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AULA 3

GÊNEROS DISCURSIVOS
NO ENSINO DE LÍNGUA

Profª Daíne Cavalcanti da Silva


CONVERSA INICIAL

Chegamos à terceira aula da nossa disciplina e, nela, conversaremos sobre


um importante material presente nas salas de aula: o livro didático. Nas aulas
anteriores, vimos o que são os gêneros discursivos e, agora, estudaremos o livro
didático como gênero discursivo, além dos gêneros discursivos que encontramos
nos livros. Será que o livro didático trabalha os gêneros na perspectiva que vimos
até agora? Será que existe uma variedade e a escolha está pautada na realidade
do aluno? É o que vamos ver nesta aula. Seja bem-vindo!

CONTEXTUALIZANDO

Por que falar em livro didático em uma disciplina sobre gêneros do


discurso?
Falar sobre livro didático é essencial porque, estando ele na maioria das
escolas brasileiras, acaba sendo, para muitos, norteador do ensino. Se
pensarmos sobre a abrangência dos programas de distribuição do livro didático e
sobre pesquisas sobre leitura no Brasil, é possível perceber que os alunos da
Educação Básica têm o livro didático como único meio de acesso à leitura.
Considerando esses dois fatores, torna-se relevante o estudo dos gêneros
discursivos presentes no livro didático e também o encaminhamento dado aos
professores para o uso de tais livros.

TEMA 1 – PNLD E GÊNEROS DISCURSIVOS

Como vimos na Aula 1 desta disciplina, os gêneros discursivos estão


classificados em primários e secundários.
Os gêneros discursivos secundários são complexos e trazem, em sua
composição, gêneros discursivos primários. Sendo assim, o livro didático é um
gênero discursivo secundário, pois é complexo e composto por vários outros
gêneros.
Desde 1929 o Brasil distribui livros didáticos para alunos da rede pública.
O programa que hoje é chamado de Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
nem sempre teve esse nome. Com o decorrer dos anos e com as mudanças
sociais no país, ele passou por ampliação, de modo que pudesse atender a
diferentes necessidades e a um número cada vez maior de alunos.

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O PNLD é um programa que atende a um número grande de estudantes e,
por isso, exige uma escolha criteriosa dos livros didáticos – relembre a importância
que os livros didáticos têm por serem, muitas vezes, o único meio de acesso a
diferentes gêneros discursivos em algumas regiões do país.
O processo de seleção de obras para o programa nos interessa, pois, tendo
início na publicação de um edital, traz as informações de como deve ser tratado o
ensino e os gêneros discursivos nesse processo.
Dentre as orientações que constam nos editais, há aquela do ensino a partir
da realidade do aluno:

O manual do professor, especialmente, deve valorizar os conhecimentos


prévios do aluno e buscar a confrontação com o conhecimento científico,
esclarecendo a relação entre o conhecimento historicamente construído
e aquele construído em seu cotidiano. (Edital de Convocação 2014,
2014, p. 30)

Conforme temos estudado até o momento nesta disciplina, a escolha dos


gêneros deve ser sempre situada. Corroborando tal informação, tem-se no guia
do PNLD:

Uso situado: dizemos que o tratamento didático de um determinado


conteúdo recorre ao uso situado quando o ensino parte de um uso
socialmente contextualizado desse conteúdo. É o que acontece quando
se aprende a escrever um relato de viagem tomando como referência
situações sociais em que faz sentido escrever um texto desse gênero. A
eficácia de uma abordagem metodológica como esta pressupõe que os
“usos” selecionados como referência sejam socialmente autênticos e
adequadamente “situados”. (Guia PNLD – LP, 2014, p. 24, grifo do autor)

O uso situado de que trata o trecho acima está pautado na Teoria


Bakhtiniana do Discurso, na qual o gênero não é apenas uma estrutura a ser
seguida, mas enunciados resultados de relações dialógicas do discurso de
determinado campo da atividade humana e das vozes de seus sujeitos.
Ao tratar especificamente dos gêneros do discurso, o PNLD traz algumas
propostas para escolhas do livro didático para os livros do Fundamental – anos
finais. Para língua portuguesa, por exemplo, tem-se as seguintes orientações:

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Tabela 1 – Critérios indicados para o professor no guia do PNLD-2014 para
análise do livro didático referente aos gêneros discursivos

Deve ser analisado pelo professor: Critério relativo:

Os gêneros discursivos são os mais diversos Natureza do material textual


e variados possíveis, manifestando também
diferentes registros, estilos e variedades
(sociais e regionais) do português.

As propostas exploram a produção dos mais Trabalho com produção de textos


diversos gêneros e tipos de texto,
contemplando suas especificidades.

As propostas apresentam e discutem as Trabalho com produção de textos


características discursivas e textuais dos
gêneros abordados, não se restringindo à
exploração temática.

Fonte: Guia PNLD – LP, 2014

A preocupação com a variedade de gêneros discursivos também está


presente no Guia do PNLD de língua estrangeira, doravante Guia PNLD – LE
2014:

10. Contempla variedade de gêneros orais, gêneros escritos, linguagem


verbal, linguagem não verbal, linguagem verbo-visual?
11. Inclui um conjunto que circula no mundo social, oriundo de diferentes
esferas e suportes representativos das comunidades que se manifestam
na língua estrangeira? Em caso positivo, indique as esferas incluídas:
científica, cotidiana, jornalística, jurídica, literária, publicitária, outra(s)
esfera(s). (Guia PNLD – LE, 2014, p. 35, 2014)

Note que tanto para o ensino de língua portuguesa como para o de língua
estrangeira há preocupação com a variedade de gêneros do discurso e também
de campos da atividade humana, isso porque nos comunicamos por meio de
gêneros, e todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso
da linguagem.
Ao longo dessa disciplina, traremos exemplos que confirmem a importância
de um livro didático com gêneros discursivos variados, e também de diferentes
campos da atividade humana.

TEMA 2 – APRESENTAÇÃO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS NO LIVRO


DIDÁTICO

Ainda que tenhamos falado até agora sobre os livros didáticos, as apostilas
de sistemas de ensino, por exemplo, também devem ser objeto de análise,
devendo estar pautadas na realidade do aluno e trazendo diferentes gêneros do

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discurso de diferentes campos da atividade humana. Essa orientação precisa ser
seguida em materiais de toda a Educação Básica e para as diferentes disciplinas;
porém, quando se trata do ensino na área de linguagem, devemos pensar na
forma como tais gêneros são apresentados: quais as sugestões trazidas, quais os
exercícios propostos.
Apesar de todas as pesquisas e orientações para que o ensino de línguas
aconteça a partir de gêneros, há, ainda, o uso dos gêneros apenas como pretexto
para o ensino de outros conteúdos, um ensino descontextualizado – muitas vezes
apenas o ensino da gramática. Isso não significa de forma alguma que a gramática
não deva ser trabalhada, porém, o ensino descontextualizado, sem considerar
reais situações de uso, esse sim, deve ser evitado.
Sendo assim, ressalta-se que o trabalho com os gêneros não seja realizado
como um conjunto de normas a serem seguidas, como cita Fiorin (2016, p. 69):

Depois que os Parâmetros Curriculares Nacionais estabeleceram que o


ensino de português fosse feito com base nos gêneros, apareceram
muitos livros didáticos que veem o gênero como um conjunto de
propriedades formais a que o texto deve obedecer. O gênero é, assim,
um produto e seu ensino torna-se, então, normativo. Sob a aparência de
uma revolução no ensino de português, continua-se dentro da mesma
perspectiva normativa que se ensinava a gramática.

A mesma situação deve ser considerada para o ensino de língua


estrangeira. Outro ponto a ser observado nos materiais é o uso de gêneros
discursivos que se refiram a situações reais do cotidiano, e não textos criados
para o livro didático, sem que sejam uma situação real do cotidiano.
Ainda nesta aula faremos uma análise de diferentes situações no que tange
à apresentação dos gêneros discursivos no livro didático. Veja a Figura 1:

Figura 1 – Exemplo de apresentação de gênero discursivo no livro didático

Fonte: Ana, Moraes e Sansanovicz (2005, p. 15).

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No exercício proposto na Figura 1, temos o gênero discursivo diálogo. Está
claro que esse não é um diálogo que realmente tenha acontecido; ele foi criado
para trabalhar os conteúdos propostos nesse livro didático. Não sabemos, por
exemplo, qual o contexto em que esse diálogo aconteceu. Consequentemente, o
aluno que faz o uso desse livro didático também não saberá.

Figura 2 – Exemplo de apresentação de gênero discursivo no livro didático

Fonte: Ana, Moraes e Sansanovicz (2005, p. 84).

Já na imagem apresentada na Figura 2, temos um gênero cujo texto reflete


a situação real de uso. Adiante, nesta disciplina, analisaremos se os textos
trazidos para os livros didáticos são usados a partir da situação real de uso ou
apenas como pretexto.
Sobre a apresentação de diferentes gêneros discursivos no livro didático,
convém lembrar que ela deve acontecer desde o início do processo de
escolarização e estar relacionada às diferentes habilidades: ouvir, falar, ler e
escrever. Veja a Figura 3:

Figura 3 – Sumário de um livro/apostila

Fonte: Nunes e Motta (2013a, p. 1).

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Na Figura 3 temos o sumário de um livro/apostila do segundo ano do Ensino
Fundamental para o ensino de língua portuguesa. Note que o livro é para um
bimestre e traz diferentes gêneros discursivos.
É importante lembrar que, quando falamos sobre diferentes gêneros,
estamos tratando não apenas de sua leitura: a produção textual também deve
considerar uma variação de gêneros de diferentes esferas. Olhe novamente para
a Figura 3: o sumário traz uma história em quadrinhos (HQ), mas também traz a
produção do gênero. Já para o gênero piada tem-se a leitura e também a contação
de piadas, ou seja, são trabalhadas as diferentes habilidades.
Se analisarmos, veremos que na maioria das vezes a diversidade de
gêneros é atendida, porém, há mais detalhes a se pensar quando tratamos de
gêneros discursivos e materiais didáticos, e um dos pontos a serem vistos é a
orientação dada ao professor sobre o trabalho com tais gêneros. Esse será o
próximo tema.

TEMA 3 – ORIENTAÇÕES SOBRE GÊNEROS DISCURSIVOS PARA O


PROFESSOR

Para iniciarmos nossa discussão, sugiro que você, se possível, pegue um


livro didático do professor para o ensino de língua portuguesa ou estrangeira. Esse
livro pode ser de qualquer ano ou série. Comece analisando o manual do
professor:

 Ele traz apenas respostas?


 Tem orientações sobre como está dividido o livro?
 Tem diferentes gêneros e os define para que você saiba a melhor forma de
trabalho?

Você deve estar pensando: “Espere um pouco... O material didático não é


fonte absoluta em uma aula; o professor é fundamental e deve saber o que ensinar
e como ensinar”. Sim, você está certo. O professor é fundamental e nenhum livro
o substituirá, porém, bons livros devem auxiliar o professor trazendo novos
conhecimentos, sugestões de leitura, trabalhos com gêneros emergentes. Você
já trabalhou com fanfics, por exemplo?
Você sabe o que são fanfics? Caso a resposta seja “não” e o livro didático
tenha uma unidade temática que trata desse gênero, não seria interessante que

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o material já trouxesse informações prévias? (É claro que você também pode
pesquisar por conta própria.)
Bons livros didáticos trazem diferentes gêneros discursivos e informações
para o professor, que vão desde a apresentação de uma visão geral sobre os
gêneros discutidos na obra até orientações sobre o uso em sala de aula. Vejamos
a Figura 4:

Figura 4 – Exemplo de livro didático

Fonte: Delmanto e Carvalho (2012, p. 12).

Na Figura 4, as autoras do livro didático fazem a seguinte indicação: gênero


– diário íntimo (ficcional e autêntico) e diário virtual; esfera de circulação – literária,
cotidiana, digital/virtual.
Ao longo dessa unidade, as autoras do livro didático em questão fazem
uma comparação entre dois gêneros discursivos: o diário íntimo e o diário virtual.
Essa comparação apresenta para os professores e alunos as diferenças entre tais
gêneros a partir das concepções bakhtinianas, ou seja, mostram em quais campos
cada um dos gêneros é utilizado, quais são as situações reais de uso etc.
E o livro que você tem em casa ou utiliza na escola? Ele faz comparação
entre diferentes gêneros? As informações trazidas em cada texto promovem uma

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discussão acerca dos conhecimentos prévios do aluno sobre aquele conteúdo
temático ou aquele gênero?
Todas essas questões devem ser pensadas para a escolha de livros
didáticos e também para o planejamento das aulas. Comentamos aqui que,
embora o livro didático seja muitas vezes elemento norteador do ensino, cabe ao
professor avaliar o que ainda precisa ser discutido, complementar o material que
já está à disposição do aluno e inserir novas informações necessárias à sua
realidade.
Uma das situações comuns em materiais didáticos é que a escolha dos
gêneros privilegie os gêneros escritos, deixando em segundo plano o trabalho
com os gêneros orais. Vejamos essa temática a partir de agora.

TEMA 4 – GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS NO LIVRO DIDÁTICO

De acordo com o que vimos até agora, o ensino a partir dos gêneros
discursivos não deve privilegiar nenhum campo da atividade humana ou gênero
específico. Da mesma forma, não se deve ter como foco apenas uma das
habilidades, como a leitura, por exemplo. Vejamos o que traz o guia de escolha
de livros didáticos de língua estrangeira sobre as habilidades da língua nos
critérios de escolha:

Os critérios específicos podem ser retomados considerando


principalmente: a seleção dos textos verbais, não verbais e verbo-visuais
quanto aos temas e à diversidade de gêneros, de forma a garantir
variedade representativa da diversidade étnica, social e cultural
brasileira e das comunidades falantes da língua estrangeira; a
sistematização dos conhecimentos linguísticos, a partir de situações
de uso variadas; a relevância atribuída à formação do leitor autônomo;
a preocupação com a produção escrita e oral; a valorização de estudo
da intertextualidade e do uso estético da linguagem; a promoção de
atividades pautadas no afeto, no lúdico e na criatividade. (Guia PNLD –
LE, 2014, p. 12, grifo nosso)

Observe que, na citação acima, tem-se o tratamento variado, sem


prevalência de nenhum campo ou gênero. Para complementar nossa análise, veja
o que nos diz o PNLD sobre como deve ser o tratamento de trabalhos relativos à
oralidade nos livros didáticos de língua portuguesa para os anos finais do
Fundamental:

A linguagem oral, que o aluno chega à escola dominando


satisfatoriamente no que diz respeito a demandas de seu convívio social
imediato, é o instrumento por meio do qual se efetivam tanto a interação
professor-aluno quanto o processo de ensino-aprendizagem. Será com
o apoio dessa experiência prévia que o aprendiz não só desvendará o
funcionamento da língua escrita como estenderá o domínio da fala para

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novas situações e contextos, inclusive no que diz respeito a situações
escolares, como as exposições orais e os seminários. Assim, caberá à
coleção de língua portuguesa no que diz respeito a esse quesito:
1. recorrer à oralidade nas estratégias didáticas de abordagem da leitura
e da produção de textos [...]. (Guia PNLD – LP, 2014, p. 19)

Quando o guia do PNLD nos diz que “o aprendiz não só desvendará o


funcionamento da língua escrita como estenderá o domínio da fala para novas
situações e contextos”, temos, novamente, a informação de que devemos
considerar a realidade do nosso aluno, e mais do que isso, temos também a
informação de que o livro didático e nós, como professores, devemos recorrer à
oralidade, mesmo no desenvolvimento de outras habilidades.
O material dos livros didáticos do Ensino Fundamental – anos iniciais
também tem como uma das premissas a oralidade:

Como objeto de ensino, a linguagem oral tem um papel estratégico em


língua portuguesa (LP). Caberá ao livro didático de língua portuguesa
(LDP), no que diz respeito a esse quesito:
• favorecer o uso da linguagem oral na interação em sala de aula;
• recorrer à oralidade nas estratégias didáticas de abordagem da leitura
e da produção de textos, em especial nos livros de alfabetização;
• explorar as diferenças e semelhanças que se estabelecem entre o oral
e o escrito;
• valorizar e efetivamente trabalhar a variação e a heterogeneidade
linguísticas, situando nesse contexto sociolinguístico o ensino das
normas urbanas de prestígio;
• propiciar o desenvolvimento das capacidades e formas discursivas
envolvidas nos usos da linguagem oral próprios das situações formais
e/ou públicas pertinentes ao nível de ensino em foco. (Guia PNLD – LP,
Anos Iniciais, 2014, p. 17-18)

Ao ler esse trecho, você deve ter pensado: “Mas em que parte o texto está
falando sobre gêneros?”. Ainda que o termo gêneros do discurso não esteja
presente, o trabalho com oralidade deve “propiciar o desenvolvimento das
capacidades e formas discursivas envolvidas nos usos da linguagem oral próprios
das situações formais e/ou públicas pertinentes ao nível de ensino em foco”, ou
seja, devem ser trazidos textos orais em que sejam apresentadas as mais
diferentes situações de realidade em que o aluno possa vivenciar diferentes
contextos e usos.

TEMA 5 – ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS

Ao longo desta aula, discutimos o que os materiais didáticos devem trazer


para o trabalho com os gêneros discursivos. Vimos, por exemplo, que a variedade
de gêneros é o primeiro item que um livro didático deve atender. Além disso, é
necessário que o livro didático seja esclarecedor para o professor, tanto no que

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diz respeito à sua organização quanto às orientações dadas ao longo do livro
acerca do trabalho com os gêneros discursivos. Outro ponto a se destacar é que
todas as habilidades devem ser trabalhadas sem que haja detrimento de uma em
relação às demais. Todas essas discussões foram pautadas nos guias e editais
do PNLD.
Já fundamentados teoricamente, vejamos alguns exemplos de cada um
desses casos em livros de língua portuguesa e estrangeira para a Educação
Básica.
Comecemos pela variedade de gêneros. Na Figura 3, vimos um exemplo
para os anos iniciais de língua portuguesa; na figura a seguir, temos um exemplo
para o ensino de língua inglesa para o Ensino Médio.

Figura 5 – Exemplo de livro didático para o ensino de língua inglesa no Ensino Médio

Fonte: Ana, Moraes e Sansanovicz (2010, p. 5).

Atente que a Figura 5 traz o fragmento de um sumário de livro que faz parte
de uma coleção com três volumes. Sendo assim, é importante que a coleção,

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destinada a um nível de ensino, desenvolva o trabalho com diferentes gêneros e
de forma progressiva ao longo de todos os seus volumes.
A progressão do trabalho com gêneros e os diferentes gêneros usados na
coleção completa são informações que devem estar presentes no livro. Como já
mencionamos, devem ser claras as orientações dadas para o professor. Veja na
Figura 6 um exemplo dessa clareza:

Figura 6 – Quadro de conteúdos: gêneros

Fonte: Jornadas.port (2012, p. 30)

Esse livro, destinado a alunos dos anos finais do Ensino Fundamental,


permite ao professor a visualização e o planejamento de atividades a serem
desenvolvidas em todos os anos. Com essa informação, por exemplo, o professor
pode fazer retomadas do conteúdo e preparar os alunos para os estudos dos
próximos gêneros que estão na coleção.
Como dissemos ao longo da disciplina, o ensino das diversas habilidades
a partir dos gêneros do discurso deve permear toda a Educação Básica, porém, o
ideal é que essa forma de ensino tenha início ainda nos materiais da educação
Infantil – ainda que não alfabetizados, é possível que tal trabalho seja realizado.
Veja o exemplo do material na Figura 7.

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Figura 7 – Exemplo de material para Educação Infantil

Fonte: Fantinatto (2009, p. 1).

Nesta figura, temos as informações do que será trabalhado em uma


unidade de um livro da Educação Infantil. Perceba que, na página 1, há a
indicação de leitura de textos não verbais, jornais, revistas e livros; já nas páginas
2 e 3 há o trabalho com a oralidade a partir do gênero poema. Ainda que tenhamos
um público de alunos em início do processo de alfabetização, já existe o trabalho
com as diferentes habilidades e diferentes gêneros.
Vejamos um último exemplo de análise. Na próxima figura, em um material
para o segundo ano do Ensino Fundamental, temos o ensino de língua portuguesa
a partir dos gêneros, considerando o contexto de uso do gênero estudado.
A Figura 8 tem como objeto de estudo o gênero receita. Esse texto abre o
trabalho do quarto bimestre para os alunos do segundo ano e traz a seguinte
informação para o professor:

Espera-se que as crianças já tenham domínio sobre as características


visuais dos gêneros textuais e que, aliado a esse conhecimento, também
percebam que muitas vezes é preciso ler o texto para saber sua função,
porque apenas sua estrutura não basta. Veja mais sobre
intergenericidade no Manual do Professor.

Olhe novamente a figura e perceba que, após o texto, há perguntas para


instigar o conhecimento prévio dos alunos sobre o gênero. Neste momento, vale
lembrar que nos comunicamos por meio de gêneros discursivos, e os gêneros nos
são passados de forma natural desde o início das nossas vidas. Assim, é muito
provável que o aluno já conheça o gênero apresentado muito antes de iniciar os
estudos na escola.
As perguntas exibidas no antes e depois do texto têm por objetivo a
compreensão do contexto de produção e também o objetivo e a função do gênero.

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Figura 8 – Gênero “receita” como objeto de estudo

Fonte: Nunes e Motta (2013, p. 3).

Ainda sobre a Figura 8, convém destacar a leitura da imagem: note que a


receita foi apresentada em um caderno, suporte muito comum nas casas, o
caderno de receitas. Na página que antecede a receita tem-se um chefe em uma
cozinha, rodeado de panelas, faca e demais utensílios. A personagem do chefe
de cozinha está com um caderno aberto nas mãos.
Note que, embora peça o reconhecimento da estrutura do gênero receita,
há vários outros indicadores que levam ao ensino contextualizado a partir do
gênero discursivo.

FINALIZANDO

Chegamos ao fim da nossa terceira aula. Nesta aula aprendemos que o


livro didático é um gênero textual primário de grande importância na escola.

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Embora ele não seja o único material na escola e o êxito do trabalho dependa do
professor, ele tem fundamental importância na formação dos nossos alunos, por
isso ele deve ser constantemente avaliado e discutido.
Vimos nesta aula que todos os materiais didáticos da Educação Básica e
também da Educação Infantil devem trabalhar com variedade de gêneros
discursivos dos mais diferentes campos da atividade humana. Ainda que os
materiais utilizados nas redes privadas de ensino não sejam analisados pelo
PNLD, as orientações do programa são uma boa fonte de consulta quando
precisamos escolher um material didático, seja para rede pública ou privada.
Sendo assim, além da diversidade de gêneros, constatamos que os livros
didáticos devem trabalhar com todas as habilidades da língua, seja portuguesa ou
estrangeira, e devem trazer orientações para o professor de forma que se
complemente o conhecimento que o docente já tem sobre o assunto.
Por fim, nos resta enfatizar que toda e qualquer atividade de ensino tem
por base a realidade do aluno. Considerar as demandas sociais da realidade do
aluno é fundamental para o bom desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem.
Então, faça esse exercício de análise dos tópicos aqui discutidos sobre o
livro didático e pense no que precisa ser melhorado, ou se tal livro foi uma boa
escolha. Enfim, faça a aplicação prática do que foi visto nesta aula.
Bons estudos.

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REFERÊNCIAS

AUN, E., MORAES, M. C. P. de & SANSANOVICZ, N. B. Get together at the New


English 1. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

_____. English for all. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Edital de convocação para o


processo de inscrição e avaliação de coleções didáticas para o programa
nacional do livro didático PNLD 2014. Disponível em:
<http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-editais> Acesso:
14 fev. 2018.

_____. Guia de livros didáticos: PNLD 2014: língua portuguesa: Ensino


Fundamental: anos finais. Brasília: Ministério da Educação, 2013. Disponível em:
<http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guias-do-pnld/item/4661-guia-
pnld-2014> Acesso: 14 fev. 2018.

DELMANTO, D & CARVALHO, L. de B. Jornadas.port – Língua Portuguesa, 6º


ano. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

FANTINATO, T. M. Ioiô. v. 3. Curitiba: IBPEX, 2009.

FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2. ed. São Paulo:


Contexto, 2016.

MOTTA, M. A. & NUNES, T. R. N. Ensino fundamental I, 2º ano: 4 bimestre,


2013: livro 1. Curitiba: Solução educacional Uninter, 2013. (Um mundo de
conhecimento)

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