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Perguntas de escolha múltipla

(adaptado de School Leaders Now)

Pedro Damião
Twitter: @geofactualidade | Blogger: geofactualidades.blogspot.com

Uma crítica persistente aos testes de escolha múltipla é a de que se limitam a avaliar a capacidade de
memorização e de recordação de factos isolados pelos alunos. Décadas de estudos e investigação neste domínio
demonstram que este tipo de testes, desde que adequadamente construídos, também podem avaliar capacidades
cognitivas de ordem superior, tais como a interpretação, síntese e aplicação do conhecimento.

Apesar da desconfiança que ainda existe relativamente à forma de avaliar através de perguntas de escolha
múltipla, a verdade é que, em muitos casos, estas perguntas não só são uma enorme economia de tempo, mas
também podem dar feedback mais oportuno e resultados mais fiáveis no que concerne às aprendizagens
realizadas.

As perguntas de escolha múltipla não são as velhas e cansativas perguntas de memorização em que os alunos
debitam informação decorada, mas podem desafiar os alunos a aplicar os conhecimentos em questões de nível
cognitivo de ordem superior.

Uma das melhores e mais eficientes formas de avaliar os alunos

Das seguintes questões, qual delas avalia um nível cognitivo mais elevado?

1. Qual dos seguintes características é mais correta sobre a linha de costa portuguesa?
(A) marcada por inúmeras reentrâncias, que constituem excelentes abrigos portuários.
(B) apresenta-se com um traçado retilíneo, onde se alternam troços de costa alta e de costa baixa.
(C) caracteriza-se pela predominância de costa alta, onde dominam arribas fósseis.
(D) constituída por um extenso cordão de areia branca, interrompido, em alguns pontos, por importantes
promontórios.

2. Qual das seguintes reservas naturais não se situa a Sul do rio Mondego?
(A) Reserva Natural das Dunas de São Jacinto.
(B) Reserva Natural da Ria Formosa.
(C) Reserva Natural do Sado.
(D) Reserva Natural da Concha de São Martinho.

Provavelmente a escolha recaiu sobre a primeira pergunta, mas porquê? Comparando as duas, a segunda
pergunta é apenas uma pergunta de memorização que pede aos alunos para lembrar informações.

Na primeira pergunta, no entanto, os alunos devem analisar as informações e depois aplicar o que eles sabem
para encontrar a resposta. É requerido um maior esforço para provar a compreensão. Quando usadas
apropriadamente, as questões de escolha múltipla são uma forma rápida e maneira eficaz de verificar o domínio
dos conteúdos, mas somente se forem usadas corretamente.

Seguem-se alguns dos principais benefícios de testes de escolha múltipla quando eles utilizados corretamente.

A segunda questão faz parte da base da pirâmide taxonómica de Bloom. É a memorização mecânica, a qual
também importa considerar na avaliação, mas em doses pequenas.

Perguntas de nível mais básico são importantes no início para ajudar a dar confiança ao aluno e avaliar o nível de
compreensão que os alunos realmente têm. Contudo, é importante aumentar o desafio, criando questões que
convoquem para o nível de análise /avaliação (ver taxonomia de Bloom), mais próximo do topo da pirâmide. Estas
questões para avaliar competências cognitivas de ordem superior, requerendo uma elevada compreensão.

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O professor pode diferenciar através do grau de dificuldade das perguntas para ver exatamente onde os alunos
se situam e, em seguida, ajudá-los a chegar ao próximo nível.

As questões de escolha múltipla garantem uma classificação consistente e justa. Em certos métodos de avaliação,
há espaço para a subjetividade e para o erro humano. Ao comparar as respostas do aluno com critérios de
classificação, o professor torna-se uma parte importante da classificação pois faz juízos subjetivos sobre respostas
elaboradas. Idealmente, o professor deveria ter exatamente a mesmo decisão para todos os alunos ao classificar
uma resposta, mas quanto mais respostas classifica, maior será a probabilidade de haver discrepâncias.

É muito fácil penalizar um aluno por um erro gramatical ou por uma interpretação inconsistente de uma ideia e
não fazer o mesmo da resposta de outro aluno. As questões de escolha múltipla eliminam qualquer inconsistência
inconsciente na classificação das perguntas.

A questões de escolha múltipla permitem ao professor menos tempo e menos energia despendida na classificação,
um momento em que qualquer professor gasta inúmeras horas. Qualquer pergunta de desenvolvimento do tipo
ensaio numa turma de 30 alunos poderá levar muitas horas a classificar, traduzindo-se em sobrecarga para o
professor. Tal não significa que não sejam incluídas num teste / exame pois também é importante avaliar a
expressão escrita e o desenvolvimento das ideias dos alunos.

No entanto, questões de escolha múltipla bem elaboradas podem avaliar o mesmo conhecimento ou competência
que várias questões de desenvolvimento.

O tempo do professor é valioso e este deve investir tanto quanto possível do seu tempo a ajudar os alunos, e não
a classificar. As questões de escolha múltipla permitem que os professores classifiquem muito mais rapidamente
um conjunto de questões. Para além do facto de que é muito mais simples refazer questões para utilizar
novamente, bastando trocar as frases das possíveis respostas.

Estes são alguns dos benefícios da utilização das questões de escolha múltipla. No essencial, estas devem ser
formuladas para avaliarem aprendizagens mais profundas e conhecimento crítico.

Dependendo de como são criadas, as questões de escolha múltipla podem testar a capacidade dos alunos
memorizarem ou a capacidade de pensarem criticamente e de resolverem problemas.

Criar boas perguntas de escolha múltipla

Não torne as respostas erradas óbvias. Não há necessidade de usar escolhas claramente descartáveis. Um grande
benefício das questões de escolha múltipla está em usar as opções de resposta para aumentar o nível de desafio
cognitivo e de rigor. Utilizar distratores plausíveis e escolhas possíveis que se aproximem da resposta correta, para
assim exigir que os alunos demonstrem o domínio sobre o conteúdo.

Ignore o preenchimento dos espaços em branco. Evitar perguntas com espaços em branco para os alunos
completarem a frase. Em vez disso, é importante fazer perguntas para os alunos determinarem o que está correto
através de um processo de eliminação.

Fazer mais do que uma pergunta para cada conceito. Um enorme benefício das questões de escolha múltipla é
que se podem fazer várias perguntas sobre qualquer conceito. Certifique-se de que os alunos realmente dominam
um conteúdo / conceito. Ao tempo, é importante certificar-se de que uma pergunta não ajude o aluno a responder
a uma pergunta posterior.

Manter as opções de resposta similares em extensão. Uma questão mal formulada consiste em criar três opções
curtas e a correta mais longa, e, portanto, mais específico. Este tipo de erro ajuda os alunos a aprenderem como
responder de forma perspicaz, em vez de demonstrarem os seus conhecimentos sobre o conteúdo.

Contemplar todos os conceitos abordados. Em perguntas de desenvolvimento ou ensaio, as questões são limitadas
e, portanto, só podem cobrir alguns conceitos. Nas questões de escolha múltipla, devem ser elaboradas perguntas
que cubram todo tema abordado, de forma aprofundada e ampla.
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Avaliar não é enganar. É importante certificar que as perguntas não são excessivamente longas e que não se
confundem os alunos com a formulação das questões. Por exemplo, se for necessário usar uma dupla negativa,
colocar em negrito ou capitalizar a palavra para que os alunos não interpretam mal a questão. Existe ansiedade e
pressão na realização do teste e por isso deve-se promover uma avaliação do conhecimento dos alunos que seja
justa e leal. Não devem conter “ratoeiras”, nem ser demasiado complexas.

Rever o produto final – a pergunta e as respostas dos alunos. Procurar por áreas comuns onde os alunos tenham
mais dificuldade e determinar se a questão está bem formulada ou se o conceito não foi aprendido corretamente.
Este exercício irá contribuir para que as questões sejam fiáveis (consistência) e válidas (medem o que é suposto).

Garantir que a resposta correta seja indiscutível. Há uma linha ténue entre fazer distratores plausíveis e aqueles
que correspondem à resposta real. Apesar da importância de promover níveis cognitivos superiores, há que
garantir que a resposta correta é indiscutível.

A qualidade das perguntas está relacionada com a validade, fidedignidade e justiça. As questões de escolha
múltipla devem: ser alinhadas e coerentes com os objetivos de aprendizagem; serem combinadas com a testagem
das competências práticas; traduzir uma amostra representativa do conteúdo importante; estar isentas de erros e
falhas técnicas; haver cuidado na reutilização de perguntas de escolha múltipla; utilizar formatos alternativos que
já provaram a sua validade e fidedignidade.

A lista de opções deve conter palavras isoladas ou frases muito curtas. Não devem ser usados verbos, pois estes
devem estar no enunciado; liste as opções por ordem alfabética, ou lógica, se esta existir; as opções devem ser
homogéneas.

Checklist para construir boas perguntas de escolha múltipla

Enunciado.
 O enunciado deve ser claro, conciso e conter apenas informação relevante
 A ideia principal deve estar contida no enunciado e não nas opções
 Enquadrar, sempre que possível, o enunciado num contexto
 Evitar a excessiva verborreia (enunciados excessivamente longos ou com detalhes irrelevantes)
 Redigir o enunciado na afirmativa
 Evitar negativas tais como NÃO ou EXCETO. Se tiver que as usar, garanta que estão sublinhadas ou a negrito
 Deve ser possível responder à pergunta sem olhar para as opções
 Garantir que as questões são independentes – evitar dar a resposta a um item do teste no enunciado de outro
item
 Evitar que o conhecimento da resposta a um enunciado seja necessário à resposta a um enunciado
subsequente Evitar pistas gramaticais ou sintáticas (p.e.x. uma palavra ou frase é incluída no enunciado e na
resposta correta) Evitar enunciados contendo “ratoeiras” ou desnecessariamente complicados
 Instruir os alunos para selecionarem a melhor opção (que pode ser melhor do que as restantes, mas não tem
que necessariamente ser a única correta)
 Evitar a verbosidade (excesso de palavras), minudências irrelevantes ou conteúdo destinado a induzir em erro o
aluno
 Escrever o enunciado como uma pergunta ao invés de uma afirmação incompleta

Opções.
 Garantir que as opções distratoras são todas plausíveis e elaborar o maior número de opções que puder.
 A investigação sugere que 3 opções plausíveis podem ser suficientes
 Garantir que apenas uma das opções é a resposta mais correta
 A linguagem nas opções deve ser coerente e estas devem estar colocadas por uma ordem lógica
 As opções devem ser independentes, sem sobreposições
 As opções devem ser homogéneas em conteúdo e unidimensionais (p. ex., todas diagnósticos, todas exames
laboratoriais ou tratamentos)
 As opções devem ser tão breves (curtas) quanto possível
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 Evitar ou use cuidadosamente “Nenhum dos anteriores” ou “Todos os anteriores”
 Escrever as opções na afirmativa; evite negativas tais como NÃO
 Aproveitar os erros típicos dos alunos para escrever as suas opções distratoras
 Evitar o uso de termo absolutos, tais como “sempre”, ou “nunca”, que podem dar pistas sobre a resposta
correta Evitar opções opostas ou mutuamente exclusivas, porque podem sinalizar que uma delas está correta
 Não usar linguagem utilizada nos manuais de referência para a resposta correta, e não para os distratores
 Evitar elementos repetidos nas opções, porque assim a pergunta pode prestar-se a uma estratégia de
convergência (a resposta correta geralmente inclui a maioria dos elementos em comum com as outras opções)
 A posição da resposta correta deve variar (p.ex., não colocar todas as respostas corretas na alínea c))
 A resposta correta deve ser melhor que as restantes opções e claramente correta (não significa que as opções
distratoras tenham que ser incorretas, mas apenas menos corretas que a resposta-chave)
 As opções devem ter extensão semelhante
 As palavras repetidas nas opções devem ser movidas para o enunciado
 As opções não devem ser complicadas ou duplas
 Evitar termos vagos ou imprecisos, tais como “frequentemente”, “geralmente”, “raramente”, “algumas vezes”,
etc. Quando são usadas opções numéricas, devem ser listadas por ordem numérica (ou cronológica), num
único formato

Formatação e Conteúdo.
 Cada item deve incidir sobre conteúdos e objetivos de aprendizagem importantes
 Evitar conteúdo trivial,demasiado específico ou demasiado genérico
 Os itens devem ser construídos para um nível de dificuldade adequado.
 Evitar introduzir dificuldades irrelevantes
 Os itens devem testar a aplicação do conhecimento ao invés da mera recordação de informação e factos
isolados Usar material novo para testar níveis de complexidade cognitiva mais elevada (e não apenas a
recordação) Formatar os itens verticalmente ao invés de horizontalmente
 Minimizar a quantidade de leitura em cada item
 Editar e testar os itens.

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