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COLUNA
Mourão, o moderado
A volta dos generais ao poder no governo do capitão que vai virando o
bode na sala
ELIANE BRUM
O vice-presidente Hamilton Mourão acena ao deixar o Palácio do Planalto no dia 24 de janeiro ADRIANO MACHADO
(REUTERS)
O homem mediano
assume o poder
Hoje, ao final de um primeiro mês de governo com mais crises do que qualquer um dos
anteriores, o “mito” começa a ser desmitificado por parte dos mitômanos que o
elegeram, já recebe críticas pesadas dentro do seu partido e os descontentamentos no
núcleo duro do governo são perceptíveis. Mourão, que até então era conhecido como
uma língua solta e truculenta acima das quatro estrelas do peito, tornou-se, por
comparação, um exemplo de sensatez, diplomacia e bons modos. Com o bode na sala,
outros espécimes tornam-se subitamente aceitáveis.
O “faca na caveira” é elogiado por diplomatas como o embaixador da Alemanha, que diz
ter tido uma conversa “excelente” com Mourão, e manda afagos à imprensa pelo
Twitter, a mesma rede social em que a família Bolsonaro ataca os jornalistas, algo que
funcionou na campanha mas está dando sinais de esgotamento. Mourão, o gentleman,
tuitou em 23 de janeiro: “Quero agradecer a atenção e cumprimentar pela dedicação,
entusiasmo e espírito profissional a todos os jornalistas que me recebem na minha
chegada e de mim se despedem quando deixo o anexo da vice-presidência. Boas
matérias a todos!”.
Mourão melhorou? Não. Bolsonaro piorou? Não. O que acontece é que agora Bolsonaro
é o presidente. Era melhor ele "Jair se acostumando", mas Jair não se acostuma. Segue
acreditando que ainda está fazendo campanha e que continuará ganhando no grito das
redes sociais.
A série de tuítes que publicou após a divulgação de que o deputado federal eleito Jean
Wyllys (PSOL) deixaria o país por ter medo de ser morto é a expressão do
comportamento de Bolsonaro. Wyllys, o primeiro deputado declaradamente gay a
assumir uma cadeira no Congresso, iniciaria em fevereiro o terceiro mandato.
Recebendo ameaças de morte semanais, andava com escolta policial desde março de
2018, quando sua colega de partido, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, teve
a cabeça arrebentada a tiros, um crime até hoje não apurado e impune.
Duas horas depois da notícia de que deixava o Brasil, uma mensagem foi enviada a Jean
Wyllys: "Nossa dívida está paga. Não vamos mais atrás de você e sua família, como
prometido. Mesmo após quase dois anos, estamos aqui atrás de você e a polícia não
pôde fazer nada para nos parar".
“Fiasco” foi a palavra usada por uma colunista do jornal francês Le Monde, no Twitter,
para definir a participação do presidente do Brasil. Para ampliar o vexame, Bolsonaro, o
superministro da economia, Paulo Guedes, o superministro da Justiça, Sergio Moro, e o
superdelirante chanceler, Ernesto Araújo, não apareceram para a entrevista coletiva à
imprensa. Foram três explicações diferentes, nenhuma convenceu sobre o porquê do
desrespeito que chocou jornalistas e os organizadores do fórum. Desconfia-se, porém,
que Bolsonaro temia perguntas difíceis sobre o escândalo que ronda o primeiro filho e
alcança a conta bancária de sua mulher. Afinal, os jornalistas que cobriam Davos não
eram repórteres de estimação.
Bolsonaro, como presidente, é o que sempre foi, aquele tio que constrange as pessoas
na festa, porque tosco e sem noção. De esconder sua natureza, ninguém pode acusá-lo.
Ele sempre foi isso aí. Dava para fingir que era “mito” enquanto tudo ficava no nível de
torcida de futebol. Na presidência da República, porém, sua figura se desloca para outro
lugar.
Brasileiros que votaram em Bolsonaro pelas mais diversas razões, mas que não
perderam a capacidade de fazer sinapses, passam a enxergar Bolsonaro agora com
olhos de fora do gueto. O deslocamento de lugar, do palanque para o palácio, torna a
bolha ocular permeável. Não é por acaso que Bolsonaro tampouco consegue deixar o
discurso de candidato. Ele não sabe como ocupar o lugar de presidente. Também ele
acusa a dificuldade do deslocamento. Afinal, não era uma brincadeira. Não basta mais
arrotar bravatas. Do presidente as pessoas querem resultados na vida cotidiana. E não
querem ver o mundo rir do despreparo pelas suas costas.
Bolsonaro ocupa o cargo, está dado, já é. Vai para diante do mundo e faz um discurso de
garoto de escola que estuda pouco e não presta atenção às aulas. Mesmo quem fez
campanha contra tudo o que ele representa, torceu nesta hora para que algum assessor
tivesse feito o trabalho para o qual é pago. Porque agora é o Brasil. O vexame de
Bolsonaro é a vergonha de todos.
Se Bolsonaro quer se comportar como garoto de escola, que seja com o nível de
maturidade de Greta. É neste mundo que Bolsonaro passa a representar o Brasil. Não há
paciência para um presidente que não tem o que dizer e para um chanceler que afirma
que aquecimento global é um complô marxista. Como aponta Greta, os problemas do
mundo são grandes demais para que os adultos abdiquem da maturidade necessária a
uma época de crise climática, condenado jovens como a ela a ter um futuro muito ruim –
ou mesmo nenhum futuro.
É possível supor que homens com a vaidade de Paulo Guedes e Sergio Moro devam
sofrer um tanto por desfilar seus peitos de peru de Natal ao lado de Bolsonaro e sua
entourage, em salões internacionais onde gostariam de brilhar por seu verniz intelectual.
Mas se a questão fosse só a mediocridade, talvez fosse tolerável.
Como então explicar os depósitos na conta bancária do primeiro filho pelo ex-policial
militar Fabricio Queiroz, ex-assessor, ex-motorista e sempre amigo de Flávio Bolsonaro?
Como explicar os 40 mil reais na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro? Como
explicar o enriquecimento de Flávio Bolsonaro, incompatível com seus ganhos? Como
explicar que Flávio Bolsonaro pediu foro privilegiado ao Supremo Tribunal Federal – e
por enquanto levou, graças ao inacreditável (em vários sentidos) ministro Luiz Fux?
Como explicar o que todos os envolvidos têm feito tudo para não explicar?
Bolsonaro se atrapalha com os próprios pés. Não sabe se deve se comportar como
presidente do Brasil ou como pai de filho mimado. Possivelmente porque não há como
desfazer os nós desse novelo. Como quando disse ao jornal O Globo: “Não é justo atingir
o garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir. (...) Ao meu filho,
aquele abraço. Fé em Deus que tudo será esclarecido, com toda certeza”.
O “garoto” tem 37 anos, é senador eleito da República e foi deputado estadual do Rio de
Janeiro por quatro mandatos. Além de enriquecer rapidamente, o primeiro filho
desenvolveu o dom divino da onipresença, ao conseguir a façanha de estar em duas
cidades, dois estados, ao mesmo tempo. Como revelou a BBC News Brasil, entre 2000 e
2002 ele trabalhou em Brasília como assistente técnico de gabinete do PPB, partido de
Bolsonaro em seu terceiro mandato como deputado federal, um emprego de 40 horas
semanais. Ao mesmo tempo, cursava a faculdade de Direito na Universidade Cândido
Mendes e fazia um estágio na Defensoria Pública do Estado, no Rio de Janeiro.
Ao ser indagado pela jornalista do Washington Post Lally Weymouth sobre o escândalo
envolvendo seu filho, que teria “empregado pessoas com laços estreitos com membros
de gangues”, Bolsonaro quase deu piti : “Este não é um assunto de governo – ou da sua
conta – mas eu vou dar a minha opinião. Seu nome de família, Bolsonaro, é a razão. É
resultado de acusações políticas ao meu governo”. Neste momento, até mesmo
bolsonaristas fiéis começam a achar que as suspeitas que pairam sobre o primeiro filho
são da conta de todos os brasileiros, sim.
Até mesmo o guru do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho, anda se irritando por ser
chamado de guru do governo Bolsonaro. Quando um grupo de parlamentares do PSL foi
para a China, ele gravou um vídeo dizendo: “E eu sou guru dessa porcaria? Não sou guru
de merda nenhuma”.
Flávio Bolsonaro pode estar envolvido com a milícia Escritório do Crime, principal
suspeita do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson
Gomes. A mãe e a mulher do ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, um dos líderes da
milícia e hoje foragido, trabalhavam no seu gabinete. Como deputado estadual, Flavio
deu a Nóbrega a medalha Tiradentes, a maior honraria da Assembleia Legislativa do Rio.
Na ocasião, o então PM estava preso por um dos homicídios atribuídos a ele.
O presidente que, tão logo assumiu, liberou a posse de armas de fogo num país com
quase 64 mil assassinatos por ano tem um filho próximo das milícias que produzem
crimes. É interessante observar a diferença dos pesos e medidas: o filho de 37 anos,
senador eleito, seria um “garoto” vítima de uma campanha difamatória para atingir seu
governo, na versão do presidente do Brasil. Já para os filhos dos outros, a maioria
negros e pobres, os que de fato são garotos, a turma de Bolsonaro defende cadeia já.
Quando não pena de morte. Para o próprio filho, maioridade penal aumentada para,
quem sabe, 40 anos. Para os filhos dos outros, maioridade penal reduzida.
Queiroz é uma bomba-relógio bem no meio da mesa de pão com leite condensado e
copos de plástico da família Bolsonaro, aquela que apostou no marketing do gente como
a gente na campanha eleitoral. Mas quem quer agora ser gente como essa gente?
Pode, porém, ser um problema para Sergio Moro, que quer muito passar para a história
como o herói anticorrupção, o superjuiz da Lava Jato que “limpou” o Brasil. Moro pode
estar se perguntando como fará para não manchar sua capa no esgoto dos Bolsonaro.
Já não estava fácil conviver com ministros que veem Jesus em goiabeira e acusam a
esquerda de criminalizar o ar-condicionado. Mas o dedão do Queiroz na conta bancária
da primeira-dama é de outra ordem.
Quando Bolsonaro despontou como o possível vitorioso desta eleição, diferentes elites
se aproximaram dele com a certeza de que poderiam usar sua popularidade para chegar
ao poder – ou apenas para mantê-lo. Setores do Exército sabiam que ele era um capitão
que não respeitava hierarquia, um subordinado que já tinha se mostrado fora de
qualquer controle, o que determinou tanto sua saída das Forças Armadas quanto o início
de uma carreira de quase três décadas como deputado bufão. Mesmo assim, decidiram
arriscar.
Estavam errados? Depende do ponto de vista e dos objetivos. A operação que levou ao
poder um capitão reformado notável pelo despreparo, mas que se mostrou altamente
popular, é brilhante. Bolsonaro não representava as Forças Armadas. O que ele podia
representar, com quase 30 anos no baixo clero do Congresso, é o baixo clero do
Congresso. Mas Bolsonaro usou o Exército e foi usado por ele.
O terceiro filho, Eduardo Bolsonaro, não estava totalmente errado ao dizer que o pai se
colocaria além do risco de impeachment se tivesse como vice um general. Ele estava, ao
mesmo tempo, reconhecendo o trauma deixado pela ditadura e usando o trauma
deixado pela ditadura a favor da família. Aparentemente, seria muito difícil um general
se eleger presidente pelo voto num país que amargou 21 anos de um regime de exceção
comandado por uma sequência de generais. Aparentemente, seria difícil que os
brasileiros desejassem que um vice que também é general passasse a ocupar o posto
máximo da República. Aparentemente, Mourão usaria sua proximidade com as forças
armadas para proteger o mandato de ambos.
Ao apoiar a eleição de Bolsonaro, os generais conseguiram uma
façanha como estrategistas políticos
O número de militares no governo cresce a cada dia. É um grande poder não apenas de
influência, mas de ação, com “uma força econômica que ultrapassa as centenas de
bilhões de reais”. O que falta para ser um governo militar? Esta é uma pergunta que não
tem resposta fácil, mas cuja resposta já está sendo construída.
Até mesmo o escândalo da promoção do filho do vice, que numa canetada teve o salário
elevado de 14 mil para 36.500 reais, desidratou diante das suspeitas que pesam sobre o
filho do presidente. Afinal, nesta disputa inglória, o que é uma promoção de um
funcionário de carreira do Banco do Brasil comparada à suspeita de corrupção e
envolvimento com milícias? Este é o tipo de escolha que o Brasil precisou fazer no
primeiro mês do governo.
Não é de hoje que Mourão desautoriza Bolsonaro, tratando-o como o garoto que ele
parece ser. Como quando disse à jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo: “Não
podemos nos descuidar do relacionamento com a China (...) Aquilo (a declaração de que
a China está tentando comprar o Brasil) é mais uma retórica de campanha, né? Com as
redes sociais, muita coisa flui e não é a realidade. Uma briga com a China não é uma boa
briga, certo?”. Ou: “Não resta dúvida de que existe aquecimento global, não acho que
seja uma trama marxista”.
Diante do anúncio de Jean Wyllys de que não assumiria o mandato para o qual foi eleito
e deixaria o país para não ser morto, Mourão soou mais moderado na imprensa. Mas
comparado a quem? Ao presidente que faz molecagens no Twitter.
A declaração que mais demanda atenção é: “Temos que aguardar quais são essas
ameaças, porque ele falou de forma genérica. Se ele está ameaçado tem de dizer por
quem e como. Não estou na chuteira do Jean Wyllys. Ele que sabe qual é o grau de
confusão que ele está metido”.
Primeiro: quem tem que investigar e descobrir os culpados é a Polícia Federal. Segundo:
não há nada de “genérico” nas denúncias que foram feitas por Jean Wyllys e que
geraram uma medida cautelar da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos, determinando que o Estado brasileiro garantisse
a proteção do deputado e de sua família. As ameaças de morte contra o deputado tanto
não são genéricas que o ministério da Justiça de Sergio Moro se apressou a dizer que a
Polícia Federal estava investigando e que já tinha prendido pelo menos um dos
responsáveis. Terceiro: a frase sobre “o grau de confusão que ele está metido”
claramente busca culpar a vítima. Ameaça de morte não é “grau de confusão”. É ameaça
de morte, é crime.
Mourão se moderou, mas ainda sofre de incontinência verbal, afinal não se muda de uma
hora para outra os hábitos de uma vida inteira. O vice que já assumiu duas vezes a
presidência no primeiro mês de governo é como o escorpião da fábula: quase chega à
outra margem do rio, mas não consegue deixar de picar o sapo que o transporta. Um
problema, possivelmente, para o grupo de generais no poder.
Por enquanto, porém, Mourão tem encarnado o adulto na sala. É o pai do garoto. Que,
por sua vez, é pai de outro garoto, o amigo e ex-empregador do Queiroz. Este, por sua
vez, não é garoto – e sim a primeira sombra do governo de Bolsonaro. E que sombra.
Todos ganham com a imprensa fazendo bem o seu trabalho. É preciso continuar
prestando atenção no jogo pesado que se faz por cima, no andar dos donos do poder.
Bolsonaro se tornou impossível de engolir, porque entrou em confronto direto com parte
das famílias proprietárias dos grandes meios de comunicação. Mas isso sempre pode
ser alterado. Pesa contra ele, porém, sua imprevisibilidade, já que ele costuma mudar de
ideia e descumprir os acordos. Por outro lado, esses mesmos proprietários cultivam
boas relações jamais perdidas com a cúpula militar. Os próximos dias mostrarão quem
faz bom jornalismo sempre, e não só conforme a ocasião.
Quando fez o seu vaticínio, o terceiro filho não poderia saber que efeito Bolsonaro teria
no poder. Feito à imagem e semelhança do pai, o filho se olha no espelho e também se
acha o máximo. Circula apenas pelas bolhas e todos dizem que sua família é incrível. A
realidade vem mostrando que, diante de um Bolsonaro ameaçado pelo escândalo da
corrupção e do envolvimento com a milícia suspeita de assassinar Marielle, o vice “faca
na caveira” pode assustar menos. Muito menos. O vice “faca na caveira” vem se
tornando uma referência de autoridade, confiança e equilíbrio, objetivo claro de todos os
movimentos de Mourão num jogo que o clã Bolsonaro tem a ilusão de dominar, mas só
conhece meia dúzia de estratégias.
O Bolsonaro fanfarrão pode ser tolerado. Alguns dos grupos que sustentam seu governo
acreditaram, em minha opinião com excesso de otimismo, que poderiam manipular e
controlar o cabeça de chapa. Mas o Bolsonaro que pode estar envolvido com corrupção
e tem um filho próximo às milícias assassinas do Rio de Janeiro é muito mais
complicado. Começa a ficar constrangedor e impossível de justificar. Conforme o
desenrolar dos fatos, o barulho do ralo pode ameaçar o projeto de poder. Já não há
como voltar atrás: os militares foram fundo, já se tornaram fiadores do atual governo.
O que fazer então com Bolsonaro, este que chega ao final do primeiro mês com a
popularidade começando a desidratar? O que era o plano de alguns, mantê-lo com a
faixa e como fachada, afinal ele é o “mito”, mas sob controle, pode deixar de ser uma
alternativa viável se as investigações descobrirem mais esqueletos no armário dos
Bolsonaro. Conforme a apuração tanto da corrupção quanto do assassinato de Marielle,
um impeachment pode ser inevitável, como alguns articulistas já apontaram. Mas é
traumático demais e muitos tentarão evitar o segundo afastamento de um presidente
eleito na sequência, o terceiro desde a redemocratização. Há outras possibilidades,
entre elas o afastamento por problemas de saúde, por exemplo. Tudo depende do que
as investigações vão revelar nas próximas semanas e meses.
Bolsonaro já sentiu na nuca o bafo de Mourão, tanto que decidiu despachar, pelo menos
oficialmente, da cama do hospital onde se recupera de uma cirurgia. Afinal, em pouco
mais de três décadas o Brasil já teve três vices assumindo o poder – um por morte do
titular, os outros dois por impeachment. Até Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro,
anda nervoso. Fez um vídeo desancando Mourão. Sem seu adorador, o guru perde o
prestígio recém adquirido. Os constrangedores ministros que indicou – e emplacou –
também podem virar passado.
O que os militares querem? Muito. Talvez o que mais queiram seja mudar o passado na
marra e reescrever seu papel na história do Brasil, como já ficou claro. Penso que
também queiram escrever um futuro que redima a imagem que desejam de todo jeito
apagar. Já começam a aparecer como heróis, como repositório de confiança num
governo povoado por delirantes, no sentido estrito da palavra, e/ou oportunistas.
Não é aconselhável tentar prever o futuro, só é possível ler os sinais do presente. O fato
mais revelador do primeiro mês do governo militarizado de ultradireita é: o parlamentar
que cuspiu em Bolsonaro quando ele homenageou Ustra, um torturador da ditadura que
levava crianças pequenas para ver os pais torturados, foi obrigado a deixar o Brasil para
não ser assassinado.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o
Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e
do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:
@brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum
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