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OPINIÃO

COLUNA

Mourão, o moderado
A volta dos generais ao poder no governo do capitão que vai virando o
bode na sala
ELIANE BRUM

30 JAN 2019 - 17:26 BRST

O vice-presidente Hamilton Mourão acena ao deixar o Palácio do Planalto no dia 24 de janeiro ADRIANO MACHADO
(REUTERS)

Em agosto de 2018, Eduardo Bolsonaro disse à Folha de S. Paulo:


LEIA MAIS ARTIGOS
DE ELIANE BRUM › “Sempre aconselhei o meu pai: tem que botar um cara faca na
O chanceler quer caveira pra ser vice. Tem que ser alguém que não compense correr
apagar a história do
atrás de um impeachment”. Depois de várias tentativas fracassadas,
Brasil
Jair Bolsonaro acabou escolhendo o general da reserva Hamilton
Mourão para ser seu vice na chapa que acabou vitoriosa. Ele atendia
ao requisito exposto pelo terceiro filho, o de proteger o presidente, a
partir da sombra das Forças Armadas.

O homem mediano
assume o poder

A esquerda que não


sabe quem é
Por um lado, um país que viveu 21 anos de ditadura militar, no qual centenas foram
sequestrados, torturados e mortos, deveria ter resistência à volta de um general no
comando da nação. Até então, os defensores do retorno da ditadura militar formavam
um grupo minoritário, meio amalucado e sempre apontado nos movimentos da “nova
direita”, na Avenida Paulista, epicentro das manifestações de rua no Brasil. Por outro
lado, o vice estaria sintonizado com os quartéis para garantir a presidência, muito mais
do que um capitão que chegou a ser preso por indisciplina e que, nas últimas três
décadas, tornou-se político profissional. O vice “faca na bota” seria um seguro anti-
impeachment para Bolsonaro.

Hoje, ao final de um primeiro mês de governo com mais crises do que qualquer um dos
anteriores, o “mito” começa a ser desmitificado por parte dos mitômanos que o
elegeram, já recebe críticas pesadas dentro do seu partido e os descontentamentos no
núcleo duro do governo são perceptíveis. Mourão, que até então era conhecido como
uma língua solta e truculenta acima das quatro estrelas do peito, tornou-se, por
comparação, um exemplo de sensatez, diplomacia e bons modos. Com o bode na sala,
outros espécimes tornam-se subitamente aceitáveis.

O “faca na caveira” é elogiado por diplomatas como o embaixador da Alemanha, que diz
ter tido uma conversa “excelente” com Mourão, e manda afagos à imprensa pelo
Twitter, a mesma rede social em que a família Bolsonaro ataca os jornalistas, algo que
funcionou na campanha mas está dando sinais de esgotamento. Mourão, o gentleman,
tuitou em 23 de janeiro: “Quero agradecer a atenção e cumprimentar pela dedicação,
entusiasmo e espírito profissional a todos os jornalistas que me recebem na minha
chegada e de mim se despedem quando deixo o anexo da vice-presidência. Boas
matérias a todos!”.

Tudo é uma questão de referência. E, quando a referência é Bolsonaro, é fácil um


Mourão soar moderado. Em caso de naufrágio, qualquer tábua de pinho vira navio.

Era melhor ele “Jair se acostumando”, mas Jair não se acostuma

Mourão melhorou? Não. Bolsonaro piorou? Não. O que acontece é que agora Bolsonaro
é o presidente. Era melhor ele "Jair se acostumando", mas Jair não se acostuma. Segue
acreditando que ainda está fazendo campanha e que continuará ganhando no grito das
redes sociais.

A série de tuítes que publicou após a divulgação de que o deputado federal eleito Jean
Wyllys (PSOL) deixaria o país por ter medo de ser morto é a expressão do
comportamento de Bolsonaro. Wyllys, o primeiro deputado declaradamente gay a
assumir uma cadeira no Congresso, iniciaria em fevereiro o terceiro mandato.
Recebendo ameaças de morte semanais, andava com escolta policial desde março de
2018, quando sua colega de partido, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, teve
a cabeça arrebentada a tiros, um crime até hoje não apurado e impune.

Entre as ameaças que o parlamentar recebeu, estavam as seguintes, conforme divulgou


o jornal O Globo: “Vou te matar com explosivos", "já pensou em ver seus familiares
estuprados e sem cabeça?", "vou quebrar seu pescoço", "aquelas câmeras de segurança
que você colocou não fazem diferença". E esta: “Vamos sequestrar a sua mãe, estuprá-
la, e vamos desmembrá-la em vários pedaços que vamos te enviar pelo Correio pelos
próximos meses. Matar você seria um presente, pois aliviaria a sua existência tão
medíocre. Por isso vamos pegar sua mãe, aí você vai sofrer”.

Duas horas depois da notícia de que deixava o Brasil, uma mensagem foi enviada a Jean
Wyllys: "Nossa dívida está paga. Não vamos mais atrás de você e sua família, como
prometido. Mesmo após quase dois anos, estamos aqui atrás de você e a polícia não
pôde fazer nada para nos parar".

O que deveria fazer o presidente de um país em que um parlamentar é obrigado a


abdicar do mandato para salvar a vida? Certamente não mandar uma série de tuítes,
começando por “Grande dia!”, seguido por um sinal de positivo. Depois, claro, Bolsonaro
disse que se referia ao cumprimento de sua “missão” no Fórum Econômico Mundial de
Davos, na Suíça.

Bolsonaro tinha 45 minutos para falar sobre o Brasil, mas só usou


seis: “grande fracasso”, definiu um dos principais jornais do mundo
Também no nível escolar (ruim) foi o seu discurso em Davos. Tinha 45 minutos
disponíveis para falar sobre seu projeto para o Brasil para uma plateia internacional
altamente qualificada e influente. Só ocupou seis minutos e meio. Aparentemente não
tinha o que dizer. Diante do público de Davos, sua apresentação foi um “big fail” (grande
fracasso), como definiu o jornal americano Washington Post. No púlpito, o presidente do
Brasil soava como um estudante medíocre de colégio, apresentando um trabalho
copiado de um colega, porque nem convicção havia. As frases não se conectavam umas
com as outras.

“Fiasco” foi a palavra usada por uma colunista do jornal francês Le Monde, no Twitter,
para definir a participação do presidente do Brasil. Para ampliar o vexame, Bolsonaro, o
superministro da economia, Paulo Guedes, o superministro da Justiça, Sergio Moro, e o
superdelirante chanceler, Ernesto Araújo, não apareceram para a entrevista coletiva à
imprensa. Foram três explicações diferentes, nenhuma convenceu sobre o porquê do
desrespeito que chocou jornalistas e os organizadores do fórum. Desconfia-se, porém,
que Bolsonaro temia perguntas difíceis sobre o escândalo que ronda o primeiro filho e
alcança a conta bancária de sua mulher. Afinal, os jornalistas que cobriam Davos não
eram repórteres de estimação.

Bolsonaro, como presidente, é o que sempre foi, aquele tio que constrange as pessoas
na festa, porque tosco e sem noção. De esconder sua natureza, ninguém pode acusá-lo.
Ele sempre foi isso aí. Dava para fingir que era “mito” enquanto tudo ficava no nível de
torcida de futebol. Na presidência da República, porém, sua figura se desloca para outro
lugar.

Não é mais Bolsonaro, “o mito”; também não é Bolsonaro, “o coiso”. É a presidência da


República, lugar com mística própria, ocupada pela mediocridade. E a mediocridade é
perigosa. Os olhos de parte do mundo, como em Davos, percebem e se horrorizam. "Ele
me dá medo”, disse Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia e professor na
Universidade de Yale, depois de ouvi-lo. “O Brasil é um grande país. Merece alguém
melhor."

Brasileiros que votaram em Bolsonaro pelas mais diversas razões, mas que não
perderam a capacidade de fazer sinapses, passam a enxergar Bolsonaro agora com
olhos de fora do gueto. O deslocamento de lugar, do palanque para o palácio, torna a
bolha ocular permeável. Não é por acaso que Bolsonaro tampouco consegue deixar o
discurso de candidato. Ele não sabe como ocupar o lugar de presidente. Também ele
acusa a dificuldade do deslocamento. Afinal, não era uma brincadeira. Não basta mais
arrotar bravatas. Do presidente as pessoas querem resultados na vida cotidiana. E não
querem ver o mundo rir do despreparo pelas suas costas.

A divulgação da imagem de Bolsonaro almoçando no bandejão de Davos foi uma


tentativa de candidato em campanha, de forjar a identificação, mas foi ofuscada pelo
desempenho real do presidente eleito. O mundo não está gritando “mito!”, “mito!”. O
mundo está perplexo com o vazio de Bolsonaro, o medíocre, liderando um país com o
tamanho do Brasil e a maior porção da floresta amazônica em seu território.

Bolsonaro ocupa o cargo, está dado, já é. Vai para diante do mundo e faz um discurso de
garoto de escola que estuda pouco e não presta atenção às aulas. Mesmo quem fez
campanha contra tudo o que ele representa, torceu nesta hora para que algum assessor
tivesse feito o trabalho para o qual é pago. Porque agora é o Brasil. O vexame de
Bolsonaro é a vergonha de todos.

Neste mundo em que Bolsonaro é presidente do Brasil há garotas de escola como a


sueca Greta Thunberg, de 15 anos, que no fim de agosto iniciou uma greve pelo clima.
Deixou de ir às aulas e postou-se diante do parlamento, em Estocolmo, para protestar
dia após dia contra a incompetência e a omissão dos políticos no enfrentamento da crise
climática. Desde então, Greta inspira jovens e protestos estudantis em diversas partes
do planeta.

Convidada a discursar na Cúpula Mundial do Clima, na Polônia, Greta, uma trança de


cada lado do rosto redondo, fez uma fala que se tornou viral pela inteligência. Terminou
com o seguinte recado à plateia sênior e ilustre: “Viemos até aqui para informar (aos
líderes mundiais) que a mudança está a caminho, queiram eles ou não. As pessoas se
unirão a este desafio. E já que nossos líderes se comportam como crianças, teremos que
assumir a responsabilidade que eles deveriam ter assumido há muito tempo”.

Se Bolsonaro quer se comportar como garoto de escola, que seja com o nível de
maturidade de Greta. É neste mundo que Bolsonaro passa a representar o Brasil. Não há
paciência para um presidente que não tem o que dizer e para um chanceler que afirma
que aquecimento global é um complô marxista. Como aponta Greta, os problemas do
mundo são grandes demais para que os adultos abdiquem da maturidade necessária a
uma época de crise climática, condenado jovens como a ela a ter um futuro muito ruim –
ou mesmo nenhum futuro.

Homens como Paulo Guedes e Sergio Moro podem sofrer um tanto


por desfilar seus peitos de peru de Natal ao lado de Bolsonaro

É possível supor que homens com a vaidade de Paulo Guedes e Sergio Moro devam
sofrer um tanto por desfilar seus peitos de peru de Natal ao lado de Bolsonaro e sua
entourage, em salões internacionais onde gostariam de brilhar por seu verniz intelectual.
Mas se a questão fosse só a mediocridade, talvez fosse tolerável.

O problema é que o primeiro mês de governo acaba, e é só o primeiro mês de governo,


com evidências contundentes de que a família Bolsonaro – e não apenas o primeiro filho,
Flávio Bolsonaro – pode estar envolvida em corrupção. E corrupção foi a grande
bandeira que moveu as massas nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff e no
apoio à candidatura Bolsonaro.

Como então explicar os depósitos na conta bancária do primeiro filho pelo ex-policial
militar Fabricio Queiroz, ex-assessor, ex-motorista e sempre amigo de Flávio Bolsonaro?
Como explicar os 40 mil reais na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro? Como
explicar o enriquecimento de Flávio Bolsonaro, incompatível com seus ganhos? Como
explicar que Flávio Bolsonaro pediu foro privilegiado ao Supremo Tribunal Federal – e
por enquanto levou, graças ao inacreditável (em vários sentidos) ministro Luiz Fux?
Como explicar o que todos os envolvidos têm feito tudo para não explicar?

Bolsonaro se atrapalha com os próprios pés. Não sabe se deve se comportar como
presidente do Brasil ou como pai de filho mimado. Possivelmente porque não há como
desfazer os nós desse novelo. Como quando disse ao jornal O Globo: “Não é justo atingir
o garoto, fazer o que estão fazendo com ele, para tentar me atingir. (...) Ao meu filho,
aquele abraço. Fé em Deus que tudo será esclarecido, com toda certeza”.

O “garoto” tem 37 anos, é senador eleito da República e foi deputado estadual do Rio de
Janeiro por quatro mandatos. Além de enriquecer rapidamente, o primeiro filho
desenvolveu o dom divino da onipresença, ao conseguir a façanha de estar em duas
cidades, dois estados, ao mesmo tempo. Como revelou a BBC News Brasil, entre 2000 e
2002 ele trabalhou em Brasília como assistente técnico de gabinete do PPB, partido de
Bolsonaro em seu terceiro mandato como deputado federal, um emprego de 40 horas
semanais. Ao mesmo tempo, cursava a faculdade de Direito na Universidade Cândido
Mendes e fazia um estágio na Defensoria Pública do Estado, no Rio de Janeiro.

Ao ser indagado pela jornalista do Washington Post Lally Weymouth sobre o escândalo
envolvendo seu filho, que teria “empregado pessoas com laços estreitos com membros
de gangues”, Bolsonaro quase deu piti : “Este não é um assunto de governo – ou da sua
conta – mas eu vou dar a minha opinião. Seu nome de família, Bolsonaro, é a razão. É
resultado de acusações políticas ao meu governo”. Neste momento, até mesmo
bolsonaristas fiéis começam a achar que as suspeitas que pairam sobre o primeiro filho
são da conta de todos os brasileiros, sim.

Aliados estratégicos como o MBL e Janaína Paschoal começam a


afastar o corpinho

Aliados estratégicos tanto no impeachment de Dilma Rousseff quanto no apoio à


campanha de Bolsonaro começam a afastar o corpinho para o lado, a exemplo do
Movimento Brasil Livre (MBL), que só tem compromisso com seu próprio projeto de
poder. E como a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL), uma das autoras do pedido
de impeachment que acabou afastando Rousseff, eleita por São Paulo com dois milhões
de votos. Não há espaço para bobos nesse jogo pesado.

“Não sou guru dessa porcaria”, diz o guru

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Janaina Paschoal afirmou: "(Flavio


Bolsonaro) tem todo o direito à defesa, a entrar com todas as medidas, mas me parece
complicado ver uma reação parecida com a que foi a do Aécio (Neves), e com a que é a
do Lula até hoje”. E, em outro trecho: “O sigilo sobre a investigação não pode haver.
Vamos imaginar que haja alguma coisa errada com o senador. Se isso tivesse aparecido
antes da eleição, ele provavelmente não teria sido eleito". Paschoal contou também que
seu pai perguntou a ela se continuaria no PSL após essas denúncias. Ela está
pesquisando a legislação para ver se é possível deixar o partido sem perder o mandato.

Até mesmo o guru do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho, anda se irritando por ser
chamado de guru do governo Bolsonaro. Quando um grupo de parlamentares do PSL foi
para a China, ele gravou um vídeo dizendo: “E eu sou guru dessa porcaria? Não sou guru
de merda nenhuma”.

Um escândalo de corrupção no primeiro mês de qualquer governo é um problema. Um


escândalo de corrupção no primeiro mês de um governo que apoiou sua plataforma no
discurso fácil da anticorrupção é um pesadelo. As suspeitas, porém, vão muito além da
corrupção. Elas alcançam o crime. E não qualquer crime, mas um crime de repercussão
internacional: o assassinato de Marielle Franco, uma vereadora negra, lésbica e
moradora da Maré, ocorrido há quase 11 meses sem que a polícia tenha concluído a
apuração. Quando 2018 terminou, as autoridades responsáveis chegaram ao fundo do
buraco sem fundo: tentavam apurar porque não conseguiam apurar o crime. Hoje,
finalmente, a investigação começa a avançar. E chega bem perto da família do
presidente.

Flávio Bolsonaro pode estar envolvido com a milícia Escritório do Crime, principal
suspeita do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson
Gomes. A mãe e a mulher do ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, um dos líderes da
milícia e hoje foragido, trabalhavam no seu gabinete. Como deputado estadual, Flavio
deu a Nóbrega a medalha Tiradentes, a maior honraria da Assembleia Legislativa do Rio.
Na ocasião, o então PM estava preso por um dos homicídios atribuídos a ele.

As milícias cariocas são organizações criminosas formadas majoritariamente por


agentes do Estado ligados às forças de segurança, como policiais civis e militares,
bombeiros, agentes penitenciários e integrantes do Exército. Os vários episódios em que
Flavio apoiou e protegeu esses criminosos que extorquem e aterrorizam as
comunidades pobres, assim como matam por encomenda, são agora lembrados. As
conexões tornam-se mais explícitas à luz dos novos fatos.
Dois pesos, duas medidas: o filho de 37 anos, que pode estar
envolvido com milícias e corrupção, é “garoto”; já para os garotos
dos pobres têm que reduzir a maioridade penal já

O presidente que, tão logo assumiu, liberou a posse de armas de fogo num país com
quase 64 mil assassinatos por ano tem um filho próximo das milícias que produzem
crimes. É interessante observar a diferença dos pesos e medidas: o filho de 37 anos,
senador eleito, seria um “garoto” vítima de uma campanha difamatória para atingir seu
governo, na versão do presidente do Brasil. Já para os filhos dos outros, a maioria
negros e pobres, os que de fato são garotos, a turma de Bolsonaro defende cadeia já.
Quando não pena de morte. Para o próprio filho, maioridade penal aumentada para,
quem sabe, 40 anos. Para os filhos dos outros, maioridade penal reduzida.

Queiroz é uma bomba-relógio bem no meio da mesa de pão com leite condensado e
copos de plástico da família Bolsonaro, aquela que apostou no marketing do gente como
a gente na campanha eleitoral. Mas quem quer agora ser gente como essa gente?

Flávio Bolsonaro (à esq.) e Fabrício Queiroz REPRODUÇÃO

Apenas no primeiro mês de governo, a família Bolsonaro aparece envolvida com


corrupção e próxima à milícia suspeita de ter assassinado uma das mais atuantes
vereadoras de esquerda da nova geração de parlamentares. O que virá nos próximos
meses ou nos próximos quatro anos? A pergunta não assombra apenas os opositores,
começa a tirar o sono dos aliados.
Este pode não ser um problema para Paulo Guedes, já que os chamados Chicago Boys
não tiveram dilemas morais ou éticos para comandar a economia na ditadura de
Augusto Pinochet, entre os anos de 1973 e 1990, no Chile. Lá implantaram um programa
extremista neoliberal só possível num regime de exceção, que não precisa convencer a
sociedade ou negociar com ela, apenas impor medidas pelo caminho autoritário.

Pode, porém, ser um problema para Sergio Moro, que quer muito passar para a história
como o herói anticorrupção, o superjuiz da Lava Jato que “limpou” o Brasil. Moro pode
estar se perguntando como fará para não manchar sua capa no esgoto dos Bolsonaro.
Já não estava fácil conviver com ministros que veem Jesus em goiabeira e acusam a
esquerda de criminalizar o ar-condicionado. Mas o dedão do Queiroz na conta bancária
da primeira-dama é de outra ordem.

Quando Bolsonaro despontou como o possível vitorioso desta eleição, diferentes elites
se aproximaram dele com a certeza de que poderiam usar sua popularidade para chegar
ao poder – ou apenas para mantê-lo. Setores do Exército sabiam que ele era um capitão
que não respeitava hierarquia, um subordinado que já tinha se mostrado fora de
qualquer controle, o que determinou tanto sua saída das Forças Armadas quanto o início
de uma carreira de quase três décadas como deputado bufão. Mesmo assim, decidiram
arriscar.

Estavam errados? Depende do ponto de vista e dos objetivos. A operação que levou ao
poder um capitão reformado notável pelo despreparo, mas que se mostrou altamente
popular, é brilhante. Bolsonaro não representava as Forças Armadas. O que ele podia
representar, com quase 30 anos no baixo clero do Congresso, é o baixo clero do
Congresso. Mas Bolsonaro usou o Exército e foi usado por ele.

O terceiro filho, Eduardo Bolsonaro, não estava totalmente errado ao dizer que o pai se
colocaria além do risco de impeachment se tivesse como vice um general. Ele estava, ao
mesmo tempo, reconhecendo o trauma deixado pela ditadura e usando o trauma
deixado pela ditadura a favor da família. Aparentemente, seria muito difícil um general
se eleger presidente pelo voto num país que amargou 21 anos de um regime de exceção
comandado por uma sequência de generais. Aparentemente, seria difícil que os
brasileiros desejassem que um vice que também é general passasse a ocupar o posto
máximo da República. Aparentemente, Mourão usaria sua proximidade com as forças
armadas para proteger o mandato de ambos.
Ao apoiar a eleição de Bolsonaro, os generais conseguiram uma
façanha como estrategistas políticos

Ao apoiar a eleição de Bolsonaro, os generais da ativa e da reserva conseguiram uma


façanha como estrategistas políticos. A composição do governo Bolsonaro é complexa.
Mas, de tudo o que é, este é um governo militarizado: o vice-presidente é general da
reserva, o porta-voz é um general da ativa e sete ministros são militares, o equivalente a
um terço do ministério. Segundo o jornalista Rubens Valente, em reportagem da Folha
de S. Paulo de 20 de janeiro, já passam de 45 os militares nomeados ou prestes a serem
nomeados em 21 áreas do governo, “da assessoria da presidência da Caixa Econômica
ao gabinete do Ministério da Educação; da diretoria-geral da hidrelétrica Itaipu à
presidência do conselho de administração da Petrobras”.

O número de militares no governo cresce a cada dia. É um grande poder não apenas de
influência, mas de ação, com “uma força econômica que ultrapassa as centenas de
bilhões de reais”. O que falta para ser um governo militar? Esta é uma pergunta que não
tem resposta fácil, mas cuja resposta já está sendo construída.

As Forças Armadas devem a Bolsonaro a volta dos militares ao


poder na democracia

As Forças Armadas, e especialmente o Exército, consumaram a proeza de voltar ao


poder na democracia. Devem isso a Bolsonaro. O então deputado, com sua estridência e
histrionismo, prestou vários serviços às fardas. O Brasil não lidou com o seu passado. Os
sequestradores, torturadores e assassinos a serviço do Estado no período da ditadura
militar (1964-85) nunca foram punidos, como foram exemplarmente em países vizinhos,
caso da Argentina e do Chile. A operação de apagamento da memória teve um custo alto
para o Brasil e é um dos principais fatores que levaram o país à situação atual, como já
escrevi neste espaço mais de uma vez.
Até mesmo o tímido esforço que foi feito, no governo de Dilma Rousseff (PT), para
esclarecer os crimes do período de exceção, incomodou a cúpula militar. Ainda hoje há
mais de 200 desaparecidos pelo regime. Suas famílias estão condenadas a viver sem
conseguir enterrar seus mortos e fazer o luto. Mesmo assim, os generais detestaram a
Comissão Nacional da Verdade, que apontou mais de 300 agentes do Estado envolvidos
com sequestros, torturas e assassinatos. E olharam com muita preocupação para as
pressões de vários atores da sociedade civil para revisar a Lei da Anistia no Supremo
Tribunal Federal.

Ao homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais sádicos


torturadores e assassinos da ditadura, em seu voto pelo impeachment de Dilma
Rousseff, Jair Bolsonaro presta um grande serviço à revisão da história que uma parcela
dos militares de alta patente tanto desejam. Tinha que ser alguém fora de controle para
homenagear um torturador no impeachment de uma presidente que foi torturada pelo
regime de exceção e, assim, romper a barreira do que os ultradireitistas chamam
erroneamente de “politicamente correto”. O descontrole que levou Bolsonaro a deixar
as forças armadas e iniciar a carreira política, neste novo momento do país passara a se
tornar útil para alguns peitos estrelados. Sempre é preciso um fanfarrão sem escrúpulos
para que os moderados possam continuar polindo as suas espadas.

A eleição de Bolsonaro significou a chance de mudar a história. E uma parcela dos


militares de alta patente quer muito mudar a história. Ou evitar que ela seja finalmente
passada a limpo.

Em 2017, o atual vice-presidente, Hamilton Mourão, defendeu um golpe militar caso o


judiciário não punisse os corruptos: ou o judiciário punia os corruptos do país “ou então
nós (do Exército) teremos que impor isso”. Antes, em 2015, já havia perdido o
prestigioso comando das forças militares do sul pela soltura da língua, ao afirmar numa
palestra que a substituição da presidenta Dilma Rousseff teria como vantagem “o
descarte da incompetência, má gestão e corrupção”. No início de 2018, Mourão foi para
a reserva.

Mourão, o recém convertido ao evangelho da moderação, ocupa


hoje o único cargo em que não pode ser demitido por Bolsonaro
Vejam só onde está agora: no único cargo em que não pode ser demitido por Bolsonaro,
porque também foi eleito. Mourão, o que afirmou à Globo News admitir o “autogolpe”
com “o emprego das Forças Armadas”, em caso de “anarquia”. Mourão, aquele que
defendeu uma constituinte sem participação popular, feita por uma “comissão de
notáveis”. Mourão, o que chamou os africanos de “malandros” e os indígenas de
“indolentes”. Mourão, o que disse que as famílias chefiadas por mães e avós nas
comunidades pobres eram “uma fábrica de desajustados”. Mourão, aquele que chamou
o décimo-terceiro salário de “jabuticaba nacional”. Mourão, que também admira o
torturador Ustra, a quem justificou os atos criminosos com a seguinte frase: “Heróis
matam”.

Este homem despontou no primeiro mês de governo como Mourão, o moderado. Ou


Mourão, o sensato. Ou ainda Mourão, o gentil. Não apenas porque Bolsonaro vai se
tornando rapidamente um bode com odor cada vez mais forte numa sala que se tornou
apertada pelo acúmulo de fardas e estrelas no peito, mas também porque Mourão tem
se esforçado bastante para poder convencer o Brasil da autenticidade do seu novo
papel.

Até mesmo o escândalo da promoção do filho do vice, que numa canetada teve o salário
elevado de 14 mil para 36.500 reais, desidratou diante das suspeitas que pesam sobre o
filho do presidente. Afinal, nesta disputa inglória, o que é uma promoção de um
funcionário de carreira do Banco do Brasil comparada à suspeita de corrupção e
envolvimento com milícias? Este é o tipo de escolha que o Brasil precisou fazer no
primeiro mês do governo.

Não é de hoje que Mourão desautoriza Bolsonaro, tratando-o como o garoto que ele
parece ser. Como quando disse à jornalista Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo: “Não
podemos nos descuidar do relacionamento com a China (...) Aquilo (a declaração de que
a China está tentando comprar o Brasil) é mais uma retórica de campanha, né? Com as
redes sociais, muita coisa flui e não é a realidade. Uma briga com a China não é uma boa
briga, certo?”. Ou: “Não resta dúvida de que existe aquecimento global, não acho que
seja uma trama marxista”.

Na segunda-feira (28/1), encontrou-se com o embaixador da Palestina e botou em


dúvida a várias vezes anunciada transferência da embaixada do Brasil em Israel, de Tel
Aviv para Jerusalém, uma promessa de Bolsonaro aos evangélicos neopentecostais que
veem a cidade como o futuro palco do Armageddon. “O Estado brasileiro, por enquanto,
não está pensando em nenhuma mudança da embaixada”, afirmou no dia em que
Bolsonaro fez sua terceira cirurgia após o atentado a faca sofrido durante a campanha
eleitoral.

Enquanto sorri e distribui fofoletices, Mourão acaba, na prática,


com a Lei de Acesso à Informação

Enquanto sorri para embaixadores e empresários e manda recados amistosos para a


imprensa pelo Twitter, Mourão diz bastante sobre o quê de fato representa. Ao assumir
a presidência do país quando Bolsonaro estava em Davos, ele na prática acabou com a
Lei de Acesso à Informação, promulgada por Dilma Rousseff, uma conquista da
sociedade e da democracia em favor da transparência. O decreto de Mourão amplia – e
muito – o número de pessoas que podem classificar documentos do governo como
ultrassecretos, o que os torna inacessíveis por 25 anos, que podem ser prorrogados por
mais 25 anos. Agora, até uma parcela dos funcionários comissionados têm o poder de
evitar que a população tenha conhecimento dos atos do governo. É a ação mais
contundente de censura – e é só o primeiro mês. É também uma canetada compatível
com um regime de exceção.

Diante do anúncio de Jean Wyllys de que não assumiria o mandato para o qual foi eleito
e deixaria o país para não ser morto, Mourão soou mais moderado na imprensa. Mas
comparado a quem? Ao presidente que faz molecagens no Twitter.

A declaração mais valorizada de Mourão foi: “Quem ameaça parlamentar está


cometendo um crime contra a democracia. Uma das coisas mais importantes é você ter
sua opinião e ter liberdade para expressar sua opinião. Os parlamentares estão ali,
eleitos pelo voto, representam cidadãos que votaram neles. Quer você goste, quer você
não gosta das ideias do cara, você ouve. Se gostou bate palma, se não gostou,
paciência”.

A declaração que mais demanda atenção é: “Temos que aguardar quais são essas
ameaças, porque ele falou de forma genérica. Se ele está ameaçado tem de dizer por
quem e como. Não estou na chuteira do Jean Wyllys. Ele que sabe qual é o grau de
confusão que ele está metido”.

Primeiro: quem tem que investigar e descobrir os culpados é a Polícia Federal. Segundo:
não há nada de “genérico” nas denúncias que foram feitas por Jean Wyllys e que
geraram uma medida cautelar da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos, determinando que o Estado brasileiro garantisse
a proteção do deputado e de sua família. As ameaças de morte contra o deputado tanto
não são genéricas que o ministério da Justiça de Sergio Moro se apressou a dizer que a
Polícia Federal estava investigando e que já tinha prendido pelo menos um dos
responsáveis. Terceiro: a frase sobre “o grau de confusão que ele está metido”
claramente busca culpar a vítima. Ameaça de morte não é “grau de confusão”. É ameaça
de morte, é crime.

Mourão se moderou, mas ainda sofre de incontinência verbal, afinal não se muda de uma
hora para outra os hábitos de uma vida inteira. O vice que já assumiu duas vezes a
presidência no primeiro mês de governo é como o escorpião da fábula: quase chega à
outra margem do rio, mas não consegue deixar de picar o sapo que o transporta. Um
problema, possivelmente, para o grupo de generais no poder.

Por enquanto, porém, Mourão tem encarnado o adulto na sala. É o pai do garoto. Que,
por sua vez, é pai de outro garoto, o amigo e ex-empregador do Queiroz. Este, por sua
vez, não é garoto – e sim a primeira sombra do governo de Bolsonaro. E que sombra.

Qualquer declaração de Mourão soa melhor do que os emoticons de Bolsonaro. A


operação mental que caracteriza o desespero faz com que mesmo os mais céticos se
agarrem a qualquer promessa de equilíbrio. Bolsonaro tem feito uma parcela crescente
de brasileiros se sentirem muito inseguros. Mesmo quem votou nele e segue brigando
por ele nas redes sociais, com a elegância habitual, sabe que não faz sentido. Ele já está
eleito. O problema agora é que governa.

Amador, o clã Bolsonaro acreditou cedo demais que tinha enterrado


a imprensa
Entre os erros do clã Bolsonaro e de seu entorno está o de acreditar que a imprensa está
morta. Não é tão fácil assim. As redes sociais têm poder, especialmente quando são
fraudadas as regras eleitorais usando o WhatsApp, mas a TV ainda é o principal veículo
de informação da população no Brasil. Parte da imprensa brasileira tem feito jornalismo
como há tempo não se via. Uma pena que não tenha sido sempre assim.

Todos ganham com a imprensa fazendo bem o seu trabalho. É preciso continuar
prestando atenção no jogo pesado que se faz por cima, no andar dos donos do poder.
Bolsonaro se tornou impossível de engolir, porque entrou em confronto direto com parte
das famílias proprietárias dos grandes meios de comunicação. Mas isso sempre pode
ser alterado. Pesa contra ele, porém, sua imprevisibilidade, já que ele costuma mudar de
ideia e descumprir os acordos. Por outro lado, esses mesmos proprietários cultivam
boas relações jamais perdidas com a cúpula militar. Os próximos dias mostrarão quem
faz bom jornalismo sempre, e não só conforme a ocasião.

Quando fez o seu vaticínio, o terceiro filho não poderia saber que efeito Bolsonaro teria
no poder. Feito à imagem e semelhança do pai, o filho se olha no espelho e também se
acha o máximo. Circula apenas pelas bolhas e todos dizem que sua família é incrível. A
realidade vem mostrando que, diante de um Bolsonaro ameaçado pelo escândalo da
corrupção e do envolvimento com a milícia suspeita de assassinar Marielle, o vice “faca
na caveira” pode assustar menos. Muito menos. O vice “faca na caveira” vem se
tornando uma referência de autoridade, confiança e equilíbrio, objetivo claro de todos os
movimentos de Mourão num jogo que o clã Bolsonaro tem a ilusão de dominar, mas só
conhece meia dúzia de estratégias.

Manter Bolsonaro com a faixa e como fachada, mas sob controle,


pode se tornar impossível se as investigações aprofundarem as
conexões familiares com a corrupção e as milícias

O Bolsonaro fanfarrão pode ser tolerado. Alguns dos grupos que sustentam seu governo
acreditaram, em minha opinião com excesso de otimismo, que poderiam manipular e
controlar o cabeça de chapa. Mas o Bolsonaro que pode estar envolvido com corrupção
e tem um filho próximo às milícias assassinas do Rio de Janeiro é muito mais
complicado. Começa a ficar constrangedor e impossível de justificar. Conforme o
desenrolar dos fatos, o barulho do ralo pode ameaçar o projeto de poder. Já não há
como voltar atrás: os militares foram fundo, já se tornaram fiadores do atual governo.

O que fazer então com Bolsonaro, este que chega ao final do primeiro mês com a
popularidade começando a desidratar? O que era o plano de alguns, mantê-lo com a
faixa e como fachada, afinal ele é o “mito”, mas sob controle, pode deixar de ser uma
alternativa viável se as investigações descobrirem mais esqueletos no armário dos
Bolsonaro. Conforme a apuração tanto da corrupção quanto do assassinato de Marielle,
um impeachment pode ser inevitável, como alguns articulistas já apontaram. Mas é
traumático demais e muitos tentarão evitar o segundo afastamento de um presidente
eleito na sequência, o terceiro desde a redemocratização. Há outras possibilidades,
entre elas o afastamento por problemas de saúde, por exemplo. Tudo depende do que
as investigações vão revelar nas próximas semanas e meses.

Bolsonaro já sentiu na nuca o bafo de Mourão, tanto que decidiu despachar, pelo menos
oficialmente, da cama do hospital onde se recupera de uma cirurgia. Afinal, em pouco
mais de três décadas o Brasil já teve três vices assumindo o poder – um por morte do
titular, os outros dois por impeachment. Até Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro,
anda nervoso. Fez um vídeo desancando Mourão. Sem seu adorador, o guru perde o
prestígio recém adquirido. Os constrangedores ministros que indicou – e emplacou –
também podem virar passado.

O futuro próximo do governo depende em grande parte do desempenho da economia.


Os brasileiros já comprovaram que podem conviver com qualquer coisa se a vida
cotidiana melhorar ou se sentirem que tem alguma vantagem. As várias vitórias de Paulo
Maluf, no maior colégio eleitoral do país, estão aí para não deixar ninguém esquecer.

O que os militares querem? Reescrever o passado

O que os militares querem? Muito. Talvez o que mais queiram seja mudar o passado na
marra e reescrever seu papel na história do Brasil, como já ficou claro. Penso que
também queiram escrever um futuro que redima a imagem que desejam de todo jeito
apagar. Já começam a aparecer como heróis, como repositório de confiança num
governo povoado por delirantes, no sentido estrito da palavra, e/ou oportunistas.

Não é aconselhável tentar prever o futuro, só é possível ler os sinais do presente. O fato
mais revelador do primeiro mês do governo militarizado de ultradireita é: o parlamentar
que cuspiu em Bolsonaro quando ele homenageou Ustra, um torturador da ditadura que
levava crianças pequenas para ver os pais torturados, foi obrigado a deixar o Brasil para
não ser assassinado.

(Volto à coluna em 27 de fevereiro. Até lá.)

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o
Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e
do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:
@brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum

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