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Um lugar após o outro:


anotações sobre site-specificity

Miwon Kwon
A autora analisa a origem da arte site-specific a partir da escultura pública e das práticas
pós-minimalistas, abordando também as transformações do conceito de site-specificity:
da adequação dos trabalhos aos espaços físicos em que se inserem às práticas em que
o trabalho se constrói a partir de uma dimensão discursiva específica.
Site-specificity, site-specific, site-oriented, arte pública

Site-specificity costumava implicar algo nista.1 Contrariando a afirmação “Se você


enraizado, atrelado às leis da física. tem que trocar uma escultura por um site,
Freqüentemente lidando com a gravidade, há algo errado com a escultura”,2 a arte site-
os trabalhos site-specific costumavam ser specific, quer interruptiva ou assimilativa,
obstinados com a “presença”, mesmo que desistiu de si própria por seu contexto
fossem materialmente efêmeros e inflexíveis ambiental, sendo formalmente determinada
quanto à imobilidade, mesmo em face do ou dirigida por ele.3
desaparecimento ou destruição. Fosse den-
Por sua vez, o espaço estéril e idealista puro
tro do cubo branco ou no deserto de Ne-
dos modernismos dominantes foi radical-
vada, orientada para a arquitetura ou para a
mente deslocado pela materialidade da pai-
paisagem, a arte site-specific inicialmente
sagem natural ou do espaço impuro e ordi-
tomou o “site” como localidade real, reali-
nário do cotidiano. O espaço de arte não
dade tangível, com identidade composta por
era mais percebido como lacuna, tabula rasa,
singular combinação de elementos físicos
mas como espaço real. O objeto de arte ou
constitutivos: comprimento, profundidade,
evento nesse contexto era para ser experi-
altura, textura e formato das paredes e sa-
mentado singularmente no aqui-e-agora pela
Mark Dion, On tropical las; escala e proporção de praças, edifícios
presença corporal de cada espectador, em
nature, campo perto da ou parques; condições existentes de ilumi- imediatidade sensorial da extensão espacial
bacia do Rio Orinoco, nação, ventilação, padrões de trânsito; ca-
1991 e duração temporal (o que Michael Fried,
Foto: Bob Braine
racterísticas topográficas particulares. Se a brincando, caracterizou como teatralidade),
escultura moderna absorveu seu pedestal/ mais do que instantaneamente “percebido”
Mark Dion, materiais base para romper sua conexão com ou ex-
configurados para o New
em epifania visual por um olho sem corpo.
York Bureau for Tropical
pressar sua indiferença ao site, tornando-se O trabalho site-specific em sua primeira for-
Conservation, instalação mais autônoma e auto-referencial, e portan- mação, então, focava no estabelecimento de
no American Fine Arts to transportável, sem lugar e nômade, então uma relação inextricável, indivisível entre o
Co., 1992 trabalhos site-specific, quando emergiram no trabalho e sua localização, e demandava a
Foto: A. Cumberbirch
despertar do minimalismo, no final da déca- presença física do espectador para comple-
Fonte das imagens: October n. 80:
85-110. Cambridge: The MIT
da de 1960 e início da seguinte, forçaram tar o trabalho. A (nova-vanguardista) aspira-
Press, 1997 dramática reversão nesse paradigma moder- ção de exceder as limitações das linguagens

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tradicionais, como pintura e escultura, tal Barry e Serra ecoam um no outro aqui. Po-
como seu cenário institucional; o desafio rém, onde o comentário de Barry anuncia o
epistemológico de realocar o significado in- que foi no final da década de 1960 uma nova
terno do objeto artístico para as contingên- radicalidade na prática da escultura de van-
cias de seu contexto; a reestruturação radi- guarda, marcando uma primeira etapa nas
cal do sujeito do antigo modelo cartesiano experimentações estéticas que se seguiriam
para um modelo fenomenológico da expe- durante a década de 1970 (por exemplo,
riência corporal vivenciada; e o desejo land/earth art, process art, instalação, arte
autoconsciente de resistir às forças da eco- conceitual, performance/body art e várias
nomia capitalista de mercado, que faz circu- formas de crítica institucional), a afirmação
larem os trabalhos de arte como mercado- de Serra, 20 anos mais tarde no contexto
rias transportáveis e negociáveis – todos da arte pública, é uma defesa indignada, si-
esses imperativos juntaram-se no novo ape- nalizando o ponto de crise para a site-
go da arte à realidade do site. specificity – pelo menos para uma versão
que iria priorizar a inseparabilidade física en-
Nessa corrente, Robert Barry declarou em tre o trabalho e seu local de instalação.7
entrevista de 1969 que cada uma de suas
instalações com fios era “feita para o lugar Informadas pelo pensamento contextual do
no qual eram instaladas. Elas não podem ser Minimalismo, várias formas de crítica
removidas sem ser destruídas”.4 De modo institucional e arte conceitual desenvolveram
semelhante, Richard Serra, 15 anos mais tar- um modelo diferente de site-specificity que
de em carta ao diretor do Art-in-Architecture implicitamente desafiou a “inocência” do es-
Program do General Services Administration paço e a concomitante pressuposição de um
em Washington D.C., declarou que sua es- sujeito/espectador universal (apesar de pos-
cultura de aço Cor-Ten de 36m intitulada suidor de corpo físico) tal como defendia o
Tilted Arc foi “encomendada e projetada modelo fenomenológico. Artistas como
para uma localização específica: a Federal Michael Asher, Marcel Broodthaers, Daniel
Plaza. É um trabalho site-specific e como tal Buren, Hans Haacke e Robert Smithson, tal
não é para ser realocado. Removê-lo é des- como muitas artistas mulheres, incluindo
truí-lo”.5 Em 1989 ele explicou sua posição: Mierle Laderman Ukeles, de forma variável
conceberam o lugar não só em termos físi-
Como eu destaquei, Tilted Arc foi con- cos e espaciais, mas como uma estrutura
cebido desde o início como uma escul- cultural definida pelas instituições de arte. Se
tura site-specific e não pretendia ser o Minimalismo devolveu ao espectador um
“site-adjusted” ou... “realocada”. Traba- corpo físico, as práticas de teor crítico-
lhos site-specific lidam com componen- institucional insistiram no padrão social de
tes ambientais de determinados luga- classe, raça, gênero e sexualidade do espec-
res. Escala, tamanho e localização dos tador.8 Além disso, enquanto o Minimalismo
trabalhos site-specific são determinados desafiava o hermetismo idealista do objeto
pela topografia do lugar, seja esse ur- de arte autônomo ao atribuir seu significado
bano ou paisagístico ou clausura ao espaço de sua apresentação, a posterior
arquitetônica. Os trabalhos tornam-se abordagem crítico-institucional complicou
parte do lugar e reestruturam sua or- ainda mais esse deslocamento ao enfatizar
ganização tanto conceitual quanto o hermetismo idealista do espaço de apre-
perceptualmente.6 sentação em si. O espaço moderno da gale-

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ria/museu, por exemplo, com suas impecá- co” em relação a esse local [site], portanto,
veis paredes brancas, luz artificial (sem jane- é decodificar e/ou recodificar as convenções
las), clima controlado e arquitetura pura, era institucionais de forma a expor suas opera-
percebido não só em termos de dimensões ções ocultas mesmo que apoiadas – é reve-
básicas e proporção, mas como um disfarce lar as maneiras pelas quais as instituições
institucional, uma convenção normativa de moldam o significado da arte para modular
exposição a serviço de uma função ideoló- seu valor econômico e cultural, e boicotar a
gica. Os aspectos arquitetônicos aparente- falácia da arte e da autonomia das institui-
mente benignos de um museu/galeria, em ções ao tornar aparente sua imbricada rela-
outras palavras, eram considerados mecanis- ção com processos socioeconômicos e po-
mos codificados que ativamente dissociam líticos mais amplos da atualidade. Novamen-
o espaço de arte do mundo externo, te, nas palavras um tanto militantes de Buren
potencializando o imperativo idealista da ins- em 1970:
tituição que definia a si e aos seus valores
hierárquicos como “objetivos”, “desinteres- A arte, não importa onde esteja, é ex-
sados”, e “verdadeiros”. clusivamente política. O que importa é
a análise dos limites formais e culturais
Já em 1970, Buren afirmou: “Se o lugar onde (e não um ou outro) em que a arte
o trabalho é mostrado imprime e marca esse existe e luta. Esses limites são muitos e
trabalho, seja ele qual for, ou se o trabalho de diferentes intensidades. Embora a
em si é diretamente – conscientemente ou ideologia dominante e os artistas asso-
não – produzido para o museu, qualquer ciados sempre tentem camuflá-la, e
trabalho apresentado nessa estrutura, se não embora seja muito cedo – as condi-
examinar explicitamente a influência desse ções não são propícias – para dar-lhes
formato sobre si mesmo, cai na ilusão de demasiada importância, chegou a hora
auto-suficiência – ou idealismo.”9 Mais, po- de lhes tirar o véu.10
rém, do que apenas o museu, o site inclui
uma gama de vários espaços e economias Nas primeiras formas da abordagem crítico-
diferentes que se inter-relacionam, entre eles institucional, de fato, as condições físicas do
Mel Bochner, o ateliê, a galeria, o museu, a crítica de arte, espaço de exposição permaneceram o ponto
Measurements: Room, a história da arte, o mercado de arte, que de partida principal para essa retirada do véu.
instalação na Galeria
Friedrich, Munique, juntos constituem um sistema de práticas que Por exemplo, em trabalhos como o
1969 não está separado, mas aberto às pressões Condensation Cube (1963-65), de Haacke,
Foto do artista sociais, econômicas e políticas. Ser “específi- a série Measurements (1969), de Mel
Bochner, os recortes de parede de Lawrence
Weiner (1968) e Within and Beyond the
Frame (1973), de Buren, a tarefa de expor
aqueles aspectos que a instituição obscure-
cia era feita literalmente em relação à arqui-
tetura do espaço de exposição – enfatizando
o nível de umidade da galeria ao permitir
que o ar úmido “invadisse” o objeto de arte
Minimalista puro (uma configuração mimética
do espaço da galeria em si); insistindo no
fato material das paredes da galeria enquan-

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to dispositivos de “moldura” ao apontar para do situações culturalmente específicas e ge-
suas dimensões diretamente; removendo radoras de expectativas e narrativas particu-
porções de uma parede para revelar a reali- lares no que diz respeito à arte e à história.
dade básica por trás do cubo branco “neu- A inserção da arte na instituição, em outras
tro”; e excedendo os limites físicos da gale- palavras, não só distingue um valor econô-
ria ao fazer com que o trabalho de arte saís- mico e qualitativo, mas também (re)produz
se literalmente pela janela, ostensivamente formas específicas de conhecimento que
para “emoldurar” a moldura institucional. estão historicamente localizadas e cultural-
Tentativas tais como essas de expor o mente determinadas – que não são absolu-
confinamento cultural dentro do qual os ar- tamente padrões universais ou perenes.12
tistas operam – “o aparato no qual o artista
Dessa forma, o “site” da arte vai para longe
está enredado” – e o impacto de suas forças
de sua coincidência com o espaço literal da
sobre o significado e o valor da arte torna- arte, e a condição física de uma localização
ram-se, como previu Smithson em 1972, “a específica deixa de ser o elemento principal
grande questão” para os artistas da década na concepção de um site. Quer articulado
de 1970.11 À medida que essa investigação em termos políticos ou econômicos, como
se estendeu década de 1980 adentro, ela se no caso de Haacke, ou em termos
apoiou cada vez menos nos parâmetros físi- epistemológicos, como em Asher, mais im-
cos da galeria/museu ou em outras áreas de portantes são as técnicas e os efeitos da ins-
exibição para articular sua crítica. tituição de arte uma vez que circunscrevem
a definição, produção, apresentação e disse-
Na prática paradigmática de Hans Haacke,
minação da arte que se tornou o local de
por exemplo, o site passou da condição físi-
intervenções críticas. Concomitante a esse
ca da galeria (tal como em Condensation
movimento na direção da desmaterialização
Cube) para o sistema das relações socio-
do site é a progressiva desestetização (por
econômicas dentro das quais a arte e seu
exemplo, recuo do prazer visual) e a
programa institucional acham suas possibili-
desmaterialização do trabalho de arte. Indo
dades de existência. Sua exposição baseada
contra o menor sentido dos hábitos e dese-
em fatos ao longo da década de 1970, que
jos institucionais, e continuando a resistir à
deflagrou as amarras inextricáveis da arte
mercantilização da arte no/para o mercado
com o poder ideologicamente suspeito se-
de arte, a arte site-specific adota estratégias
não moralmente corrupto da elite, repen-
que são ou agressivamente antivisuais – in-
sou o site da arte enquanto moldura
formativas, textuais, expositivas, didáticas –,
institucional em termos sociais, econômicos
ou imateriais como um todo – gestos, even-
e políticos, e enfatizou esses termos como
tos, performances limitadas pelo tempo. O
o próprio conteúdo do trabalho artístico.
“trabalho” não quer mais ser um substanti-
Exemplificando uma abordagem diferente da
vo/objeto, mas um verbo/processo, provo-
moldura institucional estão os projetos de
cando a acuidade crítica (não somente físi-
deslocamento com precisão cirúrgica de ca) do espectador no que concerne às con-
Michael Asher, que avançaram o conceito dições ideológicas dessa experiência. Nes-
de site para abranger dimensões históricas e se contexto, a garantia de uma relação es-
conceituais. Em sua contribuição à 73 rd pecífica entre um trabalho de arte e o seu
American Exhibition, no Art Institute of Chi- “site” não está baseada na permanência físi-
cago em 1979, por exemplo, Asher revelou ca dessa relação (conforme exigia Serra, por
os locais da exposição ou mostra como sen- exemplo), mas antes no reconhecimento da

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sua impermanência móvel, para ser experi- hospitais, igrejas, zoológicos, supermercados,
mentada como uma situação irrepetível e etc., e infiltram-se nos espaços da mídia, como
evanescente. o rádio, o jornal, a televisão e a internet. Além
dessa expansão espacial, a arte site-oriented
Mas se a crítica do confinamento cultural da
também é informada por uma gama mais
arte (e do artista) pela via de suas institui-
ampla de disciplinas (por exemplo, antropo-
ções foi a “grande questão”, um impulso
logia, sociologia, crítica literária, psicologia,
dominante de práticas orientadas para o site,
hoje é a busca de maior engajamento com história cultural e natural, arquitetura e ur-
o mundo externo e a vida cotidiana – uma banismo, informática, teoria política) e em
crítica da cultura que inclui os espaços não sintonia fina com discursos populares (como
especializados, instituições não especializadas moda, música, propaganda, cinema e televi-
e questões não especializadas em arte (na são). Mas além dessa expansão dual da arte
realidade, borrando a divisão entre arte e na cultura, que obviamente diversifica o site,
não-arte). Preocupada em integrar a arte a característica marcante da arte site-
mais diretamente no âmbito do social, seja oriented hoje é a forma como tanto a re-
para reendereçar (num sentido ativista) lação do trabalho de arte com a localiza-
problemas sociais urgentes, como a crise ção em si (como site) como as condi-
ecológica, o problema de moradia, Aids, ções sociais da moldura institucional (como
homofobia, racismo e sexismo, ou mais am- site) são subordinadas a um site determina-
plamente para relativizar a arte como ape- do discursivamente que é delineado como
nas uma entre as muitas formas de trabalho um campo de conhecimento, troca intelec-
cultural, as manifestações de site-specificity tual ou debate cultural. Além disso, diferen-
tendem a tratar as preocupações estéticas te dos modelos anteriores, esse site não é
e históricas (da arte) como questões secun- definido como pré-condição, mas antes é
Mierle Laderman Ukeles. dárias. Considerando o foco na natureza gerado pelo trabalho (freqüentemente
Hartford Wash, da série social da produção e recepção de arte como como “conteúdo”), e então comprovado
Maintenance Art
Activity. Wadsworth
sendo exclusivista demais, até elitista, esse mediante sua convergência com uma for-
Atheneum. Hartford, engajamento expandido com a cultura fa- mação discursiva existente.
Connecticut, 1973 vorece locais “públicos” fora dos confins
tradicionais da arte em ter- Por exemplo, no projeto On Tropical Nature
mos físicos e intelectuais.13 (1991) de Mark Dion, várias definições dife-
rentes de site operaram concomitantemente.
Levando adiante as tentativas Primeiro, o site inicial da intervenção de Dion
(às vezes literais) de levar a era um lugar desabitado na floresta tropical
arte para fora do espaço-sis- perto da nascente do Rio Orinoco, fora de
tema museu/galeria (lem- Caracas, Venezuela, onde o artista acampou
brem das telas listradas de durante três semanas coletando espécies de
Buren saindo pela janela da várias plantas e insetos, assim como penas,
galeria, ou das aventuras de cogumelos, ninhos e pedras. No final de cada
Smithson nas terras remotas semana, eram entregues em recipientes ao
de Nova Jersey ou locais iso- segundo site do projeto, Sala Mendonza, uma
lados de Utah), trabalhos das duas instituições da exposição em Cara-
contemporâneos que são ori- cas. No espaço da galeria, as espécies,
entados para o site ocupam descarregadas e dispostas como trabalhos
hotéis, ruas urbanas, projetos de arte em si, eram contextualizadas no que
de moradia, prisões, escolas, constituía um terceiro site – a estrutura

TEMÁTICAS • MIWON KWON 171


curatorial de uma exposição coletiva Isso não é dizer que os parâmetros de um
temática.14 O quarto site, no entanto, em- lugar em particular ou instituição já não im-
bora fosse o menos literal, era o site com o portam mais, porque a arte site-oriented hoje
qual Dion pretendia uma relação duradou- ainda não consegue ser pensada ou feita sem
ra. On Tropical Nature procurava tornar-se as contingências das circunstâncias insti-
parte do discurso que diz respeito à repre- tucionais e de lugar. Mas o site principal en-
sentação cultural da natureza e a crise dereçado pelas manifestações atuais de site-
ambiental global.15 specificity não está necessariamente amar-
rado a, ou determinado por, essas contin-
Às vezes, a custo de uma derrapagem se- gências a longo prazo. Conseqüentemente,
mântica entre conteúdo e site, outros artis- embora o site de ação ou intervenção (físi-
tas que estão similarmente engajados em co) e o site dos efeitos/recepção (discursivo)
projetos site-oriented, operando em múlti- sejam concebidos para ser contíguos, eles
plas definições de site, acabam achando sua são, todavia, afastados. Enquanto, por exem-
âncora “localizacional” no âmbito discursivo. plo, os sites de intervenção e efeito para o
Por exemplo, enquanto Tom Burr e John Tilted Arc de Serra eram coincidentes (Fe-
Lindell têm produzido, cada um por si, pro- deral Plaza no Centro de Nova York), o site
jetos diversos em uma variedade de meios de intervenção de Dion (a floresta tropical
para muitas instituições diferentes, seu da Venezuela ou a Sala Mendoza) e o seu
engajamento consistente com assuntos que site de efeito (o discurso da natureza) são
distintos. O primeiro claramente serve ao
concernem à construção e à dinâmica da
último como fonte material e “inspiração”,
(homo)sexualidade e o desejo tem estabe-
mesmo assim não sustenta com ele uma
lecido tais assuntos como o “site” de seu tra- relação indicial.
balho. E em projetos de artistas como Lothar
Baumgarten, Renée Green, Jimmie Durham James Meyer distinguiu essa tendência na
e Fred Wilson, os legados do colonialismo, prática recente do site-oriented em termos
escravidão, racismo e a tradição etnográfica, de “functional site”: “[O functional site] é um
uma vez que causam impacto nas políticas processo, uma operação que ocorre entre
de identidade, emergiram como importante sites, um mapeamento de filiações insti-
“site” de investigação artística. Em algumas tucionais e discursivas e os corpos que se
instâncias, artistas como Green, Silvia movem entre eles (o do artista sobretudo).
Kolbowski, Group Material e Christian Philip É um site informacional, um local em que se
Müller refletiram sobre os aspectos da práti- sobrepõem texto, fotografias e vídeos, luga-
ca site-specific em si como um “site”, inter- res físicos e coisas... É algo temporário; um
rogando seu uso geral em relação aos impe- movimento; uma cadeia de significados ca-
rativos estéticos, demandas institucionais, rente de um foco particular.”17 O que signi-
ramificações socioeconômicas ou eficácia fica que agora o site é estruturado
política. Desse modo, diferentes debates (inter)textualmente mais do que espacial-
culturais, um conceito teórico, uma questão mente, e seu modelo não é um mapa, mas
social, um problema político, uma estrutura um itinerário, uma seqüência fragmentária de
institucional (não necessariamente uma ins- eventos e ações ao longo de espaços, ou
tituição de arte), uma comunidade ou even- seja, uma narrativa nômade cujo percurso é
to sazonal, uma condição histórica, mesmo articulado pela passagem do artista. Similar
formações particulares do desejo, são agora ao padrão de movimento nos espaços ele-
considerados sites.16 trônicos da internet e do espaço cibernético,

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que de forma parecida são estruturados para contemporânea com impacto e significa-
ser experimentados transitivamente, uma do maiores. Nesse sentido, as possibilida-
coisa depois da outra, e não como simultanei- des de conceber o site como algo mais
dade sincrônica,18 essa transformação do site do que um lugar – como uma história étni-
textualiza espaços e espacializa discursos. ca reprimida, uma causa política, um gru-
po de excluídos sociais – é um salto
Uma conclusão provisória pode ser que, na conceitual crucial na redefinição do papel
prática das artes avançadas dos últimos 30 “público” da arte e dos artistas.19
anos, a definição operante de site foi trans-
formada de localidade física – enraizada, fixa, Esse apoio entusiasmado a esses objetivos
real – em vetor discursivo – desenraizado, saudáveis precisa, contudo, ser verificado por
fluido, virtual. Mesmo se o domínio de uma um exame crítico dos problemas e contra-
formulação particular de site-specificity dições que atingem todas as formas de arte
emerge em um momento e desaparece site-specific e site-oriented hoje, que são vi-
em outro, as mudanças, todavia, nem sem- síveis agora que o trabalho de arte está se
pre são pontuais ou definitivas. Desse tornando cada vez mais “desapegado” das
modo, os três paradigmas de site-specificity condições físicas do site mais uma vez – de-
que esquematizei aqui – fenomenológico, sapegado tanto no sentido literal da separa-
social/institucional e discursivo – embora ção física do trabalho de arte em relação ao
apresentados de forma cronológica, não são local de sua instalação inicial quanto em sen-
estádios em uma trajetória linear de de- tido metafórico, como acontece na mobili-
senvolvimento histórico. Preferivelmente, dade discursiva do site em formas emergen-
são definições que competem entre si, so- tes de arte site-oriented. Esse “desapego”,
brepondo-se uma à outra e operando si- no entanto, não indica retrocesso à autono-
multaneamente em várias práticas cultu- mia modernista do objeto nômade, desalo-
rais hoje (ou mesmo dentro de um proje- jado, embora tal ideologia seja ainda predo-
to específico de um artista). minante. Pelo contrário, o desapego atual
da site-specificity é reflexo de novas ques-
Não obstante, esse afastamento da inter- tões que pressionam suas práticas hoje –
pretação literal do site e da expansão múlti- questões engendradas tanto por imperati-
pla do site em termos conceituais e físicos vos estéticos quanto por determinantes ex-
parece mais acelerado hoje do que no pas- ternos históricos, que não são exatamente
sado. E o fenômeno é abraçado por muitos
comparáveis àqueles de 30 anos atrás. Por
artistas e críticos como um avanço que ofe-
exemplo, qual o status de valores estéticos
rece vias mais eficientes para resistir a for-
tradicionais, tais como originalidade, auten-
ças institucionais revisadas e mercadológicas
ticidade e exclusividade na arte site-specific,
que hoje comercializam práticas artísticas
que sempre começa com as precondições
“críticas”. Além do mais, formas atuais de
particulares, locais e irrepetíveis do site, seja
arte site-oriented, que prontamente se apro-
lá de que forma isso seja definido? Seria a
priam de questões sociais (com freqüência
por elas inspiradas) e que rotineiramente in- ação do artista de relegar a autoria às condi-
cluem a participação colaborativa de grupos ções do site, incluindo colaboradores e/ou
de público para a conceitualização e produ- espectadores-leitores, uma continuidade da
ção do trabalho, são vistas como uma forma performance barthesiana da “morte do ar-
de fortalecer a capacidade da arte de pene- tista” ou uma reedição da centralidade do
trar a organização sociopolítica da vida artista como um diretor/gerenciador “silen-

TEMÁTICAS • MIWON KWON 173


cioso”? Além disso, qual o status comercial ção, seja porque o transporte é difícil de-
do que é anticomercial, ou seja, imaterial, mais e os custos proibitivos ou porque os
process-oriented, efêmero, performativo? originais são frágeis demais, ou porque pre-
Enquanto a arte site-specific uma vez desa- cisam de reparo, ou não existem mais. De-
fiou a comercialização ao insistir na imobili- pendendo das circunstâncias, algumas des-
dade, parece que agora adota a mobilidade sas réplicas são destruídas após a situação
fluida e o nomadismo pelo mesmo motivo. específica para a qual foram produzidas; em
Mas, curiosamente, o princípio nômade tam- outras instâncias, as recriações passam a co-
bém define o capital e o poder em nossos existir ou mesmo substituir a antiga, funcio-
tempos.20 Seria então o desapego da site- nando como novos originais (alguns até en-
specificity uma forma de resistência ao contram hospedagem em coleções perma-
establishment ideológico da arte ou uma nentes de museus).22 Com a cooperação dos
rendição à lógica capitalista expansionista? artistas em muitos casos, o público de arte
pode agora ter a experiência estética “real”
A mobilização da arte site-specific das cópias site-specific.
O “despreendimento” dos primeiros traba- A possibilidade de rever trabalhos
lhos de arte site-specific realizados nas dé- “irrepetíveis”, como Splash Piece: Casting
cadas de 1960 e 1970 é separação articula- (1969-70), de Serra, ou Sulfur Falls (1968),
da não por imperativos estéticos, mas pelas de Alan Saret, oferece a oportunidade de
pressões da cultura do museu e do merca- reconsiderar sua significância histórica, espe-
do de arte. A documentação fotográfica e cialmente em relação à fascinação atual pelo
outros materiais associados com a arte site- final dos anos 60 e 70, na arte e na crítica.
specific (esboços e desenhos preliminares, Mas o próprio processo de institucionalização
anotações de campo, instruções sobre o e a concomitante comercialização da arte
procedimento de instalação, etc.) já há mui- site-specific também põem abaixo o princí-
to têm sido moeda corrente nas exposições pio do ‘apego a um lugar’ pelo qual esses
de museus e um selo do mercado de arte. trabalhos desenvolveram sua crítica da au-
No passado recente, no entanto, posto que tonomia a-histórica do objeto de arte. Con-
os valores culturais e mercadológicos dos trária à concepção anterior de site-specificity,
trabalhos das décadas de 1960 e 1970 au- a atual prática museológica e comercial de
mentaram, muitos dos primeiros preceden- refabricar (para poder viajar) trabalhos que
tes na arte site-specific, que um dia foram eram atrelados ao local fez da capacidade
tão difíceis de colecionar e impossíveis de de transferência e da mobilidade novas nor-
reproduzir, reapareceram em muitas expo- mas de site-specificity. Conforme observou
sições importantes, tal como l’art conceptuel, Susan Hapgood, “a expressão ‘site-specific’,
une perspective, no Musée d’art moderne que um dia foi popular, acabou tornando-se
de la ville de Paris (1989), The New Sculpture ‘móvel sob as circunstâncias corretas’”,23 es-
1965-75: Between Geometry and Gesture tilhaçando a idéia de que “remover o traba-
(1990) e Immaterial Objects (1991-92), lho é destruí-lo.”
ambas no Whitney Museum.21
As conseqüências dessa conversão, efetuadas
Para mostras como essas, trabalhos site- pela descontextualização e centradas no ob-
specific de décadas atrás estão sendo jeto com a aparência de recontextualizações
reposicionados e refabricados do zero no históricas, compõem uma série de reversões
local ou perto de seu lugar de representa- normalizantes na qual a especificidade do site

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é tida como irrelevante, tornando fácil a Califórnia, Panza deu permissão aos
reinserção sub-reptícia da autonomia ao tra- organizadores da exposição para refabricá-
balho artístico, permitindo ao artista recon- los no local mediante instruções detalhadas.
quistar sua autoridade como fonte primeira Sendo os trabalhos produzidos industrial-
do significado da obra. O trabalho de arte é mente, a participação dos artistas no pro-
objetificado novamente (e comercializado), cesso de refabricação parecia ser algo de
e a site-specificity é redescrita como es- pouca relevância para o diretor da Ace
colha estética pessoal da preferência Gallery e para Panza. Os artistas, no entan-
estilística de um artista mais do que como to, sentiam diferente. Não tendo sido con-
reorganização estrutural da experiência sultados sobre a (re)produção e instalação
estética. 24 Dessa forma, um princípio desses substitutos, eles denunciaram as
metodológico de produção e dissemina- refabricações como “falsificação grosseira”,
ção artística é recapturado como conteú- uma “falácia”, apesar do fato de as escultu-
do; processos ativos são transformados ras serem idênticas às “originais” na Itália e
em objetos inertes novamente. Desse terem sido reproduzidas como cópias para
modo, a arte site-specific vem representar a um único uso, sem permissão de venda ou
criticidade mais do que exercê-la. O “aqui-e- exposição em outro lugar.
agora” da experiência estética é isolado como
o significado, afastado de seu significante. Mais do que meramente um caso de egos
artísticos abalados, esse incidente expõe a
Se esse fenômeno representa outra instân- crise referente ao status da autoria e da au-
cia da domesticação dos trabalhos de van- tenticidade na arte site-specific de anos atrás,
guarda pela cultura dominante, não é só por que encontra novos contextos na década
causa das necessidades de auto-engrande- de 1990. Para Andre e Judd, o que tornou
cimento das instituições ou da natureza os trabalhos refabricados ilegítimos não foi
orientada para o lucro do mercado. Os ar- o fato de que cada peça era reprodução de
tistas, independente do quão profundamen- um trabalho singular instalado em Varese, e
te possam estar convencidos de um senti- que a princípio não poderia ser reproduzido
mento antiinstitucional e resistentes com sua em nenhum outro lugar, mas sim o fato de
crítica à ideologia dominante, estão, de modo os artistas não terem autorizado ou supervi-
egoísta ou ambivalente, inevitavelmente en- sionado a refabricação na Califórnia. Em ou-
volvidos nesse processo de legitimação cul- tras palavras, as recriações não foram consi-
tural. Por exemplo, em março de 1990 Carl deradas autênticas pela ausência do artista
Andre e Donald Judd escreveram cartas de no processo de sua (re)produção e não pela
indignação à Art in America para repro- falta do espaço original de sua instalação. Ao
var publicamente a autoria de duas escul- reduzir variações visuais no trabalho de arte
turas atribuídas a cada um deles, que fo- ao ponto do vazio obtuso e ao adotar mo-
ram incluídas em uma exposição em 1989 dos de produção industrial, a arte minimalista
na Ace Gallery, em Los Angeles.25 Os traba- tornou nulos os padrões estéticos de distin-
lhos em questão eram recriações: a escultu- ção baseados no trabalho manual do artista
ra de 15m de Andre, Fall, de 1968, feita em enquanto legitimador da autenticidade. No
aço, e uma peça de parede sem título, em entanto, conforme o caso da Ace Gallery
ferro, de Judd, de 1970, ambas da Panza amplamente revela, apesar da retirada de tais
Collection. Devido às dificuldades e ao alto legitimações, a autoria e a autenticidade na
custo de embalagem e transporte desses tra- arte site-specific permanecem como função
balhos de grande escala da Itália para a da “presença” do artista no ponto de sua

TEMÁTICAS • MIWON KWON 175


(re)produção. Ou seja, com a retirada tal como estabelecido em relação ao local
dos traços “artísticos”, a autoria do ar- de seu contexto original. Sem dúvida, en-
tista enquanto produtor do objeto é quanto a legitimação cultural representada
reconfigurada como sua autoridade em pelo interesse institucional no trabalho de
autorizar na competência de diretor ou Wilding permitiu um desenraizamento (tem-
supervisor das (re)produções. A garantia de porário) de uma das trajetórias negligencia-
autenticidade é finalmente a sanção do ar- das da arte feminista, no cenário institucional
tista, que pode ser articulada por sua pre- do Bronx Museum e mais tarde no Los
sença física real no momento da produção- Angeles Museum of Contemporary Art,
instalação ou via certificado de verificação.26 Crocheted Environment tornou-se um tra-
balho lindo, porém inócuo, uma vez que
Enquanto Andre e Judd problematizaram a seu foco no aspecto formal, a natureza
autoria pelo emprego da produção industrial artesanal do trabalho, se tornou tema (tra-
em série, embora lamentassem mais tarde balho feminino). 28
quando suas proposições foram levadas a
uma de suas possíveis conclusões lógicas,27 Ainda que a eficácia da arte site-specific do
artistas cujas práticas se apóiam nos modos passado pareça enfraquecida em suas
de trabalho manual “tradicional” registraram reapresentações, as complicações de proce-
compreensão mais complexa das políticas da dimento, dilemas éticos e reais dores de ca-
autoria. Um caso a ser citado: para uma pes- beça pragmáticas que tais situações fazem
quisa histórica de 1995 da arte feminista, surgir para os artistas, colecionadores,
intitulada Division of Labor: ‘Women’s Work’ galeristas e instituições envolvidas ainda são
in Contemporary Art, no Bronx Museum, significativos. Apresentam linhagem sem pre-
Faith Wilding, integrante original do Progra- cedentes dos padrões estabelecidos de
ma de Arte Feminista no California Institute (re)produção, exposição, empréstimo, com-
for the Arts, foi convidada para recriar sua pra/venda e encomenda/execução de tra-
instalação site-specific que abrange toda uma balhos de arte em geral. Ao mesmo tempo, Faith Wilding.
sala Crocheted Environment (também co- apesar da regressão de alguns artistas para a Crocheted
nhecida como Womb Room), do projeto inviolabilidade autoral com o intuito de de- Environment
Womanhouse, de 1972 em Los Angeles. fender sua prática site-specific, outros ar- (Womb Room)
tistas são muito precisos no desmanche Instalação
Como a peça original já não existia mais, o
reconstituída no
projeto apresentou uma série de problemas das presunções críticas associadas com tais Bronx Museum,
para Wilding, sendo um dos menores as lon- princípios como imobilidade, permanên- 1995
gas horas de trabalho físico exigidas para
completá-la. Não aceitar o convite para re-
fazer a peça em prol da preservação da in-
tegridade da instalação original teria sido ato
de automarginalização, contribuindo para um
auto-silenciamento que inscreveria Wilding
e um aspecto da arte feminista fora da por-
ção dominante da história da arte (novamen-
te). Mas, por outro lado, recriar o trabalho
como um objeto de arte independente para
um espaço “cubo branco” do Bronx Museum
também significaria esvaziar seu significado

176
cia e irrepetibilidade. Mais do que resistir artista para produzir o trabalho. O projeto
à mobilidade, esses artistas estão tentan- será provavelmente demorado e no final terá
do reinventar a site-specificity como prá- envolvido o “site” de múltiplas formas, e sua
tica nômade. documentação terá outra vida no sistema
de publicação do circuito artístico, que por
Artistas itinerantes sua vez irá alertar outra instituição para a
O interesse institucional crescente nas prá- próxima encomenda.
ticas site-oriented que abordam o site como Assim, se o artista obtiver sucesso, viajará
narrativa discursiva está demandando inten- constantemente como freelancer, trabalhan-
so trânsito físico do artista para criar traba- do em geral em mais de um projeto site-
lhos em várias cidades ao longo do mundo specific ao mesmo tempo, viajando com fre-
de arte cosmopolita. Tipicamente, um artis- qüência como hóspede, turista, aventureiro,
ta (não mais fixo no ateliê como um fazedor crítico temporário ou pseudo-etnógrafo29
de objetos, trabalhando principalmente sob para São Paulo, Munique, Chicago, Seul,
encomenda) é convidado por uma institui- Amsterdam, Nova York, etc. A configura-
ção de arte para executar um trabalho es- ção in situ de um projeto que emerge de tal
pecificamente configurado para a estrutura situação costuma ser temporária, ostensiva-
fornecida pela instituição (em alguns casos o mente inapropriada para reapresentação em
artista poderá solicitar à instituição tal pro- qualquer outro lugar sem alteração do signi-
posta). Subseqüentemente, o artista entra ficado, em parte porque a encomenda é
em acordo contratual com a instituição re- definida por um grupo único de circunstân-
ferente à encomenda. A seguir, faz inúmeras cias geográficas e temporais, e em parte
visitas ou longas estadas no site; pesquisa as porque o projeto é dependente de relações
particularidades da instituição e/ou a cidade imprevisíveis e improgramáveis no local. Es-
em que ela está localizada (sua história, cons- sas condições, entretanto, apesar das apa-
tituição do público (de arte), espaço de ins- rências contrárias, não encerram de vez o
talação); considera os parâmetros da expo- problema da comercialização, porque há hoje
Christian Philipp Müller
ilegal border crossing sição em si (estrutura temática, relevância estranha reversão pela qual o artista se apro-
between Austria and social, outros artistas na exposição); e parti- xima de ser a “obra”, em vez do contrário,
Czechoslovakia cipa de muitos encontros com curadores, como se pressupõe comumente (ou seja, a
Contribuição austríaca educadores e staff administrativo de apoio,
para a Bienal de obra como substituto do artista). Talvez por
Veneza, 1993 que podem terminar “colaborando” com o causa da “ausência” do artista na manifesta-
ção física do trabalho, sua presença tem-se
tornado pré-requisito absoluto para a exe-
cução/apresentação de projetos site-
oriented. Agora, é o aspecto performativo
de um modo característico de operação de
um artista (mesmo quando em colaboração)
que é repetido e transportado como nova
mercadoria, posto que o artista funciona
como o veículo principal de sua legitimação,
repetição e circulação.

Por exemplo, depois de envolvimento de


um ano com a Maryland Historical Society,

TEMÁTICAS • MIWON KWON 177


Fred Wilson finalizou seu trabalho site- do artista per se, como personalidade ou
specific Mining the Museum (1992), que con- celebridade à la Warhol, que é produzido/
sistia em reorganização temporária de sua consumido na troca com a instituição. O que
coleção permanente. Como providencial o padrão atual aponta, de fato, é a extensão
convergência da crítica institucional do mu- com que a própria natureza do produto
seu com uma política de identidade como uma cifra na produção e nas relações
multicultural, Mining the Museum atraiu mui- de trabalho não está mais atrelada ao domí-
tos novos visitantes à instituição, e o projeto nio da manufatura (de coisas), mas definida
foi altamente prestigiado tanto pelo mundo em relação à indústria do serviço e da admi-
da arte como pela imprensa popular. Subse- nistração.32 O artista como fazedor de obje-
qüentemente, Wilson fez uma escavação/ tos estéticos superespecializados tem sido
intervenção similar no Seattle Museum, em anacrônico já por longo tempo. O que pro-
1993, projeto também definido pela cole- vêm agora, mais do que produzem, são ser-
ção permanente do museu.30 Ainda que a viços estéticos, freqüentemente “artístico-
mudança de Baltimore para Seattle, de uma críticos”.33 Se Richard Serra conseguiu des-
cidade histórica para um museu de arte, te- crever os procedimentos artísticos com re-
nha introduzido novas variáveis e novos de- lação a suas ações físicas elementais (pingar,
safios, o projeto de Seattle estabeleceu uma dividir, rolar, dobrar, cortar, etc.34 ), a situa-
relação repetitiva entre o artista e a institui- ção agora demanda um conjunto diferente
ção que o hospedava, refletindo uma ten- de verbos: negociar, coordenar, acordar,
dência mais ampla da moda museológica – pesquisar, organizar, entrevistar, etc. Essa
contratar artistas para redispor as coleções mudança foi prevista pela adoção que a arte
permanentes. O fato de o projeto em Seattle Conceitual fez do que Benjamin Buchloh
ter sido menos bem sucedido do que o de chamou de “a estética da administração”.35
Baltimore pode ser evidência de como a O que se destaca aqui é o quão rápido essa
repetição continuada de tais encomendas estética da administração, desenvolvida nos
pode tornar mecânicas e genéricas as anos 60 e 70, converteu-se na administra-
metodologias de crítica. Elas podem facilmen- ção da estética nos anos 80 e 90. De modo
te tornar-se extensões do próprio aparato geral, o artista era um fazedor de objetos
autopromocional do museu, e o artista, mer- estéticos; hoje, é um facilitador, educador,
cadoria na compra da “criticalidade”. Como coordenador e burocrata. Além disso, uma
Isabelle Graw notou, “o resultado pode ser vez que os artistas adotaram funções admi-
uma situação absurda na qual a instituição nistrativas em instituições de arte (curatoriais,
contratante (o museu ou a galeria) recorre educacionais, arquivísticas) como parte inte-
ao artista como uma pessoa que tem legiti- gral de seu processo criativo, administrado-
midade para apontar as contradições e irre- res de instituições de arte (curadores, edu-
gularidades que a própria instituição desa- cadores, diretores de programas públicos),
prova”. E, para os artistas, “subversão a ser- que geralmente pegam a deixa dos artistas,
viço de convicções próprias consegue achar hoje operam como figuras autorais.36
fácil transição para subversão para ser con-
tratado; ‘o criticismo torna-se espetáculo’”.31 Concomitante a essas mudanças metodo-
lógicas e de procedimento, ou por causa
Dizer, no entanto, que essa mudança repre- delas, há uma reemergência da centra-
senta a mercantilização do artista não é com- lidade do artista como progenitor do sig-
pletamente acurado, porque não é a figura nificado. Isso é verdade mesmo quando a

178
autoria é deferida a outros colaborado- que são freqüentemente importados por
res ou quando a estrutura institucional é instituições e cidades estrangeiras como vi-
autoconscientemente integrada ao trabalho, sitantes exóticos e especializados. World
ou quando o artista problematiza seu papel Tour também fez uma tentativa de imagi-
autoral. De um lado, essa “volta ao autor” nar convergência produtiva entre espe-
resulta da tematização dos sites discursivos, cificidade e mobilidade, em que um projeto
que engendra falso reconhecimento deles, criado sob um conjunto de circunstâncias
como se fossem extensões “naturais” da pode ser deslocado para outro sem perder
identidade do artista, e a legitimidade da crí- seu impacto – ou, melhor, encontrando
tica é medida pela proximidade da associa- novos significados e ganhando precisão crí-
ção pessoal do artista (convertida em tica pelas recontextualizações.39 Mas esses
expertise) com o lugar específico, sua histó- questionamentos não estavam disponíveis
ria, seu discurso, sua identidade, etc. (con- para os visitantes do projeto, cuja reação
vertidos em conteúdo temático). Por outro interpretativa era considerar a artista a liga-
lado, porque a cadeia de significados da arte ção principal entre os projetos. De fato, o
site-oriented é construída principalmente por esforço de deslocar projetos site-oriented
movimento e decisões do artista,37 a elabo- individuais enquanto um grupo coerente
ração (crítica) do projeto inevitavelmente se conceitualmente eclipsou a especificidade de
desdobra ao redor do artista. Isto é, a cada um e forçou dinâmica relacional en-
intrincada orquestração dos sites discursivos tre projetos distintos. Conseqüentemen-
e literais cria uma narrativa nômade que re- te, a sobreposição das narrações em
quer o artista como narrador-protagonista. World Tour tornou-se o próprio proces-
Em alguns casos, esse foco renovado no artis- so criativo de Green enquanto artista en-
ta leva a uma implosão hermética de indul- volvida com os quatro projetos. E, nesse
gências subjetivas (auto)biográficas e miopias sentido, o projeto funcionou como retros-
narcisistas falhamente representadas como pectiva um tanto convencional.
auto-reflexão.
Ao mesmo tempo em que essa mudança na
Sendo assim, uma das trajetórias narrativas reorganização estrutural da produção cultu-
de todos os projetos site-oriented é consis- ral altera a forma da mercadoria em arte
tentemente alinhada com os projetos ante- (para serviços) e a autoridade do artista (para
riores do artista executados em outros lu- protagonista “ressurgido”), valores como
gares, gerando o que poderia ser chamado originalidade, autenticidade e singularidade
de quinto site – a história de exposições do também são retrabalhados na arte site-
artista, seu currículo. A tensão entre o in- oriented – descolados do trabalho de arte e
tenso trânsito do artista e a recentralização atribuídos ao site – reforçando uma cultura
do significado em sua volta é ilustrado por geral de valorização dos lugares como foco
Renée Green em World Tour (1993), con- da experiência autêntica e do sentido coe-
junto de quatro reinstalações de projetos rente de identidade pessoal e histórica.40
site-specific produzidos em diversas partes
Exemplo instrutivo desse fenômeno é Places
do mundo no período de três anos.38 Ao
with a Past, exposição site-specific de 1991
reunir vários projetos distintos, World Tour organizada por Mary Jane Jacob, que tomou
buscou refletir sobre as condições proble- a cidade de Charleston, Carolina do Sul, não
máticas da situação atual da site-specificity, só como seu pano de fundo, mas como
tal como a situação etnográfica dos artistas “ponte entre os trabalhos de arte e o públi-

TEMÁTICAS • MIWON KWON 179


co.”41 Além da quebra de regras do “art bém provê distinção “única” para os lugares.
establishment”, a exposição queria expandir
o diálogo entre arte e a dimensão sócio-his- Com certeza a arte site-specific pode levar à
tórica dos lugares. De acordo com Jacob, emergência de histórias reprimidas, prover
“Charleston provou ser um terreno fértil” apoio para maior visibilidade de grupos e as-
para a investigação de assuntos que dizem suntos marginalizados e iniciar a redescoberta
respeito a “gênero, raça, identidade cultural, de lugares “menores” até então ignorados
considerações sobre diferença... assuntos pela cultura dominante. Mas, considerando
muito em voga na crítica e prática artísticas... que a ordem socioeconômica atual cresce
A realidade da situação, o tecido do tempo na produção (artificial) e no consumo (de
e do local de Charleston, ofereceram con- massa) da diferença (pela diferença), a
texto incrivelmente rico e significativo para exposição de arte em lugares “reais” pode
a feitura e mostra de instalações fisicamente também significar uma maneira de extrair as
proeminentes que fossem publicamente vi- dimensões históricas e sociais dos lugares
síveis e legítimas [para o artista] na aborda- para servir de forma diversificada ao impul-
gem dessas idéias”.42 so temático do artista, satisfazer perfis
demográficos institucionais ou preencher
Enquanto a arte site-specific continua a ser necessidades fiscais da cidade.
descrita como refutação da originalidade e
da autenticidade como qualidades intrínse- Significativamente, a apropriação da arte site-
cas do objeto de arte ou do artista, essa resis- specific para a valorização das identidades
tência facilita a tradução e o deslocamen- urbanas vem em época de fundamental
to dessas qualidades do trabalho de arte mudança cultural, em que arquitetura e ur-
para o lugar de sua apresentação, para que banismo, anteriormente os principais meios
eles retornem para o trabalho de arte para expressar a visão da cidade, são deslo-
agora que ele se tornou integrante do local. cados por outros meios mais íntimos como
Assumidamente, conforme Jacob, “localida- o marketing e a publicidade. Nas palavras
des... contribuem para uma identidade es- do teórico urbano Kevin Robins, “Uma vez
pecífica das exposições apresentadas ao in- que as cidades se tornam cada vez mais equi-
jetar a singularidade do lugar na experiên- valentes e as identidades urbanas cada vez
cia”.43 Contrário a isso, se a especificidade mais ‘finas’,... tornou-se necessário empregar
social, histórica e geográfica de Charleston as agências de publicidade e o marketing para
ofereceu aos artistas a oportunidade única manufaturar tais distinções. É uma questão
de criar trabalhos irrepetíveis (e, por exten- de distinção num mundo além da diferen-
são, uma exposição irrepetível), então a ça”.44 Site-specificity, nesse contexto, encon-
implementação programática da arte site- tra nova importância porque provê distin-
specific em exposições como Places with a ções de lugares e singularidade de identida-
Past utiliza, em última instância, a arte para des locais, qualidades altamente sedutoras
promover Charleston como lugar único e na promoção de cidades dentro da
especial. Uma das coisas mais celebradas na reestruturação competitiva da hierarquia
arte site-specific ainda é a singularidade e a econômica global. Desse modo, site-
autenticidade que parece ser garantida pela specificity permanece inexoravelmente amar-
presença do artista não só em termos da rado a um processo que confere à particu-
presumida irrepetibilidade do trabalho, mas laridade e à identidade de várias cidades ca-
na maneira como a presença do artista tam- ráter de diferenciação de produto. De fato,

180
o catálogo da exposição Places with a Past para receber uma forma de constru-
era uma “deliciosa” promoção turística, lan- ção é um engajamento no ato de “cul-
çando a cidade de Charleston como única, tivo” desse site... Essa inscrição... tem
“artística” e significativa enquanto lugar (para uma capacidade de incorporar, uma
visitar).45 Sob o pretexto de sua articulação forma embutida, a pré-história do lu-
ou ressurreição, a arte site-specific pode ser gar, seu passado arqueológico e seu
mobilizada para acelerar o apagamento das subseqüente cultivo e transformação ao
diferenças via comercialização e serialização longo do tempo. Através dessas cama-
dos lugares. das do site, as idiossincrasias do lugar
encontram sua expressão sem cair na
A combinação do mito do artista como fon- sentimentalidade. Kenneth Frampton48
te privilegiada de originalidade com a crença
costumeira de lugares como fontes prontas A elaboração de identidades ligadas a
de identidades singulares falseia a natureza um lugar tem-se tornado mais ao invés
compensatória de tal movimento. A junção de menos importantes num mundo de
de artista e site revela ansioso desejo cultu- diminuição das barreiras espaciais nas
ral de atenuar a sensação de perda e vazio trocas, nos movimentos e nas comuni-
que permeia ambos os lados dessa equa- cações. David Harvey49
ção. Nesse sentido, Craig Owens talvez es-
tivesse certo ao caracterizar a site-specificity É significativo o fato de que a mobilidade da
como discurso e prática melancólicos,46 tal arte site-specific de décadas anteriores seja
como Thierry de Duve, para quem a “es- concomitante com o nomadismo da atual
cultura nos últimos 20 anos é uma tenta- prática site-oriented. Paradoxalmente, en-
tiva de reconstruir uma noção de site a quanto apóiam a importância do lugar, jun-
partir do ponto de vista de ter admitido tos expressam a dissipação do lugar, enre-
seu desaparecimento”.47 dados na “dinâmica da desterritorialização”,
conceito hoje elaborado mais claramente nos
O achatamento de uma topografia ir- discursos da arquitetura e do urbanismo.
Grupo Material, regular é claramente um gesto
DaZiBaos,
tecnocrático que aspira a uma condi- No atual contexto da expansão da ordem
Projetos de pôsteres na
Union Square. Nova ção de absoluta ausência de um lugar, capitalista, alimentada por crescente
York, 1982 enquanto o preparo desse mesmo site globalização da tecnologia e das teleco-

TEMÁTICAS • MIWON KWON 181


municações, as condições cada vez mais te, no estabelecimento da autenticidade do
intensas de indiferenciação espacial e significado, memória, histórias e identidades
desparticularização exacerbam os efeitos de como uma função diferencial dos lugares. É
alienação e fragmentação na vida contem- essa função diferencial associada aos lugares
porânea.50 O impulso em direção a uma ci- que as formas primeiras de arte site-specific
vilização universal e racional, engendrando a tentaram explorar e que as atuais incorpo-
homogeneização dos lugares e o apagamen- rações de trabalhos site-oriented buscam
to das diferenças culturais, é na verdade a reimaginar, que é o atrativo oculto da ex-
força contra a qual Frampton propõe uma pressão site-specificity.
prática de Regionalismo Crítico conforme
descrito acima – um programa para uma “ar- Parece inevitável termos de deixar para trás
quitetura de resistência”. Se as tendências as noções nostálgicas do local [site] como
universalizantes do modernismo minaram as sendo essencialmente amarradas às realida-
antigas divisões de poder baseadas nas rela- des físicas e empíricas do lugar [place]. Tal
ções de classe apegadas às hierarquias geo- concepção, se não ideologicamente suspei-
gráficas de centro e margem, para ajudar o ta, com freqüência parece estar fora de
capitalismo na colonização dos espaços “pe- sintonia com as descrições predominantes
riféricos”, então a articulação e o cultivo das da vida contemporânea como rede de flu-
diversas particularidades locais é reação (pós- xos sem âncora. Mesmo uma posição teóri-
moderna) contra esses efeitos. Henri ca avançada como a do Regionalismo Crí-
Lefebvre afirmou: “Considerando que o es- tico de Frampton parece datada nesse sen-
paço abstrato [do modernismo e do capital] tido, pois se baseia na crença de que um
tende na direção da homogeneidade, na di- lugar específico já existe com sua identi-
reção da eliminação das diferenças ou pecu- dade ou propriedades identitárias a priori
liaridades, um novo espaço não pode nas- sempre que novas formas culturais possam
cer (ser produzido) a não ser que ele acen-
ser introduzidas ou disso emergir. Em tal con-
tue diferenças.”51 Talvez não haja nenhuma
surpresa, então, no fato de que os esforços cepção pré- (ou pós-)pós-estruturalismo,
para resgatar diferenças perdidas ou reduzir todas as ações site-specific teriam sido en-
o seu desaparecimento ganhem pesado in- tendidas como reativas, “cultivando” o que
Gabriel Orozco,
vestimento em sua reconexão com a “sin- se presume já estar lá, mais do que como Isla dentro de la isla
gularidade do lugar” – ou, mais precisamen- geradoras de novas identidades e histórias. Nova York, 1992

182
De fato, a desterritorialização do site pro- jogos “críticos” polimorfos sobre as genera-
duziu um efeito liberador, deslocando a rigi- lidades e estereótipos, pode terminar sendo
dez de identidades apegadas ao lugar com a álibi equivocado para a obtenção de curtos
fluidez de um modelo migratório, introdu- momentos de atenção, reforçando a ideo-
zindo as possibilidades para a produção de logia do novo – um antídoto temporário para
múltiplas identidades, fidelidades e significa- a ansiedade do tédio. Talvez seja precoce e
dos não baseados em conformidades amedrontador admitir, mas o paradigma dos
normativas, mas nas convergências não racio- sujeitos e sites nômades pode ser uma
nais forjadas pelos encontros e circuns- glamourização do éthos do coringa, que é
tâncias imprevistos. A fluidez da subjetivida- na verdade uma reprise da ideologia da “li-
de, identidade e espacialidade, conforme des- berdade de escolha” – a escolha de esque-
crita por Gilles Deleuze e Félix Guatarri em cer, de reinventar, de tornar ficção, de “per-
seu nomadismo rizomático,52 por exemplo, tencer” a qualquer lugar, todos os lugares e
é poderosa ferramenta teórica para des- nenhum lugar. Essa escolha, é claro, não cabe
manchar ortodoxias tradicionais que suprimi- a todos de forma igualitária. O entendimen-
riam diferenças, às vezes violentamente. to de identidade e diferença como constru-
ções culturais não deveria obscurecer o fato
No entanto, apesar da proliferação dos sites
de que a habilidade de empregar identida-
discursivos e dos “eus ficcionais”, o fantasma
des múltiplas e fluidas é, na verdade, privilé-
do site enquanto lugar real permanece; e
gio de trânsito que tem relação específica
nosso psiquismo e os apegos costumeiros
com o poder.
aos lugares retornam com freqüência, uma
vez que eles continuam a informar nosso O que significaria, agora, defender a idéia de
senso de identidade. E essa aderência per- que a especificidade cultural e histórica de
sistente, talvez secreta, à realidade dos luga- um lugar (e sujeito) não é nem simulacro
res (em memória, em saudade) não é ne- apaziguador e nem invenção do desejo? Para
cessariamente falta de sofisticação teórica, a arquitetura, Frampton propõe um proces-
mas um meio de sobrevivência. so de “dupla mediação”, que é na verdade a
dupla negação, desafiando “a otimização da
O ressurgimento da violência na defesa das
tecnologia avançada assim como a sempre
noções essenciais de identidades nacionais,
presente tendência a regredir ao historicismo
raciais, religiosas e culturais em relação a ter- nostálgico ou ao decorativo descontraído”.53
ritórios geográficos é prontamente caracte- Uma dupla mediação análoga na arte site-
rizado como extremista, retrógrado e specific poderia ser achar um terreno entre
“incivilizado”. Mesmo assim, o afrouxamen- a mobilidade e a especificidade – estar fora
to de tais relações, ou seja, a desestabilização de lugar com pontualidade e precisão. Homi
de subjetividade, identidade e espacialidade Bhabha declarou que “O globo encolhe para
(seguindo as imposições do desejo), também aqueles que o possuem; para os deslocados
pode ser descrito como fantasia compensa- e despossuídos, o migrante ou o refugiado,
tória em resposta à intensificação da frag- nenhuma distância é mais espantosa do que
mentação e alienação causada pela econo- alguns metros além dos limites ou frontei-
mia de mercado globalizado (seguindo as ras”.54 As práticas site-oriented de hoje her-
imposições do capital). A defesa da dam a tarefa de demarcar a especificidade
mobilização contínua das identidades locais relacional que pode suportar a tensão dos
e pessoais como ficções discursivas, como pólos distantes e das experiências espaciais

TEMÁTICAS • MIWON KWON 183


descritas por Bhabha. Isso significa endere- tendo significado definitivo e trans-histórico, determina-
va a falta de lugar do objeto, sua pertença a nenhum
çar-se às diferenças das adjacências e distân- lugar em particular... A especificidade de lugar [site
cias entre uma coisa, uma pessoa, um lugar, specificity] opôs-se a esse idealismo – desvendado o sis-
um pensamento, um fragmento ao lado do tema material que ele ocultava – com a recusa da mobi-
outro, mais do que evocar as equivalências lidade de circulação e com a pertença a um espaço es-
pecífico [specific site].” In On the Museum’s Ruins.
via uma coisa após a outra. Só essas práticas Cambridge: MIT Press, 1993: 17 [Sobre as ruínas do
culturais que têm essa sensibilidade relacional museu. Tradução de Fernando Santos e revisão de Aníbal
podem transformar encontros locais em Mari. São Paulo: Martins Fontes, 2005: 18]. Ver também
compromissos de longa duração e intimida- Rosalind Krauss, Sculpture in the Expanded Field (1979),
in Hal Foster (ed.)The Anti-Aesthetic: Essays on
des passageiras em marcas sociais permanen- Postmodern Culture. Port Townsend, Wash.: Bay Press,
tes e indeléveis – para que a seqüência de 1983: 31-42 [A escultura no campo ampliado (1979),
lugares que habitamos durante a vida não se tradução de Elizabeth Baez, republicado nesta edição
torne generalizada em serialização de Arte&Ensaios].
indiferenciada, um lugar após o outro. 2 William Turner, apud Mary Miss, From Autocracy to
Integration: Redefining the Objectives of Public Art, in
Miwon Kwon é Ph.D. em Teoria e História da Arquite- Stacy Paleologos Harris (ed.) Insights On Sites:
tura pela Universidade de Princeton (1998), tornando- Perspectives on Art in Public Places. Washington, D.C.:
se professora-assistente de história da arte contempo- Partners for Livable Places, 1984: 62.
rânea da Universidade da Califórnia (Ucla) no mesmo 3 Rosalyn Deutsche fez importante distinção entre o mode-
ano. Foi editora de Documents, revista de arte, cultura lo assimilativo de site-specificity – no qual o trabalho de
e crítica (1992-2004), além de ter colaborado com di- arte é articulado na direção de uma integração ao
versas curadorias no Whitney Museum of American Art, ambiente existente, produzindo espaço unificado, “har-
em Nova York. Desenvolve estudos sobre arte e arqui- monioso” de totalidade e coesão – e modelo
tetura contemporâneas, bem como sobre a relação en- intervencionista, em que o trabalho de arte funciona
tre arte e cidade. como intervenção crítica na ordem existente do local.
Ver seus artigos: Tilted Arc and the Uses of Public Space,
Texto originalmente publicado na revista Design Book Review, n. 23, inverno de 1992: 22-27;
October 80, primavera, 1997: 85-110. e Uneven Development: Public Art in New York
City, October 47, inverno de 1988: 3-52.
Este ensaio é parte de um projeto maior de
4 Robert Barry, in Arthur R. Rose (pseudônimo), Four
convergência de arte e arquitetura em práti- interviews with Barry, Huebler, Kosuth, Weiner, Arts
cas site-specific dos últimos 30 anos, especial- Magazine, fevereiro de 1969: 22.
mente no contexto de arte pública. Agrade- 5 Richard Serra, carta a Donald Thalacker, de 01/01/1985,
ço os comentários críticos encorajadores de publicada em Clara Weyergraf-Serra e Martha Buskirk
Hal Foster, Helen Molesworth, Sowon e (ed.).The Destruction of Tilted Arc: Documents.
Seong Kwon, Rosalyn Deutsche, Mark Cambridge: MIT Press, 1991: 38.
Wigley, Doug Ashford, Russel Ferguson, e 6 Richard Serra, Tilted Arc Destroyed, Art in America 77, n.
Frazer Ward. Tendo recebido o Professional 5, maio de 1989: 34-47.
Development Fellowship for Arts Historians, 7 A controvérsia sobre Tilted Arc obviamente envolveu
agradeço ao College Art Association o apoio. outras questões além do status do site-specificity, mas,
no final, site-specificity foi a expressão sobre a qual Ser-
Tradução: Jorge Menna Barreto ra apoiou toda a sua defesa. Apesar da derrota de Serra,
a definição legal de site-specificity permanece não resol-
Revisão Técnica: Paulo Roberto Stolz e Ivair vida e continua a ser palco para muitos conflitos jurídi-
Reinaldim cos. Para uma discussão a respeito das questões legais
no caso Tilted Arc, ver: Barbara Hoffman, Law for Art’s
Notas Sake in the Public Realm, in W.J.T. Mitchell (ed.). Art in
the Public Sphere. Chicago: University of Chicago Press,
1 Douglas Crimp escreveu: “O idealismo da arte modernista, 1991: 113-46. Agradeço a James Marcovitz as discus-
na qual o objeto em si e por si mesmo era visto como sões no que se refere à legalidade de site-specificity.

184
8 Ver o artigo de Hal Foster, The Crux of Minimalism, comunidade em: Aesthetic Evangelists: Conversion and
in Howard Singerman (ed). Individiuals: A Selected Empowerment in Contemporary Community Art,
History of Contemporary Art 1945-1986. Los Afterimage, janeiro de 1995: 5-11.
Angeles: The Museum of Contemporary Art, 1986:
162-83. Ver também: Craig Owens, From Work to 14 A exposição Arte Joven en Nueva York”, curada por
Frame, or, Is There Life After ‘The Death of the José Gabriel Fernandez, foi sediada na Sala
Author’?, in Beyond Recognition. Berkeley: University Mendonza e Sala RG em Caracas, Venezuela, de 9
of California Press, 1992: 122-39. de junho a 7 de julho de 1991.

9 Daniel Buren, Function of the Museum, Artforum, setem- 15 Esse quarto site, ao qual Dion retornaria várias vezes em
bro de 1973. outros projetos, permaneceu consistente mesmo quan-
do os conteúdos dos recipientes da viagem ao Orinoco
10 Daniel Buren, Critical Limits, in Five Texts [1970]. Nova foram transferidos para Nova York para ser
York: John Weber Gallery, 1974: 38 (reimpressão). reconfigurados em 1992 e tornar-se o New York State
Bureau of Tropical Conservation, instalação para uma
11 Ver Conversation with Robert Smithson, editado por exposição na American Fine Arts Co. Ver a conversa
Bruce Kurtz em Nancy Holt (ed) The Writings of The Confessions of an Amateur Naturalist em
Robert Smithson. Nova York: New York University Documents 1/2, outono/inverno de 1992: 36-46. Ver
Press, 1979: 200. também minha entrevista com o artista na monografia
12 Esse projeto envolvia o deslocamento de uma réplica em Mark Dion. Londres: Phaidon Press, 1997.
bronze de uma estátua do século 18 de George Wa- 16 Ver a discussão da mesa-redonda On Site Specificity in
shington de sua posição normal, do lado de fora da en- Documents 4/5, verão de 1994: 11-22. Os participantes
trada frontal do Art Institute, para uma das galerias in- incluíam Hal Foster, Renée Green, Mitchell Kane, John
ternas, menores e que expunham pinturas, esculturas e Lindell, Helen Molesworth e eu.
artes decorativas européias do século 18. Asher afir-
mou sua intenção da seguinte maneira: “Nesse trabalho 17 James Meyer, The Functional Site, in Platzwechsel. Zurich:
estou interessado na forma em que a escultura funciona Kunsthalle Zurich, 1995: 27 [catálogo de exposição]. Uma
quando é vista em seu contexto do século 18 em vez versão revisada desse artigo aparece na Documents 7,
de em sua relação anterior com a fachada do prédio... outono de 1996: 20-29.
Uma vez dentro da Galeria 219 a escultura pode ser
18 Apesar da adoção de terminologia da arquitetura na des-
vista em conexão com as idéias de outros trabalhos
crição dos muitos espaços eletrônicos novos (web sites,
europeus do mesmo período” (apud Anne Rorimer,
ambientes de informação, infra-estrutura de programas,
Michael Asher: Recent Work, Artforum, abril de 1980:
construção de home pages, espaços virtuais, etc.), a ex-
47. Ver também: Benjamin H. D. Buchloh (ed.). Michael
periência espacial no computador é estruturada mais
Ahser: Writings 1973-1983 on Works 1969-1979.
como seqüência de movimentos e passagens, e menos
Halifax, Nova Scotia e Los Angeles: The Press of the
como a habitação ou ocupação temporal de um “site”
Nova Scotia College of Art and Design and The Museum
em particular. O hipertexto é ótimo exemplo. A
of Contemporary Art Los Angeles: 207-21.
(informação) superhighway é analogia mais viável,
13 Esses interesses coincidem com desenvolvimentos na arte pois a experiência espacial da highway é experiên-
pública, que reprogramou a arte site-specific para ser cia de trânsito entre lugares (apesar da imobilidade
sinônimo de arte baseada na comunidade. Conforme do corpo que está dirigindo).
exemplificado em projetos tais como Culture in Action,
em Chicago (1992-93), e Points of Entry, em Pittsburgh 19 Novamente, está além da abrangência deste artigo aten-
(1996), a arte site-specific pública na década de 1990 der às questões que se referem ao status de “público”
marca a convergência entre práticas culturais enraizadas nas práticas da arte contemporânea. Sobre esse tópico,
ver Rosalyn Deutsche. Evictions: Art and Spatial Politics.
em ativismos políticos esquerdistas, tradições estéticas
Cambridge: MIT Press, 1996.
baseadas na comunidade, arte conceitual nascida da abor-
dagem crítico-institucional e políticas de identidade. Por 20 Ver, por exemplo, Gilles Deleuze, Postscript on the
causa dessa convergência, muitas das questões que Societies of Control, October 59, inverno de 1992: 3-7;
concernem às práticas contemporâneas de site-specific e Manuel Castells. The Informational City. Oxford: Basil
se aplicam à arte pública também, e vice-versa. Infeliz- Blackwell, 1989.
mente, uma análise dos problemas estéticos e políticos
específicos da arena da arte pública, especialmente aque- 21 Para aprofundamento desse assunto, ver Susan Hapgood,
les que dizem respeito às políticas espaciais das cidades, Remaking Art History, Art in America, julho de 1990:
terão que esperar outra instância. Nesse meio tempo, 115-23, 181.
sugiro aos leitores a análise excelente de Grant Kester 22 The New Sculpture 1965-75: Between Geometry and
sobre as atuais tendências da arte pública baseada na Gesture, no Whitney Museum (1990) incluía 14 recria-

TEMÁTICAS • MIWON KWON 185


ções de trabalhos de Barry Le Va, Bruce Nauman, Alan “interpretativos” e “intervencionistas” para a fundação é
Saret, Richard Serra, Joel Shapiro, Keith Sonier e Richard um dos poucos exemplos que posso citar que
Tuttle. A recriação de Le Va da obra Continuous and autoconscientemente promovem essa mudança nas
Related Activities: Discontinued By the Act of Dropping, condições da produção artística e na recepção em ter-
de 1967, foi comprada pela coleção permanente do mos de conteúdo e estrutura do projeto. Ressalte-se que
Whitney e subseqüentemente reinstalada em várias a própria artista iniciou o projeto ao oferecer tais serviços
outras exposições em muitas cidades. Com alguns des- com seu “Prospectus for Corporations.” Ver o Relatório
ses trabalhos há um traço de ambigüidade entre de Fraser. Vienna: EA-Generali Foundation, 1995.
efemeridade (repetível?) e site-specificity (irrepetível?).
34 Richard Serra, Verb List, 1967-68, in Writings Interviews.
23 Hapgood, Remaking Art History: 120. Chicago: University of Chicago Press, 1994: 3.
24 Essa foi a lógica por trás da defesa de Richard Serra do 35 Benjamin H. D. Buchloh, Conceptual Art 1962-1969: From
Tilted Arc. Conseqüentemente, a questão da realocação the Aesthetics of Administration to the Critique of
ou remoção da escultura tornou-se debate que dizia Institutions, October 55, inverno de 1991: 105-43.
respeito aos direitos criativos do artista.
36 Por exemplo, a série de exposições Views from Abroad,
25 Ver as edições de março e abril de Art in America, 1990. no Whitney Museum, que apresentou a visão “artística”
de curadores europeus, é estruturada de forma muito
26 Sol LeWitt, com seu trabalho Lines to Points on a Six- parecida com as encomendas site-specific dos artistas
Inch Grid (1976), por exemplo, fez uma série de seus que focam nas coleções permanentes dos museus con-
desenhos de parede ao abandonar a necessidade de forme descrito acima.
seu envolvimento na hora da execução do trabalho,
permitindo a possibilidade de infinita repetição do mes- 37 De acordo com James Meyer, uma prática site-oriented
mo trabalho reconfigurado por outros em uma varieda- baseada em noção “funcional” do site “rastreia os movi-
de de locações diferentes. mentos do artista ao longo e em torno da instituição”;
“reflete interesses específicos, educações, e decisões for-
27 Ver: Rosalind Krauss, The Cultural Logic of the Late mais do produtor”; e “no processo de deferência, uma
Capitalist Museum, October 54, outono de 1990: 3-17. cadeia de significados que transcende as fronteiras físi-
28 Para a descrição de Faith Wilding desse dilema, assim como cas e discursivas,” o functional site “incorpora o corpo
sua avaliação das revisitações recentes da arte feminista do artista” (grifo meu). Ver Meyer, Functional Site: 29,
de 1960, ver seu artigo Monstruous Domesticity, in 33, 31, 35.
Meaning, n. 18, novembro de 1995: 3-16. 38 A instalação consistia em Bequest, apoiada pelo Worcester
Art Museum em Massachussets em 1991; Import/Export
29 Ver Hal Foster, Artist as Ethnographer, in The Return of
Funk Office, originalmente mostrada na Christian Nagel
the Real. Cambridge: MIT Press, 1996 [“O artista como
Gallery em Colônia em 1992 e depois reinstalada na Bienal
etnógrafo”, tradução de Alexandre Sá e revisão de Angela
de 1993 no Whitney Museum of American Art; Mise en
Prada, em Arte&Ensaios, n. 12, 2005: 136-51], sobre os
Scéne, primeiramente apresentada em 1992 em Clisson,
complexos trânsitos entre arte e antropologia na arte atual. França; e Idyll Pursuits, produzida por uma exposição co-
30 Ver a entrevista de Fred Wilson por Martha Buskirk em letiva em 1991 em Caracas, Venezuela. Como um todo,
October 70, outono de 1994: 109-12. World Tour, foi exibida no The Museum of Contemporary
Art Los Angeles em 1993 e mais tarde no mesmo ano
31 Isabelle Graw, Field Work, Flash Art, novembro/dezem- viajou para o Dallas Museum of Art. Ver Russel Ferguson
bro de 1990: 137. Sua observação aqui é em relação à (ed.). World Tour. Los Angeles: The Museum of
prática de Hans Haacke, mas é relevante como afirma- Contemporary Art, 1993 [catálogo da exposição].
ção geral que diz respeito ao estado atual da crítica à
39 Esse esforço não é exclusivo de Green. Silvia Kolbowski,
instituição. Ver também Frazer Ward, The Haunted
por exemplo, propôs a possibilidade de trabalhar com
Museum: Institutional Critique and Publicity, October 73,
sites enquanto algo genérico e transferibilidade enquan-
verão de 1995: 71-90.
to algo específico. Ver Enlarged from the Catalogue: The
32 Ver Saskia Sassen. The Global City: New York, London, United States of America, in Silvia Kolbowski: Projects.
Tokyo. Princeton University Press, 1991. Nova York: Border Editions, 1993: 34-51.

33 O projeto de Andrea Fraser de 1994-95 em que ela se 40 Essa fé na autenticidade do lugar é evidente em um am-
contratou pela EA-Generali Foundation em Viena (as- plo leque de disciplinas. Nos estudos urbanos, ver
sociação de arte estabelecida pelas companhias perten- Dolores Hayden. The Power of Place: Urban Landscapes
centes à empresa de seguro EA-Generali Foundation) as Public History. Cambridge: MIT Press, 1995. Em rela-
como artista/consultora para prover serviços ção à arte pública, ver Ronald Lee Fleming e Renata von

186
Tscharner. Place Makers: Creating Public Art That Tells 1997]; David Harvey. The Condition of Postmodernity.
You Where You Are. Boston/San Diego/Nova York: Cambridge: Blackwell, 1990 [Condição pós-moderna:
Harcourt Brace Jovanovich, 1981. Ver também Lucy uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Tra-
Lippard. The Lure of the Local: The Sense of Place in a dução de Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçal-
Multicultural Society. Nova York: The New Press, 1997. ves. São Paulo: Loyola, 1992]; Margaret Morse, The
Ontology of Everyday Distraction: The Freeway, The
41 Ver Places with a Past: New Site-specific Art at Charleston’s Mall, and Television, in Patricia Mellencamp (ed.). Logics
Spoleto Festival. Nova York: Rizzoli, 1991: 19 [catálogo of Television: Essays in Cultural Criticism. Bloomington:
da exposição]. A exposição aconteceu de 24 de maio a 4 Indiana University Press, 1990: 193-221; Michael Sorkin
de agosto de 1991, com trabalhos site-specific de 18 ar- (ed.). Variations on a Theme Park: The New American
tistas, incluindo Ann Hamilton, Christian Boltanski, Cindy City and the End of Public Space. Nova York: Noonday
Sherman, David Hammons, Lorna Simpson e Alva Rogers, Press, 1992; e Edward Soja. Postmodern Geographies:
Kate Ericson e Mel Ziegler e Ronald Jones. O material de The Reassertion of Space in Critical Theory. Londres:
promoção, especialmente o catálogo da exposição, Verso Books, 1989. Para crítica feminista de algumas des-
enfatizava o desafio inovador do formato da exposição sas teorias espaciais urbanas, ver Rosalyn Deutsche, Men
que difere de projetos individuais e salientava o papel in Space, Strategies, n. 3, 1990: 130-37, e Boys Town,
autoral de Mary Jane Jacob mais do que dos artistas. Environment and Planning D: Society and Space 9, 1991:
42 Ibid.: 17. 5-30. Para crítica específica da posição de Sorkin, ver meu
artigo Imagining an Impossible World Picture, in Stan Allen
43 Ibid.: 15. and Kyong Park (ed.).Sites and Stations: Provisional Uto-
44 Kevin Robins, Prisoners of the City: Whatever Can a pias. Nova York: Lusitana Press, 1995: 77-88.
Postmodern City Be?, in Erica Carter, James Donald, e 51 Henri Lefebvre. The Production of Space. Tradução para
Judith Squires (ed.). Space and Place: Theories of Identity a língua inglesa de Donald Nicholson-Smith. Oxford:
and Location. Londres: Lawrence & Wishart, 1993: 306. Blackwell, 1991: 52.
45 A crítica cultural Sharon Zukin afirmou que “parecia ser 52 Gilles Deleuze e Félix Guattari. A Thousand Plateaus.
política oficial [por volta de 1990] fazer um lugar para a Tradução para a língua inglesa de Brian Massumi.
arte na cidade ser compatível com estabelecer uma iden- Minneapolis: University of Minnesota Press, 1987 [Mil
tidade comercial para a cidade como um todo”. Sharon platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vários tradutores. Rio
Zukin. The Culture of Cities. Cambridge: Blackwell de Janeiro: Editora 34, 1995-1997, volumes 1 a 5].
Publishers, 1995: 23.
53 Frampton, Towards a Critical Regionalism: 21.
46 Referindo-se ao Spiral Jetty e ao Partially Buried Wooden
Shed, de Robert Smithson, Craig Owens fez importante 54 Homi K. Bhabha, Double Visions, Artforum, janeiro de
conexão entre melancolia e a lógica redencionista do 1992: 88.
site-specificity, em The Allegorical Impulse: Toward a
Theory of Postmodernism, October 12, verão de 1980:
67-86 [O impulso alegórico: sobre uma teoria do pós-
modernismo, tradução de Neusa Dagani e revisão de
Glória Ferreira, em Arte&Ensaios, n. 11, 2004: 112-25].
47 Thierry de Duve, Ex Situ, Art & Design 8, n. 5/6, maio/
junho de 1993: 25.
48 Kenneth Frampton, Towards a Critical Regionalism, in
Hal Foster (ed.). The Anti-Aesthetic: Essays on
Postmodern Culture. Port Townsend, Wash.: Bay Press,
1983: 26.
49 David Harvey, From Space to Place and Back Again:
Reflections on the Condition of Postmodernity, texto
para Ucla GSAUP Colloquium, maio 13, 1991, confor-
me citado por Hayden, The Power of Place: 43.
50 Ver Frederic Jameson. Postmodernism, or the Cultural
Logic of Late Capitalism. Durham: Duke University Press,
1991 [Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo
tardio. Tradução de Maria Elisa Cevasco. São Paulo: Ática,

TEMÁTICAS • MIWON KWON 187

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