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Ag&o Integralista Brasileira: um movimento fascista no Brasil (1932-1938) Marcos Chor Maio Pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e Professor do Progra- ma de Pés-graduagao em Histéria das Ciéncias da Satide. Roney Cytrynowicz Pesquisador do Arquivo Histérico Judaico Brasileiro. INTRODUCAO 0 pperiodo entre 1930 e ey se a POr | um m quadro d de imprevisi- ointervalo en entre a crise de henencaa das oligarquias da Repiblica Velha e 0 fecl i) 0 politico que culmina no Estado Novo favoreceu o surgimento de projetos radi radicais mobilizantes que tentaram galvanizar a sociedade com a idéia de mudanga. As p Principais propostas deste tipo foram a Alianga Na- cional Libertadora e a Agao Integralista Brasileira (AIB). Os dois movimen- fos tinham criticas profundas aos preceitos liberais da Reptiblica Velha e também aos descaminhos da Revolucao de 1930. A AIB foi fundada oficialmente em 7 de outubro de 1932, com o langa- mento do “Manifesto de Outubro”. Existiu legalmente até dezembro.de193 a um ano apés o golpe do Estado Novo, imposto por Gettilio Vargas, que co- locou os partidos politicos na ilegalidade. O movimento estruturou-se a par- tir de uma série de de pequenos grupos ¢ partidos de extrema direita, tais como Agio Social Brasileira (Partido Nacional Fascista); Legiao Cearense do Tra- balho, de 1931, dirigida por Severino Sombra; Partido Nacional Sindicalis- ta, ac Minas Gerais, fundado por Olbiano de Melo; € 0 monarquista Acao Imperial P4trio-novista. No inicio da década de 1930, integrantes desses grupos aglutinaram- se em torno da lideranga de Plinio Salgado, redator, com San Tiago Dantas, do jornal A Razdo, fundado em 1931, e da futura Socie- dade de Estudos Politicos, tendo como lema principal “Deus, Patria e Famf- lia” (Trindade, 1974, p. 103-116). Em sua ideologia, organizagio e ag4o politica, o integralismo pertence a Constelacio ideoldégica dos movimentos e partidos fascistas europeus que 41 © BRASIL REPUBLICANO surgiram entre o fim da Primeira Guerra Mundial e a ascensao do nazismo na Alemanha, em 1933 (De Felice, 1976; Laqueur, 1976). Embora tenha atuado por um perfodo de apenas seis anos, a AIB foi, sem diivida, a mais _importante organizagio fascista na histéria do Brasil, pelo ntimero di de e adep- “tos q $ que teve, teve, pela expressiva partici pagao no debate politico dos anos 9s 1930 e, particularmente, pela atrag4o que exerceu sobre extensa gama de intelec- tuais que discutiam os destinos do pajs. Seus principais lideres foram Plinio Salgado, Miguel Reale e Gustavo Barroso. A Aco Integralista Brasileira foi o pi rimeiro partido politico | brasileiro com implantagao nacional ¢ ch e chegou a reunir — segundo diferentes estimati- ntre 500 aes para uma populagao do pals de 41,5 milhoe a inham maior inserc&o nae ou junto as classes médias urbanaa. oO primeiro ato public de relevo da AIB foi em 1933: uma marcha em _S4o Paulo reuniu cerca de 40 mil ade leptos do movimento e marcou o langa- mento de Miguel Reale como candidato da AIB a Assembléia Constituinte de 1934. No mesmo perfodo, foram organizadas as “Bandeiras Integralistas” para o Nordeste ¢ Sul do pais, lideradas por Plinio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale, com o objetivo de difundir as idéias do movimento. A con- cepgao subjacente as “bandeiras” sugeria um novo processo de “ ‘conquista” ideoldgica e e interiorizacao do projeto politico integralista em em! nal, no contexto do surgimento de slogans como a “marcha | para oeste” ea necessidade de conhecer o “Brasil real”, idéias essas formuladas por intelec- tuais como Euclides da Cunha, Oliveira Viana e Alberto Torres. Em 1934, a AIB realizou seu 1° Congresso Nacional, em Vitéria, no qual definiu sua estrutura organizacional e seus estatutos, e elegeu Plinio Salgado como chefe supremo e perpétuo. Gustavo Barroso foi designado chefe das milicias integralistas. O movimento propagou-se por varios estados, entre os quais Minas Gerais, Bahia, Maranhao, Ceara, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran4 e Pernambuco (Trindade, 1974; Levine, 1980; Carone, 1982; Hilton, 1983). Por ocasiao da celebrag4o do segundo aniversario de fundagao da AIB houve um confronto entre integralistas $€ militantes do entao Partido Comu- 42 AGAO INTEGRALISTA BRASILEIRA 1 do Brasil (PCB) na cidade de Sao Bae que Semen inte AIB tra ° Gana lideranca gralista chegou a se colocar a disposicao do governo federal para comba- (tico com o intuito de concorrer As eleigGes presiden- Uma reestruturag4o organizacional cria a Camara arenta, um conselho consultivo de notaveis, o Conselho Supremo, z membros, ¢ a Corte do Sigma, que se torna a instancia de poder importante, logo abaixo do chefe nacional. Segundo Trindade (1974), elo m a transformagao da AIB em uma estrutura pré-estatal: 0 ho Supremo seria um gabinete restrito no qual os ministros seriam os ios nacionais, a Camara dos Quarenta atuaria como um senado e a dos Quatrocentos, formada em 1937 com representantes de varios seria uma Camara Corporativa. A Corte do Sigma seria a instancia na, todos regidos por partido tinico e rfgida obediéncia ao chefe su- 10 (Trindade, 1974). aem 1936, em funcao do processo de radicalizagao politica, Varios (0s estaduais, entre eles Bahia, Santa Catarina, Espfrito Santo, Alagoas fecharam sedes do movimento. Em agosto de 1937 um confronto © deixou 13 mortos em Campos, Rio de Janeiro, durante uma marcha ita. m da difusao ideoldgica de seu idedrio, a AIB atuou no executivo eno lativo de diversas cidades e estados entre 1933 e 1937. Em 19. clegeu utado federal e quatro deputados estaduais, Naque Naquele ano havia 1.123 § organizados em 548 municfpios e400 mil ativistas. Nas eleig6es de 6, elegeu cerca de 500 yereadores, 20 prefeitos 4 deputados estaduais, hdo cerca de 250 mil Nas eleicdes de 1938, para eleger o candi- partido as eleic¢Ges presidenciais, participaram_quase 850 mil Stas, cerca de 500 mil eleitores habilitados, sendo que o eleitorado era de cerca de trés milhdes de votantes (Stanley, 1983, p. 45). Mes- Os ntimeros sejam imprecisos, eles sugerem a dimensao do movimento nsao de sua militancia. 43

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