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GÊNEROS LITERÁRIOS - O ANTIGO TESTAMENTO

PALAVRA DO TRADUTOR

Presidente do Centro do Estudos Presbiteriano.

Fonte: http://hermeneuticareformada.blogspot.com.br/2011/10/generos-literarios-o-
antigo-testamento.html

Estamos mais uma vez gratos a Deus por estarmos


disponibilizando para os nossos leitores mais um texto de ordem
acadêmica. O presente texto que o leitor tem em mãos foi traduzido do
Tomo 9 da famosa coleção “Comentario Biblico Mundo Hispano –
Proverbios, Eclesiastes, Cantares”. Este texto versa sobre um dos
assuntos mais negligenciados pelos centros acadêmicos de teologia e de
muitos pastores em geral, pois, a falta de conhecimento sobre este
assunto tem gerado essa negligência. E visando minimizar esta
tendência o Centro de Estudos Presbiteriano viabilizou a tradução deste
texto.
Por que este assunto? O que levou-nos a traduzir justamente este
texto? A razão encontra-se na minha história acadêmica quando aluno
no Seminário Presbiteriano do Norte era um completo ignorante da
Bíblia como um livro de literatura; foi nas aulas de Exegese do
Pentateuco que descobri que havia gêneros literários na Palavra de
Deus! Aquilo fora uma revolução para a minha mente e aliado com o
curso de Teologia Bíblica do Antigo Testamento me serviu como uma
luva.
Tornei-me um ávido amante da Escritura Veterotestamentária e
assim, segui os passos da Teologia Bíblica e exegética (disciplinas que
amo) ao traduzir este texto pensei nos alunos que nunca tiveram
contato com tal abordagem, que não conhecem e por isso, não
conseguem realizar uma exegese mais sólida da Palavra de Deus. E,
esta é a razão porque estou disponibilizando para os nossos leitores
este material que é simples, conciso, todavia, eficaz para um
esclarecimento e abordagem geral sobre o tema.
AGRADECIMENTOS DO TRADUTOR
Mais uma vez gostaria de deixar aqui uma palavra de gratidão: Ao
meu Deus pelos dons necessários que me tem conferido a realizar este
trabalho, a glória é toda dEle.
Aos nossos leitores que tem sido indulgentes conosco em nos
apoiar, corrigindo erros de digitação, de concordância verbal e verbo-
nominal nos nossos textos e o carinho com que estimulam a
continuarmos nesta empreitada pelo Reino de Deus.
Ao Reverendo Gaspar de Souza meu professor de Exegese de
Pentateuco que me fez ver as Escrituras como uma bela obra de
literatura e por me ensinar sobre Teologia Bíblica do Antigo Testamento.
Ao meu amigo Ivanildo Soares, com quem estudei no Seminário
Presbiteriano do Norte, que tem sido conduzido pela graça de Deus a
me estimular a escrever, traduzir e pensar sobre os gêneros literários do
Antigo Testamento.
Ao meu pastor Rodrigo Brotto que tem orado, apoiado o nosso
trabalho junto a Igreja de Cristo aqui no Piauí – juntamente com o
Conselho da Primeira Igreja de Teresina.
Aos meus Alunos de Antigo Testamento e Novo Testamento no
Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil que sempre oram
por mim – um dia querendo Deus voltaremos a nos encontrar em sala
de aula!
A Congregação Presbiteriana em Prazeres onde servi por quatro
anos como despenseiro da Graça de Deus lecionando um breve curso
sobre os Gêneros Literários do Antigo Testamento.
DEDICATÓRIA
Gostaria de dedicar esta tradução à memória de um grande
professor que tive na área de Antigo Testamento. Meu amor pelo Antigo
Testamento começou a brotar quando assisti o curso de Introdução à
Língua Hebraica no ano de 2003 no Seminário Presbiteriano
Fundamentalista do Brasil. O meu professor era o Rev. João Paulo de
Souza Filho , um homem erudito, simples e profundo.
Dominava várias áreas de ensino: Filosofia, Grego, Crítica textual
do Novo e do Antigo Testamento, Educação cristã, Exegese do Antigo e
Novo Testamento, Apologética – sempre me dizia: Joãozinho o iota do
grego pode ser bom, mas quando você aprender o yod você verá o que é
maravilhoso! Falava isso para me mostrar a importância que o Antigo
Testamento tinha para ele.
Nas aulas de Hebraico eu dizia: Professor eu não vou conseguir
aprender esses garranchos. Ele dizia piscando os olhos: Paciência
Joãozinho todo inicio de paquera é assim!
Lembro-me de uma vez pagando Introdução à Filosofia
declarei: Odeio Filosofia!Ele prontamente respondeu: Vou fazer você
amar filosofia – sua tarefa será ler o livro: O que é filosofia? De Caio
Prado. Li o livro fiquei com muita raiva – quem já leu sabe como o livro
é truncado – Ele me pediu um resumo do livro – apresentei o resumo,
ele disse muito bem Joãozinho agora você vai ler o livro “O mundo de
Sofia”! Nossa, me tornei um apaixonado por filosofia.
Saudades deste grande mestre! Seria injusto de minha parte não
fazer menção dele, pois, contribuiu muito para o meu crescimento na fé
Bíblica Reformada, mas, infelizmente, ele morreu aos 39 anos de idade
com Câncer com o desejo de continuar pregando no púlpito da sua
Igreja, foi elevado aos céus como um campeão de Deus! Sua piedade era
inigualável, sua cultura era erudita de mais, todavia, sua simplicidade
cativava os amigos – até os que discordavam dele! Meu mestre de
Hebraico; saudades! Veremos-nos no céu! Amém.
Pelo Reino, por um Evangelho da Graça,
João Ricardo Ferreira de França,
Presidente e Fundador do
Centro de Estudos Presbiteriano,
São Raimundo Nonato – PI,
28 de Janeiro de 2011.
GÊNEROS LITERÁRIOS DO ANTIGO
TESTAMENTO
GARY LIGHT
Mateus e Lucas nos preservam a história da tentação de Jesus.
Uma das tentações que Jesus enfrentou foi a tentação daquilo que é
espetacular: lançar-se do pináculo do templo. Como parte desta
tentação, o diabo tratou de convencer a Jesus citando o Salmo 91:
“Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em
todos os teus caminhos.” Não obstante, Jesus rejeitou a tentação: “Não
tentarás ao Senhor teu Deus”. Jesus reconheceu que a Escritura citada
por Satanás não era uma promessa dada ao Filho de Deus, mas que era
uma expressão poética da proteção de Deus dada para todos os crentes.
Não é uma garantia literal que o Messias, ou ainda o crente, não sofrerá
algum dano neste mundo. Jesus entendeu a importância de se saber o
gênero literário de uma passagem bíblica para compreendê-la e aplicá-
la à vida.
Igualmente, nos ajudará compreender os diversos tipos de
gêneros literários da Bíblia e reconhecer as formas literárias que contém
cada gênero. Este artigo apresentará uma introdução básica aos
Gêneros literários do Antigo Testamento (Antigo Testamento). Estudar-
se-á tanto a importância dos gêneros na história das formas como sua
importância nos novos métodos de interpretar o Antigo Testamento. Se
identificarão as características gerais de cada gênero, suas formas mais
usadas e os propósitos do uso de cada um. Assim o leitor estará mais
bem preparado para interpretar o texto do Antigo Testamento.

GÊNEROS LITERÁRIOS E A HISTÓRIA DAS


FORMAS
A formação da Bíblia hebraica tem uma longa história. A religião
de Israel não se iniciou com um livro escrito. Há muito tempo da
história de Israel suas tradições religiosas se encontraram em uma
forma oral e em conexão com as instituições ou celebrações específicas.
Logo foram escritas para serem preservadas, e assim, estabelecer
uniformidade nas tradições do povo e para formar uma grande obra
utilizando várias tradições que se aplicam ao tema.
A história das formas é o estudo do desenvolvimento das formas
literárias breves do Antigo Testamento. Tem como objetivo fixar cada
forma distinta em seu contexto sócio-histórico original. Assim se explica
melhor sua significação e esclarece a vida social e cultural de Israel. Os
gêneros literários do Antigo Testamento se dividem em seis classes
gerais de literatura: Poesia cultual, escritos legais, e as literaturas
históricas, proféticas, sapiencial e apocalíptica. Dentro de cada classe
se identificam vários gêneros específicos que se originaram em
situações distintas.
POESIA CULTUAL
A poesia cultual do Antigo Testamento se encontra
majoritariamente no livro de Salmos, porém não se limita a este livro.
Por exemplo, há poemas semelhantes em Lamentações, Jeremias,
Jonas, Isaías 40-66 e Jó. Estes textos mostram que o culto de Israel
tinha várias cerimônias que utilizaram linguagem poética para
expressar a comunhão entre o adorador e Deus. Algumas cerimônias se
fixaram em certos tempos do ano quando todo o povo celebrou um
evento histórico ou uma festa agrária. Outros ritos do culto mostraram
fases diferentes da vida humana: nascimento, circuncisão, matrimônio
e morte. Outros se observaram em momentos de crise do individuo
(enfermidades, dúvidas, etc.) ou da comunidade (seca, invasão, etc.)
Cada evento no culto tinha seus próprios gêneros poéticos. No
entanto, não temos uma liturgia completa do culto de Israel. O livro de
Salmos é mais um depósito de textos cultuais preservados para estudos
e devoções. Podemos encontrar Salmos que se originaram nos tempos
do segundo templo, outros que vieram da época anterior ao primeiro
templo e outros que são de datas intermediárias entre os dois. O livro
de Salmos mostra uma longa história em sua composição e sua coleção,
porém, em cada coleção aparecem todos os gêneros.
Em um estudo importante, Herman Gunkel identificou as formas
básicas da literatura poética. Segundo ele, todos os gêneros se
apresentam no culto do primeiro templo. No entanto, muitos destes
salmos se perderam com a destruição do primeiro templo. Escreveram
novos salmos durante o exílio para expressar a piedade e devoção
individual aparte de um culto. Logo com a construção do segundo
templo, os antigos salmos cultuais e os salmos não cultuais se uniram
com os novos salmos pra o novo culto. Outros eruditos, Sigmund
Mowinckel, crêem que o livro de Salmos preserva muitos salmos pré-
exílicos. Estes eruditos no separam a devoção individual e o culto do
primeiro templo. Crêem que os salmos que expressam a piedade
individual, igual aos que contém elementos proféticos, sempre têm
estado no culto de Israel. O exílio pode haver sido o impulso escrever, e
o livro de Salmos recebeu sua forma final como o “hinário” ou
“devocionário” do segundo tempo.
Lamentos e canções funerais
O lamento, qina, tem um metro poético único em hebraico: cada
línea contém cinco silabas com acentos. Este gênero se compõe de 1)
Expressões de pesar e dor que começa com Ai! Ou Como! (2 Samuel.
1.25,27;Jeremias 22.18); 2) descrições de uma catástrofe ( 2 Samuel
1.19); 3) lembranças do bem estar ou poder anteriores (2 Samuel
1.22,23); 4) lamentos chorosos ( 2 Samuel 1.24); e , as vezes, 5) súplicas
submissas (Lamentações 1.21,22). Ainda que todos os elementos não
apareçam em cada lamento, há suficientes lamentos para fixar sua
forma normal.
Os lamentos bíblicos mais conhecidos são 2 Samuel 1.19-27;
Amós 5.1-3; Ezequiel 19 e Lamentações. Erhard Gerstenberger sugere
que a forma do lamento tem sua influência em alguns salmos
(35;44;74), porém, o tom da perda total está ausente. Segundo ele, não
há lamentos autênticos no livro dos Salmos.
Queixas
Gerstenberger prefere nomear os textos como o Salmo 22 ou
Jeremias 20.7-13queixas em vez de lamentos. Esses poemas expressam
um súplica antes de que caírem a catástrofe final. Eles refletem a dor
que sofre o indivíduo e a esperança com que ainda pode dirigir-se para
Deus que ele responderá com liberação de doenças, inimigos ou outras
aflições pessoais. Toda a comunidade pode utilizar a queixa ante a
ameaça de seca, invasão, praga ou alguma maldade que sofre o povo
em geral (por exemplo, Salmos 25). Assim a comunidade consulta a
Deus pedindo sua ajuda e espera sua ação salvadora.
Os elementos deste Gênero são: 1) A invocação a Deus (Salmos
22.1a); 2) a queixa que descreve ou pede (Salmo 22.1b,2); 3) A confissão
de pecado ou protesto de inocência (Salmos 51.3-5; 59.3,4); 4) A
declaração de confiança (Salmos 22.4,5,9,10); 5) A súplica de ajuda
(Salmo 22.19,20); 6) A imprecação contra os inimigos (Salmos 59.5, 10-
13); 7) O reconhecimento da resposta divina (Salmo 22.21:dos chifres
dos búfalos; sim, tu me respondes.); 8) o voto (Salmos 22.22; 56.12); 9) A
benção ou elementos hínicos (Salmos 22.3; 57.11); 10) A
antecipação da ação de graças (Salmo 22.22-27).
Os elementos mais importantes deste gênero são a súplica e a
imprecação contra aos inimigos. Há vários eruditos que sugerem que o
Gêneros chama-se “orações de súblicas”. Contudo, Gerstenberg tem
razão em dizer que as súplicas deste textos “sempre tratam de mudar
uma situação de injustiça e miséria para uma melhor”. Por isso, o
nome queixa descreve bem o gênero. Entre as queixas do Saltério estão
os Salmos 3-7, 9-13,17,22,25-28, 35-36,54-57,59,69-71,120,130 e 140-
143.
Dentro do Saltério há alguns textos em que um elemento
da queixa domina todo o Salmo. “A confissão de pecado” domina o
Salmo 51 e o Salmo 26 se compõe do “protesto de inocência”. Há tantos
salmos que consistem da “declaração de confiança” que quase forma
um gênero próprio, Hinos de Confiança. Entre esta classe se encontram
os Salmos 23,4,11,16,62 e 131.
Hinos de Adoração
Os hinos de adoração celebram a Deus por várias causas: seu
papel como criador, seu senhorio sobre a história, sua superioridade de
poder e sua excelência em todas as coisas. Estes temas diversos
expressam-se mediante uma forma que mostra elementos comuns: 1)
Invocação a Deus (Salmo 8.1); 2) Chamado para adorar (Salmos 115.18;
117.1); 3) Louvores a Deus por suas qualidades, obras ou feitos (Salmos
115.1,15,16); 4) Bençãos ou desejos (Salmos 115.12-14).
Os hinos babilônicos usavam muitas vezes umas invocações
longas e artísticas para impressionar aos deuses a fim de que escutem.
É interessante que no Saltério muitos hinos não contém a invocação. As
invocações que aparecem são simples. A invocação do Salmo 18.1-3 é a
mais ostentosa dos Salmos, porém não é como os da Babilônia. A
maioria dos hinos no Saltério inicia-se com um chamado a adorar. É
possível que um coro ou o dirigente do culto o proclamou e as pessoas
da congregação participaram ao cantar os louvores. Talvez a melhor
maneira de compreender os chamados que ocorrem no final de um
salmo é que devem ser vistos como um sinal para que o povo continue
cantando mais outros hinos.
Estes hinos eram utilizados nas festas anuais de Israel. Dentro
destes próprios salmos se encontram detalhes da música e a liturgia.
Sua estrutura é de uma apresentação antífona. Neste gênero se incluem
os Salmos 8, 29, 33, 77, 103-104, 111, 139 e 145-150.
Cânticos de ações de graças
O indivíduo em Israel fez uma promessa a Deus que faria um
sacrifício se este o livrasse de seu problema ou aflição. Quando
recuperava sua saúde, ou quando se aproximava sua salvação, o crente
se dirigia até o sacerdote para pagar seu voto. O sofrimento ou o perigo
se deixava para trás mediante este culto de sacrifício. Por isso, o hino
de ações de graças se entoava com alegria e gratidão. Os elementos
deste Gênero são: 1) O convite para louvar a Deus e lhe render graças
(Salmos 66.1-4); 2) O relato de perigo e libertação (Salmo 41.4-9); 3)
Louvores a Deus (Salmos 138.4-5); 4) fórmula de ofertas apresentadas
em sacrifício (Salmos 138.1-2); 5) Bênçãos sobre os participantes no
culto (Salmo 32.1-2); e 6) Exortação (Salmo 32.8-9).
Nos Cânticos de Ações de Graças do indivíduo observa-se dois
tipos de discurso. Por um lado, existe um discurso dirigido a Deus, na
forma de oração. Por exemplo, a fórmula da oferta: Te dou graças ou
Dou graças se dirige a Deus no momento de oferecer o sacrifício de
ações de graças (Todah[1] ). Por outro lado, há um discurso dirigido aos
participantes no culto ou a outros que observam. Este discurso bendize,
explica e convida. Os dois tipos de discurso iluminam a natureza deste
tipo de cerimônia dentro do culto de Israel.
Este gênero se apresenta não somente pelos cânticos de um
indivíduo, mas também pelas Ações de Graças da comunidade que
celebram vitórias de Israel (Salmos 18; 66; 67; 118 e 129, igualmente
como Êxodo 15.1-9 e Juízes 5).
Salmos reais
No Saltério existe outro gênero que se distingue por sue conteúdo
em vez de sua forma. Desde o tempo do erudito Gunkel os salmos que
tocam os temas do rei e de sua corte se tem chamados de salmos reais.
Suas formas podem variam entre queixas, cânticos de ações de graças e
cânticos, porém celebra algo do rei: sua coroação (Salmos 2,110), seu
casamento (Salmo 45) ou a cidade real (Salmo 132).
Mowinckel acreditava que os salmos reais serviram primeiro ao
culto real de Israel. O culto popular e a maioria dos salmos atuais se
derivaram do culto real. Segundo Gerstenberg a situação foi oposta: O
culto antigo de Israel foi de famílias e clãs. Logo em seguida, com o
desenvolvimento dos governos de tribos, juízes e reis, o culto estatal
adotou os ritos populares com seus gêneros poéticos. Ainda que seja
verdade que ossalmos reais mostram uma influência de outras culturas
do Antigo Oriente Próximo, as formas reais mais antigas se derivam dos
ritos do povo.
Salmos de Sabedoria e de Lei
Há numerosos salmos que não se conformam com as
características dos gêneros mencionados anteriormente. Estes salmos
tem uma ênfase didática e empregam elementos da literatura
sapiencial: 1) Provérbios, 2) Ditos numéricos, 3) Perguntas e respostas,
4) Acrósticos, 5) Beatificações, 6) Admoestações e 7) Proibições. Utilizam
palavras chaves como "sabedoria" e "temor do SENHOR". Também
utilizam temas da literatura sapiencial: o destino do justo e do injusto,
e o problema do sofrimento do inocente. Estes salmos louvam a Lei
(Torah, "instrução divina") e chamam ao leitor a meditar nela.
Desde os tempos de Gunkel e Mowinckel se tem pensado que
estes salmos não tinham uma relação original com o culto de Israel. Ao
contrário, se crer que os salmos de sabedoria foram escritos para usos
educativos particulares. Este argumento se deduz, por exemplo, dos
salmos acrósticos. Não forma escritos para uso oral no culto porque seu
efeito se vê somente na forma escrita. Então, se diz, que trata-se de um
artifício educativo. No entanto, Gerstenberger adverte contra tal
conceito destes textos. Segundo ele, são poemas do exílio e refletem a
mudança no culto que provocou a nova situação do povo de Israel. Sem
templo e sacrifícios, espalhado pelo mundo, o povo de Israel manteve
sua fidelidade a Yahweh mediante o estudo da Palavra de Deus escrita.
Os salmos de sabedoria e de lei foram escritos para a instrução do povo
nas sinagogas para que se mantivesse a identidade judaica.
Gerstenberger os descreve como uma forma de conselho pastoral.
Os salmos de sabedoria e lei incluem os Salmos 1;19; 34; 37; 49; 73;78;
91;112;119 e 127.
Liturgias de procissão e entrada
Cinco dos salmos mostram um uso específico nos ritos de Israel.
Se recitam antes de ingressar ao átrio do templo para adorar (Salmo 15
e 24) ou são cantados em procissão litúrgica (Salmos 68, 118, 132).
Este gênero se destaca não somente por seu tema, mas também por seu
uso da forma antífona que sugere um tipo de diálogo entre o sacerdote e
os adoradores.
ESCRITOS LEGAIS
Os escritos legais do Antigo Testamento se encontram no
Pentateuco. Ainda que nos tempos mais tardios, Israel tinha que basear
qualquer modificação de suas leis na autoridade e nos ensinos de
Moisés. Na realidade, vários códigos legais se incorporam na narrativa
da história de Israel sob Moisés: 1) Os dez mandamentos (Êxodo 20.1-
17; Deuteronômio 5.6-21); 2 ) O código do pacto (Êxodo 20.22-23:19); 3)
Leis deuteronômicas (Deuteronômio 12-26); e 4) O código de santidade
(Levítico 17-24). Estas coleções de leis mostram os vários gêneros
dos escritos legais.
A maioria das leis foram escritas na forma casuística. Uma
lei casuística é uma que descreve um caso específico, o distingue dos
casos semelhantes e especifica as conseqüências (Êxodo 21.18-19). O
comentarista Patrick propõe uma divisão deste gênero. A lei casuística
primária é aquela que descreve uma relação legal entre pessoas e os
direitos e deveres na relação antes que ocorra alguma violação (Êxodo
22.25). Esta forma é mais pessoal que a lei casuística remediadora que
descreve uma violação de direito e seu remédio legal (Êxodo 22.5)
As leis casuísticas do Antigo Testamento, tanto na sua forma
como em seu conteúdo, tem muito em comum com as leis dos códigos
reais do Antigo Oriente, por exemplo o Código de Hamurabi. Alguns
sugerem que Israel adotou estas leis da cultura de Canaã. É melhor
reconhecer que os clãs de Israel compartilharam de um ambiente
cultural semelhante ao dos patriarcas e estas leis são partes desse
mundo sociológico.
Entre as leis do Antigo Testamento estão as da
forma apodítica, que afirma incondicional e categoricamente uma
asserção do bem e o mal. É uma lei absoluta que não depende de
condições ou casos. Este gênero se divide em três classes:
1)mandamento, que proíbe na forma absoluta sem especificar o castigo
pela desobediência (“Não furtarás”, Êxodo 20.15); 2) Leis de morte, que
afirmam que certas ações trazem a morte como conseqüência (“o que
maldisser a seu pai e a sua mãe morrerá irremediavelmente”, Êxodo
21.7); e 3) a maldição, que pronuncia uma maldição sobre a pessoa que
faz certa ação. Este juízo recebe o apoio do povo que
responde:Amém! (Deuteronômio 27.15-26)
Albrecht Alt foi quem primeiro fez a distinção entre leis casuísticas
e leis apodidícas, ele acreditava que as leis apodidícas eram
distintivamente israelitas. No entanto, hoje se reconhece que outras
culturas também tiveram leis absolutas que sãs paralelas com os
mandamentos. É discutível se as leis apodidícas tem sua origem na
autoridade do clã e da tribo ou na autoridade do culto. Pelo menos
Israel utilizou esta forma de instrução religiosa e moral conhecida no
Antigo Oriente para expressar a vontade de Deus.
Estas coleções de leis expressam como Israel deve viver sob a
vontade de Deus. Por isso, o conteúdo destas leis toca não somente a
vida religiosa, mas também a vida secular. Toda a vida é dedicada a
Yahweh, então não há distinções entre o sagrado e o secular. Também
estas coleções apresentam-se como uma parte integral de uma tradição
maior, o pacto entre Yahweh e Israel. Colocar os códigos legais na
estrutura do pacto acentua que a natureza dos escritos legais é
expressar a vontade de Deus de uma forma pessoal: Yahweh (ou seu
porta-voz) se dirige ao seu povo que o escuta.
LITERATURA HISTÓRICA
Muito do Antigo Testamento é narração da história de Israel desde
sua origem como família e clã até as épocas das tribos, monarquia,
cativeiro e restauração. A definição de “história” para o estudo literário
da Bíblia não é a da ciência moderna porque o propósito do Antigo
Testamento não é apresentar uma “exposição sistemática dos
acontecimentos” de Israel. Todos os livros da Lei (Torah) e os livros dos
profetas anteriores tem um propósito kerigmático, proclamar a palavra
de Deus mediante eventos seletivos, interpretados e ordenados da
história de Israel.
Encontram-se distintas formas na apresentação desta história. Os
autores, ou redatores das narrativas usaram muitas tradições, escritas
e orais, para relatar os atos de Deus na história de seu povo. Por sua
natureza, a narrativa histórica contém exemplos de discurso formal (2
Reis 18.17-35) e de uma carta ( 2 Reis 5.5-6). Também, se
preservaram listas em contar a história de Israel como a lista do saque
em números 31.32-40. As Genealogias (Gênesis 10.1-32)
e itinerários (Números 33.5-37) são tipos especiais de listas. As formas
de informes e etiologias preservaram tradições dos nascimentos (Gênesis
25.19-26), batalhas (Gênesis 14.1-24) ou a origem do nome de alguma
coisa, prática ou lugar (Gênesis 32.30-32).
Os nomes de outras formas que compõe a narrativa histórica do
Antigo Testamento podem ser mal compreendidos. Estes nomes se
originam no estudo da literatura folclórica da Alemanha. Deve-se
lembrar que estes termos descrevem uma forma literária e não fazem
juízo quanto ao valor histórico do conteúdo da forma. As narrativas de
Gênesis são descritas com o termo saga. A saga é uma larga narrativa
tradicional em prosa, que pode ser primitiva (Gênesis 1-11), familiar
(Gênesis 12-26) ou heróica (Êxodo 2-14). A própria saga se compõe de
uma coleção de outros tipos de relatos mais breves. Uma tradição
histórica pode preservar-se na forma de uma lenda. Vale salientar que a
palavra lenda não questiona nada do valor histórico da tradição. É um
termo que descreve um relato cuja narrativa põe ênfase em uma
característica de herói, especialmente uma de suas virtudes. Distingue-
se da fábula, que narra um relato que inclui figuras humanas e
animais. É típico da fábula ensinar uma moral ou corrigir o egoísmo de
uma pessoa (Números 22.31-35). Não existem mitos no Antigo
Testamento porque o mito se define como uma narrativa fantástica que
explica o mundo humano pelas atividades dos deuses no mundo
celestial. O Antigo Testamento não conhece nenhum Deus fora do Deus
vivo e verdadeiro, Yahweh. As vezes um escritor pode utilizar uns temas
de mitos ou aludir a eles em sua descrição de um evento ou de uma
pessoa histórica, porém não devemos dizer que há mitos no Antigo
Testamento.
Estes elementos das sagas refletem uma transmissão oral até, e
inclusive, a formação de uma longa narrativa. Do outro lado a novela
é uma narrativa complexa que se originou como um relato escrito.
Muitas vezes inclui com sua história principal várias histórias
subordinadas (Gênesis 37.1-47:27, Rute e Ester).
LITERATURA PROFÉTICA
Os livros proféticos se compõem de uma coleção de oráculos dos
profetas e, normalmente, relatos da vida dos mesmos. As tradições dos
profetas anteriores se preservaram na forma narrativa e se encontram
na obra do historiador. Nesta seção se considerarão as obras dos
profetas posteriores. Muitas variedade na composição destes livros:
podem se formar em uma ordem cronológica (Ezequiel) ou sem ordem
cronológica (Jeremias); podem formar-se dos oráculos do profeta
exclusivamente (Sofonia) ou de uma narrativa que não tem mais que
cinco palavras da pregação profética (Jonas).
As narrativas dos livros proféticos se expressam na terceira
pessoa ou na primeira. Preservam a vocação ou chamamento do profeta
(Isaías 6; Jeremias 1), visões (Amós 8.1; Ezequiel 37) ou ações-sinais
(Isaías 7.3; Oséias 1.2-9; Jeremias 27). Também há váriosinformes do
conflito que narram um encontro hostil entre o profeta e a autoridade
cultual ou real (Jeremias 26.1-19; Amós 7.10-17).
Não obstante, os gêneros proféticos mais importantes são os que
preservam o discurso dos profetas. A pregação dos profetas aparece de
modo geral em uma forma poética. Há um número de sermões em prosa
no livro de Jeremias que tem causado muita discussão entre os
eruditos. É melhor entendê-los com uma imitação dos sermões
deuteronomísticos pelo profeta. No entanto, os discursos poéticos
formam a maior parte das palavras proféticas e variam na origem e no
gênero.
Muito do discurso profético parece ter sua origem em um
ambiente legal ou cultual. O pleito do pacto[2] é uma forma comum nos
profetas. É um litígio contra o povo de Deus que contém um chamado a
testemunhas, declaração de um pleito, um exposição dos pesos contra
o povo e um anúncio do castigo que corresponde com os pesos
(Oséias4.1-3). A provisão para arrepender-se compõe-se de um chamado
de atenção e uma declaração de motivação. O chamado consiste
na fórmula do mensageiro(“Assim diz Yahweh”), e o vocativo (“oh
apóstata Israel”) e a admoestação. A declaração inclui uma promessa,
uma acusação e uma ameaça (Jeremias 3.12, 13). O profeta
soa[3] como juiz em Israel quando pronuncia um discurso de juízo. Não
obstante, suas palavras não são as de um juiz humano, são as do juiz
divino. Este gênero inclui o peso e o juízo (Amós 7.16-17). Outro Gênero
profético é o oráculo de salvação que anuncia um evento futuro
(“naquele dia”) sem explicação de mérito do que Deus fará por seu povo
(Oséias 2.18-23). Supõe-se que este gênero é uma adaptação do
discurso litúrgico do sacerdote que responde a uma lamentação do
indivíduo. Os profetas também adotaram hinos do culto em sua
mensagem (Amós 4.13; 5.8,9; 9.5,6). Em outras ocasiões fizeram
paródias do chamado à adoração do sacerdote (Oséias 4.15b; Amós
4.4,5).
É fato que os profetas adotaram e adaptaram formas de discurso
de muitas áreas da vida, não só as jurídicas e cultuais. O uso
de parábolas e alegorias pelos profetas sugere uma influência
de sabedoria nos profetas. Assim também o uso de provérbios (Jeremias
23.28) e ditos numéricos (Amós 1. 3-2:8) demonstra um conhecimento
dasabedoria das tribos. O profeta pode imitar os cantos de amor (Isaías
5.1-2) ou umlamento (Amós 5.2,3). Talvez este último seja a origem
dos oráculos de Ai(Amós 6.1).
É importante notar que os profetas utilizaram e adaptaram um
grande número de Gêneros para pregar sua mensagem. Os profetas
bíblicos não tinham um púlpito em um templo ou uma congregação que
lhes ouvia semanalmente. Tinham que proclamar nas praças, nos
mercados ou na entrada da cidade. Para que se escutassem sua
mensagem tinham que utilizar as formas de um litígio ou uma canção
para chamar a atenção da multidão. A variedade de gêneros proféticos é
um testemunho para a grande variedade de situações nas quais
pregaram os profetas.[4]
LITERATURA SAPIENCIAL
A Bíblia contém uma classe de literatura que se distingue por sua
ocupação do tema da sabedoria (Hokmah). Esta classe exibe temas e
gêneros característicos, porém não podemos designar todos os textos
que utilizam os gêneros como literatura sapiencial. É possível encontra
uma parábola na literatura profética (Ezequiel 15) ou uma fábula
na literatura histórica (Juízes 9.8-15), porém, Ezequiel não é um sábio e
nem o livro de Juízes é um exemplo de literatura sapiencial. As
tradições sapienciais da Bíblia consistem em Provérbios, Jó e
Eclesiastes.
Disputa-se a origem das tradições sapienciais de Israel. Vários
provérbios e admoestações bíblicas sugerem que o lar servia como
primeiro centro de instrução; a sabedoria se iniciou como uma função
das famílias ou clãs. As responsabilidades de instruções se
compartilhavam ente o Pai e a mãe (Provérbios 6.20) e não prestar
atenção resultaria em castigo (Provérbio 13.24). Que a sabedoria tem
uma origem popular se vê nas semelhanças que comparam várias tribos
com animais (Gênesis 49.8,9,14 e 17), No entanto, alguns provérbios se
entendem melhor como produtos da corte (Provérbios 16.12-15). Por
isso, sugere-se que a sabedoria de Israel tem sua origem em uma escola
da corte para instruir aos príncipes. Não é estranho chama ao mestre
“pai” e há suficientes modelos de tais escolas no Antigo Oriente como no
Egito e Mesopotâmia.
As duas teorias não são mutuamente exclusivas. O lar tem de ser
um lugar de instrução, especialmente dos jovens. Este tipo de instrução
utilizou ditos memoráveis por séculos na em uma forma oral. Logo,
com estabelecimento de escolas na corte, se colecionaram os aforismos,
provérbios e ditos populares juntamente com a sabedoria de outras
culturas (compare Provérbios 22.17-24:22 com a sabedoria de
Amenemope). Este processo de coleção se iniciou no reino de Salomão,
porém, durou por séculos (Veja Provérbios 25.1;30.1; 24.23). Por fim,
no tempo do cativeiro formou-se uma escola de escribas religiosos que
preservou a sabedoria “secular” da corte porque era uma expressão da
sabedoria de Deus e a estimou como torah, “instrução”, igual como a
Lei. Esta escola que deu a Jó, Provérbios e Eclesiastes sua forma
canônica.
Na literatura sapiencial encontra-se uma quantidade de formas. O
aforismo,mashal, pode distinguir-se entre: 1) O Provébio, que é um
aforismo popular baseado na experiência e na observação (Provérbio
11.24; 2) o dito sábio, que é um dito didático que infunde um valor ou
uma lição (Provérbio 16.20); e 3) o dito numérico, que é um aforismo
caracterizado por uma forma numérica que consiste em um título e
uma lista (Provérbios 30.18,19). Não é necessário que o dito sábio seja
bem conhecido pelo povo. O mestre pode formar um exemplo para
ensinar uma lição específica. A sabedoria usa
também admoestações (Provérbios 16.3), mandatos (Provérbios 8.33)
e proibições(provérbios 22.24,25). Segundo Provérbios 1.6 os sábios
usaram enigmas para instruir, porém o único exemplo completo no
Antigo Testamento se encontra em Juízes 4.10-18.
Também, os sábios empregaram formas mais extensas em suas
instruções. Usa-se a alegoria, um conto cujos detalhes representam
outras coisas na interpretação (Provérbio 5.15-23). Existe o conto
exemplar que é um relato concreto para ilustrar um ponto de ensino
(Provérbios 7.6-23). A narrativa autobiográfica, seja confissão ou reflexão
pessoal, compartilha a experiência rica do sábio com o aluno
(Eclesiástes 1.12-2:26). Finalmente, os sábios ainda utilizam hinos para
descrever a sabedoria. Se personificou a sabedoria e o hino louva esta
personificação (Jó 28)]
LITERATURA APOCALÍPTICA
Friedrich Lücke reconheceu a literatura apocalíptica como uma
classe distinta no século XIX. No entanto, pouco se tem feito para
analisar as formas do gênero. As causas desta carência inclui o uso
múltiplo do termo apocalíptico para descrever elementos sociológicos e
filosóficos tanto como literários e o fato que o gênero apocalíptico usa
muitas formas literárias que se encontram na literatura profética. Na
realidade muitos querem classificar a literatura apocalíptica como uma
classe de literatura profética. No entanto, parece melhor reconhecer que
a diversidade de formas componentes e as semelhanças delas com
outros gêneros não escondem a consistência que a literatura
apocalíptica tem em si.
A literatura apocalíptica é um gênero de literatura que narra a
revelação de uma realidade transcendente por parte de um ser
sobrenatural. Esta realidade tem aspectos temporais e especiais, a
saber, que tem a ver com uma salvação final na história (escatologia)e
um novo mundo sobrenatural. Há duas divisões neste gênero:
umapocalipse com viagem ao outro mundo e um apocalipse histórico que
não inclui uma viagem ao mundo sobrenatural. Exemplos de livros
apocalípticos judaicos do primeiro subgênero são 1 Enoque 1-36; 2
Enoque e 3 Baruque. Os livros canônicos (Apocalipse do Novo
Testamento e Daniel do Antigo Testamento) são exemplos do
subgêneroapocalíptico histórico. A função deste gênero literário é prover
uma visão do mundo que consola a comunidade de fé em tempos de
crise e opressão. Sua revelação da vontade de Deus e sua última vitória
apóiam as pessoas a manter-se fiel sob a autoridade divina que é maior
que a autoridade opressiva que se lhes opõem.
A forma mais comum da literatura apocalíptica é a visão (ou sonho)
simbólica(Daniel 7-8). Esta narrativa se compõe de uma indicação das
circunstâncias, uma descrição da visão ou sonho, uma petição por uma
interpretação (muitas vezes uma oração e se faz por medo), a
interpretação alegórica por um anjo (porém em 2 Baruque 39 é o
próprio Deus quem interpreta) e uma conclusão que conta a reação do
vidente ou inclui mais instruções do anjo.
A epifania(Daniel 10.1-9) também é uma narração de uma visão.
Contudo, esta visão é menos compreensiva que a visão simbólica e
consiste em uma revelação da vontade divina por parte de uma anjo
sem elementos visuais. Relacionada com esta forma é o diálogo
revelador. É uma conversação entre o recipiente e um ser celestial que
revela (um anjo ou o próprio Deus). Este diálogo pode ocorrer em uma
visão ou independente dela.
Daniel é o único livro apocalíptico no Antigo Testamento com sua
visão do fim decisivo da história. Há outras obras proféticas que tem
um interesse escatológico, contudo se mantém firmemente dentro da
história deste mundo. Por isso, Isaías 24-27, 55-66 e Zacarias 9-14
podem ser descritos como literatura proto-apocaliptica. Zacarias 1-8 e
Ezequiel também são protoapocalipticos quanto ao seu simbolismo,
visões e uso de um anjo como intérprete. O desenvolvimento completo
do gênero apocalíptico estava no período inter-testamentário como O
testamento de Levi, Apocalipse de Sofonias,Apocalipse de Abraão e
Similitudes de Enoque, entre outros. Este Gênero se usava não somente
no Novo Testamento (Apocalipse), mas também na criação de livros
apocalípticos dos gnósticos.
OS GÊNEROS E OS NOVOS MÉTODOS DE
INTERPRETAÇÃO
Não é suficiente simplesmente identificar os gêneros ou as formas
do Antigo Testamento e buscar a situação na qual o povo vivia (Sitz im
Leben) na qual se originou cada forma. Estas tradições se formavam
com formas orais e escritas. Originalmente elas se preservaram por
diferentes grupos em Israel, uma independente da outra. No entanto,
agora não existem mais como formas isoladas, mas como elementos
integrados no contexto de um livro (e no contexto mais amplo do Antigo
Testamento como uma totalidade). Por isso, é imperativo estudar os
textos do Antigo Testamento em sua forma final; estudá-los como
escritura e como literatura.
O estudo da história das formas trata de penetrar por detrás do
texto bíblico para reconstruir a situação sócio-histórica de cada texto.
A crítica canônica não usa o texto como uma fonte de um significado
que está detrás do texto, mas reconhece que o significado do texto
bíblico para comunidade da fé tem raízes no próprio texto. Enfoca-se no
que o texto diz ao crente. Para descobrir o que o texto diz, o leitor deve
apreciar não somente o processo da composição literária do texto, mas
também deve considerar como a comunidade da fé o tem compreendido
em cada geração.
As comunidades de fé que aceitam o Antigo Testamento como
escritura (a Comunidade judaica e a cristã) tem adotado textos
completos, não somente partes de textos. Tem adotado estes textos
durante as mudanças em suas situações históricas. Por exemplo, as leis
cerimoniais de sacrifícios no livro de Levítico não tinham o mesmo
significado para o Israel pré-exílico como o que tinha para os judeus da
diáspora ou o que tinha para os primeiros cristãos. A crítica
canônica, então, reconhece que o texto sagrado pode ter uma
pluralidade de significado dentro de uma comunidade de fé.
O estudo da Bíblia como literatura é a inda mais amplo porque
uma interpretação autêntica do texto não depende que o intérprete seja
membro da comunidade da fé. O texto bíblico analisa-se com obra
literária com uma ênfase nas estratégicas artísticas do texto. Os libros
da Bíblia são obras literárias em si mesmas. As tradições que se
preservam nestas obras agora perdem sua independência e se desligam
de seu Sitz im Leben social. Formam parte de um texto que cria seu
próprio “mundo”. É trabalho do intérprete apreciar este “mundo do
texto” e realizar claras conexões entre este mundo e o mundo do leitor.
Os métodos da nova crítica literária se centralizam no texto como
uma totalidade. É importante ler a obra como novela ou poesia ou ainda
como obra didática. Busca-se não somente o gênero de uma seção da
obra, mas também se quer identificar o gênero da obra completa que
causa a coesão de todas as partes em formar algo maior que
simplesmente a soma das partes, que é o texto. Outros métodos
literários se centralizam no leitor como quem produz o significado da
obra. Nestas teorias da resposta do leitor[5]o significado se encontra na
interpretação entre o texto e o leitor. Todavia, para chega a uma
interpretação autêntica, o leitor tem de reconhecer a coerência da obra
total, as saber tem que reconhecer o gênero que oferece à obra sua
unidade.
O estudo dos Gêneros do Antigo Testamento se iniciou na
tentativa de identificarmicro-gêneros, formas breves e reconstruir a
situação sócio-histórica de sua origem. No entanto, esta identificação de
um evento por detrás do texto como nós o temos não é o fim da
interpretação Bíblica. Há também a necessidade de reconhecer o gênero
da obra completa, o macro-gênero, apreciar sua arte literária no uso de
formas, micro-gêneros, e descobrir os significados para a comunidade da
fé que existem, na conexão entre o “mundo do texto” e o mundo da
comunidade. Dominar os gêneros do Antigo Testamento nos ajudará a
entender o significado do texto da Bíblia, a Palavra de Deus.
[1] Nota do Tradutor: No hebraico a palavra é hd"_At
[2] NOTA DO TRADUTOR: Literalmente é o Caso da aliança ou Caso do pacto.
[3] NOTA DO TRADUTOR: Fala
[4] NOTA DO TRADUTOR: Para um entendimento mais claro dos gêneros literários
apresentados nesta seção veja a minha monografia: FRANÇA, João Ricardo Ferreira de. A
Relevância do Antigo Testamento para a Pregação Contemporânea. Recife: Seminário
Presbiteriano do Norte, 2009, p.48-71 – Obra não publicada.
[5] NOTA DO TRADUTOR: Para um estudo mais apurado deste método recomendamos o
leitor à leitura do excelente artigo de PATROCÍNIO, Jorge. Validade na Interpretação Bíblica: A
interação Cíclica de Autor, Texto e Intérprete – Uma Resposta Reformada para uma
Hermenêutica Pós-Moderna in: FIDES REFORMATA XI, nº2 (2006): p. 101-119.
PREGAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO: O ANTIGO
TESTAMENTO NA HISTÓRIA KERYGMÁTICA DA IGREJA.

Fonte: http://hermeneuticareformada.blogspot.com.br/search?updated-min=2012-01-
01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=1

O ANTIGO TESTAMENTO NA HISTÓRIA KERYGMÁTICA DA


IGREJA.
João Ricardo Ferreira de França.*
RESUMO:
O presente trabalho visa apresentar, de forma lacônica, a temática do uso do Antigo
Testamento na pregação da igreja de hoje. Este estudo se faz necessário visto que em nossos
dias a pregação veterotestamentária não tem encontrado espaço no púlpito de nossos dias, e
por vezes, quando se faz presente assume um caráter alegórico que não condiz com a
realidade da revelação. Na presente avaliação vislumbramos a temática do Antigo Testamento
no kerigma da igreja desde o Novo Testamento até os dias atuais. Focalizando o uso que é
feito do texto veterotestametário ao longo dos séculos, revelando assim, que a história da
Igreja e da Pregação sempre valorizou o Antigo Testamento como suficiente para comunicar a
mensagem redentiva aos homens.
PALAVRAS-CHAVES: Antigo Testamento; Pregação. Kerigma.

INTRODUÇÃO:
Dentro de nossa discussão sobre esta temática torna-se necessário uma
caminhada histórica para compreendermos a problemática concernente ao texto do Antigo
Testamento. Na verdade precisamos entender como a Igreja ao longo de sua história usou o
Antigo Testamento no que concerne ao púlpito e à defesa do Evangelho.
Quando nos inclinamos para uma análise do Antigo Testamento como elemento textual
para a prédica é percebido que os primeiros cristãos “nos mostram o quanto o Antigo
Testamento foi largamente citado, seja por questões doutrinárias ou por questões
apologéticas.”[1].
Esta crença está refletida através da história da Igreja que não pode ser negligenciada
ou esquecida quando tratamos de um assunto de suma importância; é nosso dever olharmos
para a história do cristianismo e contemplar o que a Igreja ensinava sobre o Antigo
Testamento.
A história da Igreja é uma testemunha singular da importância e da relevância do Antigo
Testamento para a pregação da Igreja cristã. Sem a pregação da Palavra, tendo por base e
fundamento o Antigo Testamento, não haveria Igreja verdadeiramente cristã.
1 A Igreja no Novo Testamento e o Texto Veterotestamentário.

No Novo Testamento nós percebemos uma visão muito nítida das Escrituras
veterotestamentárias. Isto pode ser notado quando Cristo usa as Escrituras do Antigo
Testamento para fundamentar algum argumento que levantara; era notória a expressão de
Cristo “Está escrito.” esta palavra no grego descreve a crença na infalibilidade de todo o Antigo
Testamento, e não apenas isto, mas o termo de também descreve a normatividade do texto
veterotestamentário para a vida da Igreja.
O termo grego empregado é o verbo “ge,graptai” que ocorre no Novo Testamento 67 vezes
isto nos indica algo que era de “uso tão comum” e “indiscutível a autoridade que, no seu
conflito mais vibrante, Jesus não precisou de outra arma além da palavra: “Está Escrito!”(Mt.
4.4,7; Lc. 4.4,8; 24.26). Isto leva a uma consideração de que “recebemos o Velho Testamento
baseados na autoridade de Cristo”[2]. Este verbo encontra-se no modo indicativo, indicando a
certeza de fato; ou seja, aquela autoridade conferida ao texto do Antigo Testamento
permanece inalterada. Gerhard Kittel explica que o NT ao fazer uso deste verbo “não denota
meramente o apelo à Lei Grega para a autoridade inexpugnável da Lei,
mas também a solidez do argumento do que está escrito igualmente para Israel no
absoluto sentido religioso e também no judicial”[3]
Isto implica que a concepção de Cristo sobre o Antigo Testamento era que esta parte das
Escrituras é Palavra infalível de Deus destinada para a edificação dos crentes em Cristo.
Sendo assim, é suficiente e eficaz para suprir as necessidades do púlpito contemporâneo.
No evangelho de Marcos esta mesma expressão iniciando a sua narração da vida de
Cristo (Mc.1.2). Mas, surge-nos uma pergunta: “está escrito” em que local? Em qual registro? A
resposta é no Antigo Testamento. O registro veterotestamentário assume o status de “pedra de
toque” de qualquer doutrina ou controvérsia de natureza religiosa. É bom que se diga que

Há 32 referências diretas e indiretas ao AT em Marcos, desde citações para provar que o que
estava acontecendo era cumprimento profético (1.2, 11; 4.11, 12; 9. 12; 12. 10-12; 14.21, 24,
49, etc.) como citações apenas histórica ou apologética (2. 23-28; 7. 6, 10; 10. 2-
12, 19; 12. 18 – 27; 13. 14; 14. 12, etc). Em cada um dos quatro evangelhos a intenção
ao evocar “está escrito” é a mesma.[4]

Na visão de Cristo o Antigo Testamento não deveria ser tirado de foco, pois, tudo o que o texto
veterotestamentário anunciava estava se cumprindo no Filho de Deus de forma singular, ou
como coloca Philip Yancey quando diz que o
Antigo Testamento era a Bíblia que Jesus lia. O Senhor achou no Antigo Testamento cada fato
importante sobre si mesmo e sua missão. Citava suas páginas para resolver controvérsias com
os oponentes, como os fariseus, saduceus e o próprio Satanás. As figuras – cordeiro de Deus,
pastor, sinal de Jonas, a pedra que os construtores rejeitaram – que Jesus usou para definir a
sim mesmo vinha diretamente das páginas do Antigo Testamento (...). Quando lemos o Antigo
Testamento, estamos lendo a Bíblia que Jesus lia e usava. Trata-se das orações que
Jesus fazia, dos poemas que memorizava, dos cânticos que entoava, das histórias de ninar
que ouvia quando criança, das profecias sobre as quais refletia. E reverenciava cada ‘jota ou
[...] til ’ da Bíblia hebraica. Quanto mais entendermos o Antigo Testamento, mais
entenderemos Jesus.[5]
Esta é a perspectiva pela qual o Antigo Testamento deve ser avaliado. O Antigo
Testamento precisa ser mais compreendido para enxergarmos a Cristo. Sem o Antigo
Testamento as nossas pregações figuram apenas como casas sem alicerces que irão ruir em
breve, pois, as paredes de nossas palavras lúdicas irão revelar as gritantes rachaduras que
encontra-se em nossa teologia, isso porque não tem alicerce para sustentar-se.
A luz que almejamos não vem de nosso tempo, mas do texto antigo é por isso
devemos estar atentos as palavras de A.G.Hebert: “De fato, não existe possibilidade de
elucidar quem Jesus foi, e qual foi o significado
de Sua pregação e tudo mencionado sobre Sua morte e ressurreição, e qual foi a
verdadeira condição da comunidade cristã, separado do Antigo Testamento (1947, p. 200).”[6]
Diante disso podemos dizer que o que “se pode perceber que a autoridade do AT
exposta por Cristo Jesus estava baseada, embora de forma incipiente , na doutrina da
inspiração. Ao citar o Salmo Jesus disse: “o próprio Davi disse pelo Espírito Santo”(Mc 12.
36).”[7]
Um exemplo basilar é o de João 10.35 “E a Escritura não pode falhar” Boettner nos
informa que
É absolutamente evidente que Jesus considerava o Velho Testamento como plenamente
inspirado. Ele cita-o como tal e baseou nele o Seu ensino. Uma das Suas afirmações mais
claras a este respeito, encontra-se em João 10.35, onde, numa controvérsia como os judeus, a
Sua defesa toma a forma de apelo às Escrituras e, depois de citar uma declaração, Ele
acrescenta as significativas palavras: “E a Escritura não pode ser anulada”[...] E a palavra que
se traduz por “anulada” é a que se usava para a transgressão do Sábado, ou da Lei e que
significa negar, ou resistir a autoridade.[8]

No texto grego nós temos a palavra “luqh/nai” (lythênai) é um verbo no infinitivo


aoristo e o sentido é de quebrar, colocar de lado, abolir, destituir de poder. O que Jesus está
ensinando a respeito do Antigo Testamento? Está nos dizendo que o Antigo Pacto é inspirado
e infalível; em toda e qualquer questão que a ele se apela para se resolver qualquer
controvérsia. (Veja-se a Confissão de Fé de Westminster, Capítulo 1 Seção 8.)
Mas a Igreja atual parece desconhecer o Antigo Testamento e as implicações
das declarações de Cristo neste texto. Yancey nos alerta para uma triste realidade:

Estamos precisando hoje de uma experiência inversa à do caminho de Emaús. Os discípulos


conheciam Moisés e os Profetas, mas não conseguiam imaginar em que se relacionavam com
Jesus, o Cristo. A igreja de nossos dias conhece Jesus, o Cristo, mas está rapidamente
perdendo todo o contato com Moisés e os Profetas.[9]
Os apóstolos também nos apresentam uma visão muito coerente do Antigo
Testamento. É digno de nota que o “Cristianismo primitivo aceitou sem problema a autoridade
e valor das Escrituras do Antigo Testamento em suas experiências religiosas”. [10]
Mateus foi um dos que mais usou o Antigo Testamento para fundamentar todo o seu
ensino sobre o reino messiânico apresentado e inaugurado por Cristo Jesus, o uso de literatura
hebraica e construções singulares da língua hebraica são marcantes neste Evangelho ele tem
um “impulso natural para o paralelismo hebraico”.[11] Nós podemos contemplar isso de forma
muito clara neste Evangelho (Mt 1. 1 – 17; cf. Gn 5. 1; 10. 1; 11. 10; ICr 1. 29, etc).
Marcos continua dentro desta perspectiva de apresentar o fato de que o Antigo
Testamento encontra sua concretização escatológica e profética na Pessoa de Cristo. É bom
que se tenha em mente que
Marcos principia seu relato com uma declaração teológica: “Princípio do Evangelho
de Jesus Cristo, Filho de Deus”(Mc 1. 1) e em seguida evoca duas citações: uma de
Malaquias 3. 1 e outra de Is 40. 3. Ambas as passagens são identificadas com a miss
ão de
João Batista que, para Marcos, não era um simples acontecimento, como fica demonstr
ado pelo advérbio Kaqw.j (Kathos) (conforme – Mc 1. 2 - ARA).[12]
O evangelista Lucas também citou o Antigo Testamento para fundamentar suas exposições
teológicas, e assim, vemos que os apóstolos usavam o Antigo Testamento como fonte
autoritativa, mas também como a principal fonte de exposição teológica. O sermão de Pedro,
em Atos 2, aponta para a realidade de que o Antigo Testamento era o texto fundamental para a
pregação dos primeiros cristãos. O sermão de Estevão (em Atos 7 a 8.1) aponta para o
conhecimento e o uso do Antigo Testamento de forma singular. No uso do texto de Joel para
se explicar o evento de Pentecostes. Fica notório que a Igreja estava ali valorizando o Antigo
Testamento como autoritativo na vida da Igreja.
O apóstolo João é um dos evangelistas que mais cita o Pacto Antigo; pois, ao abrirmos a
primeira página já o temos exposto diante de nós.

A importância das Escrituras Antigas para João pode ser vista desde o prólogo onde João
apresenta o início do ministério de Jesus não no nascimento virginal, mas “no princípio...” (Jo
1. 1; cf. Gn 1.1). “No princípio” indicaria o Lógos (O Verbo) como a Palavra criadora de Deus
(cf. Prov. 8. 22). Mas Tasker afirma que não apenas no prólogo, mas também nos festivais
judaicos e em particular na sua apresentação da história da paixão (1963, p. 54). Em cada
uma destas apresentações a forma mais indicativa do uso veterotestamentário por João está
em sua relação tipológico-temático, isto é, os temas do Antigo Testamento são tipos e temas
que se cumprem em Jesus Cristo e os “eventos crísticos” em sua época eram “para que se
cumprisse as Escrituras” (Jo 19. 36).[13]
Na construção da Teologia Paulina percebemos a importância fundamental do Antigo
Testamento; pois, não existe uma epístola de Paulo (com exceção da epístola escrita a
Filemon) na qual o argumento fundamental não esteja atrelado, inserido e baseado no Antigo
Testamento, os discursos ou pregações do apóstolo são fundamentadas no Texto Hebraico
(sabemos que em algumas cartas ele usou a Septuaginta) de forma gritante.
A carta de Paulo aos Romanos tem uma gama de citações do Antigo Testamento que
corrobora para a compreensão de que o apóstolo sustentava a validade do Antigo Testamento
na vida da Igreja Cristã. Isto não era por causa de influências judaizantes na mente Paulina,
como alguns tencionam argumentar, mas por pura crença de que aquele documento antigo era
de fato a Palavra infalível de Deus, e assim, digna de ocupar o púlpito da Igreja Cristã.
No capítulo primeiro de Romanos, Paulo discute sobre a justiça divina manifestada
pelo evangelho, mas para fundamentar a sua tese, no versículo 17, insere o conceito
instrumental de fé para a manifestação desta justiça redentiva do evangelho: “o justo viverá
pela fé”. A questão é: De onde Paulo extraiu tal conceito? A resposta está no Antigo
Testamento, pois, o apóstolo usa o texto de Habacuque 2.4 – “Eis que a sua alma está
orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.”. Esta doutrina não foi fundada nos
conceitos de Paulo, mas estava sendo confirmada pelo uso que o apóstolo faz do Antigo
Testamento, pois, a “citação de Habacuque 2.4 tem o propósito de confirmar a verdade
utilizando o Antigo Testamento”.[14]
Na argumentação Paulina a respeito do uso do Antigo Testamento uma verdade fica
evidente para nós; é que “o apóstolo estava tão convicto [..] das grandes verdades do
evangelho que necessitava utilizar uma passagem do Antigo Testamento em apoio à sua
afirmativa”.[15]
No entendimento Paulino as Escrituras do Antigo Testamento era o fundamento para a
sua teologia e pregação. Não havia outro texto disponível para ele elaborar suas prédicas com
autoridade absoluta e singular. Isto é confirmado por causa de sua “formação farisaica onde
aprendeu o valor do AT e é isto que, segundo Herman Ridderbos (2004, p. 33, 52 – 54) e
Leonhard Goppelt (2002, p. 302 – 310), faz do AT o fundamento do kerygma Paulino.”[16]
No restante da revelação neotestamentária temos de fato grandes passagens citadas
do Antigo Testamento, as cartas gerais são um belo exemplo de tamanha verdade; a carta aos
Hebreus é o Antigo Testamento sendo exposto e aplicado a luz de Cristo para a nova realidade
e à substância da aliança de Deus; este princípio deveria permear a nossa pregação de hoje,
pois se os cristãos primitivos tiveram grande zelo pelo o Antigo Testamento, quem somos nós
para rejeitarmos a Palavra de Deus em nossos púlpitos?
Uma objeção levantada seria que eles não tinham o Novo Testamento, e que agora
nós já temos a revelação do Novo Pacto. A dificuldade com este argumento é o fato de que
esta segunda parte das Escrituras é a continuação do Antigo Testamento; então, negligenciar
este princípio seria solapar a revelação de Deus. Isso significa que não posso negligenciar a
primeira parte das Escrituras, pois, é o fundamento para tudo que vem posteriormente.
2. A Igreja Patrística e a sua relação com o Antigo Testamento.
Dentro do processo histórico precisamos avaliar como os escritores posteriores aos
apóstolos encararam o Antigo Testamento. Isto se torna importante porque pode nos mostrar o
processo pelo qual o Antigo Testamento foi apresentado à Igreja.
Os Pais da Igreja são considerados “os grandes teólogos da Igreja
Antiga,[17] eram as testemunhas autorizadas da tradição eclesiástica. São,
portanto, “os autores dos primeiros séculos cristãos universalmente invocados
como testemunhas diretas ou indiretas da doutrina cristã ou da vida da igreja
nessa época (séc. II a V a.C.)”[18]
Então, a Igreja deve usar a tradição apostólica para avaliar se algo deve ser visto como
sendo uma determinada prática que sempre esteve presente ou não na vida da Igreja, em
nosso caso, especificamente, buscar a confirmação da utilização do Antigo Testamento na
pregação de sua época. Alguém poderia perguntar: Por que estudar os Pais da Igreja sobre
esta questão? Pelo menos três razões são basilares para nós: “1) Por serem mais próximos da
tradição apostólica; 2) Porque os pais nos ajudam a entendermos as nossas raízes teológicas;
3) Os Pais foram, antes de tudo, pastores e, como tais escreveram e viveram.”[19] Esta é
concepção correta na qual devemos nos aproximar dos Pais Apostólicos. A Igreja estava
entrando em uma nova esfera, e ainda assim, precisava manter-se firme, pois agora novas
ideias estavam surgindo dentro da comunidade cristã. E uma destas concepções afetava
efetivamente o entendimento sobre o lugar do Antigo Testamento dentro da Igreja Cristã.
Havia lugar para o Antigo Testamento dentro da Igreja que manifesta-se dentro da
Nova Aliança de Deus? O primeiro ataque frontal ao texto antigo veio do Gnosticismo. Este foi
o primeiro ataque que levou a Igreja defender-se. Isto porque surgia dentro do Cristianismo
pós-apostólico, o problema de admitir ou rejeitar a “herança veterotestamentária”. [20]
A nova proposta era que o Antigo Testamento não pertencia a Igreja Cristã. Esta foi a
grande guerra estabelecida na comunidade pós-apostólica. Os gnósticos e os judaizantes
tentavam sufocar a Igreja Cristã; os primeiros com a negação absoluta do Antigo Testamento e
os segundos com a valorização cerimonial do Antigo à Comunidade Cristã. Então, a prática dos
Pais passou a ser de profunda apologia ao texto Antigo, e assim, nasce a avaliação exegética
dentro da Igreja pós-apostólica, isto porque
A afirmação irrenunciável da unidade dos dois testamentos tornou-se assim o ato do
nascimento da exegese cristã propriamente dita. A defesa desta mesma unidade, na
multiplicidade das táticas exegéticas, estará também na origem da diversificação dos métodos,
no interior de uma essencial unidade de fundo, na exegese cristã antiga ( GARGANO, 2000, p.
172 ).

Havia um real conflito se deveria ou não receber e aceitar o Antigo Testamento dentro
do Cânon da Igreja, por outro lado, havia a questão da defesa dos falsos ensinos a respeito de
Cristo e de sua obra; como resolver estas questões? Como encarar este problema? A Igreja da
época patrística ofereceu uma resposta para estas questões.
Clemente de Roma (AD 100) ele chegou a desenvolver uma concepção um pouco
reservada a respeito do Antigo Testamento. Mas em sua Carta aos Coríntios ele “invoca
constantemente os exemplos e as virtudes do Antigo Testamento” [21].
Ainda existem gritantes exemplos de que Clemente apelou para o Antigo Testamento
em diversos momentos, inclusive quando seguia a interpretação alegórica, ele diz “desta forma,
tornavam claro que o sangue do Senhor
resgataria todos aqueles que acreditam e esperam em Deus.
Vede, caríssimos, que nessa mulher havia não só a fé , mas também a profecia”[22]
O segundo Pai da Igreja que nos chama atenção pelo uso do texto veterotestamentário
é Justino, o Mártir. Ele viveu entre 100-165 d.C. é considerado um dos primeiros apologetas
Cristãos, e graças a ele os cristãos “continuaram a usar o Antigo Testamento”[23]
Este Pai da Igreja nos informa como se procedia à reunião Litúrgica em sua época,
nesta organização de liturgia figurava um lugar para a leitura do Antigo Testamento, a qual era
chamada de “escritos dos profetas”, ele diz:
E no dia Chamado Domingo, todos quantos moram nas cidades ou no interior reúnem-se
juntos num só lugar, e são lidas as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, por
tanto tempo quanto Possível; depois, tendo terminado o leitor, o presidente instrui verbalmente,
e exorta à imitação dessas coisas virtuosa s[...][24] (Apud, STOTT, 2003, p.19 – ênfase nossa)
A compreensão que os pais tinham a respeito do Antigo Testamento nos inclina a
pensar que eles usaram o Antigo Pacto de forma positiva. Isto nos leva a uma reflexão que é
preciosa: o valor dado ao Antigo Testamento na comunidade patrística nos lembra que todo o
desígnio de Deus deve ser exposto com verdade, e com cautela, todavia, sem timidez.
O outro líder espiritual deste período que nos chama a atenção é Irineu de Leão, sendo
um grande defensor da fé, nos leva a pensar que de fato os pais “usavam o Antigo Testamento
para defender sua fé e como uma fonte para seu ensino [...]”; Irineu figura entre os que usaram
as Escrituras para defender a fé. Ele fora discípulo de Policarpo, este por sua vez, discípulo de
João o apóstolo de Cristo. Qual fora a tarefa deste pai da Igreja?
A tarefa de Irineu foi de demonstrar e desenvolver as relações entre o AT e o NT (BARRERA,
1995, p. 629). Sua mais famosa obra
é conhecida como Adversus Haeresis (Contra Heresias) e considerada uma ‘exposição
convincente, simples e persuasiva da doutrina da Igreja, além de ser a única fonte atual para o
conhecimento dos sistemas gnósticos e a teologia da Igreja dos Padres, do final do século II’
(FRAGIOTTI, 1995, p. 10). O Livro IV desta obra é dedicado a explanação da ‘Continuidade
entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento’.[25]
O grande problema sentido pelos pregadores contemporâneos é a não percepção da
unidade do Antigo Testamento com a revelação neotestamentária. Esta questão não gerou
dificuldades ou crise de consciência entre os pais apostólicos. Os pais ao usarem este texto
antigo estavam reafirmando a autoridade do Antigo Testamento para resolver qualquer
controvérsia religiosa, mas também estavam mostrando o quanto eram atuais – para a sua
época – o texto do Antigo Testamento.
3. O Antigo Testamento no período da Reforma Protestante.
O que veio a ser a Reforma Protestante? Há diversas respostas de grandes
historiadores. Cairns nos indica que várias formas de se definir a Reforma protestante. Isto
porque, o “nome e o sentido dados à Reforma são parcialmente condicionados pela visão do
historiador”, isto quer dizer, que os pressupostos dos historiadores nortearão o que venha a ser
a Reforma Protestante. É bom que se diga que o “historiador protestante considera-a
(Reforma) como uma reforma que fez a vida religiosa voltar aos padrões do Novo Testamento
[...]”, isto nos indica que
Não é fácil aclarar o sentido do termo “Reforma”. Se for considerada apenas como um
movimento religioso de criação de igrejas nacionais, seu período de duração vai de 1517
a 1648. Como, porém na Holanda só aderiu o protestantismo depois do Concílio de Trento,
parece mais correto circunscrever a parte mais importante da Reforma aos anos de 1517
a1545.[26]

Embora esta observação do Cairns seja de fato verdadeira, ela não reproduz com
propriedade o que tenha sido o movimento da Reforma Protestante. A manifestação da
Reforma só pode ser realmente entendida sob duas avaliações: 1) uma intervenção divina na
história (avivamento); 2) Um retorno às Escrituras.
A Reforma só foi possível devido a um movimento que libertou a Igreja de Roma – a
valorização do indivíduo. Pois,
O Humanismo, com sua volta ad fontes, foi um dos fatores para o estudo das Escrituras em
sua língua original. Duas contribuições foram importantes para isso: primeiro, a elaboração de
manuais das línguas clássicas (Hebraico, Grego e Latim), como por exemplo, a obraRudimenta
Linguae Hebraicae (1506) do hebraísta João Reuchlin; segundo, a impressão dos textos
bíblicos nas línguas originais, como por exemplo, Os Salmos de Lefèvre d’Etaples
(1509), a Poliglota Complutense do Cardeal Ximenes (1514 – 17), a Bíblia Rabínica de
Daniel Bomberg (1516 – 17) e Segunda Bíblia Rabínica de Jacob ben Hayyim(1524 – 25)[27]
O humanismo adicionado com o movimento do retorno às fontes liberou o homem e,
isto o levou até a Bíblia Sagrada. Isto viabilizou a exposição Bíblica com um todo. A doutrina
imperiosa deste período é o Sola Scriptura(somente as Escrituras) esta convicção gerou
maturidade no púlpito da Igreja, que, desde então, se libertara de Roma. Esta concepção da
suficiência das Escrituras foi aditada pelo princípio “Escritura interpreta Escritura” – então, não
temos apenas uma Bíblia que seja suficiente, mas também temos uma Bíblia que nos diz como
ela mesma deve ser interpretada. A interpretação canônica das Escrituras possibilitou aos
reformadores a expor a Bíblia com muita clareza.
O grande Reformador Martinho Lutero sustentava o Antigo Testamento como sendo
Palavra de Deus; isto é, ele não é uma porção inferior ao Novo Testamento, ele [Lutero]
mesmo diz que encontra no A.T no N.T o próprio evangelho de Deus se encontra revelado
Portanto, palavra do evangelho e Escritura, evangelho e NT, lei e AT não são
idênticos para Lutero; o AT abrange, antes, lei e evangelho. Mas também o NT ainda
deve ser lido segundo o critério lei e evangelho, e nem tudo que está escrito nele
é puro evangelho [...] A distinção dialética entre lei e evangelho é uma questão
de princípio e é fundamental, a distinção entre Antigo e Novo Testamento como partes
do cânone não o é. Em primeiro lugar, a diferença entre os testamentos é apenas
de grau: o AT contém mais lei , o NT, mais evangelho. Em segundo lugar,
a diferença é de caráter temporal: segundo a opinião de Lutero, o evangelho é promul
gado no AT como promessas e profecia, no NT, porém, se anuncia o cumprimento.[28]
Este entendimento mostra-nos como o Antigo Testamento é importante para Lutero e para a
sua teologia da unidade do Cânon.
Todavia, a exemplificação deste tema não fica somente aos pés de Lutero, mas é devidamente
representada pelo grande João Calvino, este tinha uma profunda veneração, se assim
podemos dizer, pelo Antigo Testamento. Era um hábil expositor do Antigo Testamento. E como
ele fazia tal abordagem do Antigo Testamento? É bom que se diga que “Calvino foi um
pregador mestre numa época em que o púlpito era o principal meio de comunicação para uma
cultura inteira[29]”.[30] O reformador de Genebra, “seguindo o padrão que Zuínglio instituíra
em Zurique, Calvino em geral pregava continuamente através dos livros da Bíblia. Seu método
era pregar sobre o Novo Testamento aos domingos e sobre o Antigo Testamento nos dias
úteis.”[31].
Nas suas exposições ele situava o texto dentro do seu contexto histórico, e alguns tem
sustentando que Calvino fora um judaizante disfarçado de cristão, mas tal acusação ignora que
o que o reformador genebrino estava seguindo era um método seguro para interpretação do
texto, um exemplo clássico deste zelo expositivo é Ageu 2.7:
Isto permite duas explanações: a primeira é que todas as nações virão e trarão consigo todas
as coisas que são preciosas, a fim de consagrar ao serviço de Deus, pois o hebreu chama o
que quer que seja de um desejo valioso; assim, o que incluem sob este termo
eles incluem toda riquezas, honras, satisfação e todas as coisas deste
tipo [...] elas viriam com o que eles desejavam, isto é, as nações não viriam [de
mãos] vazias, mas recolheriam todos os seus tesouros para um sacrifício santo a Deus
[...] Mas nós podemos entender que ele diz de Cristo, ‘virá o desejado de todas
as nações, e encherei esta casa de glória’ Nós realmente sabemos que Cristo foi a
expectação de todo mundo, conforme o que é dito em Isaías. E isto pode ser
corretamente dito, que quando o desejado de todas as nações virá, isto é, quando
Cristo fosse manifestado, em quem os desejos de todos deveriam centralizar, a glória
do Segundo Tempo então seria reconhecida; mas conforme imediatamente sucede, ‘min
ha é a prata, e meu é o ouro’, o significado mais simples é aquele que eu primeiro e
xpressei – que as nações viriam, trariam consigo todas as suas riquezas, que
eles poderiam ofertar a si mesmo e suas possessões como um sacrifício a Deus. É, então,
melhor ler o que segue como uma explicação, ‘minha é a prata, meu é o ouro, disse o
Senhor’[32]

Esta postura não é de nenhum judaizante, mas de alguém que se preocupa com a precisão da
exposição bíblica. Esta posição do reformador sumariza o que ele pensa sobre o dever do
Pastor. Calvino lembra que o que se requer não é que “... uma pessoa seja eminente no
conhecimento profundo...” mas que este conhecimento seja acompanhado do talento para
ensinar, que seja sábio no uso correto das Escrituras para a edificação do seu rebanho.[33]
O uso correto nas Escrituras exige que o Antigo Testamento seja lido e entendido dentro de
seu contexto histórico.
Calvino tinha um entendimento de que há unidade singular entre o Antigo e o Novo
Testamento. “A compreensão acima coloca Calvino como o maior intérprete das Escrituras,
abordando o AT e o NT como um só livro, compreendendo o valor do AT em si mesmo,
bem como em sua relação com o NT. Sua abordagem é histórica e pneumático-
cristólogica.”.[34] Diante disso, podemos dizer que Calvino foi “de fato o exegeta por
excelência da Reforma”.[35]. Este epíteto é aplicado a Calvino devido ao seu grande zelo e
reverência para com toda a totalidade das Escrituras, ele mesmo diz:
As Escrituras dissipam a trevas da nossa mente tornando claras as noções confusas da
divindade e dando-nos uma visão clara de Deus. E é um favor singular que Deus na instrução
da Igreja usa não apenas mestres, mas abre também a sua boca sagrada[...] não somente
ensina aos seus eleitos a elevar os olhos para a divindade, mas também se manifesta como
objeto desta contemplação; devemos, pois, aprender das Escrituras o que Deus revelou aos
patriarcas [...] É fora de dúvida que a esses patriarcas Deus se revelou numa persuasão, de
modo que estavam convencidos de que a revelação que receberam veio de Deus. Para que os
oráculos dos profetas servissem de instruções a todas as eras, Deus ordenou que fossem
guardados e, assim, também a lei promulgada fosse reunida e os profetas fossem os seus
intérpretes”[36]
Calvino pode de fato fazer suas exposições no texto do Antigo Testamento porque tinha essa
grande reverência pelas Escrituras, não somente isso, mas também porque reconhecia os
livros veteretestamentários dignos para a Igreja de Deus. “Na polêmica que manteve com
Sebastião de Castélio, em que este negava a canonicidade de Cântico dos Cânticos”, Calvino
continua sustentando que o texto é Palavra de Deus e digno de aceitação para a Igreja. [37]
Então, o Antigo Testamento não era para Calvino um apêndice para as suas
exposições, mas pelo contrário era de fato a palavra infalível de Deus, pois, Deus se descortina
por meio deste texto aos pecadores oferecendo a graça.
Como Calvino avalia seu trabalho de expositor bíblico? Esta questão poderia deixar
muitos arrogantes e orgulhosos se tivessem feito a metade do que Calvino fez, mas ele mesmo
nos ensina uma lição de humildade – característica essencial daqueles que se submetem à
Palavra de Deus – sob os seguintes termos:
A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso do
modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem
conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre
estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio de alguém, mas sempre coloquei
fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus[38]
Calvino, ao decidir expor o Antigo Testamento, não o fazia para entreter o povo ou ser
ovacionado, mas para fielmente ser um ministro da Palavra de Deus; como expositor bíblico
era insuperável, a ponto de o seu opositor Jacob Armínio dizer: “Eu exorto aos estudantes que,
depois das Sagradas Escrituras, leiam os comentários de Calvino, pois eu lhes digo que ele é
incomparável na interpretação da Escritura”[39]
Calvino usa o Antigo Testamento de forma consciente, isto é, percebido quando ele
demonstra o aspecto redentivo de Deus tanto no período veterotestamentário como no
neotestamentário; pois, ele diz que “a
vocação dos gentios é um admirável sinal ela qual se ver claramente a excelência do
Novo Testamento sobre o Antigo”. Tal promessa “foi anunciada em numerosos e evidentes
oráculos dos profetas”[40]
Como Calvino foi capaz de produzir tanto no que tange ao seu entendimento do texto
do Antigo Testamento? Talvez a resposta esteja no fato de seu treinamento e perícia nas
línguas bíblicas: Calvino sempre estava “recorrendo a seu excelente conhecimento de grego e
hebraico e a seu profundo treinamento na filosofia humanista [...] é bom que se diga que: “Os
comentários de Calvino e seus sermões-conferências sobre o Antigo Testamento preenchem
45 volumes na tradução Inglesa do século XIX.”; o trabalho de expositor de Calvino tem raízes
fincadas na exegese, pois, todo o seu trabalho “é marcado pela modéstia. “Seu objetivo era
penetrar na mente do autor tão concisa e claramente quanto possível, evitando demonstrações
profusas de erudição e digressões em assuntos secundários.” [41]
Isto significa que Calvino tinha todas as explicações para cada passagem que lia das
Escrituras? A resposta é negativa, pois, ele mesmo reconhece sua debilidade em explicar tudo,
tal verdade pode ser percebido quando ele está expondo Atos 1, no que se refere a Segunda
vinda de Cristo, Calvino diz: “É melhor deixar intocado o que eu não consigo explicar”. [42]
Este exemplo é um consolo para os expositores das Sagradas Letras, pois, não propomos
neste trabalho que o expositor do Antigo Testamento tenha a obrigação de explicar todo texto,
mas que eles tem de pregar todo o “conselho de Deus” e reconhecendo suas limitações quanto
a esta laboriosa tarefa. Assim como fez o mestre de Genebra devemos fazer, isto é, sermos
expositores do texto sagrado sem distorcê-lo, mas reconhecendo nossas limitações para
compreender alguns destes textos.

4. O Antigo Testamento na Pós-Reforma.

No século XIX o Antigo Testamento foi solapado de diversas formas. Muitos eruditos
começaram a questionar a validade do Antigo Testamento. Alguém já disse que é:
Muito difícil descobrir com precisão quando apareceu a primeira crítica hostil contra a Bíblia.
Naturalmente, todo pecado é uma crítica contra a Bíblia, é uma manifestação do desejo de ser
mais sábio que tudo o que Deus ordenou. Porém, o primeiro descontentamento consciente
para com o Antigo Testamento provavelmente apareceu na cidade egípcia de Alexandria [...]
Clemente de Alexandria cita um tal de Aristóbulo, um peripatético, que ensinava que a filosofia
judia era mais que a grega e que Platão havia obtido suas ideias da Lei mosaica [...] depois
menciona-se um tal de Dositeo, o samaritano que rejeitou os profetas apoiando-se na crença
de que eles não haviam falado sob a inspiração do Espírito Santo [...] No Indiculus de
Haeresibus, menciona-se um grupo chamado Meristae, dos quais se diz que dividam as
Escrituras e não acreditavam em todos os profetas[43]

Mas é no século XIX que surge o Criticismo Bíblico com várias hipóteses, mas a predominante
destas é a teoria dos “vários documentos” conhecida como Hipótese Documentária. A proposta
desta teoria valia-se de que havia vários autores para o documento – o Pentateuco em primeiro
plano – negava-se a autoria de Moisés dos cinco primeiros livros da Bíblia.

Esta foi a forma como a Alta Crítica começou com Jean Astruc ( ca. 1750). Astruc estudou
cuidadosamente o livro de Gênesis e observou que os nomes de Deus eram usados em
contextos determinados, tais como: Elohim em Gn. 1:1-2:4; Javé Elohim ou Gn. 2:5 - 3:24)
eJavé em Gn. 4:1-16. Não somente os nomes, mas também outros fatores como: repetições de
histórias, semelhança de temas, etc, deram, a base para Astruc postular duas fontes que
teriam sido usadas por Moisés, para compilar o livro de Gênesis. Astruc não defendeu nem
negou a autoria de Moisés. Essa questão não era importante para ele. Ele nos deu a primeira
divisão crítica do Pentateuco, sob a sigla JE. J representando o material Javista, isto é, o que
tinha o nome de Javé, reiteradamente; e, E representando o Eloísta, isto é, o material que
trazia o nome Elohim.[44]
A pergunta que se levantada é ao que tudo isso conduziu os eruditos bíblicos? O
professor Humberto Gomes de Freitas nos indica que tal posicionamento levou tais homens
para um caminho sem volta:
A combinação da Crítica das Fontes com a Critica Histórica levou à posição dominante da
Hipótese Documentária, plenamente desenvolvida por Julius Wellhausen, 1878. Depois de
refinar as teorias anteriores podemos resumir a posição final de Wellhausen como segue:
1. A fé dos hebreus se desenvolveu da religião tribal (animismo) para monoteísmo, como
resultado da atividade profética.
2. O Pentateuco é uma coleção de escritos que cobre vários séculos. Cada fonte pode ser, a
grosso modo, datada pelo critério do desenvolvimento das idéias teológicas contidas nelas:
J = IX século
E = VIII Século
D = VII Século (c.a. 621 - reforma de Josias)
P = V Século
3. A legislação “mosaica” é um produto do judaísmo pós-cativeiro.
As fontes revelam o desenvolvimento teológico. Por exemplo, o javista (J) apresenta Deus se
revelando pessoalmente aos patriarcas. O eloísta (E) retira Deus do mundo do homem, cujo
contato é feito através de anjos e sonhos. O Sacerdotal (P) tem um estilo característico, é
preciso nos detalhes do culto, minucioso em matéria de rituais. O Deuteronomista (D) é rico em
linguagem pactual.[45]
E, assim, o Antigo Testamento ficou mutilado para uma avaliação hermenêutica como
também para uma contemplação homilética.
A alta Crítica desdobrou-se em problemas confusos e, assim, uma avaliação do texto
sagrado ficou em algo que chamamos de suspensão hermenêutica e homilética. Pois os seus
pressupostos nortearam os eruditos pelo caminho equivocado.
Que pressupostos foram esses? O principal deles é o Anti-Sobrenaturalismo, pois, o
eruditos da Alta crítica rejeitavam tudo o que fosse sobrenatural. Então, eles tentavam retirar
da Bíblia todo sentido que fosse miraculoso. Não há milagres na Bíblia, então, relatos
significativos para a fé da Igreja não são verdadeiros, tais como o dilúvio, a travessia do Mar
Vermelho.
Pode-se, segundo Hague, atribuir o surgimento do movimento moderno da Alta Crítica a
Spinoza (1632-1677), filósofo racionalista, judeu de Amsterdã (HAGUE, 2002). Em seu
Tratactus Teologico-Politicus, “defende a liberdade de pensamento e o direito de criticar
livremente a Bíblia” (MESSER, 196-? p.259). Ali ele ousadamente combate a data aceita do
Pentateuco, atribuído a Moisés, e atribui a origem a Esdras ou algum outro escritor posterior
(HAGUE, 2002), alegando a diferença pronominal entre a 3.ª pessoa (ele) e a 1.ª pessoa (eu),
bem como o registro da morte de Moisés em Deuteronômio 34 (ARCHER, 2000, p. 465). Nas
palavras de Hague (2002): “Spinoza foi realmente o mentor do movimento”[46].
Mas tal teoria mostrou-se inconsistente e foi totalmente rejeitada pelos eruditos
conservadores, e hoje é plenamente descartada. Por que ela foi rejeitada? Porque todos os
críticos antes de Wellhausen e
Keunen, ou seja, todos até Karl H. Graf, aceitavam que o documento javista (J) era m
ais
recente que o Eloísta (E), mas Wellhausen acreditava que o javista era mais velho que
o Eloísta[47] (ARCHER, 2000, p. 476). Quem está certo?
O próprio sistema de datação das fontes que compunha a hipótese documentária era falho e
contraditório, isso gerou um profundo descrédito para com a teoria. Outra questão é que tais
eruditos, quando se basearam, na questão de nomes distintos nos relato da criação, ignoraram
a questão do estilo literário dos autores. Archer nos diz algo interessante sobre isso:
A
capacidade de empregar mais do que um nome para Deus; mais do que um só estilo
de escrita (...); mais do que um entre vários sinônimos da mesma idéia; mais do que
um tema típico ou círculo de interesse. Segundo esta teoria, um autor único como Rui

Barbosa não poderia ter escrito pesquisa literárias, como Ensaio sobre Swift, reportagen
s vivas e cintilantes da atualidade da época, como em Cartas da Inglaterra, e ainda a
grande obra de polemica religiosa, que é sua versão de ‘O Papa e o Concílio’.[48]

E qual o resultado desta busca acadêmica dos eruditos da Alta Crítica? O professor
Humberto mais uma vez nos dá uma centelha do que isso resultou para a vida da Igreja:
A exploração dos assuntos controversos e polêmicos levou a duas posições definidas: o gosto
pelo academismo teológico, pelo tratamento exaustivo a problemas insolúveis, exemplificado
nos volumes que foram publicados sobre quaisquer dos temas acima, como pura
demonstração de erudição; e o abandono do VT para enfatizar a pregação simples do
Evangelho. A idéia era pregar missões e não confusões. Resultou na posição de preferência
pelo NT confirmando, dentro da Igreja, o neo-marcionismo refinado. Não a rejeição frontal mas,
o não uso deliberado[49].
CONCLUSÃO:
Ainda neste afamado século XIX nos deparamos com o chamado Dispensacionalismo,
que será discutido com maiores detalhes em um futuro artigo sobre esta temática, onde a
rejeição do Antigo Testamento para a vida da Igreja se torna notório pelo alto índice de
publicações desta vertente hermenêutica; o Dispensacionalismo sustenta uma distinção ímpar
entre o Antigo e o Novo Testamento, o primeiro sendo aplicado apenas aos judeus, e o
segundo é seguramente da Igreja.
Nas Igrejas onde esta visão é sustentada a pregação veterotestamentária nunca se
aplica a Igreja, e quando há uma pregação no escopo revelacional do Antigo Testamento a
mensagem é ilustrativa, alegórica ou moralista. Não existe um aspecto redentivo ou um
conceito soteriológico fundamentado na graça de Deus. Isto porque a graça é um fenômeno
apenas do Novo Testamento. Esta abordagem impossibilita de haver uma pregação no texto
do Antigo Testamento para a vida da Igreja.
O não-uso deliberado do Antigo Testamento – como indicou o professor Humberto –
tem gerado um Cristianismo sem a Lei de Deus. Esta é a realidade que enfrentamos. Ou seja,
presenciamos uma total desvalorização do Antigo Testamento onde o Dispensacionalismo
Clássico é sustentado.
* O autor é formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN); Está pós-
graduando em Ciências da História da Religião com ênfase em docência do Ensino Superior
pela Faculdade Evangélica do Piauí. Atualmente pastoreia a Igreja Presbiteriana em São
Raimundo Nonato – PI.
[1] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada p.
19
[2] BOETTNER, Loirine. A Autoridade da Escritura. Portugal: Vida Nova, p.23-24 – sem data.
[3] KITTEL, Gehard(ed), Theological Dictionary of the New Testament: Grand Rapids:
Eerdmans Publishing Company, vol. I, 1980, p. 745.
[4] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada p.
20.
[5] YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus Lia. São Paulo: Editora Vida, 2000, p. 24,25.
[6] Apud, SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada,
p.21
[7] Idem
[8] BOETTNER, Loirine. A Autoridade da Escritura. Portugal: Vida Nova, p.22 – sem data
[9][9] YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus Lia. São Paulo: Editora Vida, 2000, p. 25-26.
[10] DANA, H. E. Jesus’s Use of the Old Testament. In THE BIBLICAL REVIEW. vol. XVI (Jul.
1932), n. 3, p.227.
[11] ROBERTSON,
A. T. A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical
Research.Nashville Broadman Press, 1934, p.119.
[12] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada,
p.31
[13] Ibid, p.34
[14] MURRAY, John. Romanos, São Paulo: FIEL, 2003, p.62
[15] Idem.
[16] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja
Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.
36.
[17] BENOIT, André, A Atualidade dos Pais da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966, p.36
[18] Idem
[19] HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Viçosa: Ultimato, 2000,
p.56.
[20] BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e A Bíblia Cristã – Introdução à História da
Bíblia. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 1996,p.630.
[21] FRANGIOTTI, Roque in.: COLEÇÃO PATRÍSTICA. Padres Apostólicos. São Paulo:
Paulus, 2.ª ed., 1995, p.625.
[22] CLEMENTE ROMANO. Clemente aos Coríntios in: COLEÇÃO PATRÍSTICA: Padres
Apostólicos. São Paulo: Paulus, 2.ª ed., 1995, p. 32
[23] BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e A Bíblia Cristã – Introdução à História da
Bíblia. Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 1996,p.46
[24] STOTT, John. Eu Creio na Pregação, Tradutor: Gordon Chown, São Paulo: Vida, 2003
[25] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja Contemporânea.
Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.49.
[26] CARINS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã,
Tradução: Israel Belo Azevedo e Valdemar Kraker, São Paulo: Vida Nova, 2008, p.250-251.
[27] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja Contemporânea.
Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.74.
[28] GUNNEWEG, Antonius H. Hermenêutica do Antigo Testamento. São Leopoldo – RS: Ed.
Sinodal, 2003, p.50
[29] Esta declaração nos lembra as palavras simples, mas significativas de Herman Melville: “O
púlpito conduz o mundo”, pois, é dali que a tempestade da Ira de Deus é avistada [...]; É apartir
dali que o Deus das brisas é [...] primeiramente invocado [...] Sim, o mundo é um navio na sua
viagem de partida, que não a viagem completa; e o púlpito é a sua proa (Apud, STTOT, 2001,
p.36.)
[30]GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994,
p.187.
[31] Idem
[32] CALVINO, John. Commentary on the prophet Haggai. Albany, Orlando: Ages, 1998, p.42.
[33] CALVINO, João. As Pastorais, Tradutor: Valter Graciliano Martins, São Paulo: Parakletos,
1998, p.87
[34] SMITH, Ralph L. Apud, SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a
Igreja Contemporânea. Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não
publicada, p.79
[35] COSTA, Herminsten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras –
Uma Perspectiva Reformada, São Paulo: Cultura Cristã,1998, p.123
[36] FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. São Paulo: Luz Para o
Caminho, 1985, p. 251.
[37] Ibid, p.253
[38] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994,
p.245-246.
[39] HUNTER, A.M.The Teaching of Calvin, Londres: James Clarke, 1950, p.20
[40] Ibid,p.339.
[41] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994,
p.187.
[42] Idem
[43] YOUNG, Edward J. Una Introduccion al Antiguo Testamento. Jenison – MI: TELL, 1991, p.
109-110
[44] FREITAS, Humberto. A eclosão da Alta Crítica. In.: SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO
NORTE, Recife: 2001, p.2
[45] Idem
[46] SOUZA, Gaspar de. A Relevância do Antigo Testamento para a Igreja Contemporânea.
Recife: Seminário Presbiteriano do Norte, 2006. Monografia não publicada, p.58
[47] ARCHER, Gleason. Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Ed. Vida Nova,
2000, p.476.
[48] Ibid, p. 493-494
[49] FREITAS, Humberto. A eclosão da Alta Crítica. In: SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO
NORTE, Recife: 2001 p.2

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