A carac- pássaros com cores diferentes entre os sexos,
CAPÍTULO 6 99
CORES QUE VI DE PERTO
representando assim o dimorfismo sexual; a regiões onde a mesma não chegaria, repre-
coloriram ainda pássaros de vermelho e ama- sentando possibilidades de iniciativas indi-
relo, comendo frutos com as mesmas cores; viduais e setoriais. Desta forma, o público
meninos dançaram para as meninas, batendo infantil conheceria a ciência de uma maneira
os braços como se fossem asas, e por aí afora. notoriamente facilitada e os pesquisadores
Aprendi, ao ver aquelas crianças apren- ganhariam por ampliar a divulgação científi-
dendo, e retornando em anos futuros ao ca e recrutar futuros pesquisadores.
programa, levantando as mãos no início da Abaixo repasso o texto que deu origem à
palestra para falar dos tangarás, perguntar se palestra sobre as cores dospássaros, resumin-
veriam mais vídeos, e ao saber que alguns se do a biologia dos tangarás. Este texto poderá
integraram ao grupo de guias do Jardim Bo- ser utilizado como um roteiro para aplicação
tânico. Aprendi que ver de perto a natureza da metodologia Verde Perto. Os professores
realmente será uma forma muito eficiente de e instrutores poderão utilizá-lo como apoio,
atrair a atenção dos pequenos para a ciência. para elaboração de aulas expositivas e, como
Será deixando brincarem de ciência que con- guia, para as oficinas subsequentes. Agrade-
tinuaremos brincando de descobrir. Aprendi ço à Mariana Ferraz pela ajuda com a adapta-
que ao querer ensinar, eu queria aprender. ção da linguagem do texto.
Por fim, acredito que a metodologia Verde
Perto possa ser empregada por cientistas em Dançarinos da Floresta
projetos de pesquisa que tenham vertente Tangará, uma ave colorida que se
educativa e sejam compromissados com as comunica através da dança
comunidades de seus locais de atuação. O Por Marina Anciães
programa de “PesquisaEcológica de Longa
Tangará vem do guarani “tankara”, que
Duração (PELD)”, por exemplo, tem como
significa dançar. Não foi à toa, portanto, que
um de seus objetivos a transmissão de co-
os índios brasileiros usaram este nome para
nhecimento científico às comunidades regio-
batizar um pássaro com comportamento
nais. Assim, o Verde Perto atingiria os objeti-
curioso.
vos do programa por possibilitar a execução
de aulas formais e de divulgação em núcleos Os tangarás são aves que vivem nas flores-
comunitários, atraindo crianças, bem como tas das regiões quentes da América Latina.
jovens, para o conhecimento da ciência atra- Na verdade, o nome serve para descrever não
vés da experimentação sensorial associada uma, mas cerca de 52 espécies diferentes. No
aos temas abordados. Assim, a metodologia Brasil, elas ocorrem na Mata Atlântica, no
poderia representar o caminho educativo Cerrado, no Pantanal e na Amazônia. As flo-
do PELD, do mesmo modo que vem sendo restas amazônicas abrigam o maior número
utilizada pelo ICMBIO, que atualmente a das espécies de tangarás do país – um total
adotou como política pública de Educação de 25.
Ambiental voltada para jovens de Unidades Mas, por que todas essas espécies têm
de Conservação de Uso Sustentável. A meto- um nome popular que significa dançar?
dologia é de fácil aplicação e gera oportuni- Ora, porque elas dançam! A dança é uma
dade de levar educação de base diretamente das estratégias que os tangarás usam para
100 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
atrair suas parceiras para reprodução. Esse A dança, em muitos casos, é complemen-
comportamento é um tipo de comunicação tada com sons mecânicos, que são sons não
visual. produzidos vocalmente. Essa percussão, ou
Saltos e passos estralado, pode ser resultado da batida de
uma pena contra a outra, ou ainda, da batida
Os machos adultos de tangarás capri- das asas com o corpo do indivíduo. Ou seja,
cham na dança para aumentar o número de o tangará é um verdadeiro artista da floresta!
parceiras com as quais irão ter filhotes. Eles
Dançarinos coloridos
dançam para as fêmeas, exibindo suas cores
durante saltos e passos – para o lado, para Em geral, os tangarás apresentam o que
trás, abrindo as asas, abaixando a cabeça, os cientistas chamam de dimorfismo sexual,
apontando a cabeça para cima, entre outros. isto é, os machos adultos possuem pluma-
Esse comportamento é conhecido como gem com cor e forma diferente da apresenta-
da por fêmeas e machos jovens. Enquanto os
corte nupcial.
primeiros são adornados com penas de colo-
Dependendo da espécie, a corte pode ser rido vibrante, fêmeas e jovens têm cores que
solitária ou em grupo. Quando em grupo, variam entre o verde, o cinza e o marrom.
pode ser coordenada entre os dançarinos.
A coloração dos tangarás machos é, em
Em algumas espécies, os machos se reúnem muitos casos, produzida por pigmentos pre-
para dançar, ficando lado a lado ou até um sentes na dieta. Apesar de comerem também
metro de seu vizinho mais próximo. Em ou- pequenos animais invertebrados, esses pás-
tras, os machos defendem territórios fixos e saros se alimentam principalmente de frutos
neles dançam para as fêmeas que os visitam, ricos em compostos de tons de vermelho e
estando em contato apenas auditivo com amarelo – os chamados carotenoides. É a
seus vizinhos. coloração dessas substâncias, presentes, por
Machos jovens também podem visitar os exemplo, nas frutas silvestres roxas, verme-
territórios de corte. Ali, observam e apren- lhas, laranjas e amarelas, que é usada na pig-
dem a fazer os saltos e passos que lhes serão mentação das penas.
úteis no futuro. Muitas vezes, eles até partici- Mas os tangarás também têm penas pre-
pam da dança, compartilhando o palco com tas, marrons, verdes, azuis e furta-cor. Al-
os adultos. gumas dessas cores são chamadas de cores
Com que roupa eu vou? estruturais, pois não resultam unicamente
do pigmento, sendo produzidas pelo efei-
Mas não basta ser um bom dançarino para to da luz refletida pela estrutura das penas!
atrair uma fêmea de tangará, é preciso tam- Isso acontece porque as penas das aves, e
bém “se vestir bem”. Hoje, acredita-se que as consequentemente dos tangarás, são feitas
plumagens dos machos adultos sejam resul- de dois compostos principais: a queratina e
tado da preferência de parceiras reprodutivas os grânulos de melanina. Em alguns casos
por essas características. Entre as “joias” que as penas apresentam também bolhas de ar.
eles vestem estão penas na cauda que pare- A queratina é uma substância dura, presen-
cem arames e penas nas cabeças em forma de te, por exemplo, nas unhas e no cabelo dos
chifres. humanos. A melanina também está presente
CAPÍTULO 6 101
CORES QUE VI DE PERTO
em humanos: ela é a responsável pela pig- tosas. As fêmeas, que precisam se camuflar
mentação da nossa pele. É a presença desses para evitar a predação enquanto cuidam dos
compostos e a densidade e orientação das ovos e filhotes, têm cores menos chamativas.
moléculas de melanina que fazem com as Os leques dos tangarás
que penas tenham essas cores.
Ao ler este título, você pode pensar que os
As cores e a visão tangarás, além de usarem, como acessórios,
Tanta cor e elaboração provavelmente penas coloridas e com formatos estranhos,
não seriam admiradas sem uma boa capaci- usam também leques para se abanar. Não é
dade de enxergá-las. As aves, de fato, têm o nada disso! Leque é o nome que os cientistas
sistema visual muito desenvolvido. Diferen- dão ao local aonde vários machos adultos se
temente de nós, humanos, que apenas temos reúnem para dançar para as fêmeas. São ver-
receptores para três cores de luz nos olhos, dadeiros agregados de territórios reproduti-
elas possuem receptores para quatro cores vos dos machos.
em suas retinas, cada qual especializado em Como consequência da formação dos le-
filtrar a luz em uma faixa de comprimento ques, o padrão de ocupação do habitat pelos
de onda – nos tangarás, essa faixa inclui o tangarás é, em geral, agrupado, ou seja, há
violeta, o azul, o amarelo e o vermelho. A áreas da floresta onde se encontram vários
presença desses quatro receptores confere às indivíduos, e outras onde estes não ocorrem.
aves a possibilidade de enxergar muitas cores Sabe-se que, na estação reprodutiva, os ma-
e combinações de tonalidades que nós não chos chegam a passar 80% de seu tempo nos
vemos, e faz com que percebam movimentos leques, exibindo cortes. E uma vez que a cor-
rápidos muito melhor que os humanos. te demanda muita energia, é natural que eles
Os tangarás também enxergam muito busquem alimento em locais próximos aos
bem em ambientes escuros, como a floresta seus territórios reprodutivos, senão dentro
ao amanhecer. Sua visão, assim como a de destes – embora também seja possível vê-los
pássaros florestais em geral, é especializada se alimentando em locais distantes dessas
para localizar cores entre os tons de amare- áreas.
lo, vermelho e roxo, em qualquer hora do As fêmeas de tangarás, assim como os
dia. Essas cores são fáceis de identificar no machos jovens, vagam entre os territórios
ambiente predominantemente verde onde de vários machos adultos, chegando a voar
vivem e ajudam no reconhecimento, não só distâncias de mais de um quilômetro. Cabe
dos frutos que comem, como dos parceiros a elas a construção e o cuidado do ninho, a
reprodutivos. incubação dos ovos e a alimentação dos fi-
É por isso que se considera que a pluma- lhotes. Os ninhos são construídos fora dos
gem dos tangarás é resultado da seleção de leques para reduzir o risco de predação, já
cores que se destacam, ao contrário dos casos que as atividades dos machos podem atrair a
de pássaros de coloração esverdeada, cinza atenção de outros animais além dos pássaros
e marrom, que se camuflam nas florestas. É de sua espécie. Mas, antes da nidificação, elas
interessante ressaltar que, entre os tangarás, passam boa parte do tempo em áreas de le-
apenas os machos – que precisam ser vistos ques ou, possivelmente, entre estas, a fim de
pelas fêmeas – apresentam plumagens vis- comparar e escolher seus parceiros. Isso faz
102 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
com que as fêmeas tenham uma área de vida Entretanto, uma vez que eles apresentam
bem maior que a dos machos. uma distribuição agrupada na floresta, ne-
Conservação cessitam de uma área considerável, se com-
parada com aquela necessária a espécies de
Embora os tangarás não estejam ameaça-
distribuição mais homogênea, para que suas
dos de extinção, a destruição das florestas,
populações se mantenham saudáveis do
bem como as mudanças climáticas, poderão
ponto de vista genético e demográfico, até
afetá-los irreversivelmente. Esses pássaros
porque apenas uma pequena proporção dos
são particularmente resistentes ao surgi-
machos adultos se reproduz em cada gera-
mento de áreas de contato da floresta com
ção. Apenas alguns machos conseguem con-
outros ambientes (as chamadas bordas dos
quistar as fêmeas através da corte.
fragmentos florestais) e a alterações que le-
vem à formação de clareiras, pois aí crescem
rapidamente plantas que produzem os frutos
prediletos de sua dieta.
CAPÍTULO 6 103
CORES QUE VI DE PERTO
3690
` CAPÍTULO VII
Ver de Perto com Muitas Lentes
O Diálogo Transdisciplinar entre Arte-educação
DS12
e Educação Ambiental no Programa Verde Perto
Educação
1
Benjamin Sanches de Oliveira, poeta e contista amazonense escreveu a obra de ficção
O outro e outros contos, em 1963, cuja obra escreveu exclusivamente com minús-
culas (inclusive o título) e alinhou os parágrafos pela direita, uma transgressão na
linguagem, no qual revela um autor bebendo da fonte do Concretismo.
Introdução quão protagonistas são nas mudanças que se
fazem necessárias.
CAPÍTULO 7 107
VER DE PERTO COM MUITAS LENTES
plexidade que, por sua vez, trouxe a reboque luz pela verve inovadora das próprias pesqui-
a fragmentação do saber, Nicolescu, em seu sas transdisciplinares.
Manifesto da transdisciplinaridade5, afirma O horizonte aberto de inovação, a ampli-
que a harmonia entre as mentalidades e os tude do conhecimento proporcionada por
saberes pressupõe que estes saberes sejam inte- essa visão transdisciplinar, no que tange à
ligíveis, compreensíveis, e questiona, todavia, compreensão das ações científicas e huma-
se ainda seria possível existir uma compreensão nas e suas combinações e possibilidades
na era do bang-bang disciplinar e da especiali- – nesse caso a Arte-Educação e a Educação
zação exagerada. Ambiental – foram e ainda são enormes e
A necessidade de se criarem laços entre inimagináveis.
as diferentes disciplinas em prol de uma vi- Ambos os teóricos, Morin e Nicolescu,
são convergente entre Objetos/Processos/ nesse sentido, em uma escrita a
Realidades, Nicolescu, na metade do século quatro mãos que resultou na Carta da
XX, encontrou resposta no que define como transdisciplinaridade7, sintetizam o dito
pluridisciplinaridade e interdisciplinaridade. acima em seu artigo 5:
Entretanto, essa interação de conhecimentos A visão transdisciplinar está resolutamen-
ainda de certo modo contribui para o boom te aberta na medida em que ela ultrapassa o
disciplinar vigente, pois o olhar do pesquisa- domínio das ciências exatas por seu diálogo e
dor foi e ainda é, em muitos casos, fragmen- reconciliação não somente com as ciências hu-
tado, respeitador da segregação e autonomia manas mas também com a arte, a literatura, a
das disciplinas nos quais alimentam uma poesia e a experiência espiritual8.
estrutura institucional do saber que só existe
O paradigma da complexidade e a atitude
mediante essa compartimentação. Para além
transdisciplinar em resposta a essa mesma
dessa fragmentação de apenas um único e mes-
caudal descontínua, difusa, portanto com-
mo nível de realidade, surge a transdisciplinari-
plexa, que envolve as estruturas do Universo
dade, que se interessa pela dinâmica gerada pe- - e nele estão o meio ambiente, os seres vi-
los vários níveis de Realidade ao mesmo tempo, vos, o homem e todos os mecanismos orgâ-
níveis estes que apresentam estruturas descon- nicos e inorgânicos atuantes no planeta - são
tínuas e determinam a estrutura descontínua elementos que permeiam as proposições de
do espaço transdisciplinar6. No entanto, estão Leff.
longe de ser antagônicas. Afirmar o contrário
Sua verve teórica voltada para o socioam-
é cair no mesmo ciclo de segregação dicotô-
bientalismo apresenta como estratégia a pos-
mica que enrijece a busca de soluções para os
sibilidade de fusões entre os diversos conhe-
problemas ambientais, educacionais, sociais
cimentos científicos. O horizonte de toda a
e muitos outros. São, consequentemente,
complementares, uma vez que a transdisci-
plinaridade se alimenta da pesquisa discipli- 7 Carta da transdisciplinaridade escrita por Lima
de Freitas, Egar Morin e Basarab Nicolescu, em
nar, e esta é iluminada com outros feixes de 1994 no Congresso de Arrábida.
8 GADOTTI, M. A Carta da Terra na Educação. São
5
Idem. Paulo: Editora e Livraria do Instituto Paulo Freire,
6
Idem. 2010.
CAPÍTULO 7 109
VER DE PERTO COM MUITAS LENTES
comunicação entre as partes, emissores e re- ações. Carregam a transversalidade como
ceptores, monitores e público-alvo. traço mais íntimo e marcante, por isso, o
É sobre esse terreno, cuja riqueza está na contínuo estreitamento do diálogo entre es-
multiplicidade e na diversidade ao mesmo sas disciplinas em projetos socioeducativos.
tempo em que nas singularidades e espe- Logo, esta aproximação, no que diz respeito
cificidades do ser humano e do meio que o à práxis, traz resultados positivos que permi-
cerca, que o Programa Verde Perto Educação tem alcançar satisfatoriamente os objetivos
encontra seu alicerce e força estrutural. propostos.
Destarte, a partir da articulação teórica te- Em outro artigo publicado pela revista
cida até aqui, construímos um pilar sólido de ARS, intitulado Arte-educação e meio am-
sustentação para o tema central deste artigo, biente: apontamentos conceituais a partir de
a arte-educação como instrumento colabo- uma experiência de arte-educação e educação
rativo para o êxito dos projetos socioeduca- ambiental12, as autoras Rizzi e Anjos desta-
cam a necessidade do diálogo inter e multi-
tivos na área da Educação Ambiental, tendo
disciplinar:
como objeto de análise as oficinas de artes
visuais desenvolvidas nos módulos II, III O trabalho dos arte-educadores no sentido
e IV do Projeto Verde Perto realizado pelo de despertar a consciência para o meio ambien-
Museu da Amazônia – MUSA no Jardim Bo- te não é menos importante. Temos que nos aliar
tânico de Manaus. a outros especialistas – sociólogos, ecologistas,
cientistas, geógrafos, bem como arquitetos, ur-
Arte-educação e Educação banistas, comunicadores, psicólogos e antro-
pólogos – na luta em busca do equilíbrio entre
Ambiental para Verde Perto preservação e desenvolvimento, que conduz a
O Projeto Verde Perto tem em sua estru- uma melhor qualidade de vida e do meio am-
tura pedagógica oficinas de artes visuais, mú- biente natural. Os problemas do meio ambiente
sica, teatro e contação de histórias. Diante de podem ser resolvidos apenas através de análise e
tal multidisciplinaridade uma ressalva se faz decisões multidisciplinares. A educação ambien-
importante: este artigo tem como enfoque as tal somente terá sucesso se envolver um grupo
atividades desenvolvidas no campo das artes multidisciplinar em processo interdisciplinar de
visuais e dinâmicas de grupos que objetiva- ensino/aprendizagem, atingindo assim a trans-
ram incentivar nas crianças e adolescentes a disciplinaridade (ANO 7, nº15, p.29).
floração de seus potenciais lúdicos e líricos. No mesmo artigo, as referidas autoras afir-
A Arte-educação e a Educação Ambien- mam que o pensar e o agir interdisciplinar se
tal são disciplinas alinhavadas pela mesma apoiam no princípio de que nenhuma fonte de
grande área, a Educação, e por isso compar- conhecimento é, em si mesma, completa e que,
tilham muitas características e perspectivas, pelo diálogo com outras formas de conhecimen-
porém adaptadas diante da natureza de suas to, de maneira a se interpenetrarem, surgem
novos desdobramentos na compreensão da rea-
lidade e sua representação13.
12
Artigo publicado na Revista ARS, nº 15 / Ano 7,
do Departamento de Artes Plásticas da USP. A condição básica para que se consiga
13
Idem. perceber um desenho positivo no que tange
110 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
à mudança de comportamento dos envolvi- vimento de todas as oficinas, pode-se assim
dos em projetos socioeducativos, aqui enfo- dizer, fundamentais para a estruturação da
cando um projeto de Educação Ambiental, metodologia aplicada e, por conseguinte, nas
é dar voz àqueles que são e serão os agentes atividades propostas, conforme o próximo
transformadores, as crianças e adolescentes item.
moradores do entorno do Jardim Botânico
de Manaus, público-alvo do Projeto Verde Metodologia aplicada às
Perto; estas atuam como protagonistas das
ações transformadoras que visam uma re-
oficinas de arte visuais
significação dos conceitos, das ações e de No planejamento das oficinas de artes vi-
soluções acerca da problemática ambiental e suais para o Verde Perto, a certeza que guiou
social que os afetam diretamente. a escolha das atividades, bem como seus mo-
Logo, todo o aporte teórico que possibili- dos de execução e transmissão, eram de que
tou a estruturação da metodologia aplicada o lúdico, o diálogo entre arte, brincadeiras e
no referido projeto encontra-se alicerçado jogos seriam a ponte que permitiria às crian-
no tripé: Transdisciplinaridade, Protagonis- ças e adolescentes envolvidos transitar entre
mo Juvenil e Educação Lúdica e, não obstan- o mundo existente e o mundo da imagina-
te, dialogam e convergem diretamente com ção, possibilitando que os conteúdos e as in-
a estrutura metodológica, a partir da qual formações transmitidos, ao invés de regras e
as oficinas de artes visuais foram pensadas. normas a serem seguidas, fossem estágios de
Estas oficinas, consequentemente, foram ela- aprendizagem gradativos e progressivos.
boradas privilegiando três eixos centrais: o As atividades lúdicas permitem às crian-
estímulo da percepção dos educandos envol- ças e adolescentes liberdade em perceber,
vidos – ambiental, artística e de si mesmos criar, refletir, de forma espontânea, buscan-
– as vivências lúdicas e as práticas coletivas. do respostas para seus problemas e procu-
Para isso, o cenário foi de fundamental rando novas formas para os desafios da vida,
importância. O projeto desenvolvido pelo do seu entorno e do planeta; possibilitam
Museu da Amazônia / MUSA fora posto em suas idas e vindas, a troca e a transformação,
prática no Jardim Botânico de Manaus, situ- promovem a descoberta de novas formas de
ado na Reserva Adolpho Ducke, um espaço atuação. Um encontro consigo mesmos, com
privilegiado que permite, num primeiro mo- os outros e com o Universo14.
mento e como impacto inicial, a integração A imaginação é um exercício que faz parte
direta das crianças e adolescentes com a da construção da visão de mundo pela criança
natureza, facilitando os processos de trans- e é uma forma própria de aprender. No desen-
missão e assimilação dos conteúdos teóricos rolar de brincadeira, a criança mistura o tempo
abordados. todo vivências que são imaginárias com decisões
Nesse cenário, as crianças rodeadas e circunstâncias que são corretas. Essa transpo-
pela cor da floresta, verde em seu vasto es-
pectro, pelos sons das plantas e dos animais A importância da atividade lúdica na Educação
14
– são aguçadas em suas percepções e sensa- ofertada por um projeto social: experiências e
ções, elementos primordiais para o desenvol- práticas de extensionistas – PUC/MG, 2010.
CAPÍTULO 7 111
VER DE PERTO COM MUITAS LENTES
sição imaginaria de situações, pessoas, objetos estar presente nessas palestras, pois podería-
ou acontecimentos ajuda a criança a interpretar mos perceber e compreender a interação das
e conhecer o mundo, e ainda a construir pensa- crianças com o conteúdo explanado, bem
mentos concretos. Fazer de conta é também um como detectar “in loco” quais os pontos que
elemento central da capacidade de resistência despertavam nelas maior interesse - um labo-
que as crianças possuem diante das situações ratório vivo de análise para a concepção das
(Pontifícia Universidade Católica de Minas oficinas e suas atividades.
Gerais, 2010). No entanto, ao optarmos em trabalhar
O imaginário é uma função essencial da não somente com o tema do módulo e das
potência de vida individual, da vida em so- palestras, mas em diálogo presencial com a
ciedade e das sociedades15. A partir da escri- palestra dos pesquisadores, tivemos alguns
tura da Carta da Transdisciplinaridade, em desafios: como desenvolver um projeto de
1994, a possibilidade de trazer a imagina- oficina e atividades, de antemão afinado com
ção para o campo do real e costurá-la nessa o módulo e a palestra, sem ainda termos o
colcha de retalhos que envolve o complexo embasamento que somente o contato com as
diálogo entre o seres humanos e o planeta, crianças, nas próprias palestras, poderia nos
ganhou espaço e projeção. Uma relação que, dar, a partir de suas interações e interesses?
ao invés de ser compreendida de forma di- Como traduzir, em atividades artísticas, os
cotômica, necessita ser compreendida pelos pontos de maior interesse das crianças? Con-
seus muitos e variados diálogos. sequentemente, como fazer com que as ativi-
dades propostas nas oficinas despertassem o
As oficinas de artes visuais estavam inseri- mesmo interesse das crianças que fora detec-
das na estrutura do Projeto Verde Perto, este tado nas palestras? Este último o maior desa-
desenvolvido por módulos com duração de fio, pois se conseguíssemos contribuiríamos
quatro semanas. Cada semana, por sua vez, e caminharíamos para o êxito do projeto.
seguiu um itinerário de atividades fixas; cada
dia destinado a uma atividade sendo deixa- A saída encontrada para vencer esses de-
dos os dois primeiros para as palestras cien- safios foi planejar as atividades ao mesmo
tíficas e trilha na mata e, os demais, para as tempo em que o próprio módulo acontecia,
ou seja, definir as atividades após o contato
oficinas.
com as palestras, de modo que não impri-
O que de inicial nos foi colocado e visto misse problemas de logística e execução para
por nós como fundamental para a oficina es- o projeto, diante do curto tempo disponível.
tar em consonância com os objetivos do pro-
Destarte, nos três módulos em que par-
jeto era que as atividades fossem pensadas e
ticipamos das oficinas de artes visuais pelo
desenvolvidas em cima do tema tratado na
projeto – Interação animal-planta; Arqueolo-
palestra dos pesquisadores em dia anterior
gia; Comunicação entre os organismos – foram
ao da realização da oficina. A partir disso
realizadas doze oficinas de artes visuais estru-
fomos além, definimos que seria essencial
turadas, de antemão, da seguinte forma: ati-
vidades práticas individuais e/ou coletivas;
http://unesdoc.unesco.org/ima-
15
dinâmicas de grupo – brincadeiras e jogos e
ges/0012/001297/129707por.pdf
exposição do material criado, respeitando o
CAPÍTULO 7 113
VER DE PERTO COM MUITAS LENTES
Figura 3. Collage.
Foto: Kika Gouvea Figura 7. Exposição dos Produtos da Oficina.
Foto: Kika Gouvea
Nesse processo de externalização de suas
criações por parte das crianças e adolescen-
tes percebeu-se que os mesmos estavam en-
voltos por um sentimento de orgulho pelo
trabalho realizado; orgulhosos por poderem
mostrar tudo que fizeram para seus pais, ir-
mãos, professores e colegas, ao passo que,
com isso, replicavam e apresentavam o que
Figura 4. Dobradura. Foto: Kika Gouvea aprenderam, ao falar e explicar suas próprias
criações - Aprendizagem, replicação de co-
nhecimentos sem pressão de avaliação for-
mal e com sorriso no rosto!
O momento guardado à exposição per-
mitiu, portanto, um duplo efeito: valorizou
a autoestima dos jovens participantes e rea-
firmou e efetivou a apropriação conteudista
de tudo que foi tratado, ao longo do processo
Figura 5. Dinâmicas. Foto: Kika Gouvea pedagógico.
A partir desse desenho metodológico,
as demais oficinas realizadas referentes
aos dois módulos restantes, Arqueologia e
Comunicação entre os organismos, diante dos
resultados positivos apresentados no módu-
lo 1, seguiram a mesma estrutura estabeleci-
da no primeiro módulo, porém, com ativi-
dades artísticas moldadas de acordo com a
Figura 6. Apresentação de Encerramento.
Foto: Kika Gouvea temática de cada módulo.
16
http://unesdoc.unesco.org/ima-
ges/0012/001297/129707por.pdf
17
Excerto do poeta brasileiro Manoel de Barros.
CAPÍTULO 7 117
VER DE PERTO COM MUITAS LENTES
3694
7 CAPÍTULO VIII
Ver de Perto: Educação Ambiental
no Movimento Social de Base
129
Projeto Jovens como Protagonistas do
Fortalecimento Comunitário na Resex de Bairro
Juruá, Resex do Rio Jutaí e Flona de Tefé, AM.
CAPÍTULO 8 121
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
territórios, não entendiam a necessidade da lideranças, que já se apresentavam sobrecar-
organização social. Assim sendo, não se inte- regadas e cansadas, percebeu-se a necessida-
ressavam pela vida comunitária e pelas pos- de de trabalhar também com a juventude,
sibilidades de melhoria oferecidas pela UC. preparando-a para participar, de forma qua-
Mais uma questão relevante que se ob- lificada, do movimento social e da gestão
servou neste processo versa sobre a pouca participativa de suas áreas protegidas.
efetividade da comunicação entre institui-
Um marco para a estruturação do “Pro-
ções e comunidades, devido às diferenças no
jeto Jovens como Protagonistas do Fortale-
tipo de linguagem, regionalismos ou jargões
cimento Comunitário” foi o I Ciclo de Ca-
empregados, que dificultam a compreensão
mútua. pacitação em Gestão Participativa - CCGP
(www.icmbio.gov.br), uma iniciativa do
O artigo 225 da Constituição Federal de
ICMBio e Programa Áreas Protegidas da
1988 (Brasil, 1988) e o Sistema Nacional de
Amazônia (ARPA), em parceria com a Co-
Unidades de Conservação, Lei 9.985/2000
(Brasil, 2000) e Decreto 4.340/2002, tra- operação Alemã - Deutsche Gesellschaft Für
zem um notável avanço jurídico no que diz Internationale Zusammenarbeit (GIZ). O
respeito à participação social na gestão am- ciclo, com uma edição a cada ano, tem como
biental. Porém, observa-se que existe uma objetivo principal contribuir para a supe-
relevante discrepância em nossa sociedade ração do desafio de ampliar a participação
no que diz respeito à capacidade e à qualifi- social no gerenciamento de áreas protegidas
cação de intervenção e interferência nas to- por meio de ciclos de capacitação na temáti-
madas de decisão. Por isso a necessidade de ca para técnicos responsáveis pelas áreas pro-
esforços em processos educativos que visem tegidas. Ao final do ciclo, os alunos escrevem
minimizar o desnível entre os atores sociais e realizam um projeto de intervenção local
nos diferentes espaços de participação social para conclusão de curso.
na gestão ambiental pública.
Uma analista do NGI Tefé participou do
A partir do diagnóstico realizado, os ana-
primeiro CCGP e teve a oportunidade de
listas ambientais das UC de Uso Sustentável
construir a presente iniciativa, junto de ou-
do NGI Tefé começaram a desenhar estraté-
tros analistas da Resex do Baixo Juruá, Resex
gias de fortalecimento comunitário e de ges-
tão participativa. Este processo inicialmente do Rio Jutaí e Flona de Tefé e do colabora-
se deu através da realização de capacitações dor Leonardo Rodrigues, na época profes-
pontuais que foram sendo articuladas, discu- sor da Universidade Estadual do Amazonas
tidas internamente na equipe do ICMBio e (UEA). A adesão imediata desta equipe foi
junto às associações e comunidades das UC. imprescindível para elaboração e implemen-
Rapidamente, viu-se a necessidade de estru- tação do projeto. Que, além disso, contou
turar ações estratégicas com objetivos claros com apoio da Divisão de Gestão Participati-
e com a possibilidade de monitoramento va (DGPAR) e Coordenação Regional (CR)
de resultados. 02 do ICMBio. O apoio institucional ao Pro-
Observando que destas capacitações par- jeto “Jovens Protagonistas” foi determinante
ticipavam, via de regra, as poucas e mesmas para sua viabilidade.
122 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
A Metodologia, a Construção tema trabalhado, por meio de oficinas de arte-
-educação, além de dinâmicas, intercâmbios,
e a Estrutura do Projeto apresentações, entre outros.
Baseado na metodologia do “Programa O Programa Verde Perto é fortemente
Verde Perto Educação”, o Projeto “Jovens inspirado na Teoria das Inteligências Múlti-
como Protagonistas do Fortalecimento Co- plas de Howard Gardner (Gardner 1994) e
munitário na Resex do Baixo Juruá, Resex na complexidade ambiental de Leff e Morin
do Rio Jutaí e Flona de Tefé, AM” objeti- (Leff 2003; Morin 2002). Segundo Gardner
vou estimular o fortalecimento comunitário (1994) “...quando um tópico é ensinado de
através da provocação de um conjunto de formas variadas, cada pessoa assimila melhor
conhecimentos e vivências aos jovens das algumas delas. Inversamente, se alguém ficar
UC envolvidas, fomentando a renovação restrito a uma única forma de conceito e apre-
de lideranças. sentação, sua compreensão tenderá a ser mais
A metodologia do Programa Verde Perto superficial”.
Educação (Rodrigues, 2008) é sustentada O “Projeto Jovens Protagonistas” foi ela-
no tripé: Protagonismo Juvenil – Os próprios borado a partir do pressuposto de que o
jovens moradores e usuários das UC devem entendimento do contexto em que os mo-
sugerir temas e propor atividades para serem radores das UC estão inseridos, o acesso a
realizadas no projeto; Transdisciplinaridade informações históricas e técnicas sobre as
– Vários temas e áreas do conhecimento são áreas protegidas, suas ferramentas de gestão,
abordados nas atividades do projeto, como a consciência da importância da organização
legislação, conservação, ferramentas de ges- comunitária e a oportunização de momen-
tão, saúde, comunicação popular, história, tos agradáveis para promover a coesão do
artes e cultura etc; e Educação Lúdica – Inter- grupo, através da troca de saberes e cons-
caladas às atividades teóricas, e às palestras, trução coletiva de conhecimentos, são base
são realizadas atividades lúdicas ligadas ao para a emancipação e inclusão social. Teve
CAPÍTULO 8 123
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
por meta propiciar maior envolvimento dos possibilitando o acesso das comunidades às
moradores das Unidades, principalmente os políticas públicas de geração de renda e in-
jovens, com as questões comunitárias, forta- clusão social.
lecendo as associações que os representam Interessante ressaltar que, em abril de
por meio do sentimento de pertencimento 2011, após serem provocados pela equipe
e apropriação. gestora a proporem ações que pudessem
A facilitação do diálogo entre comunitá- interessar aos jovens da FLONA de Tefé, os
rios e analistas poderia, ainda, fornecer sub- jovens da comunidade São João do Mulato
sídios para identificação de pontos fracos e abraçaram a proposta do projeto. Responsa-
fortes na efetividade da gestão por parte do bilizaram-se por mobilizar a comunidade e
ICMBio, dos Conselhos Gestores e das As- organizar um primeiro dia de atividades, nas
sociações, buscando encontrar estratégias quais o ICMBio estaria presente para saber o
para fortalecer a gestão participativa. que interessava a eles e como pensavam que
Utilizaram-se os trabalhos de Rodrigues seria possível chamar a atenção dos jovens
(2008), Kisil (2004) e Neumann (2004) para as questões comunitárias, como mostra
como referencial teórico. a figura 1.
Os objetivos do Projeto, metas e indica- Na finalização deste 1° encontro na Flona
dores, estão apresentados na tabela 2 e serão foi definida uma pequena agenda de ativi-
discutidos durante a apresentação do desen- dades junto aos jovens da comunidade. Os
volvimento e dos resultados. mesmos se comprometeram a montar uma
apresentação com o tema “Fortalecimento
O projeto foi construído participativa-
Comunitário” para a Assembleia Extraor-
mente, consultando jovens, lideranças e
dinária das associações de moradores dos
moradores das comunidades das UC en-
volvidas, entre janeiro e maio de 2011. Em três rios que compõem a FLONA de Tefé.
cada UC este processo foi realizado de uma Estava planejada, nesta reunião, a unificação
forma diferente: na Resex do Baixo Juruá destas em uma só associação, quando reali-
foram realizadas reuniões com moradores e zariam a eleição da nova diretoria unifica-
jovens das comunidades Antonina, Botafo- da. Desde o primeiro momento ficou
go, Forte das Graças e Cumaru e com a As- nítido o potencial que tinha a proposta de
sociação dos Trabalhadores Rurais de Juruá trabalho com os jovens para envolvimen-
(ASTRUJ); na Flona de Tefé, com jovens da to comunitário, proporcionando um espa-
comunidade São João do Mulato; na Resex ço de diálogo e aproximação entre jovens,
do Rio Jutaí, com a diretoria da Associação crianças, antigas lideranças e famílias intei-
dos Produtores de Jutaí (ASPROJU) e com ras com o órgão gestor da UC e possíveis
jovens da comunidade Marauá. As reuniões instituições parceiras.
objetivaram levantar o interesse de adesão ao A primeira versão do projeto tinha o
projeto e os temas e oficinas que gostariam título “Jovens como atores no fortalecimento
de trabalhar. Foram também discutidos o comunitário”. A palavra protagonismo ficou
cenário de dificuldade de renovação de lide- tão presente e incorporada aos jovens que o
ranças e a necessidade de fortalecimento e nome do projeto mudou, desde os primeiros
qualificação das organizações sociais locais, encontros, para “Jovens como Protagonistas
124 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
no Brasil e o Sistema Nacional de Unidades
de Conservação;
III) Módulo SNUC “Micro”: detalhamen-
to das especificidades da UC em questão;
IV) Módulo Ferramentas de Gestão I:
Conselhos Gestores;
V) Módulo Ferramentas de Gestão II:
Plano de Manejo e Plano de Uso.
Outros cinco módulos ficaram previstos
com temas e oficinas à escolha dos partici-
pantes do Projeto, identificados durante os
módulos básicos. Estes cinco módulos pro-
postos pelos comunitários poderiam ser di-
ferentes entre as UC.
Cada módulo do Projeto teve duração
média de dois dias (16 horas). No módulo
I, a justificativa, os objetivos e a metodologia
foram apresentados aos participantes. Nes-
se momento de introdução, foi enfatizado
que a participação de cada um dos jovens é
motivada por interesse pessoal, ou seja, “vai
Figura 1. Programação do encontro realizado quem quer”. Outra importante questão tra-
por jovens da comunidade São João do Mulato/ balhada no módulo inaugural diz respeito
FLONA Tefé. à responsabilidade. Nossa proposta é que
os jovens sejam protagonistas do fortaleci-
do Fortalecimento Comunitário”. Os parti- mento comunitário. Para tanto, eles devem
cipantes do Projeto se autodenominam “Jo- ser protagonistas da construção e condu-
vens Protagonistas”. ção do próprio Projeto. Assim, desde o co-
meço os jovens são corresponsabilizados
Considerando o diagnóstico realizado en-
para o desenvolvimento de todas as ativi-
tre 2009 e 2010, as contribuições dos jovens,
dades previstas e construídas ao longo de
associações e demais moradores de comuni- sua implantação.
dades das três UC no primeiro semestre de
Os outros quatro módulos predetermina-
2011, a equipe de coordenação se reuniu em dos foram escolhidos a partir do diagnóstico
maio de 2011 e definiu os cinco módulos bá- interno da equipe organizadora. Foram le-
sicos para o Projeto, citados abaixo. vantados quais temas favoreceriam a gestão
participativa das UC. Assim percebeu-se que
I) Módulo de apresentação do Projeto;
deveríamos familiarizar os participantes com
II) Módulo SNUC “Macro”: crise civi- a questão ambiental planetária; o surgimen-
lizatória, a questão ambiental no mundo e to das legislações ambientais, em especial o
CAPÍTULO 8 125
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
SNUC; o histórico da criação de cada uma ensinava como confeccionar os bonecos e as
das UC envolvidas e suas ferramentas de técnicas de apresentação teatral. Em segui-
gestão, em destaque, o Conselho Gestor e o da, os participantes preparavam e apresen-
Plano de Gestão. tavam seus conhecimentos teóricos através
Os temas dos outros módulos escolhidos do teatro de bonecos. As atividades de arte
pelos participantes seriam pensados, discu- educação foram fundamentais para favorecer
tidos, propostos e votados em momentos a apropriação e a apreensão dos conteúdos
específicos durantes os encontros. Quando teóricos levados e transmitidos a cada en-
diagnosticados temas e atividades lúdicas de contro, para os jovens participantes; através
interesse dos participantes, havia uma dis- das apresentações dos jovens nas diversas
cussão e eram votados. Definindo o assunto linguagens avaliamos a qualidade do proces-
so cognitivo.
teórico e a oficina lúdica que a maior parte
dos participantes queria trabalhar, a equipe Na verdade, as oficinas geram um triplo
organizadora buscava profissionais que po- ganho, pois 1) resignificam o conteúdo te-
deriam contribuir em sua realização. órico das palestras e exposições dialogadas,
potencializando o ganho cognitivo do tema
Em cada módulo era previsto apresenta-
trabalhado; 2) oportunizam o contato com a
ção teórica de um tema, através de conver-
técnica de cada oficina, desenvolvendo uma
sas e palestras seguidas de atividades lúdicas
habilidade, instrumentalizando uma forma
(oficinas de arte educação, apresentações e
de expressão e possibilitando uma alternati-
dinâmicas) e intercâmbios, que permitem a
va de lazer, ou mesmo profissional; 3) mo-
utilização de diversos tipos de linguagem. As
tivam a constante participação por ser uma
oficinas de cada módulo eram escolhidas pe-
atividade agradável e leve, aumentando o in-
los jovens independentemente, entre as UC.
teresse e assiduidade nas atividades.
Assim, todos os assuntos teóricos eram re-
trabalhados através de outra linguagem. Por Neste sentido, é muito importante o mo-
exemplo, ao falarmos do estabelecimento do derador ter habilidade de costurar diversas
SNUC como uma estratégia e ferramenta linguagens. A este moderador cabe a missão
legal voltada para a preservação e conserva- de explicar a concepção metodológica para
ção ambiental, podemos retomar o tema da os responsáveis pela parte teórica, lúdica e
palestra utilizando músicas que tratem da arte educativa e realizar a facilitação para que
necessidade de cuidados ambientais, ima- a evolução do processo de aprendizagem
gens que ilustrem situações de degradação através das diferentes linguagens trabalhadas
ou de equilíbrio ambiental, filmes sobre de seja fluida e orgânica, durante o módulo, e a
Unidades de Conservação, dentre outras lin- abordagem dos instrutores não seja desco-
guagens alternativas. nectada. Esta é uma habilidade que pode ser
treinada e exercitada, e é ponto fundamental
Além disso, propúnhamos que os partici- para a qualidade dos resultados.
pantes transformassem o que aprenderam,
ou o que já sabiam, numa linguagem artística
através do ferramental trabalhado na oficina
Desenvolvimento do projeto
de arte-educação. Ou seja, se a oficina do Partindo do pressuposto da importância
módulo era teatro de bonecos, o instrutor de uma capacitação continuada, onde os te-
126 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
mas geradores trazidos tenham correlação Ainda assim, o Projeto, de antemão, co-
e continuidade no processo de construção loca a liberdade, a não obrigatoriedade de
dos conhecimentos, habilidades e atitudes, é participação nas atividades. É o Projeto “vai
desejável que os participantes acompanhem quem quer”, não vale nota na escola nem ou-
todos os módulos propostos. Os convites tro tipo de “prêmio”, e possivelmente este é
para cada encontro eram cuidadosamente um dos diferenciais que propiciam a partici-
produzidos para chamar a atenção e mobili- pação. Os jovens são motivados pelo prazer
zar a participação. de estarem juntos construindo sua formação.
CAPÍTULO 8 127
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
O número de vagas não é limitado, para pos- dulos na Resex do Rio Jutaí, conforme a ta-
sibilitar a participação de quantos jovens se bela abaixo.
interessarem pelas atividades. Pudemos no- Em caráter ilustrativo, seguem algumas
tar que o número de presentes crescia a cada imagens de encontros em cada uma das UC
encontro, sendo que a grande maioria dos que realizaram o Projeto, mostrando a utili-
jovens retornava nos encontros posteriores. zação de diversas linguagens.
Ocorreram 12 módulos na Flona de Tefé, As Figuras 2 a 10 e a Tabela 4 são imagens
9 módulos na Resex do Baixo Juruá e 7 mó- ou produtos dos módulos I e II na Resex do
Baixo Juruá, com oficina de desenho.
CAPÍTULO 8 129
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
As figuras 11 a 17 e tabelas 5 e 6 são imagens do módulo III na Resex do Rio Jutaí, com
oficina de poesia.
Figura 11. Convite para encontro de jovens. Arquivo da Resex do Rio Jutaí.
Figura 12. Entrevista sobre a Resex. Arquivo da Figura 14. Música para animação. Arquivo da
Resex do Rio Jutaí. Resex do Rio Jutaí.
Figura 13. Trabalhos em grupo. Arquivo da Figura 15. Cantoria animada. Arquivo da Resex
Resex do Rio Jutaí. do Rio Jutaí.
I II
Meu querido Jutaí, Chico Mendes, o grande guerreiro
Como é bom morar aqui! Homem inteligente, a floresta amou.
Grupo de jovens unidos Juntava gente no empate
Comunitários amigos E a floresta preservou.
Patrimônio e união No estrangeiro foi falar
Riqueza e preservação. Onde todos aprenderam
Igarapé, lago e praia À floresta respeitar.
A mata vou preservar. Morreu pela natureza
Na reserva do Jutaí Deixando grande tristeza.
É bom de morar e gostar. Sua mensagem está viva...
Meu querido Jutaí Viva Chico Mendes, viva!
Como é bom morar aqui! Viva João Batista, viva!
CAPÍTULO 8 131
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
As figuras 18 a 26 ilustram o módulo IV
na Flona Tefé, com oficina de teatro.
Figura 21. Aquecimento ideológico. Arquivo da Figura 25. Trabalho paralelo com crianças.
Flona Tefé Arquivo da Flona Tefé.
Figura 27. Foto da turma. Arquivo da Flona Figura 28. “Flor do planejamento” Plano de
Tefé. Manejo. Arquivo da Flona Tefé.
CAPÍTULO 8 133
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
Tabela 8. Poesia composta durante o encontro.
ESTE ENCONTRO
Heitor de Castro Neto
Para todos vocês E agora agradeço
Quero que preste atenção À Deus por este bonito momento
Vou falar deste encontro Pelos nossos parceiros
Que foi um verdadeiro encontrão E pelos nossos alimentos
O encontro foi animado E pelos jovens visitantes
Muito mais divertido Que tornaram lindo este evento
Conheci diversos jovens Quero falar obrigado
De alguns me tornei ate amigo Ao Astro e ao Leo
Teve troca de experiência Pra Ana e a Rachel
Com muita união E pra nosso amigo Rafael
Teve os professores que falaram sobre plano de gestão. Agradece também a nossa querida Gabi
Juruá veio em peso, jutaí mais ainda E falar à Flona, ao Juruá e Jutaí
Veio jovens bem alegres e muita menina linda Que por favor não parem por aqui
Veio até jovem Que elaborem um projeto
Que é muito experiente Para o jovem cada vez mais evoluir.
Que tem capacidade
Pra ser liderança competente
CAPÍTULO 8 137
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
eventos nas escolas, exposições fotográficas fora do estado. Além disto, em parceria com
e páginas na internet; 2) Fortalecimento dos Instituto de Desenvolvimento Sustentável
grupos de jovens, através da realização dos Mamirauá (IDSM) e Universidade Estadual
encontros, cursos e intercâmbios; 3) Forma- do Amazonas (UEA) os jovens estão sen-
ção técnica e profissionalizante, buscando do capacitados para participar de pesquisas
apoio para a capacitação da população da científicas. Todas estas ações, têm o duplo
FLONA de Tefé e 4) Busca por educação de ganho de ampliar as experiências profissio-
qualidade, baseada no estudo das legislações nais dos jovens e contribuir para implemen-
e políticas públicas específicas e realização tar os objetivos das UC.
do I Seminário de Educação das Comunida- O Projeto teve outro benefício interessan-
des das UC do Médio Solimões e Entorno. te: trouxe estímulo e ânimo ao dia-a-dia de
Na RESEX do Rio Jutaí, o Projeto “Forta- trabalho dos servidores que o coordenaram.
lecimento da Educação por meio da Valori- Contando com uma equipe insuficiente, a
zação Cultural Local incluindo a Religião e possibilidade de trabalhar de forma integra-
Proteção Ambiental” tem como objetivos: da entre três UC é instigante e potencializa a
1) Mobilizar e divulgar o Projeto Jovens, qualidade das atividades. Os resultados apre-
mostrando aos pais e professores a impor- sentados acima fizeram com que este fosse
tância do Projeto e dos jovens participarem o “projeto-motivação” da equipe organiza-
das atividades da RESEX, 2) Realizar encon- dora, que recebeu muitos retornos dos seus
tros periodicamente, para fortalecer a união esforços neste terreno fértil da juventude.
do grupo, 3) Sensibilizar e envolver a Secre- Para a consolidação dos resultados, o
taria de Educação nas atividades do projeto. Projeto Jovens como Protagonistas do For-
As ações efetuadas mostram que os jovens talecimento Comunitário da Resex do Baixo
têm discernimento e capacidade de atuação Juruá, Resex do Rio Jutaí e Flona Tefé deve
na gestão da UC. Hoje, o ICMBio atua so- continuar nas três UC, já que a formação de
mente como orientador e apoiador das ativi- lideranças é um processo contínuo. Porém os
dades que são executadas pelo grupo. jovens já experimentaram que podem buscar
sua própria qualificação para o aperfeiçoa-
Além destes resultados, podemos citar:
mento de suas ações, seja para gerir uma as-
maior participação da juventude em cursos
sociação, seja para conduzir processos edu-
de manejo de recursos naturais e no moni-
cativos, seja para acessar políticas públicas
toramento da pesca de pirarucu manejado;
etc.
organização dos eventos de soltura de que-
lônios; participação em reuniões de planeja- Elementos que podem influenciar
mento pedagógico de escolas para inserir o os resultados:
tema das UC nas aulas e em reuniões da Câ- 1) Número de encontros: O número de
mara dos Vereadores levando as demandas encontros influencia positivamente no ga-
das comunidades; grupos de jovens de algu- nho cognitivo, pela maior quantidade de
mas comunidades foram formados e outros momentos de troca e aprendizagem. Além
que já existiam só em teoria, começaram a disto, quanto mais encontros, mais os jovens
existir efetivamente; participação em cursos, fortalecem seus laços de amizade, fazendo
eventos, intercâmbios e seminários dentro e com que o grupo fique mais coeso. Mais en-
138 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
contros significam mais momentos para dis- próprios jovens, eles o reaplicassem nas ou-
cutir suas necessidades, refletir, amadurecer tras regiões das UC.
as ideias e planejar ações que transformem 4) Instrutores e moderador: Para o de-
suas realidades. Pudemos perceber mais re- senvolvimento das atividades, precisa-se de
sultados nas Unidades com maior quantida- pessoas qualificadas, que dominem os conte-
de de encontros. Porém, resultados puderam údos teóricos e de arte-educação escolhidos.
ser notados mesmo na UC que teve menor Assim, muitas vezes precisamos convidar
número de módulos, havendo a avaliação de colaboradores externos qualificados para
que com este Projeto os jovens começaram tratar de algum tema ou ministrar alguma
a se interessar na prática pela Reserva e vida oficina. O papel do moderador que faça a
comunitária, começando, aos poucos, a exer- ligação entre linguagens teóricas e lúdicas,
cerem protagonismo nas atividades da UC. dentro de um módulo e de diferentes temas
2) Recursos financeiros, humanos e estru- entre módulos, de forma didática, é impres-
cindível para dar fluidez ao processo de en-
turais disponíveis e a logística: Quanto mais
sino-aprendizagem dos jovens. O papel de
complicada a logística, como é o caso desta
um educador com este perfil, na equipe de
região da Amazônia, mais recursos humanos
coordenação, é essencial e auxiliará o acom-
e financeiros são necessários para imple-
panhamento pedagógico dos jovens durante
mentar a proposta. Infraestrutura adequada
todo o projeto.
também influencia nos resultados. Quando a
UC não tem locais adequados, restando lo- 5) Característica do grupo de participan-
cais pequenos, pouco ventilados e ilumina- tes: os resultados do projeto estão relacio-
dos para as ações pedagógicas, a cognição é nados também à pró-atividade, capacidade
de organização e mobilização dos próprios
comprometida.
jovens. Grupos de jovens com uma caracte-
3) Oportunizar a participação x flutuação rística prévia de protagonismo apresentam
de público: As dimensões amazônicas difi- resultados desde o início do projeto, organi-
cultam o deslocamento. Por isso, a escolha zando sozinhos, ou auxiliando, a organização
do local dos encontros pode ser determinan- de encontros, ou outras atividades. Percebe-
te para a presença de certos grupos. A equipe se ainda que o acompanhamento e apoio das
organizadora e os próprios jovens se preocu- lideranças mais antigas também estimulam o
param em oportunizar o comparecimento protagonismo juvenil. Os momentos em que
da maioria das comunidades. Porém, a pre- houve a participação das atuais lideranças
ocupação desde a concepção do Projeto era foram avaliados muito positivamente pelos
que os participantes acompanhassem todos jovens, que não tinham tido este tipo de es-
os módulos, percorrendo o fio lógico que os paço que oportuniza escutar as experiências
liga, evitando que o grupo fosse formado por e histórias. Esta troca de experiência, onde
um público flutuante, o que atrapalharia a os mais velhos podem assumir a formação
sua coesão e o processo de ensino-aprendi- dos jovens na própria comunidade, é funda-
zagem. Assim, a equipe priorizou a qualida- mental para as UC.
de do processo educativo em alguns setores, 6) Faixa etária: Ficou nítido em todas as
para que, com a apropriação do Projeto pelos UC que existe uma grande demanda por se
CAPÍTULO 8 139
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
realizar trabalho também com as crianças. O início da internalização da proposta
Porém, é importante a divisão por faixa etá- como diretriz de Educação Ambiental para o
ria para um maior aproveitamento dos mó- público jovem de Unidades de Conservação
dulos pelos jovens. Por isso, a equipe técnica e entorno, a nível nacional, concretiza-se no
considera importante a realização de ativi- “Programa de capacitação de jovens lideran-
dades paralelas com as crianças, sempre que ças multiplicadoras, em Unidades de Con-
possível. A participação dos professores tam- servação federais, com três Projetos pilotos
bém é altamente estimulada, pois são poten- de construção participativa - uma UC de
ciais parceiros e multiplicadores dos temas proteção integral e duas UC de uso sustentá-
abordados. vel” do ICMBio. Este produto foi inspirado
7) Continuidade do projeto: como já foi no Projeto Jovens Protagonistas / Verde Per-
dito, a proposta educativa para formação de to e traz o passo-a-passo para a construção
lideranças e para o fortalecimento comuni- e execução desta metodologia de educação,
tário deve ser pensada como um processo oportunizando sua ampliação para diferen-
contínuo. Qualificar a atuação desses jovens tes realidades. O programa balizará as ações
e demais moradores de UC que participaram educativas com o público jovem, no âmbito
da primeira fase, através da instrumentaliza- de ação do ICMBio, mas sua aplicabilidade
ção de suas ações planejadas (capacitação transcende as Unidades de Conservação.
em contabilidade, organização de documen- Também importante para este processo é
tos, trabalho em grupo e divisão de tarefas, a apropriação do “Projeto Jovens como Pro-
planejamento, construção e submissão de tagonistas do Fortalecimento Comunitário”
projetos etc) e envolver outros jovens e mo- pelo movimento social, como o caso do CNS
radores que não participaram da primeira que tem a ampliação do Projeto para outras
versão do Projeto é muito importante para UC como objetivo da sua diretoria nacional
ampliar e consolidar os resultados. de juventude.
Desejamos que este capítulo contribua
A Continuidade e Conclusões para o desenvolvimento de iniciativas de
Quando conheceu o Projeto em 2012, o ações educativas que acontecem no Brasil e
então presidente do CNS, Manoel Cunha, no mundo. E gostaríamos de receber retor-
disse que esta iniciativa “deveria virar Políti- nos com críticas, perguntas e sugestões para
ca Pública”, por notar o grande envolvimen- o aprimoramento de nossas atividades.
to dos jovens que participam do projeto com
suas UC e com a questão socioambiental de Agradecimentos
forma geral. Paralelamente, através dos rela- Dos ótimos resultados alcançados damos
tórios divulgados, o ICMBio-sede fortalecia os créditos e agradecemos à equipe do NGI
cada vez mais seu apoio ao Projeto pela veri- Tefé pela integração; aos jovens destas UC e
ficação dos resultados, enquanto colegas de ao ICMBio que abraçaram a proposta desde
outras Unidades, ou Centros de Pesquisa, o seu início; aos pais, lideranças, associações
começaram a demandar a construção de um (ASTRUJ, APAFE e ASPROJU) e secreta-
processo semelhante em diferentes regiões rias municipais de educação e saúde de Juruá
do país. e Jutaí pelo apoio; ao PNUD, WWF, ARPA
140 VERDE PERTO EDUCAÇÃO VOL. I
e Projeto Corredores Ecológicos pelo apoio KISIL, R. 2004. Elaboração de projetos e propos-
financeiro; a todos os colaboradores, pales- tas para organizações da sociedade civil. São
trantes e oficineiros do Projeto Jovens, em Paulo: Global.
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pelas orientações na idealização e auxílio biental. São Paulo: Cortez, 2003.
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CAPÍTULO 8 141
VER DE PERTO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MOVIMENTO SOCIAL DE BASE
54 33
3 CAPÍTULO IX
A Educação para Jovens na Gestão
do Patrimônio Socioambiental
DS12
Brasileiro: Teoria e Prática
Ana Luiza C. B. Figueiredo; Tatiana M. M. Souza; Fabiana Prado;
CAPÍTULO 9 151
A EDUCAÇÃO PARA JOVENS NA GESTÃO DO PATRIMÔNIO
SOCIOAMBIENTAL BRASILEIRO: TEORIA E PRÁTICA
m fgd
Consideração Finais
Leonardo Rodrigues