You are on page 1of 6

A AUTORIDADE DOS PAIS (Por François Turretini)

XXI. Os escritos dos pais são a norma da verdade nas doutrinas de fé e na interpretação das
Escrituras? Isso negamos contra os papistas.

I. Ainda que, à luz da questão precedente, já fiquemos satisfeitos em saber que os pais não
podem ser juízes em controvérsias de fé, visto que os papistas freqüentemente recorrem a eles
e costumam impor sobre nós o consenso dos pais como uma norma da verdade, é preciso que
dediquemos uma questão em separado a esse argumento, que é da maior importância nas
controvérsias da atualidade.

O que se quer dizer por pais. II. Por “os pais” não temos em mente, com Agostinho, os
apóstolos como os fundadores e patriarcas da igreja cristã (Sl 45, NPNF1, 8:153), mas, em
concordância com o presente uso que é sancionado pelos antigos, os mestres da igreja
primitiva que, depois de mortos os apóstolos, ensinaram e ilustraram a doutrina da salvação
oralmente e por escrito. Em relação à época, viveram muitos anos antes de nossos tempos; em
relação à doutrina (por inculcá-la em seus discípulos), geraram filhos a Deus no seio da igreja.

III. Ainda que alguns estendam sua época até o décimo século, não cremos que ela deva
estender-se além do sexto, pois é certo que a pureza da doutrina e do culto se tornou
grandemente corrompida depois de seiscentos anos (tempo em que o Anticristo se exaltou
como sua cabeça) – erros e superstições se agigantaram pelo justo juízo de Deus. No primeiro
século, depois da morte dos apóstolos, os pais principais foram Inácio e Policarpo, fragmentos
de cujos escritos estão ainda existem. No segundo, Justino Mártir e Irineu. No terceiro,
Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Cipriano, Arnóbio, Lactâncio. No quarto,
Atanásio, Eusébio de Cesaréia, Hilário de Poitiers, Basílio, Gregório de Nazianzo, Ambrósio,
Jerônimo, Gregório de Nyssa, Epifânio, João Crisóstomo. No quinto, Agostinho, Cirilo de
Alexandria, Teodoreto, Hilário de Arles, Prosper de Aquitânia, Leo I. No sexto, Fulgêncio o
Africano, Gelásio (Cízico), Gregório o Grande, entre outros.

IV. Há três opiniões entre os papistas sobre a autoridade dos pais. Primeira: a dos que os
põem em pé de igualdade com as Escrituras, aos quais pertencem aqueles decretos do
Comentador que asseveram: “os escritos dos pais são autênticos, tanto individualmente,
quanto coletivamente” (Dist. 9+). Segunda (justamente o oposto): a dos que relegam seus
escritos como meramente humanos e, portanto, impróprios para ser uma regra de fé. Essa foi a
opinião de Cajetano (“Praefacio”, Commentarii … in quinque Mosaicos libros in Sacrae
Scripturae [1639], vol. 1) e dos papistas mais sábios. Terceira: a dos que, mantendo uma
posição média, acreditam que a autoridade dos pais individualmente seja humana e falível,
porém crêem que o consenso comum e universal dos pais, em controvérsias, seja infalível e
divina. Essa foi a opinião do Concílio de Trento, afirmando que “as tradições dos pais,
concernentes tanto à fé quanto à prática, devem ser recebidas com um igual afeição de
piedade com o Antigo e o Novo Testamentos” (Sessão 4, Schroeder, p. 17). E, no mesmo
lugar, “proíbe a alguém de ousar interpretar as Escrituras de forma contrária àquele sentido que
a santa mãe igreja tem mantido, ou agora mantém … ou mesmo contra o consenso unânime
dos pais” (Sessão 4, Schroeder, p. 19). A maioria dos papistas – Stapleton, Belarmino, Canus,
Valentia, entre outros – concorda com isso.

V. Os ortodoxos, embora tenham os pais em grande estima e crêem que sejam de muita
utilidade para o conhecimento da história da igreja antiga, e nossa opinião sobre doutrinas
básicas concorde com eles, negam que sua autoridade, quer tomada como indivíduos, quer
tomada em conjunto, possa ser chamada autoritativa em questões de fé e na interpretação das
Escrituras, de modo que seu julgamento deve ficar de pé ou cair. Sua autoridade é apenas
eclesiástica e subordinada às Escrituras e de nenhum peso, exceto enquanto concordar com
elas.

Estabelecimento da questão. VI. A questão não é: os pais devem ser considerados


testemunhas, dando testemunho do consenso da igreja antiga e da opinião da igreja em sua
própria época? Antes, a questão é: os pais devem ser considerados juízes, aptos para decidir
controvérsias de fé por sua infalível autoridade? Os papistas mantêm a segunda; nós
mantemos a primeira. Quando disputamos, em qualquer tempo, com base nos pais contra
nossos adversários, os usamos somente como testemunhas, com o fim de aprovar por seu voto
a verdade crida por nós e declarar a fé da igreja em seu tempo. Não os usamos como juízes
cuja opinião deve ser aquiescida de forma absoluta e sem exame, e como o padrão da verdade
nas doutrinas de fé ou na interpretação das Escrituras.

Os pais não podem ser juízes. VII. As razões são: (1) os pais, considerados separadamente
como indivíduos ou coletivamente, não eram profetas nem apóstolos que, agindo mediante um
chamado imediato e dotados com dons extraordinários, tinham o privilégio de infalibilidade;
antes, eram homens falíveis e expostos a erro, de conhecimento imperfeito e capazes de
deixar-se influenciar por zelo sincero e de deixar-se dominar por suas emoções. Além disso,
aquele chamado mediato com que foram munidos não os colocou além do perigo do erro. Não
só podiam errar, mas com freqüência indubitavelmente erraram em muitos pontos vitais, quer
como indivíduos, quer tomados em colegiado. Isso pode ser prontamente provado, caso os
papistas não concordem conosco aqui. Belarmino mesmo confessa que mesmo os mais doutos
dentre os pais erraram seriamente em muitas coisas (VD 3.3, 10, pp. 101–3, 111–14),
contradizem uns aos outros (“De Christo”, 2.2, em Opera Omnia [1856], 1:201–2) e todos eles
muitas vezes são cegos (ibid.). Sixtus Senensis confirma isso (“Praefatio” ao Livro 5,
Bibliotheca Sancta [1575], vol. 2; cf. Salmeron, Commentarii in evangelicam historiam
[1602–04], vol. 13, Parte 3, Disputatio 6, pp. 206–9).

VIII. (2) Os escritos dos pais têm sido de várias maneiras corrompidos e violados: em parte por
vários escritos espúrios que circulam sob o nome dos pais (os quais, contudo, segundo o
julgamento dos eruditos, constituem um produto iniquamente adúltero posto à porta dos pais),
ou pelo artifício dos bajuladores, ou das fraudes e imposturas dos hereges, ou pela vil avidez
por lucro (aischrokerdeian) dos editores ou dos livreiros; em parte pela corrupção e falsificação
que permeiam seus escritos genuínos. Estes, evidentemente, têm sido corrompidos de várias
maneiras, ou pela injúria de copistas, ou pela audácia dos monges, ou, acima de tudo, pela
vilania dos jesuítas ao corrigi-los, expurgá-los e castrá-los. Os eruditos, em tempos anteriores,
se queixaram disso, e os de nossos tempo também o têm provado por inumeráveis exemplos
(como se pode ver em Rivet, “Critici Sacri”, em Opera [1651], 2:104–1152, e Daille, A Treatise
on the Right Use of the Fathers [1856], entre outros que lidam com esse argumento).

IX. (3) Os próprios pais reconhecem que seus escritos não devem ser tidos como autoritativos,
nem suas meras afirmações em questões de religião devem ser tidas como absolutamente
decisivas. Agostinho afirma: “Confesso, meus amados, que tenho aprendido a dar essa
reverência e honra somente àqueles livros da Escritura que ora são chamados canônicos, a
ponto de crer firmemente que nenhum de seus autores errou ao escrever alguma coisa … mas
também leio os outros, que por mais excelentes sejam quanto a pureza e doutrina, nem por
isso tomo algo como sendo verdadeiro porque pensavam assim; mas porque podem
persuadir-me, ou por meio desses autores canônicos, ou de razão provável, que não diferem
da verdade. Tampouco creio que vós, meus irmãos, tenhais uma opinião diferente. E digo mais,
não presumo que desejais que vossos livros sejam lidos como se fossem os escritos dos
profetas e apóstolos, os quais além de toda e qualquer dúvida estão isentos de qualquer erro”
(Letter 82, “To Jerome” [NPNF1, 1:350; PL 33.277]). “Não devemos considerar as disputas de
quaisquer homens, ainda que sejam homens católicos e louváveis, como Escrituras canônicas,
de modo que não proibamos ou rejeitemos, salvo a reverência devida a esses homens, tudo
em seus escritos, se porventura acharmos que pensavam de outra forma discordante com a
verdade. Isso é o que sinto sobre os escritos de outros homens; isso é o que outros homens
devem entender de meus escritos” (Agostinho, Letter 148, “To Fortunatianus” [NPNF1, 1:502;
PL 33.628–29]). “Não injuriamos a Cipriano quando distinguimos quaisquer escritos seus de
quaisquer outros de autoridade canônica das Sagradas Escrituras. Pois não é sem causa que o
cânon eclesiástico é designado com diligência tão saudável, ao qual pertencem os livros dos
profetas e dos apóstolos, os quais não ousamos de forma alguma julgar e segundo os quais
podemos livremente julgar outros escritos, sejam de homens fiéis ou infiéis” (Agostinho, Contra
Cresconium 2.31 [PL 43.489–90]). “Não sou obrigado pela autoridade desta epístola, porque
não considero os escritos de Cipriano como Escrituras canônicas, porém os considero à luz
das Escrituras canônicas, e tudo quanto neles concorda com a autoridade das Sagradas
Escrituras recebo com seu louvor; mas tudo o que não concorda rejeito com sua permissão”
(ibid., 2.32 [PL 43.490]). Ainda mais plena e veementemente ele confirma a mesma coisa: “Ali
[i.e., nas Escrituras canônicas] algo me choca como absurdo, não me é lícito dizer que o autor
deste livro não defendia a verdade; mas ou o Códice é falho, ou o intérprete errou, ou tu não
entendes. Porém, nas produções daqueles que viveram posteriormente, as quais estão
contidas em inumeráveis livros, mas de forma alguma são iguais à mais sacra excelência das
Escrituras canônicas, mesmo que em algum deles se encontre verdade igual, sua autoridade é
muito desigual” (Contra Faustum Manichaeum 11.5 [NPNF1, 4:180; PL 42.249]). No mesmo
diapasão, diz Jerônimo: “Sei que estimo os apóstolos diferentemente de certos tratadistas
[manuseadores]; aqueles, como sempre falando a verdade; estes, como homens que muitas
vezes cometem equívocos” (Letter 82, “To Theophilus Bishop of Alexandria” [NPNF2, 6:173; PL
22.740]). “Orígenes deve ser lido ocasionalmente, como Tertuliano, Novato e Arnóbio, e alguns
escritores eclesiásticos, de modo que possamos extrair deles o que é bom e pôr de lado o
oposto, segundo as diretrizes do apóstolo: provando todas as coisas e retendo o que é bom”
(Jerônimo, Letter 62 [76], “Ad Tranquillanum” [NPNF2, 6:133; PL 22.606]). Jerônimo
freqüentemente inculca isso, e com grande liberdade reiteradamente censura os sentimentos e
exposições de seus predecessores. Aliás, ele fala de seus escritos nestes termos: “Se alguém
falar melhor, ou ainda mais verdadeiramente, aquiesçamos livremente no melhor” (commenta.
In Haba. Et Zach., t. 5+). De igual modo, Ambrósio testifica: “Não me sinto bem que creias em
mim. Que as Escrituras sejam recitadas. Não falo de mim mesmo, porque no princípio era a
palavra, porém ouço. Não ataco, porém leio” (The Sacrament of the Incarnation fo Our Lord 3
[FC 44:224; PL 16.857]). Também Cirilo: “Não atentes para meus fluentes comentários, pois
possivelmente podes estar sendo enganado; mas, a menos que recebas o testemunho dos
profetas, cada um em particular, não deves crer em minhas palavras” (Catechetical Lectures
[NPNF2, 7:73; PG 33.730]).

X. (4) Os próprios papistas rejeitam a autoridade dos pais (quando se opõe a eles) e
francamente recuam deles – tanto é seu reconhecimento deles quando julgam questões do
valor da fé. Mais passagens em prova disso devem ser evocadas do que as já referidas em
Belarmino, Sixtus Senensis e Salmeron. Falando de seus comentários sobre as Escrituras,
Cajetano diz: “Se em qualquer tempo ocorre que um novo sentido concorda com o texto, e não
contradiz nem as Escrituras nem a doutrina da igreja, embora talvez difira daquilo que é dado
por tudo o que provém dos santos doutores, desejo que os leitores não o rejeitem tão
temerariamente, mas, antes, censurem caridosamente. Que se lembrem de dar a cada um o
que lhe é devido. A ninguém mais, senão somente aos autores das Sagradas Escrituras a
quem atribuímos tal autoridade, como aquilo em que devemos crer, seja o que tiverem escrito”.
“Mas, quanto aos outros”, diz Agostinho, “não importa com que grande santidade e erudição
sejam dotados, eu os leio de modo que não creio em tudo o que escreveram, meramente
porque o escreveram” (Letter 82, “To Jerome” [FC 12:392; PL 33.277]). Melchior Cano, depois
de haver dito com base em Agostinho que somente as Sagradas Escrituras estão isentas de
todo erro, acrescenta: “Porém, não há homem, por mais santo ou erudito, que algumas vezes
não esteja enganado, que algumas vezes não caduque, ou algumas vezes não resvale” (“De
Locis theologicis”, 7.3, em Opera [1605], p. 353). E mais adiante: “Portanto, leiamos os pais
antigos com toda a devida reverência; contudo, como se não passassem de meros homens,
com discriminação e juízo” (ibid.). “Seguir os antigos em todas as coisas, e seguir seus passos,
por toda parte, como criancinhas a brincar, nada mais é senão prejudicar a nós próprios e
confessar-nos destituídos de juízo ou de habilidade suficiente para investigar a verdade. Não,
os seguimos como guias, porém não como mestres” (ibid., num. 10, p. 359). Em seus
comentários sobre os evangelhos, Maldonatus constantemente diz: “É assim que quase todos
os pais o explicam, com os quais deveras não posso concordar” (Commentary on the Holy
Gospels: Matthew [1888], 2.34, 136, 179–80, sobre Mt 16.18; 19.11; 20.22). Petavius diz: “Os
pais eram homens. Tinham suas falhas, e não devemos maliciosamente investigar seus erros
para os expor publicamente ao mundo, mas para que possamos tomar a liberdade de notá-los
sempre que se puserem em nosso caminho, a fim de que ninguém seja enganado por eles; e
para que não nos achemos sustentando ou defendendo mais seus erros do que devamos imitar
seus vícios, se pelo menos tiveram algum” (“Animadversiones in Epiphanium cum Appendice
Gemina”, em Opera [1682], 2:205, 244, 285). Baronius freqüentemente acusa e refuta os pais
mais livremente sempre que ocorre defenderem uma opinião diferente da sua. Se então
acontece de nossos adversários serem descobertos desprezando tão temerariamente, e
pisoteando até mesmo os pais aprovados, sempre que não concordem com eles, com que
despudor podem eles insistir em que devem ser ouvidos como juízes em nossas controvérsias?

Fontes de explanação. XI. O que todos os doutores enunciam pelo consenso unânime, em
concordância com a Palavra de Deus, a igreja universal pode e deve crer. Se, porém, não
falarem com base na Palavra, mas, antes, contra ela, longe de ser obrigada a receber, a igreja
deve, antes, sentir-se na obrigação de anatematizá-los (Gl 1.8).

XII. O fato de que os pais, que viveram mais próximos à época dos apóstolos, eram
necessariamente mais puros, não significa que seus escritos possam ser considerados como
norma da verdade com os escritos apostólicos. O dom da infalibilidade foi uma distinção
(axiōma) peculiar do apostolado e não pode pertencer a seus sucessores, os quais não foram
munidos com os mesmos dons.

XIII. A unidade da igreja pode ser propriamente preservada pela unidade da fé enunciada nas
Escrituras, não pelo consenso dos pais (que é difícil e quase impossível averiguar).

XIV. A obediência devida aos líderes (Hb 13.17) não é cega e irracional, a ponto de nos
submeter a tudo o que dizem ou escrevem. Antes, ela deve ser racional, ouvindo-os falar e
enunciar os oráculos de Deus, os quais receberam de Cristo (Mt 28.20; 1Co 11.23).

XV. Embora não estejamos dispostos a reconhecer os pais como juízes em questões de fé, sua
autoridade não é nula. Pois eles podem ser de grande utilidade (se não à formação da fé, pelo
menos à sua ilustração e confirmação) para a obtenção do testemunho concernente à fé da
igreja antiga e para convencer-nos de que os papistas se vangloriam mais no consenso dos
pais do que o seguem. Além do mais, as doutrinas da tradição, que os papistas nos impõem,
são contrárias às Escrituras e não foram ouvidas nos primeiros séculos.

XVI. Em vão os papistas alegam o consenso dos pais no julgamento das controvérsias e na
interpretação da Escritura. (1) Ainda que pudesse ser averiguado, equivaleria apenas a um
argumento humano e provável (como o que se pode obter das respostas de homens
prudentes), mas não um consenso necessário e absoluto (anypeuthynon), pois mesmo os
próprios pais se submeteram ao juízo das Escrituras. (2) Se não impossível, pelo menos é mais
difícil obter-se tal consenso. Além disso esse método (tão extenso e intrincado, e envolto por
um labirinto de volumes) não é adequado para resolver controvérsias, especialmente visto ser
quase impossível saber o que os antigos pensavam sobre nossas controvérsias. Isso se deduz:
(a) porque temos bem poucos escritos dos pais antigos (especialmente do primeiro, segundo e
terceiro séculos, os quais, não obstante, são os que consideramos especialmente mais
próximos da era apostólica). Aqueles escritos dos primeiros três séculos, que em sua maior
parte ainda existem, tratam de temas amplamente distantes de nossas controvérsias e se
referem a elas só de passagem e em relação a alguma outra coisa. E isso é assim (b) porque
os pais amiúde diferem entre si e nem sempre são consistentes entre si nas mesmas questões
de fé. Às vezes mudam suas opiniões, avançando no conhecimento da verdade com a idade;
e, quando idosos, retratam suas opiniões mantidas na juventude.

XVII. Não desprezamos nem tratamos os pais injuriosamente quando lhes negamos o supremo
poder de julgar. Aliás, devemos tomar cuidado de não roubar-lhes seu justo louvor, mas
também não devemos defendê-los demasiadamente (há mais perigo na segunda posição do
que na primeira). Sim, se pudessem sair de seus túmulos, não poderiam apoiar a atribuição de
tanta autoridade, e nos repreenderiam severamente com as palavras dos apóstolos aos
licaônios (que quiseram render-lhes honras divinas) – “também somos homens como vós,
sujeitos aos mesmos sentimentos [homoiopatheis)” (At 14.14,15). Freqüentemente declaram
que escreveram não para dar normas autoritativas, mas úteis. Devem ser lidos não como
indispensáveis à fé, mas com a liberdade de julgá-los. Também reconhecem francamente que
suas obras não devem ser postas em pé de igualdade com a autoridade das sacratíssimas
Escrituras (como Agostinho diz: Contra Faustum Manichaeum 11.5 [NPNF1, 4:180] e Contra
Cresconium 2.31 [PL 43.489–90]).

XVIII. Portanto, deduzimos que os pais não podem nem devem ser considerados juízes em
nossas controvérsias, mas testemunhas que (por seu maravilhoso consenso) testificam da
veracidade do Cristianismo e provam (por seu silêncio ou mesmo pelo peso de suas razões) a
falsidade das doutrinas introduzidas pelos papistas além das Escrituras e contrárias a elas.
Seus escritos devem ser respeitosamente recebidos e lidos com proveito. Não obstante, ao
mesmo tempo, não podem ter qualquer outra autoridade além da eclesiástica e humana (i.e.,
subordinada e dependente das Escrituras).

Compêndio de Teologia Apologética.

You might also like