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Ib INTRODUCAO A MISTAGOGIA wen esta ainda, e-surda, sem cla. eae at Sp RRR EO um naw iniciado aos mistérios, como-aquele que, na danga, nda tenva sensa da misica”' Clemente de Alexandria ALLITURGIA INICIA AO MISTERIO. ‘A mistagogia esta intimamente ligada a realidade do mis- tério de Deus, esta ordenada aquele mistério do qual a litu é a epifani stagogia significa dirigir-se, imediata- mente, as catequeses e as homilias com as quais alguns entre os mais importantes Padres da Igreja — como Cirilo (ou Jo30) de Jerusalém, Ambrésio de Mila, Joao Criséstomo, Teodoro de Mopsuéstia — introduziam os catecimenos ou os neéfitos a0 conhecimento do significado do Batismo e da Eucaristia e, mais, em geral, compreensdo dos elementos maiores da liturgia ‘CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Les sromatesV,4,19,2, 48 cudados de LE BOUL- LLUEC, A. e VOULET. PSC 278, Pui: Cer, 1981, vl Vl, 57 2 Amigo publicad pelo autor com o titulo: “La misiggogia per entrar nel mister”, ext [BIANCHI,E.e BOSELLI,G. La linrgi,epfania de mistero, Hose: Qigajon, 2002 (Tes: ‘di meditazione 110), 9p. 17-33, sosesivamente xn LITURGIA,epijanie del mister Per comunicare Il Vangelo in un mondo che cumbia, aos cuidadon do Centro di Azione Liturpiea, Roma CLY-Edizion liurgche, 2003, p. 89-101 cristi Todavia, esta referéncia imediata as catequeses mista- 86gicas dos Padres nao esgota todo o valor ¢ o significado da mistagogia, que é, ao contrario, uma realidade muito vasta, articulada e extremamente complexa, e que nao pode estar mitada somente a iniciacao litirgica. O estudioso René Bornert soube sintetizar, de modo eficaz, toda a complexidadle das formas e dos contetidos da mistagogia em tomo de dois significados principais. A mistagogia “é, em primeiro lugar, a realizacao de uma acao sagrada e, em particular, a celebra. Sa0 dos sacramentos da iniciagao, Batismo e Eucaristia"* Afirmar ue a mistagogia é, em primeiro lugar, a acdo litirgica enquanto tal, significa atestar que a liturgia é, em si mesma, mistagogia, ou scia, € de per si capaz de ser epifania do mistério, de modo que a liturgia inicia ao mistério, celebrando-o. Para os Padres da Igreja, Portanto, a celebragdo dos mistérios & ja iniciacao aos mistérios e, desta maneira, 0 mistério se revela quando € celebrado, ele se comunica, se dé a conhecer. Isto significa reconhecer 8 liturgia a Prerrogativa de ser acao teologal, isto &, acdo de Deus mesmo, ¢ que ela, por isso, realiza aquilo que significa. Como se sabe, $30 Bento, em sua Regra, jamais utiliza o termo “liturgia”, mas, para indicar esta realidade, usa unicamente a expressao opts Dei, obra de Deus. Definir a liturgia como opus Dei equivale a atribuir a0 agi de Deus, na liturgia, as prerrogativas que a Escritura reconhece Palavra de Deus, uma palavra que é em si mesma acao, que realiza aquilo que significa. Deus mesmo, por intermédio do profeta Isaf- as, revela a qualidade da palavra que sai de sua boca: “E nao volta Sem produzir, sem seu realizado, sem fazer aquilo que planejei, sem cumprit como sucesso a sua missao” (ls 55,11), René Bomert indica um segundo significado da mistago; Ela € “a explicagao oral ou escrita do mistério escondido na Escri. {ura ¢ celebrado na liturgia’ A mistagogia é, a0 mesmo tempo, conhecimento do mistério contido nas Escrituras e conhecimente do mistério contido na liturgia. O objeto de conhecimento é ini. 0: 0 mistério de Deus. As modalidades de expresso do mistério 3 BORNERT, R. Les commentaires bcantns dela Dine ieurgie du VIt au XV siecle Pacis Institut raga eres byzantnes, 1966, p29, 4 Wid 8 =a sao duas: a Escritura e a liturgia. E @ método de conhecimento € para ambas um s6: a mistagogia. A grande intuigao espa que sda Igreja expressaram com suas catequeses mistagégicas fi a de uilzare métnda com 0 qual eles interpretavam as Escrituras, para interpretar a liturgia. Utilizar um mesmo método de interpretacio, uma mesma hermenéutica para duas realidades distintas significa reconhecer nestas duas realidades uma unidade Profuunda, essencial, mesmo reconhecendo a distingao e diferenca e a preeminéncia das Escrituras sobre a liturgia. As Escrturas sao, sem diivida, norma da liturgia Nesta estreita vinculagao entre Escrituras ¢ lturgia, esta todo 0 entendimento espiritual que os Padres intu- ram e concretizaram através da mistagogia. Nela esta também toda ‘a atualidade da mistagogia para a Igreja do nosso tempo. JESUS CRISTO, O MISTAGOGO Colocar como primeiro ponto a compreensio da mistagogia como acao eminentemente cristologica significa, antes de tudo, afinmar que 96 u mistério pode desvelar plenan iste ‘© mistério se revela por si mesmo. Afirmar este principio significa reconhecer uma verdade essencial da experiéncia de fé judaico- -crista: 0 homem conhece 0 nome de Deus, porque foi Deus que, gratuitamente, revelou seu nome ao homem. Sim, a revelagao do mistério de Deus é um ato de Deus mesmo. Na apocalipticajudaica ~ como jé se sabe, é nela que se en- contram as raizes da compreensao crista do mistério — 0 mistério (mystérion na Biblia grega) é 0 designio secreto divino, que somen- te Deus pode revelar aos seus servos, os profetas, como anuncia ‘Amés: “O Senhor nao faz coisa alguma sem revelar seus planos aos profetas, seus servos” (Am 3,7) 0 profeta Daniel recebe a re- velagdo do mistério “numa visdo noturna’ (Dn 2,19), ¢ ao rei da Babilonia, Nabucodonosor, que Ihe ordena de explicar 0 mistério contido no seu sonho, Daniel responde: “Sabios, feiticeiros, magos ow adivinhos nao sao capazes de decifrar o enigma proposto pelo rei. Li noalto, porém, existe o Deus do céu que revela os mistérios (On 2,27-28). Revelar os mistérios & obra de Deus unicamente. Como o profeta Daniel, também o apéstolo Paulo, que na Pri- meira Carta aos Corintios se define como aquele que veio para anunciar “o mistério de Deus” (ICor 2,1), reconhece que “por re- velagdo que tive conhecimento do mistério” (EF 3,3). O mistério é Para o Apéstolo a vontade de Deus “reencabecar tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra” (Ef 1,10) e por isso é, em sin. tese, 0 préprio Cristo revelado plenamente em sua morte de cruz, Para Paulo, portanto, Cristo nao é apenas o revelador do mistétio, mas é ele mesmo o mistério de Deus. Também na tinica ocorrén. cia do termo “mistério", presente nos sindticos, encontramos expressa, de algum modo, a ideia que s6 Deus € o revelador do Imistério. Nos sindticos, de fato, é Jesus mesmo que, no contexto a explicacao das parabolas do Reino aos seus discipulos, afirma, “[S6] a vés foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13,11; ef. Me 4,10; Le 8,10). Portanto, aquele que confia a seus dliscfpulos “os mistérios do reino” é Jesus, “um profeta poderoso em obras e palavras” (Le 24,19). Apesar desta profunda compreensao de Cristo como revela- dlor do mistério de Deus, em Paulo e em todo o Novo Testamento, Jamais aparece o termo “mistagogia” para designar a iniciacio a0 Imistério, e muito menos se atribui a Jesus 0 titulo e a fungao dle mistagogo. Isso se pode justficar pelo fato que, na tradi¢ao Judaica, era 0 rabbi que executava a tarefa de introduzir seus discipulos ao conhecimento de Deus, sobretudo através da expli. cacao das Escrituras. ‘A partir do Ill e IV séculos, em ambientes sob forte influén- Gia da cultura grega, como Alexandria e as Igrejas da Asia menor, autores cristios, como Origenes, e Padres da Igreja, como Clemen. te de Alexandria, Gregorio de Nazianzo, Gregério de Nissa, Joso Crisstomo e outros, realizam uma passagem determinante. Os Padres ndo assumiram o conceito grego de mistério, enquanto ele era para os gregos uma realidade que devia permanecer escondida ¢ da qual nao se podia falar. A compreensao grega do mistério é, Portanto, exatamente oposta aquela judaico-crista, para a qual o Imistério , ao contrério, a revelagao do segredo de Deus, da sua vontade. Os Padres da Igreja se limitam a reconhecer, no termo Brego mystagoghia, no seu significado de iniciagao aos mistérios 2 cultuais por parte do mistagogo, um termo adequado para indicar tanto o ensinamento de Jesus aos discipulos e a multidao, quan- to, em sentido mais amplo, a pregacdo do Evangelho por parte dos Apéstolos. A pregacao de Paulo é interpretada como mistago- gia, entre outros, por Gregério de Nissa: "Paulo inicia ao mistério (mystagoghei) 0 povo de Efeso, dando-lhes, através de eae namento, a possibilidade de conhecer a profundidade, aa a largura e © comprimento [do conhecimento de Deus]". Presa lo ‘em Antioquia, Joao Criséstomo afirma: "Pode-se ver Paulo fazer catequesee mistagoisiystaggott) aé mesmo na prisio ¢em algemas; também no tribunal o vemos fazendo 0 mesmo e, pi fim, em meio a tempestade"? Acerca de Jesus mistagogo, basta aqui recordar dois teste- munhos. Sobretudo aquele de Gregério de Nazianzo, que, i Christus Patiens — uma obra que € uma verdadeira e prépria tragé- dia, no estilo das tragédias gregas ~ faz uma voz anénima bradar este grito dirigido a Judas: “Tu és 0 iniciado ao mistério (mystes) € desonras os teus condiscipulos, traindo por dinheiro o teu mis- tagogo (mystagogén)".' Para © Nazianzeno, portanto, Hens) mistagogo de seus discipulos, e a relagio entre Jesus e os do € aquela do iniciado que, por sua vez, inicia outros ao mistério de Deus. Do mesmo modo, Cirilo de Alexandria, no Comentdrio 10 Evangelho de Lucas, meditando 0 episédio do ensinamento de Jesus a multidio de Cafarnaum e a cura do seenneliada ine sm seguida, afirma: “Era ttil e nec 7 oS ar ese tagoghiais) os milagres”.’ Portanto, também Citilo nao he a logo definir como mistagogia os ensinamentos de Jesus as tiddes, fazendo assim de Jesus um mistagogo e de seus ouvintes iniciados aos mistérios. ! ‘Quando os Padres afirmam que Jesus é mistagogo, e que “tudo que Jesus fez ¢ ensinou desde 0 comeco” (At 1,1) foi uma iniciagao © GREGORIO DEN é ios wn. se © GREGORIO DENISA, Dicoscotichtee 2,20 cds de WINLIN {5a Cr 2000 7291 le 7 1, rin mel pope a ntachi, 48.2. 1 GRECO NAZIANZINO, Lapin C9 166s TU A'SC tee Ca 190 pa re 9. GIRILODE ALEXANDRIA, Common! ance daca 431, 7G 72,58 2

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