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A Batalha do Atlântico e o Brasil na

II Guerra Mundial
Victor Tempone
Possui graduação em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003), Pós-graduação Lato
Senso em História das Relações Internacionais pela UERJ (2005) e mestrado em História Política pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2007). Atualmente é professor da Faculdade de Filosofia, Ciên-
cias e Letras de Macaé e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Resumo Abstract

O presente artigo analisa as decisões estra- This article analyzes the strategic decisions
tégicas navais da Alemanha para o Ocidente naval Germany to the West during the Second
durante a Segunda Guerra Mundial, especial- World War, especially after the invasion of the
mente após a invasão da URSS por suas for- USSR by its military forces and U.S. entry into
ças militares e a entrada dos EUA no conflito. the conflict. We emphasize the use of subma-
Destacamos o emprego dos submarinos como rines as the main weapon of naval warfare in
a principal arma de guerra naval no Atlântico, the Atlantic, the gradual increase of the under-
o crescimento gradativo das ações submarinas water action in the southern part of that ocean,
na parte sul daquele oceano e, por fim, a entra- and finally, Brazil’s entry in the war.
da do Brasil na guerra.
KeyWords: Second War, Battle of the Atlan-
Palavras-Chave: Segunda Guerra; Batalha tic; Undersea Warfare
do Atlântico; Guerra Submarina

A Estratégia Alemã na Batalha do Atlântico

De uma forma geral, são sobejamente sabidas as razões que motivaram o governo brasi-
leiro a declarar estado de beligerância com a Alemanha e a Itália, em 22 de agosto de 1942:
tal decisão se deu após sucessivos ataques, por submersíveis alemães, a navios da frota
mercante nacional no decorrer daquele ano, processo que atingiu seu clímax com o afunda-
mento de cinco navios e uma barcaça, no litoral da Bahia e de Sergipe, em menos de cinco
dias (15 a 19 de agosto), e que redundou na perda de centenas de vidas1. É muito menos co-
nhecida, todavia, a conexão que liga estes afundamentos com a alteração na estratégia de
guerra alemã ocorrida, fundamentalmente, pela incapacidade das Wermacht2 em obter, de
forma célere, a almejada vitória contra o adversário soviético em 1941, repetindo o ocorrido
até então em todas as campanhas militares alemãs no continente europeu.
A Blitzkrieg3 não foi simplesmente uma mera tática militar revolucionária, empregada
para bater exércitos inimigos. Subjacente à eficiência militar alemã nos campos de batalha,
havia uma estrutura econômica engendrada para suprir forças armadas capazes de vencer
guerras rápidas e localizadas, contra um inimigo de cada vez. A experiência da Primeira
Guerra Mundial deixara nas lideranças nazistas a ideia de que uma guerra longa, de des-
gaste, em muitas frentes e contra uma coalizão de inimigos levaria, quase que certamente,

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à derrota das armas alemãs. Para a Alema- se mister estruturar a Alemanha para uma
nha, situada no centro do continente euro- longa guerra de desgaste no leste, o que
peu, a melhor estratégia era a de combater implicava na mobilização de todos os recur-
e vencer seus inimigos separadamente, de sos disponíveis do III Reich para uma guerra
forma que eles não pudessem mobilizar de total. Em janeiro de 1942, através da ordem
maneira conjunta os seus recursos mate- Rüstung, Hitler reconhecia esta circunstân-
riais e humanos claramente superiores. cia e, a partir dela, procurou mudar o anda-
Sob o prisma econômico, a mobilização mento da economia alemã5.
bélica total não era desejável, nem conve- Os objetivos e recursos disponíveis pela
niente, aos alemães. A mudança de inimigo, Kriegsmarine6 durante os primeiros anos de
muitas vezes efetivada pela via diplomática, guerra devem ser analisados a partir do que
requeria grande flexibilidade na produção foi exposto acima. Em janeiro de 1939, numa
de material bélico. Evidentemente que os fase de preparação para um eventual futuro
equipamentos e as armas adequados a uma conflito com os britânicos, o governo ale-
confrontação com a URSS eram, pela própria mão autorizara prioritariamente um grande
natureza da campanha militar, bem distintos programa de construção naval (o Plano Z),
daqueles a se utilizarem numa eventual in- cujo foco estava na construção de gigantes-
vasão às Ilhas Britânicas. Ademais, apesar cas belonaves de superfície7. Mas o início da
de a produção de uma economia totalmente guerra, alguns poucos meses depois, forçou
mobilizada ser muito superior do que a de temporariamente a interrupção do projeto.
uma semimobilizada, esta última tinha maior A esquadra que ficou disponível para que os
facilidade em reverter o tipo de equipamento marujos alemães empreendessem a guer-
produzido, o que era extremamente desejá- ra era absolutamente inapropriada, o que
vel. Vale ressaltar, também, a forte motivação levou o Almirante Raeder, comandante da
interna para a manutenção desta situação Marinha de Guerra, a afirmar que “as forças
de semimobilização: Hitler acreditava que de superfície só mostravam que [os maru-
uma das razões para a derrota de 1918 havia jos] sabiam morrer com bravura”8. Com o
sido a sublevação popular contra o governo decorrer do conflito, as ações para o desen-
alemão nos últimos meses da guerra, fruto cadeamento do Plano Z se desenvolveram
da carestia no país face às demandas e res- de maneira errática, com inúmeras paradas
trições impostas por uma contingência de e recomeços. Sistematicamente, após cada
guerra total. Não era conveniente, 20 anos campanha vitoriosa em terra, os recursos
depois, assacar pressões semelhantes à po- materiais do país eram canalizados para a
pulação, o que se pode verificar pelo fato de construção de navios, até que novas deman-
até uma fase bem adiantada da guerra, o civil das para ofensivas no continente levassem
alemão ter desfrutado de um padrão de vida ao redirecionamento da produção bélica
bastante confortável para tempos de guerra. nacional9. A última tentativa de efetivação
Os gastos com consumo mantiveram-se inal- do Plano Z deu-se, curiosamente, durante
terados até o ano de 19424. o avanço alemão contra a URSS, no verão
A confrontação bélica da Alemanha con- de 1941. O retumbante sucesso da campa-
tra a França e a Inglaterra, materializada a nha, em suas primeiras semanas, deixava
partir de setembro de 1939, absolutamente entrever um sucesso no Leste ainda mais
não alterou o ritmo da economia alemã, e espetacular do que aquele obtido frente à
todas as esfuziantes vitórias alcançadas nos França, e era racional, portanto, recomeçar
anos de 1940 e 1941 pareciam corroborar o a preparação naval para o embate marítimo
acerto da decisão tomada. No entanto, a in- contra os britânicos. Meses depois, em ra-
capacidade alemã para derrotar rapidamente zão da resistência soviética cada vez mais
a URSS, patenteada no inverno de 1941/1942, encarniçada, a prioridade na produção de
momento em que o próprio Exército Verme- armas foi mais uma vez invertida e o Plano
lho desfechava suas primeiras ações de ca- Z foi arquivado. Em dezembro de 1941 ficou
ráter ofensivo, demonstrou na prática que a claro que, desta vez, o arquivamento seria
estratégia da blitzkrieg chegara ao fim. Fazia- definitivo. Juntamente com a perspectiva

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de uma longa e excruciante guerra no Leste dutivo e adequado. Após o afundamento do


da Europa contra os soviéticos, tinha-se de encouraçado Bismarck, a maior belonave
considerar, também, o fato de que os Esta- da Kriegsmarine, e das graves avarias cau-
dos Unidos estavam agora formalmente na sadas ao Scharnhorste ao Gneisenau, em
guerra. A melhor maneira de empreender a maio de 1941, nenhum outro grande vaso
guerra contra os norte-americanos, imedia- de superfície seria mais autorizado a efe-
tamente, era lançando uma ofensiva sub- tuar sortidas atlânticas contra a navega-
marina contra seus navios mercantes. ção aliada. Em 1942, os poucos navios de
A guerra no Leste iria, indubitavelmente, guerra restantes foram alocados no Báltico
tragar a maior parte dos recursos humanos e no litoral norueguês, onde atuariam pri-
e materiais da Alemanha até o final do confli- macialmente como força dissuasória a um
to. Naquele front comprometer-se-ia e seria possível desembarque aliado no país. Sub-
consumido o grosso dos efetivos do Exérci- sidiariamente, deveriam também auxiliar
to10 e da Luftwaffe11. À Kriegsmarine era dado na interceptação de comboios aliados que
um papel que guardava subordinação direta cruzavam ao largo da costa norueguesa em
às circunstâncias e necessidades da guerra direção ao porto russo de Murmansk, car-
no Leste. A meta da Marinha alemã era a de regados com armas e equipamentos des-
efetuar uma guerra total contra as linhas de tinados a reforçar as tropas soviéticas em
comunicação dos aliados no Atlântico. sua guerra contra os alemães.
A batalha a travar-se contra o comércio Paralelamente, o prestígio dos coman-
naval aliado tinha função estratégica tanto dantes e defensores da arma submarina
ofensiva como defensiva. Era ofensiva quan- crescia dentro do alto-comando alemão.
do visava, como resultado mais auspicioso, Isso se dava, em grande medida, face à mar-
a estrangular por completo a comunicação cante eficiência desta arma até aquele mo-
marítima aliada no Atlântico Norte, o que mento e da confiança nela depositada pelas
levaria ao isolamento soviético de qualquer autoridades do Reich, crentes no seu poten-
contato com seus aliados atlânticos por cial para até mesmo decidir a guerra. Prova
via marítima e poderia até vir a forçar os disso foi a meteórica ascensão do coman-
ingleses a um pedido de paz, caso as per- dante da frota submarina alemã, Almirante
das navais se elevassem a níveis que com- Karl Dönitz. Em janeiro de 1943 ele tornou-
prometessem a vida e o esforço de guerra se o chefe do Estado Maior da Armada e ao
das Ilhas Britânicas. Era defensiva porque, final da guerra seria indicado por Hitler, em
caso o índice de afundamento de navios seu testamento político, como seu sucessor
não fosse capaz de colimar o objetivo supra- direto no governo. Em junho de 1942, Hitler
citado, ele deveria, ao menos, garantir que comentava que a guerra submarina era o
a frota mercante aliada se mantivesse sufi- segundo mais importante objetivo militar
cientemente pequena para, assim, impedir alemão, superado apenas pela ofensiva de
o planejamento e a execução, por parte de verão que o Exército se preparava para lan-
ingleses e norte-americanos, de qualquer çar no setor sul da frente oriental12.
operação militar anfíbia no Atlântico que O aumento na produção de submersíveis
visasse à abertura de uma segunda frente e o fim das barreiras políticas à utilização de
no continente europeu, fato que obrigaria tal equipamento contra a marinha mercan-
as Forças Armadas alemãs a dividirem-se te aliada, juntamente com o abandono de
por duas frentes de combate, uma no Leste qualquer projeto de construção naval mais
e outra no Oeste, destarte redundando em audacioso visando a desafiar a supremacia
uma derrota certa e rápida. naval das potências ocidentais, são carac-
A experiência adquirida nos primeiros terísticas da estratégia naval alemã que de-
anos de guerra já demonstrara que a arma vem ser entendidas como a outra face da
mais apropriada para empreender a guer- mesma moeda, que cunhava, em seu lado
ra contra a Marinha Mercante aliada era o mais importante, as necessidades da des-
submarino. Em termos de custo/benefício, gastante guerra terrestre contra os russos
não havia nenhum equipamento mais pro- no Leste europeu. Compreende-se, portan-

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to, por que na mencionada diretiva Rüstung, sua campanha de destruição em massa nas
difundida em janeiro de 1942, a prioridade águas do hemisfério ocidental, pode-se até
no incremento da produção de material bé- falar da correção da decisão tomada por Hi-
lico fosse dada à confecção de tanques e tler e argumentar, inclusive, sobre o porquê
veículos blindados, necessários para a cam- da ausência de Cuba e da Guatemala entre
panha contra os russos, e de submarinos, os possíveis alvos da guerra submarina.
para a Batalha do Atlântico. Efetivamente, A campanha submarina contra a na-
no biênio 1942/43 seria lançado ao mar mais vegação comercial norte-americana nas
do dobro da tonelagem submarina lançada águas do hemisfério ocidental, ainda que
nos três anos anteriores da guerra13. totalmente liberada no início de dezembro
O fim das restrições ao torpedeamento de 1941, só seria arquitetada e efetivada a
de embarcações norte-americanas deu-se partir de meados de janeiro de 1942, com o
antes mesmo da declaração formal de guer- deflagrar da operação Paukenschlag (Rufar
ra ao país. No dia 8 de dezembro de 1941, de Tambores), que previa o envio de subma-
um dia após o ataque japonês a Pearl Har- rinos para a costa atlântica dos Estados Uni-
bor, Hitler autorizou verbalmente o ataque dos. O desdobramento da guerra submari-
a qualquer navio hasteando bandeira dos na irrestrita, que atingira em 1942 o litoral
Estados Unidos, bem como os de sete repú- atlântico das três Américas, teve impacto
blicas centro-americanas e caribenhas (Hai- notável no que concerne à participação na
ti, República Dominicana, Costa Rica, El guerra, de fato ou de juri, de alguns dos mais
Salvador, Honduras, Nicarágua e Panamá), importantes Estados latino-americanos. Aí
além do Uruguai. Esta surpreendente inclu- se insere, com especial destaque, o Brasil,
são do pequeno país platino parece ter rela- dotado da maior frota mercante da região e
ção com o desgosto pessoal do führer com cuja declaração de guerra liga-se à contu-
a atuação que as autoridades daquele país maz destruição de navios brasileiros a partir
tiveram na destruição do Encouraçado de de fevereiro de 1942.
Bolso Admiral Graf Spee nos meses iniciais
da guerra. Tentando escapar da perseguição A Campanha Submarina Alemã e a
que lhe era movida por cruzadores britâni- Declaração de Guerra do Brasil
cos, o vaso alemão buscou refúgio no porto
neutro de Montevidéu. Acabou sendo posto Particularmente no decorrer de 1942, a
a pique pela própria tripulação no estuário guerra submarina encetada contra a nave-
do Rio da Prata, após ter sido obrigado a gação comercial aliada, em especial aquela
deixar o país. No que se refere aos peque- realizada em todo o litoral das Américas, foi
nos Estados do Caribe e da América Central, coroada com amplo sucesso. A Costa Leste
além do natural desprezo dispensado pela dos Estados Unidos transformou-se em ver-
cúpula nazista a soberanias tão débeis e de- dadeiro paraíso para os comandantes de U-
pendentes dos Estados Unidos, existia, por boats, que ali encontraram abundância de
trás da ordem para o afundamento de seus alvos, ao que se juntava um completo des-
navios, um argumento bem mais racional preparo da Marinha de Guerra norte-ameri-
e pragmático. Muitos navios norte-ameri- cana no que se referia à persecução de uma
canos navegavam sob bandeira de países eficaz guerra antissubmarina. A consequên-
daquela região, em razão de questões téc- cia inevitável foi a destruição de um eleva-
nico-jurídicas relativas às regras do direito díssimo volume de navios aliados. Durante
marítimo, comercial e trabalhista. Dentre os o ano de 1942, 8,25 milhões de toneladas
países cedentes das chamadas “bandeiras foram postas a pique no Atlântico, sendo 6,2
de conveniência”, destacava-se o Panamá. milhões resultantes das ações dos submari-
Efetivamente, sabendo-se a posteriori que nos14. Se tal índice de destruição fosse man-
todas as nove repúblicas independentes tido nos anos subsequentes, certamente o
da região declararam guerra aos países esforço de guerra aliado estaria compro-
do Eixo ainda em dezembro de 1941, antes metido. Não foi sem motivos que durante a
mesmo dos submarinos alemães iniciarem Conferência de Casablanca, em janeiro de

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1943, britânicos e norte-americanos deram todas as formas a seu dispor, as linhas de


a maior prioridade estratégica à derrota da comunicação e suprimentos aliadas. Claro
ofensiva submarina alemã no Atlântico15. está que, implícito nesse raciocínio, verifi-
Os seis meses contados a partir de me- ca-se o fato de que, com exceção do Chi-
ados de janeiro de 1942, data do início da le e da Argentina, todos os demais países
campanha submarina do Eixo no litoral nor- da região haviam se solidarizado com os
te-americano, seriam posteriormente deno- Estados Unidos, rompendo suas relações
minados pelos submarinistas alemães como diplomáticas e comerciais com os países
“tempos felizes”. No decorrer deste período, do Eixo, no mais tardar em janeiro de 1942,
os U-boats concentraram-se na costa atlânti- durante a III Reunião de Chanceleres reali-
ca da América do Norte e, entre janeiro e ju- zada no Rio de Janeiro.
nho, afundaram 325 navios aliados na região. Gradativa e inexoravelmente, o escudo
Paulatinamente os norte-americanos fo- protetor norte-americano foi cobrindo tam-
ram acumulando experiência e, emulando bém os mares do Golfo e do Caribe. Para o
os ingleses, aprimorando suas táticas de êxito de tal ação, as Ilhas Britânicas arrenda-
guerra antissubmarinas. Uma quantidade das em setembro de 1940 aos norte-ameri-
maior de navios-escolta foi construída ou canos tiveram capital importância: elas, jun-
adaptada, e as aeronaves da força aérea tamente com as bases dos Estados Unidos
do Exército e da Marinha norte-americana na área (Guantanamo, Key West, San Juan e
passaram a patrulhar contínua e sistemati- St. Thomas), possibilitavam às aeronaves de
camente o litoral dos Estados Unidos. Além então, com limitações de autonomia de voo,
disso, a partir de maio, comboios mercantes, patrulhar e guarnecer, durante um maior
protegidos por escoltas navais de guerra, lapso de tempo, os mares ao redor. Em ju-
passaram a ser formados, e navios viajan- nho foi adotada, também nessas águas, a
do solitariamente foram se tornando cada técnica de comboio que, se por um lado di-
vez mais raros na Costa Leste dos Estados minuía a velocidade de entrega de bens por
Unidos. Tais medidas táticas redundaram via marítima, por outro tornava o abate de
na queda do índice de destruição naval na navios mercantes muito mais difícil.
Costa Leste norte-americana, região onde Novamente, o padrão anteriormente des-
ocorreram quase 70% das perdas no hemis- crito irá se repetir: ante a adoção de uma
fério no primeiro trimestre do ano. tática defensiva eficiente por parte da na-
Assim, à medida que as dificuldades vegação mercante aliada na região do Ca-
se tornavam maiores para o ataque a com- ribe e da América Central, os submarinistas
boios mercantes aliados, os submersíveis alemães vão buscar os mares mais ao sul,
alemães naturalmente passaram a procurar onde as tripulações mercantes e as forças
presas mais fáceis e mares mais ao sul do navais locais, ainda deveras despreparadas
hemisfério. No segundo trimestre de 1942, para o combate aos submarinos, podiam
na região do Golfo do México e nos mares fornecer presas mais fáceis e seguras. Vale
de Caribe e América Central, ocorreram 146 ressaltar, todavia, que as águas abaixo da
afundamentos, mais de 70% das perdas região caribenha, situadas propriamente
aliadas nos litorais americanos nesse pe- no Atlântico Sul, como as costas brasilei-
ríodo. Isso explica por que o mês de maio ras, não divisavam comércio marítimo tão
foi aquele em que o México declarou guerra abundante e de relevância fulcral. A guer-
aos países do Eixo após o ataque e afunda- ra contra o comércio naval aliado devia ser
mento de dois de seus navios; foi exatamen- travada em seu palco principal, o Atlântico
te nesse mês que a região do Golfo foi mais Norte, artéria axial de comunicação entre
atingida, configurando-se como a mais vito- uma aliança constituída por potências situ-
riosa para os comandantes de submarinos adas dos dois lados deste oceano. Destarte,
que atuavam deste lado do Atlântico16. uma vez que o litoral da América do Norte,
O respeito à não beligerância dos paí- tanto quanto o Atlântico Norte nas costas da
ses latino-americanos atrelava-se cada vez Europa, passou a apresentar um maior grau
mais à gana germânica em estrangular, de de dificuldade de operação, o que represen-

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tava maior perigo para os submarinos do na costa do país (Baependi, Araraquara, Aní-
Eixo, os U-boats voltaram a concentrar-se bal Benévolo, Itagiba, Arará e a barcaça Jaci-
nos comboios, atacando-os na zona central ra), causa imediata da declaração de guerra
do oceano, onde ainda não havia cobertura brasileira à Alemanha e à Itália. Após a for-
aérea estratégica sistemática, o que possibi- malização de sua beligerância, o Brasil ainda
litava aos submarinos caçarem suas presas perderia mais doze navios até fins de outubro
lutando somente contra as forças navais de de 1943 (Osório, Lajes, Antonico, Porto Alegre,
superfície dos aliados. Apalóide, Brasilóide, Afonso Pena, Tutóia, Pelo-
A subsidiariedade do Atlântico Sul, toda- taslóide, Bagé, Itapagé e Campos)20.
via, não chegava ao ponto de livrar a área de O comprometimento brasileiro com o
ataques. Um reduzido, mas ativo, contingen- esforço de guerra norte-americano era, em
te de submarinos continuou operando na re- 1942, realmente considerável. Para lá do
gião. Além de atraírem os submarinistas do apoio e alinhamento político, o Brasil com-
Eixo pela facilidade de abate de navios, os prometera-se, através de tratados, a fornecer
ataques nesta área causavam também um uma variada gama de produtos estrategica-
desvio de recursos dos Estados Unidos para mente imprescindíveis à indústria e à mobili-
a proteção do comércio naval em zona de so- zação militar norte-americana. Além do mais,
menos importância. As baixas navais verifica- o Brasil era um elo importante na cadeia exis-
das no litoral das Américas, durante o segun- tente para o fornecimento de material bélico
do semestre de 1942, foram pouco mais da norte-americano para seus aliados que con-
metade daquelas ocasionadas nos primeiros frontavam as forças do Eixo na Europa, da
seis meses do ano, o que demonstra cabal- África do Norte e até no Extremo Oriente. A
mente que o extenso litoral do hemisfério oci- presença de militares dos Estados Unidos
dental não era mais o alvo prioritário. A maior em bases e aeroportos no Norte e Nordeste
parte dos afundamentos que aí ocorreram do país tornava-se cada dia mais numerosa.
se deram nos mares mais ao sul do Caribe O Contra-Almirante Jonas Ingram, coman-
e América Central e, no último trimestre do dante da Força-Tarefa 23, mais tarde transfor-
ano, as costas brasileiras responderam por mada na 4a Frota dos Estados Unidos (março
mais de um terço das perdas hemisféricas de 1943), tendo como missão o patrulhamen-
do período, malgrado o caráter secundário to de toda a área do Atlântico Sul, possuía à
da região em termos de fluxo naval. Releva sua disposição, antes mesmo do rompimen-
acrescentar que, durante todo o ano de 1942, to das relações diplomáticas do Brasil com
nenhum submarino alemão ou italiano foi o Eixo, os portos de Salvador e Recife, sendo
destruído ao largo do litoral do Brasil17. este último escolhido como sede da esqua-
É importante observar como o momento dra. Em fins de abril de 1942, o Presidente
e a localização das perdas sofridas pela ma- Vargas entregou ao comandante norte-ame-
rinha mercante brasileira durante a guerra ricano, em caráter informal, o comando das
estão sincronizados com o padrão de afunda- forças aéreas e navais brasileiras, fazendo
mentos no hemisfério ocidental, consoante o dele, na prática, o responsável pela defesa
acima descrito. Em fevereiro e março, cinco marítima brasileira21. Em maio de 1942 foi
barcos brasileiros foram afundados (Cabede- divulgado publicamente que pilotos da Força
lo, Buarque, Olinda, Arabutã e Cairu), todos Aérea Brasileira haviam atacado, sem suces-
ao largo da costa atlântica dos Estados Uni- so, submarinos do Eixo, em três ocasiões di-
dos18. Entre maio e julho, sete navios foram ferentes22. Nos meses intermediários entre o
perdidos (Parnaíba, Gonçalves Dias, Alegre- seu rompimento de relações diplomáticas e a
te, Pedrinhas, Tamandaré, Piave e Barbace- sua declaração de guerra, o Brasil estava, em
na), todos afundados no Caribe ou em mares face da Alemanha e da Itália, numa situação
adjacentes19. A maior parte deles foi perdida que poderíamos qualificar, muito apropriada-
em águas próximas às Ilhas de Trinidad y To- mente, de quase beligerância.
bago e Barbados, extremo sul, portanto, da Por essa razão, a decisão tomada em 16
região caribenha. Em agosto foram atacados de maio pelo Alto Comando da Kriegsmarine,
e destruídos os primeiros navios brasileiros autorizando o ataque a qualquer navio mer-

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cante latino-americano que estivesse arma- ricana. Os primeiros comboios em águas


do, com exceção dos argentinos e chilenos, brasileiras começaram a ser organizados já
e a ordem emitida em 4 de julho, liberando no mês de setembro29. Grande parte deles,
por completo os navios e a costa brasileira no decorrer da guerra, teria como objetivo
como possíveis alvos para submarinos que, a proteção do comércio de cabotagem rea-
de qualquer forma, já os vinham atacando, lizado no litoral do País. Isto implicava que
são muito menos impressionantes23. Os na- recursos norte-americanos, ainda que pe-
vios brasileiros afundados em 1942 e 1943 quenos se considerarmos o esforço total de
somavam mais de 130.000 toneladas de des- guerra dos Estados Unidos, estavam sendo
locamento bruto24. Apesar de representar deslocados para operações sem qualquer
menos de 1,5% da tonelagem total afunda- utilidade, direta ou indireta, para a vitória
da pelos submarinos alemães de 1942 até o aliada nos principais fronts da guerra. Este
final da guerra25, não devemos menosprezar era um efeito colateral, positivo para os
a importância regional desses valores. alemães, do fim das barreiras políticas e
Depois do afundamento de navios no lito- diplomáticas à guerra submarina contra a
ral norte-americano, em fevereiro/março de navegação brasileira.
1942, Vargas determinou que todas as embar- Por isso mesmo, é estranho que o Almi-
cações brasileiras se refugiassem nos portos rante Dönitz, em suas memórias, lamente e
mais próximos. Entrementes, solicitou do go- considere um erro político os ataques sub-
verno norte-americano urgente proteção para marinos alemães de agosto de 1942, possí-
todos os navios mercantes brasileiros que veis após o fim das restrições a ataques nas
realizavam viagens entre os dois países26. As costas brasileiras, e que redundou na decla-
pressões brasileiras prosseguirão, mormente ração de guerra do Brasil. No curto espaço
após os afundamentos ocorridos em agos- de um único parágrafo, ele não apresenta
to nas costas do país, atingindo barcos que qualquer argumento que possa referendar a
efetuavam viagens puramente domésticas. O sua opinião de que levar o Brasil a declarar
despreparo material e técnico das Forças Ar- guerra oficialmente foi “indubitavelmente
madas brasileiras para a guerra antissubma- um erro”30. Para isso, o almirante teria que
rino tornava o país dependente da Marinha demonstrar o quanto o aumento da partici-
de Guerra norte-americana para a proteção pação brasileira no esforço de guerra alia-
de sua frota mercante, mesmo quando esta do mais do que compensou o incremento
navegava somente em litoral brasileiro. Ao na tonelagem naval aliada afundada pelos
mesmo tempo, cabe ressaltar a dependência submarinos do Eixo na região, e o desvio de
infraestrutural que o Brasil tinha com a sua recursos técnicos e militares dos Estados
navegação de cabotagem: como muito bem Unidos para a área, em tarefa completa-
observa o historiador militar Armando Vidigal, mente subsidiária face à guerra total que se
“a navegação de cabotagem era indispensá- travava. Embasados nos fatos e argumentos
vel para o abastecimento do Norte e Nordes- aduzidos acima, podemos facilmente presu-
te, a única via de comunicação confiável no mir que não foi o caso.
que ainda era o arquipélago brasileiro”27. En- McCann relata em seu livro que Hitler
tre as mais de 600 vítimas fatais decorrentes teria, em transmissão radiofônica de junho
dos ataques do U-507 no mês de agosto, in- de 1942, alertado ao governo brasileiro que o
cluíam-se mais de cem militares do 7o Grupo país seria alvo de uma ofensiva submarina.
de Artilharia de Dorso que, embarcando nos Face ao grau de cooperação existente entre
navios Baependi e Itagiba, deslocavam-se de o Brasil e os Estados Unidos, o governo ale-
Salvador para Recife28. mão já encarava o país como parte da coali-
A consequência imediata da declara- zão inimiga, suspeitando que uma declara-
ção de guerra brasileira, para os Estados ção de guerra formal por parte do governo
Unidos, foi o crescimento das demandas brasileiro estava em gestação, esperando
do governo brasileiro com vistas à entrega apenas pelo momento mais propício para
de equipamentos e à proteção do comércio que viesse à luz. Era preciso antecipar-se
naval brasileiro pela Armada norte-ame- aos brasileiros31.

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Efetivamente, partindo-se do perfil psi- de popular que o governo declarasse guerra


cológico de Hitler, do seu modus operandi aos agressores, e assim foi feito”35.
político, podemos considerar esta transmis- Getúlio autorizou Oswaldo Aranha, no dia
são radiofônica como uma declaração de 21 de agosto, a enviar notas em que se comu-
guerra de fato. A informalidade do ato se nicava aos governos da Alemanha e da Itália
coaduna com o próprio status político que que os atos de guerra praticados contra o
deveria ser dado a um país periférico de Brasil haviam criado um estado de beligerân-
pouco ou nenhum peso político no cenário cia. No dia 31 do mesmo mês, por intermédio
internacional, consoante o preconceituoso do Decreto 10.358, formalizou-se o estado de
pensamento do dirigente alemão. Seu entu- guerra em todo o território nacional36.
siasmo com o ataque japonês à frota naval A excessiva cautela do governo brasileiro
norte-americana do Pacífico, sem aviso nem nesta questão pode ser avaliada levando-se
declaração de guerra formal, consoante seu em consideração o acontecido com o Mé-
entendimento, devia ser a atitude de uma xico. A declaração de guerra mexicana a
grande potência, com élan, brutalidade e todos os países do Eixo, em 1o de junho de
disposição necessárias para vencer uma 1942, decisão retroativa a 22 de maio, ocor-
guerra total32, e diz muito em relação à blitz reu depois do torpedeamento de dois de
submarina lançada contra o litoral brasileiro seus navios-tanque (Potrero del Llano e Faja
que redundou nos afundamentos de agosto. de Oro), atacados quando navegavam em
Sem embargo, a surpresa não foi a deci- águas do Golfo do México37. Como no Bra-
são alemã em atacar de modo sistemático sil, também ocorreram no México manifes-
os navios e o litoral brasileiros, nem a de- tações populares em prol da guerra. Ainda
cisão tomada pelo Governo Vargas de, após assim, podemos considerar a atitude do go-
a destruição ocorrida no mês de agosto, verno mexicano, se comparada à do brasi-
formalizar o estado de guerra do país com leiro, muito mais determinada e resoluta. Se
a Alemanha e a Itália, mas a demora de Var- alguma especificidade pode ser imputada à
gas em dar este passo. Devemos lembrar formalização da beligerância brasileira, esta
que, até fins de julho, doze navios brasilei- não será, certamente, sua inesperada rea-
ros haviam sido perdidos por ação direta lização, mas sim sua longa procrastinação
dos submarinos do Eixo, além de um outro em face das reiteradas agressões perpetra-
(Comandante Lira) já ter sido atacado nas das contra a navegação comercial do Brasil.
costas brasileiras no mês de maio, conse- De qualquer forma, pode-se perceber
guindo se salvar, mesmo avariado, graças que o tempo em que ocorreram as declara-
à intervenção de aviões caça-bombardeiro ções de guerra do México e do Brasil tem
norte-americanos33. Nenhuma das reclama- forte sincronia com o desenrolar da guerra
ções feitas pelo governo brasileiro, através submarina nas costas do hemisfério ociden-
da embaixada do País em Portugal, recebeu tal. Como já foi explicitado anteriormente,
resposta de Berlim. o epicentro dos ataques submarinos, em
O reconhecimento da beligerância bra- termos regionais, passou da costa leste dos
sileira, além disso, veio após diversas ma- Estados Unidos, no primeiro trimestre de
nifestações públicas pela guerra, ocorridas 1942, para a região do Golfo e do Caribe, no
em várias regiões do País e entre os mais segundo trimestre do mesmo ano. O litoral
variados e heterogêneos segmentos sociais brasileiro não possuía fluxo naval compará-
brasileiros34. As grandes manifestações nas vel com o dessas regiões, mas a partir do
maiores cidades brasileiras criaram um cli- segundo semestre do ano ali estariam à
ma de união nacional contra a agressão do disposição dos comandantes de submari-
Eixo, abrangendo desde conservadores anti- nos alemães e italianos presas muito mais
fascistas até comunistas. Em seu discurso fáceis de abater.
de 7 de setembro, Vargas reconheceria a Após a declaração de guerra brasileira,
fonte primordial de sua decisão, ao afirmar: doze vasos de bandeira nacional foram pos-
“Protestastes com indignação, solicitastes tos a pique. Em maio de 1943 as elevadas
por todas as formas de expressar a vonta- perdas de submarinos no Atlântico Norte

96
Navigator 18 A Batalha do Atlântico e o Brasil na II Guerra Mundial

fizeram com que o Almirante Dönitz orde- perdida, mas o fim das restrições à guer-
nasse o abandono destes mares pelos sub- ra submarina contra os navios e as costas
mersíveis alemães. A Batalha do Atlântico brasileiras era ainda capaz de trazer alguns
estava temporariamente perdida, uma vez poucos momentos de satisfação e vitória
que a principal via de comunicação marítima aos exauridos submarinistas alemães.
aliada estava totalmente desobstruída, livre Pode-se, destarte, inferir que, frente ao
de ataques. Os submarinos alemães deviam comprometimento brasileiro com o esforço
atuar em águas menos perigosas, até que de guerra norte-americano e às demandas
avanços técnicos e táticos lhes permitissem próprias de uma guerra submarina total
um regresso seguro ao centro estratégico contra o comércio aliado, os afundamentos
da batalha38. Entre estas regiões, propícias à de navios brasileiros continuariam indepen-
atividade submarina, estava o Atlântico Sul, dentemente de estar ou não o País formal-
com destaque para o litoral brasileiro. Mas, mente em guerra. Como é natural supor que
nem mesmo esta região era, neste momento, o governo do Rio de Janeiro respondesse po-
um bom valhacouto para a ação dos subma- liticamente a tais atos reiterados de agres-
rinos, como o fora meses antes. O poderio ae- são, a declaração de guerra passa a ser um
ronaval dos Estados Unidos já se fazia sentir evento quase certo. Caso não ocorresse em
por todo o Atlântico Sul, e suas bases no lito- agosto, certamente se materializaria em fu-
ral do Brasil e na ilha britânica de Ascensão turo bem próximo.
tornavam a operação de submarinos nesta A exceção entre as nações latino-ameri-
área muito mais arriscada. Entende-se, des- canas foi a Argentina. No mais das vezes, o
tarte, o sentido da mensagem do comandan- comércio naval portenho foi poupado pelos
te do U-466, Capitão Konrad Schöen, enviada submarinos do Eixo, muito embora a maior
para Berlim em fins de julho de 1943, após parte de suas cargas se destinasse à Grã-
seu barco sofrer tenaz caçada aérea ao lar- Bretanha. Praticamente no decurso de todo
go das Guianas e das costas do Amapá e do o conflito, os ingleses dependeram dos ar-
Pará. “O ar como em Biscaia”, teria mencio- gentinos para o suprimento de seu consumo
nado, comparando o nível de patrulhamento de trigo, couro, linhaça e, especialmente, de
e guerra aérea antissubmarino nas costas carne, necessária tanto para as rações da
brasileiras ao existente, naquele momento, população civil como das forças armadas do
na Baía de Biscaia, litoral atlântico francês, país43. Nos meses de abril e junho de 1942,
local das bases dos U-boats que operavam ao largo do litoral dos Estados Unidos, fo-
no Atlântico e alvo permanente de patrulhas ram torpedeados dois navios argentinos
e ataques aéreos provenientes da Grã-Bre- (Victória e Rio Tercero), fato que causou gran-
tanha39. Em julho/agosto de 1943, sete sub- de indignação popular, reação semelhante
marinos alemães foram destruídos no litoral às ocorridas no México e no Brasil quando
brasileiro, todos vítimas de ataques aéreos também foram vítimas de ataques submari-
desferidos por aeronaves norte-americanas nos. A reação alemã a estes incidentes, to-
baseadas no Brasil (em um deles, aviões da davia, foi bem diferente. Desculpas formais
FAB foram corresponsáveis)40. foram enviadas, juntamente com a promes-
De qualquer modo, ainda que somente sa de futura reparação pelas perdas mate-
67 navios fossem torpedeados no litoral das riais sofridas. O governo argentino, por seu
Américas por submarinos do Eixo duran- lado, ordenou à sua marinha mercante a uti-
te todo o decorrer de 1943, valor modesto lização somente de portos norte-americanos
se cotejado com os números do ano ante- margeando o Golfo do México44.
rior, aproximadamente 50% destes afunda- Em julho de 1942, o Ministro das Rela-
mentos ocorreram nas costas brasileiras41. ções Exteriores alemão, Joachim von Rib-
Neste ano de 1943, sete navios brasileiros bentrop, negou ao Almirante Dönitz autoriza-
foram afundados ao longo do litoral do país, ção para que seus submersíveis operassem
o que corresponde a mais de 10% das per- no estuário do Rio da Prata, região onde se
das aliadas em toda a área costeira do Novo encontravam navios refrigerados, carrega-
Mundo42. A Batalha do Atlântico podia estar dos com carne argentina destinada à Grã-

97
Victor Tempone

Bretanha. Ainda que não estivesse sendo guerra. Mas isto não interessava nem à Ale-
demandada a destruição de navios porte- manha e nem à Argentina.
nhos, a operação de submarinos nas costas Para finalizar, queremos abordar e es-
do país poderia provocar manifestações de clarecer uma absurda dúvida histórica que,
repúdio ao Eixo por parte da opinião pública nascida de boatos ainda dos tempos da guer-
argentina45, comprometendo ainda mais a ra, subsiste até nossos dias, pelo menos no
posição de neutralidade na guerra adotada imaginário popular. Tal dúvida consiste em
pelo governo argentino. Depoimento de um saber se os navios brasileiros foram mesmo
sobrevivente do submarino italiano Archimi- afundados por submarinos alemães e ita-
di, destruído no litoral brasileiro em abril de lianos, ou se a responsabilidade por esses
1943, referenda a real aplicação das ordens ataques deve ser imputada aos submarinos
que proibiam ataques a navios argentinos. norte-americanos que, secretamente, afun-
A belonave italiana, operando no setor entre davam os navios brasileiros atribuindo tais
Salvador e Recife, não logrou afundar ne- ações ao Eixo, com isso procurando trazer
nhum navio, ainda que tivesse interceptado o Brasil o mais rapidamente possível para
dois que, uma vez identificados como argen- a guerra. Para esclarecer esta questão, uti-
tinos, foram poupados46. lizar-nos-emos de uma argumentação tanto
Esta restrição proposital à guerra sub- dedutiva como empírica.
marina explica-se pela importância política, Em razão de participação e compromis-
para a Alemanha, em manter a Argentina so do governo brasileiro com o esforço de
como uma exceção dentro do concerto das guerra norte-americano em 1942, é difícil
nações americanas. Sua posição de neutra- imaginar por qual motivo os Estados Uni-
lidade, ao mesmo tempo em que procurava dos se arriscariam a uma empreitada des-
entravar a construção da hegemonia he- sa natureza (afundar navios brasileiros), o
misférica norte-americana causando pro- que, em caso de descoberta, compromete-
blemas para o país deste lado do Atlântico, ria deveras toda a estreita relação existente
constituía também uma das poucas portas entre os dois países, construída por seus
de entrada legal existentes nas Américas governos nos últimos anos. Não somente o
para espiões e propagandistas do Eixo, que General Góes Monteiro, tido como germa-
tinham em suas respectivas embaixadas em nófilo, já expressara muito pragmaticamen-
Buenos Aires refúgio e quartel general47. te para Vargas a necessidade de se alinhar
Neste único caso, a guerra submarina com os Estados Unidos, como o próprio
total no Atlântico, coordenada e implemen- ministro das Relações Exteriores, Oswaldo
tada pelos alemães, teve de ceder frente a Aranha, homem da mais alta confiança do
interesses políticos e diplomáticos de maior presidente brasileiro, era um articulador
importância e envergadura. Ousamos afir- desse alinhamento. Aranha, devido às suas
mar, num exercício especulativo contrafac- posições pró-americanas, fora, inclusive,
tual, que se a guerra submarina total tivesse alvo de um complô para assassiná-lo, pla-
sido levada também aos navios e ao litoral nejado pela Gestapo48.
portenhos a Argentina certamente teria re- Tal fato ocorrera às vésperas da Conferên-
vertido sua posição de neutralidade à época, cia do Rio de Janeiro, em janeiro de 1942, da
por mais independente que fosse a postura qual resultou o rompimento de relações com
do governo em face do papel hegemônico os países do Eixo. A polícia brasileira, com a
norte-americano no continente. Nenhuma cooperação do FBI e do serviço secreto bri-
administração sobreviveria às pressões de tânico, fizera uma operação de varredura na
toda uma sociedade, pressões estas nasci- qual foram capturados 36 agentes alemães,
das da contumaz destruição do patrimônio italianos e japoneses. Atirando no que viu, a
e das vidas nacionais, a menos que articu- polícia acertou o que não vira: Franz Wasa
lasse uma resposta condizente com a per- Jordan, agente especial alemão, de pericu-
petração de tais atos de agressão. Esta res- losidade então insuspeitada. Um submarino
posta podia ser o rompimento de relações o trouxera até o litoral brasileiro, onde foi
diplomáticas ou mesmo a declaração de transferido para navio mercante alemão e

98
Navigator 18 A Batalha do Atlântico e o Brasil na II Guerra Mundial

desembarcado no Rio de Janeiro. Instalado narrativa mais abrangente sobre a guerra no


em Santa Teresa, aguardava o momento pro- Atlântico, faz menção específica ao subma-
pício para desempenhar a sua missão – as- rino e comandante alemães (U-507, Capitão
sassinar o Chanceler Oswaldo Aranha. de Corveta Schacht) que afundou navios bra-
Franz Jordan recebera, diretamente das sileiros em agosto de 1942, levando o Brasil
mãos do Reichsführer SS Heinrich Himm- formalmente à guerra50. Se o comandante da
ler, dinheiro e detalhadas instruções para frota de submersíveis alemães admite, sem
a eliminação do ministro brasileiro. Espera- maiores problemas, a responsabilidade ale-
va-se que o trauma causado pelo atentado, mã pelos ataques aos navios brasileiros, acre-
na semana anterior à inauguração da con- ditamos já ser mais do que o momento de
ferência, pudesse frustrar a sua realização. sepultar de vez qualquer hipótese esdrúxula
A varredura policial abortara o atentado. A que intente atribuir à ação militar norte-ame-
pistola assassina não mudou o rumo dos ricana a culpa pelas perdas navais brasileiras.
acontecimentos. As advertências formula-
das pelos três embaixadores do Eixo quan- Conclusão
to a qualquer tomada de posição ostensiva
contra eles foram vigorosamente rechaça- É primordial que o nexo causal que re-
das pelo Itamaraty49. dundou na declaração de guerra brasileira
Como se pode ver, pelas atitudes dos go- seja descrito e compreendido adequada-
vernos do Eixo, pelas próprias tendências mente. No inverno de 1941/42, a Alema-
dentro do governo brasileiro e pelas ações nha, diante da impossibilidade de vencer
concretas por este efetivadas em prol do es- os soviéticos com uma ofensiva rápida e
forço de guerra norte-americano, não faria potente, e agora também formalmente em
sentido nenhuma ação para consolidar o guerra com os Estados Unidos, decidiu
que já estava consolidado. aprestar-se para a perspectiva de um con-
Além disso, nunca é demais lembrar que flito de longa duração. Uma das decisões
os Estados Unidos, em 1942, lutavam uma condizentes com essa nova realidade es-
outra guerra no Pacífico contra os japone- tratégica foi a de aumentar a produção de
ses. Assim, os seus submarinos eram extre- submarinos para, com eles, empreender
mamente necessários naquele gigantesco uma campanha irrestrita contra todo o co-
teatro de operações, atuando em conjunto mércio naval aliado, aí se incluindo toda a
com os navios de superfície em vários em- região litorânea da América do Norte como
bates contra a Marinha de Guerra imperial um alvo taticamente promissor.
japonesa e, principalmente, empreenden- No decorrer do primeiro semestre de
do, desde o primeiro dia da guerra, ataques 1942, uma grande quantidade de navios foi
contra o comércio naval japonês naquele destruída na costa leste dos Estados Uni-
oceano, nos mesmos moldes dos realizados dos, golfo do México e nos mares ao redor
pelos alemães no Atlântico contra os navios do Caribe e da América Central. A facilidade
mercantes aliados. Resumidamente, por- tática para o afundamento de navios mer-
tanto, o afundamento de navios brasileiros cantes era, com o passar do tempo, cada
por submarinos norte-americanos seria, na- vez proporcionalmente maior quanto mais
quele momento, um ato de completa irracio- os submarinos fossem operar em águas ao
nalidade política. sul do hemisfério. A partir do segundo se-
As evidências empíricas só fazem corro- mestre, as costas brasileiras, malgrado o
borar este raciocínio. Além dos arestos do pequeno volume de comércio naval, se apre-
Tribunal Marítimo do Brasil, há farta docu- sentavam como área bastante propícia para
mentação a respeito da guerra submarina a ação dos submarinos, na qual as embar-
empreendida pela Kriegsmarine na Bibliothek cações mercantes podiam ainda ser fácil e
für Zeigestchiche, em Stuttgart, na Alemanha, seguramente atacadas. Em termos adstritos
onde se encontram os relatórios de bordo à guerra submarina, era interessante operar
de vário submarinos envolvidos na ofensiva na região e ter elencados, como prováveis
do Atlântico Sul. O Almirante Dönitz, numa alvos, o maior número de navios possível, o

99
Victor Tempone

que certamente incluía navios brasileiros, óbice substancial para o governo alemão
integrantes da maior frota mercante de toda que o levasse a vetar os navios e o litoral bra-
a América Latina. sileiros como possíveis alvos para os seus
O Brasil, após o rompimento de relações submarinos. Em junho/julho de 1942 eles
diplomáticas com os países do Eixo, forne- foram, de fato, liberados, e os afundamen-
cia aos norte-americanos “apoio político, tos de agosto seriam apenas os primeiros
materiais estratégicos, bases e rotas aére- de uma série de outros que ocorreriam na
as, patrulhas aéreas e navais e eliminação região. Como é esperado que o governo de
da quinta coluna51 nazista”, consoante nos qualquer país que se pretenda minimamen-
esclarece Gerson Moura52. Esta situação era te soberano e independente reaja formal-
decorrente da necessidade norte-americana mente a agressões dessa natureza, pode-
de se preparar da melhor forma possível mos afirmar, destarte, que uma declaração
para a guerra, antes e imediatamente após de guerra brasileira à Alemanha era, a partir
o seu envolvimento formal, em 1940 e 1941. de junho/julho de 1942, o evento que se su-
Politicamente, portanto, não havia qualquer cederia com naturalidade.

BIBLIOGRAFIA

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100
Navigator 18 A Batalha do Atlântico e o Brasil na II Guerra Mundial

1
O Baependi, navio do Loyd Brasileiro de 4.801 toneladas viajava de Salvador a Recife em 15 de agosto de 1942 com
73 tripulantes e 232 passageiros quando, cerca das 19h, no litoral de Sergipe, foi torpedeado pelo submarino U-507,
comandado pelo Capitão de Corveta Harro Schacht, redundando na morte de 55 tripulantes e 214 passageiros. Às
21h do mesmo dia, a embarcação do Loyd Brasileiro Araraquara, a 120 milhas ao largo de Aracaju, foi atacada e
afundada pelo mesmo submarino alemão, sendo que de seus 74 tripulantes e 68 passageiros foram vitimadas 59
pessoas. Às 4h5m. de 16 de agosto foi a vez do navio Aníbal Benévolo, afundado igualmente pelo U-507 no litoral
de Sergipe, redundando na morte de 67 dos 71 tripulantes e de todos os 83 passageiros. No dia 17 de agosto, às
10h55m, no litoral da Bahia, o mesmo U-507 torpedeou e afundou o Itagiba, que se dirigia do Rio de Janeiro para
Recife, redundando na morte de 9 dos 60 tripulantes e no perecimento de 30 dos 121 passageiros. O vaso Arará
viajava no sentido contrário ao do Itagiba, navegando de Salvador para o porto de Santos quando, às 11:00 h. do
mesmo dia 17 de agosto, avistou os destroços do Itagiba e acercou-se na tentativa de resgatar sobreviventes: foi
também atingido por torpedo disparado pelo U-507, sendo vitimados 20 dos 35 tripulantes. A última vítima brasilei-
ra do comandante Schacht e seu U-507 foi a barcaça Jacira, de 89 toneladas, afundada a tiros de canhão e rajadas
de metralhadora no dia 19 de agosto por volta das 2h, no litoral baiano entre Ilhéus e Itacaré. No caso do Jacira, o
inquérito instaurado no Tribunal Marítimo para apurar os fatos acabou redundando em punição ao seu proprietá-
rio, o mestre Norberto Hilário dos Santos, uma vez que largara do porto sem autorização da capitania dos portos,
transportava passageiros clandestinos, havendo, além disso, indícios que tivesse abastecido o submarino alemão,
sendo a embarcação afundada para encobrir o crime. Ver no Arquivo do Tribunal Marítimo os Processos no 668/42
(Baependi), 684/42 (Araraquara), 685/42 (Aníbal Benévolo), 671/42 (Itagiba), 670/42 (Arará) e 737/42 (Jacira).
2
O termo Wermacht designa o conjunto das forças armadas alemãs, isto é, Exército, Marinha de Guerra e Força
Aérea.
3
A palavra blitzkrieg (guerra relâmpago), no jargão militar alemão, designava a organização de campanhas mi-
litares empreendidas com alta mobilidade e rápidas conquistas territoriais, engolfando os exércitos inimigos,
ultrapassando-os e só depois os destruindo. Para tal, faziam uso intensivo de forças mecanizadas e artilharia
móvel, apoiadas maciçamente pela força aérea, uma vez que o controle do espaço aéreo tornava-se crucial nestas
ofensivas. Seus criadores e principais articuladores foram jovens oficiais generais do Exército alemão, como Heinz
Guderian, Erwin Rommel, Hans-Jürgen von Arnin e Hasso von Manteuffel.
4
LUKACS, John. A Última Guerra Europeia: setembro 1939 – dezembro 1941. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980,
p. 257-258.
5
MILWARD, Alan S. War, Economy and Society – 1939-1945. Berkeley, University of California Press, 1979, pp. 23-26.
6
Nome que designa a Marinha de Guerra Alemã.
7
O rápido programa de construção, esquematizado para estar completo em seis anos, previa, além do lançamento
de dezenas de navios menores (cruzadores e contratorpedeiros), a construção de seis superencouraçados (des-
locamento de 56.000 toneladas) e de dois porta-aviões de esquadra. Ver HUMBLE, Richard. A Marinha Alemã – A
Esquadra de Alto-Mar. Rio de Janeiro, Editora Renes, 1974, p. 34.
8
RAEDER, Erich. My Life. Londres, Penguim Books, 1957, p. 137.
9
Idem, p. 187.
10
A invasão de 22 de junho de 1941 foi realizada por mais de 150 Divisões de um total aproximado de 210 Divisões
disponíveis. Durante todo o transcurso da guerra, o compromisso bélico alemão naquela frente será sempre majo-
ritário. Segundo estatísticas do Exército Vermelho, dos 13,6 milhões de baixas e prisioneiros alemães feitos durante
toda a guerra, 10 milhões ocorreram na frente oriental. Ver ZHUKOV, Georgi. Memórias. Rio de Janeiro, Nova Fron-
teira, 1971, p. 464 e KENNEDY, Paul Kennedy, Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Econômica
e Conflito Militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro, Campus, 1989, p. 346.
11
Força Aérea Militar Alemã.
12
Erich Raeder, Op. Cit., p. 266.
13
BELOT. R. de. A Guerra Aeronaval no Atlântico (1939-1945). Rio de Janeiro, Record, 1969, p. 273; Anexo: Construção
de Submarinos Alemães durante a Guerra.
14
GABAGLIA, A. C. Raja. Poder Marítimo nas Duas Guerras Mundiais (1914-1918 – 1939-1945). Rio de Janeiro, Im-
prensa Naval, 1953, p. 363-365.
15
WEINBERG, Gerhard L. A World at Arms: A Global History of World War II. New York, Cambridge University Press,
1994, p. 380.
16
DESCH, Michael. When the Third World Matters: Latin America and United States Grand Strategy.Baltimore, Johns
Hopkins University Press, 1993, p. 74.
17
DUARTE, Paulo de Queiroz. Dias de Guerra no Atlântico Sul. Rio de Janeiro, Bibliex, 1968, p. 293.
18
O Cabedelo foi a pique torpedeado pelo submarino italiano Leonardo da Vinci ao largo das Antilhas – Arquivo
Histórico do Itamaraty, telegramas do MRE para a embaixada em Washington NP 112 de 23/03/1942 e NP 117 de
27/03/1942. O Buarque foi torpedeado a 60 milhas náuticas do Cabo Hatteras pelo submarino alemão U-432, co-
mandado pelo Capitão Schultze – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 708/42. O Olinda foi afundado na costa
do estado norte-americano da Virginia pelo mesmo U-432 – Processo no 712/42 do Tribunal Marítimo. O Arabutã foi
atacado ao largo do Cabo Hatteras, sendo afundado pelo submarino alemão U-155, comandado pelo Capitão Pie-
ning – Processo no 669/42 do Tribunal Marítimo. O Cairu foi torpedeado e afundado a 130 milhas náuticas de Nova
York pelo submersível alemão U-94 – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 689/42.
19
O Parnaíba foi torpedeado pelo U-162 sob o comando do Capitão Warttenberg na altura de Barbados – Processo
no 686 do Tribunal Marítimo. O Gonçalves Dias pelo submarino alemão U-502 sob o comando do Capitão Rosenstiel,
sendo afundado ao largo de Key West – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 698/42. O Alegrete foi atacado
ao largo de Santa Lucia pelo submarino U-156, comandado pelo Capitão Hartenstein – Processo no 677/42 do Tri-
bunal Marítimo. O Pedrinhas foi vítima do ataque do submarino U-203, sob o comando do Capitão Mültzelburg, ao
largo de Porto Rico – Processo no 679/42 do Tribunal Marítimo. O Tamandaré foi atacado e afundado pelo U-66 ao
largo de Port of Spain – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 767/42. O Piave, ao largo da Ilha de Tobago, foi

101
Victor Tempone

torpedeado pelo U-155 – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 766/42. O Barbacena foi igualmente atacado ao
largo de Tobago, sendo afundado pelo submarino U-66, sob o comando do Capitão Markworth – Tribunal Marítimo,
Processo no 764/42.
20
O Osório foi torpedeado no litoral do Pará a 27/09/1942 pelo submarino U-514 sob o comando do Capitão Auffer-
mann – Tribunal Marítimo, Processo no 699/42. Ainda no mesmo dia e local e pela mesma belonave, foi afundado o
navio Lajes – Tribunal Marítimo, Processo no 698/42. O Antonico foi atacado a 28/09/1942 ao largo da Guiana France-
sa pelo submarino U-516 sob o comando do Capitão Wiebe – Tribunal Marítimo, Processo no 701/42. O Porto Alegre
foi torpedeado ao largo de Durban, na África do Sul, pelo U-504, comandado pelo Capitão Poske, em 03/11/1942
– Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 705. O Apalóide foi atacado pelo U-163 no dia 22/11/1942 ao largo da
Venezuela – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 734/42. O Brasilóide foi afundado a 18/02/1943 a 5 milhas
do litoral de Sergipe pelo U-518 sob o comando do Capitão Wissmann – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no
744/43. O Afonso Pena foi atacado a 02/03/1943 pelo submarino italiano Barbarigo, comandado pelo Capitão Rigoli,
e afundado no litoral da Bahia – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 765/43. O Tutóia foi afundado no litoral
de São Paulo em 31/07/1943 pelo submarino alemão U-513, sob as ordens do Capitão Guggenberger – Arquivo do
Tribunal Marítimo, Processo no 817/43. O Pelotaslóide, na foz do Rio Pará, a 04/07/1943, foi torpedeado pelo subma-
rino U-590 sob as ordens do Capitão Krueger – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 883/43. O Bagé, no litoral
de Sergipe em 31/07/1943, foi posto a pique pelo submarino U-185, comandado pelo Capitão Maus – Arquivo do
Tribunal Marítimo, Processo no 839/43. O Itapagé foi torpedeado no litoral de Alagoas a 26/09/1943 pelo submarino
alemão U-161, comandado pelo Capitão Albrecht Achilles. Este submersível seria depois afundado por aviões caça-
submarinos da esquadrilha norte-americana VP-74, baseados em Salvador/Bahia – Arquivo do Tribunal Marítimo,
Processos no 862 e 871/43. O Campos foi o último navio mercante brasileiro destruído por ação de submarinos do
Eixo. Ele foi afundado em 23/10/1943 ao largo do litoral de São Paulo pela belonave U-170, comandada pelo Capitão
Pfeffer – Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 905/43.
21
McCANN, Frank D. A Aliança Brasil-Estados Unidos 1937-45. Rio de Janeiro, Bibliex, 1995, p. 222.
22
DUARTE, Paulo de Queiroz, Op. Cit., p. 317.
23
DÖNITZ, Karl. Memoirs. Cleveland, Pocket Books, 1958, p. 239.
24
VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira. A Evolução do Pensamento Estratégico Naval Brasileiro. Rio de Janeiro, Bi-
bliex, 1985, p. 87.
25
GABAGLIA, A.C. Raja, Op. Cit., p. 363-364.
26
HUMPHREYS, R.A.Latin America and the Second World War. Londres, Athone, 1982, Vol. II, pp. 65-66.
27
VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira, Op. Cit., p. 88.
28
Arquivo do Tribunal Marítimo, Processos nos 668 e 671/42.
29
DUARTE, Paulo de Queiroz, Op. Cit., p. 175.
30
DÖNITZ, Karl, Op. Cit., p. 252-253.
31
McCANN, Frank, Op. Cit., p. 222-223.
32
WEINBERG, Gerhard L. “Pearl Harbor: The German Perspective”. In: Gerhard Weinberg, Germany, Hitler & World
War II. New York, Cambridge University Press, 1995, p. 203.
33
Arquivo do Tribunal Marítimo, Processo no 663/42.
34
McCANN, Frank, Op. Cit., pp. 230-231.
35
Site do CPDOC/FGV, Arquivo Getúlio Vargas, GV rem 1930.10.03.
36
SILVA, Hélio. 1942 – Guerra no Continente – O Ciclo Vargas – Vol. XII. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1972, p. 383.
37
HUMPHREYS, R.A., Op. Cit., p. 40-41.
38
WEIMBERG, Gerhard L. A World at Arms: A Global History of World War II. New York, Cambridge University Press,
1994, p. 382.
39
DUARTE, Paulo de Queiroz. Op. Cit., p. 249-250.
40
Idem, p. 293.
41
Ibidem.
42
GABAGLIA, A.C. Raja. Op. Cit., p. 436.
43
HUMPHREYS, R.A. Op. Cit., p. 139, 159-160.
44
Idem, p. 136.
45
DÖNITZ, Karl. Op. Cit., p. 239-240.
46
DUARTE, Paulo de Queiroz. Op. Cit., p. 227-228.
47
Com o rompimento de relações diplomáticas do Chile com os países do Eixo, em janeiro de 1943, a Argentina
tornar-se-ia o único Estado americano a manter legações diplomáticas e consulares desses países. HUMPHREYS,
R.A. Op. Cit., p. 116.
48
Gestapo era a sigla de Geheim Staats Polizei, a tão temida polícia política do III Reich, chefiada por Hans Muller,
e supervisionada diretamente pela SS e por seu chefe, Heinrich Himmler.
49
Estas informações vieram a público pela primeira vez graças à diligência investigativa do jornalista Murilo Melo
Filho. Ver MELO FILHO, Murilo. Testemunho Político, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1998, p. 71-72.
50
DÖNITZ, Karl. Op. Cit., p. 252.
51
O termo quinta coluna teve origem na guerra civil espanhola quando o generalíssimo Franco, avançando contra
Madri com quatro colunas de tropas, referiu-se à ação de uma quinta, dentro da cidade atacada, composta por
simpatizantes da causa legionária.
52
MOURA, Gerson .“O Brasil na Segunda Guerra Mundial – 1942-1945”. In: ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon
de (org.). Sessenta Anos de Política Externa Brasileira 1930-1990, Vol. I, Crescimento, Modernização e Política Externa.
São Paulo, Edusp, 1996, p. 99.

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