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Minimanual de Monografia Jurídica

Daniel Rodrigues Aurélio

2008
—  Minimanual de Monografia Jurídica  — Daniel Rodrigues Aurélio — Editora Rideel

Sumário

Como elaborar uma monografia jurídica................................................... 3


O projeto de pesquisa....................................................................................... 5
A monografia e o papel do orientador.............................................................. 6

O texto acadêmico-científico............................................................................ 8
Diga não aos adjetivos desnecessários!........................................................... 10

Metodologia de pesquisa................................................................................. 12
A escolha do tema.......................................................................................... 12
A definição do recorte temático...................................................................... 12
As fontes de pesquisa...................................................................................... 14
A importância do fichamento......................................................................... 14

A Norma da ABNT para a produção de monografias............................... 16


Estrutura e organização dos capítulos............................................................. 16
Formatação de textos, gráficos e tabelas......................................................... 26
Citações e referências bibliográficas............................................................... 26
Edição e impressão da cópia final................................................................... 28

A defesa pública da monografia.................................................................... 30


Três dicas para finalizar.................................................................................. 31

Bibliografia recomendada............................................................................... 32
Tabela de expressões em latim........................................................................ 33


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Como elaborar uma monografia jurídica


Daniel Rodrigues Aurélio

Passar noites na companhia de livros, códigos e anotações. Gastar as pernas entre


fóruns, comarcas, tribunais e mergulhar o cérebro num oceano de petições, arquivos,
processos e despachos próprios da burocracia jurídica. Reler textos densos nas
raríssimas horas de “descanso”. Provas atrás de provas. Depois desse suadouro digno
de maratonista olímpico, encontrar tempo e tranqüilidade suficientes para investigar e
analisar doutrinas, jurisprudências, fontes históricas. E, ao final, submeter o resultado
escrito da pesquisa a uma banca implacável de professores e juristas experimentados.
Ufa! Bem-vindo ao rito de passagem universitário. Bem-vindo ao universo do estudante
de Direito. Toda essa “rotina de formação” parece desgastante e confusa. No entanto,
existe uma lógica que a sistematiza. É sério. Essa experiência intensa é dividida em
partes que se complementam. Duvida? São três as etapas que separam o graduando
do sonhado título de bacharel em Direito:  a avaliação nas disciplinas regulares
do curso; o estágio em órgãos públicos, centros de pesquisa, ONGs e escritórios
de advocacia; e a apresentação da monografia acadêmica, intitulada Trabalho de
Conclusão de Curso, vulgo TCC. O popular e temido TCC. Cada uma dessas avaliações
busca reforçar um aspecto na formação do graduando. Proferidas por professores das
diversas ramificações do Direito, as exposições e seminários disciplinares oferecem
ao estudante uma concepção geral sobre a filosofia, a história, a ética e a prática das
ciências jurídicas. As provas aferem o conhecimento adquirido pelos alunos. É nesse
percurso quadrienal que são amadurecidas as escolhas individuais para especialização.
Já o ingresso no estágio, seja ele obrigatório ou facultativo, remunerado ou não,
coloca o estudante/estagiário diante de situações reais do dia-a-dia dos escritórios
de advocacia e demais órgãos públicos e privados. Trata-se da junção da sala de aula
com os ambientes de fóruns e ministérios públicos, da reflexão acerca da natureza das
leis com a sua execução cotidiana, da equação entre a tendência sociológica com as
particularidades dos acontecimentos. Da sobriedade dos trajes aos rituais de sessão
em plenário, estagiar descortina um mundo novo para o estudante, que conhece de
perto estilos de atuação, a aplicabilidade das leis e a rotina às vezes maçante às vezes
palpitante do ofício. Até aqui tudo se justifica. O “entender” e o “fazer” caminham
juntos. Todavia, eis que surge uma terceira avaliação para provocar discórdias, angústia,
estresse, esses males do século XXI: a monografia. Ora... Nunca o surrado ditado “fazer


Bacharel em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e
pós-graduado em Globalização e Cultura pela mesma instituição. Redator profissional desde 2001. Autor de
onze livros e do artigo Como fazer uma monografia, publicado pela Editora Rideel em 2007.

A quarta etapa é o tradicional Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No entanto, como se sabe,
esta avaliação não influi na titulação acadêmica em si, mas na autorização para exercer a função regulariza-
da e profissional de advogado.

O estudante universitário é um ser múltiplo. Aqui, ele será chamado de “graduando”, “estagiário”, “orientan-
do”, “monografista” e até, veja só, de “aluno”.


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tempestade em copo d’água” foi tão válido quanto nesse ponto da vida acadêmica. O
pânico e o ceticismo em relação ao TCC não se sustentam. Qualquer aluno que tenha
cursado com um mínimo de interesse as matérias e disponha-se a pesquisar as bases
históricas e teóricas das legislações é capaz de desenvolver um trabalho consistente e
fundamentado. Esforço sempre há. Dedicação é princípio. A capacidade de conhecer,
mensurar e interpretar não nasce de geração espontânea, mas a recompensa pelo êxito
nessa labuta é generosa – e nos vários sentidos atribuídos às palavras “recompensa”
e “generosa”. Principal mecanismo de iniciação científica, a monografia contribui
para apurar características como a organização e o poder de síntese argumentativa,
além de apresentar ao monografista tanto a perspectiva conceitual quanto o modus
operandi associado à sua pretensa especialização. Vale a pena, sim! A ciência alarga
horizontes e perspectivas. As teorias que aprendemos na faculdade influenciam e são
influenciadas pelos anseios, dramas e situações da “vida real”. É o círculo virtuoso do
aprendizado!Além do respeitável ganho intelectual na articulação de idéias e soluções,
vital num mundo globalizado em que inovação e conhecimento são imperativos, uma
boa monografia (leia-se coerente, rigorosa e criativa) é um chamariz para qualquer
currículo e, no limite, pode decidir acirradas disputas por oportunidades no mercado
de trabalho. Uma trajetória promissora na faculdade, coroada com um belo TCC, salta
aos olhos de selecionadores e caçadores de talento. Sobretudo quando não se possui
um histórico profissional consolidado, condição da maioria dos que estão em fase
universitária. Ah, claro! É preciso lembrar que os melhores advogados costumam ser
juristas de renome. Eles estão, portanto, integrados à universidade como intelectuais,
professores, pesquisadores, orientadores e autores de livros inseridos na bibliografia
das disciplinas. A apresentação do TCC tornou-se obrigatória no curso de Direito a
partir da Portaria no 1.886 do Ministério da Educação (MEC), oficializada no dia 30
de dezembro de 1994. Nas demais ciências humanas e sociais, ele já se constituía
num pré-requisito para a obtenção do diploma. Geralmente em formato textual de
monografia, a produção do TCC exige a observância de procedimentos técnicos,
normativos e de investigação científica. Auxiliar o graduando a desvendá-los e aplicá-
los em suas pesquisas é o objetivo dos próximos capítulos. Embora com enfoque
nas monografias jurídicas, este texto pode ser acompanhado por estudantes de todas
as áreas. Afinal, exceto por determinados métodos típicos do Direito, o exercício
monográfico obedece a convenções e padrões definidos pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas, a ABNT.


As jurisprudências, a percepção média de juízes, promotores e defensores sobre um assunto, as mudanças
históricas na legislação, a forma como a sociedade se relaciona com as leis etc.

Assinada por Murilo de Avellar Hingel, então ministro da Educação do governo Itamar Franco (1992-1994),
a portaria determinava, em 17 artigos, o currículo mínimo para os cursos superiores na área jurídica. Em
tempo: o artigo que trata da obrigatoriedade da monografia é o 9o.

Organização responsável por regulamentar, fiscalizar e orientar as padronizações técnico-científicas na in-
dústria, na ciência e na academia, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi fundada em 1940.
Ela é a representante no Brasil da Comissão Panamericana de Normas Técnicas (COPANT), da International
Electrotechnical Comission (IEC) e da International Organization for Standardization (ISO).


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O projeto de pesquisa
Não levando em conta, neste momento, as normas internas de cada instituição, a
monografia acadêmica é definida como um texto ou relatório, de realização individual
ou em grupo, no qual é apresentado o resultado de uma pesquisa teórica e/ ou trabalho de
campo. A monografia é precedida pela redação do projeto de pesquisa. Nesse primeiro
passo, é delineado o recorte temático, definido e justificado o objetivo, formuladas as
hipóteses e estabelecido o cronograma de atividades. A estrutura básica de um projeto
de pesquisa é a seguinte:

Modelo 1 – Estrutura do projeto de pesquisa


Introdução ao Tema: breve explanação sobre a questão levantada e as motivações que
levaram o graduando a interessar-se pelo assunto, além de comentários sucintos sobre
artigos, obras, teses e dissertações relacionadas.
Objetivo: neste tópico será exposto o objetivo provisório ou definitivo da pesquisa.
Justificativa: argumentação centrada no pretexto do trabalho e sua conexão com a
especialização escolhida pelo graduando. Destina-se a convencer o orientador, a pré-
banca ou as entidades de fomento científico (CAPES, CNPq, FAPESP entre outras) acerca
da validade e consistência da pesquisa.
Hipótese Inicial: toda pesquisa possui uma hipótese inicial que será validada ou
refutada pelas conclusões ou considerações finais da monografia.
Metodologia: definição do método adequado ao caráter do projeto, das fontes de
consulta à estruturação dos capítulos.
Cronograma: fixação das datas e prazos necessários para as etapas de produção da
monografia. Não se preocupe, porém: é comum que não sejam seguidos à risca.
Bibliografia: item opcional. São os livros, jornais, revistas, anuários, teses, artigos e
sites que o graduando julgar relevantes para a composição do trabalho.

Este projeto é, digamos, o pontapé inicial da monografia. Ele funciona como o guia
que organizará todo o resto. Daí em diante, a pesquisa tende a derivar para caminhos
às vezes contrários à percepção primária. Contudo, as bases do projeto são como
pilastras. É esse movimento de descobertas, confirmações e perspectivas impensadas
a face mais atraente da monografia. “Como assim atraente?” – o leitor se pergunta
e, indignado, complementa: “Existe brecha para o fascínio num arrazoado técnico-
científico?”. Explico. Para começar, a resposta é sim – e muito! Quando optamos por
um assunto que nos seduz e intriga, as dificuldades e prazos apertados são facilmente
superados por uma curiosidade saudável, inquieta e fértil. O recorte evita desvios e
exageros; não é limite para a imaginação. Por sinal, é natural que nossas preferências
recaiam sobre assuntos com os quais mantemos afinidade. Aliás, recomendo aos
graduandos que não sejam tragados pelo ciclone dos modismos temáticos. Desde que
explorado com criatividade e senso de medida, qualquer mote, por modesto que seja,


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resultará num trabalho digno de nota dez, aplausos, menção honrosa e cumprimentos
da banca!

A monografia e o papel do orientador


Segundo as diretrizes do sistema educacional brasileiro, correspondem a três os níveis
de produção monográfica: o TCC, para concluintes de graduação e especialização
lato sensu; a dissertação de mestrado, e a tese de doutorado e/ ou livre-docência.
As regras referentes à normalização da produção científica mantêm-se as mesmas,
variando somente o grau de domínio da matéria. A elaboração do TCC segue normas
rígidas, embora flexíveis em relação ao número de páginas, por exemplo. Professores
costumam advertir ao monografista-graduando que articule a argumentação, a
checagem de hipótese e as conclusões ou considerações finais num espaço médio de
50 a 100 páginas. No entanto, essa estimativa é relativa. Há monografias excelentes
resolvidas em 30 páginas e calhamaços de 200 repletos de junções desconexas de
obras clássicas (ou nem tão clássicas) e “interpretações” prolixas e incompreensíveis.
E vice-versa. A extensão do texto depende das necessidades do objeto, definidas pela
dobradinha graduando/ orientador ao longo das reuniões de orientação. A propósito,
a figura do orientador cumpre o papel de conduzir o trabalho de acordo com as
premissas da ciência jurídica. Ao lado dos argüidores, ele preside a banca examinadora
que julgará o mérito da monografia. Seus questionamentos e observações funcionam
como direção para o orientando. Contudo, tendo em vista que a função do TCC é
desenvolver a autonomia intelectual, pede-se equilíbrio no momento de “peneirar”
os comentários. Convém ouvir o professor-orientador sem rompantes de adoração ou
aversão. Uma dica categórica para a escolha do orientador é ignorar subjetividades e
tolices do tipo “o professor Fulano é gente boa, já o Sicrano é um chato”. Simpatias e
antipatias exercem peso insignificante na decisão. E, salvo um absoluto antagonismo
de gênios, é a excelência ou, para os mais modernos, a expertise que conta de verdade.
Pois é. E como descobrir qual professor se enquadra ao seu projeto? Por telepatia?
Nada disso. Conheça abaixo alguns atalhos para reconhecer e, enfim, definir o seu
futuro orientador.


Um episódio ocorrido em minha época de estudante de Sociologia ilustra esta consideração. Certa vez, um
professor discutia conosco sobre nossos projetos de TCC. Um colega pediu a palavra e perguntou, constran-
gido, se pesquisar revistas em quadrinhos seria uma opção. A classe (ou seria a claque?) caiu na gargalhada.
O professor, com aquela conhecida serenidade e polidez, interpelou-nos sobre o motivo do ataque de risos.
Ninguém respondeu. Então, ele disse que pesquisar gibis seria uma opção muito interessante. E falou com
tanta firmeza e eloqüência sobre fatos históricos e sociológicos sobre o mundo dos quadrinhos que, minutos
depois, os alunos estavam em absoluto silêncio e, por que não, aliviados por perceber que aquilo que no
fundo gostariam de abordar (o esporte favorito, a revista preferida...) poderia ser uma proposta viável.

Em diversos cursos superiores, o trabalho de iniciação técnica ou científica recebe um nome alternativo:
Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI).

O argüidor é um membro do corpo docente ou – desde que autorizado – professor de outra instituição que
avalia o TCC e questiona o monografista. Assim como para o orientador, a escolha se faz pelo critério da
especialização, para garantir um aproveitamento teórico denso.


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Modelo 2 – Sugestões para a escolha de seu orientador


Currículo Lattes – A Plataforma Lattes (homenagem ao cientista César Lattes)10 é a
base cadastral de pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico, o CNPq, e encontra-se disponível no site www.cnpq.br. Na Plataforma,
localizam-se currículos de pesquisadores e professores universitários, com informações
sobre seus livros e artigos publicados, suas linhas de pesquisa, produção técnica etc.
Sugestões de outros mestres – Tenha uma conversa franca e pró-ativa com os
professores. Especule qual deles se interessaria, de fato, pela proposta do seu TCC. A
parceria sintonizada com o orientador, se não opera milagres, traz à baila benefícios
como debates antenados e recomendações sensatas de autores e métodos. Para melhor
entendimento do leitor, a seqüência deste texto é dividida em duas partes complementares.
Na primeira, trato do conteúdo da monografia: a linguagem acadêmica, as metodologias,
as técnicas e as fontes de pesquisa, com ênfase no curso de Direito. E, mais adiante,
adentro a seara das Normas da ABNT para formatação de texto, citações e referências
bibliográficas. Vamos lá?

10
Nascido em Curitiba, Cesare Monsueto Giulio Lattes, o César Lattes (1924-2005), era um físico formado pela
Universidade de São Paulo e co-descobridor, com o norte-americano Cecil Powell, da partícula subatômica
meson-pi. A descoberta teria rendido a Lattes o Prêmio Nobel de Física de 1950. No entanto, Powell foi o
único a recebê-lo. A justificativa para o brasileiro ter sido preterido é a de que, naquela época, o comitê de
premiação só oferecia a honraria ao chefe da equipe.


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O texto acadêmico-científico
Em 1996, o físico Alan Sokal enviou para apreciação dos editores da revista Social Text
o artigo “Atravessando as fronteiras: em direção a uma hermenêutica transformativa da
gravitação quântica”. Nele, Sokal divagava sobre a influência da “filosofia contemporânea”
e das “humanidades” nas ciências físico-naturais. Uma vez aprovado pelo conselho
editorial, o texto foi publicado numa edição especial do prestigiado periódico acadêmico.
Tempos após, o físico revelou suas intenções: o artigo era, na realidade, um amontoado
sem pé nem cabeça, uma paródia a autores “verborrágicos” como Jacques Lacan, Gilles
Deleuze e Jean Baudrillard, até ali intocáveis em seus pedestais. Do alto de suas torres de
marfim, esses filósofos-profetas da “pós-modernidade” usavam e abusavam, sem critério,
de termos e conceitos de disciplinas como matemática, física, biologia e química.11 E o
mais tragicômico é que a rigorosa Social Text deixou-se ludibriar pelo título pomposo,
recheado de chavões “pós-qualquer coisa” como “hermenêutica” e “atravessando
fronteiras”. No ano seguinte, com o fito de alertar contra abusos técnicos e lingüísticos
dessa monta, Alan Sokal, em co-autoria com o também físico Jean Bricmont, publicou
o provocador livro “Imposturas intelectuais”, lançado no Brasil em 1999. O clima
esquentou. Gente gabaritada vestiu a carapuça. Outros reverteram o ataque e viram na
atitude dos autores um ranço de quem se preocupa em preservar o purismo científico.12
Seguiu-se ao bate-boca um joguinho de vaidades de doer. Era um tal de filósofo espernear
pra cá, matemático chorar pra lá... Estranhamente, a questão chave – quais são os limites
da linguagem acadêmica? – ficou esquecida em meio ao tiroteio de acusações. Essa
dúvida, por sinal, coincide com os questionamentos de graduandos de todos os campos.
Por que trabalhos científicos adotam palavreado tão empolado? Minha monografia vai ter
frases tão longas assim? Citações e clichês ocultam uma má ciência? O estilo vale mais
que o conteúdo? Resumindo: por que, ó raios, “todo intelectual” escreve enrolado? Para
começar, essa história de escrever difícil é papo-furado. Nenhum manual de redação
científica se prestaria a ensinar um disparate desses. Contudo, a vontade de soar erudito
às vezes bate forte nos corações e mentes dos pesquisadores. Assim, consagrou-se entre
nós uma montanha de vícios de linguagem. É efeito bola de neve, mesmo. Repete-se até
virar epidemia. O sujeito se gradua, faz mestrado, defende o doutorado, vira professor e
passa os erros, quer dizer, os cacoetes para frente. Os vícios mais corriqueiros são:

1. Substituir palavras por seu sinônimo não usual. Exemplo: “encobrir” vira
“sobrepujar”; “semanal” é trocado por “hebdomadário”. Num trecho ou outro, vá
lá, tem a sua graça. Exagero é pedantismo e trava a comunicação.

11
Justiça seja feita, a filosofia é a matriz do conhecimento, vide Blaise Pascal para a lógica da computação,
René Descartes para as ciências exatas, Francis Bacon para o empirismo...
12
Nos seus primórdios, a sociologia almejava ser para a sociedade aquilo que as ciências físico-naturais e a
biologia são para o estudo da fauna, da flora, do funcionamento do corpo. Um dos primeiros paradigmas
das ciências sociais era o chamado “evolucionismo social”. Ler um autor como Emile Durkheim é deparar-se
com termos da Medicina e da Biologia: “anômia”, “patologia”...


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2. Utilizar a primeira pessoa do plural mesmo quando o trabalho é realizado e


assinado individualmente: “Nós consideramos esse caso...” ou “Obtivemos tal
amostragem...”. Essa “coletivização” da monografia é um enigma lingüístico...13

O repertório de vocábulos tem de se afastar dos extremos; nem escasso (denotando


desleixo e deficiência de leitura), nem floreado (para o monografista não passar por
herdeiro temporão dos parnasianos). O parâmetro é a exatidão técnica e a clareza na
exposição. Num texto acadêmico-científico eficiente, nada falta, nada sobra – cada
expressão tem uma função definida no conjunto textual. Por essa razão, as ciências
dispõem de um arcabouço de terminologias catalogadas e denominadas “termos
técnicos”. A despeito da obrigação de se respeitar o jargão técnico, e de zelar para que
o estilo não anule o conteúdo, o texto acadêmico-científico não precisa ser desprovido
de qualidades literárias. Siga abaixo alguns toques para se escrever com elegância, sem
se perder na ficção ou no mero discurso panfletário:

Modelo 3 – Como aprimorar o texto de sua monografia


1. Ler, ler e ler. A leitura – e compreensão – das obras relativas ao tema desenvolvido
trazem fundamentação e coerência à argumentação do monografista. A leitura de
obras literárias e jornalísticas apura a gramática e os recursos de vocabulário e
estilo.
2. Evite parágrafos quilométricos. Sabe aqueles longos trechos, sem pausas para se
tomar fôlego? Nos romances de José Saramago e Raduan Nassar, esse recurso
narrativo engrandece a obra. Numa monografia, é desperdício de caracteres. Afora
a ficção dos gênios, um parágrafo adequadamente estruturado é composto por
abertura, argumentação, síntese e fechamento. Edite o parágrafo com as passagens
essenciais e, se for o caso, “puxe” uma nota explicativa e continue lá a desenvolver
o assunto.
3. Pontue as frases com correção. Use vírgulas, sim, mas não negligencie os ponto-
e-vírgulas (;) e os pontos finais (.). Mescle frases curtas e diretas com outras mais
longas e digressivas. Preste atenção à pontuação; é o texto quem vai “pedir” vírgulas
e/ ou pontos finais. Escreva um capítulo, pare, respire, leia e releia. Coloque-se na
posição do leitor. Veja se está compreensível. Muitos monografistas – e escritores
– pecam por não fazer esse exercício elementar. A escrita se transforma após uma
revisão gramatical.
4. Peça para colegas e professores lerem seus textos. Embora seja uma tarefa solitária,
escrever é um modo de se comunicar, e é vital que conteúdo, forma e estilo estejam
acessíveis ao leitor. Consulte, se possível, um revisor ou preparador – pior do que
texto ruim é texto pontilhado por caneladas gramaticais. Revisar não é escrever,
viu?14

13
É sensato não entrar em rota de colisão com o orientador se ele considerar “mais científico” um festival de
“consideramos”, “pesquisamos”, “compreendemos”, “pensamos”...
14
Encomendar monografias a ghost-writers é o cúmulo da indigência intelectual.


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5. Nada de coloquialismos, gírias e o “internês” do MSN ou do Orkut.


6. Como diria o professor Pasquale Cipro Neto, o problema não é o gerúndio, é o
gerundismo. TCC não é script de telemarketing, correto? Fuja do gerundismo, senão
a banca examinadora “estará enviando” sua monografia para a lata do lixo.
7. Siga o vocabulário jurídico. Por lidar com formalidades, leis e contratos sociais, a
norma culta é a marca registrada do Direito. Já as expressões em latim são artifícios
retóricos que remetem às origens do Direito moderno. Quando o latinismo for
termo técnico – exemplo: habeas corpus –, utilize-o sem medo de ser feliz. Quando
houver equivalente em português, tenha bom senso.

Diga não aos adjetivos desnecessários!


O uso exagerado de adjetivos é sempre um expediente de gosto duvidoso. Nesse texto,
utilizo, em várias frases, adjetivos corriqueiros para tornar a leitura leve e conectada
ao leitor pela via do humor, do impressionismo. Numa produção científica – como o
é a monografia jurídica –, esse recurso revela preferências intelectuais ou, pesadelos
dos pesadelos, ideológicas. Bajular e tecer loas aos autores ou ao objeto da pesquisa é
supérfluo. Por sua vez, refutar com violência demonstra má vontade em dialogar com os
contrários. Ora, a maneira como são conduzidos os capítulos já assinala as afinidades
eletivas do pesquisador. Nesse sentido, elogiar ou desqualificar é daquelas redundâncias
inúteis por definição. Quer saber? Coisa neutra nesse mundo é sabão. No entanto, não
derrape na pista ensaboada da idolatria e do estereótipo. O gosto de quem escreve está
contido nas escolhas dos recortes, autores, teses, discursos. Como amortecedor dessas
paixões, a moderação faz o argumento nuclear superar as opiniões laterais. Até porque
o adjetivo vira pleonasmo quando o TCC consegue expor com segurança a riqueza ou
as inconsistências de um pré-conceito, paradigma ou teoria. Adjetivar é emitir juízo de
valor. Isso não chega a configurar um erro técnico gravíssimo, apesar da chance de ser
mal-interpretado pelos argüidores e de se complicar na defesa crescer muito. Não custa
ser delicado com o oposto e menos festivo com as suas opções teórico-metodológicas.
Ninguém perde a contundência por agir assim. Embora brote do desejo, o conhecimento
em nível acadêmico é cerimonioso e caminha em direção à racionalidade. Sem falar
no quanto refina o estilo. Um texto enxuto é colírio para os olhos cansados de guerra
do seu orientador. Qualificar, porém, não é um crime contra o empirismo. No capítulo
dedicado às conclusões, por exemplo, é quase incontornável. Nesse caso, procure optar
por adjetivos contidos e práticos, amparados pelas evidências encontradas.

Modelo 4 – Exemplos de adjetivos


Recomendados:
Correto, incorreto, consistente, inconsistente, coerente, improdutivo, contraditório.
Não recomendados:
Brilhante, genial, espetacular, fascinante, desastrosa, péssima, absurda, risível.

***

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Abundância de adjetivos, gerundismos, vícios de linguagem, coloquialismo, revisão


apressada, parágrafos intermináveis. As Normas da ABNT não prescreve remédios para
combatê-los. Sequer os desautoriza taxativamente. A normalização científica não chega
a ser afetada por eles. Ora, então, por que seguir as dicas acima oferecidas? Primeiro,
por amor à Língua Portuguesa. Segundo, para potencializar as qualidades da pesquisa
desenvolvida. Tais conselhos sugerem a aceitação de certos formalismos acadêmicos
(objetividade e economia textual) e a negação de outros (“coletivização” não justificada,
beletrismo vazio) baseados em premissas da redação técnica. Não são verdades acabadas
e universais. Contudo, a monografia de cunho acadêmico é uma modalidade literária
com procedimentos estéticos, técnicos e formais reconhecidos, sem os quais seu trabalho
corre o risco de se descaracterizar e perder muitos décimos na nota! A bibliografia do
monografista em ciências jurídicas inclui, além das obras pertinentes ao projeto, cinco
referências para a composição de texto:

1. Dicionário de Conceitos e Termos Jurídicos.


2. Dicionário de Língua Portuguesa (on-line ou em brochura).
3. Manual de Redação Técnico-Científica.
4. Apostilas ou obras que contenham as Normas da ABNT.
5. Guias de Consulta Gramatical (livros didáticos, encartes etc.).

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Metodologia de pesquisa
Não se elabora texto científico sob os ditames das Normas da ABNT sem antes projetar o
escopo da pesquisa. Não se projeta o escopo da pesquisa sem antes definir um recorte para
o tema selecionado. No Dicionário Aurélio, “recortar” significa “cortar formando” ou “talhar
ou recortar de novo, reduzindo”. No meio acadêmico, “recortar” é realizar exatamente as
ações sugeridas pelas acepções da palavra, com o “papel” (tema) e a “tesoura” (os ajustes
de objetivo). A metodologia começa com as escolhas do tema e do recorte.

A escolha do tema
O tema do TCC é uma decisão a ser tomada com muita calma e reflexão. Devem
ser ponderados, pela ordem, aspectos como o interesse pelo assunto, a pertinência
da pesquisa, a viabilidade e os prazos. Como não há uma regra fixa ou fórmula
infalível para essa escolha (exemplo: as Normas da ABNT para as padronizações
técnicas), a individualidade do graduando se faz mais presente. Definir o tema
com alguma antecedência – lá pela metade do penúltimo ano – é seguramente o
ponto chave. Deixar para última hora é um “Deus-nos-acuda”. Recomendo seguir
os passos abaixo:

A – Pensar em temas que o atraem no ramo escolhido do Direito;


C – Pesquisar na Internet e na biblioteca teses e pesquisas relacionadas;
D – Levar essas idéias à apreciação de professores e colegas;
E – Participar de seminários da pesquisa e palestras promovidas pela faculdade;
F – Organizar, resumir e redigir esse esboço e avançar para a fase do recorte.

A definição do recorte temático


Num paralelo, recortar um tema amplo é simplesmente “cortar para reduzir” o mote
temático para que ele atinja um formato adequado para ser desenvolvido com precisão.
Recortar é “cortar para formar” um objeto coerente e apto a ser estudado pelo graduando.
O recorte deixa tudo na medida! É evidente que quando se enamora do assunto, o
pesquisador tende a querer examiná-lo em minúcias e, ingenuamente, “abraçar o mundo”.
Ninguém vai cercear um pesquisador apaixonado, mas escrever muito e pensar pouco é
seu destino provável. E sabe por quê? Porque o recorte demarca as prioridades para que
o pesquisador empreenda um trabalho tão bacana e “redondo” que, sem ele perceber,
acaba pensando muito em poucas palavras. O recorte é feito menos por iniciativa do
aluno do que proposto pelo orientador ou professor de metodologia. Contudo, não é
complicado, não. Observe:

Modelo 5 – A definição do recorte


Exemplo:
Tema desejado – Trabalhar a questão do Direito do Consumidor no Comércio
Exterior.

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Áreas de Concentração – Direito Internacional, Código de Defesa do Consumidor,


Relações Internacionais, Economia e Comércio Exterior.
Este tema não está recortado porque... É muito, muito vasto. Vários e vários tomos
de um tratado talvez dêem conta de sua complexidade. A monografia ficaria assim, por
baixo, com umas oitocentas páginas! Para ajudar a estabelecer o recorte, o professor
fustiga o aluno com diversas perguntas dirigidas: “Que tipo de lei você quer examinar?”,
“Você pretende focar a área tributária, política, diplomática?”, “Que tipo de comércio
você tem em mente?”, “É sobre o MERCOSUL ou entre países emergentes?”, “Não acha
melhor pegar a relação comercial entre dois países e analisá-las à luz do Direito?”. Depois
de matutar, matutar, o aluno e o orientador acertam no alvo...
Recorte Sugerido – a concorrência dos produtos chineses e seu impacto nos direitos
do consumidor no Brasil.

Pronto!
Como não somos imunes às emoções, ficamos em princípio decepcionados por
supostamente “reduzir” a nossa “obra-prima”. Acontece que o recorte (perdoe-me o
péssimo trocadilho) não “cortará o seu barato”. Nas notas explicativas, abrem-se espaços
preciosos para se demonstrar conhecimentos mais genéricos. Reduzir o objeto não é
reduzir a sua qualidade. É torná-lo exeqüível.

***

A definição do recorte é o momento oportuno para começar a pensar na metodologia a


ser adotada. As ciências humanas e sociais (divisão em que se inscreve a ciência jurídica)
são contempladas com uma lista de metodologias de investigação científica, divididas
em dois segmentos: o método qualitativo (abreviado para quali) e o método quantitativo
(o quanti). Como não são fronteiras rígidas e conflitantes, ambos os métodos combinam-
se e interconectam-se ao longo da pesquisa. No método quanti, são incluídos todos
os procedimentos de quantificação de dados para deles se extrair informações seguras,
tendências, bases explicativas. Com suas pesquisas de campo, coleta e tabulação de
dados, a estatística é quanti por excelência. Para o Direito, o método quanti é útil, por
exemplo, para classificar e quantificar os julgamentos na área criminal que terminaram
com absolvição ou punição em estratos sociais distintos. Esse cruzamento de dados
servirá de evidência para inferências que reforcem, desqualifiquem ou tornem relativo
o ditado de que “a justiça é só para os ricos”. E por aí vai... Já o método quali é uma
nomenclatura elástica que abarca desde o ensaio filosófico sobre um jurista ou escola
teórica às reconstituições documentadas sobre a evolução histórica do Direito. As duas
principais formas de se trabalhar qualitativamente um objeto são a “Observação direta”
e a “Observação indireta”:

Observação direta: observação participante, etnografia, descrição de espaços, coleta


de depoimentos, entrevistas etc.

13
—  Minimanual de Monografia Jurídica  — Daniel Rodrigues Aurélio — Editora Rideel

Observação indireta: baseia-se em documentações obtidas em acervos e bibliotecas,


dados coletados em outras fontes, leituras de livros e jornais, anotações sobre
documentários etc.

Dificilmente realiza-se uma tese sem elementos quanti e quali. Uma coleta de dados
sem reflexão é tão duvidosa e intelectualmente frágil quanto uma reflexão sem amparo
estatístico. Contudo – e como sempre –, é a ambição da pesquisa que mostrará qual
deles será a mola-mestra.

As fontes de pesquisa
Para as monografias jurídicas, as fontes primárias de pesquisa estão fundamentalmente
contidas na tríade legislação (o corpo de leis do estatuto jurídico), a doutrina (as
raízes teórico-filosóficas da legislação) e a jurisprudência (a aplicação da lei em casos
concretos). Todo o resto gira em torno delas. Pelo ângulo da legislação, o acadêmico de
Direito examina situações não prescritas nos códigos e verifica se há conflito entre leis.
A doutrina demanda um trabalho de maior vulto filosófico, enquanto a jurisprudência é
o ponto de contato entre os códigos e a realidade social. Nela, as disciplinas de História,
Antropologia, Política e Sociologia se aproximam ainda mais do Direito.15 A análise
das jurisprudências requer cautela do monografista, que deve se limitar às decisões
majoritárias e não tomar como verdade uma sentença isolada. Ou, para caprichar na
criatividade, desvendar por que tal sentença foi exclusiva, se sua concepção retroage
ou avança na questão, se revê as bases de um velho artigo jurídico ou se apenas partiu
das idiossincrasias e excentricidades de um juiz de comarca. Então... Mãos à obra,
graduando! Dentro de uma monografia, seja ela de graduação ou pós-graduação, essas
três fontes circulam ativamente, pois por meio do “olhar” acadêmico-científico do Direito
é um tanto improvável construir uma hipótese ou um objeto de pesquisa sem ao menos
mencionar sua concepção, estatuto e aplicabilidade.

A importância do fichamento
As fontes de consulta primárias (legislação, doutrina e jurisprudência) e complementares
(documentações e obras de apoio) fornecem ao monografista um bombardeio de dados,
indícios e citações. E o principal recurso para selecioná-los e organizá-los é o fichamento.16
O fichamento é um arquivo de computador (Word, Excel, PowerPoint) ou uma ficha
manual com as informações valiosas contidas num livro, artigo ou documento.

15
Na época áurea dos bacharéis – fins de Império, princípio da República –, eram os filhos da elite cafeeira e
política que, enviados às faculdades de Direito de Coimbra, Lisboa, Recife e São Paulo, voltavam com pen-
dores progressistas e a ambição de escrever obras literárias, políticas e proto-sociológicas que explicassem a
sociedade brasileira. Já no século XX, obras seminais de juristas como Victor Nunes Leal (Coronelismo, En-
xada e Voto) e Raymundo Faoro (Os donos do poder) fazem parte da bibliografia fundamental de sociólogos,
historiadores e cientistas políticos.
16
O fichamento é indispensável, também, por razões burocráticas e operacionais: empréstimos de livros expi-
ram e é ilegal apropriar-se de documentações de arquivos públicos e privados.

14
—  Minimanual de Monografia Jurídica  — Daniel Rodrigues Aurélio — Editora Rideel

Modelo 6 – Como elaborar um fichamento


• Referência bibliográfica completa da obra e a data de consulta.
• Argumentação concisa de cada capítulo ou do núcleo argumentativo, com foco no
objetivo do seu trabalho.
• Excertos que merecem citação literal.
• No caso de documentos, lançam-se na ficha os dados aproveitáveis, direcionados
por comentários feitos pelo pesquisador.

Em suma, o fichamento ajuda o pesquisador a transformar um amontoado de dados


dispersos em informação objetiva e estruturada. Outro fator preponderante para o
sucesso de uma pesquisa é a elaboração antecipada do índice (ou sumário). Mesmo
sem ter sequer preparado um rascunho da redação, o índice é primordial. Logicamente,
durante a composição da monografia o índice será modificado, refeito, reorganizado,
mas estabelecê-lo como pedra angular é uma das maneiras de conjugar coerência e
agilidade. Depois de conhecer os meandros do texto acadêmico, de construir o objeto e
traçar a metodologia, as Normas da ABNT já não parecem aquele monstro pintado nos
corredores da faculdade e nas comunidades da Internet, não é?

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A Norma da ABNT para a produção de monografias


No tocante à monografia de graduação (TCC), separa-se a padronização da ABNT
em três partes: 1) a estrutura e a organização dos capítulos; 2) a formatação de textos,
gráficos e tabelas; e 3) as citações e referências bibliográficas. Embora as Normas da
ABNT possua uma extensa série de exigências e pormenores, imaginá-la a partir dessas
categorias auxilia na tarefa de organizar o entendimento de suas regras. Regras essas, aliás,
que não são formuladas casualmente e atendem a critérios e motivações previamente
estipulados. Passemos agora a uma explicação tópico por tópico.

Estrutura e organização dos capítulos


A estrutura de apresentação e redação do TCC é composta por três elementos: os pré-
textuais, textuais e pós-textuais.17 Denominam-se pré-textuais todas as formalidades que
antecedem a monografia. São elas a capa, a página de rosto, a folha de aprovação, o resumo
e o sumário (obrigatórios) e os agradecimentos, a dedicatória e a epígrafe (opcionais).
Também são consideradas pré-textuais as listas de siglas, de tabelas e/ ou de gráficos,
necessárias quando forem em número elevado. A capa poderá conter ilustrações e fotos
– creditadas –, desde que cinco itens sejam respeitados: o nome da instituição no alto,
o nome do(s) aluno(s) com o sobrenome em caixa alta (exemplo: AURELIO) abaixo do
título do trabalho, do ano e da cidade da faculdade. A folha de rosto, porém, não contém
elementos pictóricos e traz a mesma disposição da capa, somada ao nome do orientador
(e sua titulação) e uma nota acadêmica alinhada à direita, abaixo do título do TCC.

Modelo 7 – Nota Acadêmica

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à [nome do


departamento e da instituição] como exigência parcial para a
obtenção do título de bacharel em Direito [ou Ciências Jurídicas].

A folha de aprovação possui o nome do(s) aluno(s) e do trabalho e um espaço


indicado para assinatura dos membros da banca. Já o resumo deverá conter, em um ou
dois parágrafos, informações breves sobre o objetivo de seu trabalho. Também constam
no resumo as “palavras-chave”, que são três ou quatro palavras para serem utilizadas em
cadastros ou fichas catalográficas. Caso uma monografia verse sobre o Direito Eleitoral
na Primeira República, exemplos de possíveis palavras-chave são “Direito Eleitoral”,
“Brasil” e “Primeira República”. Nota-se que os dois campos, Resumo e Palavras-chave,
são indexadores para buscas à monografia.18 O sumário encerra os quesitos pré-textuais

17
Os elementos textuais são os capítulos da monografia e os pós-textuais são os anexos (tabelas adicionais,
fotos, questionários etc.) que fornecerão um panorama completo acerca da pesquisa.
18
Os resumos e as palavras-chave de dissertações de mestrado e teses de doutorado, pós-doutorado e livre-do-
cência são bilíngües, preferencialmente em inglês (abstract e key words). Numa monografia de graduação,
esse expediente é facultativo.

16
—  Minimanual de Monografia Jurídica  — Daniel Rodrigues Aurélio — Editora Rideel

e tem de ser minuciosamente revisado. É o último item do TCC a ser redigido, pois é nele
que serão incluídos os nomes dos capítulos, com suas páginas correspondentes. Cada
capítulo costuma ter um, dois ou três subcapítulos. Eles são referenciados da seguinte
maneira: capítulo 1, subcapítulo 1.1, 1.2, capítulo 2 e subcapítulo 2.1, 2.2 e assim por
diante. Isso facilitará bastante a própria organização das idéias e do material coligido. Os
pré-textuais ficarão nessa ordem: capa, página de rosto, folha de aprovação, dedicatória,
agradecimentos, epígrafe, resumo com palavras-chave e sumário. Acompanhe os
modelos:

Modelo 8 – Elementos pré-textuais (páginas iniciais)


1 – Capa
2 – Página de rosto
3 – Folha de aprovação
4 – Dedicatória
5 – Agradecimento
6 – Epígrafe
7 – Resumo com palavras-chave
8 – Sumário

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1. Capa

[logotipo da faculdade (opcional)]

Nome da instituição (exemplo: Pontifícia Universidade Católica – PUC)


Departamento (exemplo: Faculdade de Direito da PUC-SP)

TÍTULO DO TCC
Subtítulo do TCC

Nome do Aluno

Cidade
Ano

18
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2. Página de Rosto

[logotipo da faculdade (opcional)]

Nome da Faculdade/ Centro Universitário/ Universidade


Nome do Departamento

Nome do Aluno

TÍTULO DO TCC

Subtítulo do TCC

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado à [Nome da Faculdade] como
exigência parcial para a obtenção do título de
bacharel em Direito [ou Ciências Jurídicas].

Orientador (a): Nome e titulação do Orientador (a)

Cidade
Ano

19
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3 – Folha de Aprovação

FOLHA DE APROVAÇÃO

Nome do Aluno

Título do TCC

Subtítulo do TCC

CONCEITO:

Banca Examinadora

Prof.(a)___________________________________________________
Assinatura________________________________________________

Prof.(a)___________________________________________________
Assinatura________________________________________________

Data de Aprovação / /

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4. Dedicatória

[Dedicatória]

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5 – Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

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6 – Epígrafe

[Epígrafe]

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7 – Resumo com palavras-chave

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo estabelecer, a partir


da perspectiva do direito eleitoral brasileiro, uma discussão sobre a questão da
fidelidade partidária no âmbito das relações parlamentares. A análise enfatizará a
jurisprudência em casos de desligamento por incompatibilidade ideológica e
programática e a fundamentação jurídica adotada.

Palavras-Chave
I. Direito Eleitoral II. Fidelidade Partidária III. Poder Legislativo.

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7 – Sumário (ou Índice)

SUMÁRIO

1– INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 8

1.1 – Breve História dos Partidos Políticos .......................................................................12

2 – A FIDELIDADE PARTIDÁRIA .....................................................................................21

2.1 – Legislação e Doutrina .............................................................................................25

2.2 – A decisão do STF ....................................................................................................29

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................42

ANEXOS ..........................................................................................................................48

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E antes de migrarmos para o item subseqüente, um lembrete que é uma oportuna dica
de etiqueta: apesar de facultativo, é de boa educação agradecer ao orientador do TCC
e, se houver alguma bolsa de iniciação científica envolvida, à agência de fomento que
o financiou. Porém, convenhamos, quem é que vai perder o ensejo de dedicar o esforço
àqueles que estiveram presentes nos momentos de provação, como familiares, amigos e
professores?

Formatação de textos, gráficos e tabelas


Como diria um ex-árbitro de futebol, aqui a regra é clara! As duas únicas fontes aceitas
para o texto são a Arial e a Times New Roman. O tamanho da fonte é 12, com o alinhamento
“justificado” ou “à esquerda” e o espaçamento entre linhas, de 1,5. Na verdade, meia
dúzia de comandos do editor de texto liquidam esse serviço “pesado”. Basta só seguir
à risca o manual da ABNT e deixar que o Word execute o resto. Concentremo-nos no
conteúdo!Compõem, ainda, a formatação de texto as notas explicativas, a numeração
das páginas e a indicação de gráficos e tabelas. As notas explicativas são numeradas
de modo contínuo e servem para dar substância e complemento a uma argumentação
ou fornecer indicações bibliográficas. Existem duas opções para a edição das notas,
colocá-las na página referida (nota de rodapé) ou ao término do capítulo. Em relação
à numeração das páginas, uma dúvida é bastante recorrente. Quando começamos a
numerar? Bem, a contagem é iniciada a partir da capa, porém a numeração, disposta
no canto superior direito da página, é inserida na abertura do elemento textual. Um
recurso do Word que está no Inserir/Número de páginas vai resolver o “dilema”. Quanto
à indicação de gráficos e tabelas, é só adotar a ordem: a primeira tabela de um capítulo é
t.1, a segunda é t.1.1 etc. Recomenda-se a elaboração de uma lista de gráficos e tabelas
quando estes ultrapassarem dez intervenções.

Citações e referências bibliográficas


A questão das citações e referências é, de longe, a geradora das maiores confusões
e polêmicas. O cuidado na sua elaboração tem de ser redobrado. Mencionar fontes
corretamente vai além da padronização acadêmica; citar um autor ou obra ocultando
a origem é crime contra a propriedade intelectual. Ou um atestado nada abonador de
negligência. É tolerável que nos escape algum dado bibliográfico, já que muitas obras
estão fora de catálogo e sobrevivem por meio de fotocópias precárias. Contudo, o nome
do autor, do livro, o ano de publicação e a página consultada são itens fundamentais. São
duas as formas de citação. A citação direta ou literal e a indireta ou conceitual. A primeira
é a reprodução, palavra por palavra, de trecho de livro, artigo, ensaio etc. A segunda é uma
digressão conceitual ou na linha de raciocínio de outro autor. Acompanhe os modelos:

Modelo 9 – Formas de Citação

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Citação literal de até três linhas: feita no corpo do texto, com abertura de aspas e
menção à fonte realizada conforme demonstram os modelos abaixo:

Segundo Sérgio P. Rouanet (2006, p. 70), “o universalismo ético se baseia...”


Ou

“O universalismo ético se baseia...” (ROUANET, 2006, p. 70).19

Citação literal com mais de três linhas: virá após o parágrafo, com recuo de 4 cm da
margem esquerda e fonte 11 ou 10. Dispensa as aspas.

Antes de chegar ao silêncio atual, por razões que tentamos esboçar,


a figura tradicional do intelectual passou por algumas metamorfoses
a partir da década de 1970. A experiência da França, berço do Maio
de 68, é exemplar: primeiro, foi a denegação da própria origem ao
assumir a figura militante do povo (...) (NOVAES, 2006, p. 17).

E, para contextualizar, um fragmento de filosofia do Direito:

(...) Vangloria-se Duguit de não ter precisado recorrer a nenhum


conceito metafísico para chegar à conclusão de que os homens,
sendo insuficientes para as suas atividades, são obrigados a
ordená-las de maneira solidária. Para chegar a esta conclusão
bastam os consagrados processos de indagação científica, de
base experimental. É aplicando, portanto, o método experimental
das ciências físico-naturais que o jurista pode e deve descobrir o
fundamento da organização social, reconhecendo “que a norma
jurídica como toda norma social é o produto do fato social” (REALE,
1969, p. 390-391)

Citação indireta ou conceitual: exposição ou adaptação de teoria, conceito ou idéia


de autor ou obra, que deve vir junto de uma referência nominal explícita ao autor e,
entre parênteses, do ano de publicação do livro aludido.

A mundialização da cultura, conceito trabalhado por Renato Ortiz


(1994), é muito relevante para se pensar aspectos da indústria de
bens culturais.

Ou

19
Alguns pesquisadores preferem substituir (AUTOR, XXXX, p. [no da página]) por (Autor, XXXX: [no da pági-
na]), sem prejuízo na confiabilidade dos dados relacionados à fonte.

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Abordar a questão da mundialização da cultura (ORTIZ, 1994)


é muito relevante para se pensar aspectos da indústria de bens
culturais.

***
O campo “Referências Bibliográficas” encontra-se listado no encerramento da
monografia, contendo livros, revistas, jornais, teses e sites da Internet. Confira:

Modelo 10 – Referências Bibliográficas

Livros:
MICELI, Sérgio. A expansão do mercado do livro e a gênese de um grupo de romancistas
profissionais. Intelectuais à brasileira. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Ou

KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Sendo a abreviação do primeiro nome igualmente válida (exemplo: KELSEN, H.).
Para reforçar: o título do livro é citado em itálico e o capítulo em fonte normal (ou
regular).

Periódicos:
EL FAR, Alessandra. Viagem na leitura. Revista Cult, São Paulo, n. 79, ano VI, abr.
2004, p. 60-63.

Internet:
BERTOL, Sonia Schena. Novidades da ciência na Science e Ciência Hoje, 2004.
Disponível em <www.comunicacaoesaude.com.br/rev1artigosoniabertol.htm>. Acesso
em: 6 ago. 2005.

Ou

RONCAGLIA, Daniel. Fiel representante: leia o voto de Carlos Britto sobre fidelidade
partidária. Disponível em <http://conjur.estadao.com.br/static/text/60507,1>. Acesso
em: 18 out. 2007.

Com relação à Internet, copia-se o endereço exato do artigo, da tese, do e-book ou da


informação colhida – ou seja, o link – facilitando a acessibilidade para conferências por
parte do orientador, dos argüidores e leitores da monografia.

Edição e impressão da cópia final


De abstração à matéria palpável. Redigida a monografia, é chegada a hora do processo
de edição final e impressão do TCC. Essa ação aparentemente banal requer cuidado – e,

28
—  Minimanual de Monografia Jurídica  — Daniel Rodrigues Aurélio — Editora Rideel

para variar, um punhado de reais a serem deixados na papelaria da vila. As dúvidas


persistem: Quantas cópias imprimir? Qual é o tipo de papel ideal? Como formatá-lo?
Bem, antes de clicar em “Print” (ou “Imprimir”), convém reler o preview da derradeira
versão. Dessa forma, dá tempo de localizar e corrigir erros ortográficos e gramaticais e
checar se os nomes dos capítulos e suas respectivas indicações de página no sumário
(ou índice) estão de acordo com a ordenação interna. É bom imprimir uma cópia-teste
para aqueles últimos ajustes em papel, evitando assim o “olhar viciado” pelas sucessivas
leituras feitas na tela do computador. Tudo ok? Ótimo, ótimo. Toquemos rumo ao formato
da monografia. O tipo mais comum de papel utilizado é o clássico sulfite branco, A4.
Admite-se uma outra gramatura ou cor apenas para a capa. Muitos monografistas optam
pelo papel reciclado, cujo tom pastel confere um estilo bonito e politicamente correto.
Já a encadernação... Tanto faz se é espiral ou brochura. Só faça a fineza de não aparecer
com cópias unificadas por clipes ou grampeadas.Dentre os dois, o formato espiral é
disparado o mais convencional, barato e fácil de ser manuseado. A brochura com capa
dura (o miolo é em A4) remete ao fascínio exercido pelo objeto-livro, com o acréscimo
do nome da monografia e do autor na lombada. No entanto, é dispensável elevar o
custo com esses fricotes. A quantidade de cópias deverá ser suficiente para contemplar
o orientador, o(s) argüidor(es) e a biblioteca da instituição. Algumas faculdades solicitam
uma versão eletrônica (em disquete ou CD-ROM) para backup e/ ou arquivo. Em geral,
os exemplares do TCC são entregues à Secretaria. Lá, o aluno assinará um comprovante
de entrega dos volumes, no qual são preenchidos a data, o título da monografia, a forma
de avaliação e o nome dos docentes que receberão as cópias. Guarde o protocolo, hein!
Não entregue nada pela via informal, sob pena de não existir prova de entrada em caso
de perda ou extravio. Daí, é só aguardar o dia do Juízo, ops, da nota final!

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A defesa pública da monografia


Quando escrevi, lá no começinho deste texto, sobre o rito de passagem universitário,
não estava de gozação. Há até uma cerimônia crucial que antecede à apolínea colação
de grau e a dionisíaca festa de formatura: é a defesa pública do Trabalho de Conclusão
de Curso. Ansiedade, noite insone, tensão! Agora vai! A banca de avaliação que analisará
sua monografia cumpre um ritual que remete às sessões de tribunal. Em boa parte das
instituições, existe a opção de não realizar a defesa pública, recebendo o parecer por
escrito. Nesse módulo, muda-se a nomeação de argüidor para parecerista. E a média final
será extraída das notas – de pesos equivalentes – atribuídas por ele e pelo orientador.
Mas, vou explicar porque é preferível a banca pública.A defesa pública é uma excelente
oportunidade de estar em contato, receber orientações e debater com juristas, intelectuais
e professores de Direito experientes. E, para quem pretende fazer mestrado e doutorado
– ou seguir a carreira de docente –, a banca de graduação servirá como treinamento
intensivo para aprimorar a exposição oral e a reação a sessões abertas. Que, a propósito,
são características imprescindíveis para advogados, promotores, juízes... A alternativa
por não defender o TCC em público tem basicamente duas motivações. Excesso de
timidez ou falta de confiança em si e no resultado da monografia. Em ambos, não há o
que temer. Conquanto a crítica dos professores seja incisiva, ela não extrapolará jamais
os limites do decoro. E todos ali sabem que a produção de um graduando é fruto de
uma iniciação acadêmico-científica, e não de uma tese de pós-doutorado orientada por
Jürgen Habermas. Para convencer de vez os indecisos: até a data da defesa, presume-se
que o trabalho foi discutido à exaustão com o orientador, que certamente tomará a sua
defesa quando um “ataque” for injustificado ou inconsistente. A reputação do orientador
entra nessa balança. E ele só permitirá a apresentação de monografias que estejam
qualificadas. A defesa é pública (com a audiência de familiares, colegas, professores
e funcionários da instituição) para garantir que prevaleçam a justiça e o bom-senso. A
sessão pública de defesa é marcada com data, hora e local definidos pela instituição
de acordo com a agenda dos agendes envolvidos. No modelo a seguir é esboçado um
“passo a passo” da sessão.

Modelo 11 – O “ritual” de defesa pública


Ato 1 – A sessão é iniciada pelo orientador, presidente da banca, que saúda os presentes
e apresenta os argüidores, o graduando (e o tema de seu TCC) e traça suas primeiras
considerações antes de passar a palavra para o graduando.
Ato 2 – O graduando dispõe de quinze a trinta minutos (como tolerância) para expor
o conteúdo, a metodologia e os resultados do TCC.
Ato 3 – O argüidor assume e começa a sua análise crítica. O tempo de exposição varia
de acordo com o número de argüidores. Com papel e caneta (ou palm-top, blackberry...)
na mão, o graduando anota os questionamentos e considerações.
Ato 4 – Réplica do graduando, respondendo às interpelações, seguida de tréplica do
argüidor e, dependendo da intensidade do debate, da resposta do orientador. Apesar de
serem cronometradas, há alguma flexibilidade de tempo para essas intervenções.

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Ato 5 – Encerrados os debates, a banca se retira ou, como de hábito, solicita que o
graduando e a platéia deixem o ambiente, para as deliberações sobre a nota.
Ato 6 – Com a nota decidida, o orientador conclama ao público e ao graduando
que retornem à sala. Nesse instante, a adrenalina estará a mil. Ele pedirá a todos que se
levantem e, em seguida, anuncia se o aluno foi aprovado ou não, sua nota e, em casos
excepcionais, se haverá menção honrosa.
Ato 7 – Orientador, argüidor(es) e o novo graduado em Direito assinam a ata oficial da
sessão, constando a data e a nota atribuída!
Ato 8 – Festa! Festa!
Ato 9 – Currículo, entrevista, trabalho, trabalho, trabalho!

Três dicas para finalizar


• Para quem está iniciando a vida acadêmica – o “calouro” – segue um conselho
rápido: para acostumar-se aos segredos das Normas da ABNT, o ideal é treiná-
las desde o primeiro ano, já nos trabalhos das disciplinas. Não importa que
tenham uma ou dez páginas. Entregá-los dentro dos parâmetros habilitará o
futuro veterano para o grand finale: a monografia.
• Estude sobre os modelos de texto acadêmico. Aperfeiçoe as suas habilidades para
redigir ensaios, artigos e resenhas críticas. Assim como em todas as atividades,
profissionais ou não, na elaboração literária nada substitui a força de vontade e
o esmero.
• Ter senso de história e continuidade é importantíssimo. Ao elaborar um TCC
honesto, obedecendo as Normas da ABNT, o monografista perpetuará sua
contribuição científica e proporcionará uma posterior e eficaz consulta de
outros pesquisadores. E quem sabe ter a honra de constar nas “Referências
Bibliográficas” de próximas monografias!

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Bibliografia recomendada
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14724: informação e
documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
BRICMONT, Jean; SOKAL, Alan D. Imposturas intelectuais: o abuso da ciência pelos
filósofos pós-modernos. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 18. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
_______________. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
LEITE, Eduardo de Oliveira. Monografia jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
LOBÃO, Antonio Carlos A. É possível ser feliz fazendo uma monografia. São Paulo:
Hucitec, 2004.
MAGALHÃES, Gildo. Metodologia da pesquisa científica: caminhos da ciência e
tecnologia. São Paulo: Ática, 2005.
NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Manual de monografia jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
1999.
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo:
Cortez, 2002.
SOLOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 9. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.

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—  Minimanual de Monografia Jurídica  — Daniel Rodrigues Aurélio — Editora Rideel

Tabela de expressões em latim

Expressão Significado Aplicação


Ex.: (VALERY apud NOVAES,
apud Segundo; citado por.
2006)
Para referência a obras ou autores
Op. cit. Opus citum; citação anterior. citados na mesma página ou
capítulo.
Ex.: CHAUI, Marilena et al.
Mais de três autores de um texto,
Et al. Ou seja,
pesquisa ou obra.
CHAUI, Marilena e outros.
Cf. Conferência de fonte. Cf. Época, n. 418, jul. 2007.
Idem ou Id. Do mesmo autor. Id., 1992 p. 12.
Ibidem ou Do mesmo autor e na mesma
Ibid., 1992, p. 44
Ibid. obra.
Produzido, eleito ou escolhido João José foi escolhido como
Ad hoc.
para uma determinada situação. Reitor ad hoc.
Esta situação é presenciada ab
Ab ovo “Desde o ovo”; desde o início.
ovo.
Modo grosseiro; no sentido de
aproximação e/ ou simplificação Grosso modo, o direito de votar
Grosso modo de uma análise, teoria ou prática e ser votado é a essência da
cuja explicação seria mais democracia.
refinada e complexa.
A corrupção é, de juri, uma
De juri /   De Juri significa “pela lei”; de ilegalidade; de facto, ela está
De facto facto, “na prática”. presente em todos os níveis da
administração pública
Clodoaldo transcreveu, ipsis
Com as mesmas letras; literis, um excerto de um livro do
Ipsis literis
literalmente. Bobbio, sem citar a fonte. Que
plágio rasteiro!
O direito à ampla defesa é
“Sem o qual não pode ser”;
Sine qua non condição sine qua non para o
condição essencial.
adequado julgamento do réu.
“Mudando o que tem de ser
mudado”. No Direito, é usado
Mutatis E assim, mutatis mutandis, é
para designar uma sentença com
mutandis necessário...
novos termos ou que substitui sem
anular outras jurisprudências.

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Expressão Significado Aplicação


Infinitamente; algo que se
Ad infinitum E a tragédia se repete ad infinitum.
perpetua.
Aquele disco foi tocado ad
Ad nauseam Repetidamente.
nauseam.
Período entre a data da Pelas leis brasileiras, a vacatio
Vacatio legis publicação e a entrada em vigor legis tem prazo máximo de um
de uma lei. ano.
Compêndio ou obra de consulta.
Uma excelente opção é o Vade
Este nome é bastante usado nos
Vade mecum Mecum, recentemente lançado
livros-base das chamadas ciências
pela Editora Rideel.
jurídicas.
O modus operandis da corrupção
Modus
“Modo de Operação”. instalada no Congresso Nacional
operandis
consiste em...

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