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funções diferentes da que lhe foi desig- Maués). Reeda.

, Ivete de Jesus Souza Va-


nada, salvo quando ocorra abuso ou des- lente (Adv., NiS!>im. Jacob Benoliel).
vio de poder. Decisão: Conhecido e provido, à unani-
Isto posto e reportando-me, finalmente, midade. Falou pelo recorrente, o Dr. Célio
ao parecer do Prot. José Francisco Rezek, Silva.
pela Procuradoria-Geral da República. re-
Presidência do Sr. Ministro Oswaldo
produzido no relatório, dou provimento ao
Trigueiro. Presentes à sessão os Senhora
recurso para cassar a segurança.
Ministros Aliomar Baleeiro, Djaci Falcão,
Bilac Pinto, Rodrigues Alckmim, e, o Dr.
EXIlI.Aro DA ATA Oscar Corrêa Pina, Procurador-Geral da
República, substituto.
RE 78 977 - AM - Rel., Ministro Brasnia, 12 de novembro de 1974.
Bilac Pinto. Rede., Estado do Amazonas Antonio Carlos de Azevedo Braga, Secre-.
(Adv., Jayme Roberto Cabral fumo de tácio.

ACUMULAÇÃO REMUNERADA - FALSIDADE IDEOLÓGICA

- Comete o crime previsto no art. 299 do Código Penal quem.


induzindo em erro a autoridade, omite a verdade, em declaração es-
crita, silenciando a existência de acumulação proibida.
- Interpretação do Decreto TfJ 39956, de 1954.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


(Primeira Turma)
Recorrente: Justiça Pública. Recorrido: Edgard da Silva Mello.
Recurso Extraordinário 1]9 78082 - ES - Relator: Sr. Ministro
AuOMAR BALEEmO

ACÓRDÃO lIELA:r6IUO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, o Sr. Ministro Alionuzr Baleeiro: -


acordam os Ministros da Primeira Turma O recorrido, bacharel que ia tomar posso
no cargo de Instrutor de Economia PoIí.
do Supremo Tribunal Federal, na confor 4

midade da ata de julgamento e notas ta 4


tica da Faculdade de Direito da Universi-
quigráficas. por unanimidade de votos, dade do Espírito Santo, prestou declaração
de que somente exercia as funções de Pr0-
conhecer do recurso e dar-lhe provimento.
curador da Caixa Econômica Federal o
Brasília, J8 de junho de 1974. - Luiz. que ocupara o cargo de Instrutor Pc--
Gallotti, Presidente. - Aliomar Baleeiro. deral de Ensino Superior, do qual pedira
Relator. exoneração, omitindo o exercício das fun.-

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ções de a:!vogado da Cia. Vale do Rio "Ainda que se admita que o crime de
Doce e de advogado da Prefeitura Muni- falso só existe quando o agente tem o
cipal de Guarapari. dever jurídico de expor a verdade, é for-
2. Denunciado, por isso, como incurso çoso reconhecer que, na espécie, ocorria
nas penas do art. 299 do C. Pen., foi con- tal circunstância. O dever jurldico, a que
denado pela r. sentença (folhas 48-(2) a se refere certa corrente doutrinária, tem
2 anos e três meses de reclusão. acepção ampla, de molde a abranger toda
3. Em seu favor, foi requerido habeas e qualquer disciplina normativa emanada
corpus, por falta de justa causa para o pro- da autoridade competente. O dever do re-
cesso, c a Primeira Turma, do ego Tri- corrido advinha dos decretos invocados na
bunal Federal de Recursos (fls. 94) anu- petição de recurso (Decreto 35 965, de
lou a condenação do paciente com esta 2.8.54; Decreto 36479, de 19.11.54; De-
ementa: creto 38 965, de 3.4.56; Decreto 45 048,
"Falsidade ideológicr. Documento de 12.12.58), que regulamentaram os tex-
particular - Art. 299 do C. Penal. Para tos legais e constitucionais sobre a proibi-
o crime de falsidade ideológica, em do- ção de acumular. A conduta do recorrido,
cumento particular, não basta qualquer de- omitindo declaração a que estava obrigado,
claração inexata, sendo necessário o de"er por força de disposição regulamentar ex-
jurídico de expor a verdade, em regra inc. pedida pela autoridade competente (Lei
xistente quanto aos fatos relacionados ao 1 711/52, artigo 22, IX), importou em
próprio signatário, ressalvada disposição de alterar a verdade sobre fato juridicamente
lei, ou a hipótese em que tal decorre da relevante para a ordem administrativa e
natureza do próprio documento. A pro- se subsume, portanto, à fígnea típica do
pósito da declaração de não acumulação art. 299 do Código Penal. E se o fato
que não é exigida pelo Estatuto dos Fun- constitui crime em tese, ao venerando acór-
cionários Públicos, mas por simples Re- dão recorrido não era lícito anular a sen-
gulamento, não se configura dito dever, tença condenatória, via de habeas corpus,
pelo que, verificada sua inexatidão não sob o fundamento de falta de justa causa."
se caracteriza o crime do art. 299 do C. É: o relatório.
Penal."
4. O Ministério Público (folhas 96-102) VOTO
interpôs recurso extraordinário por dene-
gação de vigência aos arts. 2" e 16 do De- () Sr. Mini,fIro Aliomar Baleeiro (Re-
creto n'? 35956/54; art. 81, IH, da Consti- lator): - O venerando acórdão, aliás unâ-
tuição Federal; e ao art. 194, V e VI da nime, não levanta qualquer dúvida quanto
Lei n9 1711/52. Invoca acórdão do Supre- à materialidade dos fatiJs, isto é, que o re-
mo Tribunal Federal, in R.TJ., 44/461, corrido, perante órgão público, para tomar
relativo ao RE 58791, Luiz Gallotti. posse de cargo no qual fora provido, fez
5. O recurso foi indeferido às folhas inexata declaração de acumulação de ou-
105-109, subindo por despacho do Ag tros empregos, ocultando a verdade de que
58 130, de 29.4 .13 (fls. 13 do agravo). ocupava mais dois outros. A tese do v. jul-
6. A Procuradoria-Geral da República gado está contida nos seguintes trechos,
(fls. 123-125), em parecer do Dr. Tor- que vou ler:
reão Braz, opina pelo conhecimento e pro- "A declaração inexata constante do do-
vimento do recurso, com a seguinte argu- cumento particular em princípio só cons-
mentação: titui crime de falsidade ideológica quando

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há, de parte do seu signatário, este dever obrigatoriedade, e não bá. em conseqüên-
juridico de expor a verdade, que Helena cia, dever jurídico de afirmar a verdade."
Fragoso nega ser elemento integrante do ll. O Código Penal, a meu ver, não se
tipo, mas qualifica como elemento valio- concilia com essa interpretação do disp0-
so para o intérprete (Noções de Direito sitivo da sentença condenat6ria:
Penal, vaI. 4, n'" 911, p. 1016), decide, "Art. 299. Omitir, em documento públi-
nas declarações referentes a fatos do pró-
co, particular, declaração que dele devia
prio declarante, raramente se configurar o
constar, ou nele inserir ou fazer inserir
crime de falsidade ideológica, porque s6
declaração falsa ou diversa da que devia
mediante preceito expresso de lei, esta-
ser escrita, com o fim de prejudicar di-
berecendo esse dever de veracidade, é que
reito, criar obrigação ou alterar a ver·
podemos reconhecê-lo.
dade sobre fato juridicamente relevante."
Em regra, relativamente aos fatos que
atingem o próprio declarante, não há esse E o Decreto n Q 39 956/54 dispõe:
dever de dizer a verdade, e nota-se essa "Art. 16. O provimento em cargo fe-
diferença dentro das pr6prias leis proces- deral de quem já ocupe outro em qual-
suais." quer das entidades enumeradas DO art. 29,
ou que esteja no gozo de aposentadoria
"Não há, por outro lado, nenhum pre- ou disponibilidade, fica condicionado à
ceito legal, nenhuma norma, que imponha, comunicação desse fato, feita previamente
segundo entendo, o dever de expor a ver- ou no ato da posse.
dade em tais casos. A declaração de não § 19 Na declaração, o funcionário in·
acumulação não provém do Estatuto dos dicará se considera acumuláveis 08 car-
Funcionários Públicos ou de outra lei, mas gos, ou fará constar a data do pedido do
de preceito regulamentar, porque o pre- exoneração do cargo incompatível.
ceituado pelo Estatuto, no dispositivo ci- § 29 A idêntica declaração fica 0bri-
tado oralmente pelo ilustre Dr. 49 Sub- gado o ocupante de cargo federal que for
procurador-Geral, isto, é, no art 22, n 9 provido em cargo de qualquer das enti-
XI, é que deve o nomeado, para o f'lID dades indicadas no artigo 29."
de ser empossado, provar ter atendido as
Confrontando o art. 299 e esse reguJa-
condições especiais prescritas em lei ou
mento, tenho a impressão de que o fato,
regulamento para determinados cargos ou
que o v. acórdão não discute ter ocorri-
carreira. Por conseguinte, refere-se o dis-
do, está enquadrado perfeitamente na tipi-
positivo às condições de capacidade para a
cidade do dispositivo lido.
investidura, e nele não se prevê proibição
de acumular. Pede-se prova de preencher Chamado por órgão público para do-
o nomeado aqueles requisitos específicos cIarar se tinha acumulações de cargos
para o cargo, coudições especiais, pres- proibidos pela Constitnição Federal, o
critas em lei para determinados cargos ou agente, em documento particular. para
carreiras, ao passo que a declaração de produzir o efeito da posse, omitiu de-
não acumular, ou de que acumular deter- claração com o fito de alterar a verda-
minados cargos, seria uma condição ge- de sobre fato juridicamente relevante.
nérica a todos funcionários, e não especí- Dissesse a verdade e não seria empossa-
fica a certos cargos ou carreiras. do. Para obter as vantagens de novo em-
O Regulamento. aprovado pelo Decreto prego, que não podia exercer sem abrir
35 956, de 1954, é que estabeleceu essa mão dos outros, omitiu a verdade. Agiu

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conscientemente para conseguir proveito VOTO
ilícito, induzindo em erro a autoridade que
lhe deveria dar ou ncgar a posse. o Sr. Ministro ROdrigues Alckmim: Sr.
A declaração era exigida pelo Decreto Presidente, estou de inteiro acordo com o
nl.' 35 956 e, mesmo se não fosse exigida eminente Relator. Considero que, no caso,
por esse diploma, nã-o era lícito ao agen- houve falsidade ideológica. Não se trata,
te omitir a verdade em declaração cate- como pretendido, de simples mentira ju-
górica que lhe fosse pedida para assegu- ridicamente irrelevante, como ocorre
rar o cumprimento de proibição constitu- quando a parte é trazida a juízo para de-
cional e legal. por. Ninguém é obrigado a propiciar pro-
Certo que não comete crime quem, por vas contrárias à sua pretensão, mas, no
brincadeira, piedade, discrição omite o caso, trata-se de declaração de pressuposto
conhecimento de um fato que não é obri- necessário, previstona Constituição, para
gado a contar, sem rrejudicar a ninguém, permitir exercício em cargo público. A
nem à sociedade, e muito menos tirar pro- parte ocultou, naturalmente como dolo,
veito disso. Não foi o que ocorreu. A ou alterou a verdade, não mencionando
declaração visava a produzir efeitos fun- os cargos que ocupava. Para mim, aí se
cionais e a omissão obedeceu ao impulso configura falsidade ideológica em do-
doloso de iludir a autoridade, induzindo-a cumento particular.
a praticar ato ilegal, que não praticaria Em princípio, a questão da existência
se o declarante houvesse agido dentro da do dolo, de ter havido equívoco ou erro,
verdade e da honestidade exigível de to- seria matéria para investigação na própria
dos os cidadãos. ação penal. Mas negar a existência do
IH. Conheço do recurso e dou-lhe pro- tipo não me parece admissível no caso.
vimento para cassar a ordem de habeas Conheço do recurso e lhe dou provi-
corpus. mento.

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ACUMULAÇÃO REMUNERADA - SERVIDOR DO INPS

- Não é legítima a acumulação de três cargos.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


(Primeira Turma)

Recorrente: Instituto Nacional de Previdência Social. Recorrido: José Clementino


de Oliveira Júnior
Recursó Extraordinário nl.> 74774 - PB - Relator: Sr. Ministro
ALlOMAR BALEEIRO

ACÓRDÃO do Supremo Tribunal Federal, na confor-


midade da ata do julgamento e das notas
Vistos, relatados e discutidos estes autos, taquigráficas, por unanimHade de votos,
acordam os Ministros da primeira Turma conhecer do recurso e dar-lhe provimento.

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